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terça-feira, 26 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23201: 18º aniversário do nosso blogue (6): O enviado especial do "Diário de Lisboa", Avelino Rodrigues, em julho de 1972, no CTIG: uma "crónica imperfeita" em quatro artigos - Parte II: 29 de agosto de 1972: no mato com Spínola, "a simpatia como arma de guerra"




Citação: (1972), "Diário de Lisboa", nº 17847, Ano 52, Terça, 29 de Agosto de 1972, Fundação Mário Soares / DRR - Documentos Ruella Ramos, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_5495 (2022-4-25)

Cortesia de Casa Comum | Fundação Mário Soares | Pasta: 06815.165.26101 | Título: Diário de Lisboa | Número: 17847 | Ano: 52 | Data: Terça, 29 de Agosto de 1972 | Directores: Director: António Ruella Ramos | Observações: Inclui supl. "DL Economia" |b Fundo: DRR - Documentos Ruella Ramos.


DL / REPORTAGEM, pp. 12/13

2. GUINÉ: CRÓNICA IMPERFEITA

A SIMPATIA COMO ARMA DE GUERRA


















(Com a devida vénia ao autor, Avelino Rodrigues,
aos herdeirtos do António Ruella Ramos, e à Fundação Mário Soares)

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Nota do editor:

Último poste da série > 25 de abril de  2022 > Guiné 61/74 - P23200: 18º aniversário do nosso blogue (5): Roteiro da nossa saudosa Bolama (Antonio Júlio Emerenciano Estácio, luso-guineense, nascido em 1947, e escritor)

domingo, 31 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21831: Tabanca Grande (509): Manuel Alves da Palma, ex-1.º Cabo Atirador da CCAÇ 4142/72, Gampará, 1972/74. Senta-se à sombra do nosso poilão no lugar n.º 827


1. Em mensagem do dia 29 de Janeiro de 2021, o camarada Sousa de Castro, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873, tertuliano n.º 2 do nosso Blogue, envia-nos a inscrição na nossa tertúlia de mais um tertuliano que se vem sentar à sombra do nosso "Poilão Sagrado":

Caros amigos,

Apresento a todos os “atabancados” à sombra da Tabanca Grande um camarada que tal como nós calcorreou as matas da Guiné.
Curiosamente para além de ser um camarada d’armas, é também um camarada de trabalho do tempo do saudoso Estaleiros Navais de Viana do Castelo, onde foi soldador, trabalhámos naquela empresa sem que nunca tivéssemos tido oportunidade de falarmos sobre as nossas guerras devido a trabalharmos em áreas e secções diferentes.

Foi através das redes sociais que descobrimos termos algo em comum, ele esteve em Gampará e eu no Xime, embora a minha CART 3494 um pouco mais antiga, as nossas companhias ajudavam-se mutuamente quando era necessário apoio de fogo.

Chama-se:
Manuel Alves da Palma, nasceu a 07JAN1951
Ex-1.º Cabo Atirador da companhia independente CCAÇ 4142/72 (Herdeiros de Gampará);
Reside em Areosa - Viana do Castelo.

A companhia começou a ser formada em Junho de 1972 no RI 1 na Amadora, depois da instrução de especialidade rumou à Guiné a 16SET1972 onde no Cumeré fez o IAO (Instrução de Aperfeiçoamento Operacional).

Finda a instrução é colocada em Gampará a 18OUT1972 onde rendeu a CART 3417 (Os Magalas de Gampará).

Finda a comissão regressaram em Agosto de 1974.

É elemento activo do Grupo Etnográfico de Areosa para além de se dedicar à pesca.

Com amizade,
A. Sousa de Castro
Janeiro, 2021


Fotos de Manuel Palma nas suas actividades lúdicas e culturais

********************

2. Nota de Sousa de Castro:

Fotos de Gampará do tempo do Manuel Palma, onde aparece retratada uma canoa que faz lembrar a do Poste 21822:


********************

3. Comentário do editor CV:

Caro Sousa de Castro, muito obrigado por apresentares o teu amigo e nosso camarada Manuel Palma à tertúlia.

Caro Manuel Palma, sê bem-vindo à nossa Tabanca Grande, apadrinhado pelo teu amigo Sousa de Castro, com quem laboraste nos Estaleiros de Viana do Castelo. Como ele, também tu palmilhaste as terras cor de sangue da Guiné.

Futuramente, caso tenhas endereço de correio electrónico, poderás comunicar directamente connosco, caso contrário, contaremos com a colaboração do Sousa de Castro no papel de intermediário.
Deverás ter em conta que as fotos enviadas futuramente devem ser acompanhadas de legendas, referindo a data, o local e os retratados. Também esperamos que nos envies a narrativa de algumas das tuas memórias, as que consideres mais significativas. Podes sempre contar connosco para qualquer esclarecimento.

Ficas com o lugar virtual 827 da nossa tertúlia, onde poderás instalar-te. Navega e explora o nosso Blogue onde encontrarás inúmeras memórias fotográficas e escritas.

Recebe um abracelo da tertúlia e dos editores que ficam ao teu dispor.
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 30 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21827: Tabanca Grande (508): Joaquim Costa, ex-fur mil at Arm Pes Inf (CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74), natural de Vila Nova de Famalicão; senta-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 826

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21822: Fotos à procura de... uma legenda (141): Afinal, nem Jabadá nem Gampará... A cena do banho e da "canoa turra" passou-se na "Tabanca Velha", a caminho do cais de Lala, Nova Sintra (Contributos de Carlos Barros, Virgílio Valente, Amílcar Mendes, Eurico Dias)


Guiné > Região de Quínara > Mapa de São João (1955) > Escala de 1/50 mil > Posição relativa de Bolama, São João, Nova Sintra, Serra Leoa, Lala, Rio de Lala (afluemte do Rio Grande de Buba)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2020)


1. Andamos há três dias à volta de uma velha imagem, retocada, com quase meio século de idade, mostrando uma dúzia de militares (800 kg!) em cima de uma canoa, no "tarrafe", num rio (que originalmente se supunha ser o Geba). 

A foto foi enviada pelo Carlos Barros, mas o autor era o José Elias, ex-fur mil mec auto, da 2ª C / CART 6522/72 (Nova Sintra, 1972/74). O Crrlos Barros, da mesma companhia, estava na altura emTite...

Lançámos então o desafio aos nossos leitores para "completarem" a lacónica legenda do Carlos Barros... O BART 6522/72 estava então no setor de Tite com subunidades unidades colocadas em Tite, Fulacunda, Jabadá e Nova Sintra...

A 2ª companhia também esteve destacada em Gampará. Daí a hipótese de a foto ter sido tirada em Jabadá ou Gampará (, embora esta ficasse na foz do Rio Corubal) (*).

Sempre solícitos e generosos,os nossos dedciados leitores vieram, de pronto, responder. Virgílio Valente, da Tabanca de Macau, pôs a hipótese de ser o cais de Gampará(**) . E deu-nos também o contacto do seu camarada de companhia (, a CCAÇ 4142/72, Gampará, 1972/74), o ex-alf mil Eurico  Dias.

Escrevi ao nosso camarada Eurico Dias (que ainda não pertence à Tabanca Grande). Entretanto, também o Amílcar Mendes (, da 38ª CCmds, que estivera em Gampará, no 3º trimestre de 1972, membro da nossa Tabanca Grande, com 70 referências no blogue) respondeu, no Facebook, à questão da localização, dizendo logo que não podia ser o cais de Gampará (a 3 km do quartel).

E por fim temos um esclarecimento do Carlos Barros que parece pôr um ponto final nas nossas diligências. Só há um ponto a rectificar: não é no rio Geba,é o rio Lala, afluente do rio Grande de Buba... Reproduzimos a seguir as mensagens trocadas (Eurico Dias,Amílcar Mendes, Carlos Barros)


(i) Mail enviado pelo editor LG ao Eurico Dias:

Camarada Eurico Dias:

Bom dia, somos um blogue de ex-combatentes da Guiné, estamos na Web há 17 anos...Formamos uma comunidade de 825 amigos e camaradas da Guiné, formalmente "registados", incluindo o Virgílio Valente que me deu o contacto do ex-alf mil Eurico Dias (que, de resto, gostaríamos de ver, aqui, ao nosso lado, sentado à sombra do nosso poilão),,,

Será possível  o camarada confirmar o local onde foi tirada a foto que anexo ? Para o Virgílio Valente é o cais de Gampará...

 Para além do Virgílio Valente, a vossa companhia, a CCAÇ 4142/72, "Os Herdeiros de Gampará", está aqui representada, no nosso blogue, pelo Joviano Teixeira, natural de Tavira, ex-soldado cozinheiro.

 Um fraterno alfabravo (ABraço), saúde e longa vida. Luís Graça


(ii) Resposta do Fernando Eurico R Dias :

Date: sexta, 29/01/2021 à(s) 02:58

Subject: Foto Canoa - Jabadá ou Gampará

Boa noite:

Conheço há anos o blogue que muito admiro e vou frequentando como leitor, mas 'mea culpa', ainda não vim sentar-me à sombra do poilão. Fá-lo-ei brevemente.

Concordo com o que afirma Amílcar Mendez.  Nem a paisagem configura um cais nem a vivência no local era de veraneio. 

Durante a nossa comissão (CCAÇ 4142/72) não houve notícia de qualquer actividade náutica do PAIGC que tivesse levado a apresamento de embarcação, nem aqueles que nos passaram a "Herança" -  38.ª CCmds  e a CART 3417 - nos relataram qualquer história relacionada. 

Por outro lado, não há na foto qualquer traço fisionómico que a memória ou a comparação com fotos da época me ligue a elementos conhecidos. Há a hipótese de se tratar de quem nos substituiu no local já em Agosto de 1974, mas o porto e a barca não dão com a perdigota. 

Que continue a tentativa da descoberta.  O meu agradecimento aos editores do blogue pelo trabalho feito e um grande abraço solidário a todos os camaradas de armas que pisaram as bolanhas de Gampará, em especial ao meu amigo Virgílio Valente e ao Amílcar Mendez.

Até breve,

Eurico Dias, ex-Alf.Mil da C:Caç. 4142/72.   

(iii) Mensagem do Amílcar Mendes (38ª CCmds, 1972/74), postada no Facebook da Tabanca Grande, 28/1/2021

 Não me parece ser um cais . Muito menos o de Gampará .

O cais de Gampará ficava a cerca de 3 Km do destacamento . A picada era extremamente perigosas . Era sempre os picadores que encabeçavam a escolta e muito perigoso para se estar nestes propósitos de descontração .

Poderá ter sido já depois do 25 de Abril .

A minha companhia (38ª CCmds) esteve lá três meses em intervenção e demos um operacional Comando aos Herdeiros de Gampará  [, CCAÇ 4142/72].

Forte abraço para todos e ao Alferes "Chinês" [Virgílio Valente] um especial.

(iv) Comentário do Carlos Barros (*)

Boa tarde; pelo que tenho conhecimento, a canoa estava escondida no meio da "tarrafe" e foi encontrada nesse "cais" improvisado, no rio Geba. A diversão dos nossos amigos com a canoa processou-se porque o local era seguro e, provavelmente, poderia ser uma canoa do PAIGC ou da pouca população que existia em Nova Sintra, o que duvido. Essa canoa ficou nesse local e não foi trazida para Nova Sintra e o seu destino final desconheço.

Um abraço
Carlos Manuel de Lima Barros
ex-furriel Barros, BART 6520/ 2ª Cart
 
PS - Uma rectificação: o local preciso onde a canoa foi encontrada, escondida no meio do "tarrafe", foi concretamente num local chamado "Tabanca Velha", uma zona abandonada pelo PAIGC que tinha sido bombardeada pela aviação e arilharia, em 1963/64, tendo o PAIGC abandonado o local que servia de base para ataques a Bissau. 

Era uma zona totalmente queimada - talvez por bombas de napalm - , e as tabancas estavam todas carbonizadas , tendo a população afeta ao PAIGC abandonando o local. 

De facto, a "Tabanca Velha" ficava a caminho do cais de Lala, Nova Sintra, perto do local onde depositávamos o lixo armazenado

O Furriel Mecânico Auto José Pareira Silva Elias, a pedido de muitos soldados mecânicos da nossa companhia e da CCS, transportou nas viaturas esses amigos que queriam apenas momentos de diversão,no rio ou bolanha. 

O local era seguro mas, na Guiné,  nem tudo era seguro e, por sorte, nunca foram atacados pelos guerrilheiros do PAIGC. A canoa ficou no mesmo local e provavelmente recuperada pela parca população de Nova Sintra.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21817: Fotos à procura de... uma legenda (140): Trata-se de uma canoa em tempos apreendida ao PAIGC... Os militares tomam banho no cais de Gampará (Virgílio Valente, régulo da Tabanca de Macau, ex-alf mil, CCAÇ 4142/72, Gampará, 1972/74)



Guiné >  Região de Quinara >  Gampará > Mapa de Fulacunda (1956) >  Escala 1/50 mil >  Posição relativa de Porto Gole, Gampará, Ganjauará e  Ponta do Inglês na Foz do Rio Corubal. (O PAIGC em 1972 conttrolava algumas posições no rio Corubal, como era o caso de Ponta do Inglês / Poindom (subsector do Xime).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2021)



Guiné > Região de Quínara > Jabadá ou Gampará  [?]> 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74) > Canoa apreendida ao PAIGC, em dia de banho, na margem esquerda do Geba [?].

 Foto (e legenda): © José Elias / Carlos Barros (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem, enviada hoje às 3h49, pelo nosso camarada da Diáspora Lusófona, Virgílio Valente [Wai Tchi Lone, em chinês], que vive e trabalha há mais de 2 décadas, em Macau, região autónoma da China, e que foi alf mil, CCAÇ 4142/72, "Os Herdeiros de Gampará" (Gampará, 1972/74);  é o nosso grã-tabanqueiro nº 709, desde 18 de dezembro de 2015, e régulo da Tabanca de Macau :


Caro Luís e caro Carlos Barros,

Estive em Gampará entre 1972 e 1974. 

A Foto da canoa (*) sugere-me tratar-se da canoa abandonada no cais que servia Gamapará após um grupo do PAIGC, vindo do rio Corubal,  ter colocado uma mina na estrada que ligava Gamapará ao Cais e que foi detectada e levantada. 

Era habitual o pessoal do aquartelamento em Gampará ir ao banho ao Cais. Na verdade, também houve períodos de presença de camaradas de Fulacunda, batalhão de Tite algum tempo em Gampará.

Aparecem caras na foto que me parecem conhecidas.

Mas quem pode dar dicas mais consistentes é o ex-alferes miliciano Eurico Dias, cujo endereço de email fica à disposição dos editores,

Abraços, camaradas

Virgílio Valente, ex-alferes miliciano da CCAÇ 4142, 1972/1974 em Gampará

2. Ficha de unidade > CCAÇ 4142/72

Companhia de Caçadores nº 4142/72
Identificação: CCaç 4142/72
Unidade Mob: RI1 - Amadora
Crndt: Cap Mil Cav Fernando da Costa Duarte
Divisa: -
Partida: Embarque em 16Set72 | Regresso: Embarque em 25Ag074

Síntese da Actividade Operacional

Após realização da IAO, de 20Set72 a 170ut72 no ClM do Cumeré, seguiu em 180ut72 para Ganjauará, a fim de efectuar o treino operacional e a
sobreposição com a CArt 3417.

Em 15Nov72, assumiu a responsabilidade do subsector de Ganjauará, ficando integrada no dispositivo e manobra do COP 7 e depois do BArt 6562/72, tendo orientado a sua actividade para a redução do esforço inimigo na região e coordenação dos trabalhos de reordenamento das populações.

Em 1Ag074, foi rendida no subsector de Ganjauará pela 2ª Comp/BCaç 4612/72, recolhendo a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

Observações: Tem História da Unidade (Caixa n." 114 - 2ª Div/4ª." Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas de unidade: Tomo II - Guiné - (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002), pág.413

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21813: Fotos à procura de... uma legenda (139): "Canoa turra"?... Apreendida ao PAIGC?... Em que sítio, Jabadá ou Gampará?... (Carlos Barros, ex-fur mil, 2ª C/BART 6520/72, Nova Sintra, 1972/74)

Guiné > Região de Quínara > Jabadá [?] > 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74) > Canoa apreendida ao PAIGC, em dia de banho, na margem esquerda do Geba.

Foto (e legenda): © José Elias / Carlos Barros (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Carlos Barros;

[, (i) ex-fur mil, 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74), "Os Mais de Nova Sintra"; 

(ii)  foram os últimos a ocupar o aquartelamento de Nova Sintra antes da sua transferência para o PAIGC em 17/7/1974;

 (iii) mora em Esposende; 

(iv) é professor reformado; 

(v) é autor da série "Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra";

 (vi)  é membro da Tabanca Grande, nº 815;

 (vii) tem cerca de duas dezenas de  referências no nosso blogue]


Data - terça, 1/09/2020, 23:41

Assunto - Canoa apreendida ao PAIGC


Caro amigo,

Junto esta foto, que me enviou o meu amigo José Elias, ex-Furriel Auto, em que os militares, no Rio Geba, divertem-se com uma canoa apreendida ao PAIGC, penso que em 1973. 

"Dia de banho. Encontramos esta canoa dos turras", escreveu ele.  Eu, na altura, estava em Tite.

Um abraço,  CMLB



2. Comentário do editor LG:

Carlos, como a foto vem com uma legenda muita  lacónica, vou pedir-te que, com a ajuda dos leitores, acrescentes algo mais... 

A foto vinha um bocado estragada, com excesso de luz na parte superior esquerda... Teve que ser editada.  Dá para perceber que a canoa estava, provavelmente, escondida no meio do tarrafe, na margem esquerda do rio Geba [, segundo o Elias,].

Se foi "apreendida", não se sabe onde, nem como, nem quando, nem por quem das NT...

Vê-se também que era de boa construção, aguentando uns bons 800 quilos de "banhistas" (12 vezes 70 kg em média, cada um...). Conto 12, incluindo um elemento, sentado na popa,,, 

A informação sobre a localização é vaga, mas tem que ser na margem esquerda do rio Geba (região de Quínara), e neste caso tanto pode ser Jabadá (onde estava aquartelada a 1ª C/BART 6520/72) como Gampará (na foz do rio Corubal)... 

Decididamente não pode ser em Nova Sintra (onde estava o grosso da 2ª C/BART 6520/72), mas também não era Tite (sede do batalhão), onde estava, nessa ocasião, o Carlos Barros... 

O fur mil mec auto  José Elias pertencia à mesma companhia do Carlos Barros, mas pode ter ido tanto a Jabadá como a Gampará, nalguma coluna logística... 

Em contrapartida, em novembro e dezembro   de 1973 , o furriel Barros estava instalado em Gampará, com o 3º Gr Comb.

Jabadá  já tinha sido ocupada pelas NT em 1966... enquanto Gampará só o terá sido em 1972... 

Outra questão: seria mesmo uma "canoa turra" , abandonada ou escondida no tarrafe ?  Em Jabadá, parece-me  menos provável.. Possivelmente seria antes de alguém da população local, não ?

Os locais de  "cambança" do PAIGC eram mais para leste, entre a foz do rio Corubal / Ponta Varela e o Enxalé, quando o rio Geba começava a estreitar... 

Mas Gampará não devia ser, na época (finais de 1973 ?), o melhor sítio "resort" turístico da Guiné, pelo contrário devia ser pouco indicado para a rapaziada tomar  banho  no rio...

Quem tem trágicas memórias de Gampará é  o nosso camarada Victor Tavares e os seus camarasas da CCP 121 / BCP 12 que, um ano e tal anos, em 4/3/1972, sofreram 6 mortos e 12 feridos, no decurso da Op Pato Azul. Deve ser dessa época a "reconquista" da península de Gampará. (****)

 Em que é que ficamos, Carlos Barros ? Arranja lá uma legenda mais completa para a foto com a ajuda do Elias e dos nossos leitores...




Para melhor compreensão da organização e do papel dos "corredores" , mostra-se a imagem supra que define como o PAIGC tinha distribuídas as suas Frentes de Luta. Pertence ao Supintrep  n.º 31, de 13 de fevereiro de 1971.

Infografia:  A. Marques Lopes (2007) / Supintrep nº 31 (1971) (***)



Guiné > Mapa geral da Província (1961) > Escala 1/ 500 mil > Posição relativa de  Tite, Nova Sintra, Fulacunda, Jabadá e Gampará, na região de Quínara

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2021)
 

Guiné > Região de Quinara > Fulacunda > Mapa de Fulacunda (1956) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Gampará e da Ponta do Inglês na Foz do Rio Corubal

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013)


Guiné > Região de Quínara > Mapa de Tite (1955) > Escala 1/50 mil > Posição relativa da Ponta de Jabadá, na margem esquerda do Rio Geba, a meia distância entre Bissau e Porto Gole (situados na maregm direita). Dada a largura do rio, e as patrulhas da Marinha, não era o ponto mais indicado para as "cambanças", em canoa, dos guerrilheiros do PAIGC...

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2021)
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Notas do editor:

(*) Vd. psote de 6 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21694: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (15): Os pobres pelicanos...

(**) Último poste da série > 18 de janeiro de  2021 > Guiné 61/74 - P21778: Fotos à procura de...uma legenda (131): um desertor do PAIGC, uma ave de grande porte e o manual do oficial miliciano, uma raridade (Luís Dias, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, Dulombi e Galomaro, 1971/74)


(****) Vd.poste de 21 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1540: Os pará-quedistas também choram: Operação Pato Azul ou a tragédia de Gampará (Victor Tavares, CCP 121)

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21633: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (14): Gampará, Natal de 1973: o bolo-rei da Confeitaria Nélia, Esposende, e a fava azarenta

1. Mais uma pequena história do 
Carlos Barros:

(i) ex-fur mil, defurriel mil, 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74), "Os Mais de Nova Sintra", os últimos a ocupar o aquartelamento de Nova Sintra antes da sua transferência para o PAIGC em 17/7/1974;

(ii) membro da Tabanca Grande nº 815, tem 17 referências no nosso blogue; vive em Esposende, é professor reformado.


O bolo-rei de Natal e a fava azarenta…

por Carlos Barros (*)


Em novembro de 1973 , o furriel Barros, instalado em Gampará, com a 2ª Cart, 3º grupo de combate, escreveu uma carta à sua mãe, Jandira Lima, em Esposende, para que lhe fosse enviad, para a Guiné, um bolo-rei da Nélia [, confeitaria que ainda existe: R. 1.º de Dezembro, nº 24, 4740-226 Esposende, telef: 253 961 119] ou mesmo da Primorosa.

Numa comunicação breve aos soldados do seu  3º grupo, o Barros tinha informado que a malta iria ter um bolo-rei, no período do Natal, o que criou uma certa euforia entre os soldados..

Os soldados vibraram de contentamento e um bolo-rei na Guiné era “ouro sobre o azul” num ambiente de sobressaltos, sofrimentos, ansiedades,  de tragédias e de dramas que envolvia  toda a actividade da guerra.

Passados quinze dias, o bolinho, numa longa viagem, chegou ao aquartelamento, depois de uma longa demora, nos serviços do SPM de Bissau.

O Barros parecia um “empresário de pastelaria” e, sempre com o seu elevado sentido de partilha, reuniu, no dia 23 de dezembro [de 1973], os soldados em  círculo,  e dividiu o bolo-rei em 27 bocadinhos, bem cortadinhos e apresentou uma proposta sentenciosa a todos os presentes:

A quem saísse a fava,  teria de pagar, um próximo bolo-rei que seria comprado em Bissau, de qualidade muito inferior, como é natural, ao  da Nélia, uma pastelaria de excelência a nível local,  mesmo, em todo o  Norte do País.

 As fatias “magricelas”  foram divididas por todos os soldados que começaram a mastigar o bolo, cada um olhando e inspeccionando as bocas com a expectativa de saída da “abominável” fava …

 O Barros, muito atento, num ápice, sentiu  na boca ressequida a maldita  fava e pensou logo que estava “desgraçado”,  pois iria ser gozado por todos e não estava em questão pagar outro bolo, apenas receava ser colectivamente gozado, o que era a “praxe” no meio do grupo.

O Barros pensou de imediato, em sair daquela incómoda situação e sabem o que fez ele?

 Engoliu a fava que foi directamente para o estômago e, mais tarde,  expelida pelos intestinos, e o ânus está como testemunha,

O Cruz, soldado natural de Barcelos, gritou:

 Furriel, o bolo não tinha fava e você disse que vinha sempre com uma fava!...

O Venâncio, o Pedralva, o Domingos e o Araújo estavam muito desconfiados mas nada disseram, limitando-se a saborear o ressequido bolo-rei que estava a ser digerido muito lentamente, quase que “ruminando”, para que o sabor demorasse mais um pouco porque guloseimas, no aquartelamento, praticamente não existiam.

 − Olha, Cruz, o pasteleiro esqueceu-se de colocar a fava e não sei o que se passou  desculpou-se o Barros, com um ar de comprometido!...    Sabem, o Geninho,  pasteleiro da Nélia,  o melhor pasteleiro da região, não se lembrou de colocar a fava e com tantos bolos-rei que faz, este escapou. 

E acrescentou, com o ar muito natural:

 Sabem que  o Geninho, faz uns torrões de amendoim que são “os melhores do mundo”, e podem crer que, quando for de férias a Esposende, vou-vos trazer torrões da Nélia −  prometeu o Barros tentando atenuar a expectativa que os soldados tiveram  da famosa “fava invisível”.

Uma coisa é certa, o Barros só contou a história passados uns meses aos seus companheiros  da caserna que acharam muita graça à atitude do furriel que se tinha “safado” de um gozo geral.

No final, todos se levantaram, com a cadela Sintra a comer umas míseras migalhas que tinham sobrevivido, e estava-se na hora do jantar com os cozinheiros Eduardo, o Rochinha e o Bichas, este na Messe, já com a missão cumprida, junto aos panelões para se distribuir  a comida.

Gampará, 23 de dezembro de 1973.                                  

Carlos Barros

Esposende 10 de Junho de 2020

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sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21325: Guiné 61/74 - P21319: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (3): As ratazanas (e o PAIGC) ao ataque em Gampará



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > Mapa de Fulacunda (1956) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Gampará e da Ponta do Inglês na Foz do Rio Corubal 

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013)




Carlos Barros, ex-fur mil at art, 
2ª C/ BART 6520/72 (1972/74)

1. Mais um pequena história do Carlos Barros, um de "Os Mais de Nova Sintra", 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74) (*):


As ratazanas ao ataque… 

 por Carlos Barros


O 3º Grupo de Combate da 2ª CART / BART 6520/72  foi destacado para Gampará, um pequeno inferno de guerra, zona conquistada “recentemente” ao PAIGC e que este movimento guerrilheiro nunca deixou de atacar, de uma forma insistente: eram constantes flagelações ao aquartelamento, inúmeras emboscadas no mato, em suma, era a guerra em toda a plenitude…

A maioria dos militares dormia ao ar livre, no período mais quente e outros recolhiam-se nas casernas, feitas de adobes com cobertura de chapas de zinco, onde o frio e a chuva, tinham entrada livre…

O furriel Barros dormia numa caserna, sobre um colchão de espuma, sem lençol, e dormir nestas condições era terrível já que a ansiedade estava constantemente presente, devido aos ataques dos guerrilheiros inimigos para além dos mosquitos, inimigo número um dos militares “metropolitanos”…

Os ratos eram às centenas, atacavam os militares, subiam pelas paredes dos adobes e “guinchavam” numa melodia de sons agudos e incomodativos.

Um dia, para fazer face a esta praga, o Barros pediu aos mecânicos da companhia para fazerem uma ratoeira e, passados dois dias, apareceu,  ao furriel, uma ratoeira cheia de molas, parafusos e outras “tecnologias”. Ratoeira montada durante uns dias, e os ratos entravam e saiam da ratoeira num gozo irritante…O Barros sentia-se ultrajado e agiu…

Fez uma ratoeira simples, com tábuas dos caixotes das batatas, uma caixa forrada com folheta, das latas de conservas, uma porta “levadiça”, um arame em caracol, com isco, a segurar a entrada da ratoeira improvisada e, no final, de uma semana, o Barros tinha apanhado 47 ratazanas, sim, foram quarenta e sete, nada mais , nada menos que essa quantidade de ratos…

E o que fazia o Barros, todas as manhãs? Imagine-se!...

Colocava as ratazanas num bidon, regava-as com gasolina e soltava-as numa curta corrida contra a morte…

Hoje, não faria isto, mas a guerra transtorna as nossas mentes e a realidade foge-nos…

O Barros não ficou com a patente da armadilha, pelo contrário, deu a conhecer aos “artistas inventores” dos condutores a estrutura e o funcionamento do mesma e, a partir daí, o furriel Barros, era o grande inventor e o inimigo das ratazanas… O Barros apanhava, e a população nativa, levava a “mercadoria” para as suas tabancas, para comerem como “pitéu”…

Em Gampará havia alguma população e eram maioritariamente Balantas e Mandingas e as ratazanas assadas eram comidas por esta população e vi, muitas vezes, eles nas bolanhas secas, com uma catana, esburacarem as tocas para apanharem esses roedores para sustento da família….

Como curiosidade, e um pouco aparte desta história, segundo censo de 1960, a população total da Guiné era de 521 336 habitantes, dos quais 519 229, constituíam a população residente.

A densidade populacional média, para toda a “Província” aproximava-se dos 15 habitantes por Km2.

No grupo mandinga contam-se os Mandingas, os Saracolés, os Bombarás, os Jacandas, os Sossos e os Jaloncas. A Guiné tinha uma diversidade étnica muito grande: Balantas, Manjacos, Mandingas, Papel, Brame, Fulas, Beafadas,Bijagós, Felupes, Torancas…Estas etnias e muitas outras, eram constituídas por vários subgrupos, numa complexidade tal, que a convivência entre eles não era fácil, como se pode depreender.

Estes dados é apenas , para dar a conhecer um pouco da população guineense mas, muito mais poderia descrever…

Uma coisa é certa, o Barros continuou na sua luta contra os ratos, uma longa guerra que continuou no tempo e, no final da Comissão, já em Esposende, contei esta história à minha família e amigos meus que a acharam engraçada e curiosa…

Carlos Barros
Esposende, 19 de junho de 2020
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sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20475: Feliz Natal de 2019 e Bom Ano Novo de 2020 (8): Virgílio Valente, régulo da Tabanca de Macau, ex-alf mil, CCAÇ 4142, "Os Herdeiros de Gampará" (Gampará, 1972/74)


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > Mapa de Fulacunda (1956) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Gampará e da Ponta do Inglês na foz do Rio Corubal

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013)




BOM NATAL e FELIZ ANO NOVO

聖誕快樂,新年進步

Merry Christmas and Happy New Year


1. Mensagem de Virgílio Valente, terça, 17/12, 09:41


O nosso camarada da Tabanca da Diáspora Lusófona, Virgílio Valente [Wai Tchi Lone, em chinês], vive e trabalha há mais de 2 décadas, em Macau, região autónoma da China. F oi alf mil, CCAÇ 4142, "Os Herdeiros de Gampará" (Gampará, 1972/74). É   o nosso grã-tabanqueiro nº 709, desde 18 de dezembro de 2015. E doravante passa  a ser o régulo da Tabanca de Macau.

Recorde-se que Macau passou para a soberania da República Popular da China, justamente há 20 anos, em 20 de dezembro de 1999. É, a par de Hong Kong, uma das duas regiões administrativas especiais da República Popular da China.

A todos os meus amigos,
親愛的大家,
Dear All,

Desejo -vos
Bom Natal e um Feliz Ano Novo!
我希望你
聖誕快樂,新年進步
Wish You
Merry X'mas and Happy New Year

Virgílio Valente
韋子倫

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Nota do editor:

Último poste da série > 18 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20465: Feliz Natal de 2019 e Bom Ano Novo de 2020 (7): Paulo Salgado (ex-alf mil op esp, CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72)

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Guiné 61/74 - P19536: (D)o outro lado do combate (45): A morte de Rui Djassi - II (e última) Parte - A Op Alvor, península de Gampará, de 22 a 26 de abril de 1964 (Jorge Araújo)


Guiné (1964) - Operação militar. Foto de Manuel Parreiras (1941-2017), natural de Elvas, o 1.º da direita [Unidade desconhecida], pai da minha aluna Ana Parreiras, filha de mãe guineense, de Bafatá. (vou fazer um poste… com mais detalhes).



Mapa da península de Gampará. Território batido pelas NT durante a «Operação Alvor» onde morreu Rui Djassi (Faincam) em 24 de Abril de 1964. Fonte: Carta de Fulacunda (1955), escala 1/50 mil

Infografia: Jorge Araújo (2019)



 Jorge Alves Araújo, ex-fur mil op esp / Ranger, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue



A «OPERAÇÃO ALVOR», DE 22 A 26ABR64, NA BUSCA DO "QUARTEL-GENERAL" DE RUI DJASSI (FAINCAM) - A PRIMEIRA MISSÃO DAS NT NA PENÍNSULA DE GAMPARÁ,  15 MESES APÓS O INÍCIO DO CONFLITO ARMADO - 




1. INTRODUÇÃO


Como complemento à narrativa anterior – P19532 – onde caracterizamos algumas das vicissitudes da vida do guerrilheiro do PAIGC, Rui Demba Djassi (Faincam), primeiro cmdt da Zona 8 (região de Quinara), com particular relevância para o desconhecimento do seu paradeiro desde o início do ano de 1964, vimos hoje ao fórum dar conta como foram os últimos 'combates' da sua vida, e dos seus subordinados, travados em redor do seu "Quartel-General", algures na Península de Gampará.


2. A «OPERAÇÃO ALVOR», DE 22 A 26ABR1964


A execução da «Operação "Alvor"» foi determinada pelo Comandante Militar do CTIG, à data o Brigadeiro Fernando Louro de Sousa, através da Directiva de Operações n.º 1/64, ficando agendada para o período compreendido entre 22 e 26 de Abril desse ano, um mês depois de concluída a Operação "Tridente". A missão tinha como área de intervenção a península de Gampará, uma vez que, desde o início do conflito, esta região ainda não tinha sido percorrida por forças militares.

Para cumprir esta "Directiva de Operações", a primeira de 1964, a responsabilidade de comando foi atribuída ao BCaç 599 (Sector G), com sede em Tite, que abrangia, do ponto de vista operacional, os subsectores de Tite, S. João e Fulacunda. 

De referir que o BCaç 599, Unidade mobilizada pelo RI 15, de Tomar, era comandada pelo tenente-coronel Carlos Barroso Hipólito, sendo apenas composto de Comando e CCS, não dispondo, por isso, de subunidades operacionais orgânicas. Este Batalhão sucedeu, em 18Out1963, ao BCaç 237, dele transitando os elementos de recompletamento.


 2.1. AS FORÇAS MILITARES ENVOLVIDAS


Tendo em consideração as distâncias que havia que percorrer, os meios logísticos à disposição da Unidade de quadrícula [BCaç 599], bem como os efectivos operacionais que esta podia empregar em acções prolongadas, foi considerado que uma operação de "reconhecimento e controlo da população" na península de Gampará, só poderia ser levada a efeito com êxito por efectivos mais numerosos, com forte apoio aéreo e o concurso de meios navais, operacionais e de transporte. 

Para esse efeito, a operação mobilizou os seguintes efectivos:

● Forças do Sector G:

> Companhia de Cavalaria 353 (CCav 353) – 2 Gr Comb;

> Companhia de Artilharia 565 (CArt 565) – 2 Gr Comb.

● Reforços:

> Companhia de Artilharia 643 (CArt 643) – 3 Gr Comb;

> Destacamento de Fuzileiros Especiais (DFE 2). 

O DFE2 e as restantes Forças Navais tinham a seu cargo o transporte de pessoal, água potável e reabastecimentos com as LDM 302, 303, 304 e 305 e a fiscalização dos rios Geba e Corubal compreendidos na ZO, com especial atenção para as "cambanças" e flagelações do IN partindo de Ganjeque, Ponta do Inglês e Ponta Luís Dias.

A Força Aérea, por outro lado, apoiava os desembarques e reembarques e a actividade das forças de superfície durante a acção; fiscalizava o rio Pedra Agulha, bem como os rios Geba e Corubal dentro da ZO impedindo "cambanças"; fazendo ainda a ligação, PCA e a evacuação sanitária. 


2.2. AS RAZÕES QUE JUSTIFICARAM A OPERAÇÃO

O facto da península de Gampará nunca ter sido percorrida por forças militares desde que se iniciou o conflito armado [23 de Janeiro de  1963], embora se soubesse que a maioria dos habitantes das tabancas limítrofes de Fulacunda as tivessem abandonado, passando a residir em locais desconhecidos, situados nos matos existentes nessa península. 

Por reconhecimentos feitos a Uaná Porto e à região marginal do rio Geba, junto à foz do rio Pedra Agulha, sabia-se que o IN se tinha revelado com fraco poder combativo. Em função dos factos anteriores, ainda não se tinham realizado contactos entre a população e as forças militares estacionadas nessa área. Acresce, por outro lado, terem sido referenciadas dez canoas na orla marítima, bem como observadas de Porto Gole, entre as 18h00 e as 20h00, luzes da outra margem. De referir, também, que em 16 de Abril de 1964, pelas 00h30 ter sido atacada uma embarcação das Forças Navais (FN) com MP [, metralhadora pesada].


2.3. A MISSÃO


i) - Percorrer os matos e as povoações de toda a área da península de Gampará, contactando com a população a fim de avaliar do seu grau de lealdade. Sempre que estas se manifestarem pacíficas procurar acalmá-las quando for caso disso, incutindo-lhes confiança e sensação de segurança pela presença das NT.

ii) - Obter, por meio de interrogatórios a PG [prisioneiros de guerra] ou civis, os elementos de informação que conduzam à detecção de elementos lN, seus acampamentos, ligações, pontos de "cambança", chefes de zona, etc.

iii) - Explorar, imediatamente, as notícias ou informações obtidas no decorrer das operações e que se refiram à localização de órgãos de apoio do IN, à identificação destes ou dos seus chefes, de elementos activos ou de simples simpatizantes.

iv) - Procurar, sempre que possível, fazer prisioneiros por necessidade e conveniência em se obterem os elementos de informação desejados, que venham a permitir avaliar-se do grau de confiança que essas populações possam merecer.

v) - Deixar intactos os géneros, a água, o gado ou outros bens pertencentes aos habitantes encontrados, desde que os seus proprietários não tenham hostilizado as NT, incluindo mesmo os daqueles que tiverem fugido quando da sua aproximação. Mas, destruir ou recuperar, conforme os casos e as possibilidades, as habitações, o gado, os géneros, os poços de água, ou outros bens ou pertences existentes nas povoações donde tenham sido hostilizadas as NT ou tenha havido reacção à presença das mesmas.

vi) - Abater ou destruir, por qualquer meio, todo o elemento IN que reaja ou actue pelo fogo contra as NT assim como todo o indivíduo armado que não entregue acto contínuo a sua arma ou que pretenda fugir, bem como ainda todas as instalações que lhe sirvam de guarida ou apoio, todas as canoas encontradas e ainda as povoações abandonadas donde tenham sido hostilizadas as nossas forças.

vii) - Explorar o sucesso, imediatamente a seguir à neutralização de núcleos do ln quer esta tenha sido levada a cabo pelas Forças de Superfície ou pela FA, por forma a tornar possível a apreensão do armamento ou a recolha e identificação dos mortos e dos feridos, do lN.

viii) - Destruir todas as casas de mato e outras instalações de fortuna, localizadas fora das áreas das povoações, permitindo-se porém aos seus proprietários a recuperação dos seus bens uma vez que não tenham mostrado hostilidade à presença das NT.


2.4. A EXECUÇÃO


Com vista ao reconhecimento da península de Gampará, a fim de permitir o controlo e a assimilação da sua população pacífica e a destruição dos núcleos de elementos do IN aí existentes, seriam realizados desembarques simultâneos na foz do Rio Agulha e em Uaná Porto, conjuntamente com as restantes forças saídas de Fulacunda e com o apoio da FA, de modo a isolar a península de Gampará e criar as condições favoráveis ao reconhecimento e à limpeza desta área segundo três eixos de progressão paralelos.




2.5. O DESENROLAR DA OPERAÇÃO


No dia 22 de Abril de 1964, quarta-feira, pelas 03h00 da madrugada, deu-se início à «Operação Alvor» na península de Gampará com desembarques simultâneos das CCav 353, CArt 565, CArt 643 e DFE 2, utilizando quatro LDM, na foz do rio Pedra Agulha e Uaná Porto, conjugados com forças progredindo de Fulacunda e com apoio aéreo, a fim de isolar essa região. 

As forças desembarcadas ocuparam posições ao longo da linha Gansambo-Uaná Porto-Uaná Beafada. A partir dessas posições executaram uma batida conjunta e simultânea na península de Gampará.

No dia 23 de Abril, quinta-feira, elementos In armados, escondidos no tarrafo, detectados pelo PCA, foram batidos pela CArt 643, com a colaboração da FA e fugiram. O DFE 2 venceu uma ligeira resistência em Canquecuta, que destruiu com o apoio da FA. O IN opôs resistência à progressão da CArt 643. Foi isolado e aprisionado um grupo da população que escondia 8 guerrilheiros. A CArt 565, emboscada pelo IN, reagiu prontamente, dispersando-o. As NT tiveram um guia auxiliar morto e dois feridos. Foram mantidos os horários de coordenação e as forças atingiram os objectivos estabelecidos para este período.

No dia 24 de Abril, sexta-feira,  também foram atingidos os objectivos determinados para o terceiro dia de operações. Foi capturado material e documentos. As NT não tiveram baixas e foram mortos três guerrilheiros [, um deles pondendo ser o Rui Djassi... ] e feitos mais de vinte prisioneiros. 

O IN estava sitiado e a operação prosseguia. Durante a noite os estacionamentos das NT foram flagelados, sendo o IN posto em fuga. Em toda a zona revelaram-se guerrilheiros isolados, alguns dos quais foram abatidos. Foram evacuados para Bissau oito prisioneiros, mulheres e crianças. O IN, cercado no extremo da península de Gampará, exerceu violenta repressão na população que pretendia apresentar-se às NT. Estas recolheram três centenas de pessoas, no mato e no rio, das quais foram evacuadas noventa, para Bissau. 

No dia 25 de Abril, sábado, o IN flagelou a CArt 565 que recolheu a Fulacunda, sem baixas. O DFE 2, em colaboração com a CCav 353, fez batidas na orla do rio. As NT acompanharam a população, na reocupação das tabancas, antes do reembarque.

No dia 26 de Abril de 164, domingo,  recolheram a quartéis todas as forças que tomaram parte na operação.



3. MAIS DUAS NOTAS DA PARTICIPAÇÃO DAS FORÇAS NAVAIS NESTA OPERAÇÃO


Para concluir o contexto sobre a «Operação Alvor", e como adenda ao modo como a mesma decorreu, importa dar conta de alguns testemunhos individuais de camaradas que nela participaram, ainda que as mesmas já tenham sido publicadas neste espaço.


No primeiro caso, cito uma passagem do livro "Homem  Ferro - memórias de um combatente", da autoria de Manuel Pires da Silva [SMor Grad FZE (Ref) do DFE 2] – P11521: "Notas de Leitura", de Mário Beja Santos, onde se pode ler:


"Tudo se agrava no rio Corubal, as embarcações são constantemente alvo de emboscadas, atacam navegação na Ponta do Inglês, e mesmo no canal do Geba. Volta-se à península de Gampará, vão com o apoio de forças terrestres, conclui-se que o inimigo não estava até então implantado no terreno. E depois atacam Cafal Balanta, Cafal Nalu e Santa Clara, há fogo do inimigo que só deixa de reagir quando chegam os T6. E no mês de Junho [1964] acabou a guerra para o DFE 2". 


No segundo caso, a narrativa está ligada à "LDM 302", recurso logístico utilizado na "Operação Alvor", e que é contada em livro de A. Vassalo, em BD, Edições Culturais da Marinha, 2011, com o título "A Epopeia da LDM 302".

No P15003, de novo em "Notas de Leitura", de Mário Beja Santos, retiramos a seguinte passagem: 


"Em 22 de Abril [1964, a LDM 302] conheceu o baptismo de fogo. Frente a Jabadá quando, em conjunto com mais três LDM [303, 304 e 305] procedia a um desembarque de fuzileiros [DFE 2], o inimigo tentou opor-se com fogo de armas ligeiras, mas não conseguiu evitar o desembarque".


Também no P10084 – "A Vida e morte da gloriosa LDM 302", o marinheiro fogueiro Ludgero Henriques de Oliveira [, lourinhanense, vizinho, amigo de infância,  e colega de escola primária do nosso editor e camarada Luís Graça, nascido em 1947 e falecido em 2011, ]  que pertenceu à guarnição desta Lancha de Desembarque Média, atribuída ao DFE 2, em 18 de Março de 1964, para fiscalização da zona do Rio Geba, conta-nos alguns dos aspectos mais relevantes da sua existência. 




A LDM 302 no rio Cacheu onde viria a ser violentamente atacada e afundada por duas vezes com baixas pessoais dramáticas, com mortos, feridos graves e feridos ligeiros. Fonte: Cortesia do blogue Reserva Naval, do Manuel Lema Santos [1.º Tenente da Reserva Naval, Imediato no NRP Orion, Guiné, 1966/68]


4. A OCUPAÇÃO [?] DE GAMPARÁ PELAS NT

Por último, depois de consultada a bibliografia a que tivemos acesso, nada encontrámos para satisfazer a curiosidade relacionada com a instalação das NT em Gampará (e em Ganjauará)  Apenas temos, como referência, o Monumento ali existente, onde constam as diferentes Unidades de quadrícula que por lá passaram, conforme imagem abaixo (vd. P12247).



Guiné > Zona Leste > COP 7 (Bafatá) > Margem esquerda do Rio Corubal > Península de Gampará > Gampará > 1972 > Monumento da CART 3417 (Magalas de Gampará), assinalando a passagem por Gampará (e Ganjauará) da 38ª CCmds e de outras tropas especiais.

Vê-se que por ali também passaram, ao serviço do COP 7 (Bafatá), vários DFE - Destacamentos de Fuzileiros Especiais (4, 8, 13, 21, 22), a CCP 121/BCP 12, a 2ª CCA - Companhia de Comandos Africanos, o 29º Pel Art e o Pel Mil 331.

A última Unidade que aí esteve instalada, até à independência, foi a CCAÇ 4142 (1972/1974) "Herdeiros de Gampará".

Foto (e legenda): © Amilcar Mendes (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Fontes consultadas:

«Operação Alvor» (texto adaptado): Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro I; 1.ª edição, Lisboa (2014); pp 252/257.

Outras: as referidas em cada caso.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

26Fev2019.

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Nota do editor: