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sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18061: Notas de leitura (1021): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (12) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Setembro de 2017:

Queridos amigos,
A exposição dos agentes económicos defensores da manutenção da capital em Bolama em detrimento de Bissau, têm aspetos singulares, que ponho à vossa apreciação. É como se fosse uma lição da história da presença portuguesa, falando de Cacheu, de Bissau e de Bolama, esta apresentada como sucesso diplomático irrefragável, a escolha de Bolama para capital era um triunfo diplomático intocável. Jogam-se argumentos em nome da geografia, da fácil aproximação de Bolama ao continente e pelo caminho dão-se informações espantosas como a de que a fértil região de Cacine estava abandonada. Toda esta argumentação caiu por terra face a novas realidades ditadas pela gradual ascensão económica de Bissau. É nesta cidade que vai assentar um modelo de desenvolvimento ainda insipiente com Carvalho Viegas e que irá desabrochar com Sarmento Rodrigues. Ponto de tal modo incontornável que Amílcar Cabral não hesitou em pôr o seu nome para identificar a nova República.

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (12)

Beja Santos

Antes de chegar o Governador Leite de Magalhães que ficará na Guiné até 1931, vários acontecimentos ganham peso, com realce para a preponderância de Bissau sobre Bolama, há empreendimentos agrícolas que vão caindo por terra, nos Bijagós, mas também no continente. Já se referiu que aumentaram as estradas e as linhas telegráficas, mas as finanças locais mantêm-se anémicas e instáveis. No período da Ditadura Nacional assiste-se a uma redução de despesas: diminuição de efetivos militares, menos administração. É nesta altura que os agentes económicos de Bolama reagem, endereçam ao ministro das Colónias uma farta exposição em 15 de Agosto de 1927, vêm fazer uma defesa histórica de Bolama, é um documento sem precedentes, feito propositadamente para neutralizar a transferência da capital para Bissau:
“Não nos animam mesquinhos propósitos de bairrismo. Para nós esta questão não é uma questão de duas cidades disputando-se a primazia, a honra ou a vantagem de serem a cidade principal da colónia. Procuramos ver o problema através do alto interesse da colónia, pois ele não pode nem deve ser considerado apenas do ponto de vista limitado, embora respeitável e atendível, das conveniências desta ou daquela cidade, deste ou daquele centro de população.
Para isso temos de considerá-lo à face da história, da situação geográfica, económica, financeira e sanitária da província e até da política internacional. No estudo do problema da capital não se pode pôr de parte o ponto de vista histórico”.


De uma publicação de 1925

Enumeram-se elementos sobre a colonização da região, fala-se em missionários, em Cacheu, no período filipino, na fundação de Bissau, cita-se o trabalho de Travassos Valdez, a velha obra de Francisco de Azevedo Coelho, tudo para chegar à ocupação militar da ilha de Bolama em 1830, não sem o protesto veemente do Governador de Serra Leoa, segue-se o conflito com a Grã-Bretanha e a sentença arbitral do Presidente Ulysses Grant. E como se estivesse a dar uma lição de história ao Ministro das Colónias, diz-se apologeticamente:

“Não foi portanto uma necessidade de ocupação que nos levou a fixarmos a capital em Bolama. Quando se transferiu a sede do governo para Bolama já ninguém nos podia contestar a sua posse. Antes o que se vê é que a capital em Bolama surge com a criação da província autónoma, é a maioridade”.

Agora os argumentos são arremessados com outro peso:
“Sob o aspeto geográfico é erro dizer-se que Bolama fica distante de todos os postos da província, por isso não está indicada para ser a sede de governo. Confrontando a sua situação com a de Bissau o que podemos dizer com verdade é que tanto esta cidade como Bolama encontram-se relativamente longe de determinadas circunscrições mas que de ambas se pode ir hoje com toda a facilidade a qualquer ponto da Guiné porque possuímos uma rede de estradas magnífica cortando-a em todos os sentidos (…) A ilha de Bissau está separada do continente por um rio, o Impernal, na região dos Balantas. A ilha de Bolama encontra-se separada do continente pelo mar. Mas é uma distância pequeníssima: de Bolama a S. João, no continente, há uma distância menor que a do Terreiro do Paço a Cacilhas. Quer dizer que quem estiver em S. João, defronte da cidade de Bolama, está em toda a parte do continente. A situação de Bolama permite comunicações rápidas com os principais pontos da colónia, tendo até o Governador Caroço projetado com a construção de uma ponte no rio Corubal a mais importante rede de estradas na parte do continente que fica fronteira a Bolama. Rigorosamente estão a grande distância de Bolama as regiões de S. Domingos e Cacheu, apenas. Como, também, ficam a grande distância de Bissau as regiões de Cacine e Gabu.

Entre Bolama e Bissau, o mais importante centro comercial da colónia, pode também haver comunicações rápidas. A experiência foi feita também pelo Governador Caroço, mandando abrir a estrada que de S. João conduz a Enchudé, povoação fronteira a Bissau. Entre Bolama e S. João, desta povoação a Enchudé e daqui a Bissau havia então um serviço combinado de transportes marítimos e terrestres, gastando-se na viagem duas ou três horas. Estes serviços tornavam mais rápidas e frequentes as comunicações Bolama-Bissau, sabido como é que os vapores da capitania estão sujeitos a marés. Uma das regiões mais ricas da Guiné é Cacine, no Extremo Sul da Guiné, e Cacine, hoje infelizmente despovoada, está a seis horas de Bolama. E o rico e fértil arquipélago dos Bijagós está longe de Bissau e a dois passos de Bolama.

Sob o ponto de vista económico-financeiro, não se pode sustentar, com verdade, a vantagem da capital em Bissau. Nem a economia da colónia nem a situação do tesouro público, a essa economia tão estreitamente ligada, lucrariam com a transferência que se pede, antes a riqueza pública sofreria uma diminuição sensível e as despesas orçamentais em nada seriam comprimidas. Bissau é realmente o grande comercial da província. Ninguém o nega e os signatários são os primeiros que desejam o progresso dessa importante e cada vez mais prometedora cidade. Mas o movimento burocrático em nada contribuiria para o seu desenvolvimento.
Que pode ganhar a economia da província com as repartições públicas em Bissau? E não será ao menos justo, como se pretende alegar, afirmando que Bissau é que paga as despesas públicas? Não, pois a verdade é que não é Bolama ou Bissau que preenche o orçamento, mas sim toda a província ou, para sermos inteiramente justos, o indígena, a grande, a suprema riqueza da colónia. E os agentes económicos que apelam ao ministro das Colónias falam no orçamento, desmontam as despesas da administração no intuito de concluir que “da transferência da capital resultava inevitavelmente a desvalorização da riqueza pública, desvalorização que se refletia também no orçamento da província. É má hoje, é difícil e quase acabrunhante a situação financeira da Guiné. Pois bem, o estado que tem edifícios seus em Bolama no valor de sete mil contos – e alguns que honram já a cidade colonial – abandonava simplesmente esses prédios, esses valores, essa riqueza, retirava-se amuado para Bissau e a fantasia desse amuo custava-lhe dez mil contos. Quem poderá dizer que isso é sensato?

Há toda a conveniência em estabelecer as capitais das províncias ultramarinas nos pontos mais salubres, mais tranquilos até. Os funcionários, incluindo o governador, devem viver nos pontos onde a salubridade seja maior, rodeados do conforto material e moral que só a família proporciona. Colocar a capital num mau clima – e Bissau é incontestavelmente um mau clima – é fazer inversamente a seleção do funcionalismo. Para um mau clima, só podem ir os maus funcionários, os inferiores, os falhados, porque os funcionários competentes têm outras colónias que lhes abrem as portas e onde se encontram sob o ponto de vista sanitário e sob o ponto de vista social melhor instalados.
Bolama, com o seu ar de velho burgo, docemente ensombrada pelas árvores, que dir-se-ia estender-nos, ao chegarmos, os seus braços verdes e aconchegantes, com a sua fisionomia de velha cidade da província portuguesa, é inclusivamente pela atmosfera de quietude, de paz e de tranquilidade que nela se respira, a cidade mais indicada para a capital política da colónia. As colónias para o tratado de Versailles existem com um alto objetivo de civilização. Não para os países incapazes as conversarem abandonadas, desprezadas, desvalorizadas, em nome de um frágil direito histórico. Não se pode abandoná-las, nem abandonar ou desprezar uma colónia ou qualquer porção do seu território. Portugal sobretudo não deve perder de vista este princípio, conhecidas as cobiças de todos os lados sofregamente espreitam o nosso império colonial.

É possível até que seja escusada e supérflua a nossa defesa de Bolama, porque o primeiro e o mais ilustre defensor da capital nesta cidade é o senhor Major Leite de Magalhães, distinto Governador da Colónia, e não é com o seu assentimento decerto que a sede de governo se fixa em qualquer outro ponto. Basta atentar em todos os seus atos desde que chegou a esta colónia, para se concluir que sua excelência só deseja o progresso de Bolama. E não é necessário referirmo-nos a muitos desses atos como a construção de um casino, que Sua Excelência patrocina e o novo palácio do governo que quer edificado. Logo tomou posse do governo, o senhor Major Leite de Magalhães propôs ao Ministério das Colónias a extinção da Comarca Judicial em Bissau e a criação de uma Comarca única em Bolama, o que só significa, por parte de Sua Excelência o desejo de alevantar e engrandecer esta cidade. E embora neste ponto nos permitamos discordar de Sua Excelência, temos a concluir que a significação da sua atitude é bem eloquente.
É lícito abandonar esta velha terra portuguesa?”.


Da Revista Panorama n.º 21 de 1944

Mas a decisão de mudança só ocorreria mais tarde, a despeito do que na exposição enviada pela direção da Associação Comercial da Guiné com a Comissão Urbana de Bolama, a transferência será decidida no final dos anos de 1930 e concretizável em 1941, já começara acentuadamente a decadência de Bolama.

Sempre atento a tudo quanto se passava à sua volta, o gerente da filial de Bolama enviou cópia deste documento para Lisboa, a Administração do BNU queria-se sempre bem informada, política, social e economicamente, de tudo quanto se passava em território guineense.

(Continua)
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Notas do editor

Poste anterior de 1 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18032: Notas de leitura (1019): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (11) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 4 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18042: Notas de leitura (1020): “Cartas de Amílcar Cabral a Maria Helena”, organização de Iva Cabral, Márcia Souto e Filinto Elísio, Editora Rosa de Porcelana, 2016 (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17786: Notas de leitura (997): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (1) (Mário Beja Santos)

Foto: Banco Nacional Ultramarino, com a devida vénia

Vamos começar a publicar às sextas-feiras, integradas na série Notas de leitura, recensões da autoria do nosso camarada Mário Beja Santos, de parte dos relatórios que o Banco Nacional Ultramarino (BNU), da então Guiné Portuguesa, enviava periodicamente para Lisboa, e que o Mário descobriu por acaso na Caixa Geral de Depósitos, onde, além dos relatórios de contas e quejandos, se fazia menção a ocorrências de ordem social e política naquele território ultramarino.

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1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Setembro de 2017:

Queridos amigos,
Usando da elementar prudência, direi sem hesitar que a historiografia guineense não pode doravante descurar esta documentação que tem o seu quê de extravagante, atendendo ao quadro de funcionamento numa instituição bancária.
Estes gerentes, inadvertidamente, ficam na história da Guiné como cronistas de acontecimentos de subversões, tentativas de golpes de Estado, darão informações preciosas sobre a vida da colónia em tempo de guerra - e muito mais haverá a dizer. Por vezes, darão notícias que hoje chamaremos fofocas: o governador que levou a amante para fazer um aborto no hospital ou a cuidadosa informação da passagem de D. Duarte Nuno de Bragança que faz escala em Bolama, a caminho do Brasil, onde vai casar com uma Orleãs, dá-se pormenor sobre mobiliário, faqueiro e baixela e até dos passeios de D. Duarte Nuno pela ilha de Bolama.
A análise económica é incontornável.
Como iremos ver em próximos textos.

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (1)

Beja Santos

Tudo começou da seguinte maneira. Num leilão online, andei a licitar um livro intitulado “Guiné, Alvorada do Império”. Alguém apostou forte, ganhou o livro. Por pura curiosidade, fui consultar a obra. Tratava-se de um panegírico de Raimundo Serrão, o Governador da Guiné que sucedeu ao Comandante Sarmento Rodrigues. Se o texto era inclassificável pela autoglorificação, o mesmo não se podia dizer do acervo fotográfico. Começou a pesquisa, e na biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa recomendaram-me que batesse à porta do arquivo histórico do BNU, de que nunca ouvira falar, em nenhum livro referente à Guiné Portuguesa constava documentação provinda de tal arquivo.

Após uma deambulação pela Caixa Geral de Depósitos (proprietária do acervo do BNU) descobri a morada, uma rua em Sapadores, mesmo em frente a um buraco enorme onde foi a fábrica de chocolates A Favorita. Bem acolhido, foi-me facultada a obra para consulta e tive acesso à relação de obras da Guiné, encontrei algumas preciosidades ignoradas, caso do importante livro de Francisco Tavares Valdez. Estava bem repimpado a folhear as fotografias do panegírico de Raimundo Serrão quando um funcionário se aproximou e perguntou-me se eu estava interessado em consultar os relatórios da filial de Bolama a partir de 1916, e depois da filial de Bissau, de 1941 a 1975. Olhando-o com relativa descrença, que interesse iria eu encontrar em letras protestadas, cambiais, colocação de funcionários em Bolama ou Bissau e coisas assim, para o meu trabalho? O técnico informou-me que estes relatórios de exercício incluíam, em forma de anexo, análises de situação com pormenores que nada tinham a ver com os negócios bancários, os créditos e os débitos. Não resiste a pedir alguns desses documentos para consulta, cedo confirmei que havia para ali ouro e pedras preciosas, aqueles relatórios tinham uma redação excêntrica, a primeira parte era absolutamente formal e o anexo o seu contrário. O gerente da filial, logo num dos primeiros relatórios dava conta a Lisboa que chegara um governador manifestamente inapto… Agarrei a investigação, procurei apurar alguns factos, e já está quase tudo lido entre 1916 e 1941. É esse período que vou procurar analisar e dar-vos conta, estou seguro que ainda me aguarda mais uma tonelada de papel para folhear. Para além destes relatórios de exercício há documentação avulsa, copiadores, plantas de edifícios, sobrescritos com fotografias, não deixo nada de fora.

A delegação em Bolama do BNU aparece referenciada no relatório do banco em 1902, entrou em funções em 1903, é o interlocutor para Lisboa até 1941, com a mudança da capital para Bissau a filial estará doravante na nova capital. Penso que terá utilidade apresentar esta documentação inédita enquadrando-a historicamente. Aqui e acolá irei à procura de contexto em autores como Armando Tavares da Silva que fez um levantamento da presença portuguesa na Guiné até 1926.

BNU de Bolama

O primeiro documento que me chamou à atenção tem a data de 1 de Janeiro de 1916, é feito no Consulado da Bélgica em Bissau, papel selado da época em que as casas comerciais internacionais mais importantes declaram não fazer negócios ou intermediação com as potências inimigas e prontificam-se a comunicar às autoridades competentes eventuais infrações de que venham a tomar conhecimento. Importa explicar ao leitor qual é a grande singularidade que me parece que este levantamento documental suscita: encontram-se com frequência mensagens de Bolama ou de Bissau para Lisboa a comunicar à sede do banco chegadas e partidas de notabilidades ou factos merecedores de atenção – o governador acaba de chegar ou partir, foi nomeado novo Chefe de Estado Maior do Exército, grassa uma epidemia, faltam medicamentos, este ano a cultura da mancarra será má…; os gerentes deviam receber ordens para pôr o banco em Lisboa ao corrente de insurreições ou levantamentos, greves, tinham luz verde para expender opiniões sobre a evolução da colónia, com uma franqueza e desassombro que não deixa de surpreender, dada a grande abertura e por vezes a dureza de juízos emitidos.


Os primeiros documentos que encontrei com presumível utilidade para os historiadores aparece em Junho de 1915, é classificado como reservado e fala da guerra em Bissau. Que informa? Em 3 de Junho os Papéis e os Grumetes de Bissau tinham atacado a vila com intenção de massacrar os habitantes, saquear os estabelecimentos e depois oferecer a ilha ao governo inglês ou francês. “Felizmente que quando atacaram a vila já lá estava o Capitão João Teixeira Pinto com uma pequena força e tropa regular e cerca de 1500 auxiliares, foi principalmente devido à valentia deste oficial que hoje não há a lamentar um enormíssimo desastre. O inimigo, munido com armas boas e muito modernas, sustentou um combate violento durante cerca de duas horas junto do mercado de Bissau, acabando por retirar perseguido pelos nossos. As nossas forças avançaram para o interior da ilha onde têm tido rijas pelejas, mas hoje não há dúvida que desaparecerá de vez a lenda de que os Papéis são invencíveis. O Chefe de Estado Maior foi ferido, mas sem gravidade porque em seis dias já queria voltar novamente para a guerra, e deve ter seguido hoje, sendo convicção de toda a gente que muito em breve ele completará a sua grande obra de submeter os Papéis; depois do que, se pode, enfim, considerar a Guiné pacificada, o que é de uma grande importância para o futuro desta rica colónia”.


Haverá uma resposta de Lisboa em 13 de Julho: “Excelentes são as notícias que Vossa Senhoria nos dá sobre a sujeição dos Papéis, da qual resultará a pacificação da Guiné, factos que, certamente, vão ter decisiva influência no progresso desta colónia”.

Questionará o leitor o que se passou na delegação de Bolama entre 1903 e 1916. Obviamente que pus a questão aos técnicos do arquivo. Não há nenhum papel anterior, ter-se-ão extraviado todos os documentos anteriores a 1916. Encontrei fotografias dos primeiros anos, mas tenho que me cingir às pastas que me põem à frente, não se pode ficcionar com a história.

Vejamos a seguir alguns elementos da parte anexa do relatório de 1917, ano em que houve guerra nos Bijagós, mas há um interessante documento reservado, datado de 9 de Junho de 1916 sobre o Governador de Província José Andrade Sequeira. É o que iremos ver a seguir.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17778: Notas de leitura (996): “a sorte de ter medo”, por Gustavo Pimenta, Palimage, 2017 (3) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14162: Historiografia da presença portuguesa em África (48): Praça de S. José de Bissau, segundo Francisco Travassos Valdez (1864) (A. Marques Lopes)

1.  Mensagem do nosso camarada A. Marques Lopes, coronel inf, DFA, na situação de reforma, ex-alferes miliciano da CART 1690 (Geba, 1967) e da CCAÇ 3 (Barro, 1968):
Data: 18 de janeiro de 2015 às 13:25

Assunto: Praça de S. José de Bissau


Em "Africa Occidental – Noticias e Considerações – Tomo I",  Lisboa, Imprensa Nacional, 1864, pgs. 313-314, diz Francisco Travassos Valdez:

«Passemos agora a descrever a povoação. A praça de S. José de Bissau, com os seus poilões (erio exdentron anfractorum), árvores gigantescas que se erguem com majestade nos quatro baluartes, e que os abrigam com as sombras, sendo de taes dimensões que uma dellas tem 18 metros de perímetro na maior grossura, está situada na foz do rio Geba, e foi construída no ano de 1766, reinando el-rei D. José I.

De seu princípio teve alojamento para o governador, bons quartéis par 200 homens e officiaes correspondentes, igreja da invocação de S. José, alfandega, grandes armazéns, e um poço com agua potável. Mas depois de tudo isto feito com grossos capitaes, pela necessidade que houve de conduzir de Lisboa muitos operários e grane parte dos materiaes, bem como s vazos de guerra e tropa para sustentar a guerra contra o gentio papel e balanta, e para proteger a edificação da praça, que referem escriptores antigos custou a vida a mais de 2:000 portugueses, chegou este estabelecimento a uma decadencia tal que ainda há bem pouco só lhe restava um casarão construído de pedra e barro, aonde o governador e officiaes estavam pessimamente alojados e nas peiores condições hygienicas, um quartel para soldados, quasi em ruinas e em grande parte descoberto, uma mesquinha capella, alguma miseráveis barracas cobertas de palha, destinadas às mulheres dos 
soldados, e um poço cheio de entulho!
Fortaleza da Amura, foto de A, Marques Lopes (2014)

Ultimamente porém, alem de se estabelecer uma nova tarifa para os soldos dos officiaes da provincia de Cabo Verde, destacados na Guiné portuguesa, dando-se-lhe de augmento o equivalente a metade dos seus vencimentos, têem tido certo incremento as obras militares.

O governador geral Fortunato José Barreiros ordenou que se procedesse à reparação do forte do Pigiguiti, da tabanca e da palissada, e auctorisou a construção de uma parede (guarda fogo) no paiol da pólvora.


Sob a direcção do activo e inteligente governador da Guiné, Antonio Candido Zagallo, reconstruiu-se o quartel militar, comprehendendo alojamentos para os soldados e officiaes inferiores, arrecadação e cozinha, e começaram-se também as obras para a reconstrucção da casa de residência dos governadores, cujo madeiramento foi oferecido ratuitamente pelo falecido comendador Honorio Pereira Barreto.»


E acrescenta esta imagem, que me parece representar as construções feitas no interior da praça:



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terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14145: Memória dos lugares (281): Bissau e a Fortaleza de São José da Amura (Séc. XVIII), remodelada em 1968/69 pelo arquiteto Luís Benavente para passar a receber o Comando-Chefe, a Companhia de Polícia Militar e o Comando-Chefe do Agrupamento de Bissau (Vera Mariz, doutoranda em História da Arte, IHA/FL/UL)



Foto nº 3

Guiné > Bissau >Fortaleza da Amura > Entrada do lado sul (frente ao porto e ao rio Geba)



Foto nº 4

Guiné > Bissau > Fortaleza da Amura > Aspeto da muralha exterior


Fotos nºs 3 e 4: Manuel Caldeira Coelho (ex-fur mil trms, CCAÇ 1589/BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68)


Fotos: ©  Manuel Coelho (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. (Edição: L.G.)



Foto nº 5

Guiné > Bissau > Fortaleza da Amura > c. 1962/64  > Entrada principal, virada para  cidade, ou seja, lado norte (?) >  Foto, sem legenda,  de Durval Faria (ex-fur mil inf,  CCAÇ 274 / BCAÇ 356, Fulacunda, 1962/64).


Fotos: © Durval Faria (2008). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem de Vera Mariz [, nossa leitora, doutoranda em história da arte,  Instituto de História da Arte, Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa] (*), com data de ontem:

Caríssimo Luís Graça, agradeço a sua atenção.

Aproveito para lhe dizer que:

O primeiro contacto do arquitecto Luís Benavente [, 1902-1993] com a Guiné teve lugar no ano de 1962.

No ano 1968, entre os dias 25 de Abril e 2 de Maio, Luís Benavente terá desempenhado nova missão em Bissau, à qual se seguiria uma terceira viagem já em 1969.

Isto porque no início do ano de 1969, o Governo da Guiné terá manifestado o seu interesse em “cuidar da Fortaleza de S. José da Amura”,  motivo pelo qual Luís Benavente terá sido requisitado para elaborar os estudos e o plano de actuação necessário.

Data deste período (e desta campanha de obras) a instalação na fortaleza do Comando Chefe [, QG/CCFAG - Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné],  da Companhia de Polícia Militar, de um destacamento adido à Polícia Militar e do Comando Chefe do Agrupamento de Bissau.
Quando terminar a tese [de doutoramento] tenho todo o prazer em enviar-lhe o capítulo referente à Guiné.

Cordialmente,
Vera



Foto nº 1 

Guiné > Bissau > Fortaleza da Amura > Construção iniciada em finais do séc. XVII, arrasada em 1707 e reconstruída em 1753, restaurada em meados do séc. XIX (1858-1860), bem como um século depois, a partir da década de 1960, sob orientação do arquiteto Luís Benavente.

Foi quartel-General durante a guerra colonial. É hoje panteão nacional da República da Guiné-Bissau.

Foto: © João José Alves Martins (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. (Edição: L.G.)

Foto nº 2

Guiné-Bissau > Bissau > Fortaleza da Amura > 7 de Março de 2008 >  Amura: um lugar repleto de história e de histórias... Entrada principal, lado sul, vista do interior da fortaleza.


Foto: © Luis Graça (2008) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. (Edição: L.G.)


2. Comentário de Cherno Baldé (*)

Caros amigos,

Para ajudar a esclarecer a dúvida da Sra.Vera, tenho o prazer de informar que a foto nº 1  apresenta a imagem da porta virada para o lado do rio (Ponte Cais de Bissau) e não a principal que se situa do lado oposto e virada para a cidade.

Quanto à foto nº 2, trata-se dos mesmos edifícios da primeira foto, situados à entrada da mesma porta, tirada no interior da fortaleza. (**)

Com um abraço amigo,
Cherno AB.



Foto nº 6

Guiné > Bissau > Fortaleza da Amura > Muralha exterior, do lado meridional  Foto de A. Marques Lopes, coronel inf, DFA,  na situação de reforma, ex-alferes miliciano da CART 1690 (Geba, 1967) e da CCAÇ 3 (Barro, 1968) :

Foto: © A. Marques Lopes (2005). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]


Guiné-Bissau > Bissau > Planta da cidade > c. 1975 > Localização da fortaleza da Amura, assinalado com um círculo a branco.

Foto: © A. Marques Lopes (2005). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]




Guiné > Bissau > Fortaleza de São José da Amura > c. meados de Séc. XIX >  Vista da Amura.  Gravura. Fonte: VALDEZ, Francisco Travassos - "Africa Ocidental: notícias e considerações dedicadas a Sua Magestade Fidelíssima El-Rei O Senhor Dom Luiz I". Lisboa: Imprensa Nacional, 1864, 406 p., gravuras. Licença: Domínio Público (Autor falecido há mais de 70 anos).

Cortesia de Fortalezas.org
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de de 12 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14143: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (21): A fortaleza da Amura (Vera Mariz, doutoranda em história da arte)

(**) Último poste da série > 4 de janeiro de  2015 > Guiné 63/74 - P14115: Memória dos lugares (279): Bafatá, princesa do Geba, parada no tempo: o cinema local e o seu mítico guardião, Canjajá Mané, o casal João e Célia Dinis, Dona Vitória, as irmãs Danif (libanesas), o glorioso Sporting Clube de Bafatá (fundado em 1937 pelos prósperos comerciantes locais, e que chegou a ter 600 sócios), o ourives, o rio, os pescadores, e os demais fantasmas do passado que hoje povoam a terra de Amílcar Cabral... A propósito de "Bafatá Filme Clube" (2012) que acabou de passar na RTP2, no passado dia 1 (Valdemar Queiroz)