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terça-feira, 5 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4285: Um filme da Guiné. Jorge Freire (CCaç 153, 4ª CCaç, Bissau, Gabu, Bedanda, 1961/63)...(Virgínio Briote)

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Jorge Matias Freire 

 Encontrei o Jorge Freire há dias, em Oeiras, no Alto da Barra. É o camarada mais antigo que temos no blogue e reside há muitos anos nos EUA, em Columbia, no estado da Carolina do Sul. Das memórias que guarda, diz: 

(...) A companhia de que originalmente fiz parte, quando partimos para a Guiné, no dia 26 de Maio de 1961, foi criada em Vila Real de Trás-os-Montes. (…) 

De Vila Real, todo o pessoal viajou para Lisboa de comboio e, passada uma ou duas semanas (não me lembro ao certo), partimos em dois aviões da FAP, do aeroporto de Lisboa para Bissau, onde chegámos no mesmo dia ao anoitecer.

Passámos a noite em Bissau e seguimos logo para Fulacunda, onde permaneci à volta de dois meses, após os quais chegou a minha promoção a capitão. 

De Fulacunda fui transferido para Bissau para comandar uma companhia de nativos e render o capitão Hélder Reis. Passei 4 ou 5 meses em Bissau, depois fui para o Gabu (outros 6 meses) e daí para Bedanda onde passei o resto da minha comissão. 

No dia 18 de Maio de 1963, o capitão Nelson (meu colega de curso) veio render-me. Durante os 4 dias seguintes fiz a entrega da 4ª CCaç ao Nelson e no dia 21 de Maio vim, de avião, para Bissau.

Ai estive à espera de transporte e finalmente no dia 27 de Maio parti de volta a Portugal no navio da CUF, “Ana Mafalda”. Com o passar do tempo, a memória prega-nos partidas e não tenho bem a certeza se a companhia era a CCAÇ 164 ou CCAÇ 153. 

Voltei para Portugal e fui novamente colocado na Academia Militar, nesse tempo ainda chamada Escola do Exército, onde tinha sido instrutor desde 1957 até à minha ida para a Guiné. 

Entre 1958 e 1961, tive a oportunidade de trabalhar (nas horas livres) com um tio, que tinha uma firma de serviços de engenharia e caldeiras industriais. 

Nas férias de verão, em todos esses anos, viajei para os EUA, onde passei duas a três semanas a ajudar o meu tio em assuntos relativos aos seus negócios com duas companhias no estado da Pensilvânia. Quando voltei da Guiné, uma dessas companhias ofereceu-me o cargo de gerente de operações internacionais, com uma remuneração muito difícil de recusar. 

Nos fins de Agosto de 1963 pedi a minha demissão do Exército e parti com a minha família, (mulher e duas filhas de 3 e 2 anos), para os EUA onde me encontro há mais de 45 anos. 

Desde então tirei um curso de engenharia mecânica, trabalhei para outras duas companhias e, em 1989, formei a minha própria companhia de consultaria de projectos relacionados com energia de gás, co-geração, etc. Em 2001 parei de trabalhar a tempo inteiro, e estou praticamente reformado. 

Felizmente de boa saúde, venho a Portugal, todos os anos, e aproveito para me encontrar com um bom grupo de antigos camaradas de curso.

Tenho 3 filhas, a mais nova nasceu nos Estados Unidos e, embora todas casadas, tenho apenas um neto e uma neta da filha mais velha. A filha do meio e a mais nova ainda não têm descendentes.


Jorge Freire na festa dos 50 anos de casmento.


A Guiné está-lhe bem presente na memória. Naqueles primeiros tempos da comissão, a guerra era ainda uma ameaça. Assistiu aos sinais, cortes de comunicações, roubo de navios, abatizes. Ainda antes da guerra começar, a mulher foi ter com ele. Com a guerrilha a crescer, decidiu mandar a mulher para Lisboa. Depois a guerra começou mesmo. Minas e emboscadas causaram a morte a alguns militares da sua CCaç, em Bedanda. Regressou a Lisboa, no “Ana Mafalda”, em 1964, e tomou a decisão de não continuar no activo. Convidado por um tio, emigrou para os Estados Unidos, onde iniciou uma nova vida, que lhe veio a trazer muita satisfação.

 Longe da guerra da Guiné, não deixou de acompanhar todos os anos do conflito. Camaradas do seu curso, como os actuais Generais Hugo dos Santos, António Rodrigues Areia, Adelino Coelho, António Caetano e os Coronéis João Soares (blog Do Miradouro), Costa Martinho, Maurício Silva, entre outros, a quem se foi mantendo, continuavam nas Forças Armadas. 

Há pouco mais de um ano descobriu o nosso ponto de encontro, o blogue do Luís Graça e Camaradas da Guiné, de que é leitor assíduo, e para o qual enviou um pequeno diário dos acontecimentos que viveu em 1962 e 63. Jorge Freire, entre Setembro de 1962 e finais de Maio de 1963, fez um filme da Guiné. Embora algo deteriorado pelos anos, podemos ver como era a Guiné naqueles anos.

O Gabu, Nova Lamego, a avenida principal, um domingo à tarde com as famílias, os esquilos amestrados, a mulher do Jorge com a filha do 1º sargento da companhia, mulheres à pesca de camarão, a operação de lavagem das roupas, ou como bater bem com as peças de roupa nas pedras, as bajudas e os meninos a brincar na água, a fonte de água, o grande régulo Fula, a mulher mais nova e a mais velha, aparentemente amigáveis uma com a outra, os netos, os trajes de cerimónia, o alfaiate da terra, o campo de aviação do Gabu e imagens do ar, na viagem para Bissau no Dornier.

Em Bissau, o render da guarda ao Palácio com a população a assistir e o regresso ao Gabu. A visita do Jorge aos pelotões destacados, no marco da fronteira com a Guiné-Conackry, em Buruntuma, a passagem em Mule (ponte) Blassi e o regresso a Bissau num barco comercial, com imagens do piloto da embarcação.

E depois, Bedanda, o “aquartelamento”, as pirogas no Cumbijã, a construção de instalações, os alferes da companhia (4ª CCaç, um dos quais viria a morrer em combate, dias depois), imagens filmadas antes da saída de uma patrulha, um prisioneiro amarrado que terá, durante uma emboscada, morto um dos soldados da companhia.

Patrulhas no Cumbijã, os tarrafos ao lado, os tarrafos dos nossos descontentamentos, soldados com Mausers, uma secção destacada em Chugué, a transferência da população Fula de Imberém para Bedanda, as festas que se seguiram, bajudas com as belezas à mostra…

Comissão terminada, o regresso a Bissau e depois “eu vou chamar-te Pátria minha”, na voz do Carlos do Carmo, enquanto os olhos se espraiam lá do alto pelos rios e ribeiros, as margens, as florestas, as lalas. Imagens que era costume, alguns de nós, registarem, quem sabe com o receio de nunca mais nos lembrarmos… Em Bissalanca, um MG branco ou creme rodeado de especialistas da FAP, a torre de controlo, a visita à Guiné dos adidos comercial e militar, o coronel Jeffries, e as últimas vistas de Bissau no último fim de semana em Bissau, antes do regresso à pátria.

A fortaleza da Amura, o porto de Bissau, o desembarque no cais e o desfile de um pelotão (Caçadores?) de nativos, o capitão Simões, tão falado pelo Amadu Bailo Djaló nos seus escritos e, no dia do embarque, no “Ana Mafalda”, em 26 de Maio de 1963, o movimento em dias de movimento de navios, o cais de embarque nº 2, o navio em manobras, a afastar-se, com a Amura e Bissau a recortarem-se, cada vez mais pequenos. 

 Depois, o Atlântico, as Canárias no horizonte, até, finalmente começarem a ver a costa, com Lisboa cada vez maior, no Tejo de tantas entradas e saídas, a volta ao Bugio, o jovem capitão Jorge Matias Freire, à civil, de fato à anos 60 e, Lisboa tão perto que já se via gente à espera deles, de lenços no ar, a Torre de Belém, o Monumento aos Descobrimentos, e, como um agradecimento, as últimas imagens são do capitão, do imediato e do médico do “Ana Mafalda”. 

 A guerra na Guiné ainda estava muito, mesmo muito no princípio. Mas para os quatro soldados, um sargento e um alferes da companhia do capitão Jorge Freire, em Bedanda, a guerra tinha acabado. É, com a lembrança deles, que o Jorge Freire termina este pequeno filme, que, logo que saiba como devo fazer, vou incluir numa das nossas páginas, para completar o desejo do Jorge em o oferecer a todos os camaradas.

__________ 

Notas de vb: 

1. Artigos do Jorge Freire em





2. Informação do José Martins: 

A Companhia de Caçadores a referir é a 153 (a 164 não existiu na Guiné). Foi mobilizada pelo RI 13 de Vila Real (...) comandada pelo Capitão de Infantaria José dos Santos Carreto Curto. 

Embarcou para Bissau em 27Mai61 (via aérea) e regressou em 24Jul63. 

A 26Jul61 foi colocada em Fulacunda destacando forças para Empada, Cufar, Catió e Bolama, por periodos variaveis. 

A 7Fev62 foi rendida pela CCAÇ 274 e foi colocada em Bissau. A 11Fev62 rendeu a CCAÇ 74 em Bissau. A 21Jul63 foi substituida pela CCAÇ 510, ficando a aguardar embarque.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3731: Em busca de... (61): O Capitão José Curto, comandante da CCAÇ 153 (Fulacunda, 1961/1963) (José Martins)



Brsão da CCAÇ 153 (Fulacunda, 1961/63)


1. Mensagem do José Martins, a quem pedimos um pequena pesquisa sobre o Cap Curto (*)

Bom dia:

Sobre o Capitão Curto, na pesquisa na listagem das unidades (**), apenas encontrei dois:

(i) Capitão de Infantaria José dos Santos Carreto Curto, da CCAÇ 153 - 1961/1963

(ii) Capitão SCGE José Curto - Companhia Transportes 2642 - 1969/1971

Quanto ao Renato Jorge [George] Cardoso Matias Freire (***), que esteve na CCaç 153 - mas tambem comandou a 3ª CCaç I (a antecessora dos Gatos Pretos) e a 4ª CCaç I, antecessora da CCaç 6, do Hugo Moura Ferreira - , merece um pouco mais de atenção, para tentarmos avivar as memórias com a conjugação dos textos e dos escritos do George.

Infelizmente estas unidades não têm registos no AHM [Arquivo Histórico Militar].

Um abraço

José Martins



2. Ficha de unidade > Companhia de Caçadores nº 153

Identificação CCaç 153
Unidade Mob: RI 13 - Vila Real
Cmdt: Cap Inf José dos Santos Carreto Curto
 Partida: Embarque em 27Mai61; desembarque em 27Mai61 | Regresso: Embarque em 24Jul63

Síntese da Actividade Operacional

Inicialmente, ficou colocada temporariamente em Bissau, integrada nas forças à disposição do CTIG.

Em 26Jul61 foi colocada em Fulacunda, então ocupada militarmente pela primeira vez, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCaç 237, com vista à realização de acções de segurança e controlo das populações e procurando impedir a instalação de elementos inimigos na zona. 

Destacou ainda um pelotão para ocupação militar de Empada, onde se manteve até ser substituído por igual força da CCaç 84, em 23Fev62 e manteve ainda forças destacadas em Cufar, Catió e Bolama, por períodos variáveis.

Em 7Fev63, foi rendida pela CCaç 274 e foi colocada em Bissau, onde substituíu, em11Fev62, a CCaç 74 no dispositivo do BCaç 236, com vista a cooperar na segurança e protecção das instalações e das populações da área.

Em 21Ju163, foi substituída em Bissau pela CCaç 510, a fim de efectuar o embarque de regresso.

Observações: Não tem História da Unidade.
____________

Fonte: Excerto de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas de unidade: Tomo II - Guiné - (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002), p. 309

___________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 12 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3726: Em busca de... (61): O Capitão Curto, que esteve no cerco de Darsalame, em 1963 (Luís Graça)

(**) Estado-Maior do Exército - Comissão para o Estudo das Campanhas de África - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África [1961-1974] - 7º Volume - Fichas das Unidades - Tomo II - Guiné, 1ª edição, Lisboa 2002 .


(***) Vd. postes de:

11 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3724: História de Vida (13): 2ª Parte do Diário do Cmdt da 4ª CCaç (Fulacunda, N. Lamego, Bedanda): Abril de 1963 (George Freire)

10 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3717: História de Vida (12): Completamento de dados (George Freire)

29 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3681: Tabanca Grande (106): George Freire, ex-Comandante da 4ª CCaç (Fulacunda, Bissau, N. Lamego, Bedanda). Maio 1961/Maio 1963)

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3726: Em busca de... (61): O Capitão Curto, que esteve no cerco de Darsalame, em meados de 1962


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento Osvaldo Vieira, nas proximidades de Madina do Cantanhez, na picada entre Iemberem e Cabedu > Simpósio Internacional de Guiledje > Domingo, de manhã, 2 de Março de 2008 > Visita guiada e animada por antigos guerrilheiros e população local, ao Acampamento (Baraca) Osvaldo Vieira, outro dos momentos gratificantes da nossa viagem à pátria de Amílcar Cabral.

Vídeo (4' 52 ''): © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Alojado em: You Tube >Nhabijoes


1. Escreveu George Freire (*), um antigo oficial do exército português, antecipadamente reformado como capitão, hoje engenheiro e empesário, a viver há 45 anos nos EUA (e, além disso, do mesmo curso da Escola do Exército que o meu antigo comandante de companhia, Carlos Brito) (**):

(...) "A companhia que originalmente fiz parte quando partimos para a Guiné, no dia 26 de Maio de 1961, foi criada em Vila Real de Trás-os-Montes, onde eu ainda tenente, segundo comandante e o capitão Curto, comandante (do curso um ano mais velho do que o meu), passámos semanas a organizá-la.

(…) Comecei em Fulacunda como tenente na Companhia 164 [julgamos tratar-se de lapso, deve ser 153], comandada pelo capitão Curto. Passados dois meses, fui promovido a capitão e segui para Bissau como comandante de uma Companhia de nativos. Daí passei para Nova Lamego (Gabu), como comandante de uma Companhia mista de nativos e tropas brancas. Nos últimos 6 meses estive em Bedanda como comandante da 4ª CCaç. Foi nessa altura que as coisas começaram a aquecer de verdade" (...).


2. Na vídeo acima apresentado, um dos homens grandes do Cantanhez conta como foram os primórdioos da luta... Infelizmente não consegui fixar o seu nome. Creio que é nalu. Entrou no mato, como ele diz, em 1962. Ou seja: passou à clandestinidade, depois de aderir ao PAIGC.

Estava convencido que a designação (actual) deste acampamento não teria nada a ver a verdade fáctica, histórica: seria  apenas uma homenagem, póstuma, a um dos heróis do PAIGC (cujos restos mortais repousam na Amura, a antiga fortaleza colonial de Bissau dos Séculos XVIII-XIX, hoje transformada em panteão nacional)... 

De facto, vim depois a sabê-lo, Osvaldo Vieira não actuou só no Óio (Frente norte), também passou pelo Cantanhez (Frente sul). Esta designação é, pois, correcta.

"Éramos só sete nessa altura. O comandante do grupo era o José Condição. Ficámos no mato de Caboxanque, aqui perto. Numa barraca, parecida com esta"... 

Fala num crioulo difícil. O Pepito vai traduzindo. Vê-se que nem sempre percebe o antigo guerrilheiro...

E a narrativa continua: "Até que chegou à região de Tombali o capitão Curto"...

Atenção, diz o Pepito, não confundir com o outro Capitão Curto, que teria andado a espalhar o terror no chão manjaco... O Pepito devia estar a referir-se ao cap António Curto (?), comandante da CCAÇ 6, conhecida pela Companhia Manjaca de Bachile …

O Cap Curto, que terá actuado na região  do Tombali era outro,  mas também era dos duros, a acreditar na versão deste velho nalu.  Lenda ou não, o seu nome - quarenta e cinco anos depois - é ainda  lembrado no Cantanhez, por razões que não serão propriamente piedosas...

Enfim, não tive, no Cantanhez, entre 1 e 3 de Março de 2008, oportunidade de saber mais pormenores sobre eventuais métodos de trabalho da chamada contra-subversão,  resultantes da colaboração entre Exército, PIDE, polícia administrativa, etc., nos anos de chumbo que antecederam a guerra e nos primeiros tempos de guerra...

Também não achei apropriado o momento, que era de festa e de reconcialição entre inimigos de outrora, para falar  de homens que, a confirmarem-se os seus métodos de actuação, não podem ser tomados como representativos do exército português, e muito menos da generalidade dos militares portugueses que fizeram a guerra, entre 1961 e 1974, e onde todos nós nos incluímos....

E prossegue a narrativa, de resto muito mais extensa do que sugere a duração do nosso vídeo. Na mesma altura apareceu o 'Nino'. O tal cap Curto, de Fulacunda - que deve ser o mesmo a que refere o nosso camarada George Freire, ou seja, o comandante da CCAÇ 153 - cercou Darsalame, entrou aos tiros na tabanca, mandou toda a gente pôr as mãos na cabeça… 

Das cinco da tarde às cinco da manhã, a aldeia esteve cercada e as pessoas foram interrogadas… Os mais jovens acabaram por ir pedir apoio à baraca onde estavam acampados os guerrilheiros do PAIGC, diz o nosso entrevistado. Guerrilheiros ? Bom, deve ser ironia... Eram camponeses, mal treinados e pior armados...

O 'Nino' ficou muito preocupado e quis saber o que se passava. Reuniu os camaradas, entre eles o 'Mão de Ferro', com a missão de ir a Darsalame saber o que se estava a passar e tentar ajudar o povo. Não deixou ir o José Condição. Mas, quando lá chegarm, já o grupo de combate do cap Curto tinha partido...

Foi também nessa altura que o grupo, que tinha aumentado, já não cabia em Caboxanque.

“Este mato é pequeno. Não vamos ficar aqui, disse eu… E foi então que fomos para o mato de Cantomboi” (um dos catorze actuais matos do Canhanez)…


3. Pergunta do editor L. G. ao George Freire, antigo comandante da 4ª CCAÇ (Bedanda, 1963) depois de ouvir com atenção o vídeo (que foi feito por mim, na visita que fiz ao Cantanhez em 2 de Março de 2008):

(i) Confirmas que este tal cap Curto, que fez o cerco a Darsalame para identificar elementos suspeitos de serem simpatizantes ou militantes do PAIGC, era o teu camarada, comandante da CCAÇ 164 (ou da CCAÇ 153, como me parece mais correcto) ?

(ii) Estes acontecimentos serão contemporâneos da tua estadia em Bedanda, à frente da 4ª CCaç ?

(iii) Ainda te tembras de mais peripécias, no sul, em que ele (e os seus homens) tenha estado envolvido, da altura em que tu estiveste em Bedanda, à frente da 4ª CCAÇ ?

(iv) No sul, no Cantanhez, vocês faziam prisioneiros e entregavam-nos ao Batalhão. Ouviste falar desse tal cap António Curto (?) que terá actuado no chão manjaco ? Seria também do teu tempo ?

(v) O que será feito deste teu antigo camarada, que comandou a companhia em que foste tenente, que esteve em Fulacunda, e que tu dizes que é a CCAÇ 164 (confusão tua, deve tratar-se da  CCAÇ 153) ? Ainda será vivo ? Tens notícia dele ?

Obrigado por nos disponibilizares o que restou do teu diário de guerra e do teu álbum fotográfico. É um valioso contributo para um melhor conhecimento do início da guerra no sul da Guiné, em pleno coração do mítico Cantanhez.

Estamos hoje em condições de falar, o mais desapaixonadamente possível, da guerra da Guiné, das suas peripécias e dos seus protagonistas, sem termos que fazer juízos de valor (moral ou outro) sobre o comportamento dos actores individuais... 

É importante recolher os depoimentos de actores e testemunhas dos acontecimentos. Nunca faremos aqui julgamentos apriorísticos de ninguém, e muito menos sumários...

Ficarei grato, eu - e os demais amigos e camaradas da Guiné -, se nos deres algumas informações e esclarecimentos adicionais sobre esta época, e os seus protagonistas, de quem temos muito poucas informações.
_____

Notas de L.G.:

(*) Vd. postes de:

11 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3724: História de Vida (13): 2ª Parte do Diário do Cmdt da 4ª CCaç (Fulacunda, N. Lamego, Bedanda): Abril de 1963 (George Freire)

10 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3717: História de Vida (12): Completamento de dados (George Freire)

29 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3681: Tabanca Grande (106): George Freire, ex-Comandante da 4ª CCaç (Fulacunda, Bissau, N. Lamego, Bedanda). Maio 1961/Maio 1963)

(**)Vd. poste de 29 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3683: Em busca de... (60): Ex-Cap Carlos Alberto M. Brito, comandante da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) (Gabriel Gonçalves)

domingo, 11 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3724: História de Vida (21): 2ª Parte do Diário do Cmdt da 4ª CCAÇ: Bedanda, Março de 1963 (George Freire)

Mensagem do George Freire, de 30 de Dezembro de 2008

Caro Luís,

Obrigado pelo e-mail e obrigado pela publicação. Não há correcções a fazer.

Infelizmente todas as fotos que tinha da Guiné foram extraviadas, contudo tenho um filme que consegui passar para o meu computador.



Num "processo complicado" tirei fotos do ecrã do computador com a minha máquina digital. As fotos estão um bocado fora de foco, mas é o melhor que consegui fazer.



Durante o Natal de 1961 a minha mulher veio passar um mês a Bissau onde eu estava na altura a comandar uma companhia de nativos. Em Julho de 1962 a minha mulher voltou para a Guiné e passou quase 3 meses no Gabu (Nova Lamego), onde eu comandei uma companhia mista. Do Gabu fui transferido para Bedanda onde ela ainda passou quase um mês, mas nos fins de Dezembro tive que a mandar de volta a Portugal pois as coisas começaram a aquecer demais.

Cadetes da Escola do Exército, em manobras (Sª Margarida ?).

A propósito, as fotos que mandei da última vez, estávamos no último ano do curso na Gomes Freire. O nosso curso foi o segundo a frequentar a EE (Escola do Exército) na Amadora (no primeiro ano). Não me lembro do nome do segundo comandante da EE que está na foto, mas já lá vai tanto tempo...

Seguem mais detalhes do meu diário:

1/3/63:

Hoje pela 09:30 e mais tarde pelas 14:30, pessoal do pelotão do Cabedú sofreu emboscadas respectivamente entre Cafal e Cafine e no cruzamento de Cabante. Na segunda emboscada sofremos um morto e um ferido. Uma viatura Chaimite foi destruída na primeira emboscada. Seguiram dois pelotões reforçados para os locais das emboscadas.

Em Impungueda uma patrulha da CCaç 859 travou contacto com os terroristas e feriu alguns e os outros conseguiram fugir.

2/3/63:

Durante parte do dia de ontem e durante todo o dia de hoje as nossas forças percorreram todo o terreno nas zonas das emboscadas. Encontraram vestígios dos atacantes, fizeram um prisioneiro que tinha tomado parte numa das emboscadas, mas nada mais. O soldado ferido seguiu de avião para Bissau e o morto foi enterrado no cemitério de Bedanda.

O prisioneiro foi interrogado mas poucas informações conseguimos. Foi enviado para o Batalhão para ser interrogado.


3/3/63:


O Comandante Militar veio cá hoje de avião com o segundo Comandante do Batalhão 356. Depois de informados dos acontecimentos dos últimos dias, seguiram para Catió.

4/3/63:

Recebemos informação do batalhão de um possível ataque planeado pelos terroristas a Caboxanque e Emberem [Iemberém ]. Enviei dois pelotões para Emberem e Cadique, ponto de onde, segundo a informação, os terroristas se estavam a organizar para os ataques. Em Caboxanque executámos acções por um pelotão da minha companhia e outro da CCaç 273.

6/3/63:

Fizemos um reconhecimento à zona de Emberem. O alferes Gonçalves encarregou-se de falar aos chefes Fulas de Emberem e discutir a possível mudança das suas tabancas para Bedanda. Há toda a vantagem dessas mudanças para incrementar a protecção da população Fula. Poderemos também formar aqui e em Bedanda um pelotão de uns 40 Fulas, o que nos poderá ajudar substancialmente na segurança da área e aliviar as nossas forças. Os chefes Fulas aceitaram a nossa oferta de braços abertos.

7/3/63:

Começámos o transporte da população Fula de Emberem. Usámos 10 viaturas neste movimento. Calculamos que serão necessárias 3 mais viagens semelhantes.

8/3/63:

Continuação do transporte dos Fulas. Seguiram dois pelotões da CCaç 273 para a região de Salancur.

9/3/63:

Continuação do transporte dos Fulas. Os pelotões da CCaç 273 continuaram a operar na região de Salancur.

Elementos Fulas de Emberem conseguiram aprisionar um nativo que sabiam estava ligado ao movimento terrorista. Quando este nativo (Balanta) foi interrogado aqui na companhia, deu-nos a informação de que elementos terroristas estão no mato de Boche Falace a prepararem um ataque àquela povoação. Enviámos um pelotão da CCaç 273 para a área.

Recebemos também informação, por elementos do Chugué, que um grupo de terroristas bem armado estava concentrado do outro lado da fronteira com a Guiné Francesa, perto da zona de Banta-Sida.

Mais informações recebidas do pelotão de Emberem: cerca de 300 elementos terroristas estavam a preparar um ataque à nossa companhia em Bedanda na madrugada de amanhã.
Dei ordens para que todo o nosso pessoal, (estávamos um pouco desfalcados pois tínhamos 2 pelotões em operações longe de Bedanda), estar em alerta em posições defensivas, já há muito preparadas para eventualidades semelhantes. Foi uma longa noite de nervos, mas o ataque nunca se deu.

10 e 11/3/63:

Acabámos o transporte dos Fulas de Emberem para Bedanda, contudo ainda teremos que transportar abastecimentos e víveres que ainda lá ficaram, em especial uma grande quantidade de arroz. Os Fulas fizeram um outro prisioneiro que, após interrogado, nos deu boas informações sobre o grupo terrorista que tem actuado na zona de Boche Falace: nomes de comandantes, armamentos e locais aproximados do grupo. Este prisioneiro foi enviado para o batalhão.

13/3/63:

Recebemos novas informações sobre um outro possível ataque ao nosso aquartelamento no dia 16 ou 17.

O Benfica venceu o Dukla de Praga para a taça dos campeões europeus. Ouvimos o relato no rádio.

15/3/63:

Chegou um pelotão da CCaç 417 que seguirá para Caboxanque. Enviei uma grande coluna de 10 viaturas para Emberem para trazer o resto dos víveres pertencentes aos Fulas.

16/3/63:

O pelotão da CCaç 417 seguiu para Caboxanque para render o Pelotão 859.

18/3/63:

Chegou o Pelotão 859 que seguirá para Bafatá. A CCaç 273 partiu para Emberem em operações, não se sabendo por quantos dias.

19/3/63:

Visita do major Pina para discutir os pormenores do movimento dos pelotões 859, 870 e 871 para Bafatá. Eu irei a comandar a coluna e voltarei para Bedanda de avião.

20/3/63:

O alferes Mendes seguiu com um pelotão para o Chugué dentro do novo plano de ordenamento dos dispositivos.

22/3/63:

Cabedú enviou uma mensagem informando que os terroristas estavam a planear uma emboscada às viaturas da CCaç 273 que se tinham deslocado para a região de Darsalame. Enviei imediatamente um rádio para o capitão Gaspar com todos os detalhes da informação.

23/3/63:

Chegou outro pelotão da CCaç 417. Seguirá amanhã para Cabedú para render o Pelotão 871, que virá para Bedanda e depois para Bafatá na minha coluna.

(...)

O meu diário, cobrindo os acontecimentos que se passaram entre a minha partida para Bafatá com a coluna, a minha vinda de retorno a Bedanda e as semanas até ao dia 18 de Maio, extraviou-se, infelizmente.

Lembro-me de alguns detalhes de possíveis ataques a Bedanda que, felizmente, nunca se concretizaram. Nós estávamos muito bem preparados, com todo o terreno à volta do aquartelamento (cerca de uns 150 metros), completamente limpo de arvoredo e vegetação.

Tínhamos os morteiros de 60 todos treinados nas áreas prováveis de ataque, além de explosivos enterrados e comandados à distância. Bem no fundo, eu estava com esperança de que os terroristas tentassem um ataque, pois seriam totalmente aniquilados, mas nunca aconteceu, possivelmente porque eles sabiam que tal acção seria muito difícil e arriscada.

No dia 18 de Maio, o capitão Nelson (meu colega de curso) veio render-me. Durante os 4 dias seguintes fiz a entrega da 4ª CCaç ao Nelson e no dia 21 de Maio segui de avião para Bissau.

Ai estive à espera de transporte e finalmente no dia 27 de Maio parti de volta a Portugal no navio da CUF “Ana Mafalda”.


O resto é história.

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Notas de vb:

1. Artigos de George Freire, o nosso "Mais Velho", em

10 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3717: História de Vida (12): Completamento de dados (George Freire)

29 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3681: Tabanca Grande (106): George Freire, ex-Comandante da 4ª CCaç (Fulacunda, Bissau, N. Lamego, Bedanda). Maio 1961/Maio 1963)

2. Blogue de George Freire (informática e electrónica): 

sábado, 10 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3717: História de Vida (20): Completamento de dados (George Freire)

1. Em 31 de Dezembro de 2008, foi enviada esta mensagem a George Freire (*):

Caro camarada George Freire :

Bem-vindo ao nosso Blogue. Espero que nos conte coisas do seu tempo que é coincidente com o início da Guerra na Guiné.

Temos poucos camaradas desse tempo a escrever, pois a imensa maioria não domina estas modernices da informática.

Venho ao seu contacto, porque entre várias funções faço o registo dos tertulianos e faço-o com o mínimo de informações de ordem militar, o mais correctas possível.
Assim peço-lhe que me diga com que posto passou à Reforma. Capitão? A sua primeira Unidade, Companhia 164, era CCAÇ ou tinha outra designação?

O resto, sei que esteve lá entre 1961 e 1963, andou por Fulacunda, Nova Lamego e Bedanda.

Deixo-lhe um grande abraço e votos de um Ano Novo pleno de saúde, junto dos que lhe são mais queridos.

Este camarada que fica ao seu dispôr,
arlos Vinhal
Co-editor do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné



2. No mesmo dia era recebida esta resposta do nosso camarada George Freire, Cap Ref, CCAÇ 153 e 4.ª CCAÇ, Fulacunda, Nova Lamego e Bedanda, 1961/63.

Caro Carlos Vinhal,

Obrigado pelo e-mail. Como já tinha dito ao Luís Graça, tenho seguido com grande interesse o vosso Blog.

Achei-o por acaso, pois também sigo o Blog do João Soares, (http://www.domirante.blogspot.com/), meu camarada de curso e agora coronel na reforma. Um dos seguidores deste Blog é o António Manuel Marques Lopes, o qual segue o vosso Blog Luís Graça & Camaradas da Guiné. Foi assim que vos descobri.

Ontem enviei um novo e-mail ao Luís Graça, com mais entradas do meu diário e algumas fotografias, (se não muito boas), e não sei se ele recebeu este e-mail. Tenho que desculpar a soletração, mas é difícil escrever no meu computador sem usar os acentos graves, agudos, tiles, circunflexos, etc. o que torna o texto às vezes difícil de ler. Contudo o Luís fez a correcção do texto, como devia ser.

Agora quanto às tuas perguntas:

A companhia que originalmente fiz parte quando partimos para a Guiné, no dia 26 de Maio de 1961, foi criada em Vila Real de Trás-os-Montes, onde eu ainda tenente, segundo comandante e o capitão Curto, comandante, (do curso um ano mais velho do que o meu), passámos semanas a organizar a companhia.

De Vila Real todo o pessoal viajou para Lisboa de comboio e passados talvez uma ou duas semanas, partimos de avião, (dois aviões transportes da FA), do aeroporto de Lisboa para Bissau, onde chegámos no mesmo dia ao anoitecer. Com o passar do tempo, a memória prega-nos partidas e não tenho bem a certeza se a companhia era a CCAÇ 164 ou CCAÇ 153.

De Bissau, onde passámos a noite, seguimos logo para Fulacunda, onde permaneci à volta de dois meses, após os quais chegou a minha promoção a capitão. De Fulacunda fui transferido para Bissau para comandar uma companhia de nativos e render o capitão Helder Reis. Passei 4 ou 5 meses em Bissau, daí para o Gabu (outros 6 meses) e daí para Bedanda onde passei o resto da minha comissão.

Voltei para Portugal e fui novamente colocado na Academia Militar, (nesse tempo ainda chamada Escola do Exército), onde tinha sido instrutor desde 1957 até à minha ida para a Guiné.

Durante os anos de 1958 até 1961, tive a oportunidade de trabalhar (nas horas livres) com um tio direito, que tinha uma firma de serviços de engenharia e caldeiras industriais. Durante as férias de verão todos esses anos viajei aos EUA duas ou três semanas para ajudar o meu tio em assuntos relativos aos seus negócios com duas companhias no estada da Pensilvânia.

Quando voltei da Guiné, uma dessas companhias ofereceu-me uma posição, (com o título de gerente de operações internacionais), e com uma remuneração muito difícil de recusar.

Nos fins de Agosto pedi a minha demissão e parti com a minha família, (mulher e duas filhas de 3 e 2 anos), para os EUA onde me encontro faz este ano 45 anos. Desde então tirei um curso de engenharia mecânica, trabalhei para outras duas companhias e, em 1989, formei a minha própria companhia de consultaria de projectos relacionados com energia de gás, co-geração, etc.

Em 2001 parei de trabalhar full time, e estou basicamente reformado. Felizmente de boa saúde, vou a Portugal todos os anos onde me encontro com um bom grupo de antigos camaradas de curso e família. Tenho 3 filhas, a mais nova nasceu aqui, embora todas casadas, somente tenho um neto e uma neta da filha mais velha. A filha do meio e a mais nova não têm descendentes.

Comecei há pouco um Blog dedicado a ajudar amigos e quem quer que o siga, sobre problemas de computadores:

http://whatisyourquestionblog.blogspot.com/ (faz-lhe uma visita!)




Um Bom Ano Novo para todos vocês e famílias e um forte abraço.
George Freire

3. Comentário de CV

É sempre com algum orgulho que publicamos Histórias de Vida, quando elas coincidem com histórias de êxito e principalmente de compatriotas que na diáspora se distinguem pelo seu trabalho e emprendedorismo.

O nosso camarada George Freire é um caso de sucesso nos States, onde há muitas décadas decidiu viver. Longa vida para ele para desfrutar do repouso do guerreiro.

Com respeito à dificuldade em escrever-nos, caro George, não há problemas, pois temos imensos camaradas a residir no estrangeiro e o problema põe-se igualmente para todos. Nós cá nos comprometemos a tornar os textos em português de Portugal.

Já fui espreitar o teu utilíssimo blogue, mas como o meu inglês é muito básico, não consigo tirar partido dele. No entanto aconselho quem tem alguma desenvoltura na língua de Sua Majestade a visitá-lo.

Julgo que a tua Companhia original seria a CCAÇ 153 que foi formada em Vila Real. Da 164 não tenho registos.

Daqui de Portugal, para ti, um abraço e até um possível encontro.
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Notas de CV

(*) Vd. poste de 29 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3681: Tabanca Grande (106): George Freire, ex-Comandante da 4ª CCaç (Fulacunda, Bissau, N. Lamego, Bedanda). Maio 1961/Maio 1963)

Vd. último poste da série de 30 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3685: História da CCAÇ 2679 (11): Encontro imediato e estórias contemporâneas (José Manuel Dinis)

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3683: Em busca de... (60): Ex-Cap Carlos Alberto M. Brito, comandante da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) (Gabriel Gonçalves)



Curso finalista da Escola do Exército (hoje, Academia Militar) do ano de 1955, do qual faziam parte, além do nosso membro da nossa Tabanca Grande, George Freire, de 75 anos de idade, residente nos EUA, antigo comandante da 4ª CCAÇ - Fulacunda, Bissau, Nova Lamego Bedanda, Maio de 1961/ Maio de 1963 - , os seguintes oficiais reformados do exército português: Generais Hugo dos Santos, António Rodrigues Areia, Adelino Coelho e António Caetano; coronéis João Soares, Costa Martinho e Maurício Silva, entre tantos outros.

De acordo com o nosso camarada e amigo Gabriel Gonçalves, o terceiro elemento da foto, a contar da direita (e assinalado por nós com um rectângulo a vermelho), seria o futuro Cap Inf Carlos Brito, hoje coronel. Será mesmo ? Daqui este pedido de busca... (**).

Foto: © George Freire / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008). Direitos reservados

Guiné > Zona Leste > Estrada Xime- Bambadinca > 1969 > Carlos Alberto Machado Brito, Cap Inf nº 50156311 da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71).

"Era uma um homem afável e civilizado no trato, como poucos, não tendo nada a ver com a imagem (negativa) que alguns de nós, milicianos, tínhamos dos oficiais do QP que conhecemos ao lono da nossa carreira militar de quase três anos... Com os seus 37 anos, e três comissões no Ultramar (Índia, Moçambique e Guiné), foi tão explorado pelo comando do Sector L1 (no tempo do BCAÇ 2852 e do BART 2917) como os seus milicianos e os seus soldados, da Metrópole ou do TO da Guiné. No final da comissão na Guiné, lá ganhou, com justiça, os galões de major. Em Fevereiro de 1971, se não me engano. Carlos Brito é hoje coronel e vive em Braga. Passou pela GNR. Já em tempos formulei o desejo - que hoje reitero - de o voltar a ver, bem de saúde e, até por que não, como membro desta tertúlia... Revi-o apenas em 1994, em Fão, Esposende". (LG).

Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados

1. Pergunta do Gabriel Gonçalves, ex-1º Cabo Cripto da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel e Banbadinca, 1969/71) (*):

Caro George Freire, os meus cumprimentos e seja bem vindo. Gostaria de lhe perguntar se na 2ª foto do curso, o terceiro a contar da nossa direita não é o Capitão Brito, comandante da minha CCAÇ 2590/CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71.

Um abraço
Gabriel Gonçalves
ex-1º Cabo Op Critpo


2. A propósito do novo membro da nossa Tabanca Grande (*), escreveu-me o Cor Art Ref Coutinho e Lima:

Caro Luís:

Acabei de ler o mail do George Freire. Pelos dados que ele indica, é do meu tempo da então Escola do Exército (1 ano mais antigo) e, seguramente de Infantaria; confesso que não o reconheci.

Segundo a sua descrição, terminou a comissão em Maio de 1963, isto é dois meses antes de eu ter iniciado a minha 1ª. Comissão, como Comandante da CART 494, que em Setembro de 1963 ocupou Ganjola (sector de CATIÓ). Nesta altura era ainda Oficial de Operações do Batalhão de Catió, o Capitão Re1lvas e Comandante de Batalhão o Ten-Cor Delgadio,  o tal que ficou chateado por não ter sido consultado sobre o apoio aéreo, tendo prescindido deste, com os resultados que são relatados. 

Sugiro que transmitas o meu email ao George Freire porque , certamente, poderemos trocar informações sobre aqueles tempos e aquela região do Sul da Guiné.

Continuação de boas férias e Boas Entradas.

Um grande abraço

Coutinho e Lima

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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 29 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3681: Tabanca Grande (106): George Freire, ex-Comandante da 4ªCCaç (Fulacunda, Bissau, N. Lamego, Bedanda). Maio 1961/Maio 1963)

(**) Vd. último poste desta série > 28 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3674: Em busca de... (59): Ex-combatentes do BCAÇ 4616/73 (Manuel Rebocho)

Guiné 63/74 - P3681: Tabanca Grande (106): George Freire, ex-Comandante da 4ª CCaç (Fulacunda, Bissau, N. Lamego, Bedanda, 1961/63)

Mensagem de George Freire, de 21 de Dezembro de 2008

O vosso Blog Luís Graça e Camaradas da Guiné

Caro Luís Graça,

Tenho seguido com interesse o teu blog Luís Graça & Camaradas da Guiné.

Sou um pouco mais velho do que tu, (fiz 75 este ano). Formei-me na Academia Militar, (nesses tempos com o nome Escola do Exército), no ano de 1955. Entre outros camaradas de curso e bons amigos de hoje e, claro, reformados: Generais Hugo dos Santos, António Rodrigues Areia, Adelino Coelho, António Caetano, Coronel João Soares, (famoso pelo seu blog Do Miradouro), Coronéis Costa Martinho, Maurício Silva, e tantos outros.

Servi na Guiné de 26 de Maio de 1961 a 26 de Maio de 1963.

Nesses tempos as coisas não começaram a aquecer até princípios de 1962.

Comecei em Fulacunda como Tenente na Companhia 164 , comandada pelo Capitão Curto. Passados dois meses, fui promovido a Capitão e segui para Bissau como comandante de uma Companhia de nativos. Daí passei para Nova Lamego (Gabu), como comandante de uma Companhia mista de nativos e tropas brancas. Nos últimos 6 meses estive em Bedanda como comandante da 4ªCCaç. Foi nessa altura que as coisas começaram a aquecer de verdade.

Hoje vivo nos Estados Unidos da América, há já 40 e tal anos.

Vou a Portugal todos os anos onde me encontro com velhos amigos do meu curso e com família chegada que ainda felizmente se encontram bem.

Aqui seguem 3 fotos, duas do ano de formatura em 1955 e uma actual tirada no passado mês de Maio em Lisboa.





Com os meus amigos e antigos camaradas Hugo dos Santos e Antonio Rodrigues Areia. Eu estou na frente do lado direito da foto. O meu primo Marcel Mexia está atrás, no lado direito.

O meu Diário da Guiné

Como história, transcrevo partes de um diário que encontrei no meio de papelada antiga numa gaveta da minha secretária. A primeira entrada no diário foi no dia 31 de Janeiro de 1963 e a última, no dia 28 de Maio do mesmo ano.

Aqui vai:

31/1/63:

Ataque de terroristas aos Fulas de Emberém [Iemberém]. Mataram o chefe da tabanca e outros 6 Fulas.

2/2/63:

Acção em Boche Falace pelas minhas forças de Emberém. Um grupo de terroristas balantas em fuga deixou grande quantidade de arroz cozido (!).

6/2/63:

O nosso destacamento em Salancaur foi atacado às 00:30. Tivemos baixas: um furriel e um soldado foram mortos do nosso lado e vários terroristas foram abatidos. Nesta mesma noite, também atacaram o nosso destacamento em Cacine, mas felizmente não houve baixas a assinalar.

8/2/63:

Fui a Bissau tratar de vários assuntos da Companhia [4ª CCaç].

9/2/63:

Volta de Bissau. Manga de trabalho em atraso devido as acções dos últimos dias. Recebemos informação de que vários terroristas passaram ao largo, vindo de Catió para a zona de Cacine. As instalações da Ultramarina foram assaltadas e o encarregado europeu foi morto.

10/2/63:

Lista de material extraviado em combate: 1 capacete em Chugué, 1 espingarda Mauser e1 pistola-metralhadora em Emberém.

Esta madrugada as instalações da Gouveia em Salancaur foram atacadas. Os terroristas levaram cerca de 10 toneladas de arroz e outros géneros de comida.

11/2/63:

Efectuámos acções em Emberém, Salancaur e Cadique. Vários elementos terroristas que tinham tomado parte no assalto aos Fulas de Emberém foram aprisionados e enviados para a sede do Batalhão.

12/2/63:

Um alfaiate mandinga, Mamude Djassi, que tinha sido aprisionado em Chacual pelos terroristas e que passou vários dias num dos seus acampamentos, conseguiu fugir e apresentou-se ao nosso destacamento do Chugué. Foi transportado para o nosso quartel em Bedanda. Enviei um rádio para o Batalhão para que este Mandinga possa ser aproveitado como guia na acção que está a ser preparada pelo Batalhão.

13/2/63:

Enviei um pelotão para Salancaur para proteger o embarque de arroz da Ultramarina e da Gouveia.

14/2/63:

Patrulhamento feito em Emberém e Cadique. Nesta última povoação tivemos contacto com terroristas Balantas que puseram alguma resistência mas acabaram por fugir. Três foram abatidos.

15/2/63:

O nosso quartel em Bedanda foi visitado por 3 directores da CUF, procurando informações do que se está a passar na região. Nessa mesma altura, terroristas rebentaram um pontão na estrada de Catió junto de Timbo. Houve também grande tiroteio em Chugué e algumas explosões na estrada próxima da área. Os 3 directores ficaram bem informados do que se está a passar...

16/2/63:

Chegou o Pelotão de acompanhamento da Companhia 273. Uma patrulha das nossas forças do Chugué foi atacada por um grupo armado de pistolas-metralhadoras. Não sofremos baixas mas 2 terroristas foram abatidos.

Regressou à base o Pelotão destacado em Salancaur. Foi rendida por novas forças a Secção que se encontrava destacada em Emberém.

17/2/63:

Continuaram a chegar mais elementos da companhia 273.

18/2/63:

Reconhecimentos feitos a Salancaur, Emberém e Cadique. Aprisionámos alguns dos elementos que tinham atacado o nosso destacamento de Salancaur.

22/2/63:

Fomos visitados aqui em Bedanda pelo Comandante Militar e pelo Major Mira Dores, durante a altura em que tínhamos começado uma acção no mato de (Nhairom?), com 2 pelotões da CCaç 273 e 1 Pelotão da minha Companhia.

23/2/63:

Regresso da acção. Pobres resultados. Foram encontrados vários acampamentos terroristas, abandonados mas com indícios de terem sido ocupados recentemente. Foi rendida a secção de Emberém.

25/2/63:

Reconhecimento feito em Salancaur e Mejo. O Capitão Delfino, comandante da Companhia que substituiu a CCaç 74, visitou-nos, para discutirmos colaboração.

26/2/63:

Outra visita pelo Comandante Militar e o Comandante da Força Aérea, para discussão sobre a colaboração da FA na próxima operação que iremos executar. Pormenores foram discutidos em detalhe.

27/2/63:

O Capitão Relvas veio da sede do batalhão visitar-nos em Bedanda. Aparentemente, o comandante do Batalhão está chateado por não ter sido consultado nos detalhes de apoio pela FA. e tomou a decisão de fazer a operação sem esse apoio. (Incompreensível!).

A acção começará esta noite a partir das 00:04.

A acção terminou pelas 15:00 do dia 28/2/63. Os resultados que poderiam ter sido bastante satisfatórios, foram praticamente nulos, pois vários grupos de terroristas conseguiram, (devido a configuração e extensão do terreno de acção), fugir e dispersar. Se a FA tivesse colaborado os resultados teriam sido tremendos, pois o número de terroristas que conseguiram infiltrar-se entre as nossos forças foi considerável. (Esta foi a opinião de todos os comandantes de pelotão directamente envolvidos na acção. Na área onde a minha companhia actuou, notamos exactamente os mesmos resultados).

É evidente que os terroristas foram avisados da operação a tempo de poderem debandar. Nada me admira, pois temos um número considerável de soldados nativos, incluindo Balantas...

(...)

Tenho ainda mais algumas histórias para contar, (entre os primeiros dias de Abril, até a altura em que fui rendido, 20 de Maio de 1963).

Um abraço,

George Matias Freire

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Notas de vb:

1. Caro George Freire:

Cabe-me mandar tocar a "ombro arma" à tua entrada. E aguardo que dês ordem para nos mantermos em sentido, enquanto agradecemos a "oferta" do teu espólio. São muito poucos os Camaradas desses anos do início da nossa Guerra na Guiné. Escreve sobre aqueles princípios da década de 60 e envia imagens desse tempo, se as tiveres.