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domingo, 16 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11714: FAP (73): A instrução do AL III no meu tempo (J. Pardete Ferreira, ex-alf mil médico, 1969/71)

1. Resposta, com data de 15 do corrente,  do nosso camarada José Pardete Ferreira, às questões levantadas no poste P11703 (*):

(i) Requalificação;

(ii) 35 horas de voo.
(iii) Voo de contacto. Navegação à vista.
(iv) Ab inicio Al III
(v) Ida directa

(vi) A Sud-Aviation tinha um técnico em permanência em Bissau, Pierre Fargeas, que com a mulher vivia aboletado em casa do ten cor pilav Amaral e em seguida ten cor Brito. Sendo amigo e companheiro de liceu do Ricardo Cubas, ao tempo major pilav, sendo comandante da Esquadrilha Heli, era visita quase diária lá de casa e as soirées eram passadas à "sombra" das pás do rotor principal. Curiosamente o então major pilav Pedroso de Almeida, também foi meu colega de liceu e oficial de operações, penso, da Esquadrilha dos Fiats. Este já depois do final da minha Comissão.

Cumprimentos e um Alfa Bravo

José Pardete Ferreira (**)

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Nota do editor:

14 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11703: FAP (71): O AL III faz 50 anos de operação e eu gostaria de saber como se fazia a Instrução da sua pilotagem na época (Fernando Leitão, ten cor pilav, Área de Ensino Específico da Força Aérea, Instituto de Estudos Superiores Militares)

(...) Assim, para a recolha da informação ainda disponível, devo recorrer a quem viveu essas experiências. É nesse âmbito que solicito o seu contributo, de documentos ou experiências vividas, relativamente a:

(i) seleção dos alunos pilotos (recrutamento de civis ou requalificação de pilotos de outras aeronaves?);

(ii) duração do curso (tempo e horas de voo);

(iii) modalidades de voo com maior relevo? (voo de contacto, voo de montanha, navegação, etc.);

(iv) ab initio no Alouette ou antes voavam Chipmunk?;

(v) após o curso de pilotagem de helicópteros, havia lugar a qualificação operacional (curso avançado) ou seguiam diretamente para os teatros de operações?;

(vi) outras informações pertinentes.

(**) Último poste da série > 16 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11711: FAP (72): Eu, periquito, me confesso... (António Martins de Matos, ex- ten pilav, BA12, Bissalanca, 1972/74)

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11704: Os nossos médicos (47): Qual era a dotação médica de um batalhão ? Três médicos por batalhão, diz-nos o ex-alf mil méd J. Pardete Ferreira (CAOP1, Teixeira Pinto; HM 241, Bissau, 1969/71)

1. Não temos falados, com a regularidade e a profundidade que gostaríamos, dos serviços de saúde militares do nosso tempo: como estavam organizados, como funcionavam, qual era formação dos nossos médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermeiros e outros...

Pessoalmente tinha a ideia de que havia 1 médico por batalhão (, o mesmo se passava com o capelão). As companhias independentes não tinham médico, na sua composição orgânica. Ou tinham, inicialmente ? A minha CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, por exemplo. não tinha médico, pelo menos no meu tenmpo (Contuboel e Bambadinca, maio de 1969/março de 1971).

É claro que chegámos a conhecer mais do que um médico, na sede batalhão (, prestando cuidados a 4 companhias + população civil)... Em Bambadinca, entre junho de 1969 e março de 1971, conheci pelo menos 3, nos batalhãoes em que esteve integrada a CCAÇ 12 (BCAÇ 2852, a968/1970), e BART 2917, 1970/72).

Muitas vezes o médico do batalhão acabava por ser transferido para outro sítio ou para o HM 241 (Bissau)... 

Nos anos 60/70, o país tinha ainda poucos médicos: 7 mil (1960), 8 mil (1970)... As carreiras médicas, a nível nacional, datam de 1971... Os internatos médicos não eram como são hoje, Muitos médicos, embora mais velhos do que nós, tinham ainda pouca experiência clínica... Eu calculo que cerca de 1600 tenham sido mobilizados para as 3 frentes do ultramar...

O nosso camarada J. Pardete Ferreira (ex- Alf Mil Med, CAOP, Teixeira Pinto; HM 241, Bissau, 1969/71), e outros camaradas que prestaram serviço no TO da Guiné como médicos (Amaral Bernardo, Mário Bravo, Manuel Valente...) podem falar com mais propriedade do que eu destas questões.

Diz-me o J. Pardete Ferreira [, foto acima], por email recente:

Caro Luís Graça, tenho duas correcções a fazer e alguns informações suplementares:

(i) Em princípio seguiam 3 médicos por Batalhão;

(ii) As Carreiras Médicas iniciaram-se em 1956, com a referida reforma [da saúde] e, antes dela já havia carreira nos Hospitais Civis.

(iii) A estimativa peca por defeito pois com 3 médicos por Batalhão os 1600 passam para 4800.

(iv) O HM241 tinha em média 35 médicos.

(v) A "instrução de especialidade" fazia-se no Hospital Militar Principal: eram cerca de 6 meses...


2. Amigos e camaradas, gostávamos de conhecer a vossa experiência nesta matéria:

(i) Quantos médicos seguiram com o vosso batalhão, no barco ?

(ii) Quantos médicos é que o vosso batalhão teve e por quanto tempo ?

(iii) Lembram-se dos nomes de alguns ? Idades ? Especiallidades ?

(iv) Precisaram de alguma consulta médica ?

(v) Estiveram alguma vez internados na enfermeria do aquartelamento (se é que existia) ?

(vi) Foram a alguma consuta de especialidade no HM 241 ?

(vii) Foram evacuados para a metrópole, para o HMP ?

(viii) Tiveram alguma problema de saúde que o vosso médico ou o enfermeiro conseguiu resolver sem evacuação?

(ix) O vosso posto sanitário também atendia a população local ?

(x) (E se sim, o que é mais que provável:) Há alguma estimativa da população que recorria aos serviços de saúde da tropa ?...


Enfim, ficamos se responderem a alguns destas questões que também são importantes para completar o dossiê das nossas memórias...

Respondam, por favor, através do nosso mail: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com, diretamente em comentário a este poste.

Um abraço para todos/as. Luís Graça

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Nota do editor:

Último poste da série > 22 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11608: Os nossos médicos (46): Dá-me os meus olhos! Homenagem ao Oftalmologista, Dr. José Luís Bettencourt Botelho de Melo (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P11028: Facebook...ando (22): O Spínola que eu conheci... Opiniões e depoimentos de Francisco Palma, Torcato Mendonça, J. Pardete Ferreira, José Basílio Costa, Bernardino Cardoso, Armando Ferreira Martins, Armandino Oliveira, Manuel Reis, João Guerreiro, José Tavares, Francisco Gomes




Guiné > Zona leste > Canquelifá > CCAV 2748 > 3 de fevereiro de 1971 > O General Antonio de Spínola, o “Caco Baldé” em Canquelifá, com a malta da CCAV 2748,  a seguir uma noite de flagelação dura , seguida de remessa de 4 Foguetões 122 ás 4 da manhã. Aquilo era "festa" até ás tantas.

Foto (e legenda): : © Francisco Palma (2013). Todos os direitos reservados



1. Comentários, na nossa página no Facebook, Tabanca Grande, ao poste,  29 do corrente,  Guiné 63/74 - P11024: O Spínola que eu conheci (24): Alcunha, antonomásia, apodo, cognome ou epiteto... "Caco Baldé"... Qual a origem ? (Cristina Allen / Luís Graça / Jorge Cabral / Carlos Fabião / Cherno Baldé) 


Torcato Mendonça > Foi meu Comandante Chefe. Sabia comandar tropas e era respeitado. (29/1/20013)

José A. Pardete Ferreira > Foi um bom líder! Não era por acaso que,  quase diariamente, ao regressar do mato, passava pelo Hospital para se inteirar do estado dos feridos e dar umas palavrinhas a alguns. No entanto, a primeira vez que o vi,  foi empoleirado numa Daimler que lhe servia de Taxi, da pista do hélio até ao aquartelamento em Cacheu. Do discurso aos soldados nem vos falo... (29/1/2013)

José Basílio Costa >  Foi também o meu Comandante-Chefe e Governador -Geral da Guiné durante a minha comissão de serviço entre Janeiro de 1971 e Janeiro de1973. Embora polémico,  por ser muito militarista e disciplinado, era todavia um líder nato, respeitado pelos soldados pelos quais se preocupava em relação às suas condições de vida nos aquartelamentos, que visitava de helicóptero, por vezes mais do que um quartel por dia, e muito temido pelos oficiais responsáveis por esses aquartelamentos no mato, aos quais exigia responsabilidades quando notava que eles negligenciavam as suas funções no teatro de operações.

Com a sua Campanha de Acção Psicológia do Programa "Guiné para Todos", o Gen Spínola conseguiu atrair a simpatia e o apoio de muitas populações e vários chefes tribais, provocando muitos dissabores ao PAIGC.

Quando viu que a guerra tinha chegado a um impasse, a partir do momento em que a Força Aérea se recusou a sair em missões ao mato, depois de terem sido abatidos alguns aviões de combate pelos famosos mísseis russos Strela, e percebendo a gravidade da situação foi a Lisboa fazer o ponto da situação ao Chefe do Governo Marcelo Caetano, dizendo-lhe que a única solução era negociar com o PAIGC uma retirada honrosa para Portugal.

Como Marcelo não aceitou o abandono da ex-colónia e perante a recusa do Gen Spínola em continuar a fazer uma guerra perdida, demitiu-o do cargo de Governador da Guiné, nomeando em seu lugar o Gen Bettencourt Rodrigues! Passados uns meses publicou o livro "Portugal e o Futuro" que deu muita polémica e que dava como hipótese para o ex-Ultramar uma solução federalista, que na altura já não resultaria, dadas as pretensões das ex-colónias em serem independentes e com fortes apoios internacionais, em especial dos países do Bloco de Leste, a URSS e a China. Finalmente a partir do 25 de Abril, tornaram-se irreversíveis as independências há tanto tempo reclamadas das nossas antigas colónias. (29/1/2013)




 Página, no Facebook, da nossa Tabanca Grande... Já tem mais de 1 milhar de amigos.


Bernardino Cardoso >  Pois. Em Bula foi da pista do Héli, mais que uma vez e n vezes… Foi de Panhard. E havia umas seis.  A pista era fora do quartel, no topo da pista de aviação. Uma das primeiras coisas que se sentiram com a sua chegada foi o preço do Whisky velho que passou de 120 pesos para 90. 25% duma assentada. Acabou com o "tacho" dum jeitoso que se abotoava com este dinheirinho. (29/1/2013)

Armando Ferreira Martins > Bati-lhe uma grande palada, à porta da Capela da BA12. (29/1/2013)

Armandino Oliveira > Eu o conheci em Mansabá, creio que em 1968, em visita de posse, fiquei impressionado, pela sua postura: monóculo, bastão, luvas pretas, mangas da camisa camuflada arregaçadas acima do cotovelo. Confesso, me ví perante um general do exército alemão, na época das SS. (29/1/2013)

 Manuel Augusto Reis  > Sofri um bom bocado pela teimosia dele, mas não deixo de o apreciar como um grande militar. Vi-o visitar Gadamael debaixo de fogo, onde só por milagre não foi atingido. Vi-o ser tolerante nas visitas ao mato, onde não exigia um atavio militar rigoroso. Vi-o ser idolatrado pelas populações onde se deslocava. Vi os profissionais amedrontados sempre que ele lhes aparecia pela frente; aqui havia exagero, mas ficava o alerta dos deveres dos militares profissionais. Como político a que aspirava ser, foi um fracasso. (29/1/2013)

Armandino Oliveira > Como militar eu o considerava génio e afoito, a ponto de, embora na posição hierárquica que tinha, não se escusar de situações de risco. Todos os comandos tinham "pavor" dele. Soube que ele teria tido treinamento militar, na época hitelariana, talvez por isso a sua postura. O major Porto, do BCAV 1897, com quem estive em Mansoa e Mansabà ( 1966-1968 ), também tinha uma postura semelhante, mas era um doce de ser humano. (29/1/2013)

João Guerreiro > Com todo o respeito pelo Ser. General,,militar com muita presença, só lamento ter um  castigo na caderneta, na sua passagem por CContuboel,  70/72-Guiné. (29/1/2013).

José Tavares > Sou de  69-71. Vi-o várias vezes. Pessoalmente gostei da frontalidade com que ele falava com os soldados em primeiro lugar EREC FOX 2640 (29/1/2013)

Bernardino Cardoso  > 1968-69, Bula, Panhards Pel Rec 2024. Não falei desse aspecto do Spínola porque está tudo dito a seu respeito. Era um militar de grande craveira e que cativava o respeito e admiração de todos. Foi a Bula várias vezes. Só referi aquela história do whisky para apontar a forma determinada como entrou na Guiné e começou a arrumar a casa. Não foi só o whisky. Foram muitíssimas outras coisas. (29/1/2013)

Francisco Gomes >  Buba 68/69. O gen Spínola fez uma visita ao aquartelamento. A primeira atitude que teve foi dirigir-se aos soldados para saberem as condições em que estávamos em ordem a alimentação, reabastecimentos, etc.. Só depois se dirigiu aos oficiais e sargentos,  o que demonstrou que tinha apreço e humanidade pela tropa fandanga, tantas vezes humilhada por oficiais superiores. Grande Homem, Grande Militar, com os cojones no sítio. Participou numa coluna militar de Buba a Aldeia Formosa, com o seu habitual camuflado, luvas, bengalim, monóculo e as respectivas divisas vermelhas de oficial general... (30/1/2013)

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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11020: Facebook...ando (21): Joaquim Ruivo, ex-1º cabo mec obus 8.8, BAC (Santa Luzia, Bissau, out 61/ fev 64): Tocando os "Olhos Negros", no seu bandolim...

terça-feira, 3 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10110: Inquérito online: "Um blogue de veteranos nostálgicos da sua juventude?" (Parte II) (A. Graça de Abreu / António Rosinha /Armando Pires / Carlos Nabeiro / J. Pardete Ferreira / Manuel Joaquim / Manuel Maia

Voltamos aos comentários dos nossos camaradas a propósito da nossa sondagem à afirmação de René Pélissier: "Um blogue de veteranos nostálgicos da sua juventude?"

1. Comentário do nosso camarada Armando Pires (ex-Fur Mil Enf.º da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70):

Discordo da opinião de René.
Considerar-nos um grupo de veteranos nostálgicos da sua juventude, além de redutor revela a grande distracção, a forma enviesada, diria mesmo incompetência, com que tem lido o nosso blog.

Sim, verdade que por aqui temos camaradas expressando nostalgia e revolta, tristeza e dor, sentimentos que são parte da alma que é só nossa, que não cabe a ninguém julgar. Mas também temos os que olham o passado como lugar de descoberta do seu eu, do lugar que ocuparam na história politica contemporânea. Mas todos, uns e outros, orgulhosos do que foram, de quem são. E cumprindo neste blog a missão que lhes foi atribuída. Não deixar que ninguém conte a história por eles, por nós.

Uns a favor, outros contra, uns nem por isso e outros, ainda, antes pelo contrário. Mas cada um emprestando o seu contributo para que a história da guerra colonial se faça, se escreva, sem embustes. Jamais alguém poderá falar, contar, escrever, sobre o que se passou em Guileje (p.ex.), sem ler aqui, este Mural, os relatos dos que aos acontecimentos assistiram, não a partir do ar, mas em terra, em dor e sofrimento, em morte e desespero.

René Pélissier, diz a sua biografia, é um leitor compulsivo, um historiador, um especialista sobre colonização portuguesa. Ao dizer o que disse de nós, comporta-se com um dos que assistiram à história a partir do ar. Que a lê no ar. Quem sabe se não é ele o nostálgico, por não ter sido, na juventude, um dos Bravos do Pelotão.

Armando Pires

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2. Comentário do nosso camarada José Pardete Ferreira, (ex-Alf Mil Médico (Teixeira Pinto e Bissau, 1969/71):

O René Pélissier é um castiço!
Conhece a fundo a etomologia das Colónias ou Províncias Ultramarinas Portuguesas, como lhes quiserem chamar, no entanto, não conhece a mística da nossa vida lá nem nas nossas posturas que se seguiram após o nosso regresso.
Que temos nostalgia... temos!
Que fomos jovens... fomos!
Que vivemos muito em pouco tempo... vivemos!
P.S. Pessoal - E O Paparratos foi uma história de Amor... foi!
Todos nós ficamos a amar a Guiné!
Sans rancune.

José Pardete Ferreira

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3. Comentário do nosso camarada Manuel Maia (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74):

Claro que o blog evidencia um pouco de nostalgia,afinal foram dois anos de vivência numa experiência nova,num local desconhecido, sob um clima diferente, com gentes diversas,culturas desconhecidas, numa fase de juventude em que a característica fundamental era aquilo a que chamávamos "sangue na guelra".

Essa vontade de recordar, de reviver acontecimentos com quem os conheceu de igual forma, logo muito mais à vontade para compreender esse estado de alma que significou a passagem por perigos e situações adversas que nos marcaram profundamente, essa comunhão de sentimentos, e essa amizade alicerçada ali no teatro da guerra, onde todos "estávamos no mesmo barco" e que só nós somos capazes de entender...

Essa lembrança quantas vezes acicatada por um pormenor que surge de forma impensada e extemporânea que um outro faz aparecer nos convívios à mesa, agora já com famílias que no período subsequente não conseguiam aceitar as narrativas de cada um quando para isso havia força suficiente capaz de explanar sem cair em depressão, e sem gerar atritos...

René Pélissier, tem portanto alguma razão, embora a nostalgia não seja a exclusiva motivação deste nosso convívio à volta de um blog comum a que chamamos nossa casa. Este espaço tem servido também para permitir a descoberta de capacidades, até aqui escondidas, no que à criação literária diz respeito, e são já muitos os camarigos que foram capazes de passar ao papel essas vivências que todos nós conhecemos de forma mais ou menos marcante.

Voltando a Pélissier, não posso deixar de referir que a sua alfinetada sobre a colonização portuguesa, e em especial sobre José Celestino da Silva, não faz esquecer as atitudes dos seus concidadãos, neste país que tem servido para os seus estudos, onde o assassínio e a pilhagem foram a forma de estar gaulesa.
Seria interessante, por exemplo, que pensasse em fazer uma investigação a essa monstruosa tripla invasão, ao saque ocorrido e aos assassínios infligidos às populações...

Manuel Maia

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4.  Comentário do nosso camarada António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74):

"Para a história colonial portuguesa basta consultar os autores de língua inglesa. Há séculos que a maior parte a denuncia como negreira, arcaica, brutal e incapaz: a quinta essência do ultracolonialismo sob os trópicos".

René Pélissier, em entrevista a Lena Figueiredo, publicada no jornal Diário de Notícias, Artes de 02.04.07.

Aqui têm o grande historiador que manda um bitaites sobre quem nós fomos e somos, nunca foi à Guiné mas conhece-nos de gingeira. Eu acho que também conheço este tipo de sumidades, historiadores que não me merecem um mínimo de respeito. Também escreveu uma recensão sobre o meu Diário da Guiné há uns quatro anos atrás, (lembram-se?)e conseguiu a proeza de ler o que não escrevi e virar tudo ao invés. Porque ignorava a matéria sobre a qual escrevia, a Guiné 72/74. Eu respondi na altura. Pélissier tem os seus admiradores neste blogue, pessoas que acham que os seus "estudos parecem exactos e cientificamente bem fundamentados."

De facto, voltem a ler:

"Para a história colonial portuguesa basta consultar os autores de língua inglesa. Há séculos que a maior parte a denuncia como negreira, arcaica, brutal e incapaz: a quinta essência do ultracolonialismo sob os trópicos".
René Pélissier dixit.

Abraço,
António Graça de Abreu

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5. Comentário do nosso leitor e camarada Carlos Nabeiro, ex-combatente no TO de Moçambique entre 1968 e 19770:

Tanto quanto os meus modestos conhecimentos me lembram, nas devidas proporções, os países ditos colonialistas que mais "guerras" tiveram em vários TO e durante mais tempo (depois da 2.ª guerra mundial) fomos nós e a França.
Muitos de vós conheceis e lesteis certamente Jean Lartéguy (Jean P.L.Os_ ty). Lartéguy os seus personagens, uns fictícios, outros com os nomes alterados e até mesmo os Franceses em geral, viram as suas guerras coloniais de forma diferente do povo português e olham os seus Veteranos com outros olhos. Nos livros de Larteguy, encontramos esses jovens nostálgicos (ele próprio) militares de carreira, voluntários, mercenários, etc. Muitos deles com elevada formação universitária. Não gostavam de guerra mas não sabiam fazer mais nada, nem se sentiam à vontade noutros ambientes. Gostavam de cometer (barbaridades) disparates, eram competentes e muito unidos. Percorreram o império colonial francês, na "procura" do túmulo de D. Quixote.

O sr. Pélissier, bastante mais novo que o sr. Osty, confesso que não sei se foi militar mas, certamente como francês e estudioso destes assuntos, conheceu de certeza e provavelmente de muito perto Lartérguy.

Pélissier julga os bizonhos soldados portugueses embutidos do mesmo "espirito" patriótico dos heróis de Larterguy ou dos portugueses que embarcaram nas Caravelas do Gama.

Ora valha-o Deus monsieur René, se o senhor soubesse ao longo (em especial) dos últimos trinta e oito anos os actos Actos de Contrição proferidos por muitos de nós (os tais Nostálgicos) que na volta exigem respeito e memória, o Xôr René, até corava, com o nosso romantismo.

Carlos Nabeiro - 67anos.
Militar desde Julho de 1967 no CISMI de Tavira, até 13 de Junho de 1970, dia da chegada ao RI 15 de Tomar, vindo de Moçambique.
Não me sinto culpado de nada, não peço desculpa, nem mendigo.

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6. Comentário do nosso camarada Manuel Joaquim (ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67):

NOSTALGIAS

"Luís Graça & Camaradas da Guiné é “um blogue de veteranos nostálgicos da sua juventude”
(R. Pélissier),

Nostalgia (dos dicionários): doce tristeza causada pelas saudades de alguma coisa, de alguma forma de existência que se deixou de ter, pelo desejo de voltar ao passado, a um lugar, a uma situação vivida.

Digo já, não me sinto um veterano nostálgico dos seus tempos de guerreiro à força. Nem de qualquer tempo da sua vida, tempo feliz ou infeliz. Recordo esses tempos, umas vezes com carinho outras vezes com revolta, mas nada de saudades nem de masoquismo adocicado pela distância dos factos. Quando recordo, em memória carinhosa, as agruras e doçuras da infância, da adolescência e da juventude não estou nostálgico mas posso ficar revoltado ou satisfeito pelas condições em que vivi esses tempos.

Quando me “vejo” menino nos dias de inverno, descalço a caminho da escola, pés arroxeados e mãos engadanhadas pelo frio, é isto nostalgia?
Quando me “vejo” menino, aos primeiros raios do dia após noite de vendaval e antes de partir para a escola, a apanhar do chão azeitona ou bolota até encher a cesta, sinto nostalgia?
Quando, nas tardes quentes de verão me “vejo” descalço, a subir aos pinheiros para derrubar pinhas, com os pés picados pelos tojos e o peito arranhado pelas carrascas do pinheiro, estou saudoso desses tempos?
Quando recordo o dia, já quase noite, em que abri o couro cabeludo numa cabeçada na oliveira que servia de poste de baliza de futebol e não havia meios de me levarem ao hospital onde demorei horas a chegar, sete quilómetros numa bicicleta a furar a noite por estrada de terra, sozinho com meu pai, encharcado de sangue, qual imagem do santo sudário que o padre mostrava no sermão da 5.ª feira Santa, pode ser isto nostalgia?

E será nostalgia recordar a aflição que senti quando, quase sem saber nadar, resolvi atravessar o rio Arunca e no meio do rio fiquei sem pé, valendo-me a corrente forte que me empurrou para uma margem?
E a carga de porrada que levei do meu pai “só” porque aprendi a escrever e resolvi mostrá-lo com a mais vibrante palavra que encontrei, “caral..o”, escrita a giz branco no bojo de um pulverizador agrícola?
Lembrar isto é nostalgia?

Quando me “vejo” a levar puxões de orelhas, reguadas e chapadas do professor primário por não satisfazer as suas exigências na aprendizagem ou mais tarde, já adolescente, a levar umas palmatoadas do director do colégio “só” porque alcei a perna e larguei um “pum” para saudar o senhor João, contínuo, é isto nostalgia?
Quando recordo, nas férias escolares, o trabalho duro no campo, de sol a sol (e até noturno) enquanto a maior parte dos meus colegas andavam a passear e a divertir-se, tenho saudades de tal?

E é para ter saudades da minha “primeira vez”, nas Caldas da Rainha, quando seis “manfiozitos” aproveitaram a viagem escolar para uma visita à “casa de p.”, fila indiana, a serem recebidos à vez por uma decrépita alma caridosa e carinhosa que, por 20$00, nos atendeu a todos?
É nostalgia recordar os dias de fome passados no colégio porque o dinheiro para o almoço era gasto em tabaco e nos jogos de cartas?
E… e… e na Guiné?

Já não falo dos momentos de combate, dos mortos e feridos, das desgraças físicas que nos atingiram. Este blogue é um extraordinário repositório das memórias desses momentos, a maior parte delas sem qualquer laivo de nostalgia, antes pelo contrário. Recordar os vómitos secos, a angústia daquela vivência dominada pelo “inesperado”, os mosquitos, as abelhas, as formigas, a sede violenta que nos obrigava a beber “merda” líquida, a “fome” de comida para gente, a suprema sensação de inutilidade daquela vida de combatente, a deliquescência daqueles dias e dias e dias em que nada acontecia mas “tudo” acontecendo naquele esforço de fazer passar o tempo e de tentar salvar o “couro”, pergunto, recordar tudo isto é sinal de nostalgia?

Que belos tempos, não foram? Não, para mim não foram! Para mim simplesmente foram tempos da 1.ª terça parte da minha vida e que deixaram marcas neste “velho veículo” de quase 71 anos.
Sinto nostalgia quando recordo aquela Guiné que conheci em condições excecionais, sujeito a violências físicas, espirituais e até morais de uma guerra para mim sem sentido?
Não. Olho para trás e vejo simplesmente factos de uma história que posso contar, a da minha participação numa guerra. Valerá alguma coisa essa minha história? Pode ser que não mas, por precaução, ficará como matéria para memória futura, principalmente para os meus netos e seus descendentes poderem encontrar nela algo que fez parte das suas raízes, sejam elas boas ou más, estejam em bom estado ou não, sirvam para os alimentar ou não. Mas que sirvam, pelo menos, para tomarem consciência de que a sua história não começou com eles.

Não, não tenho nostalgia, não tenho saudades do passado. O passado que tive é isso mesmo, passou. Os lugares que frequentei já não existem, para mim já não são eles mas outros que terão o mesmo nome e a mesma localização. Em contrapartida tenho, sim e cada vez mais, é saudades do futuro! Falo por mim. Não sou um dos veteranos referenciados por R.Pélissier.
Admito que existam por aqui mas não em quantidade suficiente para se catalogar este blogue como refúgio de velhos combatentes nostálgicos. É verdade que tento esconjurar o tempo. Sonho por vezes, feliz com o que fui e com o que passei ou pesaroso com as asneiras que cometi e as agruras que padeci.

Como poderei ser nostálgico dos meus tempos de chumbo que ensombraram alguns anos da minha juventude, anos de revolta a respirar a atmosfera violenta duma guerra? Nestas andanças de recordações é frequente ouvir-se “se soubesse o que sei hoje!”. Pois tenho a dizer que, se soubesse o que sei hoje, não entregaria “os pontos” e teria fugido para França, a exemplo do que fizeram mais de 80% dos meus conterrâneos. Não tenho vergonha de o dizer, até porque a maior parte da vida económica do meu concelho deve o seu desenvolvimento a muitos desses emigrantes que fugiram à incorporação militar e, ainda hoje, as suas pensões de reforma são o sustentáculo de muita actividade económica. E são muito queridos e louvados, veja-se isto, pelos que ideologicamente condenaram a sua atitude, sendo mesmo o seu sustentáculo de poder, há muitos anos.

Aqui ando, não nostálgico, tentando não derrapar nas esquinas da vida, numas vezes revoltado, apaziguado noutras. Já sou como uma velha árvore com alguns ramos decepados, outros algo decrépitos, mas onde ainda há alguns ramos viçosos e lá vão rebentando algumas hastes que espero tenham força para se tornarem ramos.

Nostalgias? Como diz o poeta Manuel António Pina, no seu poema “Coisas que não há que há” (O pássaro da cabeça, ed. A Regra do Jogo):

… … … 
Há tantas coisas bonitas que não há: 
… … … 
Tantas lembranças de que não me lembro, 
sítios que não sei, invenções que não invento, 
… … … 
tudo o que eu nem posso imaginar 
porque se o imaginasse já existia 
embora num sítio onde eu só ia … 

Nostalgias?
Só se for do que não vivi e do que não viverei.

Manuel Joaquim

************

7. Comentário do nosso tertuliano "Mais Velho" António Rosinha:

Ele escreve sobre nós e a nossa guerra porque é escritor, nós escrevemos no blog, porque somos nostálgicos.
Não conheço o homem, apenas as referências de Beja Santos e um ou outro jornalista.

Da guerra que eu vi, que nos fizeram e que tivemos que aguentar por serviço militar obrigatório, dessa guerra ninguém, seja o Pélissier ou o Furtado, ou quem foi para a Suíça ou Paris, tem mais direito de falar, relembrar do que nós. Mas todos tentam falar daquela guerra, mais alto que nós.

Esta referência da “nostalgia” é dos tais subterfúgios com que calaram muita malta que por lá andou. Não é só ele que até é estrangeiro. Até aparecer o Luís Graça a falar alto e até parece que ensurdece alguns. Ainda hoje tenho gente mais velha das minhas relações, que como eu são “retornados”, e dizem que escondem dos vizinhos que são retornados. (Medo? Vergonha? Ignorância? Complexo da discriminação?) Gosto muito de ouvir estrangeiros falar de nós. E também ouvir alguns portugueses que só foram para as “nossas áfricas” , a seguir ao 25 de Abril “ajudar aqueles desgraçados”.

Já ouvi no Brasil, em Luanda, na Guiné-Bissau, e até turistas na Madeira falar depreciativamente de nós. E já ouvi brasileiros com pena de não terem sido colonizados por americanos em vez dos portugueses.
Já ouvi nos meus próprios ouvidos, suecos, na Guiné, julgarem-nos nazis, e transmitirem essa ideia aos guineenses. Mas uma coisa digo eu, nunca conseguem dizer tudo de nós porque lhe “custa dobrar a língua”.

Os franceses e os ingleses salvaram as fronteiras e o idioma dos seus “grandes impérios” à sua maneira, a nossa geração ajudou a salvar as frágeis fronteiras do seu “pequeno império”, dentro das nossas possibilidades, que era para tudo para desaparecer sem o mais pequeno respeito por aqueles riscos no papel daqueles mapas, algo indefinidos.

Os “PÉLISSIERES” da vida sabem isso muito bem, só não o dizem. E é principalmente por aquele período ser dos mais importantes e relevantes da vida e do futuro de Portugal, que sempre devemos lembrar aos “PELISSIERS”, e muitos nossos que não é apenas “Nostalgia”.

Devemos dizer as verdades para evitar que pedaços do império não venham ainda a desaparecer.
O que vai ser difícil evitar devido às nossas actuais fragilidades.

Cumprimentos
António Rosinha
____________

Nota de CV:

Vd. poste de 28 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10083: Sondagem: "Um blogue de veteranos nostálgicos da sua juventude ?" (Parte I) (A. Pinto / A. Silva / H. Cerqueira / J, Martins / M. Beja Santos / P. Raposo / R. Figueiredo)

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9129: O nosso fad...ário (4): O Fado da Orion (J. Pardete Ferreira, ex-Alf Mil Médico, 1969/71)

1. Há tempos o nosso camarada   J. Pardete Ferreira, (ex- Alf Mil Med, CAOP, Teixeira Pinto; HM241, Bissau, 1969/71) mandou-nos a letra do Fado da Orion. Já foi publicada no poste P8966, na secção Blogpoesia (*)... Mas hoje queremos recuperá-la para a secção O nosso fad...ário (**).

E esperamos um dia poder ouvi-la cantar por um dos nossos fadistas, num dos nossos encontros ou até, quem sabe, numa "grande noite do fado dedicada à Guiné"...


Uma explicação é devida pelo autor da letra:


(...) " O Fado da Orion foi escrito em Homenagem ao Comandante Faria dos Santos. A LFG [Orion] passou mais de um ano acostada ao molhe do Pidjigiti porque tinha cedido à [LFG] Batarda um dos motores. Quando o recebeu de volta ou ele foi substituído por um novo, já não posso precisar, fez uma viagem experimental e de contrabando 'a acreditar nos praticantes da má-língua' e de seguida foi o navio almirante da ida a Conacri [, Op Mar Verde, em 22 de Novembro de 1970,]  sob o Comando de Faria dos Santos, mais tarde Comandante do porto e, em seguida, Governador Civil de Aveiro. Poeta e grande amigo, recebia a jantar (e bem) um pequeno número de amigos na torre, onde, no final, a poesia expulsava o álcool. Ele foi, igualmente, a nossa chave de acesso à Base Naval de Bissau onde, às quintas-feiras,  havia jantar melhorado e aberto a convidados" (...)



Guiné > Região de Tombali > Rio Cacine > 1971 ou 1972 > A LFG Orion é (ou era, uma vez que já não existe) como a Nau Catrineta: tem (tinha) “muito que contar”, do Cacheu a Cacine, passando por Conacri… Dois camaradas nossos, o Manuel Lema Santos (como 2º Ten RN, e o Pedro Lauret  (como 2º Ten) foram seus Imediatos  embora em épocas (1966/69 e 1971/73, respetivamente)…

Nesta foto vemos o actual comandante reformado, Pedro Lauret, em 1971 ou 1972, então oficial imediato do NRP Orion (1971/73), na ponta do navio, a navegar no Rio Cacine, tendo a seu lado o comandante Rita, com quem ele faria a primeira metade da sua comissão na Guiné. "Um grande homem, um grande comandante" (PL)… 

O 1º Ten  José Manuel Baptista Coelho Rita foi comandante do NRP [, Navio da República Portugesa,] Orion, de 7/12/1970 a 15/10/1972, tendo substituído o 1º Ten Alberto Augusto Faria dos Santos (que comandou a Orion, de 6/12/1968 a 7/12/1970) (Fonte: Wikipédia > NRP Oríon).

Mas nem só o Pardete Ferreira matava a fome e a sede no bar da Orion... Também o nosso amigo e camarada Paulo Santiago já aqui contou, em 2006, como se tornou habitué da Orion sempre que ía a Bissau (***)...

Foto: © Pedro Lauret (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

2. Fado da Orion


Letra: José Pardete Ferreira 

["1ª parte e Refrão escritos em Bissau em Novembro de 1970. 2ª parte escrita em Setúbal na madrugada de 15 de Dezembro de 1997. Para ser cantado com a Música do Fado do Cacilheiro, do Maestro Carlos Dias"].

Adapt do Fado do Cacilheiro

[Letra : Paulo Fonseca (****); música: Carlos Dias]

[Há várias criações deste fado - do José Viana ao Antónioo Mourão, do Tristão da Silva ao Nuno da Câmara Pereira, ... Talvez a mais conhecida seja a do Zé Viana, justamente imortalizado como o Zé Cacilheiro. Veja-se aqui um vídeo, de 1966, que passou na RTP Memória, e está disponível aqui, no YouTube]



Tristes noites de Bissau,
Neste clima tão mau,
Passá-las não há maneira,
Sem comer arroz, galinha.
Ou então ir à Marinha
Aos jantares da quinta-feira!


Às vezes um Comandante,
Bom amigo, bem falante,
Obriga uma pessoa,
Com uma grande bebedeira,
Pensar que o Ilhéu do Rei
Fica em frente de Lisboa.


Refrão

Ser marinheiro
De LFG no estaleiro,
Sem motores nem cantineiro,
Junto ao cais sem navegar,
E esperando,
A comissão foi passando,
Ai!, os amigos engrossando,
Com o Geba a embalar.


Quando vinha dessa Terra
E voltava à minha Serra,
Nem eu queria acreditar !
Virei-me ainda p'ra ver,
O meu Adeus lhe lançar
E também lhe agradecer:


Com meu suor derramado
No teu chão, tão maltratado,
Deixo-te votos amigos
E, também, as minhas preces,
'squecendo rancores antigos,
Por ti, Guiné, que mereces.


Refrão...
____________________

Notas do editor:
 
(*) Vd. poste de 30 de Outubvro de 2011 > Guiné 63/74 - P8966: Blogpoesia (163): Fado da 'Orion' (José Pardete Ferreira)

(**) Último poste da série > 1 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9122: O nosso fad...ário (3): Fado Sangue, suor e lágrimas (Manuel Moreira, CART 1746, Ponta do Inglês e Xime, 1968/69)

(****) Letra de Paulo Fonseca, recuperada aqui (com a devida vénia):

Fado do Cacilheiro

Quando eu era rapazote,
Levei comigo no bote
Uma varina atrevida,
Manobrei e gostei dela
E lá me atraquei a ela
P’ró resto da minha vida.

Às vezes a uma pessoa
A idade não perdoa,
Faz bater o coração
Mas tenho grande vaidade
Em viver a mocidade
Dentro desta geração.


Refrão

Sou marinheiro
Deste velho cacilheiro,
Dedicado companheiro.Pequeno berço do povo,
E, navegando,
A idade vai chegando,
Ai…
O cabelo branqueando,
Mas o Tejo é sempre novo.

Todos moram numa rua
Mas eu cá não os invejo,
O meu bairro é sobre as águas
Que cantam as suas mágoas
E a minha rua é o Tejo.

Certa noite de luar
Vinha eu a navegar
E, de pé junto da proa,
Eu vi ou então sonhei
Que os braços do Cristo-Rei
Estavam a abraçar Lisboa.

Refrão

A que chamam sempre sua,

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P8980: Homenageando todos os nossos combatentes, já mortos, das guerras do século XX (José Pardete Ferreira)

1. Texto que nos foi remetido por nosso camarada  J. Pardete Ferreira,e que nos parece oportuno divulgar neste Dia de Finados







Data: 31 de Outubro de 2011 15:46

Assunto: Liga dos Combatentes, Núcleo Regional de Setúbal, 9 de Abril de 1998




 LIGA DOS COMBATENTES > NÚCLEO REGIONAL DE SETÚBAL > CERIMÓNIA COMEMORATIVA DIA DO COMBATENTE > 9 DE ABRIL DE 1998


por José Pardete Ferreira

Senhor Governador Civil de Setúbal
Senhor Presidente da Assembleia Municipal de Setúbal
Senhor Presidente da Câmara Municipal de Setúbal,
Senhor Bispo da Diocese de Setúbal,
Senhor Comandante Militar de Setúbal,
Senhor Presidente do Núcleo Regional de Setúbal da Liga dos Combatentes,
Senhores Representantes de outras Instituições Civis, Religiosas ou Militares, aqui presentes,
Caros Combatentes,
Minhas Senhoras e meus Senhores:

  
Seria hipocrisia afirmar que o convite formulado para fazer esta breve evocação e que muito me honrou, me deixou indiferente. Encarei-o como mais uma Missão de Serviço que me foi confiada e que vou cumprir.

Celebrar os seus cantados mortos em Combate bem como honrar todos aqueles que, de uma forma ou de outra, mesmo sem armas, pela Pátria lutaram, é um dever de toda e qualquer sociedade, digna desse nome.

É por isso que hoje, dia 9 de Abril de 1998, nos encontramos, altivos, em torno deste belo monumento, com o fim único de saudarmos os que morreram em defesa da Pátria, saudação essa, extensiva a todos os portugueses que, generosamente, envergaram ou envergam ainda, a farda das Forças Combatentes de Portugal, em todas as frentes onde a sua presença tem sido necessária.

Cronologicamente, como não poderia deixar de ser, lembro os homens que, integrando o chamado CORPO EXPEDICIONÁRIO PORTUGUÊS, cerca de 55.000, de forma humilde, abnegada e heróica, se bateram, apenas ao abrigo da velha Aliança Anglo-Portuguesa, na então sempre efémera  fronteira Franco-Alemã na região da Flandres, naquela que foi chamada a Grande Guerra: - A 1ª Guerra Mundial.

O seu feito mais divulgado foi a actuação na conhecida Batalha de La Lys, justamente desencadeada na madrugada de 9 de Abril de 1918 que, para os portugueses, talvez fizesse mais sentido chamar o Combate de Armentières, cidade da margem direita do Rio Lys, na qual e em redor da qual estava acantonado o nosso Corpo Expedicionário, juntamente com o contingente escocês.

Faz hoje 80 anos que começou esse tremendo combate que, embora só durando três intermináveis dias, levou, o então Chefe do Estado Maior Alemão, Paul von Hindenbourg a elogiar o comportamento do adversário : - Escoceses e Portugueses.

Muitos lá caíram no chamado Campo da Honra, muitos de lá vieram feridos, estropiados ou "gaseados", muitos foram condecorados, todos foram louvados pela sua valentia, sacrifício e vontade.

Após este 1º Grupo de heróis, outros terão de ser lembrados, apesar de não  terem sentido os horrores directos da guerra. Em Setúbal, como não poderia deixar de ser, refiro-me aos Expedicionários do extinto Regimento de Infantaria nº 11, que desta Cidade partiram para Cabo Verde, para o que desse e viesse, durante a 2ª Guerra Mundial.

Este 2º Grupo de heróis, que o foram efectivamente, na medida em que o desgaste provocado pela incerteza fica, indelevelmente, marcado nos espíritos e, muitas vezes também, por via destes, nos corpos.

Portugal esqueceu, com alguma facilidade e sem que se possa atribuir uma causa minimamente válida para esta perda colectiva de memória, um 3º Grupo de heróis, alguns dos quais também combateram, outros sofreram a ignomínia da prisão e outros ainda, igualmente deram a vida. Refiro-me, como me parece evidente, aos Combatentes do então chamado Estado Português da Índia, anexado pela União Indiana em 18 de Dezembro de 1961.

O 4º Grupo, sem dúvida o mais numeroso e heterogéneo, que por ter sido constituído em várias frentes, Macau, Timor, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e principalmente Angola, Guiné e Moçambique, pois foram estes três antigos territórios Ultramarinos que constituíram, durante quase decénio e meio, o TEATRO OPERACIONAL DE GUERRA, mais ou menos intensa segundo a frente em questão ou a zona em causa do território, não querendo eu, pelos motivos apontados no início desta alocução e porque a Comemoração diz respeito a TODOS OS COMBATENTES, fazer qualquer distinção particular, excepção feita, logicamente, aos mortos, estropiados ou, mentalmente, para sempre perturbados.

Citei TODOS OS COMBATENTES PORTUGUESES, mas permitam-me que não deixe, no entanto, de aproveitar a ocasião para manifestar o meu aceno de simpatia, para aqueles que foram nossos adversários. Eles também sofreram, eles também foram Combatentes.

Ao invés, tenho de manifestar o meu desapreço por quantos desertaram, ou até traíram, evocando motivos de vária ordem para se escudarem daquele companheiro inseparável de todo e qualquer Combatente : - O Medo. Só os loucos e os inconscientes dizem não saber o que ele é. O que define o Homem com maiúscula é saber enfrentá-lo e sublimá-lo, vencendo-o.

Segue-se o 5º e, por agora, último Grupo de heróis, alguns deles, do mesmo modo, já feridos ou, inclusive, mortos: - Os Militares que têm servido ou ainda servem Portugal, quer na Bósnia quer, agora como aliados, novamente em Angola e Moçambique.

A todos, bem haja.

Bem mais cruel é a chamada "Guerra do Cimento Armado" que vivemos no quotidiano. Mais cruel, mais medonha e na qual menos respeito em relação ao adversário existe, dela desaparecendo, muitas vezes, qualquer noção de ética.

Novos desafios se lançam a Portugal neste Abril de 1998. São eles, a Integração real, por mérito próprio, na Comunidade Europeia e a Cooperação efectiva com os Países de Língua Oficial Portuguesa, vulgo PALOP's.

Se a Integração de jure, na Comunidade Europeia foi difícil, a Integração de facto, parece-me ainda mais difícil, não só pelos sacrifícios que nos têm sido e continuarão a ser pedidos, mas também, porque a adaptação a novas regras, novos terrenos e novos hábitos é sempre penosa. As actuais gerações, provavelmente, dela não colherão qualquer benefício. Queira Deus que os vindouros digam: - Valeu a pena!

O desafio da Cooperação com os PALOP's tem uma problemática diferente e, apesar da existência de uma Língua comum, alguma instabilidade presente no decorrer de uma vida em sociedade, que se possa considerar normal, em alguns desses Países, pode tornar muitos esforços inúteis, caso estes últimos não sejam feitos de uma forma concentrada, ordenada e coordenada com um equilíbrio estável e paralelo ao desafio Europeu.

Termino com uma Esperança e com uma Certeza.

A Esperança é a vitória conjunta no desafio Europeu e no desafio da Cooperação.

A Certeza é o saber que,  às dificuldades que formos encontrando, o espírito de sacrifício, a humildade, a capacidade de trabalho e a tenacidade, tão louvadas nos nossos Combatentes, vão fazer que à Chamada para estes novos desafios, todos os portugueses tenham uma resposta uníssona: - PRESENTE !

Disse.

J. A.Pardete Ferreira

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8971: Blogpoesia (164): Terra à vista! (José Pardete Ferreira)

1.Mensagem de 30 do corrente, de José Pardete Ferreira:

Caro Luís Graça, mesmo não tendo nada a ver com a Guiné, excepção feita ao mar, ao pescador e à minha Serra da Arrábida, no seguimento da “minha Serra” do Fado da Orion (*), junto envio este poema que, pelo menos para os homens do mar, os  Fuzileiros Especiais com quem estive, deve querem dizer qualquer coisa. J. A.  Pardete Ferreira

2. Comentário de L.G.:

Obrigado, José, por queres partilhar com todos nós este belo poema. Mas permite-me a liberdade de, para além da tua oportuna e apropriada dedicatória aos valorosos fuzileiros (e demais marinheiros) com quem conviveste no TO da Guiné, fazer dos teus versos também, por extensão, na proximidade do Dia de Finados, uma homenagem do nosso blogue a todos aqueles soldados e marinheiros, nossos camaradas da Guiné, que ficaram insepultos nos traiçoeiros e lodosos rios e braços de mar daquela terra, desde o Rio Cacheu ao Rio Corubal...  E, já agora,  aos nossos pescadores, aos meus antepassados de Ribamar da Lourinhã, a todos os nossos pescadores que, para ganhar a vida, encontraram a morte no mar... Muitas vezes com a terra à vista!


TERRA À VISTA!

Uma bruma de salpicos,
Emergentes duma vela molhada
Por uma bolina robusta,
Saída dum nordeste fim de dia,
Quase sem Sol, mas brilhante
Como a Estrela de Alba
Que nos anuncia a noite!

Não sei se o pescador se o leme,
Pega mais firme no outro,
Enquanto a mão livre, dorida,
Domina a escota
Que a vela caça.

Lábios gretados, pele tisnada,
Músculos tensos, segurando ossos firmes,
Quais remos ofegantes,
Como artes de navegar,
Após mais um dia de esforço.
Rumo à terra, vai o peixe
Desse dia de labuta!


Já não sei se é mar se lágrima,
Meus olhos não deixam ver:
Se o Portinho, se Alportuche…
Volto amanhã, se Deus quiser,
E mais riqueza trarei,
Se vivo a casa voltar,
Mesmo de barco sem escama
P’ra meus filhos e mulher.


Setúbal, 2011-10-04

J. A. Pardete Ferreira

________________

Nota do editor:(* Vd. poste de 30 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8966: Blogpoesia (163): Fado da 'Orion' (José Pardete Ferreira)

domingo, 30 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8966: Blogpoesia (163): Fado da 'Orion' (José Pardete Ferreira)

1. Mensagem de J. Pardete Ferreira:

Data: 30 de Outubro de 2011 15:26
Assunto: Fado da Orion

 Caro Luís, o prometido é devido:

O Fado da Orion foi escrito em Homenagem ao Comandante Faria dos Santos. A LFG passou mais de um ano acostada ao molhe do Pi(n)djiguiti porque tinha cedido a Batarda um dos motores.

Quando o recebeu de volta ou ele foi substituído por um novo, já não posso precisar, fez uma viagem experimental e de contrabando "a acreditar nos praticantes da má-língua" e, de seguida,  foi o navio almirante da ida a Conacri, sob o Comando de Faria dos Santos, mais tarde Comandante do porto e, em seguida, Governador Civil de Aveiro.

Poeta e grande amigo, recebia a jantar e bem um pequeno número de amigos na torre, onde, no final, a poesia expulsava o álcool.

Ele foi, igualmente, a nossa chave de acesso à Base Naval de Bissau onde, às quintas-feiras, havia jantar melhorado e aberto a convidados.

2. Blogpoesia  > Fado da "Orion"
por José Pardete Ferreira


[, LFG Orion, a navegar no Rico Cacheu, em 1967, foto à esquerda; crédito fotográfico:  Manuel Lema Santos]






Tristes noites de Bissau,
Neste clima tão mau,
Passá-las não há maneira,
Sem comer arroz, galinha.
Ou então ir à "Marinha"
Aos "jantares da quinta-feira"!

Às vezes um Comandante,
Bom amigo, bem falante,
Obriga uma pessoa,
Com uma grande bebedeira,
Pensar que o Ilhéu do Rei
Fica em frente de Lisboa.

Refrão

Ser marinheiro
De "LFG' no estaleiro,
Sem motores nem cantineiro,
Junto ao cais sem navegar,
E esperando,
A comissão foi passando,
Ai!, os amigos engrossando,
Com o Geba a embalar.

Quando vinha dessa Terra
E voltava à minha Serra,
Nem eu queria acreditar !
Virei-me ainda p'ra ver,
O meu Adeus lhe lançar
E também lhe agradecer:

Com meu suor derramado
No teu chão, tão maltratado,
Deixo-te votos amigos
E, também, as minhas preces,
'squecendo rancores antigos,
Por ti, Guiné, que mereces.

Refrão...

(1ª parte e Refrão escritos em Bissau em Novembro de 1970. 2ª parte escrita em Setúbal na madrugada de 15 de Dezembro de 1997. Para ser cantado com a Música do "Fado do Cacilheiro" do Maestro Carlos Dias).

J. A. Pardete Ferreira
 _______________

Nota do editor:

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8959: (In)citações (35): Ainda a Mutilação Genital Feminina (MGF), Excisão ou Fanado Feminino (J. Pardete Ferreira)



S/l > s/d > "Esta é uma imagem do 'peditório' para ajudar o 'ronco' do fanado. Neste caso masculino". [Imagem possivelmente retirada do livro Le noir d'Afrique, 1943].






Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto ou Canchungo > 1969 > "Nha manjaco arfero Mil Médico José Pardete Ferreira com mininos pró fanado fora do arame farpado"


Fotos (e legendas): © J. Pardete Ferreira (2011). Todos os direitos reservados.

1. Sobre o tema  candente, atualíssimo, da Mutilação Genital Feminina - problema de grande conflitualidade teórico-etnológica, de saúde pública, de direito penal e de direitos humanos - , já aqui abordado diversas vezes no nosso blogue, recebemos ontem, 27, o seguinte texto do nosso camarada, médico, reformado, José Pardete Ferreira (ex- Alf Mil Med, CAOP, Teixeira Pinto; HM241, Bissau, 1969/71):


Assunto - Ainda sobre a  MGF

A MGF [, Mutilação Genital Feminina], por vezes chamada de Excisão e mais raramente Fanado Feminino, pese embora o facto de, nos tempos que correm, ser uma verdadeira barbaridade, na sua origem foi uma necessidade fisiológica.


Assim, [apontam] os estudos antropológicos dos médicos do Serviço de Saúde das Colónias, quase todos, se não mesmo todos médicos, médicos do exército francês. 

Este texto é apenas uma súmula extraída do livro Le noir d’Afrique, anthropo-biologie et raciologie, escrito pelo Dr. G. Lefrou, Médico Chefe de 1ª classe do Corpo de Saúde Colonial, distinguido pelo Instituto e pela Academia das Ciências Coloniais. O livro foi publicado em 1943 pelo editor Payot, Paris [429 pp.], vd. páginas 235/236. [, foto da capa à esquerda].

Quanto ao citado, encontramos o facto de, na Abissínia, Somália e certas regiões do Sudão, as mulheres terem um clítoris de tal maneira desenvolvido que fazia lembrar a dos indivíduos hermafroditas. No coito, tal anomalia tornava extremamente difícil a penetração do pénis na vagina, com todas as consequências que tal situação implica, nomeadamente a propagação da espécie, pelo que a MGF se tornou uma necessidade.

Vem descrito por Loth, publicado por Hyrtl em 1881,  que quando o cristianismo foi introduzido na Abissínia [, hoje Etiópia,] , a Igreja proibiu esta mutilação, o que provocou a revolta dos homens e teve como consequência o envio pelo Papa de uma missão especial que inquiriu e acabou por aprovar a necessidade de tal operação.

Assim, o que foi uma necessidade fisiológica, rapidamente se espalhou por toda a África, passando a aplicar-se a torto e a direito, de forma indiscriminada, nalguns casos por espírito de imitação, eventualmente tornado religioso, entre as etnias animistas e algumas muçulmanas (esta última citação é minha e não vem no texto).

José Pardete Ferreira

domingo, 25 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8818: Filhos do vento (3 ): Vi muito poucos mestiços... (J. Pardete Ferreira)

1. Mensagem do nosso camarigo J. Pardete Ferreira, com data de 21 do corrente, sobnre o tema "Filhos do Vento":

Meu caro Luís,

A minha experiência está longe de ser cientificamente provada e pode ser polémica.
 
Efectivamente, tirando o Setúbalm  motorista do Chefe do Serviço de Saúde Militar com as suas tês filhas mestiças, vi muito pouco "pessoal mestiço" na Guiné, o que foi uma surpresa para mim e me fez moer o juízo durante uns tempos.  

Não vou dizer que não havia, o que seria um disparate atendendo ao exemplo que dei.
Que fazer? Perguntar... e qual não foi o meu espanto quando fui informado que nasciturno não "negro" era eliminado pela parteira, pois os mestiços, principalmente os "quase brancos,  eram considerados "persona non grata". E seria uma vergonha para a mãe e sua família apresentá-los em público! 

Efectivamente, repito,  quer nos hospitais em que trabalhei, incluindo o de Teixeira Pinto, calculei que, pelo menos de acordo com as Leis de Mendel, teoricamente deveria haver muito mais. 

Em suma: ficamos na mesma porque, além desta explicação um pouco primária, reconheço, que me foi dada, nada tenho de probatório (que me desculpem os  homens de leis se saiu alguma bacorada). 

Não interessa ter certezas, o que é necessário é procurá-las! E procurá-las em conjunto... Passado este tempo todo é natural aceitar as nossas dúvidas, esquecimentos e quejandos e, humildemente, pedia ajuda sem ideias pré-concebidas. 

Alfa Bravo para todos ou Papa Óscar Rómeo Rómeo Alfa para mim, se não me fiz enterder.
José Pardete Ferreira

______________

Nota do editor:


domingo, 14 de agosto de 2011

Guiné 63/74 - P8668: O Nosso Livro de Estilo (3): Sou um pira no blogue, mas penso que captei o seu espírito (J. Pardete Ferreira)

1. Comentário, com data de 25 de Julho último, assinado pelo nosso camarada J. Paderte Ferreira ao poste P8582:
 
Não fazia tenção de me meter nesta "guerrinha" inútil. No entanto, tendo escrito no meu [livro] Os Paparratos que a perda do poder aéreo condicionada pelos mísseis terra-ar russos tinha desequilibrado a luta, fui contrariada, no decurso de um almoço da Turma do Gil, com o Pedroso de Almeida, ao tempo dos mísseis Major Piloto Aviador e Oficial de Operações da Esquadrilha de Fiats, comandada pelo extinto Tenente Coronel Brito, que conhecera durante a minha Comissão com o posto e a função que o Pedroso de Almeida tinha desde que começou a haver turbulência aérea, associado ao Comentário supra do Camarigo António Graça Abreu, sou obrigado a dar a mão à palmatória.

Com efeito, desde o aparecimento dos primeiros incidentes com os mísseis, a FAP, após um curto período de surpresa (?) ou procura de soluções, estabeleceu um Plano de Contingência para contrariar a acção dos mísseis, tanto mais que eles se autodestruiam ao fim de 16 segundos, se não me engano, caso não atingissem o alvo.

Não estou a par de todo esse Plano, mas sei que passou pela utilização de um tipo diferente de munições, algumas restantes da segunda Guerra Mundial e pela tal forma de voar diferente do Graça Abreu, com Fiats aos pares e a altitudes diferentes e, sobretudo, a proibição absoluta de fazer uma segunda passagem pelo objectivo. O desrespeito desta norma custou a vida ao Tenente Coronel Brito.

Bem, penso que já me alonguei mas vou concluir: procuramos no blogue, penso, sobretudo factos, por nós vividos ou ouvidos de fonte credível; cada um tem o direito de fazer as suas impressões pessoais, sem pretender ser o único senhor da verdade, impressões essas que têm de ser respeitadas; excepcionalmente, podem surgir apenas bocas que não devem ser levadas muito a sério.

Sou um Piriquito no Blogue mas penso que captei o seu espírito.

Alfa Beta a todos.

José Pardete Ferreira 


[Revisão / fixação de texto / bold a cor / título: L.G.]
__________

Nota do editor:

Último poste da série > 12 de Agosto de 2011 >Guiné 63/74 - P8662: O Nosso Livro de Estilo (2): Comentar (nem sempre) é fácil...