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sábado, 8 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17557: Lembrete (23): Hoje, sábado, na Tabanca dos Melros (Fânzeres, Gondomar), apresentação do II volume do livro do José Ferreira, "Memórias Boas da Minha Guerra"... Daqui a um bocado, às 10h30, que de manhã é que se começa o dia... E como prenda o autor deixa aqui, em reedição, mais um dos seus microcontos, e que, não é por acaso, tem a ver com o tema da atualidade (do nosso blogue...), o Serviço Postal Militar (SPM), e as suas pequenas misérias e grandezas, já depois do 25 de Abril, no rescaldo da guerra colonial

Capa do II Volume do livro "Memórias
Boas da Minha Guerra", de José Ferreira
(Lisboa: Chiado Editora, 2017)
1. O Zé Ferreira teve a gentileza de convidar o nosso editor Luís Graça para apresentar o segundo volume do seu livro, justamente na Tabanca dos Melros... 

Desta vez conseguiu-se "compaginar" as agendas, como dizem os políticos da nossa praça, e o nosso editor Luís Graça está neste momento à espera que o Zé, vindo de Crestuma onde vive, passe pela Madalena (, localidades do mesmo concelho, Vila Nova de Gaia), para o levar até à Quinta dos Choupos - Choupal dos Melros (que fica em Fânzeres, Gondomar, e onde está sediada a Tabanca dos Melros).

Às 9h45 o Zé Ferreira vem-me buscar e eu estou ansioso por dar um abraço fraterno aos meus bons amigos e camaradas do Norte que vão estar presentes (há 70 inscrições para o almoço), incluindo o meu querido coeditor Carlos Vinhal (e a Dina), o Carlos Silva (um dos régulos da Tabanca dos Melros), o Jorge Teixeira (conhecido como o "bandalho-mor", chefe do Bando do Café Progresso), a par dos penafialenses Joaquim Peixoto, José Cancela e respetivas esposas ("sempre, sempre ao lado dos seus homens"!)...

Estarão, por certo, outros camaradas, incluindo tabanqueiros da grande Tabanca Pequena de Matosinhos. Não tenho aqui a lista dos convivas. Não tenho, por exemplo,  a certeza se o Gil Moutinho, o anfitrião, poderá estar presente, De qualquer modo, estou também ansioso por conhecer a sua "casa", de que tenho ouvido as melhores referências. Espero ainda encontrar outros "melros" como o David  Guimarães (que é aqui da Madalena, mas fez de Espinho a sua terra adotiva), os manos Carvalho (o António e o Manuel), ambos a jogar em casa,  e muitos outros mais... 

O "grande melro", cofundador e coeditor da Tabanca dos Melros, o saudoso  Jorge Portojo (1948-2017) estará seguramente connosco, em espírito: acabou de ser muito  condignamemte homenageado pela Tabanca dos Melros (e pela  tertúlia do Bando do Café Progresso) nó último convívio dos "melros", em 13 de maio passado.
A título de consolo, para quem não puder estar hoje na Tabanca dos  Melros, tomei a liberdade de escolher um dos "microcontos" do nosso escritor, José Ferreira  (que é de Fiães, concelho da Feira, mas que escolheu Crestuma, Vila Nova de Gaia, para amar, orar, viver, trabalhar, escrever e fazer campeões de canoagem!...). Como o tema está na ordem dia do nosso blogue (, aqui nunca se fala diretamente da atualidade do país...), vem a propósito repescar uma história que tem a ver com o SPM e o rescaldo da guerra colonial, já no pós-25 de Abril.

[Com a devia vénia ao autor e ao editor (Chiado Editora, que não vai estar presente porque não faz a mínima ideia onde fica Fânzeres, e só se digna fazer promoções dos seus livros e autores em Lisboa, Porto e Coimbra)...Em boa verdade, o primeiro editor do José Ferreira foi o nosso blogue...]


2. Memórias Boas da Minha Guerra

VÍCIOS ESTRANHOS OU FRUTOS DA ÉPOCA

por José Ferreira

[in "Memórias Boas da  Minha Guerra", vol. II. Lisboa: Chiado Editora, 2017, pp. 184-187] (**)

Regressei de Angola, onde estive a trabalhar, logo após o 25 de Abril de 74. Vim de férias (“licença graciosa”, 4 a 5 meses  com prolongamento). Como funcionário camarário [, da Câmara Municipal de Cabinda], beneficiava de todas as regalias da função pública, às quais se juntavam ainda os benefícios de compensação pelo isolamento e/ou perigosidade. Para receber os vencimentos tinha que me deslocar a Lisboa, ao Ministério do Ultramar (ou Defesa Nacional), ali para os lados de Belém [, ou melhor, na avenida da ilha da Madeira, no Restelo].

Naquele dia, como cheguei mais tarde a Lisboa, aproveitei para almoçar na zona ribeirinha e esperar pelas 14h30 para ir receber o vencimento. Após o almoço, abeirei-me do Tejo, onde me chamou a atenção um jovem cabo miliciano, que olhava o horizonte, lá para o Farol do Bugio.
 – Então, como vai essa peluda? – perguntei-lhe.
 – Peluda, não. Direi mesmo que estou aqui fodido com a puta da tropa. 
– Não me digas? Agora que se deu o 25 de Abril, em que andais por aí à balda, de cabelo à Beatle e livres de ir para a guerra! – interpelei. 
– Pois, pois, mas isto ainda está muito confuso – respondeu o jovem, que continuou: 
– Ainda estão militares a ir lá para fora e o filho da puta do meu sargento quer mandar-me para lá. 
– Mas o sargento tem assim tanta força para isso? – perguntei.
– Este tem. É que eu há dias, no comboio, entusiasmei-me com esta coisa do 25 de Abri, e contei a um furriel a marosca em que o sargento andava envolvido. Pensei que o furriel era miliciano e, afinal, era outro chico e amigo do sargento – confessou o militar preocupado. 

E continuou: 
– Estava a contar sair por estes dias, tenho a namorada já grávida, lá na terra, perto de Amarante, e o capitão, que também deve mamar, já me avisou: "Ganha juízo, se não ainda levas com uma guia de marcha especial"– E continuou: – Os chicos protegem-se uns aos outros. 
– Também nunca gramei esses gajos – disse eu e acrescentei: – Estive na Guiné e passei por muitas merdas, mas procurei afastar-me sempre dessa cambada. Embora tenha de confessar que também havia alguns a merecer alguma consideração. Mas, afinal, como é possível essa preocupação? 
– Trabalho no SPM, Serviço Postal Militar. É por ali que passa toda a correspondência militar, incluindo as encomendas. Aquilo presta-se a muita vigarice. Há cartas em que o dinheiro sai com facilidade e, nas encomendas, há uma percentagem grande que fica por ali. Por outro lado, há encomendas de contrabando que não entram nos registos. E, como eu não queria nada, deixaram-me em roda livre, sem serviço e sempre desenfiado. Só que agora, meti o pé na poça e eles não perdoam. 

E continuou: 
– Há lá um grupo de sargentos e furriéis com o vício de jogar. E jogam forte. Este sargento, quando mete a mão ao bolso, até diamantes lhe aparecem nas mãos. Ele tem um colega que está nos Adidos, ali na Travessa da Calçada, atrás da Ajuda, junto de Lanceiros 2, que, muitas vezes, vai lá jogar. Ainda é mais viciado do que o meu sargento. Mas, agora, anda como uma barata, devido à diminuição de mortes no Ultramar. 
– O que é que isso tem a ver com o assunto? – perguntei. Ele logo respondeu: 
– O gajo deve ser o responsável pelo armazém onde passam os militares mortos. Já estava muito habituado ao rendimento das madeiras caras, que vêm a servir de caixões. Ele deve vender bem essas madeiras exóticas.

Uns seis anos depois, por altura das festas do S. Gonçalo [, em Amarante], participámos [, o meu clube,] numa prova de canoagem no Rio Tâmega. A largada, acima de Fridão, lançava-nos, em pequenas pirogas, para os vários perigos, bem patentes em quedas, rápidos, correntes e redemoinhos. Vencê-los era um prazer incrível. A nossa chegada junto da ponte era um espectáculo. Logo que cortávamos a meta, deleitávamo-nos a olhar para o público ruidoso que ocupava todos os espaços envolventes. Grandes momentos da minha canoagem! Enquanto aguardava a distribuição dos prémios, sinto uma mão no ombro esquerdo: 
– Não se lembra de mim?
– Não, não estou e ver… como – respondi.  Ele continuou: 
– Há uns anos estivemos a conversar em Belém, junto ao rio, estava eu fodido que não sabia que fazer à puta da vida. 
– Sim, sim, já me lembro – respondi e aproveitei logo para perguntar:
– E então, como é que te safaste? 
– Olha, tenho a agradecer muito o teu conselho. Acabei por contar tudo a um oficial de confiança e bem identificado com a revolução. Não o fiz como acusação, mas sim como defesa do que me poderia vir a acontecer. 
– E depois? – perguntei, bastante curioso. E ele continuou: 
– Foi porreiro! Deixaram-me em paz, tratavam-me como um lorde e mandaram-me logo embora. As coisas correram de tal maneira bem, que ainda hoje estou convencido de que foi milagre. Todos os anos aqui venho, ao S. Gonçalo, para agradecer essa graça, juntamente com a mulher e este rapazola que já quer ir para a canoagem. “Nasceu antes do tempo”, mas vai ser um grande campeão.

[Revisão e fixação de texto: LG]
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(**) Vd. também poste de 28 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9411: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (13): Vícios ou frutos da época

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16511: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (35): A honra não tem preço

Um pátio da Tabanca dos Melros
Foto: © Jorge Portojo


1. Em mensagem do dia 18 de Setembro de 2016, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos esta história ouvida por si na Tabanca dos Melros, e aqui contada com o seu inconfundível estilo literário, para integrar mais uma das boas memórias da sua guerra:


Memórias boas da minha guerra

34 - A honra não tem preço

Ao segundo Sábado de cada mês, há um almoço convívio de ex-combatentes, na Quinta Choupal dos Melros. O primeiro convívio efectuou-se em Dezembro de 2009. A ideia deste evento ficou registada com a criação do nome da “Tabanca dos Melros”. Está situada num local lindíssimo, composto por vários pátios, telheiros e salões, aproveitados de uma grande casa de lavoura, enriquecido de alfaias, móveis antigos, quadros, bustos e outras obras de arte. É dono desta propriedade e do bom gosto do seu recheio, o “Melro” Gil, ex-Cmdt Piloto Aviador.

 
Convívio à sombra da ramada, como se diz no norte

Quem me levou lá foi o Jorge Portojo, que é a alma desse agradável convívio. É ali que tenho passado horas e horas de sã camaradagem com ex-combatentes, cuja vivência da guerra do ultramar é o grande elo comum.
Ali, se ouvem histórias, se brinca com elas e se discutem alguns pormenores mais ou menos assertivos. Porém, o bom ambiente reina e prevalece acima de qualquer discórdia. Confesso que nos dá muito prazer usufruir deste óptimo relacionamento e, ao mesmo tempo, poder contribuir para a sua continuidade.
Foi lá que, há dias, “apanhei” esta história, testemunhada (vivida?) por um dos presentes.

O que a seguir vou contar terá acontecido em finais de 1972, princípios de 1973, num destacamento próximo de Cacheu, no noroeste da Guiné.

Um pelotão com pouco tempo de Guiné foi incumbido de ocupar aquele destacamento. De um dia para o outro, o Alferes Bastos, conhecido também por Alferes Bolinhas, devido à estrutura física ligeiramente arredondada, tornou-se a pessoa mais importante daquela zona. Tinha “casa de comando”, os faxinas que entendesse e a vassalagem dos seus militares e dos indígenas.

Andava ainda a adaptar-se a essas mordomias naquele reino de calmaria, quando se vê visitado por Hamed Jalu, Chefe de Tabanca, acompanhado de Jeni, uma das suas filhas.
- Alfero, a mim bem cumpre nha honra di paga pa bô mil quinhento peso.

Espantado, o Alferes respondeu:
- A mim… não… não deve nada. Mil e quinhentos pesos?! Porquê?

O Chefe de Tabanca esclareceu então que esse dinheiro lhe havia sido emprestado, para um pequeno investimento na Tabanca. E como não tinha conseguido pagar a dívida ao anterior Comandante, vinha entregar a sua filha como pagamento da dívida.
O Alferes ainda ripostou:
- Não vou ficar com a sua filha. Leve-a e depois, quando puder, vem pagar.

O Chefe da Tabanca reagiu logo:
- Não, alfero. É probrema di honra. Bô cá pude nega. Honra cá tem preço. E foi embora. 

A Jeni não veio viver para o aquartelamento mas ficou por perto, ao dispor do Alferes.

Inicialmente, o Alferes não sentia muita vontade em servir-se da rapariga. Ainda sentia bem perto de si as carícias e os aromas das despedidas amorosas do Continente. Porém, à medida que o tempo passava, ia caindo na realidade e embrenhava-se cada vez mais nesse novo ambiente. Aliás, começou a desfrutar do bom e das mordomias existentes ao seu dispor. Daí, a estar na cama com a Jeni foi um pequeno passo.

Quando isso aconteceu, ele ficou deslumbrado. Parecia que nunca tinha sentido tanto prazer. É certo que ele já andava “esfomeado”, porém, quando se apercebeu de todas as curvas firmes daquele corpo seco e fresco, quando sentiu as suas carícias e a sua pele macia, ficou irremediavelmente preso à “bajuda”.

Passaram-se uns meses e o Alferes já não via outra coisa que não fosse cumprir religiosamente as suas visitas prolongadas à Jeni.

Os seus militares não se atreviam a fitar aquela miúda, a bajuda do Alferes Bastos. Ninguém sonhava que aquela conquista se devia a um compromisso de honra, que nada tinha a ver com as capacidades de conquistador, do aparente garanhão. O certo é que ele próprio, envaidecido, gostava que o admirassem como conquistador. Era só vê-lo “inchado” e aperaltado a caminho da Jeni. Apenas, o Furriel Matosinhos, um verdadeiro atleta, digno de pisar as arenas do Olimpo, não se conformava. Sorrateiramente, lá se ia aproximando da Jeni. Chegou ao ponto de a “apanhar”, de imprevisto, nua, a ensaboar as coxas e sua “mama firme”. Porém, perante as várias insistências, ela ameaçou-o de que iria falar dessa perseguição ao Alferes.

Mulheres guineenses

Tudo corria às mil maravilhas até que um dia chegou um rapaz que veio pagar a dívida-resgate da Jeni. Desembrulhou uns papéis e mostrou os 1.500 pesos:
- A mim bem paga bô e tomá Jeni pa bai sê muié de mim.

O Alferes não lhe ligou grande importância e, para o despachar, atirou:
- Ela, agora vale 2.000 pesos. Tu não tens dinheiro para pagar.

O rapaz saiu a barafustar baixinho. O Alferes ficou a pensar na próxima visita dele.

Após o jantar, como de costume, o Alferes pôs-se a caminho e foi para a tabanca, para estar com a Jeni. Porém, a Jeni já lá não estava. No dia seguinte aconteceu o mesmo.
Ao terceiro dia, o rapaz voltou. Sem mais delongas, desembrulhou os papéis e mostrou os 2.000 pesos. Entregou-os, sem dizer uma palavra.

No dia seguinte, o Alferes Bastos foi falar ao Chefe de Tabanca. Cumprimentaram-se, mas a Jeni não se aproximou, nem o rapaz que fora fazer o pagamento. Pensando numa saída airosa, o Bastos sacou do bolso 500 pesos e estendeu-os para o Chefe Hamed Jalu, ao mesmo tempo que dizia:
- Toma lá estes 500 pesos que consegui ganhar com a venda da Jeni.

O Chefe Hamed não se mexeu. Apenas se esticou mais, apoiado na sua bengala, levantou bem a cabeça e, olhos nos olhos com o Alferes, respondeu:
- Não, alfero, não. Honra ca tem preço!

Silva da Cart 1689

(NOTA: Em crioulo, “ca” significa “não”)
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16488: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (34): A “santidade” do Santos

terça-feira, 14 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16200: Convívios (754): Almoço do mês de Junho do pessoal da Tabanca dos Melros, realizado no passado dia 11, na Quinta dos Choupos, Fânzeres - Gondomar (Carlos Silva / Carlos Vinhal)

Quinta dos Choupos - Choupal dos Melros
Ponto de encontro da Tabanca dos Melros


1. Como é habitual no segundo sábado de cada mês, a tertúlia da Tabanca dos Melros reuniu-se no passado dia 11, à volta da mesa, no Choupal dos Melros.

Como sempre, a malta é muito bem recebida, em ambiente rural muito bem preservado, pelo anfitrião Gil Moutinho, também ele camarada combatente, que sobrevoou vezes sem conta os céus da Guiné.

Desta feita o dispositivo estava instalado no pátio interior que preserva todo o ambiente rural, ornado com diversas máquinas e utensílios agrícolas.

Reparem só neste recanto com tanta história

O nosso anfitrião lá mais ao fundo

O repasto iniciou-se com umas apetitosas entradas onde não faltou até uma feijoada com este óptimo aspecto.

Iniciadas as hostilidades, o nosso amigo e camarada David Guimarães passa ao ataque.

A ementa, sempre uma surpresa, desta vez constou de sardinha assada, ou não estivéssemos na época dos santos populares, e de fêveras grelhadas, complementado com o caldo verde da ordem.

Para fim de festa foi servida a sobremesa composta por fruta fresca e deliciosa doçaria, onde pontuava um delicioso creme queimado da preferência deste vosso editor.
Um cafezinho e um digestivo remataram mais esta jornada gastronómica.

Um aspecto da mesa. Em primeiro plano, à esquerda a Germana, esposa do Carlos Silva; a Dina Vinhal e a Rosa, esposa do Barbosa. Do lado direito a Marília, esposa do nosso camarada Angelino Santos Silva

Sempre atento, o nosso amigo Paulo, de pé, que já faz parte da família dos Melros.

Como quando a hora de comer é para todos, até estas pequenas andorinhas são alimentadas pelos pais.

Este mês esteve presente o Carlos Silva, um dos fundadores desta Tabanca dos Melros, que se deslocou expressamente de Lisboa, à sua terra Natal, Gondomar, para participar neste convívio.
São dele as fotos que se publicam.


Em Julho há mais, apontem no calendário o dia 9 e venham almoçar, talvez debaixo desta frondosa ramada. Não precisam ser "Melros", são bem-vindos todos os camaradas.

Fotos: © Carlos Silva
Texto e legendagem das fotos de Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de junho de 2016 Guiné 63/74 - P16184: Convívios (753): XII Encontro do pessoal da CART 1742 ("Os Panteras"), realizado no passado dia 28 de Maio, em Creixomil - Guimarães (Abel Santos)

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P13993: Convívios (645): Almoço de Natal da Tabanca dos Melros, dia 13 de Dezembro de 2014 na Quinta dos Choupos, Fânzeres, Gondomar (Carlos Silva)

VAI REALIZAR-SE NO PRÓXIMO DIA 13 DE DEZEMBRO DE 2014 O TRADICIONAL ALMOÇO DE NATAL DA TABANCA DOS MELROS, SENDO, COMO É HABITUAL DURANTE TODOS OS MESES DO ANO, ANFITRIÃO O NOSSO CAMARADA GIL MOUTINHO NA SUA QUINTA DOS CHOUPOS, EM FÂNZERES - GONDOMAR


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Nota do editor

Último poste da série de 23 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13931: Convívios (644): encontro de fim de estação da tropa enquadrada na Magnífica Tabanca da Linha (texto de José Manuel Matos Dinis; fotos de Manuel Resende)

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12350: Convívios (550): Almoço de Natal da Tabanca dos Melros, dia 14 de Dezembro, na Quinta dos Choupos, Fânzeres - Gondomar

1. Como já vai sendo habitual, no próximo dia 14 de Dezembro de 2013 vai ser levado a efeito mais um Almoço/Convívio de Natal na Tabanca dos Melros, Quinta dos Choupos, Fânzeres, Gondomar.

Além do ambiente familiar e óptima comida, pode-se desfrutar da simpatia e amizade do anfitrião, o nosso camarada Gil Moutinho, ex-Fur Mil Pilav da BA 12 de Bissau.

Foto: © Jorge Teixeira (Portojo) (2013). Todos os direitos reservados.

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Nota do editor

Último poste da série de 12 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12283: Convívios (549): Encontro do pessoal da CCAÇ 557, levado a efeito no passado dia 9 de Novembro de 2013 (José Colaço)

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10767: Convívios (485): Almoço/Convívio de Natal da Tabanca dos Melros, dia 15 de Dezembro de 2012 no Restaurante Choupal dos Melros - Quinta dos Choupos - Fânzeres - Gondomar


 Mensagem da Tabanca dos Melros, a propósito do Almoço/Convívio de Natal que vai acontecer no próximo dia 15 de Dezembro de 2012 no local apropriado, o Restaurante Choupal dos Melros, nas Quinta dos Choupos, do nosso camarada Gil Moutinho, ex-Fur Mil Pilav:

Amigos e Camaradas
Junto anexo o cartaz publicitário do almoço de Natal da Tabanca dos Melros.


Já agora, apela-se para a boa compreensão da rapaziada e pede-se para se inscreverem com a devida antecedência para o almoço para sermos bem servidos como é timbre do nosso amigo e camarada Gil.

Os anarquistas têm de compreender que o restaurante onde a Tabanca assenta, não é um restaurante que serve refeições com menu diário e só abre para eventos [como o nosso] aos sábados e domingos. Portanto, não façam comparações com o que não é comparável e sejam compreensivos com esta situação não desestabilizando.

O Gil agradece-vos apela vossa compreensão.
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Nota de CV

Vd. último poste da série de 3 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10753: Convívios (484): Jantar de Natal da Tabanca de Matosinhos, dia 8 de Dezembro de 2012, na Junta de Freguesia de Bonfim - Porto

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10271: Convívios (465): Almoço mensal do pessoal da Tabanca dos Melros, dia 11 de Agosto de 2012 (Carlos Vinhal / Jorge Teixeira - Portojo)

1. No passado Sábado, dia 11 de Agosto de 2012, apesar de estarmos em pleno Agosto, mês de eleição para gozo de férias, aconteceu mais um convívio mensal da Tabanca dos Melros.

O local foi o habitual, a Quinta dos Choupos, e o Restaurante, o Choupal dos Melros do nosso camarada Gil Moutinho, Fur Mil Pilav, que sobrevoou os céus da Guiné aos comandos dos T6 da FAP.

Segue-se, com a devida vénia, a reportagem fotográfica de Jorge Teixeira (Portojo) com selecção de fotos da responsabilidade do editor deste Blogue, a partir do poste publicado pelo nosso camarada  no Blogue da Tabanca dos Melros.


Momento em que o camarada Carlos Silva apresenta a nova bandeira da Tabanca dos Melros, ao que me apercebi feita por uma menina de Gondomar.

Nesta foto, da esquerda para a direita: Sucio (filho), Fernando Súcio do Pel Mort 4275, Silva da Cart 1689 e Vinhal da CART 2732.

O Paulo às voltas com as carnes, enfrentado o calor das brasas, apesar da "brasa" que se fazia sentir

A mesa já com as Entradas

O pessoal ao ataque antes que se acabassem as munições.

De quem será este prato que chamou a atenção do Jorge?

Que bem se estava à sombra daquela ramada, já com as uvas bem pintadas como se pode ver  na foto.

Pormenor da mesa, sector norte, onde não se discutia a guerra, antes as virtualidades do Benfica e as (des)virtualidades do FCP. Para variar, diz o editor.

Já na digestão, em amena cavaqueira: Carlos Silva, Antero Santos (que não almoçou), Gil Moutinho (o nosso anfitrião) e Carlos Vinhal

Fotos de Jorge Teixeira (Portojo)
Legendas de Carlos Vinhal

Nesta foto o camarada José Ferreira da Silva e o seu editor Carlos Vinhal

Um recanto da Quinta dos Choupos onde não falta espaço para desfrutar a natureza e apreciar maquinaria antiga utilizada na agricultura. Neste momento, por decisão do nosso camarada Gil Moutinho, o Restaurante Choupal dos Melros apenas abre ao público e serve à lista ao domingo ao almoço, dedicando-se mais à organização de eventos e convívios.

Fotos e legendas de Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10261: Convívios (464): Tabanca de São Martinho do Porto, sábado, 11 de agosto de 2012 (Parte III)

sábado, 16 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8111: FAP (65): Falando do nosso destacamento em Nova Lamego (Gil Moutinho)



1. O nosso Camarada Gil Moutinho, ex-Fur Mil Pilav - BA12 -, Bissalanca, 1972/73, régulo da Tabanca dos Melros, enviou-nos em 14 de Abril a seguinte mensagem.
Camaradas,
Falando do nosso destacamento em Nova Lamego, para além de contar as minhas experiências, também fazer algumas considerações “em jeito”de comentário ao poste P7807 do nosso Tenente [António Martins] de Matos, publicado na Tabanca Grande.


Malta da FAP na BA 12 em Bissalanca

Já foi referido que por um período de 1 semana, eram destacados meios aéreos para N. Lamego, que consistiam em uma DO, um Héli e um Hélicanhão, com três pilotos, dois mecânicos e um atirador do canhão (não sei se foi sempre assim e desde quando).
Curiosamente na minha caderneta de voo (é o único auxílio da minha memória) constatei que, quase em fim de comissão, fiz duas semanas seguidas, não me recordando minimamente das razões para tal.
Tudo isto para que houvesse proximidade às Tropas no terreno e evitar as demoras de uma deslocação da Base.
Só era destacado um piloto, quando já tivesse alguma experiência do TO da Guiné e quase sempre um miliciano, pois os do quadro, mais velhos (não necessariamente mais experientes no Ultramar) tinham quase sempre família e residiam na cidade, não sendo escalados, salvo excepções.
Se a memória não falha, um dos pilotos teria que ser sempre um oficial (faria parte das NEP), mesmo que não fosse mais antigo e experiente no TO.
A FA estaria assim à altura, com oficialato, para dignas relações com as FT e respectiva colaboração sendo de véspera programado toda a actividade aérea, excepto para as evacuações por motivos óbvios.
A excepção eram as evacuações, pela manhãzinha, porque de véspera já não era possível. O meu primeiro contacto com o Leste, ainda muito pira, foi numa viagem a Pirada e ia correndo tudo muito mal (ver no blogue especialistas da BA12, o poste 1040, de 14 de Junho de 2009).
Eu de DO, para além de evacuações, deslocava-me onde fosse necessário e por indicações das chefias das FT em sintonia com as regras acordadas para a colaboração com a FA.
Nessas viagens, habitualmente eram visitadas as Companhias no mato a partir da sede do Batalhão pelo Comandante respectivo e, para além deste, transportávamos víveres frescos, carga geral e o sempre apreciado correio, para além de outros militares em deslocação.
As viagens eram sempre de curta duração e mesmo acumuladas dificilmente esgotavam as horas disponíveis.
Quando tínhamos evacuações é que se fazia muitas horas de pilotagem, pois cheguei no mesmo dia a ir duas vezes a Bissau e tudo somado a perfazer 5 horas seguidas.
Claro que à noite, porque estávamos soltos, se calhar nos excedíamos do normal. A manhã podia começar com o pequeno-almoço na varanda do Mounir, quase em frente dos nossos alojamentos, onde se começava com ovos mexidos e salada de tomate, acompanhado com chá frio e café com mezinha.
Por vezes tínhamos sobremesa com fruta fresca e chocolate (onde é que já ouvi isto?) nos fundos do estabelecimento do nosso amigo (só nos recomendava que lavássemos com sabão no fim).
Também aqui ele cozinhava, eventualmente, alguma caça que o canhão abatia para os esfomeados.

Insiro esta foto esclarecedora (soldado condutor do Exército, Olímpio, eu, Direitinho, Vítor Afonso e Cardoso de cócoras. Falta o mecânico da DO, podia ser o Falcão, Pascoal ou outro).

Nunca me preocupei com o excesso de horas para além do pré definido, eu gostava muito de voar, com 20/21 anos tudo é possível, e percebia que o meio aéreo era importante para as tropas no terreno.
Nunca me senti usado com excesso de horas, pois em todos os momentos éramos comandantes da aeronave e tínhamos regras bem definidas para cumprir se o quisesse, e tinha o manche na mão (faca e queijo).

Nunca me senti um rapazito, sim um rapazinho que tendo feito 20 anos a 5 Março 72, embarquei a 6 Abril. Tinha contudo uma formação de cerca de ano e meio de cursos e tirocínios, rigorosamente igual à dos oficiais do mesmo curso, base para evolução adquirida na permanência na Guiné. Tinha mais-valia a experiência e capacidade de cada um, que propriamente o posto.

Recentemente, eu como muitos outros, comecei a conviver, nos blogues, tabancas e tertúlias, com outros ex Combatentes de outras armas, nomeadamente do Exercito, e comecei a conhecer melhor a realidade dos apelidados “burakos”, o que na época não aconteceu pois muitas vezes nem chegava a parar o motor do avião (nas evacuações acontecia) ou permanecíamos pouco tempo, não havendo tempo para grandes convívios sendo sempre muito bem recebido, um reconhecimento da nossa colaboração, nomeadamente nas evacuações e transporte de correio.

Descarregando os sacos de correio...

Havia locais (bu...rakos) que nos recebiam duma maneira quase surreal. Lembro-me de Guileje onde nos recebiam com bebidas na pista (nada de álcool), pensava eu que um barman de casaca branca, mas o Cor. Coutinho disse-me que era uma bajuda.

Do libré tenho a certeza, não sei onde. Alguém me ajuda? Na base de Bissalanca, o SPM (Serviços Postais Militares) tinha permanentemente um camião, estrategicamente estacionado, e sempre bem fornecido, que atento às movimentações de saídas de aeronaves nos solicitava o transporte de correio em sacos para os nossos destinos.

Agora olho com mais respeito e admiração para estes combatentes de todos os “bu...rakos” da Guiné.
Fui educado, em novo, a respeitar os pais, os mais velhos, os professores e as autoridades, e na tropa os superiores.

Agora respeito mais os outros valores: competência, personalidade, honestidade, etc e não os galões, títulos, canudos e cargos imerecidos. Isto vem a propósito do malogrado T. Cor Brito, onde para além do posto, também era competente e justo.

Um dia também me atrasei no começo de uma missão, cerca de meia hora a mais de cama, não em destacamento, e na chegada da mesma fui confrontado pelo meu chefe de esquadra, capitão x, e a minha desculpa não foi aceite, mesmo tendo cumprido a missão na íntegra.

Resultou na perda de uma viagem extra, bónus, de Nord à Metrópole, que por escala e antiguidade, era concedida aos pilotos e outros, para alguns lugares disponíveis, e mesmo sendo cansativa, sempre eram alguns dias em casa. Na altura fiquei triste e tentei demover da decisão o chefe do Grupo Operacional T. C. Brito.

Andei dois dias a rondar o seu gabinete sem coragem para o abordar (Os chefes, o respeito e a timidez!). Não consegui e só mais tarde é que aceitei e compreendi que ele não iria alterar a decisão/recomendação do Capitão. Respeitava-o como homem e como chefe.

Um abraço,
Gil Moutinho
Fur Mil Pilav da BA12

Fotos: © Gil Moutinho (2011). Todos os direitos reservados
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7101: (Ex)citações (99): A FAP, o Strela e o Ilhéu de Rei ou... São mais as vozes duvidosas do que a certeza das boas nozes (Carlos Silva)



Guiné > Bissau > s/d > Vista aérea parcial de Bissau e o Ilhéu de Rei, ao fundo. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 142". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal,  Imprimarte -  Publicações e Artes Gráficas, SARL). 


Colecção: Agostinho Gaspar / Digitalização / edição: Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010).

1. Comentário de Carlos Silva [, foto à direita], ao poste P7088 (*): 



Data: 7 de Outubro de 2010


Meu Caro Amigo Gil e Grande Piloto:


Gostei de ler o teu testemunho que corresponde ao que tenho ouvido de outros camaradas, incluindo o nosso camarada Cor Miguel Pessoa, então Ten Pilav quando foi abatido para os lados do Sul da Guiné,  e outros camaradas da Aviação.


Ainda no passado dia 2 na Tabanca da Linha ouvi pessoalmente,  da boca do nosso camarada Miguel Pessoa,  em resposta a outro nosso camarada do Exército, e outros arautos da verdade que botam faladura na Tabanca Grande,  [a contestação da tese da]  inoperância da FAP. 


Esses camaradas estavam em todo o território da Guiné como controladores aéreos e,  como tal,  são os senhores da verdade absoluta, até porque,  além de controlarem todo o território, também são especialistas da força aérea...


A rapaziada do PAIGC é que eram os valentes e,  enquanto possuidores de pouco mais de meia dúzia de mísseis, já controlavam a FAP, o território, enfim, ocupavam efectivamente toda a Guiné e nós, tropa-macaca,  estávamos encurralados no Ilhéu do Rei.


Não quero com isto dizer que a tal arma [, o Strela,] não teve influência no comportamento da FAP, mas daí até ficarmos encurralados no Ilhéu do Rei para a partir daí sermos evacuados para navios fundeados no alto mar,  vai muito longe.


Apesar de ter lido alguns testemunhos de camaradas da FAP no Blogue da Tabanca Grande, deveria haver mais, para ver se esses arautos da verdade e controladores de todo o território, de uma vez por todas,  se convencem do contrário. São dos tais que actualmente reivindicam uma enfermeira, um médico, um polícia e outros mais técnicos à sua porta de casa.


Só quem não quer ver a realidade, é que não quer compreender o que efectivamente estava em causa. Haveria mais para desenvolver, pois o tema ainda não está dissecado,  como tu dizes, porque são mais as vozes duvidosas do que a certeza das boas nozes.(**)


Gostei do teu Testemunho
Um abraço amigo


Carlos Silva 


2. Comentário de L.G.:


Obrigado, Carlos, vou pôr este provérbio na minha colecção... com direitos de autor, claro, atribuídos à tua pessoa. Conhecia aquele outro, menos filosófico, mais sociológico: "Na boda dos pobres, são mais as vozes do que as nozes"... Pudera, que as nozes estão caras e, além disso, diz o povo,  Deus dá nozes a quem não tem dentes... Com ou sem dentes, todos os tabanqueiros têm direito a botar faladura na Tabanca Grande, sem o receio de caírem... da nogueira abaixo. Ou melhor: do poilão... Gostei da metáfora do Ilhéu de Rei. Nunca lá fui. Nem tive curiosidade em lá ir. No meu (que foi também o teu) tempo (1969/71), ainda não havia o Strela, é verdade, mas nem por isso deixámos de contar, sempre, com a asa protectora dos nossos dos nossos aviões e dos nossos pilotos...


Ironia tua, à parte, viva o bom humor entre os tabanqueiros e viva sobretudo o bom senso e o bom gosto que fazem  parte da sua/nossa cultura de tolerância. Se há provérbio que aqui não tem direito de cidadania, é aquele outro, que também poderias ter citado: "Com papas e bolos se enganam os tolos" ou "Quem não tem cão, caça com gato ou... com strela".


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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 – P7088: FAP (54): O papel da Força Aérea na Guiné nos anos de 1972 e 1973 (Gil Moutinho)



 (**) Último poste desta série > 
30 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7057: (Ex)citações (98): Ninguém ama a sua Pátria por ser grande / Mas sim por ser sua! (António Botto / José Martins)

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Guiné 63/74 – P7088: FAP (54): O papel da Força Aérea na Guiné nos anos de 1972 e 1973 (Gil Moutinho)

1. Mensagem de Gil Moutinho, ex-Fur Mil Pilav, BA12 (Guiné, 1972/73), com data de 26 de Setembro de 2010:

Caro Carlos Vinhal e Luís Graça
Como já tinha este texto pronto, envio-vos e se acharem conveniente ou não, podeis juntar à minha apresentação

Será muita informação junta?

Achei oportuno, dar uma ideia breve e resumida do papel da Força Aérea, na Guiné, nos anos 72/73, na minha óptica de Piloto Miliciano (furriel no meu caso), pois amiúde, me questionam o porquê de termos deixado de voar no período pós-Strellas.

Assim mesmo, com estas palavras. Claro que contesto veementemente pois está totalmente errada a ideia que têm e explico porquê.


Uma vista de Bissau a partir de um T6


PAPEL DA FORÇA AÉREA NOS ANOS DE 1972 E 1973

1- Até Março /Abril de 1973, o espaço aéreo da Guiné estava por nossa conta,não havendo grande oposição do IN, salvo em alguns pontos fronteiriços onde tínhamos alguns cuidados para não passar para o lado de lá, pois podíamos ser abonados. Houve alguns casos de atingidos por armas ligeiras sem grandes danos.

Cada tipo de aeronave e respectiva tripulação tinha as missões determinadas em função das suas vocações e especificidades.

O Nordatlas e o Dakota prioritariamente tranportava tropas e carga em volume elevado,também evacuações em que se justificava o seu uso e sempre só em meia dúzia de pistas no TO.

Os Fiat’s faziam apoios de fogo, a aquartelamentos que fossem abonados, bombardeamentos em zonas pré-determinadas, reconhecimentos visuais complementados por fotografia e só a presença no ar era dissuadora.

Os helicópteros eram fundamentais na guerrilha, principalmente em operações no terreno, com colocação de tropas, a sua recolha, evacuação de feridos, etc. e então o heli-canhão era terrivelmente eficaz no apoio às tropas no terreno, sendo temidos pelo IN e benvindos pela NT.

Também partilhavam os tranportes de pessoas, carga geral e evacuados, com os DO’s, principalmente em aquartelamentos sem pista.

Os mesmos DO’s, tinham algumas dezenas de pistas onde aterravam, todas diferentes e com as suas limitações operacionais, quase todas em terra batida, com inclinações, com curvas, árvores na entrada ou saída, animais, a terminar na fronteira (caso de Buruntuma onde aterrávamos e descolávamos sempre para o mesmo lado não interessando a força e direcção do vento) etc. e onde levávamos cargas diversas, tropas correio (sempre muito apreciado) etc. e as evacuações sempre que solicitado, tanto de tropas como civis.

Também fazíamos reconhecimentos visuais e de Posto de Comando Aéreo em apoio de operações em curso no terreno com chefia de graduados do Exercito, armados por vezes com dois ninhos de foguetes de 37mm para apoio imediato às mesmas.

Um T6 em Cufar

Os T6, armados com vários tipos de bombas, de fragmentação, demolição e outras, executavam missões de Bombardeamento em pré preparação de operações, demantelamento de estruturas controladas pelo IN ou em zonas previamente declaradas, por um período de tempo, como de intervenção.

Armados com foguetes (72 divididos em dois ninhos de 36, um em cada asa)dávamos apoio a colunas em permanência no ar ou aterrados numa pista próxima e em alerta máximo. Também acompanhávamos navios da Marinha permanecendo no ar até terminar o trajeto. Lembro-me do percurso entre o Geba largo até Xime.

É difícil descrever todas as missões que se executavam no TO, a memória também não está fresca.


2-Depois de Abril de 73 alteraram-se algumas coisas.

A História dos Strellas já foi descrita e dissecada suficientemente.

Quando foi abatido o Ten. Pessoa, sendo o primeiro, não tínhamos noção alguma de que arma seria e muito menos das suas características, o que nos ajudaria nas contramedidas. Nesse mesmo dia, fui um dos primeiros a fazer buscas pois estava em Aldeia Formosa noutra missão, a acompanhar a coluna de Buba para Aldeia.

Tendo sido alvejado com um primeiro míssel, e tendo escapado (ainda não tenho explicação) e o asa da parelha Fur. Carvalho alvejado com mais 2 a 4 mísseis em tiro directo, nunca seria atingido pois os rastos dos mísseis eram bastante visíveis, e isso é que foi importante pois pela primeira vez já se adivinhava que não era uma mera arma convencional, apesar de já ter havido um ou dois episódios anteriores sem consequências e até se atribuíram a outra armas.

A esta distância no tempo, penso, que nesse dia, por precipitação, inesperiência ou azelhice, esgotaram o stock de mísseis existente para os tempos que se seguiram, pois no mesmo dia os ares de Guileje e arredores foram sobrevoados por variadas aeronaves nas buscas do Pessoa, a altitudes de morte certa, e mais nenhuma foi alvejada.

O que foi observado nesse dia foi descrito no respectivo relatório de voo, obrigatório em todas as missões.

Até ao abate do Ten. Cor. Brito, nosso Chefe Operacional, não houve alterações significativas dos procedimentos de voo, não tínhamos informações seguras de que arma e as suas características, para proceder conforme.

Houve a hecatombe do dia 6 de Abril, na zona de Guidaje, onde foram abatidas três aeronaves, tendo morrido as tripulações e passageiros, Maj. Mantovani, Fur’s. Baltazar e Ferreira como pilotos.

Nos dias imediatos (2 dias?), com a morte de uma grande percentagem, num pequeno universo de pilotos na Guiné e aeronaves abatidas, sem sabermos com rigor qual a arma, as suas características, que contramedidas adoptar, em choque, e porque não éramos “Kamikase”, paramos para análise da situação e para definição das estratégias a executar. Estavam em questão a nossa segurança, eventuais passageiros e das aeronaves.

A partir destas datas, houve alterações significativas nos procedimentos e parâmetros de voo.

Parelha de T6

Os bombardeamentos de Fiat e T6 passaram a ser feitos a altitudes superiores às habituais o que lhe retirou alguma precisão.

Houve a recomendação para evitar a altitude de voo entre os ~50 pés (~15 a 20m) e os ~7500 pés (~2500m), pois eram os parâmetros de eficácia dos Strellas. Os hélis continuaram em altitudes baixas (a rapar) pois não precisavam de alguma altitude para aterrar. Nos DO’s, inicialmente subíamos em espiral à vertical das pistas, até atingir a altitude de segurança, e descíamos à vertical dos destinos. Rapidamente abandonamos esse procedimento, pois com cargas máximas, temperaturas elevada do ar e dos motores e com uma demora de 30 minutos a atingir a altitude, já apareciam alguns problemas técnicos, e começamos a rapar as bolanhas e os rios.

Aqui quando a experiência e conhecimentos do terreno eram verdes poderia haver problemas de navegação e na época seca a visibilidade também era escassa.

Nesta modalidade, as comunicações com a Sala de Operações da BA12 (Marte era o indicativo) tornaram-se difíceis e resolveu-se o problema pondo T6 no ar a altitudes elevadas que faziam ponte às comunicações com as aeronaves que andavam a rapar.

Do início de Abril de 1973 ao início de Julho não voei, entre 2 meses inoperacional, às custas de um acidente em 2 rodas e 1 mês de férias. Contudo prestei serviço de terra na sala de operações com o control das aeronaves no ar.

De Julho ao fim do ano, quando terminei a comissão, ainda fiz 161 vôos operacionais em T6 e DO’s o que perfez cerca de 215 horas de voo.

Daqui se conclui que o ritmo operacional se manteve, mesmo com a presença das novas armas no TO, com alterações dos parâmetros de voo e condicionalismos de alguns locais.

De realçar o desempenho de toda a equipa de Especialistas, das diversas áreas, que nos colocavam os aviões operacionais com todo o profissionalismo e competência.

Também as Enfermeiras Pára-quedistas que nos acompanhavam, com abnegação e profissionalismo, em inúmeras evacuações merecem o nosso reconhecimento e carinho.

Resumindo, a Força Aérea continuou a voar.

Tentei resumir, muito fica por dizer, outros podem dar a sua achega e corrigir-me, posso falhar nos pormenores e a memória não é eterna.

Gil Moutinho
Fur Pil Mil. T6’s e DO’s
1972/73
Guiné
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 30 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7060: Tabanca Grande (246): Gil Moutinho, ex-Fur Mil Pil Av, BA12 (Guiné, 1972/73)

Vd. último poste da série de 5 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 – P7082: FAP (53): Estatística das minhas missões em DO-27 e FIAT G-91 (Miguel Pessoa)

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P7060: Tabanca Grande (246): Gil Moutinho, ex-Fur Mil Pil Av, BA12 (Guiné, 1972/73)

1. Mensagem de Gil Moutinho, ex-Fur Mil Pilav, BA12 (Guiné, 1972/73), com data de 26 de Setembro de 2010:

Caros Luís Graça, Carlos Vinhal
e todos os outros

Finalmente e depois de ter recebido um honroso convite para participar neste blogue, que visito algumas vezes por semana, me apresento ao mesmo.

(i) Em 24 Junho (dia de S. João no Porto), mas no ano de 1970, já lá vão 40 anos, apresentou-se este mancebo, pouco mais que 18 verdes anos, na base da Ota onde fui incorporado.

(ii) Antes,  2 ou 3 semanas, tinha sido submetido a todo o tipo de exames e provas para acesso ao curso de pilotagem, só faltava que nos virassem do avesso.

(iii) Nesse período, a ansiedade era muita, pois todos os dias entravam e saíam candidatos, uns contentes e outros desiludidos. A taxa de reprovações era enorme. Portanto no dia 23 recebi a guia de marcha para a Ota, com o almejado APTO na mesma.

(v) Depois da apresentação na Base, deram-me licença até Outubro, onde o P2/70 começava a recruta. No primeiro dia da mesma espetaram-nos nos canais de agua e esgotos da Base, no meio de tiros com balas de borracha, para que nos manter o mais próximo dos fedores. Lá chegámos ao fim e prestámos o juramento de bandeira.

(vi) Depois, e após um pequeno período de licença, fui colocado em S. Jacinto onde iniciei o curso tendo acabado o mesmo em fins de Outubro de 1971 com a classificação de 14,14 valores.

(vii) No primeiro voo em T6, estive para desistir, imaginem!,  por causa do capacete... A cada instrutor (Sarg Aj Carvalho, o meu) calhou 3 alunos e só havia 1 capacete para todos. Acontece que me era extremamente apertado e durante esse voo, no meio da praxe habitual da acrobacia e manobras descoordenadas, só dizia mal da minha vida e no que me tinha metido. Felizmente passou.

(viii) Terminámos o curso 12 alunos: Vinhas, Abel, Teixeira, Gaioso, Chitas, Caldeira Pinto, Fialho, Geirinhas, Barreira, Corredeira, Vítor e Moutinho (eu). O Caldeira Pinto e o Vítor já faleceram de acidentes de avião.

(ix) De 8 de Novembro de 1971 a 6 de Abril de 1972 fiz a adaptação ao DO e fiz operacional em T6, na BA3.

Dezembro de 1971 > Foto de família de fim de Curso, com o Cap Cóias

(x) De 6 de Abril de 1972 a 28 de Dezembro de 1973 estive na BA12, e executei 497 missões em T6 e DO.
Bem, uma boa vintena delas foi em lazer para a praia de Bubaque.

(xi) No regresso à Metrópole, fui colocado na BA7 onde fiz o curso de instrutor em T6 de 5 de Janeiro a 27 de Março de 1974, tendo dado instrução até fins de Julho de 1975.

(xii) Nessa altura, com autorização da torre, fiz um tonneau a rapar a pista, o que não agradou a alguns superiores, alegando que dei mau exemplo aos alunos. Fui recambiado para Sintra, onde andei a pastar na fotografia aérea e em pleno PREC a fazer serviços de dia.

(xiii) Após algum tempo, ao abrigo de um qualquer artigo do RDM, pedi transferência para a unidade mais próxima da residência (BA7), e aparecendo lá, já estão a ver a surpresa dos "meus amigos".

(xiv)  Novamente em Sintra, não demorou muito a pedir a antecipação do fim do contrato. Saí a 8 de Abril de 1976.

Um T6 em Cufar

Uma vista de Bissau a partir de um T6

Parelha de T6

De DO armado com foguetes, a sobrevoar Porto Gole(?)

Cufar > Em alerta com a Enf.ª Pára-quedista Giselda Antunes


Tenho muitas boas recordações de todas estas ocasiões, que são de longe superiores às menos boas, principalmente as pessoas. Voltaria a fazer o mesmo percurso.

Acabei por fazer um historial da minha passagem pela FAP.

Até breve
Um abraço a todos
Gil Moutinho

Gondomar > Tabanca dos Melros > 3.º Convívio > 13 de Fevereiro de 2010 > O Gil Moutinho, à direita, recebendo das mãos do Coutinho e Lima um exemplar do seu livro A retirada de Guileje: a verdade dos factos, exempltar que será destinado ao "futuro museu da Tabanca dos Melros, os ECUS".


2. Comentário de CV:

Caro Gil Moutinho, bem-vindo. Resolveste em boa hora aderir à nossa Tabanca Grande, sendo tu próprio o anfitrião da famosa Tabanca dos Melros* que se reúne regularmente em Gondomar, no Choupal dos Melros, localizado em Fânzeres, Gondomar, espaço que puseste à disposição dos camaradas que aí se reunem desde Dezembro de 2009.

Não te pedimos aquela colaboração que gostaríamos que tivesses no nosso Blogue, pois sabemos que tens uma vida muito preenchida. Fica no entanto o convite para, de longe a longe, se tiveres algum tempo para nos dedicares, escrevas as tuas experiências enquanto piloto que sobrevoou o espaço da Guiné ao serviço da FAP.

Recebe um abraço de boas-vindas da tertúlia e dos editores.

O teu camarada
Carlos Vinhal
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 21 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6203: Blogues da nossa blogosfera (35): Tabanca dos Melros, com sede no Choupal dos Melros, em Fânzeres, Gondomar, aberta a todos os ECUS, ex-combatentes do ultramar...

Vd. último poste da série de 29 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7051: Tabanca Grande (245): Augusto Silva Santos, ex-Fur Mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833 (Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73)