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segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16694: Agenda cultural (513): Apresentação do livro "Quatro Rios e um Destino", da autoria de Fernando de Jesus Sousa (DFA), ex-1.º Cabo da CCAÇ 6, dia 10 de Novembro de 2016, pelas 15 horas, na Messe Militar do Porto, sita na Praça da Batalha


O nosso camarada Manuel Barão da Cunha, Coronel de Cav Ref, que foi CMDT da CCAV 704 / BCAV 705, Guiné, 1964/66, dá-nos notícia da apresentação de mais um livro, integrada no 16.º Ciclo de Tertúlias Fim do Império, a levar a efeito na próxima quinta-feira, dia 10 de Novembro, na Messe Militar do Porto.
Desta feita trata-se de mais um livro já nosso conhecido, "Quatro Rios e um Destino", da autoria do nosso camarada Fernando de Jesus Sousa.





16.º CICLO DE TERTÚLIAS FIM DO IMPÉRIO

149.ª TERTÚLIA

PORTO, 10 DE NOVEMBRO, 5.ª FEIRA, ÀS 15 HORAS

MESSE MILITAR DO PORTO



"Quatro Rios e um Destino", da autoria de Fernando de Jesus Sousa (DFA), ex-1.º Cabo da CCAÇ 6, Bedanda, 1970/71

Edição: Chiado Editora
Setembro de 2014
Número de páginas: 304
Género: Biografia

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Prefácio do livro "Quatros Rios e um Destino", da autoria do Professor Doutor Amaral Bernardo, à data, Alferes Miliciano Médico em Bedanda.

“Julgo que ninguém que viu ou venha a ver este filme na plateia seja capaz de compreender estas situações e muito menos senti-las, porque vão muito para além da imaginação humana! Os horrores por mim ali vividos naquelas antecâmaras da morte!...”

“Hoje atrevo-me a dizer que foram os gritos de revolta destes deserdados da sorte que abriram as consciências! Foi com as lágrimas destes inconformados que foram regados os craveiros que fizeram florescer os cravos do 25 de Abril…” 

Fernando de Sousa


Se alguma legitimidade há para deixar aqui umas palavras prévias ao início destas Memórias de um período estigmatizante da vida do Sousa, ela poderá advir de duas circunstâncias.
Uma prende-se com o facto de termos sido contemporâneos em Bedanda durante seis meses (dos treze que lá passei), querendo isto dizer que além de camaradas ex-combatentes, estamos irmanados pelas vivências partilhadas no dia-a-dia de um aquartelamento (leia-se redil de arame farpado e pouco mais, mas uma praça militar fortíssima) daquela Região do Sul da então Guiné, naquele período; acresce que a CCAÇ6, ”Os Onças Negras”, que guarnecia este aquartelamento e garantia a segurança naquela zona, era uma Companhia de soldados africanos com quadros europeus - penso que não seríamos mais de vinte no total. Fizemos, pois, ambos, parte desta restrita família.
A outra, porque aquando do acidente grave relatado nestas Memórias, os cuidados de saúde estavam sob a minha responsabilidade naquela zona e, portanto, também estive naquele angustiante momento que fez com que o Sousa ficasse sem uma parte dele (leia-se, parte da vida dele). Primeiro, via rádio, enquanto lhe foram prestados os primeiros e fundamentais socorros no local, e depois no posto de socorros da unidade, com os demais elementos da equipe, e até à evacuação para o Hospital Militar em Bissau. Esta vivência foi profissional e emocionalmente muito marcante.

O facto que, certamente, esteve na génese do nascimento deste testemunho vivo que o Sousa nos dá, data de Julho de 1971 e, desde então, nunca mais tinha sabido nada dele (visitei-o em fins de Julho desse mesmo ano no Hospital Militar em Bissau - ele não se recorda). Só quarenta e um anos depois nos reencontramos na Mealhada, no almoço anual da Tabanca de Bedanda, que junta os ex-combatentes que lá estiveram - a família grande de Bedanda! Conheci, então, o homem que hoje é.

E quem é este homem? Onde e como cresceu e se fez, como foi preparado para uma guerra que nunca entendeu, que lhe arrancou parte da vida, que por pouco não o matou? E como chegou lá? A sua estadia nessas terras desconhecidas que vivências lhe ia dando? Como era o dia-a-dia num aquartelamento em zona de guerra? E passados todos estes anos, o que ficou?

Estas Memorias, escritas, melhor, faladas para o papel, de uma forma natural, espontânea e fluída…. Um filme bucólico e idílico e a cores por vezes, outras a preto e branco pesado, dão-nos as respostas.
Contam-nos como um jovem aldeão, com uma vida simples mas dura, embora cheia de esperança, é transformado num soldado, um número, e quais foram os caminhos que o levaram para a guerra, que nunca entendeu.
Denunciam com críticas pertinentes, adequadas e bem fundamentadas, que ecoam ora como um grito de alerta e revolta ora com grande desespero e pesar, os multifacetados aspectos deste monstro insaciável que é a guerra: políticos, económicos e sociais de uns, e a robotização e sofrimento dos que são a estrutura base desta máquina infernal de matar e morrer, a troco de nada.
Relembram-nos os imperdoável e injustamente esquecidos desta guerra - os soldados africanos mortos nas nossas fileiras e que não têm direito a constar ao lado dos nossos nos memoriais públicos.
Revelam-nos o pungente testemunho do regresso e permanência no Anexo do Hospital Militar em Lisboa que é, no mínimo, kafkiano.

“Para mim, esta fatalidade chegou! Como um deus em jeito de raio caído do céu, ou um demónio saído das profundezas da terra. Ou, até, talvez os dois juntos, cada um deles exigindo parte de mim, do meu corpo, da minha carne, do meu sangue, ….”

“Que pena não terem conseguido tudo, mas mesmo tudo de mim, para não mais os poder maldizer e amaldiçoar, como desde então o tenho feito, e o faço aqui e agora.”

“Era precisamente ali, dentro daqueles muros de três e quatro metros de altura, que o poder político nos escondia miseravelmente de tudo e da sociedade, totalmente alheia e indiferente à miséria humana, por todos nós, ali vivida! …”

“Era precisamente para ali que vinham em lindas caixas de madeira transportadas em cada regresso dos barcos os pobres soldados. Era dali que durante a calada da noite saíam, para os cemitérios de Portugal, os restos mortais daqueles que os deuses nos jogos da sorte e do azar condenara".

Dão-nos também outras vivências e emoções do dia-a-dia por que passa ou constata, salientando as que o exotismo africano lhe dá – populações, hábitos e costumes .
Mostram-nos a sua veia poética, com poesias a propósito e plenas de sentido, como a que explicita as consequências dos momentos de desprendimento onde a força das pulsões da natureza, num meio cheio de ambiência e receptividade para a sua libertação se concretizam, num dramático e actual poema - Criados à Margem.

Sementes do tuga
Foram tantos em amor escondidos
Lisonjeiros amores de soldado
De amores em pecados dormidos
Por filhos do vento hoje tratados
Entregues a si e abandonados
Órfãos de pai sem o amor merecido

E ainda nos dizem como atingiu a plenitude serena com a vitória sobre “os deuses e demónios” que o queriam aniquilar, ao renascer das cinzas que sobraram para uma nova vida.

“Esta viagem terminou na estação de Santa Apolónia, fisicamente, há quarenta e três anos. Porém, esta viagem, para mim, nunca terminará. Vai continuar, não tem fim! Apenas e só na última estação, no fim da linha, quando este comboio fantasmagórico, já velho, com todas as carruagens repletas de recordações e nostalgia percorrer toda a linha, com seu maquinista já vencido pelo cansaço, se deixar tombar com a mente adormecida num sono profundo”

Assim será com todos os ex-combatentes, “maquinistas” de ”comboios fantasmagóricos”, ou como disse o psiquiatra Afonso de Albuquerque: “Estes rapazes continuam na guerra”

Amaral Bernardo
(Ex-Alf.Mil Médico)
Porto 27 Julho de 2014
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de Novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16691: Agenda cultural (506): SIC: Programa Perdidos e Achados, em 29 de outubro passado: onde estavam os repórteres da guerra colonial, onde estavam os nossos fotocines?

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16642: Agenda cultural (509): No dia14 de Outubro às 15 horas, acompanhado de muitos amigos, procedemos ao lançamento de "Sussurros Meus" (Fernando de Jesus Sousa)



1. Mensagens do nosso camarada Fernando de Jesus Sousa (ex-1.º Cabo da CCAÇ 6, Bedanda, 1970/71, DAF), com data de 17 de Outubro de 2016, a propósito do lançamento do seu último livro "Sussurros Meus":

No dia14 de Outubro às 15 horas, acompanhado de muitos amigos, procedemos ao lançamento de "Sussurros Meus".[1]

Obrigado por terem participado nesta festa bonita. Foi para mim uma honra ter contado com a vossa presença.

Com respeito estima e consideração
Bem-hajam.
Fernando Sousa



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Nota do editor

[1] - Vd. poste de 11 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16589: Agenda cultural (500): Lançamento do livro de poemas "Sussuros Meus", da autoria de Fernando Jesus Sousa, dia 14 de Outubro de 2016, pelas 15 horas, no Salão Nobre da ADFA, Av. Padre Cruz, Lisboa

Último poste da série de 21 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16626: Agenda cultural (502): No passado dia 14 de Outubro de 2016, no Salão Nobre do Quartel da Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia, realizou-se a sessão de apresentação do livro "Memórias Boas da Minha Guerra" da autoria do nosso camarada José Ferreira da Silva

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16589: Agenda cultural (506): Lançamento do livro de poemas "Sussuros Meus", da autoria de Fernando Jesus Sousa, dia 14 de Outubro de 2016, pelas 15 horas, no Salão Nobre da ADFA, Av. Padre Cruz, Lisboa

1. Mensagens do nosso camarada Fernando de Jesus Sousa (ex-1.º Cabo da CCAÇ 6, Bedanda, 1970/71, DAF), com datas de 23 e 30 de Setembro de 2016:

Caros amigos e leitores.

É com enorme satisfação e muita felicidade, que trago até vós, novidades!

"Quatro Rios e um Destino", não é mais um livro solitário. Tem finalmente companhia! Um segundo livro, "Sussurros Meus", para que ambos possam trilhar o mesmo caminho, até aos vossos espaços de leitura e proporcionar aos seus leitores, interesse e prazer, algumas reflecções e porventura algumas emoções.

Sussurros Meus é um livro de poesia, no qual o autor liberta muitos dos seus sentimentos, ficando assim as duas obras irmanadas nos mesmos valores. Porém, em Sussurros Meus, encontramos algo diferente. Aqui o amor é rei e senhor, interligado entre raízes, os sentimentos de alma e estados de espírito, que o autor verteu para o papel, na sua forma e estilo próprios.

A todos vós endereço o meu convite, extensivo também aos vossos amigos, para que, no dia 14 de Outubro, às 15 horas, nos acompanhem no momento solene da apresentação de mais esta obra, que eu espero e muito desejo, seja do agrado de todos os que percorrerem as suas páginas.

O lançamento será no Salão nobre da Associação dos Deficientes das Forças Armadas, Av. Padre Cruz, edifício ADFA Lisboa.

Conto com a vossa presença e apoio, naquele dia, em que ficará escrita mais uma página da história da minha vida, entre o ser e o estar.

Quatro Rios e um Destino e o seu autor, agradecem a vossa presença

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2. Deixo para os meus amigos um poema de que gosto muito. Faz parte dos 125 que completam "Sussurros Meus"

Livro a Lançar no próximo dia 14 de Outubro pelas 15 horas, na sede da Associação dos Deficientes das Forças Armadas, na Av. Padre Cruz em Lisboa, no Salão Nobre.
Aqui deixo o meu convite, para assistir ao lançamento de mais uma obra. Ficarei muito honrado com a sua participação. Vamos todos em amizade e respeito celebrar e brindar com um Porto de honra.


Outono

Cai a noite no outono,
Sente-se o frio lá fora.
Preciso de aconchego na minha alma!
Nesta noite, em que o silêncio mora,
Vazia de calor! E uma lareira sem chama!

Noite fria, esta, de outono!...
Na rua sente-se o frio.
A chuva bate fria, bate forte,
Para lá longe encher o rio.
Do vento, ouve-se o seu trote…

A correr, como um cavalo bravio,
De crina solta em pleno desafio.
Aperto o cobertor que me enrosca.
Neste pesado silêncio, gentio.
Nem o meu telefone toca!

Nem os cães vadios ladram!
Mas ouve-se a água, a caminho do rio…
Todos dormem, em silêncio profundo,
Porque cai a chuva e faz muito frio.
Até parece que fiquei só neste mundo!

Tenho uma pequeníssima satisfação:
Notar que apenas chove lá fora!
Mas sinto tanto frio no meu coração!
É tanta a solidão, que no meu peito mora!...
Porquê? O outono? Que seja sempre verão…

Continuo só, de caneta na mão,
Rabiscando o que me vai na alma.
Nem o cobertor aquece a minha solidão!
Nem a sinfonia da chuva me acalma.
Preciso de aconchego no meu colchão!...

20/11/2015
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16582: Agenda cultural (499): Apresentação do livro "Guerra da Guiné: A Batalha de Cufar Nalu", da autoria de Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil da CCAV 703 / BCAV 705, dia 13 de Outubro de 2016, pelas 15 horas, na Messe Militar do Porto, Praça da Batalha

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16339: Convívios (762): Tabanca da Linha, 21 de julho de 2016: Parte I - Grandes corredores d'Algés & Dafundo e d'Além-Mar em África (Texto de José Manuel Matos Dinis; fotos de Manuel Resende)


Foto nº 1  >  A nova "sala de pasto", agora em Algés, o restaurante Caravela de Ouro


Foto nº 2 >  O "camisola amarela" é um português da Linha, pois claro, ex-Diamang... Nem tudo se perdeu no retorno ao "Puto"... A pele e a alma e o resto do corpinho vieram com o nosso Zé (Manel Matos Dinis), aqui no exercício das suas funções de (e)terno adjunto do Comandante Rosales. Ainda na foto: António Castanheira e Carlos Santa.


Foto nº 3 > Um foragido que à  Tabanca da Linha retorna: o Humberto Reis, o "camisola vermelha" que, tal como os seus régios antepassados, escolheu as terras da Lourinhã, refúgio de Pedro e de Inês, para refrigerar o coração com as brisas matinais. Com ele, António Maria Silva.


Foto nº 4 > O veteraníssimo Rui Santos, o "camisola azul"... Outro grande corredor de fundo... Com António Alves Alves.


Foto nº 5 > Um "bedandense" entre as gentes da Linha: o Hugo Moura Ferreira, ex-camisola amarela... Com José de Jesus da CCAÇ 2585 (Jolmete)


Foto nº 6 >  O fadista de Bissorã, o rapaz da "camisola verde às riscas"... Está nostálgico, o nosso Armando Pires, why? why?...


Foto nº 7 > O Zé Dinis de Souza Faro, numa pose luminosa...


Foto nº 8 >  "Manuel Joaquim, à minha direita, um grande senhor", diz o Souza Faro... Ainda na foto, António Gil das Caldas da Rainha.


Foto nº 9 >  Do outro lado a Linha... do Estoril, em Algés... Manuel Joaquim, Diniz Souza E Faro, António Gil, José António Chaves, Joaquim Nunes Sequeira (o Sintra), e António Souto Mouro (de costas).


Foto nº 10 > Um ribatejano, régulo da Tabanca de Setúbal, em visita de cortesia à Tabanca da Linha onde se come sempre bem e se recebe melhor...


Foto nº 11 > Manuel Resende, o fotógrafo de serviço que tem fixado, para a eternidade, os melhores momentos conviviais da Magnífica Tabanca da Linha



Foto nº 12 > Da esquerda para a  direita: Manuel Lema Santos, lídimo representante da Reserva Naval (e Moral da Nação) mais o Zé Rodrigues, que vive em Belas (que a nossa base de dados não mente)


Foto nº 13 > Fernando Sousa, "outro bedandense", escritor, autor de "Quatro Rios e um Destino", que se prepara no final do ano para lançar o seu primeiro livro de poesia...


Foto nº 14 > Por fim, mas não menos importante, o comandante Jorge Rosales, tendo a seu lado o José Colaço, dois dos nossos grã-tabanqueiros sempre nobres e leais... 14 fotos de uma difícil seleção num lote de 60, enviadas pelo Manuel Resende... Mas há mais, na parte II...

Oeiras > Algés > 21 de julho de 2016 > Restaurante Caravela de Ouro,  Alameda Hermano Patrone, 1495 ALGÉS (Jardim de Algés) > 26º convívio da Magnífica Tabanca da Linha (*)

Fotos: © Manuel Resende (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Bloghue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do José Manuel Matos Dinis, com data de 21 do corrente:

Assunto - O Último encontro da Magnífica Tabanca da Linha

Foi hoje.

Conforme ampla divulgação feita pelos instrumentos do costume, foi hoje o último encontro da Magnífica Tabanca da Linha.

Foi o último realizado, mas vão continuar. Que ninguém se assuste, que o génio desta tabanca está para durar. A realização começou no final do mês passado. Alguns dos magníficos da região de Algés, há muito tempo que propunham a realização de um encontro lá para aquelas bandas. 

Nesse pressuposto, S. Exa., acompanhado do ministro privado das tecnologias, Manuel Resende; do impoluto repórter reformado, Armando Pires, e de alguns dos elementos daquela região, marcaram almoço no previsto local do acontecimento. Parece que S. Exa. ficou estragado de mimos, bebeu uns copos, e deu luz verde à realização. Fixou-se a ementa e o preço, mostraram-se retratos do edifício, e vai de anunciar às gentes interessadas a próxima realização do evento. Que foi hoje. Colocaram-se as moedas nos parquímetros, e ala, que tocou a reunir.

Compareceu um bom número de tertulianos, animados de boa disposição, e do bom apetite que a escada até ao segundo andar proporciona. Calma, deixem-me contar: claro que não morreu ninguém com o esforço, ou insuficiências potenciadas pela contagem dos degraus. Nada disso. Para esses, a organização dispõe de um elevador. E foi o que aconteceu, a malta atafulhou o cubículo elevatório de cada vez que se passava da rua para a sala sacrificial. 

E logo à entrada, emboscados, mas suficientemente à vista para não falharem pontarias, dois elementos procediam à recolha do dinheiro: um estendia a mão onde se colocavam os valiosos euros, enquanto o outro rabiscava num papel marcado com manchas de azeite, ou manteiga, mas ainda com aromas de outros temperos, os nomes dos pagantes. Nesta parte a coisa correu bem, pois não se registaram desacatos como vinha sendo costume, quando havia o hábito de pagar no fim. Parabéns à organização que acabou com as confianças malévolas.

A localização permite uma vista para a Marginal, depois para a linha, onde passa o comboio sem custos acrescidos, a seguir pode ver-se o bocado de terra destinado aos concertos barulhentos, e, finalmente, lobriga-se o rio, que dali parece ribeiro. O pessoal já não via nada, e alguns tiveram a sorte de descobrir uns fritos e rodelas de paio que não saciaram as fomes. Provaram-se vinhos, da terra do senhor doutor, e ouvi alguém soletrar Esteva, que logo percebi, não havia Esteva. Isto, na parte dos tintos, porque os brancos eram da mesma proveniência e não havia da D. Ermelinda. Ninguém morreu de sede. Aliás, havia água com excessiva fartura, e uma espécie de laranjada, certamente da mais qualificada indústria sumarenta. Nem lhe toquei, livra!

Aproximou-se a hora de refeiçoar, e o pessoal compôs-se nas mesas para o diligente serviço de caldos, um elaborado a partir das melhores espécies vegetais, outro com um acentuado palato a marisco, com escassas farripas de camarão a comprovar a sapidez, ambos com dotações suficientes de Maggi, que lhes davam carácter e autenticidade. Bebe mais um copo, Zé! Era a voz da consciência a apaziguar o estômago.

E logo veio a grande atraqueção culinária, o prato de bianda com garoupa, a que se acrescentaram gambas. Nada a dizer, pois o cozinheiro, à semelhança do defesa da selecção de futebol que ganhou o europeu, não inventou nada, e o conduto correu previsivelmente bem. Óspois, como seria escrito pelo camarada Veríssimo, podíamos escolher entre salada de frutas e pudim. A salada estava boa, e do pudim ouvi rumores de que não ia além da mediania.

Mas foi bom. No final correram umas garrafas de magníficos alcoóis que fizeram acentuar a necessidade de frescura para enfrentar a digestão, e que facilitaram a algazarra seguinte, que hoje ganhou méritos de amplificação, ou por causa da concentração do pessoal, ou por causa do tamanho da sala que não permitiu mais largueza na distribuição.

Conforme é do conhecimento geral, importante, importante, é a possibilidade para confraternizarmos, para nos expressarmos com alegrias e risadas, e gritos, se alguém, algum dia, alguém se lembrar disso. Foram várias as caras novas, malta que pareceu integrar-se com facilidade, o que vem provar que há coisas importantes que nos unem. Por mim, regressei a casa com a noção do dever cumprido. Para todos vai o meu abraço fraterno. Isto, se S. Exa. o Senhor Comandante, não achar necessário exercer o seu exclusivo direito de censura. (**)

Inté! JD
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 5 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16273: Convívios (759): Mais um Encontro da Magnífica Tabanca da Linha, no próximo dia 21 de Julho, em Algés (Manuel Resende)

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15267: Bibliografia de uma guerra (78): Do meu livro "Quatro Rios e um Destino", excerto para o Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (1): Viagem de Abrantes a Lisboa (Fernando de Jesus Sousa)

1. Mensagem do nosso camarada Fernando de Jesus Sousa (ex-1.º Cabo da CCAÇ 6, Bedanda, 1970/71, DAF), com data de 9 de Outubro de 2015:

Boa noite Carlos Esteves Vinhal.
Junto um excerto do meu livro Quatro Rios e um Destino para publicar no Blogue se assim achar conveniente e possível.
Como tinha prometido que iria enviar de vez em quando uns textos, cá estou a fazê-lo a propósito de que vai fazer um ano do seu lançamento, estou a esgotar a edição.
Também para anunciar que dia 24 às 16 horas, vou proceder a mais uma apresentação1. Desta vez será no bairro onde morei muitos anos, em Santa Maria dos Olivais Lisboa, Na Casa da Cultura dos Olivais Junto ao coreto nos Olivais velhos Lisboa.
Se for possível dar conhecimento ao pessoal da Tabanca deste meu evento fico agradecido.

Abraço
Saudações de amizade para todos os tabanqueiros
Fernando Sousa

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Viagem de Abrantes a Lisboa

Rumei a Abrantes, para recolher meus pertences e guia de marcha com destino aos Adidos em Lisboa, para aguardar embarque. No caminho para a estação, tive oportunidade de contemplar toda a beleza daquele vale do rio Tejo, de águas cristalinas, que em correrias deslizavam suavemente rumo ao seu destino, cuja foz ficava já ali ao virar da última curva. Também suas margens, tão bonitas como nunca as tinha visto, cobertas de flores das mais variadas cores naquela altura da Primavera. Fiquei encantado com aquela paisagem, que me deslumbrou, apesar do momento melancólico, pouco convidativo a deslumbramentos.

Apanhei o comboio na estação do Rossio de Abrantes, bastante apreensivo, por ser mais uma despedida. Comboio esse que já vinha bastante cheio e ainda assim ali embarcaram muitos militares, que como eu, rumavam a vários destinos.

Depois de procurar um lugar vago onde pudesse sentar-me, para, de forma solitária, dar aso à minha amargura, encontrei apenas um lugar vazio no mesmo compartimento onde viajavam três jovens moças, pela certa estudantes com uma guitarra, que uma delas fazia vibrar, repletas de boa disposição e alegria estas jovens, que se fartavam de tocar e cantar. Ainda hoje recordo algumas canções, como por exemplo (ribeira vai cheia e o barco não anda, tenho o meu amor lá naquela banda, lá naquela banda, e eu cá deste lado, ribeira vai cheia e o barco parado) às quais eu não dava grande importância, a sua alegria contagiante era por demais evidente e salutar, condimentos essenciais para uma boa viagem, se não fosse eu antes preferir martirizar-me, sentir pena de mim mesmo. Queria viver em pleno aquela minha tristeza, que me corroía as mais profundas emoções, até me incomodava o facto de elas rirem, tentei virar a cara para onde elas não me pudessem ver, nem adivinharem o que me corroía internamente. Também não eram aqueles rostos bonitos que eu queria ver e muito menos suas canções ouvir, que tal era o meu estado de espírito. A minha mente vinha totalmente absorvida desde o início, nesta grande viagem na minha ida para uma guerra, que já não tinha forma de evitar.

Contudo, não passaram despercebidas estas minhas misturas de fortes emoções a estas moçoilas, que estranharam o meu alheamento quase total, até que uma ousou perguntar-me o porquê. Parecia que eu não estava ali, ia triste, questionou outra, ao que eu respondi que esta podia muito bem ser a minha última viagem de comboio, porque estava de partida para África. Por uns momentos fez-se silêncio, silêncio ainda mais profundo que todas as minhas mágoas, era precisamente isto que eu precisava para continuar a ter pena de mim. Sem querer reparei que na cara de uma delas corria uma lágrima, que apressadamente limpou, tentando disfarçar a emoção. Continuou um melancólico e quase fúnebre silêncio, com uns suspiros à mistura, até que me senti na obrigação de o quebrar, e disse estas palavras: Ó meninas, esta viagem ainda não acabou e muito menos eu morri, continuem com a vossa alegria, sejam vocês felizes por mim. Vá lá, toquem e cantem mais um pouco. Mas o silêncio continuou, por mais uns instantes, até que aquela da lágrima desabafou que tinha o seu namorado também na guerra e, por muito que desejasse, não saberia se o voltaria a ver. Muito a custo consegui conter as minhas.

Quiseram dar-me o seu endereço para lhes escrever quando chegasse ao meu destino, as três me franquearam a sua amizade e faziam gosto em ser minhas madrinhas de guerra. Agradeci delicadamente e não aceitei, respondi que isso traria amizades que se poderiam tornar em mágoas, sobretudo para elas, e para mim ilusões que não deveria nem podia alimentar.

Mostraram compreensão e respeito pela minha atitude, desejaram-me saúde, sorte e felicidades, ao que, com um embargo na garganta, agradeci e também desejei tudo de bom para elas. O resto da viagem não mudou de tom, a alegria até ali constante esvaíra-se como fumo. A guitarra foi posta de parte e não mais tocou durante o resto da viagem.

Recordo ainda hoje com muito carinho este trecho da minha vida, não me lembra o nome de nenhuma dessas raparigas, porque não fiz questão de o guardar, e já passaram muitos anos, mas esta viagem marcou-me profundamente, a estas jovens, que talvez tivessem a minha idade, desejo que tenham tido toda a sorte do mundo nas suas vidas e sejam muito felizes, porque este pequeno gesto tocou bem fundo todo o meu ser, este gesto nobre fez-me sentir bem pequenino perante tamanha grandeza.

Este gesto despertou a minha consciência para uma nova realidade sentimental que está presente em todos os seres humanos, à qual nunca até então tinha dado o devido valor, que é ser solidário, fraterno e amigo, para com quem precisa. E eu naquele momento precisava de verdade. Precisava de uma palavra amiga, de ânimo e conforto. Aquele silêncio comovido foi para mim sentido como que uma homenagem, um capítulo escrito num livro sem palavras e letras nenhumas, foi daqueles momentos de ouro que surgem uma vez na vida de cada homem, a que por vezes nem damos a devida importância, porque não é palpável nem o vemos, mas que nos marca profundamente, porque são silêncios vindos do mais puro dos sentimentos que todo o ser humano tem, que nem todos os barulhos do mundo os abafam e são suficientemente audíveis a muitos anos de distância, neste tal livro da vida sem palavras, sem letras, poucos gestos, apenas muita emoção e uma lágrima no canto do olho.

Esta viagem terminou na estação de Santa Apolónia, fisicamente, há quarenta e um anos. Porém, esta viagem, para mim, nunca terminará, vai continuar, não tem fim, apenas e só na última estação, no fim da linha, quando este comboio fantasmagórico, já velho, com todas as carruagens repletas de recordações e nostalgia percorrer toda a linha, com seu maquinista já vencido pelo cansaço, se deixar tombar com a mente adormecida num sono profundo.

Fernando Sousa
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Notas do editor

1 - Vd. poste de 14 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15251: Agenda cultural (429): Apresentação do livro de Fernando de Jesus Sousa, "Quatro Rios e um Destino", na Casa da Cultura dos Olivais, Lisboa, dia 24, às 16 horas

Último poste da série de 12 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P14996: Bibliografia de uma guerra (77): Do meu livro "Paz e Guerra - Memórias da Guiné", excerto para Luís Graça & Camaradas da Guiné (2) (António Melo Carvalho, Coronel Inf Ref)

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15251: Agenda cultural (429): Apresentação do livro de Fernando de Jesus Sousa, "Quatro Rios e um Destino", na Casa da Cultura dos Olivais, Lisboa, dia 24, às 16 horas

1. Mensagem, com data de 5 do corrente, de Fernando de Jesus Sousa [ex-1.º Cabo da CCAÇ 6, Bedanda, 1970/71, DAF, natural de Penedono; confidenciou-nos, há tempos, na sede da ADFA, que agora anda, entusiasmado, a escrever poesia]:


Ver aqui a recensão feita pelo
nosso colaborador permanente,
o camarada Beja Santos
 Boa noite, amizades.

Venho informar que no dia 24 deste mês, às 16 horas, vai ser apresentado, na Casa da Cultura de Santa Maria dos Olivais, o meu livro, "Quatro Rios e Um Destino" [Lisboa, Chiado Editora, 2014, 304 pp].

Conto com a vossa presença, amigos e camaradas. Tragam os vossos amigos e conhecidos.

No final, temos um beberete para suavizar a alma

A Casa da Cultura dos Olivais fica nos Olivais Velhos, R. Conselheiro Mariano de Carvalho 67, 1800 Lisboa [Ver página no Facebook, aqui].

Vou dando mais notícias.

Abraço a todos,

Fernando Sousa
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sábado, 14 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14256: Homenagem da Tabanca Grande à nossa decana: a "mindjer grande" faz hoje 100 anos... Clara Schwarz da Silva, mãe do Pepito (8): Mensagens da Tertúlia

 
MENSAGENS DE FELICITAÇÕES DA TERTÚLIA A PROPÓSITO DO CENTENÁRIO DA NOSSA GRÃ-TABANQUEIRA E MULHER GRANDE DO NOSSO BLOGUE SENHORA DONA CLARA SCHWARZ


1. Mensagem do nosso camarada Domingos Gonçalves, (ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68):

Cem anos, - que linda Idade!
Tantas histórias para contar!
À grande tabanqueira,
Tão querida,
Só posso desejar
Outros cem anos de vida.

Domingos Gonçalves

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2. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72):

Senhora D. Clara:
Pelo grande respeito e admiração que aprendi a ter por si, através de testemunhos deste blogue, neste dia em que faz cem anos, sendo a "Mulher Grande" desta Tabanca eu sinto-me tão pequeno que me apetece pedir-lhe a bênção como pedia à minha mãe, quando era jovem.

Desejo-lhe muita saúde e felicidade junto das pessoas que lhe são queridas, filhos, netos e amigos.

Sei que já sofreu muito, tantos familiares mortos sem justiça, numa guerra selvagem, só por serem diferentes na religião ou nos costumes. Além desses outros familiares próximos partiram sendo o último o seu filho Carlos, esse homem bom, que tanto fez pelo bem das gentes da Guiné-Bissau que tanta falta lhe sentirão.

É duro, é cruel, para uma mãe ver partir um filho mas D. Clara deve pensar na grande obra que ele realizou e na admiração, respeito e amizade que conquistou, o Carlos continua a viver, nessa obra, nas boas recordações que deixou e sobretudo no coração dos guineenses.

O Carlos continua vivo também nas semelhanças de carácter, de modos, no sorriso franco, nos gestos dos seus filhos e dos seus netos.

D. Clara, neste dia em que faz cem anos, que todos os seus amigos da Tabanca Grande festejam, assim como os seus familiares e amigos mais próximos, deixe que lhe chame mãe e que lhe envie com muito carinho os mesmos beijos que gostaria de dar à minha mãe, que já não me pode ler ou ouvir, porque já partiu.

PARABÉNS! MUITOS BEIJOS MÃE!

Francisco Baptista

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3. Mensagem do nosso camarada Fernando de Jesus Sousa (ex-1.º Cabo da CCAÇ 6, Bedanda, 1970/71):

Uma saudação muito especial, com estima e consideração para esta grande Senhora.

Desejo-lhe um feliz aniversário repleto de amizade e carinho.

Parabéns e muitas felicidades.
Fernando Sousa


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4. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Nogueira de Sousa (ex-Fur Mil Art da 1.ª CART do BART 6520/73, Bolama, Cadique e Jemberém - 1974):

Muitos parabéns á estimada e lutadora "centenária", meta alcançada por poucos.
Que acrescente muitos mais e com qualidade de vida.

MSousa



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5. Mensagem do nosso camarada José Casimiro Carvalho (ex-Fur Mil Op Esp da CCAV 8350 e da CCAÇ 11) - Gadamael, Guileje, Nhacra e Paúnca, 1972/74):

De forma indelével, o "Pepito" está ligado umbilicalmente a mim. Por isso e por ter sido gerado por essa menina, quero desejar, como ex-combatente ("tuga") e como apaixonado por esse POVO um bom aniversário e que ainda viva assista ao fim das atrocidades , entre elas a excisão feminina.

Parabéns BAJUDA.
José Carvalho,
ex-militar de Guiledje (Guileje)

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6. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70):

Luís,
A Sr.ª D.ª Clara Schwarz da Silva, Primeira Dama desta confraria, é nome memorável diferentes títulos: pelas sementes que deixou naquele ponto dos trópicos; por pertencer a uma estirpe familiar que deu a um grande escritor, seu marido, um grande artista e um desenvolvimentista humanitário, seus dois filhos já falecidos; e por dispor de um património de memória de que a Guiné não devia abdicar, pela fertilidade e pela luminosidade do seu exemplo.

Escrevo-lhe com o pedido especial de que não se esqueça de que não há futuro sem aprofundar o conhecimento do passado, é deste que despontam valores, princípios, matrizes da identidade de um país que vive finalmente um tempo de esperança e de pacificação.
E mando-lhe um beijinho, as mulheres grandes são por inerência caudais de sabedoria, archotes da experiência e expoentes de bravura.
E como tu observas, é mesmo inspiradora de todos nós, sei o que é perder um filho.

Que Deus a conserve e nos guie com o seu exemplo, a rasgada admiração do
Beja Santos

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7. Mensagem do nosso camarada José Lima da Silva (ex-Soldado da CCAÇ 1496/BCAÇ 1876, BissumPirada e Bula, 1966/67):

Os meus parabéns para a Senhora Dona Clara Schwarz, e se a saúde deixar, que vais mais alguns anos.

Um beijo para ela
José Lima da Silva


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Nota do editor

Último poste da série de 14 de Fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14255: Homenagem da Tabanca Grande à nossa decana: a "mindjer grande" faz hoje 100 anos... Clara Schwarz da Silva, mãe do Pepito (7): José Eduardo Reis Oliveira (Tabanca de São Martinho do Porto)

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P14095: Notas de leitura (662): Eu e a minha burra, sozinhos, mais a nossa própria sombra... Recordações da infância (Fernando Sousa, natural de Penedono, autor de "Quatro Rios e um destino")


Penedono > Castelo de Penedono >  28/12/2011. Vídeo (0' 35''). Homenagem ao nosso camarada Fernando de Jesus Sousa, natural de Bebeses, Penedono



Penedono > Castelo e Pelourinho de Penedono  > 28/12/2011 >  Visita que fiz às Terras do Demo há três natais atrás... (LG)


(...) Celebrada como uma das mais belas vilas de Portugal, assim como o seu airoso e esbelto castelo pentagonal (ou hexagonal imperfeito ?), erigido em data bem anterior ao dealbar da Nacionalidade, o é entre os seus pares, mantem inalterado o perfil medievo do seu centro histórico, já que as obras de restauro e edificações ulteriores, incluindo as mais recentes, têm, como ponto de honra, respeitar escrupulosamente o traço arquitectónico e o material granítico da região, nele se integrando de forma coerente e harmoniosa.


Penedono, concelho do distrito de Viseu
com cerca de 133 km2 e menos de 3 mil
habitantes (censo de 2011). Um dos mais antigos
de Portugal: o seu foral remonta a 1055.
Fonte: Wikipedia
Para além do seu altivo pelourinho de gaiola, fronteiro ao Castelo, com a qual delineia uma perspectiva estética de rara elegância, Penedono exibe, ainda, um património de atractivos múltiplos, consignado nas suas seculares igrejas e capelas, recheadas de arte sacra nas suas expressões plásticas e de paramentaria, a que se junta o austero e majestoso Solar dos Freixos, há poucos anos recuperado para acolher, condigna e funcionalmente, os Paços do Concelho e outros serviços da administração pública central e local.

Rezam a tradição e as crónicas que, aqui, teve berço Álvaro Gonçalves Coutinho, o insigne "Magriço", passado à imortalidade por Camões no canto VI dos "Lusíadas", quando o vate descreve e enaltece, ao ritmo épico dos decassílabos, o seu protagonismo exemplar de valentia e cavalheirismo na façanha, ímpar, cometida à frente dos denominados "Doze de Inglaterra", em chãos estranhos e longínquos da loira Albion. (...) 

(Excerto de belíssimo texto de Rui Ferreira Bastos > Penedono e o seu concelho, inserido no sítio da Câmara Municipal de Penedono)


Foto e vídeo: © Luís Graça (2011). Todos os direitos reservados.

1. Pequeno excerto do livro "Quatro rios e um destino" (Lisboa, Chiado Editora, 2014) (*), enviado pelo autor, o nosso camarada Fernando Sousa, no passado dia 28. 

O livro, de 302 pp. pode ser adquirido diretamente ao autor, através do email: fernandodjsousa@gmail.com 



Recorde-se  alguns dados biográficos do Fernando Sousa:

(i) nasceu a 24/12/1948, na véspera de Natal (daí chamar-se Fernando de Jesus...);

(ii) terra natal: Bebeses, freguesia de Póvoa de Penela, concelho de Penedono, distrito de Viseu;

(iii) esteve no TO da Guiné, como 1º cabo at inf, na CCAÇ 6 (Bedanda, 1969/71);

(iv) foi gravement6e ferido por uma mina A/P em julho de 1971;

(v) é DFA (Deficiente das Forças Armadas);

(vi) está escrever um segundo livro.


Excerto, do livro "Quatro Rios e um Destino"  (Capítulo 1 - A minha infância),  pp. 28-30. 


(...) Eu tinha apenas dez anos, para ser confrontado com uma escolha que jamais poderia recusar. Era uma ordem para cumprir, tinha que ser levada a sério, no sentido de moldar todo o meu corpo ao trabalho.  De tanto cavar, gastei essa enxada em pouco tempo e depressa foi substituída por outra ainda maior.

Capa do livro do Fernando Sousa
Voltando à minha companheira inseparável, a simpática burra, com ela percorria várias aldeias, umas mais próximas, outras a distâncias de vinte quilómetros, atravessando ribeiras e o rio Torto, subindo montes, descendo a vales bem profundos, indo mesmo até ao limiar das margens do rio Douro. Partia de manhã bem cedo, para regressar quase de noite por autênticas veredas, que essa burra conhecia bem melhor que eu, porque comecei com apenas nove ou dez anos. Era ela que me conduzia a mim,   por aqueles trilhos.

Foram muitas as viagens, porque a minha mãe, Ilda da Soledade Moutinho, era uma excelente tecedeira, excelente mestra que deu formação a algumas raparigas daquela região. Primava nos trabalhos de tecelagem e, como tal, por aqueles arredores tinha sempre muito trabalho. Era este o seu ganha-pão, era eu o seu mensageiro, o seu encarregado de negócios, o seu transportador eficaz que, de forma abnegada, levava a obra feita e, no regresso, trazia os materiais para novos trabalhos e indicações de como as clientes queriam o novo trabalho feito.

Quantas vezes, faltei à escola para executar estas tarefas! Quantas vezes, ao serão, à luz da velha candeia a azeite, e mais tarde, a petróleo, ajudei a minha mãe a urdir a lã, a desfiar o linho ou a estopa e fazer os novelos na dobadoura, preparar o tear para ao outro dia começar nova obra. Era assim naquela casa. Tudo vinha do trabalho árduo, que executávamos com alegria!

Com esta companheira, autêntico burro de carga, passei noites inteiras a transportar molhos de centeio, do local onde era cultivado, a que chamávamos Cales. Meu pai carregava a burra, que, depois, eu conduzia até à eira, local próximo da povoação, onde seria malhado. A minha mãe descarregava. Neste trajecto, um ponto distante do outro quatro a cinco quilómetros.

Este era um trabalho que tinha de ser executado de noite, porque, se fosse de dia, com o calor, o grão saltava da espiga, tornando inútil todo o trabalho.

Cabia-me a mim, sozinho com a pobre burra, naquelas noites de lua cheia, noites em que o luar tinha mais esplendor, iluminando o céu e a terra, luar que construía segredos debaixo da ramagem de cada árvore, que parecia mexer-se à medida que me aproximava ou uma aragem suavemente e muito ao de leve lhe tocava, como que reflectindo movimento a coisas estáticas, saltando-me aos olhos apenas as imagens quase todas assombrosas, deixando transparecer imagens fantasmagóricas, aterradoras, imagens de todas as formas e feitios, consoante a minha imaginação e os medos deste grande homem com sete, oito e nove anos as interpretavam. Sombras essas que deixavam em mim a sensação de que me seguiam os passos e, no regresso, ali se mantinham quietas e firmes, esperando a minha passagem, para me aterrorizarem.

Panorâmica de Bebeses. Cortesia da
 junta de freguesia de Póvoa de Penela,
Penedono
Nesses trajectos, durante toda a noite, era frequente cruzar-me com aves nocturnas que por ali abundavam, tais como noitibós, mochos, as grandes corujas e morcegos. Nestas idas e vindas, o silêncio da noite era apenas interrompido pelo latir de raposas, pelo ladrar de cães nos povoados, que, pela distância, mal se conseguiam vislumbrar, e pelo barulho destas frágeis sombras em andamento constante e contínuo, levantando o pó do chão, fazendo a terra gemer sempre que estas duas sombras o pisavam.

As idas e vindas sucediam-se à medida e do tamanho da noite, daquelas noites quentes do mês de Julho, atravessando pinhais, soutos de castanheiros e tantas outras árvores mais. Eu e a burra, sozinhos, mais a nossa própria sombra, subindo o monte e descendo ao vale profundo, atravessando a ribeira despida de água, apenas com o reflexo das suas próprias sombras nas correntes da minha imaginação, sempre caminhando até o dia nascer.

Com o nascer do sol chegava a hora de ir dormir, dar descanso ao corpo deste menino homem e sossegar o meu frágil cérebro. Tentar compreender e interiorizar que, naquela noite, não houve nada mais que umas inofensivas sombras, às quais a minha imaginação dava demasiada importância.
Tinha que crescer desta forma e interiorizar, porque era assim e foi desta forma, ao longo de séculos, que os meus antepassados por aquelas paragens se fizeram homens valentes, sem medos para enfrentarem aqueles e outros fantasmas criados apenas na imaginação, em que todos os seres são férteis.

Guardo estas e outras recordações dessa infância, dessas passagens que nesse tempo eram tidas como normais, porque era assim que os homens por lá nascidos e criados se formavam, enfrentando os seus próprios medos, superando-os, ou aprendendo a viver com eles. (...)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 21 de novembro de  2014 > Guiné 63/74 - P13923: Notas de leitura (652): “Quatro Rios e um Destino”, por Fernando Sousa, Chiado Editora, 2014 (Mário Beja Santos)

(...) É um livro, a vários tipos, raro. Raro pela confidência, raro pelo filtro que o autor se impõe quanto ao sujeito da memória: a infância, a recruta, a especialidade que culmina, praticamente, com a convocatória para a guerra.Não se sabe porquê, desembarca em Luanda e é direcionado, de supetão, para a Guiné, viaja até Bedanda.

Não se perde em considerandos nem faz crónica da guerra, regista estimas e chega depois a hora do sinistro que o transfigurou, até hoje. Impressiona quando escreve sobre os guineenses, captou-lhes a ternura, o gosto pela música, a afabilidade.

Temos aqui um livro que é também um grito de revolta, é alguém que superou o pesadelo e não o esconde. É um livro raro, encontrou um caminho inesperado depois da agonia de se ver sem duas pernas, venceu o destino. (...)

(**) Último poste da série > 29 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14093: Notas de leitura (661): “Guiné 1966, reportagens da época”, edição de autor de Domingos Gonçalves, ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887 (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P14092: Convívios (647): A Tabanca de Bedanda na sede nacional da ADFA, em Lisboa, Av Padre Cruz, no passado dia 18, a convite do Fernando de Jesus Sousa, autor de "Quatro Rios e um Destino” (Chiado Editora, 2014)


Lisboa >  Av Padre Cruz > ADFA > 18 de dezembro de 2014 > Convívio da Tabanca de Bedanda > Fernando Jesus e Beja Santos


 Lisboa >  Av Padre Cruz > ADFA > 18 de dezembro de 2014 > Convívio da Tabanca de Bedanda > Renato Vieira de Sousa (cor ref, antigo cmdt da CCAÇ 5), e o "Salazar" (alcunha do Eduardo Cesário Rodrigues, que também passou pela CCAÇ 6)


 Lisboa >  Av Padre Cruz > ADFA > 18 de dezembro de 2014 > Convívio da Tabanca de Bedanda >  Beja Santos com os bedandenses João Martins e José Vermelho



Lisboa >  Av Padre Cruz > ADFA > 18 de dezembro de 2014 > Convívio da Tabanca de Bedanda >  O Manuel Lema Santos e o Fernando de Jesus Sousa


Lisboa >  Av Padre Cruz > ADFA > 18 de dezembro de 2014 > Convívio da Tabanca de Bedanda >  O Rui Santos e o Carlos Jesus Pinto



Lisboa >  Av Padre Cruz > ADFA > 18 de dezembro de 2014 > Convívio da Tabanca de Bedanda >  O Carlos Alberto de Jesus Pinto, nosso grã-tabanqueiro desde 12 de outubro de 2011  (foi 1.º  cabo condutor apontador Daimler do Pel Rec Daimler 2208, Mansabá e Mansoa, 1969/71;  nunca esteve em Bedanda,  mas foi "adotado" pelos bendandenses).




Lisboa >  Av Padre Cruz > ADFA > 18 de dezembro de 2014 > Convívio da Tabanca de Bedanda > Em primeiro plano, o reaparecido Joaquim Pinto Carvalho e o seu vizinho do Cadaval, o Belarmino Sardinha. Entrre os dois, em segundo plano o Carlos Alberto de Jesus Pinto.


Lisboa >  Av Padre Cruz > ADFA > 18 de dezembro de 2014 > Convívio da Tabanca de Bedanda > O Joaquim Pinto Carvalho com o chapéu do saudoso Tony Teixeira (1948-2013)


Lisboa >  Av Padre Cruz > ADFA > 18 de dezembro de 2014 > Convívio da Tabanca de Bedanda >  o Rui Santos, o "nosso mais velho", foi quem se ofereceu para receber a massa do almoço, 7 euros por cabeça... Os galináceos, caseiros, criados pelo Fernando Jesus em Palmeira, foram oferecidos por ele,,,


Lisboa >  Av Padre Cruz > ADFA > 18 de dezembro de 2014 > Convívio da Tabanca de Bedanda > O Beja Santos, o Luís Nabais (que já integrou em tempos os órgãos sociais da ADFA)  e, se a memória me não falha, o José Manuel Farinho Lopes, que integra  os atuais corpos sociais da ADFA como secretário do Conselho Fiscal Nacional


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


1. O pretexto foi um livro e uns galináceos, caseiros... O autor do livro e o criador dos galináceos é o nosso camarada Fernando de Jesus Sousa (ex-1º cabo at inf, Bedanda, 1970/71, DFA).(*)

 Além dos camaradas que aparecem nas fotos, lembro-me ainda do Hugo Moura Ferreira, que chegou atrasado, bem como o João António Carapau (médico reformado).

Estiveram presentes no almoço o José Eduardo Gaspar Arruda, presidente da direcção nacional da ADFA,  e o Manuel Lopes Dias, 2º vice presidente da direção nacional, além da jornalista Isabel Tavares e de um repórter fotográfico do jornal "i" que estavam a fazer um reportagem sobre a ADFA e os seus 40 anos de existência. (**)

Eu e o Beja Santos fomos gentilmente convidados pelo Fernando de Jesus Sousa (que teve
referências elogiosas ao nosso blogue, de que ele, de resto, é membro efetivo).

Uma das ideias discutidas, durante o almoço, foi a possibilidade de utilização das excelentes instalações da  sede da ADFA para próximos convivios da malta da Guiné, em especial dos que vivem na região da Grande Lisboa e se sentam à sombra do poilão da Tabanca Grande.

Tive oportunidade de conhecer dois camaradas que são habitués da sede da ADFA,  o Luís Nabais e o Carmo Vicente.





Vídeo (2' 55''), alojado em You Tube > Luís Graça

Fernando de Jesus Sousa, no uso da palavra. O pretexto foi o lançamento, recente, do seu livro  “Quatro Rios e um Destino” (Lisboa, Chiado Editora, 2014).

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 12 de dezembro de  2014 > Guiné 63/74 - P14014: Convívios (646): Magusto do Combatente no Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, dia 29 de Novembro de 2014 (Armando Costa / Abel Santos / Carlos Vinhal)

(**) Vd. no jornal i "on line" > 25 de dezembro de 2014 > Deficientes de guerra. A realidade que alguns preferiam esconder, por Isabel Tavares

Alguns excertos (com a devida vénia):

(,,,) São 13 mil só na Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA). E não estão lá todos. Estima-se que tenham ficado 30 mil feridos em combate. E mais 40 a 50 mil homens afectados por stresse de guerra. Tantas décadas depois continuam a chegar à instituição processos e pedidos de ajuda para qualificar combatentes da guerra colonial como deficientes das Forças Armadas. Gente à procura de uma pensão, de uma vida mais digna, se não para si, pelo menos para os seus. O Estado atrasa-se na qualificação e as indemnizações materiais teimam em não chegar. (...).

(...) Na ADFA quase todos são voluntários. Mas mais nunca é de mais e aqui é fácil entender porquê. Embora a maioria tenha aprendido a ser tão autónoma quanto possível, há coisas que um cego ou um tetraplégico não conseguem fazer, como cortar um bife, levantar uma colher, um garfo ou uma chávena de café "com cheirinho". São gente que aprendeu a depender da boa vontade dos outros. (...)


(...) No entanto, continuam a existir realidades que ultrapassam a ficção. As próteses dos deficientes militares, grande parte pernas e olhos, são compradas através da central de compras públicas do Estado. Ou seja, uma perna ou um olho, que qualquer técnico acredita que deveriam ser tratados como uma impressão digital, exigem o lançamento de um concurso público. Das três casas candidatas, ganha a que oferecer o preço mais baixo. Já houve resultados desastrosos. Um militar recebeu um olho tamanho standard, metido à força dentro da órbita. A operação valeu-lhe uma valente infecção e um internamento que só por sorte não teve consequências mais graves. Mas não foi caso único.


Outro militar contou que está à espera de uma perna há mais de um ano. As próteses, que podem custar, em média, 7 mil euros, têm de ser trocadas de dois em dois anos e muitas vezes têm de ser afinadas. Este engenheiro de 75 anos não quis ser identificado porque há amigos e familiares que até hoje não sabem que não tem um dos membros inferiores. Foi sempre seguido pela mesma casa, porque se trata de um processo "um bocadinho cirúrgico". No seu caso, um desgaste de cinco milímetros estava a provocar-lhe graves problemas de coluna e também na perna boa. Acontece além disso que a prótese que está a usar era a mais barata do concurso e não a feita na casa que sempre o seguiu e já conhece o seu corpo de cor. "Isto não é a mesma coisa que comprar arroz e batatas", diz. As consequências não se fizeram esperar: dores agudas e coxear como nunca.

Este problema ainda não está completamente sanado e é apenas um dos que o ministro da Defesa, José Pedro Aguiar-Branco, se comprometeu a resolver definitivamente. Outro tem a ver com a requalificação do estatuto de deficiente das Forças Armadas, nomeadamente naquilo que são os afectados pelo stresse pós-traumático. "Os afectados pelo stresse pós-traumático ficaram esquecidos, mas a verdade é que eclodiu na nossa cabeça algo muito estranho", diz José Arruda. Este algo muito estranho pode levar à depressão e pode levar a matar. Ou apenas a discussões que fazem voar próteses e impropérios até à chegada da GNR, como aconteceu há uns anos na sede da ADFA. Mas nessa altura eram todos bons rapazes. (...)

(...) E o calvário continua, num tempo que devia, mais que nunca, ser de afecto. Não os deixaram ser miúdos e "agora vamos mais a funerais". No tempo que sobra é preciso ir a juntas médicas, procurar testemunhas do tempo da guerra, fazer requisições para o Ministério da Defesa, ir a médicos, psicólogos, psiquiatras, advogados, Segurança Social. Como no campo de batalha, cada um encontra a sua estratégia de sobrevivência. José Arruda, cego, amputado, corre com a sua personal trainer e, diz quem já viu, ninguém o apanha. Corre porquê? "Corro para ter alento."