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quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Guiné 63/71 - P8639: Em busca de... (173): Contacto de camaradas da CCS/BCAÇ 2834, Buba, 1968 (Manuel Traquina)

1. Mensagem de Manuel Traquina (*), ex-Fur Mil da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70, com data de 2 de Agosto de 2011:

Camarada Vinhal:
Agradeço se possível algum contacto com elementos da CCS do BCAÇ 2834 que esteve em Buba no ano de 1968.
Não me recordo do número da Companhia com a qual estivemos cerca de um ano.

Um abraço
Traquina



Sobre o BCAÇ 2834:

Unidade Mobilizadora: RI 15 - Tomar
Comandante: TCor Inf Carlos Barroso Hipólito
2.º CMDT: Maj Inf Rui Barbosa Mexia Leitão
Of Inf Op/Adj: Maj Inf Albino Simões Teixeira Lino

CMDTs CCS:
Cap SGE António Freitas Novais
Cap Mil Art António Dias Lopes
Cap Inf Eugénio Batista Neves

CMDT CCAÇ 2312: Cap Mil Inf Júlio Máximo Teixeira Trigo
CMDT CCAÇ 2313: Cap Inf Carlos Alberto Oliveira Penim
CMDT CCAÇ 2314: Cap Inf Joaquim de Jesus das Neves

Divisa: "Juntos Venceremos" - "Para Vencer, Convencer"
Partida: 10JAN68
Regresso: 23NOV69


Síntese da Actividade Operacional

Em JAN68, rendendo o BART 1904, assumiu a responsabilidade do sector de Bissau, com a sede em Bissau e abrangendo os subsectores de Brá, Nhacra e Quinhamel, comandando e coordenando a actividade das subunidades ali estacionadas, por forma a garantir a segurança e defesa das instalações e populações da área; as suas subunidades foram então atribuídas a outros sectores.

Em 24JUN69, foi substituído no sector de Bissau pelo BCAÇ 1911 e assumiu em 25JUN68 a responsabilidade do Sector S2, com sede em Buba e abrangendo os subsectores de Sangonhá, que viria a ser extinto em 29JUL68, Gadamael, Cameconde, que desde 20DEZ68, passou a subsector de Cacine, Guileje, Gandembel e Buba, onde rendeu o BART 1896.

De 20AGO68 a 07DEZ68, a sua ZA foi reduzida dos subsectores de Guileje e Gandembel, que foram atribuídos temporariamente ao COP 2.

Em 15JAN69, a sua sede foi transferida para Aldeia Formosa, onde substituiu COP 1 e sendo então o subsector de Aldeia Formosa, incluído na sua ZA. Em 29JAN69, o subsector de Gandembel foi extinto e em 19JAN69, o subsector de Buba foi atribuído ao COP 4, então criado. Em 10JUL69, por transferência da sede do COP 4 para Aldeia Formosa, o Batalhão deslocou a sua sede para Gadamael, abrangendo nesta altura os subsectores de Guileje, Cacine e Gadamael.

Desenvolveu intensa actividade operacional de patrulhamento, reconhecimentos, emboscadas e segurança e controlo dos itinerários, bem como operações e acções sobre as linhas de infiltração e bases inimigas, orientada para a desarticulação dos grupos inimigos que procuravam fixar-se na sua ZA e ainda para a segurança e protecção dos trabalhos da estrada Buba-Aldeia Formosa.

Dentre o material capturado mais significativo, salienta-se: 2 pistolas-metralhadoras, 1 espingarda, 115 granadas de armas pesadas, 20 cunhetes de munições de armas ligeiras e 92 minas anticarro e antipessoal, destas, parte detectada e levantada nos itinerários.

Em 30SET60, recolheu a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso, sendo a sua ZA integrada no Sector S3, então sob responsabilidade do BART 2865.

Notas do Editor:
- Elementos recolhidos na Resenha Historico-Militar das Campanhas de África (1961-1974), 7.º Volume, Fichas das Unidades, Tomo II, Guiné.
- Emblema da colecção do nosso camarada Carlos Coutinho
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 25 de Julho de 2011 > Guiné 63/71 - P8600: Em busca de... (172): Adalberto Santos, ex-Pára-quedista do BCP 12, Guiné, 1967/72, procura camaradas

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8376: Parabéns a você (269): Manuel Traquina, ex-Fur Mil da CCAÇ 2382 e Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do STM (Tertúlia / Editores)

PARABÉNS A VOCÊ

DIA 5 DE JUNHO DE 2011

MANUEL TRAQUINA

NO DIA DE ONTEM ESTEVE DE PARABÉNS O NOSSO CAMARADA MANUEL TRAQUINA.

EM CONSEQUÊNCIA DO VI ENCONTRO DA TERTÚLIA OCORRIDO NO DIA 4, SÓ HOJE FOI POSSÍVEL VIRMOS AQUI EM NOME DA TERTÚLIA E OS EDITORES DESEJAR AO NOSSO CAMARADA MANUEL TRAQUINA AS MAIORES FELICIDADES E UMA LONGA VIDA COM SAÚDE JUNTO DE SEUS FAMILIARES E AMIGOS.

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Nota de CV:

(*) Manuel Traquina foi Fur Mil na CCAÇ 2382 que esteve em Buba nos anos de 1968 a 1970


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Com os parabéns de Miguel Pessoa

PARABÉNS A VOCÊ

DIA 6 DE JUNHO DE 2011

BELARMINO SARDINHA

NESTE DIA DE FESTA, A TERTÚLIA E OS EDITORES VÊM POR ESTE MEIO DESEJAR AO NOSSO CAMARADA BELARMINO SARDINHA AS MAIORES FELICIDADES E UMA LONGA VIDA COM SAÚDE JUNTO DE SEUS FAMILIARES E AMIGOS.

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Notas de CV:

Belarmino Sardinha foi 1.º Cabo Radiotelegrafista STM em Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau) nos anos de 1972 a 1974.

Vd. último poste da série de 3 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8367: Parabéns a você (268): António Azevedo Rodrigues, ex-1.º Cabo do Agrupamento 2957 (Tertúlia / Editores)

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7324: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina (8): Dia de Aniversário

1. O nosso Camarada Manuel Traquina, ex-Fur Mil At Inf da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70, enviou-nos, com data de 21 de Novembro de 2010, a seguinte mensagem:

Camaradas,

Para que possa constar no blogue o meu dia de aniversário é o dia 5 de Junho. Aproveito para enviar este texto que consta no meu livro “Os Tempos de Guerra”que relata um “equívoco” passado na messe de Buba naquele dia 5 de Junho de 1969.
Dia de Aniversário
Naquele dia o jantar tinha terminado, a messe de sargentos de Buba estava em “festa”. Normalmente era assim, quando alguém fazia anos.
Era a minha vez, era o dia 5 de Junho de 1969, dia do meu aniversário. Completava 24 anos de idade, contava já cerca de dois anos e meio de serviço militar e, para regressar a Portugal calculava que me faltava à volta de um ano. Tinham-se bebido umas frescas cervejas e, animadamente cantava-se a canção, Senhor de Matosinhos/ Senhor da Boa hora/ Ensinai-nos o Caminho/ Para sairmos daqui para fora. Além de outras esta, pela sua letra, era a preferida.
A música vinha da viola do Cardoso da 15ª Companhia de Comandos, e do acordeon do Gonçalves da CCS do Batalhão 2834. O Furriel Henrique, (mais conhecido pelo Henrique da Burra) com a sua habitual actuação teatral, punha todos a rir. Aquela alcunha ao que parece tinha sido herdada do seu pai, que lá para os lados de Cascais, era bastante conhecido pelo “Chico da Burra”.
Naquele dia o Henrique da Burra, descalço, e com uma toalha atada á cintura, simulando uma mini-saia, tentava imitar a bonita e popular cantora inglesa Sandiechow, que tinha sido concorrente ao festival da Eurovisão.
Assistindo a esta festa estava o Dr. Franco, médico do aquartelamento de Buba, acabado de chegar de Bissau, estava visivelmente desambientado, apenas abanava a cabeça, enquanto dizia “ estão todos apanhados”, assim achou melhor retirar-se. Mas quando a “festa” atingia o seu auge, eis que se gera o pânico. Atropelando-se, todos largam a correr porta fora em busca de abrigo. Ouvira-se o que se julgou ser a “saída” de um morteiro iniciando mais um ataque. Afinal tudo não passara do bater da porta do frigorífico do bar que produzia o ruído semelhante à saída da granada do morteiro.
O Simplício, encarregado do bar, foi repreendido para não voltar a bater assim com a porta do frigorífico. É que, naquela situação de guerra em que se vivia, qualquer barulho do género era suspeito. Bem, depois de tudo acalmar beberam-se mais umas cervejas, e a festa continuou embora tivesse perdido um pouco o seu ritmo. Foi esta a festa do meu 24º aniversário que ficou para não mais ser esquecida.

Um abraço,
Manuel Traquina,
Fur Mil At Inf da CCAÇ 2382
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
12 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4327: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (7): O saxofone que não tinha sapatilhas

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6808: Notas de leitura (138): Os Tempos de Guerra De Abrantes à Guiné, de Manuel Batista Traquina (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Julho de 2010:

Queridos amigos,
O Manuel Traquina prima por ser despretensioso, presta no seu livro uma justa homenagem aos condutores e mecânicos.
Confesso que estava a ler e dei conta da tremenda injustiça que foi não ter dado o justo relevo aos condutores e mecânicos que tanto me ajudaram no Cuor e na região de Bambadinca.
O que seriamos nós sem aquelas máquinas a rugir pela picada fora?

Um abraço do
Mário


Memórias de um tempo de guerra, algures entre Bula e Buba

Beja Santos

Chama-se Manuel Batista Traquina, faz parte da nossa agremiação e vazou em livro as suas memórias e considerações colaterais sobre a guerra que experimentou entre 1968 e 1970. O produto final toca pela simplicidade e desafectação: “Os Tempo de Guerra, De Abrantes à Guiné”, por Manuel Batista Traquina, Edição Palha de Abrantes, 2009.

No essencial, temos aqui o registo da CCaç 2382. O seu comandante, Carlos Nery Sousa Gomes de Araújo sente orgulho em recordar no prefácio um comentário de Carlos Fabião quando este assumiu o comando o COP4, assim se referindo à CCaç 2382: “A melhor companhia do Sul da Guiné”. Foi uma companhia afortunada, só dois dos que tinham embarcado em Maio de 1968 é que morreram.

Manuel Traquina era o responsável pela manutenção do parque de viaturas. Mas o seu registo tem um espectro muito amplo: reúne as suas reminiscências desde que assentou praça nas Caldas da Rainha, a sua passagem pela Escola Prática de Serviço e Material, depois Elvas, mais adiante Beirolas, e depois Abrantes, já com a CCaç 2382; o prato substância, claro está, serão os acontecimentos que ele viveu no teatro de operações, sobretudo de Bula a Buba.

Escreveu em jornais a sua experiência, tece considerações sobre a legitimidade da guerra, não esqueceu as viagens do fim-de-semana (sempre com a gasolina partilhada pelos companheiros de viagem), vai observando a composição social e não foge aos comentários. Por exemplo, em Beirolas, no Depósito Geral de Material de Guerra: “Neste aquartelamento depressa me apercebi que ali se encontravam filhos de gente importante, bastante influentes para que os filhos ali passassem o serviço militar, sem o risco e o inconveniente da guerra colonial. Havia mesmo aqueles que entravam e saíam trajando civilmente e que à porta do quartel deixavam estacionados Ferraris e outros carros idênticos, que deixavam transparecer a vida abastada dos seus proprietários”.

Dentro das suas memórias, insere os documentos da história da unidade, não se coíbe do seu mister de cronista. Em 1 de Maio de 1968 embarcam no Niassa. As memórias ganham a partir daqui mais vivacidade: as referências ao infortunado Ramiro Duarte; a evocação da companhia como uma família de 160 pessoas; o colorido e a lufa-lufa de Bissau; um apanhado sobre a guerra da Guiné; a morte do Flora da Silva, um manjaco corajoso, cuja vida se perdeu perto de Bula; a descrição da Mampatá; o ataque a Contabane em 22 de Junho, que reduziu a tabanca a cinzas; as vicissitudes do furriel Pinho, o zelador das Transmissões; vicissitudes das colunas entre Buba e Aldeia Formosa; o sapateiro de Nhala, que não se sabe muito bem se era ou não agente duplo; história de “Os Maiorais”, como era conhecida a CCaç 2381; lembranças de crianças, como aquele pequeno Mamadu, que resolveu ir à caça das rolas com a Mauser e surpreendeu os guerrilheiros que se preparavam para um ataque a Mampatá; a vida operacional em Buba.

Buba está no coração das suas memórias, histórias de lavadeiras, quezílias entre militares, brincadeiras de mau gosto, a chegada do correio, os jogos de futebol, as letras de fado adaptadas às circunstâncias da guerra, as dores dos sinistrados, a nova estrada entre Buba e a Aldeia Formosa que se revelou não servir para nada, as pescarias no rio Grande de Buba, a homenagem aos condutores e aos mecânicos.

Manuel Traquina procura associar o leitor à compreensão do território: os rios, a existência de prisioneiros de guerra, como se chegou ao desenho do distintivo da CCaç 2382, a acção de Spínola, por exemplo. Mas também os condimentos do quotidiano: como tomar duche com a água escassa ou a cerveja pluriusos (bebida cujas garrafas eram utilizadas como aparelhos de alarme, as garrafas batiam no arame farpado e anunciavam aos sentinelas a presença do inimigo).

É um caderno de alguém que se comprazeu a ser útil, a fazer amizades e que ainda hoje se orgulha do dever cumprido. Escreve sem rancores, junta serenamente as suas notas de observação, confunde-se com a crónica dos acontecimentos da CCaç 2382. Não arma em herói nem em vítima. É um testemunho que os historiadores não poderão ignorar. Até pela sinceridade.
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Notas de CV:

Vd. último poste da série de 28 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6802: Notas de leitura (137): Invenção e Construção da Guiné-Bissau, de António Duarte Silva (3) (Mário Beja Santos)

Vd. poste de 30 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4441: Bibliografia de uma guerra (48) "Os Tempos de Guerra - De Abrantes à Guiné", de autoria de Manuel Batista Traquina

terça-feira, 8 de junho de 2010

Guiné 63/74 - P6561: Histórias de Carlos Nery, ex-Cap Mil da CCAÇ 2382 (3): Fui o criador do emblema da Companhia, e gosto

1. Em Mensagem de 4 de Junho de 2010, o ex-Cap Mil Carlos Nery, Comandante da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70, conta-nos como surgiu a ideia de criar o emblema da sua Companhia e as reacções ao Zé do Olho Vivo, símbolo do militar atento e corajoso, capaz de se suplantar nos momentos mais difíceis.


Emblema da CCAÇ 2382 de autoria do seu Comandante o ex-Cap Mil Carlos Nery.
Divisa: "Por estradas nunca picadas, Por picadas nunca estradas"



Foi o Alf Curado e Silva quem me disse: "Capitão, a rapaziada gostava de ter um emblema que pudesse pôr sobre o bolso da camisa da farda e que identificasse a Companhia..."

Eu era alérgico a grandes aparatos assumindo falsos "espíritos de corpo" mas naquele momento senti que, no nosso caso, havia já bastante união e camaradagem para podermos usar algo que nos identificasse. Entrei no meu gabinete, puxei pelo meu velho jeito para a bonecada e, durante umas horas daquela noite de Buba, lá estive, de esferográfica em punho, puxando pela imaginação.

Achei que devia homenagear o soldado comum, possuidor daquela sagacidade, coragem e suficiente boa disposição que lhe permitiria voltar aos braços dos seus pais, das suas noivas, dos seus familiares, terminados os cerca de dois anos de Guiné. Fiz o desenho sem uma emenda, acho que estava inspirado... Depois foi encomendar os guiões, crachás e emblemas e... Creio que foi um sucesso!...

Quando aguardávamos embarque, em Brá, ainda apareciam militares de outras unidades, que eu nem conhecia, pedindo-me, por tudo, um guião! Chegaram-me também alguns reparos: parece que eu não havia respeitado as regras de heráldica militar! Claro que isso foi o que menos me preocupou... O engraçado é que descobri, recentemente, que a maioria da rapaziada nem sabia que tinha sido eu o autor do desenho... Tudo bem!... Gostaram, não foi? Era o mais importante...

Este foi o comentário que deixei no Poste 2791 do Furriel Manuel Traquina da CCAÇ 2382. Repararam no minha satisfação? Mas há certos assuntos, próprios da intimidade da caserna, que ficam por lá... O Capitão é o último a saber... Alguns só me foram contados há pouco tempo quando já se não receava a "minha justa ira", para usar a expressão tão ao gosto de Carlos Fabião...

Vem isto a propósito do distintivo da CCAÇ 2382, desenhado por mim numa serena noite de Buba...

O assunto assemelha-se a uma cebola a que se vão tirando camadas para surgirem outras mais profundas...

Primeiro descobri que muitos militares, o Traquina, por exemplo, não faziam ideia de quem tinha sido o autor do desenho... Mas logo esclareci o assunto. O Traquina ainda teve tempo de modificar o texto do Capítulo "O Distintivo da Companhia" do seu livro Os Tempos de Guerra,  dando o "seu a seu dono" no que respeita à autoria do Distintivo... Confesso que fiquei mais sossegado... E logo me agarrei a outra tábua de salvação que volto a transcrever: "Tudo bem!... Gostaram, não foi? Era o mais importante..."

O pior, amigos, é que já não estou tão confiante...

Vou contar:

Este ano, no almoço que reuniu as CCAÇ 2381 e CCAÇ 2382, eis-me a falar com o Cancela, soldado da minha companhia e membro da Tabanca Grande... A conversa andou por estes temas, o Cancela entusiasmado com o nosso blogue e entusiasmando-me a colaborar também nele. Não sei porquê falo no distintivo... Que pensava escrever qualquer coisa sobre ele... Na expressão do Cancela passa uma nuvem de desagrado... "Aquele emblema"... E num trejeito desagradado: "Os Palhaços"...

Como podem calcular,  isto é demais para um homem só... Afinal nem toda a gente gosta da minha obra-prima... Claro... Afinal o não cumprimento das regras e do espírito da heráldica militar tem o seu preço...

Olho melhor para o distintivo... Bem... De facto aquilo tem pouco de marcial... "Por Estradas Nunca Picadas"... "Por Picadas Nunca Estradas"... Uma gracinha nada mobilizadora de uma atitude bélica... E a figura central? O tal "Zé do Olho-Vivo"? Um boneco engraçado, talvez... Mas não teria sido preferível colocar ali um bicho? Um Leão, uma Pantera ou um Tigre? Ou até um Gato, de preferência Negro? Olha,  uns camaradas nossos optaram por ser os "Morcegos de Nhala"... Bom, também... Quanto aos amigos da CCAÇ 2381 são os "Maiorais"... Que tal?... Há um sugestão de autoridade, no Oeste... Outros levam lenços de côr mal embarcam: "Os lenços Vermelhos, Azuis, Verdes, sei lá... Côr-de-rosa, acho que não"...

Mas essa do Zé do Olho Vivo... Ainda por cima ostentando um nariz redondo e vermelho... Sim... Eu estava a pedi-las naquela noite, em Buba...

Bem,  a idéia era ir buscar uma inspiração talvez ao Bordalo, à figura do Zé Povinho... Que se identificasse com o Zé Soldado, de olho alerta, atento, corajoso, capaz de passar além das minas e armadilhas existentes nas picadas da vida...

Olha: Eu gostei... E gosto... E aqui já não há mais camada que me incomode... Desculpa lá, ó Cancela, soldado amigo... Eu gosto!
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 29 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6489: (Ex)citações (63): A minha homenagem à enfermeira pára-quedista Ivone Reis que ficou connosco, em Contabane, a cuidar dos feridos graves (Carlos Nery)

Vd. poste de 23 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2791: Álbum das Glórias (46): O distintivo da CCAÇ 2382, 1968/70 (Manuel Baptista Traquina)

Vd. último poste da série de 27 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6479: Histórias de Carlos Nery, ex-Cap Mil da CCAÇ 2382 (2): Noite longa em Contabane

domingo, 18 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6183: Tabanca Grande (213): Carlos Nery Gomes de Araújo, ex-Cap Mil, CCAÇ 2382 (Buba, 1968/70)



Guiné > Região de Quínara > Buba > CCAÇ 2382 (1968/70) > Dia do pagamento do pré. Cap Mil Art Gomes de Araújo, Alf Mil Curado, Sargento Boiça e Fur Mil Henrique. A foto é do nosso camarada Manuel Traquina, retirada e editada, com a devida vénia, do seu livro, Os tempos de guerra: de Abrantes à Guiné (Abrantes: Palha de Abrantes, 2009, p.130).




1. Texto de Carlos Nery, com data de 13 do corrente, enviado ao editor do blogue, com conhecimento ao Manuel Traquina (ex-Fur Mil da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70)

Assunto: O Guião da CCaç 2382

Amigo e Camarada,

Sou o Carlos Nery Gomes de Araújo, fui o comandante da CCaç 2382. Capitão Miliciano, portanto. Teria muita coisa a contar da minha experiência de Guiné... Por vezes, até, tenho a sensação de que nem saberia por onde começar...

Tenho reparado que, à medida que o tempo passa, me vão surgindo fragmentos, aparentemente sem importância e que, pouco a pouco, vão conquistando um relevo até agora insuspeitado. Por exemplo, sou um amador (no sentido em que amo) de Teatro. Aliás, em Bissau, no fim da comissão, ainda encontrei disposição para encenar "A Cantora Careca", de Ionesco... Teatro do absurdo em teatro de guerra... Um dos meus actores foi o Alferes Barbot, da Secção de Justiça do QG, hoje escritor Mário Cláudio. No programa do espectáculo escreveu um texto muito a propósito da situação dos muitos absurdos em que estávamos mergulhados...

Bem... Passaram-se quarenta anos, não é? Pois acontece que, neste momento, participo numa empolgante experiência no Centro Cultural de Belém.

Dir-lhe-ei que foram convidadas pessoas com experiência teatral com idade superior a sessenta anos. Tiago Rodrigues (actor, dramaturgo e encenador) é o responsável pelo projecto que aponta para a formação da Companhia Mayor do CCB. O texto ainda não existe. Ou melhor vai sendo construído por nós. Numa primeira apresentação pública eu "fui" um soldado que conta um episódio baseado em algo que aconteceu realmente:

Em 26 de Agosto de 1968, a CCaç 2382 estava empenhada na segurança à coluna Aldeia Formosa/Buba efectuada pela CCaç 2381.

O inimigo actuara nos pontões da estrada, destruindo, por completo o do Rio Gunti e colocando minas A/P e A/C nas imediações. A água da chuva subira nas bolanhas. Um dos militares da 2381 pisara uma mina perdendo um pé. A Força Aérea informava só poder fazer a evacuação de Nhala, afirmando não ter tecto para descer junto da coluna atascada numa das bolanhas. Pedi voluntários e parti com eles até encontrá-la. Há lençois de água com centenas de metros. O capitão Aidos, metido na bolanha, faz passar viatura a viatura puxadas por um guincho. Um inferno!

Regressamos com o ferido. Tinham sido cerca de oito quilómetro até à coluna. Outro tanto no regresso mas carregados com a maca que nunca julguei ser tão pesada! Mas o helicóptero aguarda-nos em Nhala. O ferido recebe os primeiros tratamentos e é levado para o Hospital de Bissau.

Baseado neste episódio real, improvisei, portanto, um texto que disse nessa primeira apresentação pública. "Fui" um soldado descrevendo e comentanto aquilo que vivemos então.

Mas muito mais poderia relatar. O célebre ataque a Buba, que já comentei em http://coisasdomr.blogspot.com/2009/01/guin-atauqe-buba-livro-guerra-colonial.html (*), mas que talvez merecesse um relato mais detalhado. O ataque a Contabane, no início da nossa comissão. (Sobre este último escrevi um texto, já publicado, que poderei facultar). E as tais pequenas coisas, aquelas sem importância mas, talvez, as que têm mais encanto como a que descrevi no CCB.

Um abraço do Carlos Nery

2. Comentário de L.G.:

A Internet tem destas coisas, está a transformar-se num verdadeiro Big Brother, para o melhor e para o pior. Deixámos de poder passear, tranquilos e anónimos, pelo espaço público... Foi o que aconteceu ao Carlos Nery, que vim a descobrir que vivia em Alfragide. Daí até arranjar o seu nº de telefone fixo foi um ápice, permitindo-me entrar em contacto com ele. Primeiro que tudo, somos vizinhos... Mais vizinho ainda dele é o Humberto Reis, ambos moram na mesma rua, a Dom Luís I...

Além disso, o Carlos é bancário, reformado, tendo trabalhado no Banco de Portugal, o que quer dizer que temos alguns amigos e conhecidos comuns... No início da década de 1960 era estudante em Coimbra, tendo sido um dos fundadores da Real República Trunfé-Kopos... O grande entusiasta da passagem do Solar a República foi o Dr. Jacinto Magalhães, médico já falecido (em 1987), que passou á história da saúde em Portugal por ter sido o pioneiro, em 1971, do teste do pezinho (diagnóstico pré-natal). O seu nome passa a estar imortalizado através do Centro de Genética Médica Dr. Jacinto Magalhães, com sede no Porto, e que faz parte do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge.

O Carlos Nery contou-me, rapidamente, a sua história: tinha feito a tropa nos anos 1957/59, dez anos depois seria chamado para o Curso de Milicianos... Ei-lo, pois, a comandar a CCAÇ 2382, que esteve na Região de Quínara (Buba) mas também na Região de Tombali (Aldeia Formosa)... Falámos logo de camaradas conmhecidos, o Manuel Traquina (CCAÇ 2382) mas também o Zé Teixeira (CCAÇ 2381)... Doutro Maioral, o Alf Mil José Belo, ele não se lembra... A propósito, estas duas companhias (independentes, mas que andaram pelos mesmos sítios e actuaram em conjunto nalgumas operações), vão-se encontrar em Fátima, no dia 1 de Maio, em almoço-convívio anual...

O Carlos Nery conhece o nosso blogue e aceitou o meu convite para ingressar na nossa Tabanca Grande (**). Um dia destes vamo-nos encontrar, para continuar a nossa conversa. Para já, ficamos a saber que é o autor do brazão ou logótipo da sua companhia (pormenor que terá passado despercebido ao Manuel Traquino). Que teve um único morto, o infeliz "Esgota.Pipas", vítima do ataque ao quartel de Buba, em 14 de Fevereiro de 1969 (é evocado pelo Manuel Traquina, no seu livro, a pp. 143/144). E, finalmente, que ficou em Bissau, por razões burocráticas, depois da companhia regressar à Metrópole, tendo levado à cena a peça do Ionesco, "A Cantora Careca", com três actores, que hoje são figuras públicas: o escritor Mário Cláudio, o constitucionalista Canotilho Gomes e um advogado madeirense, de apelido Vasconcelos, cujo nome não retive (João ? José ?).

Carlos, sê bem vindo! Temos uma série, Eu, Capitão Miliciano, Me Confesso (***), a que tens que dar continuidade.

______________

Notas de L.G.:

(*) Comentário ao poste de 25 de Janeiro de 2009 > M48 - Guiné - Ataque a Buba (Livro Guerra Colonial do Diário de Notícias)

(...) Eu era o Comandante da CCaç 2382, uma das unidades sediadas em Buba quando do ataque. A frase transcrita do relatório,, então elaborado, foi de minha autoria. Porém, o desenho baseado naquele que fiz nesse mesmo relatório, contém algumas inexactidões.

Efectivamente os cinco bigrupos do PAIGC que pretendiam entrar em Buba (cerca de 300 homens) foram emboscados por um grupo de combate da CCaç 2382, comandado pelo Alf Mendes Ferreira, e por elementos do Pelotão de Milícia, postados no exterior do aquartelamento para lá da pista de aviação, tendo retirado com baixas e sem atingir o seu objectivo. Nessa retirada utilizaram o largo trilho aberto quando da sua aproximação.

Enquanto isto, a nossa artilharia, 2º Pelotão/BAC, comandado pelo Fur Mil Gonçalves de Castro, atingia com eficácia a posição dos morteiros inimigos. Ficaram no local e foram capturadas na madrugada seguinte pelos fuzileiros do DFE 7, 158 granadas, das 180 com que contava o Comandante Peralta na sua "Ordem de Fogo", preparando o ataque a Buba.

Entretanto, os dois morteiros 81, guarnecidos pelo Pel Mort 2138, atingiam a posição ocupada pelo comando do ataque IN, instalado na margem direita do Rio Mancamã, junto à foz. No lusco-fusco desse fim de tarde, viu-se, do quartel, a confusão de vultos em fuga, por entre o capim, nessa outra margem do rio. A maré estava baixa. Um frémito percorreu os defensores. Elementos do DFE 7, da CCaç 2382 e da Milícia, sob o comando do Tenente Nuno Barbieri, alcançam a margem do rio Bafatá, fronteira à posição dos canhões sem recuo e do comando inimigo. É aí deixada uma base de apoio comandada pelo Alf Domingos, da CCaç 2382, enquanto o Tenente Barbieri tenta ganhar a margem oposta no comando dos restantes voluntários, actuação esta que fez aumentar a confusão existente no dispositivo inimigo. Uma noite sem lua caíra, entretanto. Foi decidido regressar ao quartel.

O relatório desta acção foi recebido com cepticismo em Bissau. Porém, quando da captura do Comandante Peralta, pelos Pára-quedistas, passados poucos dias, foi constatado que os planos de sua autoria para atacar Buba se ajustavam à descrição por nós elaborada.

Na realidade, o Comandante Pedro Peralta cometeu algumas falhas: as obsevações que mandou efectuar deixaram sinais detectados pelos nossos patrulhamentos. Por outro lado a preparação do tiro de artilharia que efectuou nas vésperas do ataque (disparos isolados ocorriam a horas inesperadas) levou-nos a prever o tipo de ataque que se preparava. Para cúmulo instalou as suas bocas de fogo nos pontos de mais provável instalação, já utilizados em inúmeros outros ataques. Mal foram ouvidas as "saídas" da artilharia inimiga já a nossa resposta ía a caminho com precisão. O resto já está descrito. Mas o "azar" de Pedro Peralta não acabou ali. Passadas escassas semanas, no dia 18 de Novembro, caía numa emboscada dos pára-quedistas do CCP 122, onde foi gravemente ferido e capturado pelas nossas tropas. Ficava adiada por mais uns anos a tentativa do PAIGC de fazer subir a fasquia do tipo de guerra de que vinha tomando a iniciativa.

Gomes de Araújo (Cap Mil Art) (...)

(**) Vd. último poste desta série > 16 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6166: Tabanca Grande (212): Manuel Carvalho Passos, Pel Rec Inf/CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/73 (Juvenal Amado)

(***) vd. postes de:

28 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3248: Eu, capitão miliciano, me confesso (1): Engenheiro agrónomo, ilhavense, 32 anos, casado, pai de 4 filhos... (Jorge Picado)

17 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3581: Eu, capitão miliciano, me confesso (2): Vasco da Gama, CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5901: Um monóculo do General Spínola no Museu de Silgueiros (Manuel Traquina)

1. Mensagem de Manuel Traquina (*), ex-Fur Mil da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70, com data de 29 de Outubro de 2009:

Caro Luis Graça:
Por esse país fora, um pouco por todo o lado encontram-se vestígios de camaradas da Guiné, efectivamente fomos tantos que por lá passámos!

Estive na passada semana a fazer um pequeno tratamento termal em S. Gemil que fica poucos quilómetros a sul de Viseu.

Nos arredores, a cerca de dez quilómetros de Viseu, na pequena localidade de Passos de Silgueiros encontrei por acaso, um pequeno museu** que, como habitual não deixei de visitar.

Ali fiquei surpreendido ao ver exposto um dos monócolos de General Spínola, acompanhado por um cartão com a sua assinatura, e mais ainda uma pequena vitrina com várias recordações oferecidas pelo pároco local que foi capelão militar na Guiné.

Curioso é que aquele pároco tem um pequeno crucifixo que ele próprio executou com estilhaços de granada de morteiro do inimigo que recolheu após um ataque a Aldeia Formosa.

Logo que me seja possível enviarei algumas fotos e mais alguns pormenores

Um Abraço
Traquina
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 – P4903: Notas de leitura (20): Histórias do pessoal da CCAÇ 2382, por Manuel Traquina (Parte I) (Luís Graça)

(**) Museu de Silgueiros

- Negritos da responsabilidade do editor

domingo, 6 de setembro de 2009

Guiné 63/74 – P4903: Notas de leitura (20): Histórias do pessoal da CCAÇ 2382, por Manuel Traquina (Parte I) (Luís Graça)


Notas de leitura (20), por Luís Graça (aqui, ainda em férias, no 'turismo rural' de Candoz, no dia 4 de Setembro de 2009)


Foto: © Augusto Pinto Soares (2009). Direitos reservados


Manuel Traquina (ver foto abaixo) nasceu no Souto, Abrantes, em 1945 (*). Frequentou o Curso de Sargento Milicianos (CSM), nas Caldas da Rainha, no 1º trimestre de 1967. Em 30 de Março, dava início à especialidade de Mecânico Auto (vulgo, ferrugem) na Escola Prática de Serviço e Material (EPSM), em Sacavém.

Fez ainda estágio no Centro de Instrução de Condutores Auto nº 3 (CICA3) em Elvas. Em finais de Agosto, é transferido para o Depósito Geral de Material de Guerra (DGMG), em Beirolas. Quinze dias depois, a 13 de Setembro, é mobilizado para a Guiné. A 19 de Fevereiro de 1968, apresenta-se no RI 2, em Abrantes, a fim de integrar a CCAÇ 2382. Passados dois meses e meio, a 1 de Maio de 1968, parte no Niassa, com destino a Bissau, aonde desembarca a 6.

Na Guiné, passou pelos seguintes aquartelamentos: Brá, Bula, Aldeia Formosa e Bula. Regressa a Portugal em Abril de 1970, no mesmo T/T Niassa.

Depois da ‘peluda’, trabalhou em Angola, no Serviço de Emprego. Regressa Portugal, na sequência do processo de descolonização. Em Abrantes, é técnico de emprego, do Centro de Emprego local. Está actualmente aposentado do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFO).


Um livro publicado com o apoio financeiro de antigos camaradas da CCAÇ 2382

Publicou em Maio de 2009 o seu livro de memórias, Os Tempos de Guerra – De Abrantes à Guiné, edição de Palha de Abrantes – Associação e Desenvolvimento Cultural, com sede em Abrantes, e patrocínio de diversos antigos camaradas da CCAÇ 2382.

Desses antigos camaradas, é de destacar o nome dos seguintes:

(i) Ex-Sol João Bento Cosme, sócio gerente da empres Construções e Habitações Lda, com sede em Vimeiro, Lourinhã (Telemóvel: 962 715 464);

(ii) Ex-Alf Mil At Inf Luís M. Simão Almeida, hoje advogado, em Lisboa (Telefone: 213 555 996);

(iii) Ex-Fur Mil At Inf Cipriano Augusto S. Monteiro, hoje gerente da Contassis – Contabilidade e Assistência Fiscal, Lda, com sede em Lisboa (Telefone: 213 511 510);

(iv) Ex-1º Cabo Trnms José Manuel de Oliveira Madeiras, sócio-gerente da Estrela da Beira – Sociedade de Comércio e Transformação de Carnes Lda, com sede em Milreu, Vila de Rei. (Telemóvel: 919 980 325);

(v) Ex-1º Cabo Radiotelegrafista António Joaquim Coelho, gerente da AJC – Serrelharia Civil, de Fernão Ferro, Seixal (Telefone: 21 124 047);

(vi) Ex-1º Cabo Mec Auto Rodas Manuel Fernando O. Magalhães., gerente da Auto Magalhães, de Jovim, Gondomar;

Teve ainda o patrocínio da Pensão Primavera, de Vidago (965 479 816); da Quinta do Lago, Alferrarede, Abrantes; e da firma Eusébio Catarino e Filho, Lda, Vale de Vacas, Amêndoa (Tel. 274 877 177).

Na prática, foi uma edição de autor, com o apoio financeiro de vários camaradas da Guiné. Trata-se de uma iniciativa que é digna de registo e merece o nosso aplauso.


Das Caldas da Rainha (RI 5) a Abrantes (RI)2), passando por Sacavém (EPSM), Elvas (CICA 3) e Beirolas (DGMG)


Tudo começa pelo RI 5, nas Caldas da Rainha, em 1967, sítio para o qual o Manuel Traquina foi enviado, em Janeiro de 1967, para frequentar o CSM – Curso de Sargentos Milicianos. No comboio da Linha do Oeste, a caminho das Caldas, encontrou dois conterrâneos, o Rui Navarro e o Joaquim Silvério Alcaravela (Este último julgo tratar-se do mesmo Alcaravela, colega de sociologia, que foi meu antigo aluno do Curso de Administração Hospitalar da Escola Nacional de Saúde Pública, e que fará depois uma brilhante carreira à frente dos Hospitais do Serviço Nacional de Saúde, incluindo o hospital da sua terra, hoje integrado no Centro Hospitalar Médio Tejo).

Nas Caldas pertenceu ao 3º Pelotão da 6ª Companhia, de que era comandante o então tenente Vasco Lourenço. O Manuel Traquina era o nº 1107 e o Silvério o nº seguinte, o 1108. Foi-lhe distribuído uma G3, velinha nas que tinha de estar sempre impecavelmente limpa. “Era preciso ter cuidado, não deixar roubar o protector de boca, porque se faltasse tinha que ser pago. Era habitual que alguém o roubasse, para a seguir no-lo tentar vender… Achei engraçado que em calão militar, ao vulgar utensílio de refeitório, a colher, se chamasse o mesmo nome de ‘protector de boca’ (p. 20/21).

Das várias recordações desse tempo, o Traquina menciona a célebre “padaria na estrada de Óbidos, onde alta noite íamos comprar pão quente” (p. 21), a par do Campo de Tiro da Tornada. Um café das Caldas que devia ser evitado era o Zaida, onde pairavam os oficiais. De preferência, os recrutas davam salto, nas horas livres, à Foz do Arelho.

A parte final da recruta, a semana de campo, teve lugar nos pinhais entre a Foz do Arelho e a povoação da Tornada. Era Inverno e os recrutas eram, frequentemente, acordados por um sádico de um oficial para lhes dar “algumas notícias da actualidade” (sic)… Comenta o Traquina: “só mais tarde me apercebi do efeito psicológico de atitudes deste género”. No essencial, a recruta reforçou duas coisas importantes, em matéria de valores, e que marcaram o autor para o resto da vida, “a disciplina e a pontualidade” (p. 22).

No final de Março de 1967, o Traquina segue para Sacavém, para a Escola Prático de Serviço e Material (EPSM), para tirar a especialidade de Mecânico Auto. O acrónimo EPSM também era objecto do humor de caserna: Entras Pedreiro, Sais Mecânico. Ali perto corria o Rio Trancão, com o seu já famigerado mau cheiro (p. 26).

Em Junho de 1967, terminado o período de especialidade, o Traquina ruma ao Centro de Condutores Auto nº 3 (CICA 3), em Elvas (pp. 27/28). No CICA3 onde “havia alguns velhos sargentos, cuja especialidade anterior era Ferrador no tempo em que ali havia cavalos” (p. 27), o tempo passou depressa e bem… Ia-se ao Caia, na fronteira, “ver las chicas” (p. 28).

O próximo destino foi o Depósito Geral de Material de Guerra, em Beirolas (que ocupava um espaço integrado hoje no Parque das Nações). Em Beirolas, o Traquina tinha “um emprego sem ordenado (recebia, como pré, no final do mês, cerca de 80$00)”.

Com surpresa, apercebe-se que por aquele quartel passavam filhos de algo, “filhos de gente importante, bastante influentes para que os filhos ali passassem o serviço militar, sem o risco e o inconveniente da guerra colonial. Havia mesmo aqueles que entravam e saíam trajando civilmente e que, à porta do quartel, deixavam estacionados Ferrari e outros carros idênticos, que deixavam transparecer a vida abastada dos seus proprietários” (p. 29).

O Traquina levanta aqui uma questão que também tem a ver a natureza não-democrática do Estado Novo: nem todos éramos iguais perante a Pátria; o dinheiro, o estatuto social e a influência política foram usados, nessa época (como noutras), para safar alguns jovens portugueses (ligados, directa ou indirectamente, aos círculos da elite dirigente) das agruras de África e sobretudo da guerra colonial… 0 Traquina não pertencia a esse grupo de gente de excepção: por Ordem de Serviço de 13 de Setembro de 1967 é mobilizado para a então Província da Guiné. Em Fevereiro do ano seguinte, foi então juntar-se à sua futura CCaç 2382, que estava em formação na sua Abrantes natal…

Há um capítulo dedicado ao RI 2, em Abrantes, por onde terão passado muitas dezenas de milhares de militares destinados aos TO de Angola, Guiné e Moçambique, e ao IAO (Instrução e Adaptação Operacional) da CCAÇ 2382 (pp. 31-42). Também em Abrantes havia um café chamado Pelicano, ponto de encontro de militares, a lembrar um outro futuro Pelicano, o de Bissau. Na véspera da noite da partida o Fur Mil Ramiro de Sousa Duarte não parou de tocar, na sua viola, e de cantar, de viva voz, a canção então em voga, candidata portuguesa ao Festival da Eurovisão, “O vento mudou e ela não voltou”… Menos de um ano depois, o Duarte era um dos que estava na lista daqueles que não mais voltariam, com vida, à sua terra, nem voltariam a rever o Pelicano de Abrantes… Premonitoramente ou não, por inciativa do Duarte tinha sido criada em Nhacra, lá no cu de judas, um pequena cantina militar a que foi dado o nome de Pelicano (pp. 45/46).

Voltando ao IAO, e nomeadamente às experiências daqueles, como eu, que conheceram o Campo Militar de Santa Margarida … Quem não se lembra das brincadeiras estúpidas que fazíamos à noite, como os “golpes de mão ao bivaque do inimigo”, para roubar comida e bebida ? Numa dessas simulações da guerra da Guiné, debaixo de uma saraivada de pedras, espetei uma vez com um tiro de mauser, com bala de madeira, no traseiro do desgraçado de um cabo miliciano que se meteu à minha frente, no meio da noite e do alvoroço… Dezenas de estilhaços de madeira tiveram que retirados à pinça, pelo enfermeiro, ao longo de toda a noite… Prometi a mim mesmo nunca mais usar a merda de uma espingarda, até por que eu tinha a esquisita especialidade de Atirador de Armas Pesadas de Infantaria… Pensei, ingenuamente, que iria passar na Guiné uma missão tranquila, a afinar a pontaria dos morteiros 81 e 107…

Volto ao texto do Traquina: “Recordo que, algumas vezes, durante a noite, éramos acordados pelos tiros de assalto de um grupo comandado pelo Capitão São Martinho, que uma vez foi mal recebido…à pedrada” (p. 33). O homem não terá apreciado a resposta dos sitiados, mas lá engoli em seco, que “na guerra dá-se e leva-se”…

A partida das três CCAÇ (2381, 2382, 2383) , num total aproximado de 450 homens, foi feita em ambiente de festa, nas ruas de Abrantes, com direito a desfile e charanga militar (pp. 43/44). “Naquela noite de 30 de Abril do ano de 1968 ‘valia tudo’, a caderna estava um ‘pandemónio’. Muitos para esquecer, tinham bebido de mais” (p. 43).

Lisboa > Cais da Rocha Conde de Óbidos > 30 de Abril de 1968 > Embarque no Niassa, do pessoal da CCAÇ 2382 (Buba e Aldeia Formosa, 1968/70)e outras subunidades.

Foto: © Manuel Traquina (2008). Direitos reservados.


De Lisboa a Bissau, no velho Niassa

No Cais da Rocha de Conde de Óbidos, o Traquina assistiu a cenas que não mais esqueceu, como qualquer um de nós que por lá passou, a caminho da Guiné. “A despedida foi um quadro que, quem o viveu, o recorda como triste e arrepiante, com gritos, choros e desmaios” (p. 43).

Como muitos de nós, o Traquina mentiu à família sobre a data do embarque. Intencionalmente, para lhe poupar o inútil sofrimento da despedida. Esta prática não sei se era generalizada, mas já me foi confirmada por diversos camaradas da nossa Tabanca Grande. Ninguém partia para a guerra, com o exultante sentimento de orgulho por ir servir a Pátria. Naturalmente, houve excepções, e nomeadamente nos primeiros anos da guerra do Ultramar. Mas para muitos África, e em especial a Guiné, era vista como um degredo… Mas outros não escondem que, vistas as coisas retrospectivamente, até foi “o melhor tempo” das suas vidas…

Ei-lo agora, no T/T Niassa, “Tejo abaixo, passando por baixo da então nova ponte Salazar, e foi num instante que aquele navio atingiu o estuário do Tejo e se fez ao largo” (…) (p. 44).

No velho e glorioso Niassa, o autor evoca, entre outros detalhes, as ‘sonecas’ que os militares batiam no convés, ou ainda o passatempo que era “com um canivete, entalhar na madeira o seu nome, a data ou outra referência”… Depois de tantas viagens, e de tantos milhares de militares transportados, “aquele convés quase já não tinha um pedaço de madeira disponível para mais um nome” (p. 51).

O seu fim foi inglório, possivelmente hoje poderia ser um navio-museu: “as inscrições que nele foram feitas (…) representam também uma página da história da guerra colonial”… Este país de marinheiros, que tinha uma poderosa marinha mercante no auge da guerra colonial, sempre tratou mal o seu património ligado ao mar, e em especial os seus barcos. Veja-se, por exemplo, o que se passou com a frota bacalhoeira. Salvou-se, por uma unha negra, e sobretudo pela mobilização das gentes de Viana do Castelo, o navio-hospital Gil Eanes…

De Bissau, o Traquina deixa-nos dois ou três apontamentos que nos ajudam hoje a reconstituir ‘puzzle’ do roteiro da capital da Guiné, que “naquele tempo vivia à base dos militares” (p.55).

Tinha já então “uma larga avenida que descia da Praça do Império, onde se situava o Palácio do Governador até ao porto, o chamado Cais do Pijiguiti [, que em rigor é apenas uma parte do porto…]. Aqui começava a outra, também bonita, avenida marginal ornamentada com algumas palmeiras” (p. 56).

Havia um florescente comércio. Podia-se comprar “de tudo um pouco”, incluindo artigos que não vistos na Metrópole e sobretudo que era inacessíveis à maior parte das bolsas dos portugueses. “As vésperas de embarque eram grandes dias de negócio, eram centenas, ou mesmo milhares de militares que iam regressar a Portugal, e normalmente todos faziam as habituais compras nas lojas de Bissau (entre outras lembramos a Casa Escada, o Taufik Saad, a Casa Pintosinho e a Casa Gouveia)”… Era aí que se faziam as compras de última hora, as lembranças para amigos e familiares. “Na baixa da cidade cada porta era uma loja, os artigos orientais com a etiqueta ‘Fabricado em Macau’ invadiam já as lojas, muito antes de chegarem a Portugal” (p. 55).

A guerra trouxe mais cafés, restaurantes, pensões, e algumas casas de diversão. A oferta, em matéria do “repouso do guerreiro”, era contudo muito limitada: “nos fins de semana havia futebol no estádio, situado quase no centro da cidade, e o Cine-Udib exibia dos ou três filmes por semana. Havia 'A Meta', uma cervejaria com uma pista de carrinhos comandados à distância (…) A única praia existente situava-se na ilha de Bubaque, no Arquipélago dos Bijagós, inacessível à população” (p. 56).

A cidade não se dava a conhecer, logo à chegada, até por que praticamente todos os militares, ali desembarcados, partiam para o mato, no próprio dia, ou logo a seguir… “Aqueles que mais tempo permaneciam na cidade, à noite e fins de semana limitavam-se a dar umas voltas, todos sabiam onde podiam ver as poucas mulheres brancas de Bissau, que normalmente eram empregadas no comércio local. A esplanada do Café Portugal no centro da cidade, a Caldense ou o Pelicano na marginal eram os pontos de encontro, onde se bebia muita cerveja e comiam as picantes e tão apreciadas ostras. Da esplanada do Pelicano muitas vexes ouvia-se os rebentamentos e viam os clarões dos ataques ao aquartelamento de Tite, situado a sul de Bissau, do outro lado do rio Geba” (p.56)…

Curiosamente, o autor não faz qualquer referência a outros lugares obrigatórios de Bissau: o Café Bento ou a 5ª Rep (que eu não sei em que ano abriu) e o famigerado Pilão (pouco recomendável no tempo do Schultz, substituído em Maio de 1968 por Spínola no cargo de Governador Geral e Com-Chefe)…

O resto do livro reúne um notável conjunto de pequenas histórias, sketches ou simples apontamentos, de que falaremos mais em detalhe na II parte, histórias essas que já foram, algumas, aqui publicadas no nosso blogue (**).

(Continua)


_____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. postes de:

2 de Janeiro de 2008> Guiné 63/74 - P2399: Tabanca Grande (47): Manuel Traquina, ex-Fur Mil, CCAÇ 2382 (Buba, 1968/70)

5 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4642: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (18): Manuel Traquina, ribatejano, escritor... e fadista (Luís Graça)


7 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4648: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (19): Os nossos escritores (Luís Graça)


(**) Vd. postes de:

2 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2500: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (1): CCAÇ 2382 - A hora da partida

19 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3141: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (2): O ataque de 22 de Junho de 1968 a Contabane

17 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3214: Venturas e Desventuras do Zé do Ollho Vivo (3): Contabane, 22 e 23 de Junho de 1968: O Fur Mil Trms Pinho e os seus rádios

15 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3457: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (4): Baptismo de fogo e gemidos na noite

8 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3855: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (5): As colunas Buba-Aldeia Formosa

12 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4019: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (6): Estrada nova Buba - Aldeia Formosa

12 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4327: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (7): O saxofone que não tinha sapatilhas

Vd. também:

8 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4797: Cancioneiro de Buba (1): A paixão do futebol (João Boiça / Manuel Traquina)

14 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2944: Convívios (66): Pessoal da CCAÇ 2382, no dia 3 de Maio de 2008 na Vila de Óbidos (Manuel Batista Traquina)

23 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2791: Álbum das Glórias (46): O distintivo da CCAÇ 2382, 1968/70 (Manuel Baptista Traquina).

13 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2533: O cruzeiro das nossas vidas (10): Fui e vim no velho e saudoso Niassa (Manuel Traquina)

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4847: Buba: o Alf Mil Lourenço (CCS/BCAÇ 2834) e o Fur Mil Trms Pinho (CCAÇ 2382) (Manuel Traquina)

Guiné > Região de Tombali > Contabane > CCAÇ 2382 (1968/70) > Malta da CCAÇ 2382 instalada nma monumental baga-baga (candidato ao concurso O Melhor Baga-Baga da Guiné...), nas proximidades de Contabane, uma tabanca e destacamento destruídos na sequência do ataque, de três horas, levado a cabo pelo PAIGC em 22 de Junho de 1968.

Contabane foi então abandonado pelas NT e pela população. Mais tarde será feito um reordenamento, mesmo frente ao Saltinho. Por lá passou o nosso camarada Paulo Santiago, quando foi comandante Pel Caç Nat 53 (1970/72). A povoação hoje chama-se Sinchã Sambel.

Foto: © Manuel Traquina (2008). Direitos reservados



1 Pedido de esclarecimento do editor L.G., em 8 de Agosto de 2009, ao Manuel Traquina:


Manuel: Quem era o Alf Lourenço ? E o Fur Pombo ? (*) A que unidades pertenciam ? ... Presumo que à CCS do Batalhão...

Já li o teu livro, vou fazer um recensão. Gostei. És um bom contador de histórias... Parabéns... Podes adaptar e mandar mais umas tantas para o blogue...

PS - Não havia nenhum Alf Lourenço na Companhia dos Maiorais... Fiz confusão com o José Belo (que está na Suécia)... Vou ter que rectificar...


2. Resposta do autor do poste (*), com data de 20 de Agosto:Amigo Luis Graça:

Em relação à poesia dedicada ao torneio de futebol de salão em Buba (*), esclareço que o Alferes Lourenço (0 árbitro) pertencia à CCS do BCAÇ 2834. O Furriel Pinho foi na altura alcunhado de "o triste Pombo" Era o Furriel de Transmissões da [CÇAÇ] 2382 (A Companhia do Olho Vivo). Escrevi já anteriormente um pequeno artigo sobre ele, "O Pinho e os seus Rádios" (**). Era um grande amigo, um bom camarada infelizmente falecido hà cerca de um ano.

No meu livro (***) ele é falado algumas vezes e consta também a sua foto na despedida de Buba onde tem um ferimento na cabeça.

Um Abraço
Traquina

___________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 8 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4797: Cancioneiro de Buba (1): A paixão do futebol (João Boiça / Manuel Traquina)

(**) Vd. poste de 17 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3214: Venturas e Desventuras do Zé do Ollho Vivo (3): Contabane, 22 e 23 de Junho de 1968: O Fur Mil Trms Pinho e os seus rádios

(***) Traquina, Manuel Batista - Os tempos de guerra: de Abrantes à Guiné. Abrantes: Palha de Abrantes. 2009. 230 pp., 70 fotos [Contactos do autor, ex-Fur Mil da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70: Telefones: 241 107 046 / 933 442 582; E-mail: traquinamanuel@sapo.pt] .

Vd. também poste de 5 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4642: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (18): Manuel Traquina, ribatejano, escritor... e fadista (Luís Graça)

sábado, 8 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4797: Cancioneiro de Buba (1): A paixão do futebol (João Boiça / Manuel Traquina)

Guiné > Região de Quínara > Buba > Maio de 1969 > A povoação e o aquartelamento vistos de helicóptero... Buba, a sul do Rio Corubal, forma um triângulo com Xitole e Fulacunda, nos outros dois vértices. É banhada pelo Rio Grande de Buba.


Foto: © José Teixeira (2005). Direitos reservados


Onde vais, ó triste Pombo

Letra: João Boiça

[Revisão e fixação de texto: Editor L.G.]

Fado cantado por Amadu Jaló, acompanhado à guitarra por Saico Sandé e à viola por Já Te Vi-te

Onde vais, ó triste pombo,
Carregado de ilusões ?
Vou estagiar para Nhala,
Arejar os meus collhões.

Manda um rádio se faz favor,
Não digas sim ou não,
Diz apenas um segredo,
Que o animal é um cão.

Chegarei devagarinho
E com desculpa para dar,
Se ganhar que bom que é,
‘Fui a Nhala passear’...

Ó São Lourenço de Buba,
Continue-me a aludar,
Não queiras que a malta toda
Cá do pombo vá troçar.

São Lourenço, anula bolas,
São Lourenço, apita bem,
São Lourenço ajuda os pombos,
Que a gaiola já “cá tem”.

Não digas nada a ninguém,
Esqueces as horas de amargura,
Os três jogos já passaram,
A pé, não… de viatura!

Esqueço-me das ordens todas,
Alheio-me do Capitão,
É que o jogo corre às dez
Porque a mensagem diz cão.

Chegarei descansadinho
E com desculpa e feitio,
Fui a Nhala caminhar
Se perder o desafio.

São Lourenço, eu fiz promessa,
Fui à capela rezar,
Uma lâmpada se perder,
Doze velas se ganhar.

Ó São Lourenço de Buba,
Só tu me podes safar,
Apita marca ‘penaltes’,
Faz o pombinho ganhar.

Ó São Lourenço de Buba,
Dá-me a tua protecção,
Apita e faz batota,
Alegra-me o coração.

Ó São Lourenço de Buba,
Fiz as minhas orações,
Sou devoto e cumpridor,
Deixa-me dar encontrões.

Torno Buba independente,
Toda a malta hei-de matar,
Será um cataclismo
Se o pombo ganhar.

Ó São Lourenço de Buba,
Eles até levam gaiola,
Se perco, então, meu santinho,
Dá-me balas e pistola.

Dá-me canhões, dá granadas,
Arame para armadilhar;
Dá-me turras com fartura
E deixa-me comandar.

Correrei o campo todo,
Serei carga de jumento,
Mas também te pagarei
Um jantar no cruzamento.

Só para ganharem um quarto,
Usaram desta artimanha,
Fizeram uma coluna
E mandaram-me como ‘aranha’

“Avisado pela comichão de censura”


In: Manuel Batista Traquina: Os tempos de guerra: de Abrantes à Guiné. Abrantes: Palha de Abrantes. 2009. pp. 140-141.


Comentário de L.G.:

Versos alusivos a um torneiro de futebol de salão, jogado na pequena parada do aquartelamento de Buba, e que reuniu quatro equipas: as companhias, os pelotões, a Engenharia, e as Transmissões (+ outros).

A arbitragem era chefiada pelo Alf Lourenço (aqui o São Lourenço, e não o Sr. Lourenço, como aparece no livro). Por seu vez, o grande entusiasta do torneio e manager da equipa de Transmissões era o Fur Mil Trms Pombo que, que nesse mesmo dia e para seu grande desgosto, que teve air apoiar a coluna para Nhala, a 15 km de Bula, na estrada para Aldeia Formosa.

O autor não do diz mas tanto o Lourenço como o Pombo deviam pertencer à CCS do BCAÇ 2834, de que dependiam tanto a CAÇ 2382 (A Companhia do Olho Vivo). Mas o Lourenço também ser o Alf do mesmo apelido, da CCAÇ 2381 (Os Maiorais, a que pertencia o nosso querido Zé Teixeira, 1º Cabo Enf);

Na época havia várias subunidades em Buba:

CCS / BCAÇ 2834
Pelotão de Morteiros nº 2138
2º Pelotão / BCA
7º Destacamento Especial de Fuzileiros
15º CCmds
COP4 (criado em 19 de Janeiro de 1969), sob o comando do major Carlos Fabião
Outras...

Secretamente o Pombo pediu a um amigo que, via rádio, em código combinado pelos dois, lhe comunicasse a hora do desafio. A preocupação, secretíssima do Pombo, tornou-se conhecida na parada. O 2º Sargento Inf João Boiça, apoiante da equipa rival, fez-lhe então este versos, alcunhando-o ‘triste Pombo'...

O Manuel Traquina (foto actual, à esquerda) publicou no seu livro estes versos que atestam, não só o espírito de humor e camaradagem reinantes na CCAÇ 2382 e e outras subunidades que estavam em Buba, na época, bem como a importância que tinha o futebol… Era uma das poucas diversões a que os militares portugueses se permitiam o luxo... Tinha, além, um efeito positivo na manutenção e melhoria do moral do pessoal, como de resto o atestam outros postes já aqui publicados.
_________

Nota de L.G.:

(*) Traquina, Manuel Batista - Os tempos de guerra: de Abrantes à Guiné. Abrantes: Palha de Abrantes. 2009. 230 pp., 70 fotos [Contactos do autor, ex-Fur Mil da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70: Telefones: 241 107 046 / 933 442 582; E-mail: traquinamanuel@sapo.pt]

Vd. também poste de 5 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4642: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (18): Manuel Traquina, ribatejano, escritor... e fadista (Luís Graça)

(**) Vd. postes anteriores do Manuel Traquina:

2 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2500: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (1): CCAÇ 2382 - A hora da partida

19 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3141: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (2): O ataque de 22 de Junho de 1968 a Contabane

17 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3214: Venturas e Desventuras do Zé do Ollho Vivo (3): Contabane, 22 e 23 de Junho de 1968: O Fur Mil Trms Pinho e os seus rádios

15 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3457: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (4): Baptismo de fogo e gemidos na noite

8 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3855: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (5): As colunas Buba-Aldeia Formosa

12 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4019: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (6): Estrada nova Buba - Aldeia Formosa

12 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4327: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (7): O saxofone que não tinha sapatilhas

14 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2944: Convívios (66): Pessoal da CCAÇ 2382, no dia 3 de Maio de 2008 na Vila de Óbidos (Manuel Batista Traquina)

23 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2791: Álbum das Glórias (46): O distintivo da CCAÇ 2382, 1968/70 (Manuel Baptista Traquina)

13 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2533: O cruzeiro das nossas vidas (10): Fui e vim no velho e saudoso Niassa (Manuel Traquina)

2 de Janeiro de 2008> Guiné 63/74 - P2399: Tabanca Grande (47): Manuel Traquina, ex-Fur Mil, CCAÇ 2382 (Buba, 1968/70)

terça-feira, 21 de julho de 2009

Guiné 63/74 – P4715: Agenda Cultural (22): “Os tempos de guerra-De Abrantes à Guiné", 23 de Julho, Biblioteca Municipal António Botto, em Abrantes



C O N V I T E

Camaradas,

No próximo dia 23 de Julho (quinta Feira), pelas 21 horas, vai ter lugar na Biblioteca Municipal António Botto, em Abrantes, a apresentação do meu livro “Os Tempos de Guerra - De Abrantes à Guiné”.

Ficam assim convidados os tertulianos que quiserem estar presentes.

Para mais esclarecimentos o meu e-mail é:

traquinamanuel@sapo.pt

Um Abraço,
Manuel Traquina
__________

terça-feira, 7 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4648: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (19): Os nossos escritores (Luís Graça)

Capa do livro do nosso camarada Abel de Jesus Carneiro Rei, Entre o Paraíso e o Inferno: de Fá a Bissá. Memórias da Guiné, 1967/68. "Esta é a história que escrevi, não a que gostava de ter escrito", declarou o autor na apresentação do seu livro em 2003. " O livro retrata uma fase da minha vida e pretende de uma forma modesta contribuir para a memória dos que fizeram a minha geração", declarou Abel Rei, emocionado.

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > O Abel Rei e a esposa, Maria Elisete, residentes no concelho da Marinha Grande... O Abel é um dos nossos últimos piras, enquanto membro da Tabanca Grande; é autor do livro Entre o Paraíso e o Inferno: de Fá a Bissá. Memórias da Guiné (cuja capa se reproduz em cima)....

O livro pode ser encomendado directamente ao Abel Rei, que mora no Beco da R. dos Poços, 1, Lameira da Embra, 2430-126 Marinha Grande / Telem 938 195 700/ Email: abel_rei@hotmail.com / Skype: abel.rei1.

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > O Abel Rei e a esposa, Maria Elisete, residentes no concelho da Marinha Grande... O Abel e a esposa: segundo as estimativas da concorrência, terá conseguido vender, no nosso convívio, mais de três dezenas do seu livro (preço: 10 balas, menos de 100 pp.).

O Abel pertenceu, no ano de 2007, à Direcção do Núcleo da Marinha Grande da Liga dos Combatentes (telefone: 244 551 140), exercendo o cargo de Tesoureiro, que teve de abandonar por motivos de saúde.

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > Manuel Traquina, "ribatejano, escritor e fadista"... Ex-Fur Mil da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70, é também o autor de Os Tempos de Guerra - De Abrantes à Guiné.

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > O centro, o Manuel Traquina, e de pé, o António Fernando R. Marques (Cascais)...(O António, ex-Fur Mil, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71, voou comigo numa GMC, no dia 13 de Janeiro de 1971, ao fim de vinte meses de comissão, e teve direito a mais dois anos de comissão militar... no Hospital Militar Principal... Está convidado, de há muito, para fazer parte da nossa Tabanca Grande, o que irá em breve acontecer)...

À direita, António J. Pereira da Costa que veio acompanhado da sua ex, Isabel (também esteve na Guiné, em Mansoa, e já a desafiei a escrever sobre esse tempo; também não é caso único, há mais casais separados ou divorciados, que se juntam em ocasiões como esta... Quem disse que a Guiné não é talismã, uma palavra mágica ?).

O Pereira da Costa é coronel de Artilharia, na reserva, na efectividadeviço... Trocado por miúdos, isto quer dizer o seguinte: "Atingi a idade de reserva, por estatuto (57 anos). Fiz um requerimento aos meus bem-amados chefes, a pedir para continuar ao serviço (na efectividade). Enquanto eu e eles quizermos ficarei na direcção da Biblioteca do Exército. Quer se dizer: estou na reserva, mas todos os dias tenho de ir assentar tijolo e meter telha"...

Na foto, o Pereira da Costa (amigo de infància do meu amigo Tony Levezinho) segura o livro do Abel Rei...

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > O João Lourenço (Figueira da Foz) e o Fernando Franco (Amadora), dois homens do PINT (Pelotão de Intendência) 9288, Bissau e Cufar, 1973/74 ... De pé, o António Santos (Loures), homem das transmissões, que andou pelo Gabu... Em cima da mesa, o livro do António Graça de Abreu (que foi Alf Mil, no CAOP 1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74): Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura. Lisboa: Guerra e Paz, 2007.

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > O António Dâmaso era, se não me engano, o único ex-pára-quedista, presente no nosso convívio... Alentejano de Odemira, pertenceu ao BCP 12.. Está formalmente convidado a aderir ao nosso blogue, para o que basta proceder ao envio de uma foto do antigamente na guerra e contar uma história... Vi-o entretido a folhear um livro, profusamente ilustrado... Imagino que seja sobre os páras, mas desconheço o título e o autor... Será que alguém tomou nota ?

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > Um novel escritor, o Coutinho e Lima (embora com 3 comissões de Guiné) autografando o seu livro A Retirada de Guileje, com dedicatória a um outro escritor, Alberto Branquinho, autor de Cambança: Guiné, morte e vida em maré baixa (Lisboa: SeteCaminhos, 2005; 2ª ed, 2009). Em termos militares, o Alberto é contudo um periquito, comparado com o nosso Cor Art Ref, que desta vez não trouxe a sua simpatiquíssima esposa, Isabel.

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > A Retirada de Guileje, 22 de Maio de 1973: a verdade dos factos, vai já em 2º edição. O autor é o membro da nossa Tabanca Grande Alexandre Coutinho e Lima. O livro, editado em 2008, pela DG, Linda-A-Velha, não está disponíveil nas livrarias. Contactos do autor: Rua Tomás Figueiredo, n.º 2 – 2.º Esq.1500-599 Lisboa / Telefone: 217 608 243 / Telemóvel: 917 931 226 / Email: icoutinholima@gmail.com


Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > Um dos próximos livros, de temática memorialística, a saír, no mercado livreiro, será o do n0sso querido amigo Amadu Bailo Djaló, ex-Alf Comando Graduado, do Batalhão de Comandos Africanos... Não sei se ainda este ano, de qualquer modo contando com a preciosa e decisiva ajuda do Virgínio Briote, há meses emprestado pelo nosso blogue ao Amadu Djaló e à Associação de Comandos, que apoia ou patrociona a edição das memórias do Djaló... (Os dois aqui na foto, em atitude introspectiva). Fiquei, entretanto, a saber que o nosso Amadu, membro da nossa Tabanca Grande, também faz parte da Direcção Nacional da Associação de Comandos, embora com o estatuto de vogal suplente. É, além disso, o sócio nº 3110.

O Amadu Djaló e o Virgínio Briote concederam-me a honra de ler o manuscrito, em primeira mão (ou melhor, de submeter, à minha apreciação e revisão, o manuscrito). O livro ainda não tem título definitivo. Mas sabe-se que o 1º volume abarcará um período da história da Guiné-Bissau, relevante para os guineenses e para nós (1958-1974).

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > O Rui Ferreira, ao ao centro, entre o Carlos Vinhal e a Dina... O autor de Rumo a Fulacunda (2ª edição, Viseu, Palimage, 2003) tem em preparação um segundo livro que se chamará Geba, se bem percebi...

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > O Joaquim Mexia Alves em agradável conversa com o José Brás... Este último foi Fur Mil da CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68... É autor de um premiado romance, de 1986, Vindimas no Capim (Lisboa, Europa-América). Pertenceu aos quadros da TAP. Mora em Montemor-O-Novo.

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > Na primeira fila, o Abel Rei; na segunda fila, de pé, da esquerda para a direita, o Rui Ferreira, o António Graça de Abreu e o Fernando Oliveira... O António teve a genteliza de me oferecer o seu último livro: Poemas de Hans Shan, tradução, prefácio e notas de António Graça de Abreu. Edição bilingue. Macau, China: COD, 2009.

Dedicatória: "Ao Luís Graça, homem das coisas da Guiné, companheiro e camarada no interiorizar e fluir pelos atalhos da vida, a admiração, a amizade do António Graça de Abreu. Leiria, Junho de 2009".

Haveremos de falar, noutra ocasião, deste extraordinário poeta clássico, chinês, que terá vivido no Séc. VIII, Han Shan [Montanha Fria] e do laborioso, paciente e digno trabalho de tradução do nosso querido António, que é já hoje uma referência em matéria de tradução poética chinês-português... Deixem-me apenas reproduzir aqui um dos 156 poemas do livro (p. 53):

7. Uma vez, homem dos livros e espadas,
dias vezes com protectores e amigos.
Fui letrado a leste,não obtive mercês,
fui soldado a oeste, ninguém reconheceu meu valor.
Estudei as letras,a arte da guerra,
sim, as coisas da guerra, as coisas das letras.
Envelheci, hoje sou um velho,
para quê falar do resto dos meus dias!...



Fotos (e legendas): © Luís Graça (2009). Direitos reservados

_________________

Nota de L.G.:

Vd. último poste da série > 5 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4642: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (18): Manuel Traquina, ribatejano, escritor... e fadista (Luís Graça)

domingo, 5 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4642: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (18): Manuel Traquina, ribatejano, escritor... e fadista (Luís Graça)


Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > (*) Novos talentos musicais: o ribatejano Manuel Traquina, interpretando o Fado do Sobreiro, um fado tradicional, recriado pelo fadista João Brasa, de Évora (vd. álbum de 2006, Vida Fadista), com acompanhamento à viola por Álvaro Basto (à esqureda) e David Guimarães (à direita)...

Eu sei que faltaram outros camaradas nossos, instrumentistas do fado, talentosos e versáteis, como o J. L. Vacas de Carvalho e o Jorge Félix... Mas a nossa Tabanca Grande tem sido uma caixinha de surpresas: este ano, no nosso encontro, houve, para além do Joaquim Mexias Alves e do Manuel Traquina, outros espontâneos que se ofereceram para cantar...

Infelizmente não tenho registo de todos, mas sei que, depois do Traquina, ainda acturam o José Martins, o José Pedro Neves e o Victor Barata (o nosso Zé Especial)... (Actuações que perdi por ter ido ao carro buscar pilhas para a máquina fotográfica e ter ficado depois a dar as despeddas ao Fernando Calado e ao Augusto Ismael, meus velhos companheiros de Bambadinca)...

Para o ano proponho, aos organizadores, que se promova um concurso de (novos e velhos) talentos musicais.

O Manuel Traquina, ex-Fur Mil da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70, é também o autor de Os Tempos de Guerra - De Abrantes à Guiné. (**) . É autor, no nosso blogue, da série Venturas e Desventuras do Zé Olho Vivo (***)... Viveu em Angola, depois de ter cumprido o serviço militar
na Guiné. É natural do concelho de Abrantes, onde vive. Foi técnico de emprego, está hoje reformado.


Vídeo (2' 04''): © Luís Graça (2009). Direitos reservados


2. IV Encontro Nacional do Nosso Blogue

Fado do Sobreiro


Mesmo ao cimo do montado,
No ponto mais elevado,
Havia um enorme sobreiro
Que a dar bolota e cortiça,
De todos era a cobiça,
No montado era o primeiro.

Certa noite a tempestade,
Fez-se ouvir lá na herdade
O rebumbar de um trovão.
E no céu uma faixa risca,
Quando uma enorme faísca
Fez o sobreiro em carvão.

Passaram-se anos e agora
No mesmo sítio lá mora
Um chaparro altaneiro,
Mas em noites de luar
Houve-se o montado a chorar
Com saudades do sobreiro.

É assim a nossa vida,
Constantemente vivida,
Sempre e sempre a trabalhar.
Mas quando a morte vem,
Nós deixamos sempre alguém
Com saudades a chorar.

Letra tradicional

Do álbum Vida Fadista (2006), de João Brasa

Música: Fado marcha Alfredo Marceneiro
_____________

Notas de L.G.:


(*) Vd. postes de:

30 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4609: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (17): Comentários para rescaldo (Carlos Vinhal)

22 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4559: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (5): Esse nobre sentimento..., na voz do fadista J. Mexia Alves... (Luís Graça)

(**) 30 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4441: Bibliografia de uma guerra (48) "Os Tempos de Guerra - De Abrantes à Guiné", de autoria de Manuel Batista Traquina

(...) "É um relato da minha vida militar, em especial a comissão na Guiné, acontecimentos dentro e fora dos aquartelamentos que de um modo geral são comuns a todos quantos passaram pela Guiné. Penso que muitos dos acontecimentos dizem muito aos milhares de militares que passaram pela região de Buba e Aldeia Formosa.

"Além de mais pretendi com este livro deixar um testemunho da realidade que foi a Guerra Colonial e homenagear todos quantos por lá passaram, em especial aqueles que lá perderam a vida.

"O livro está a ser vendido ao preço de 15,00 € mais portes, e poderei enviá-lo a quem o solicitar. Poderei também enviá-lo à cobrança ou a quem fizer a tranferncia bancária neste caso 16,00 €". (...)

Traquina, Manuel Batista - Os tempos de guerra: de Abrantes à Guiné. (?): Palha. 2009 (?). 230 pp., 70 fotos [Contactos do autor, ex-Fur Mil da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70: Telefones: 241 107 046 / 933 442 582; E-mail: traquinamanuel@sapo.pt]


(***)Vd. postes anteriores do Manuel Traquina:

2 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2500: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (1): CCAÇ 2382 - A hora da partida

19 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3141: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (2): O ataque de 22 de Junho de 1968 a Contabane

17 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3214: Venturas e Desventuras do Zé do Ollho Vivo (3): Contabane, 22 e 23 de Junho de 1968: O Fur Mil Trms Pinho e os seus rádios

15 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3457: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (4): Baptismo de fogo e gemidos na noite

8 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3855: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (5): As colunas Buba-Aldeia Formosa

12 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4019: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (6): Estrada nova Buba - Aldeia Formosa

12 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4327: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (7): O saxofone que não tinha sapatilhas

14 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2944: Convívios (66): Pessoal da CCAÇ 2382, no dia 3 de Maio de 2008 na Vila de Óbidos (Manuel Batista Traquina)

23 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2791: Álbum das Glórias (46): O distintivo da CCAÇ 2382, 1968/70 (Manuel Baptista Traquina).

13 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2533: O cruzeiro das nossas vidas (10): Fui e vim no velho e saudoso Niassa (Manuel Traquina)

2 de Janeiro de 2008> Guiné 63/74 - P2399: Tabanca Grande (47): Manuel Traquina, ex-Fur Mil, CCAÇ 2382 (Buba, 1968/70)