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sábado, 12 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 – P5452: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (30): Sector de Buba-Aldeia formosa - 1º Semestre 1970 (Mário G R Pinto)


1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a sua 30ª mensagem, em 11 de Dezembro de 2009:

SECTOR DE BUBA-ALDEIA FORMOSA

1.º Semestre de 1970

Janeiro de 1970

Começo do ano de 1970, as NT, estacionadas no terreno, tem constatado pouca actividade por parte do PAIGC. Por esse motivo empenharam-se em obras de melhoramentos das instalações, suas defesas e infra-estruturas.

Registaram-se algumas flagelações do IN em Aldeia Formosa e Mampatá, simplesmente para marcar presença, sem resultados práticos aparentes.

Na coluna do dia 16JAN1970, Buba-Aldeia Formosa, foram detectadas várias minas anti-carro e anti-pessoal, junto a UANE, tendo sido as mesmas levantadas pelas unidades que prestavam segurança à mesma.

As NT, de acordo com informações recebidas do BCAÇ 2892, no dia 21JAN70, foram emboscar a cerca de 1 km de Iero Saldé, com 2 Grupos de Combate da CART 2519, reforçados com Milícias, a fim de interceptar um grupo do IN.

As NT, foram detectadas pelo PAIGC, quando instalavam um dispositivo de intercepção, por 2 elementos do grupo IN, que vinham de Sare Dibane. Foi aberto fogo tendo os 2 elementos sido abatidos e o seu armamento capturado.

As NT deslocaram-se para Sare Dibane, ao encontro do grupo IN para estabelecer contacto, mas o mesmo debandou para norte de Uane. Na impossibilidade de alcançar o IN, foi pedido
fogo de artilharia para a zona onde eles haviam sido detectados.

Na ZA da CCAÇ 2615 e CART 2521, de Aldeia Formosa, no primeiro mês do ano, as actividades do IN foram quase nulas, apesar dos constantes patrulhamentos sobre as ZA.

A seu cargo os vestígios do PAIGC, não se faziam notar na área, no entanto registaram-se alguns ataques aos "Gilas" (nativos que se dedicavam ao contrabando de bens ao longo das fronteiras).

Existiam informações da presença de um bi-grupo do IN, em Mampatá Bicirgo, vindo de Kandiafara com destino a Kasembel.

Em Buba e Nhala, não se verificavam factos de realce na ZA, apesar da constante actividade das NT. O inimigo não foi referenciado nesta zona.


Fevereiro de 1970

Neste período houve alterações ao plano inicial "Galgos Ligeiros", passando o Sector a norte de Sare Dibane-Unal, a pertencer operacionalmente à CCAÇ 2614 e CART 2521.

A actividade do IN continuava a ser fraca, limitando-se a flagelamentos de curta duração aos aquartelamentos de Buba, Mampatá e Aldeia Formosa.

Foram detectadas minas A/C e A/P, na estrada Buba - Aldeia Formosa que foram levantadas pelas NT.

As NT continuaram a emboscar e a patrulhar todo o trilho de Missirã, a sul de Uane, sem encontrar qualquer movimentação do IN neste período.

Foram também referenciados elementos do PAIGC, junto a Contabane e foi efectuado o levantamento de minas, neste Sector, pelas NT.

Março de 1970

Neste mês notou-se um crescimento operacional do IN, com maior actividade no Sector de Contabane, Bungofé e Sare Amadi.

O inimigo concentrou neste Sector 2 bi-grup
os de combate e um grupo de canhões s/recuo.

Foi inaugurada a nova pista de aviação de Aldeia Formosa, com a sua ampliação e o respectivo alcatroamento.

As forças estacionadas em Aldeia Formosa, nomeadamente a CCAÇ 2615, juntamente com a CART 2521, patrulharam e emboscaram os trilhos do Sector de Contabane, tentando conter as infiltrações inimigas, vindas da fronteira evitando a sua fixação em Kansembel.

No dia 20MAR1970, a CCAÇ 2615 foi reforçada com um grupo de combate da CART 2521, tendo sofrido três emboscadas, junto ao Rio Balana no trilho Bungofé, de que resultaram 2 milícias feridos com gravidadeNo corredor de Missirã, notou-se uma fraca actividade do PAIGC, não se registando vestígios dos mesmos, pelas NT. Este Sector passou a estar mais preenchido a Sul de Uane pela CART 2519 e a Norte pelas CCAÇ 2614 e CART 2521.

Neste período registaram-se flagelações de fraca duração em Mampatá, Buba e Chamarra.

Registou-se neste período e após a época das chuvas, o regresso das populações á actividade agrícola de proximidade.

Abril de 1970

O IN neste período diminui as suas acções de penetração, pelo corredor de Missirã e aumentou a sua presença no Sector de Contabane, reforçando os seus contingentes nesta zona, com a vinda de mais um bi-grupo de Kandiafara, um grupo de morteiros e 2 secções de sapadores.

Os ataques a Aldeia Formosa começaram a ser mais constantes e selectivos, marcando com isso forte implantação do IN na Zona.

Foi nomeado para comandante do Batalhão 2832 e do Sector o Ten. Coronel Manuel Agostinho Ferreira (foto ao lado), o célebre “metro e oito”, que viria a dar uma operacionalidade mais vasta às NT nas suas ZA.

Nhala foi reforçada com um grupo de combate da CART 2521 e, juntamente com a CCAÇ 2614, desenvolveram operações de Norte para Sul, entre o Corubal-Uane, deixando todo o Sul de Uane-Nhacubá a cargo da CART 2519.

À CCAÇ 2615, foi dada a missão de fazer segurança afastada, no Sector entre Contabane e Saltinho.

No dia 20ABR1970, a CCAÇ 2615 sofreu uma tremenda emboscada, junto a Sare Amadi, tendo sofrido 2 mortos.

Em 21ABR1970, foi atacada a Tabanca de Patembaló, sendo a mesma socorrida por forças de Aldeia Formosa.

No dia 26ABR1970, o IN atacou pela primeira vez Aldeia Formosa com foguetões de 122mm, tendo sido auto-transportados em viaturas vindas de Kandiafara.

A CART 2519, detectou um novo trilho do IN, no corredor de Missirá, a Norte de Ierosaldé, junto ao rio Tubaboiel, flectindo em direcção a Uane e Sardonha.

A CART 2519 viria a emboscar uma coluna de abastecimento do IN, neste novo trilho capturando material de guerra diverso e provocando, ao IN, 4 mortos confirmados.

Mais tarde Mampatá viria a ser flagelada à distância com fogo de morteiro e RPG 7.

Em Buba, as NT, conheciam uma acalmia aparente, sem guerra. Nos constantes patrulhamentos da CCAÇ 2616 e dos Fuzileiros, ao longo do rio, não havia sinais do IN.

Maio de 1970

Intensificou-se a acção do IN no Sector, as NT desdobraram-se em manobras de acção conjunta, conforme o delineado pelo comando de Aldeia Formosa.

"A fim de assegurar maior eficiência e permitir maior folga, a contra-penetração passou a ser feita por 1 Grupo de Combate de cada Companhia, no período de 24 horas. As CART 2519 e CCAÇ2614, contavam para o efeito com 1 Grupo de Combate da CART 2521 cada uma delas, que foram postos à sua disposição em Aldeia Formosa. Quando desejassem accionar este GC. deviam fazê-lo por MSG, com 24 horas de antecedência, indicando a hora, local da emboscada, dias e coluna. As Companhias podiam conjugar a protecção descontínua com grupos em contra-penetração, anulando todos os anteriores planos de contra-penetração."

Neste período o IN voltaria a reactivar o corredor de Missirã, deslocando para esta Zona efectivos consideráveis para proteger e manter aberto o itinerário de abastecimento para o Sector de Xitole.

Os contactos com o IN, pelas forças no terreno tornaram-se constantes vindo a verificar-se várias baixas em ambos os lados da contenda.

Foram colocadas minas e armadilhas, por tudo quanto era sítio de passagem do IN de Sare Dibane a Uane, criando-se uma Zona tampão pelas companhias no terreno, com permanecendo as mesmas no local 24 horas/dia.

Apesar de todo o nosso dispositivo no terreno, o inimigo continuava a penetrar para o interior, o que levou o Comando de Aldeia Formosa a idealizar e preparara a operação “Danúbio Azul", já aqui descrita no poste P4817.

O objectivo desta operação era encerrar o corredor de Missirã e para o efeito foi desenvolvida numa vasta área, desde Sambasó-Lenquel-Nhacubá, onde a acção desenvolvida foi classificada como “TOP SECRET” e o Sector foi fechado durante um largo período passando a ZI (zona de intervenção) para o COM-CHEFE.

Neste período de tempo, o IN atacou Aldeia Formosa, chegando a ter efectivos no fundo da pista de aviação e só retirando após a reacção das NT, que para o efeito recorreram ao Pel Rec Fox.

Junho de 1970

Neste mês, a acção do IN não se fez sentir a Sul de Samba Sabali, tendo o mesmo procurado outros itinerários, mais a Norte, o que levava a crer às NT que tentaram arranjar trilhos alternativos para efectuarem as suas penetrações.

Foram referenciados novos trilhos do inimigo junto a Colibuia, contornando a Zona minada pelas NT, aquando da operação “Danúbio Azul”.

O inimigo continuava a atacar Aldeia Formosa com insistência e violência, salientando-se os ataques nos dias 3 e 15 deste mês, em que foram usados morteiros de 120 mm e foguetões de 122 mm, transportados em viaturas oriundas da fronteira da Guiné-Konakry.

Nesta acção o IN acionou 2 minas A/C colocadas pelas NT em Sare Amadi, o que originou a destruição de uma das suas viaturas.

No dia 12JUN1970, na nossa coluna realizada entre Buba-Aldeia Formosa, foi accionada uma mina a seguir a Sare Usso, ferindo com gravidade dois elementos da CCAÇ 2615.

Em 30JUN1970, uma numerosa coluna do IN que se deslocava em Uane, foi detectada e atacada pelas CART 2521 e CCAÇ 2614, resultando a apreensão de considerável quantidade de material de guerra ao PAIGC e causando-lhe 5 mortos confirmados no terreno.

2. Secção - 1.º G. Combate

O inimigo nesta acção fugiu para Sul perseguido pelas nossas forças, vindo a cair numa emboscada que a CART 2519 tinha montada no terreno, mais a Sul de Uane, abandonando todo o seu equipamento que tinham conseguido levar e sofreram mais 4 mortos confirmados.

Registou-se neste período um ataque a Mampatá de fraca intensidade e outro a Buba.

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art

Fotos: © Mário Pinto (2009). Direitos reservados.
____________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Guiné 63/74 – P5349: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (29): O COP4 (Mário Pinto/José Teixeira/Vasco da Gama/Carlos Farinha)


1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos uma mensagem com o seu 29º texto, que é o complemento do poste P5322. A complexidade da matéria abordada, contou com as preciosas colaborações dos nossos Camaradas José Teixeira (1.º Cabo Enf da CCAÇ 2381 - Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), Vasco da Gama (Cap Mil da CCAV 8351 – Cumbijã -, 1972/74) e Carlos Farinha (Alf Mil da CART 6250 - Mampatá e Aldeia Formosa -, 1972/74):

ZONA DE GUERRA NO COP4 (BUBA-ALDEIA FORMOSA)

2.º Semestre de 1969


Com o abandono da construção da estrada Buba-Aldeia Formosa, a transição do COP4 para o Quebo e a deslocação de todas as forças humanas e material bélico que se encontravam naquela ZA, para outros locais do Território da Guiné, o Sector passou por uma acalmia aparente.

Durante um curto período de tempo, os Altos Comandos do Sector puderam assim planear e organizar a estratégia para o futuro.

Foi então criado o Plano de Operações do COP4, a que foi dado o nome de Orfeu Oriental, tendo a minha companhia passado a Companhia de Intervenção. A quadrícula foi aquartelada na Tabanca de Mampatá, com as seguintes ordens operacionais e ZA:

CART 2519,
Pel Caç Nat 68,
Pel Milª 137,
Esq Pel Mort 2138.

1) Impedir ou, no mínimo, dificultar ao máximo os movimentos do IN, no eixo Unal-Missirá-Uane-Portugol, para o que se orientou o esforço sobre as linhas de infiltração materializadas sobre: Baramboli-Missirá-Iero/Saldé-Sara/Dibane-Uane-Sardonha, (com especial incidência sobre esta área), efectuando constantes:

- Reconhecimentos da Região;
- Emboscadas;
- Minagem e armadilhamento;
- Patrulhas na Estrada Buba-Aldeia Formosa;
- Organização e segurança na defesa de Mampatá.

Às forças instaladas em Aldeia Formosa, foram dadas as seguintes missões integradas no Plano Operacional "Orfeu Oriental":

-Impedimento a todo o custo da fixação e da infiltração do IN, para Oeste da linha definida por Saltinho-Contabane-Bongofé (abandonada)-Fronteira, para o que procedia a:

- Patrulhamentos, Reconhecimentos na sua ZA;
- Emboscadas, Minagem e Armadilhamento dos trilhos compreendidos entre Gandembel-Gamã-Aldeia Formosa;
- Coordenação das suas acções com as outras forças: CART 2519, CCAÇ 2464 e CCAÇ 2465.

Em Aldeia Formosa:

BCAÇ 2834,
CCAÇ 2464 ( mais tarde, em Novembro, a CCAÇ.2615),
CCAÇ 1792 - Lenços azuis (que foram rendidos pela CART 2521),
Pel Fox 2022,
Pel Nat 60,
Pel Mort 1242,
Pel Obuses 14.

Em Chamarra:

Pel Nat 58,
Em Nhala,
Em Novembro, CCAÇ 2614,
Esq Pel Mort 2138.

Em Buba:

CCAÇ 2382 ( mais tarde, em Novembro, CCAÇ 2616),
Pel Milª,
Dest Fuzas 7,
Pel Mort 2138,
1 Gr Comb da 2381 (até Novembro de 1969).

Em Nhala:

2º Gr Comb da CCAÇ2382

Estas eram as forças em presença, que iriam, nos tempos que se seguiram, assegurar a estabilidade do Sector e deter a penetração do IN para a zona do XITOLE.

O IN concentrou os seus efectivos na região de Unal-Missirá-Sara Dibane, em que se empenhou ao máximo no impedimento do cumprimento das missões das NT, colocando minas, realizando emboscadas, atacando e flagelando os nossos aquartelamentos.

Foi referenciado neste período um Bi-Grupo do PAIGC, designado por “Comando de Estaline”, comandado pelo Malagueta Man, que desenvolveu intensa actividade nesta ZA.

Nos meses de Julho e Agosto de 1969, as actividades do IN enfrentadas pelas nossas tropas, foi quase nula, resumindo-se a algumas flagelações aos aquartelamentos de Mampatá, Buba, Chamarra e Aldeia Formosa, e a colocação de minas nos nossos itinerários, com maior incidência na estrada (velha) Buba-Aldeia Formosa, registando-se duas emboscadas de pouca envergadura.

As NT neste período actuaram em conformidade, com o plano operacional "Orfeu Oriental", patrulhando, emboscando e minando os habituais trilhos de infiltração do IN, conforme a sua ZA. Em 15AGO69, efectuou-se a intercepção, em Uane, de um Grupo de Combate IN de 20 elementos, que se deslocava no sentido Sul-Norte, tendo o mesmo conseguido retirar, provavelmente com várias baixas, devido aos rastos de sangue encontrados na área do combate.

Nos meses de Setembro e Outubro de 1969, registou-se um abrandamento significativo das acções do IN na ZA, devido em parte à época das chuvas e ao estado dos itinerários que se encontravam todos praticamente intransitáveis para as NT. No mesmo período, verificaram-se dois ataques a Mampatá e Chamarra, e um a Aldeia Formosa. O aquartelamento de Buba, sofreu o maior ataque da ZA.

Em 10 de Outubro de 1969, 5 Bi-Grupos, estimados em 300 elementos, comandados pelo célebre Cap. Peralta (Cubano), armados com artilharia ligeira e canhões s/ recuo atacou Buba, tendo tomado posições de tiro na margem do rio, frente a Buba. O IN foi repelido com diversas baixas, retirando para Sul.

As NT continuaram a desencadear as acções previstas no plano operacional, tendo emboscado uma coluna de abastecimento inimiga, no carreiro de Missirá, causando-lhe 2 mortos confirmados e a captura de diverso material de guerra didáctico, alimentar e logístico.

Novembro e Dezembro de 1969. No princípio do mês de Novembro foi desfeito o COP4, sendo substituído pelo Comando do BCAÇ 2892. Chegaram três Companhias de “periquitos” á ZA, as CCAÇ 2614, CCAÇ 2615 e CCAÇ 2616, ficando estas distribuídas por Aldeia Formosa, Nhala e Buba, substituindo as CCAÇ 2382, 2464 e 2465.

Com estas alterações no Sector, o Comando do BCAÇ 2892, elaborou outro plano operacional, designado por plano de operações "Galgos Ligeiros", cujo plano de acção era semelhante ao anterior, tendo mudado simplesmente as companhias intervenientes.

No mês de Novembro de 1969, a actividade foi nula, não se registando acções relevantes, muito por causa da época das chuvas, que, como é óbvio, limitava a prática de tais acções. As NT limitaram-se a patrulhar e emboscar, em itinerários de possível penetração do IN.

Houve, no entanto, fora da nossa ZA uma operação, no dia 17NOV69, denominada "Operação Jovi" que foi efectuada no corredor de Guileje e resultou na captura do Cap. Peralta, tendo Aldeia Formosa servido de base de apoio.

Em Dezembro de 1969, com a época das chuvas a terminar, o IN retomou as suas actividades de infiltração e o número de acções de combate cresceu de intensidade, terminando assim aquele breve período de acalmia, que foi a época das chuvas.

O IN neste período flagelou à distancia com armas pesadas Aldeia Formosa, Buba e Mampatá, sem qualquer consequência.

O PAIGC efectuou um ataque de grande dimensão a Chamarra, no dia 21DEZ69, sendo repelido pelas NT, e, na retirada, foi emboscado por um Grupo de Combate da CART 2519, que lhe provocou várias baixas. Na mesma acção, tinha saído um Grupo de Combate da mesma Companhia, em auxílio ao destacamento da Chamarra, que veio a confrontar o IN em debandada, junto a Colibuia, eliminando 4 dos seus homens, confirmados no terreno, e capturado material diverso. As NT sofreram nesse confronto 4 feridos ligeiros, 2 furriéis e 2 Soldados.

Também se registou neste período, no âmbito da operação “Galgos Ligeiros", no corredor de Missirá, que um Grupo de Combate da CART 2519, em Iero Salde, emboscou um grupo IN (estimado em 20 elementos), que circulava pela linha de infiltração no sentido Unal-Uane, infligindo-lhe 5 mortos confirmados e a captura de vário material de guerra.

Com o abaixamento dos caudais dos rios que atravessavam a ZA, retomaram-se as colunas entre Buba-Aldeia Formosa, vindo a registar-se neste período, o levantamento de minas anti-carro e anti-pessoal na estrada velha, nomeadamente junto a Sare Usso, Uane e Bolanha dos Passarinhos. Verificou-se o rebentamento de um fornilho, com a destruição da viatura e 2 feridos graves das NT.

Ainda houve o registo de uma flagelação à coluna de abastecimento, no dia 12DEZ69, aquando do regresso de Buba, entre Uane e Sare Usso.

Um Grupo de Combate da CCAÇ 2615, reforçado com elementos da CART 2521, sofreu 3 emboscadas dum grupo numeroso de inimigos, junto ao rio Balana, no trilho Bungofé, tendo sido feridos 2 soldados da nossa milícia. O IN retirou para junto da fronteira, perseguido pelas NT, deixando no terreno vários rastos de sangue. Há a registar o apoio de um héli-canhão, que ajudou a dispersar o IN.

Registe-se também a visita do COMCHEF nesta altura às unidades da ZA para desejar as Boas Festas.

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art

Fotos: © Mário Pinto (2009). Direitos reservados.
____________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

domingo, 22 de novembro de 2009

Guiné 63/74 – P5322: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (28): O COP4 (Mário Pinto/José Teixeira/Vasco da Gama/Carlos Farinha)


1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos uma mensagem com o seu 28º texto, que dada a complexidade da matéria abordada, a seu pedido pessoal, contou com as preciosas colaborações dos nossos Camaradas José Teixeira (1.º Cabo Enf da CCAÇ 2381 - Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), Vasco da Gama (Cap Mil da CCAV 8351 – Cumbijã -, 1972/74) e Carlos Farinha (Alf Mil da CART 6250 - Mampatá e Aldeia Formosa -, 1972/74):

Camaradas,

Iniciei um ciclo histórico do sector de Aldeia Formosa, Mampatá e Buba, nos anos 1969 a 1971.

Depois do abandono de Gandembel e Ponte Balana uma das frentes da guerra, ao Sul, que passou para este sector. Procurei ser o mais correcto possível, pois baseei-me em depoimentos de camaradas e Histórias das Unidades para o ultimar.

Esta primeira parte refere-se ao 1.º Semestre de 1969.

Também convidei os nossos Camaradas Vasco da Gama e o Carlos Farinha, que pertenceram a Unidades que precederam a minha, a dar continuidade a este historial até 1974 (fim do conflito).

Os mesmos já me enviaram respostas e estamos a aprontar a parte final deste trabalho.

2. Breves considerações

Do meu memorial descritivo ao longo das últimas décadas, compus uma síntese historial daquilo que foi o período do ano 1969, no Sector do COP4 (Buba e Aldeia Formosa).

Este estudo baseia-se em fatos reais vividos e descritos, por Camaradas nossos com suporte nas Histórias das Unidades por eles aqui incorporados.

3. Frente de guerra do COP4 - Buba e Aldeia Formosa – (entre Janeiro e Julho de 1969).

Com a retirada de Gandembel e Ponte Balana, por ordem do COMCHEF, em Fevereiro de 1969, as frentes de guerra ficaram confinadas em sectores mais recuados das fronteiras com a Guiné-Conakry, tendo o IN de se expor mais, no interior do território, para combater as NT.

Para esse efeito, teriam que percorrer mais terreno dentro de território por nós controlado e ficarem exposto às nossas acções ofensivas, caso que até ali não acontecia, pois os aquartelamentos perto das fronteiras eram constantemente flagelados e atacados e o IN, quando acossado pelas nossas tropas, refugiava-se para lá da fronteira, impedindo assim a nossa acção de resposta.

As Companhias que nesse período aquartelavam esses destacamentos fronteiriços foram reforçar os contingentes de Buba e Aldeia Formosa, tendo algumas, posteriormente, sido movimentadas para outros Sectores.

O COP4, foi formado sobre o comando do mítico Major Carlos Fabião, oficial de inteira confiança do Governador-geral - COMCHEF General António Spínola -, que imediatamente mandou reforçar as linhas da frente com as Companhias existentes e mais algumas "periquitos", que entretanto chegaram da Metrópole.

As ordens passaram a ser, fixar o IN às áreas junto da fronteira e não permitir a sua infiltração para o interior, através de corredores criados a partir de Salancur (base do PAIGC no Sul da Guiné), que por sua vez era abastecida pelo corredor de Guileje, que se tinha tornado crucial depois do abandono dos aquartelamentos de Gandembel, Ponte Balana, Medina do Boé e Mejo.

4. - Estrada Buba-Aldeia/Formosa

Sabendo o COMCHEF que os abastecimentos às Companhias, que se concentravam agora em Aldeia Formosa, Mampatá, Nhala e Chamarra, eram vitais, mandou abrir uma nova estrada Buba-Aldeia/Formosa, com um traçado de infiltração pelas linhas do IN, tentando com ela também cortar os abastecimentos do PAIGC, para o interior do país, nomeadamente para o sector de Xitole.

A nova estrada desviava em Sare Usso para Sare Dibane, seguindo em direcção a Samba Sabali, fugindo às linhas de água, que, nas épocas da chuva, nos isolava de Buba.

Mampatá passou a ser um ponto de relevância estratégica pois foi a partir desta tabanca, que as máquinas da TECNIL passaram a rasgar as matas, escoltados pelos militares estacionados em Aldeia Formosa e Mampatá, indo ao encontro dos nossos camaradas, que, vindos de Buba e Nhala, faziam o mesmo, abrindo a mata e dividindo o IN, em duas frentes.

O PAIGC para fazer frente a esta estratégia, colocou no sector 3 Bi-grupos de combate, sobe o comando de Nino Vieira, com o fim de impedir a construção da nova estrada e manter aberto o corredor de abastecimento para Xitole.

A nova estrada foi cortar o "corredor de Uane" fundamental para a passagem de material para o interior, criando condições para as nossas forças se deslocarem mais rapidamente, logo, se movimentarem de forma mais activa, o que, naturalmente, não interessava ao PAIGC. Por outro lado iria facultar uma melhor movimentação das nossas forças nas deslocações a Buba, para reabastecimentos da zona (agora recuada) da linha de fronteira).

A partir da construção da estrada a guerra neste sector subiu de intensidade, com ataques constantes, flagelações, emboscadas e minas, bem referenciadas nas diárias no teatro de operações, levando o COMCHEF a deslocar tropas especiais, (COMANDOS, PÁRAS e FUZOS), para a ZA.Em Maio e Junho de 1969, a guerra neste sector atingiu o seu ponto máximo, somando ambos os lados perdas humanas de grande significado.

Quando o centro nevrálgico da construção da estrada passou, primeiro para Samba Sábali e depois para Mampatá, a zona de Buba ficou um pouco mais liberta no que respeita a emboscadas e minagem no terreno, para se centrar em ataques violentos ao aquartelamento, que era a base de apoio logístico a toda a máquina de guerra na zona, pela posição estratégica e pelo seu "porto", onde eram desembarcados os mantimentos, materiais necessários aos trabalhos na estrada e materiais de guerra.

Os efectivos envolvidos eram significativos estimando-se cerca de 2 000 homens das NT, com todo o material bélico conhecido na altura ao nosso dispor, incluindo o Grupo de Panhard que se deslocou de propósito de Teixeira Pinto para Aldeia Formosa.

A pista de aviação de Aldeia Formosa, passou a ter T6 e Hélicópteros estacionados permanentemente, prontos para entrar em acção a qualquer momento. As baterias de obuses de 14 cm de Aldeia Formosa e a aviação, todos os dias flagelavam a zona de construção da estrada antes da chegada das máquinas para iniciarem os trabalhos, mas apesar disso, o IN, lá estava sempre á nossa espera a partir de Sare Usso em diante.

Em qualquer altura desencadeavam emboscadas. Manga de minas tanto na estrada, como nas bermas e nos flancos, o que veio causar imensas baixas a todas as companhias envolvidas.

Foi neste período que a minha Companhia teve as primeiras baixas (1 morto e 2 feridos) em Sare Dibane, quando fazia segurança aos trabalhos efectuados pelas máquinas.

No dia 31 de Maio de 1969, foi feita a primeira e única coluna pela nova estrada, no sentido Aldeia Formosa - Buba. Uma coluna enorme com cerca de 2 kms, com todas as forças no terreno empenhadas na sua segurança e, mesmo assim, tivemos 4 emboscadas de que resultaram 3 mortos e vários feridos.

Em 11 Junho de 1969, iniciou-se a descapinação da estrada com a vinda de 700 balantas da zona de Farim para o efeito, todos os dias as forças presentes faziam a segurança, aos mesmos, em locais estratégicos afim de assegurar o bom andamento dos trabalhos.

O PAIGC, com as forças no terreno agora reforçadas com mais 2 Bi-grupos, não davam tréguas às NT. Apesar das continuadas operações levadas a efeito pelos PÁRAS e pelos COMANDOS, ao longo da ZA, o IN continuou a flagelar, minar e a emboscar as NT.

As baixas foram-se sucedendo em todas as companhias envolvidas e, moralmente, chagamos a “quebrar”.

O receio começou a apoderar-se dos nossos soldados, dado que na falta de objectivos, e expostos perante o IN, não tinham a iniciativa, limitando-se a ripostar, simplesmente, quando atacados.O esforço físico exigido aos nossos homens era muito elevado.

Dois dias de saída pelas 6 horas da manhã, com regresso pelas 3/4 da tarde seguido de um dia de serviço á unidade, para se voltar à estrada no dia seguinte. Isto, aliado ao stresse de guerra vivido todos os dias, com passagem diária por lugares que nos recordavam emboscadas ou minas. Este esforço físico e psíquico teve as suas consequências, nas baixas contínuas. A CCaç 2381 chegou ao extremo de ter apenas 37 homens operacionais, o que perfazia apenas um grupo de combate.

Em 29 de Junho de 1969, chegou a ordem de interromper a descapinação e ordenar o regresso dos balantas a Farim. Foi assim decretado, pelo Alto Comando, o fim da “nova” estrada Buba - Aldeia Formosa.

O projecto de estrada ficou reduzido a um grande rasgo aberto na mata, que nunca chegou a ser concluída e que tanto sofrimento custou às NT, com vários feridos e mortos. Tudo em vão.

Em Julho de 1969, o COP4 foi transferido para Aldeia Formosa, dando inicio ao Plano de Operações "Orfeu Oriental", onde a minha companhia foi integrada ficando colocada em Mampatá.

Legendas das fotos:

1 - Parada em Mampatá
2 - General António Spínola em Mampatá
3 - Tabanca de Mampatá
4 - Patrulhamento das obras
5 - Picagem da estrada
6 - Descapinadores balanatas
7 - Evacuação helitransportada

Unidades envolvidas nesse período, de que me recordo:

CCAÇ 2317, 2381, 2382.

CART 2414, 2519, 2521.

Pel Nat 55, 60 e 68.

Pel Milª 137.

Pel Mort 2138.

Pel Fox de Aldeia Formosa.

Pel Art 14 de Aldeia Formosa.

15ª Cia de COMANDOS.

121ª Cia PARAQUEDISTAS.

8.º DESTACAMENTO DE FUZILEIROS.

ESQUADRILHA DE T6 da BA12.

ESQUADRILHA DE HELICÓPTEROS da BA12.

ESQUADRÃO DE PANHARD de Teixeira Pinto.

CCAÇ 1792 (Lenços Azuis).

Pel Mort 1242.

Pel Rec Fox 2022.

Estas são as unidades de que me lembro, que actuaram no sector durante o referido período. Se mais houveram, aqui ficam as minhas desculpas pela omissão.

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art

Fotos: © Mário Pinto (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em: