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terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21810: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (35): Uma foto de 1966, em Aldeia Formosa, tirada por mim, com o Honório, grande piloto e amigo do peito (Maria Arminda Santos, ex-ten enf pqdt, FAP, 1961/70)


Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa [Quebo] > 1966 > Estávamos de alerta 
numa Base de Operações. Eu também estava e tirei esta foto.  O Honório está de costas.  De frente o tenente pilav Velez Caldas  capitão pilav Carvalho Araújo. " 

[Segundo comentário do Virgínio Briote, "o tenente Velez Caldas, já falecido, está de boné vermelho. Participou em todas as op. helitransportadas que fizemos. Em 1966 o meu grupo foi transportado nos Al-III para Aldeia Formosa para participar numa acção que estava a decorrer na zona".]

Foto (e legenda): © Maria Arminda Santos  (20021) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem da Maria Arminda [Santos] [, ex-tenente enfermeira paraquedista, FAP, 1961/70]

Data - 24/01/2021, 18:25




Boa tarde,  amigo Luís Graça:


Estive a ler os comentários sobre o Honório (*), grande piloto e um amigo do peito.

Envio-lhe aqui uma foto dele, no ano de 1966, em Aldeia Formosa, quando estava de alerta numa Base de Operações, em que eu também estava e tirei esta foto. 

O Honório está de costas. De frente o tenente [Velez] Caldas e o capitão Carvalho Araújo.

Tenho dificuldade em fazer os comentários na página. Parece que o Google está zangado comigo, está sempre a pedir a senha e rejeita-a. Na da Tabanca do Centro, não tenho nenhuma dificuldade.

Cá vamos continuando confinados, que isto não está famoso.

Um grande abraço
Mª Arminda Santos

2. Comentário do editor LG:

Obrigado, camarada!... Por email, responderei à questão dos comentários na nossa "caixa de comentários", que nem sempre é amigável. 

Boa saúde, cuidado com a "picada", cada vez mais cheia de "minas e armadilhas"... Um bj.

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quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21766: (De)Caras (169): Maria Ivone Reis, major enfermeira paraquedista reformada, faz hoje 92 anos e é uma referência para outras outras mulheres e para nós, seus camaradas: excertos de um seu depoimento, publicado em 2004 na Revista Crítica de Ciências Sociais - Parte II (e última)


Tancos > Batalhão de Caçadores Paraquedistas > 26 de maio de 1961 > As 11 candidatas ao 1º Curso de Enfermeiras Paraquedistas > Da esquerda para a direita, de pé: Cap Pára Cunha, Mª Ivone, Mª da Nazaré (falecida), Mª Arminda, Mª de Lurdes, Mª. Margarida Costa, Mª do Céu Bernardes e Major Lelo Ribeiro; na primeira fila, de cóscoras: Mª do Céu Policarpo, Mª Zulmira André (falecida), Mª Helena, Mª Margarida Pinto e Mª Irene... (Deste grupo inicial de onze voluntárias, só ficaram seis...).

Escreve a Maria Arminda:

 (...) "Lembro-me do primeiro dia que te conheci[, Maria Ivone]. Saímos do Aeroporto da Portela a vinte e seis de Maio de 1961, cerca das 9h30 e a bordo de um velho “Junker” (JU 52), que passou a partir desse momento a ser o nosso fiel amigo, íamos prestar provas psicofísicas ao Batalhão de Caçadores Paraquedistas em Tancos. Como estava um dia com chuviscos, algumas de nós íamos de lenços na cabeça, tipo meninas do colégio em jeito de passeio de fim de curso." (...) (*)

Foto (e legenda): © Maria Arminda (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Maria Ivone Reis, ten enf
paraquedista,  Cacine,
12/12/1968.
Foto de António J. Pereira
da Costa (2013) (***)
1. Continuação da publicação de excertos de um depoimento sobre "a presença e a participação femininas na guerra colonial", prestado, em 2004,  pela nossa camarada,  Maria Ivone Reis, major enfermeira paraquedista reformada.


Com 92 anos feitos hoje (**), a Ivone Reis é portadora, infelizmente da doença de Alzheimer, e está ao  cuidado do IASFA - Instituto de Ação Social das Forças Armadas
há já uns largos anos. Poe essa razão, já não nos poder ler 
nem comunicar connosco. Aproveitamos, todavia, a data do seu aniversário  para dar a conhecer, um pouco mais, 
a sua história de vida e o seu testemunho como enfermeira paraquedista do 1º curso (1961) (. A Maria Arminda Santos também é desse curso e ficaram para sempre amigas.)

Ambas são, aliás,  membros da nossa Tabanca Grande. 
A Ivone Reis tem mais  de 25 referências no nosso blogue. Esteve no TO  da Guiné em três comissões (1963, 
1965 e 1969). Esteve igualmente em Angola 
e Moçambique. 

Sabemos,por outro lado, do respeito e admiração que todas 
as antigas enfermeiras paraquedistas, mais novas, têm por 
esta nossa camarada, que é para elas uma figura de referência 
(, tal como a Maria Arminda, outra decana do grupo). 
Em jeito de singela homenagem,  fomos buscar um seu antigo depoimento, 
publicado em 2004 na Revista Crítica de Ciências Sociais  (, editada 
pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra).


Com a devida vénia à editora e à autora (Margarida Calafate Ribeiro), tomamos a liberdade de selecionar e reproduzir aqui alguns excertos do longo depoimento da nossa camarada Maria Ivone Reis (****) , que pode ser lido na íntegra aqui:

Margarida Calafate Ribeiro, "Dois depoimentos sobre a presença e a participação femininas na Guerra Colonial", Revista Crítica de Ciências Sociais [Online], 68 | 2004, colocado online no dia 01 outubro 2012, criado a 19 abril 2019. URL : http://journals.openedition.org/rccs/1212 ; DOI : 10.4000/ rccs.1212


Depoimento de Maria Ivone Reis (2004) (Excertos) 

(II e última parte) (****)



[Comparando a Guiné, Angola e Moçambique]

(...) A Guiné, embora fosse um território violento do ponto de vista da guerra, era mais acessível por ser mais pequeno e geravam-se relações mais próximas entre as pessoas. Estávamos em cima de todos os acontecimentos de uma forma muito solidária e muito humana e tínhamos uma boa relação uns com os outros: militares, civis e africanos. 

Com frequência ouvia-se em Bissau rebentamentos e poderia não acontecer nada que afectasse as pessoas. Mas, muitas vezes era um rebentamento em qualquer zona da Guiné e tocava o telefone. A enfermeira que estava escalada, entrava no jipe e imediatamente partia para a pista e voávamos para o local. 

Em Angola ou Moçambique era muito diferente devido à vastidão dos territórios. Às vezes ir buscar um ferido era como ir daqui a Frankfurt. 

(...) Depois há a diferença das situações, que tem a ver com a diversidade de cada pessoa, de cada situação… era consoante o grau de paciência ou de sofrimento daquele que acompanhávamos. 

Um dia, um jovem soldado, foi vitimado por uma mina, que lhe esfacelou um pé. Já instalado no avião que fazia a sua evacuação para o hospital militar, a enfermeira pára-quedista que o acompanhara, perguntou-lhe se tinha muitas dores. Com a cabeça ele acenou-lhe que não, mas o seu rosto continuava a espelhar todo o sofrimento que lhe ia na alma. 

A enfermeira tentou confortá-lo, dizendo-lhe para ter confiança na competência e dedicação dos médicos e de toda a equipa hospitalar que o iria tratar. Prontamente, ele olhou fixamente para a enfermeira e diz-lhe com contida emoção: “Senhora enfermeira, com pé ou sem pé, estou vivo! O que me preocupa é a dor da minha mãe quando souber.” (...)


[Alouette II e Alouette III]

 (...) A força moral daqueles jovens, naquela época, era tremenda e isso transmitia-nos uma grande força para enfrentar os problemas e para lhes dar resposta. Agora o que era mais grave para mim, era quando púnhamos o ferido na maca, víamos os sinais vitais, pulsação e tomávamos consciência de que a vida estava em risco. Aí o problema era chegar a tempo ao hospital. Felizmente que todos os que tive em mãos hegaram a tempo. São situações de muito sofrimento, que nos tocam muito.

A memória daqueles jovens que entregaram a sua juventude, sem saber bem porquê. Recordo um outro caso, esse de alto risco a vários níveis. No quartel nós podíamos sair do avião, mas na zona de combate nós não devíamos sair do avião ou do helicóptero. Era uma circunstância de muito risco. Se houvesse ataque do inimigo o helicóptero teria de levantar voo imediatamente ficando a enfermeira em terra em grande risco, sem meios nem ambiente para tratar dos feridos. Eventualmente fizemos isso em situações muito excepcionais, bem medidas, porque podia tornar-se um altruísmo muito arriscado para a vida dos outros. 

Nesse aspecto é muito importante a questão do medo, porque ajuda ao raciocínio e ao controlo. O importante é perceber como controlar o medo, para termos oportunidade de perceber a razão do medo e para que possamos ultrapassá-lo.
 
(...) Mas como dizia, o episódio que recordo foi muito no início da guerra, ainda com o Alouette II, que era um avião muito pequeno sem espaço para as macas dentro do avião. As macas iam fixas lateralmente – cá fora – de modo que nem podíamos assistir ao ferido. Depois, com o Alouette III, já 
tínhamos espaço para as macas cá dentro e para assistir ao ferido. 

Um dia fomos buscar um ferido e estávamos no quartel numa zona de guerra no Sul da Guiné, onde tinha havido um bombardeamento. Num local mais avançado em relação ao quartel estava o chamado posto avançado das tropas que era um tenda de campanha com um médico e o pessoal militar que dava apoio no campo da enfermagem. Nessa manhã houve muitos feridos.

Quando o avião estava para aterrar fazia uma volta sobre o aquartelamento para avisar que ia chegar à pista. Logo a ambulância avançava, e simultaneamente seguia para a pista um jipe de apoio e segurança. Na pista mudávamos o ferido da maca de campanha para a maca do helicóptero ou do avião. Naquela altura aterrámos na pista e lembro-me de ouvir dizer que o doente estava em estado grave. Perguntei de imediato se poderia ir lá abaixo à tenda. E fui. Encontrei um ambiente de luta pela vida. 

O rapaz, um soldado, tinha levado um tiro no tórax, e estava um fogareiro de petróleo a ferver material agulhas e outros instrumentos. Perguntei ao médico o que é que podia fazer, informando que tínhamos o avião à espera. O rapaz tinha uma hemorragia pulmonar, estava em risco, e eles tentavam cateterizar uma veia para pôr soro. Mas havendo uma hemorragia muito grande, as veias ficam colapsadas. Foi então que o médico pediu a um dos colaboradores que fosse ao quadro eléctrico do quartel buscar daqueles tubos vermelhos da electricidade e, retirando-lhes os fios metálicos, cateterizou a veia e conseguiu colocar o soro. 

E foi debaixo de perigo que avançamos com aquele corpo frágil, o colocámos num Unimog com uma tela com a Cruz Vermelha em cima e o transferimos para o avião. Chegou ao hospital com a pulsação mínima para poder sobreviver e recuperou. Ele era da zona de Castelo Branco e sei que a mãe dele me procurou, mas eu não fiz nada, apenas o assisti a bordo. O médico e a sua equipa é que fizeram um trabalho extraordinário.


[Tive muita sorte, nunca tive mortos nem partos]

(...) Ao longo de tantos anos e com tantos casos tive muita sorte. Nunca tive mortes, mas também nunca tive partos. Uma colega minha ficou muita aflita, porque um bebé nasceu a bordo e não sei o que ela fez, sei que depois daquela ansiedade acabou por conseguir entregar a criança à mãe. Para além deste trabalho dos feridos, de um lado e do outro, havia o contacto com as populações, o apoio àquelas pessoas.

Havia a população que encontrávamos nas saídas de apoio operacional no mato e com quem estabelecíamos relações. Mais uma vez dou o exemplo da Guiné, onde as coisas eram mais imediatas, devido à dimensão do território. Era tudo muito pequenino, negros, brancos, mestiços, civis, militares vivíamos todos em conjunto. 

Lembro-me de uma criança que vinha com frequência ao nosso Posto de Socorro visitar-nos. Era filha de um carpinteiro da Base Aérea. Um dia ele, o pai, disse-me que gostava muito que eu pudesse levá-la para Lisboa, para lhe dar uma vida que ele não lhe poderia dar. Expliquei-lhe que a minha actividade profissional era imprevisível e por isso era impossível impor uma responsabilidade dessas à minha família.


[Socorríamos também dos feridos do PAIGC]

(...) Ao longo dos anos da guerra estive na Guiné em 63, depois em 65 e finalmente em 69, e de cada vez que lá voltava, encontrava uma outra Ivone, porque eles davam aos filhos os nomes das pessoas de quem gostavam. Entre eles e nós havia uma relação simpática e gratificante.

Socorríamos também os feridos do lado adversário. Deontologicamente, homem/mulher, ferido/doente é, e deve ser sempre tratado como humano que é. Quando “o” tinha diante de mim como ferido, não fazia julgamentos, não se faz qualquer julgamento sobre uma pessoa que sofre. O humano fala sempre mais alto e penso que nós portugueses, por aquilo que me foi dado observar, temos uma sensibilidade muito humana. Mas chegavam-nos alguns papéis dos movimentos de libertação. (...)

["Quando é que isto acaba ?"]

(...) Eu tinha dúvidas em relação à descolonização, não que achasse que as coisas estavam bem. Mas Salazar deixou de governar em 1968. De 1968 a 1974 vão seis anos, ninguém mudou nada e só Salazar é que tem culpa? Todos nós fomos culpados, eu também porque não era capaz de dar gritos pela Paz. O que se passava é que enquanto havia um homem inocente a combater, que era o soldado, nós deveríamos estar numa retaguarda de apoio. 

No entanto, eu perguntava com frequência desde os primeiros dias: “Quando é que isto acaba, não há direito que isto aconteça…”


[Na festa do Senhor Santo Cristo com os militares açorianos da CCE 274, Fulacunda, 1963]

 (...) Falávamos da guerra, daquilo que se passava de forma muito objectiva e das coisas engraçadas, fazíamos umas partidas, festas. Lembro-me da Companhia CCE 274, aquartelada em Falacunda, na Guiné, em 1963. Tinha sido uma Companhia muito sacrificada e um dia em que eu e uma colega fomos em missão prestar assistência e evacuar feridos na sequência do rebentamento de uma mina, um militar desabafou: “Que pena, estas senhoras só vêm cá em dia de azar”. Respondemos prontamente: “Fechem a guerra e convidem-nos”. 

O convite veio no último domingo de Maio, para a festa do Senhor Santo Cristo. A Companhia CCE 274 era constituída por açorianos e os festejos iniciaram-se com uma missa celebrada pelo capelão-militar, seguida de almoço e batuque, em que os soldados, passados pela chaminé, ficaram negros e “transformaram-se” em negros. E as duas enfermeiras foram de Fafás. A guerra tinha estes aspectos humanos, agradáveis, solidários,ainda que na sombra daqueles festejos estivessem os mortos na picada e a eles prestámos homenagem.


 [“Tive sorte por que os meus rapazes ficaram todos ilesos” (alferes de artilharia, do quadro permanente,  cego e sem uma perna)]

 (..) Tínhamos uma vida mentalmente saudável, mas com o coração sempre “atento”, um pouco sentido, porque as circunstâncias eram complicadas. Quando acompanhávamos um ferido perguntávamo-nos: “Como é que esta mãe amanhã vai saber deste filho? Ou a mulher?”. Estávamos sempre numa vivência de sofrimento. Todas as semanas, vinham feridos para Lisboa e uma de nós acompanhava-os, embarcando de regresso logo que possível.

Eventualmente também vinham alguns feridos na TAP, dependia das circunstâncias. Morreu no ano passado um homem que tive ocasião de acompanhar numa destas viagens. Era oficial de Artilharia. Conheci-o na Beira, vindo de Nampula e recordo que quando chegou o avião o médico estava a tratar de um doente idoso, um colono branco. 

Quando o avião entrou em linha de voo, perguntei ao médico o que tinha aquele doente e se precisaria do meu auxílio. O médico disse-me que ele era cego dos dois olhos, e que não tinha uma perna. Fiquei apreensiva. Fui ter com ele, apresentei-me e disse-lhe que poderia contar comigo ao longo da viagem. Muito serenamente, com os olhos vendados, pôs as mãos dele nas minhas e disse-me: “Tive um azar muito grande, mas tive sorte”. 

Lembro-me que pensei onde estaria a sorte daquele homem. Perguntei-lhe se tinha dores. Disse-me que não e continuou: “Tive sorte por que os meus rapazes ficaram todos ilesos”.

Lembro-me de estremecer perante a nobreza daquele homem. Ele era alferes do quadro, tinha um pelotão à sua responsabilidade e naquele estado dizia-me que tinha tido sorte, porque os seus rapazes estavam todos bem.

Admiro profundamente esses homens que tanto sofreram. Muito pouca gente lhes dá o valor e tudo o que eles merecem, porque são homens extraordinários. Tenho a maior simpatia, admiração e respeito por esses homens e sempre que me chamam, nomeadamente da Associação dos Deficientes das Forças Armadas, vou sempre. Admiro extraordinariamente aqueles homens que não se queixam, que são cegos, deficientes em geral, por causa da guerra. (...)

[Cruz Vermelha Portuguesa e Movimento Nacional Feminino]

 (...) No acompanhamento dos feridos a Cruz Vermelha dava muito apoio ao visitar os doentes nos hospitais militares ou afins. 

O Movimento Nacional Feminino estava mais vocacionado para a relação entre os combatentes e as famílias. Se, por exemplo, um soldado tinha deixado os seus haveres em qualquer sítio, tinha sido ferido e depois vinha para o hospital e daí para Portugal, o Movimento Nacional Feminino através de cartas ou por contactos através dos seus núcleos fazia o possível para que as coisas fossem entregues ao soldado ou às famílias. 

Eu tenho cartas de militares, que me pediam que falasse com pessoas por eles indicadas, familiares ou que tratasse de pequenos assuntos, o que contribuía para o bem-estar daqueles jovens. 

Nessa medida, a Cruz Vermelha e o Movimento Nacional Feminino foram instituições solidárias e humanas, importantes para suavizar o vazio  o desconforto da viagem de um combatente, particularmente daqueles que sofriam fisicamente e para quem o desconforto psíquico e moral se tornava ainda mais difícil de suportar. (...)


 [O 25 de Abril e as suas contradições]

(...)  Vivi o 25 de Abril toda contente, a bater palmas, porque finalmente acabava a guerra. Mas ao fim de uma semana fiquei triste deixei de perceber o que estava a acontecer. Eu tinha regressado após tantos anos de África e estava na Força Aérea, a trabalhar no Hospital. Fui saneada a 17 de Abril de 1975 e isso surpreendeu-me. O hospital, no qual tanto me empenhara, ia abrir em Janeiro de 1976. 

Nunca me disseram a razão do meu saneamento e para que efectivamente eu saísse tinha de assinar uma rescisão de contrato com a Força Aérea. Andei um ano e meio naquela situação, falei com o General Costa Gomes, mas nunca me disseram a causa e eu nunca assinei nada. Após a eleição do General Eanes fui reintegrada na vida activa hospitalar até à minha reforma. (...)


 [O doloroso regresso à Guiné nos anos 80]

(...) Há uns tempos, na minha paróquia, onde sou catequista e nos dedicamos em equipa a preparar pessoas adultas para o baptismo, na década de 80, apareceu um rapaz da Guiné, de 19 ou 20 anos. Andava nas obras e estudava. O pai era muçulmano, mas ele queria ser baptizado. Cultivámos uma certa relação afectiva, de amizade e, por vezes, encontrávamo-nos em grupo. Finalmente o rapaz baptizou-se e continuou a conviver connosco.

Um dia, disse que gostava de ser padre. E há dois anos foi ordenado sacerdote. No ano passado, quando fez um ano de ser ordenado, convidou-nos a acompanhá-lo à Guiné. Vivi um terrível dilema, não queria mesmo ir, expliquei-lhe as minhas razões, mas acabei por ceder e sofri muito. 

Lembrei-me das casas cor-de-rosa velho ou caiadas de branco naquele verde luxuriante de Bissau e olhava para aquilo tudo degradado, aquela pobreza extrema, aquelas crianças na rua, ao abandono. Não há explicação, não há justificação possível para mim. Fiquei muito chocada. Não quero voltar a Angola nem a Moçambique. (...)

[Seleção / subtítulos / revisão e fixação de texto, para efeitos de publicação neste blogue: LG]

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 13 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9348: Parabéns a você (367): Maria Ivone Reis, 83 anos: enfermeiras, paraquedistas, amigas, companheiras de aventura e camaradas para sempre! (Maria Arminda)



Guiné 61/74 - P21764: (De)Caras (168): Maria Ivone Reis, major enfermeira paraquedista reformada, faz hoje 92 anos e é uma referência para outras outras mulheres e para nós, seus camaradas: excertos de um seu depoimento, publicado em 2004 na Revista Crítica de Ciências Sociais - Parte I


[Imagem reproduzida com a devida vénia, de Margarida Calafate Ribeiro, "Dois depoimentos sobre a presença e a participação femininas na Guerra Colonial", Revista Crítica de Ciências Sociais [Online], 68 | 2004, p. 158.]



Angola > 1961 > A bordo de um Nord Atlas, com tropas paraquedistas.  A Maria Arminda à esquerda, a e Ivone Reis à direita (**).

Foto (e legenda): © Maria Arminda (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. A Maria Ivone Reis, major enfermeira paraquedista reformada, faz hoje a bonita idade de 92 anos. Infelizmente, é doente de Alzheimer, ao cuidado do IASFA - Instituto de Ação Social das Forças Armadas, há já uns largos anos, não nos podendo, por isso,  ler nem comunicar connosco. Mas isso não nos impede de lembrar a sua data de nascimento, 13 de janeiro de 1929 (*), e dar a conhecer o seu exemplo de pioneirismo, dedicação e camaradagem. (**)

Ela é, de resto, membro da nossa Tabanca Grande, com 25 referências no nosso blogue. Conheceu o TO da Guiné e ficou com uma relação muito especial com as as suas gentes!...

Sabemos,por outro lado,   do respeito e admiração que todas as antigas enfermeiras paraquedistas, mais novas, têm por esta nossa camarada, que é para elas uma referência. E também o é para nós, razão porque fomos buscar  um seu antigo depoimento, publicado em 2004 na Revista Crítica de Ciências Sociais (, editada pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra).

Com a devida vénia à editora e à autora (Margarida Calafate Ribeiro), tomamos a liberdade de selecionar e reproduzir aqui alguns excertos do longo depoimento da nossa camarada Maria Ivone Reis (***) , que pode ser lido na íntegra aqui:

 Margarida Calafate Ribeiro, "Dois depoimentos sobre a presença e a participação femininas na Guerra Colonial", Revista Crítica de Ciências Sociais [Online], 68 | 2004, colocado online no dia 01 outubro 2012, criado a 19 abril 2019. URL : http://journals.openedition.org/rccs/1212 ; DOI : 10.4000/ rccs.1212

 

Depoimento de Maria Ivone Reis (2004) (Excertos)

 

[Nascida em Sintra, há 92 anos]


(...) Nasci em Venda Seca, Belas, concelho de Sintra, em 1929. Éramos quatro irmãos, sendo eu a terceira. Lembro-me do nosso Pai, doente em casa; às vezes levava-me à rua a passear. Faleceu, tinha eu cinco anos. A nossa Mãe era doméstica. Após a morte do Pai, fomos para casa dos nossos avós maternos.

Dois anos depois, a Mãe faleceu, tinha eu sete anos. A causa da morte de ambos foi tuberculose pulmonar.

Os nossos avós maternos tiveram nove filhos. Viviam da agricultura e dos produtos lácteos dos animais. A minha Avó acolheu-nos, quatro netos, com carinho, mas muito exigente, sobretudo comigo, a rebelde!  

(…) A Avó, “analfabeta”, foi a minha grande catequista, ensinando-nos a fazer o bem e “nunca” o mal. O meu Avô nunca mandou os filhos estudarem. Logo, aos netos também não. Assim, os tios após a primária, se a fizessem ou não, trabalhavam na terra.


[Juventude: trabalhar para poder estudar]

(...) Na minha juventude, procurei trabalho, acompanhando crianças, desde que me facilitassem o tempo para estudar. Estive em três famílias, todas  extraordinárias no acolhimento que me deram.

A primeira família era de um diplomata americano. (…). A segunda família era muito agradável. Eram franco-belgas e tinham três filhos. Tratavam-me por “mademoiselle” (…) 

Passados quatro anos, conheci outra família, próxima de amigos comuns, que me desafiou para acompanhar uma criança de dois anos. Teria assim mais tempo para estudar. (...)


[Escola de enfermagem, 1958]

(...) Assim continuei até que, em 1958, conclui o Curso de Enfermagem Geral na Escola das Franciscanas Missionárias de Maria.

O terminar deste curso foi para mim a realização de um sonho que desde sempre alimentei. Quando era criança tinha estado num sanatório, em Francelos, perto de Espinho, porque naquela altura havia a primo-infecção e aquelas outras doenças do foro respiratório. 

Foi lá que conheci uma senhora, Guilhermina Suggia, que era violoncelista e era mundialmente conhecida, fazia concertos na Rússia e pelo mundo fora. Ela ia lá passar as férias, e contava muitas coisas das suas viagens, dos seus concertos e nós ficávamos todas espantadas… são coisas que para as crianças parecem sonhos. Pensei logo que queria ser pianista, mas foi no sanatório que percebi que queria mesmo era ser enfermeira. (…)


[Enfermeira no Hospital da CUF, 1959 e convite para enfermeira paraquedista em 1961]

(...) Comecei a trabalhar em 1959, no hospital da CUF e foi aí que fui abordada por uma colega da Escola para integrar uma equipa de enfermagem na Força Aérea, mais concretamente nos Pára-quedistas, para actuar em Angola, onde a guerra tinha estoirado, em 1961. 

O convite seduziu-me de imediato, disse logo: “Olhe, conte comigo, mas eu amanhã confirmo”. Eu tinha que dar uma satisfação à família com quem vivia, mas a minha decisão estava tomada. (…)

Quando me contactaram pensei que a minha ida como enfermeira era útil, e o importante era atenuar o sofrimento daquele que não tinha culpa nenhuma e que estava na frente de guerra. Não pensei na estratégia de guerra, o porquê da guerra. Achava que aquilo seria uma situação temporária e depois voltávamos. 

(...) Na verdade, nunca tinha pensado trabalhar em África. Quando as notícias da guerra em Angola chegaram, para mim, como para muita gente, foi uma surpresa. Tínhamos uma opinião desinformada e uma população que também não estava esclarecida, muito menos sobre o que se passava em África.

E aceitei o desafio, embora o vencimento fosse menor do que na CUF. Na verdade, eu nem perguntei nada, não perguntei quais eram as condições (…).. 

Fomos o princípio de um quadro de enfermeiras graduadas militares na Força Aérea. A nossa missão específica era de, a bordo, assistir e tratar os feridos ou doentes, combatentes ou população civil, e conduzi-los para o hospital indicado.

O pára-quedismo despertou em nós a consciência do medo, desenvolvendo, simultaneamente, a audácia de agir, com segurança, no risco e na adversidade. Na “retaguarda” da guerra, as equipas de evacuação aérea, pilotos e enfermeiras, estavam sempre prontas a responder à chamada, viesse ela das zonas de combate ou dos mais “esquecidos” aquartelamentos das tropas. Era uma vida intensa.


[Curso de enfermeira paraquedista em Tancos,  junho-agosto de 1961]

(...) Mas a nossa preparação tinha sido cuidada. Quando se reuniu o grupo de voluntárias – éramos 11, uma fracção de uma companhia – fomos convocadas para fazer testes de adaptação e de capacidade. Naquele tempo a mulher não estava ginasticada, não havia a prática de ginástica que temos hoje. Mas estes testes iniciais não eram eliminatórios. No curso que se seguiu as pessoas desenvolviam-se ou não, cumpriam as metas fixadas ou não.

Começámos onze e só ficámos seis, porque as outras não aguentaram os treinos. A guerra tinha começado em Março e nós fomos convocadas em fins de Maio. Fomos para Tancos fazer os testes a 25 ou 26 de Maio, e depois fomos para lá iniciar o curso no dia 6 de Junho, que é o dia do desembarque da Normandia, o dia mais longo, o dia D, como eu digo sempre.

Era um curso adaptado a nós, à nossa capacidade física, que não era igual à dos homens, tínhamos que fazer tudo numa dimensão adaptada à nossa resistência física. O primeiro salto foi a 2 de Agosto e fizemos todos os outros saltos até 8 de Agosto, data em que fomos brevetadas.

Na Força Aérea, nos pára-quedistas, já havia mulheres, civis, na parte administrativa. A nossa relação com os pára-quedistas era muito cordial.

Claro que eles tinham sido advertidos das circunstâncias em que nós íamos, porque é que íamos e portanto o estatuto que nos deram – e que lhes deram a eles – também acautelou o nível de relação que se propunha que houvesse e tudo correu muito bem.  . (…) No fim do curso estávamos envolvidas numa afectividade muito grande, porque realmente os pára-quedistas são excepcionais, são pessoas muito abertas, muito solidárias e amigos. E isso foi muito importante para nós vivermos a nossa missão.


[Partida para Angola, em 23 de agosto de 1961, com a Maria Arminda]

A 23 de Agosto fomos duas enfermeiras para Angola, como teste. Estávamos ainda a fazer fardas em Lisboa, quando foi anunciado que ia haver uma operação especial dos pára-quedistas no norte de Angola, na Serra da Canda e eles gostavam da nossa presença.

Era tudo à experiência: ver como é que nós nos dávamos, ver como é que os pára-quedistas reagiam à nossa presença. Mas não foi nada de especial porque aqueles pára-quedistas que nós fomos encontrar no avião para a Serra da Canda, tinham estado em Tancos em Junho,quando nós tínhamos ido para lá. Eles tinham embarcado para Angola em Julho. (…)

Em Luanda onde inicialmente aterrámos e onde ficávamos – tínhamos a messe e os alojamentos lá – vimos que as pessoas, os africanos e os europeus que estavam lá radicados tinham uma relação humana boa. Eram pessoas muito abertas a uma relação e, mesmo com a população local, não há dúvida nenhuma de que havia uma relação rica de sensibilidade e de vivência.

É claro que a situação de guerra veio alterar as coisas em todos os sentidos. E nós, a nossa presença militar também alterava tudo, mas nunca senti fricções. (...)

(Continua)

[Seleção / subtítulos / revisão e fixação de texto, para efeitos de publicação neste blogue: LG]

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de13 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21763: Parabéns a você (1922): Major Enfermeira Paraquedista Reformada Maria Ivone Reis (FAP, 1961/74)


(**) 13 de janeiro de  2012 > Guiné 63/74 - P9348: Parabéns a você (367): Maria Ivone Reis, 83 anos: enfermeiras, paraquedistas, amigas, companheiras de aventura e camaradas para sempre! (Maria Arminda)

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20892: 16 anos a blogar (2): "Exma menina e saudosa madrinha: Em primeiro de tudo, a sua saúde que eu por cá de momento fico bem, graças a Deus"... Excerto de um aerograma... O nosso primeiro poste, publicado no já longínquo dia 23/4/2004.


Um "aero" (sic) enviado de Bissau, com data de 25/12/1969, por um dos correspondentes da nossa grã-tabanqueira Maria Alice Ferreira Carneiro. O SPM era o 0148. Este aerograma foi utilizado apenas como envelope ou sobrescrito. Lá dentro vinham duas folhas, em papel azul, bíblico, como se fosse uma carta por avião. O "aero" tinha a vantagem de não pagar porte nem sobretaxa aérea. Essa prática, embora corrente, era fraudulenta, era contra os regulamentos ("É proibido usar qualquer objecto ou documento"). Era vulgar também mandar-se, dentro de uma "aero", uma fotografia ou um "santo antoninho" (nota de 20 escudos, que na época, em 1969, era o equivalente, hoje, a 5 euros e 98 cêntimos)... Com 10 toneladas de correio por dia, durante a guerra colonial, o SPM não podia vigiar e punir estas pequenas fraudes...


Foto (e legenda): © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017). Todos os direitos reservados.



1. Foi assim, quase sem querer, que começou o nosso blogue: em 23 de abril de 2004, publiquei aquele que seria o primeiro poste (*) do blogue que viria a chamar-se Luís Graça & Camaradas da Guiné e dar origem à Tabanca Grande.

Eu tinha um blogue, que criei em 8 de outubro e 2003, e que se chamava "Blogue Fora Nada", ainda hoje disponível "on line" (**): seria, mais tarde, rebatizado como blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (I Série). Essa história, de resto, já aqui está contada e recontada (***).

Foi neste blogue que publiquei o primeiro texto alusivo à guerra colonial na Guiné. Na altura tinha-me chegado às mãos uma coleção de quase de duas centenas de cartas, recebidas por uma "madrinha de guerra". 

Dessas publiquei uma, nas vésperas do 25 de Abril de 2004, em jeito de homenagem às "nossas mulheres" e, em particular, às "nossas madrinhas de guerra". (Em boa verdade, já tinha feito, há anos atrás, em 1980, um primeiro tratamento temático dessas cartas; um artigo meu, sobre o tema, já fora publicado no extinto semanário "O Jornal", na secção criada pelo saudoso jornalista Afonso Praça, "Memórias da Guerra Colonial").

Dezasseis anos depois do primeiro poste do nosso blogue, voltamos aqui a reproduzir o aerograma de um camarada da Guiné, cujo nome na altura se omitiu (bem como o da sua companhia), e que era datado da véspera do Natal de 1969:


Guiné, 24 de Dezembro de 1969

Exma menina e saudosa madrinha:

Em primeiro de tudo, a sua saúde que eu por cá de momento fico bem, graças a Deus.

Estava um dia em que meditava e lamentava a triste sorte que Deus me deu até que toquei na necessidade de arranjar uma menina que fosse competente e digna de desempenhar tão honroso e delicado cargo de madrinha de guerra. Peço-lhe desculpa pelo atrevimento que tive em lhe dedicar estas simples letras. Mas valeu a pena e é com muita alegria que recebo o seu aero [aerograma].

Vejo que também está triste por mor  da mobilização do seu mano mais novo para o Ultramar. Não sei como consolá-la, mas olhe: não desanime, tenha coragem e fé em Deus. Eu sei que custa muito, mas é o destino e, se é que ele existe, a ele ninguém foge. Nós, homens, temos esta difícil e nobre missão a cumprir.

Nós, militares, que suportamos o flagelo desta estadia aqui no Ultramar, não temos outro auxílio, quer material quer espiritual, que não seja o que nos dão os nossos amigos e entes queridos. E sobretudo as nossas saudosas madrinhas de guerra.

Sendo assim para nós o correio é a coisa mais sagrada que há no mundo. Porque nos traz notícias da nossa querida terra e nos faz esquecer, ainda que por pouco tempo, a situação de guerra em que vivemos e os dias que custam tanto a passar.

As notícias aqui são sempre tristes, nestas terras de Cristo, habitadas por povos conhecidos e desconhecidos. Não lhe posso adiantar pormenores, mas como deve imaginar uma pessoa anda triste e desanimanada sempre que há uma baixa de um camarada.

Lá na metrópole há gente que pensa que isto é bonito. Que a África é bonita. Eu digo-lhe que isto é bonito mas é para os bichos. São matas e bolanhas que metem medo, cobertas de capim alto, e onde se escondem esses turras que nos querem acabar com a vida. 


E mais triste ainda quando se aproxima o dia e a hora em que era pressuposto estarmos todos em família, juntos à mesa na noite da Consoada. Vai ser a primeira noite de Natal que aqui passo. Com a canhota [espingarda automática G3]  numa mão e uma garrafa de Vat 69 {, marca de uísque] na outra.

São duas horas da noite e vou botar este aero na caixa do correio. Daqui a um pouco saio em missão mais os meus camaradas. Reze por nós todos. Espero voltar são e salvo para poder ler, com alegria, as próximas notícias suas. Queira receber, Exma. Menina e saudosa madrinha, os meus mais respeitosos cumprimentos. Desejo-lhe um Santo e Feliz Natal.

O soldado-atirador da Companhia de Caçadores (...)


2. A carta era antecida de um preâmbulo do nosso editor Luís Graça. A nossa amiga e camarada enfermeira-paraquedista Maria Arminda Santos é a única que tem um comentário a este poste (*), do seguinte teor: 

(...) Belíssimo texto, com a exaltação da mulher portuguesa e o papel importantíssimo, que outrora e hoje,a mesma desempenhou e desempenha, na nossa sociedade. Lembrar também as "madrinhas de guerra,de numa época embora longínqua mas que para muitos ainda está presente e o papel fundamental que tiveram na vida dos combatentes, seus afilhados, é uma merecida e justa homenagem, que o Blogue de Luis Graça e Camaradas da Guiné, o tivesse postado no início da Tabanca Grande e nos voltasse e nesta data, a recordar. um abraço. Mª Arminda. (...)

Nesse ano de 2004, só se publicaram 4 postes com temas alusivos à guerra colonial na Guiné. Mas foi o ponto de partida da nossa Tabanca. Temos o descritor Blogue-Fora-Nada com cerca de meia centena de referências. Por ocasião do nosso aniversário, temos vindo todos os anos "repescar" alguns dos melhores postes já publicados... E já lá vamos a caminhos dos 21 mil... Que os bons irãs nos protejam na caminhada pela picada da vida, sempre cheia de minas e armadilhas, antes, durante e depois da nossa participação na guerra da Guiné (1961/74)... Hoje as minhas 6 armadilhas estão relacionadas com a pandemia de COVID-19 e o confinamento a estamos obrigados... Mas continuar a blogar é preciso! (****)
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Notas do editor:

(*)23 de abril de 2004 > Guiné 63/74 – P1: Saudosa(s) madrinha(s) de guerra (Luís Graça)

(****) 21 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20886: 16 anos a blogar (1): O helicóptero, poema de Jorge Cabral, comentário de Torcato Mendonça

sexta-feira, 3 de maio de 2019

Guiné 61/74 - P19740: XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande (9): mais 4 camaradas que vão estar connosco em Monte Real, em 25 de maio próximo: António Estácio, Hélder Sousa, Maria Arminda Santos, Rui Guerra Ribeiro...


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > X Encontro Nacional da Tabanca Grande > 18 de abril de 2015 > Dois guineenses de alma e coração, que voltam a estar presentes, em 2019, no nosso Encontro Navcional

(i) O cor inf ref, Rui Guerra Ribeiro, filho o intendente Guerra Ribeiro (no tempo de Spínola), e administrador de Bafatá (o homem que construiu a piscina de Bafatá, a "princesa do Geba");

(ii) e o António Estácio, escritor...

Ambos têm costela transmontana: o António Estácio, filho de transmontanos, nasceu em Bissau e estudou no Liceu Honório Barreto, tendo mais tarde tirado em Coimbra o curso de engenheiro técnico agrícola; o Rui Guerra Ribeiro foi levado com escassos meses para Guiné onde o pai fez a carreira de administrador, estudou na metrópole, da 4ª classe ao 5º ano do liceu, voltou à Guiné, voltou a Portugal para fazer a academia militar, foi capitão da 15.ª CCmds, em Angola, onde foi ferido num braço; voltou à Guiné, para se recuperar; foi Ajudante de Campo do último Governador e Comandante-Chefe Bettencourt Rodrigues... 

Está convidado, desde 2015 (!|), para integrar o nosso blogue e tem histórias para contar do dia, o 26 de abril, em que o MFA de Bissau tomou de assalto a fortaleza de Amura e destitui o Com-Chefe... Diz - me ele que a história está mal contada e promete esclarecer alguns pontos do que se passou nesse dia... Pode ser que seja agora, e, 2019...


António [Júlio Emerenciano ] Estácio, [, foto à esquerda, V Encontro Nacional da Tabanca Grande, Leiria, Monte Real, 2010 ] 

(i) é luso-guineense, nascido em 1947, e criado no chão de Papel, em Bissau, com raízes transmontanas, tendo vivido também em Bolama;

(ii) formou-se como engenheiro técnico agrário (Coimbra, 1964-1967, Escola de Regentes Agrícolas, onde foi condiscípulo do Paulo Santiago), depois de frequentar o Liceu Honório Barreto;

(iii) fez a tropa (e a guerra) em Angola, como alferes miliciano (1970/72);

(iv) trabalhou depois em Macau (de 1972 a 1998);

(v) vive há duas décadas em Portugal, no concelho de Sintra;

(vi) é membro da nossa Tabanca Grande desde maio de 2010;

(viii) tem-se dedicado à escrita, dois dos seus livros mais recentes narram as histórias de vida de duas "Mulheres Grandes" da Guiné, a cabo-verdiana Nha Carlota (1889-1970) e a guineense Nha Bijagó (1871-1959);

(ix) o seu livro mais recente (2016, 491 pp.), de temática guineense, tem como título "Bolama, a saudosa", edição de autor;

(x) tem mais de meia centenas de referências no nosso blogue; dele publicámos, por exemplo,em cinco postes,  uma  comunicação feita no âmbito da V Semana Cultural da China, de 21 a 26 de janeiro de 2002 (*)



Leiria, Monte Real > Palace Hotel Monte Real > XII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 29 de abril de 2017 > Da esquerda para a direita, a Giselda, a Maria Arminda Santos (que veio pela primeira vez a um encontro nacional da Tabanca Grande) e a Maria de Lurdes (de perfil) (, esposa do nosso camarada Jorge Canhão). Tanto a Giselda como Lurdes são veteranas destas andanças.

A Arminda volta a estar connosco este ano, presumimdo eu que venha, como de costume,  com o régulo da Tabanca de Setúnal, o Hélder Sousa.

Foto: © MIguel Pessoa (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Leiria >  Monte Real > Palace Hotel Monte Real > XII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 29 de abril de 2017 > Os dois setubalenses, o nosso colaborador permanente Hélder Sousa, régulo da Tabanca de Setúba,  e a Maria Arminda, "periquita" no nosso Encontro.

Foto (e legenda);  © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


A Maria Arminda  [Santos] tem mais de 4 dezenas de referências no nosso blogue. Esteve  na Guiné em 2 comissões. É capitão enfermeira paraquedista ref. Nasceu e vive em Setúbal, terra onde foi homenageada o ano passado (**). É da Escola Superior de Enfermagem São Vicente de Paulo.


Guiné > Bissalanca >  BA12 > s/d> Ds esquerda para a direita, a Maria Arminda, a Maria Zulmira André (falecida em 2010) e a Júlia Almeida (, falecida em 2017). 

 Foto de cronologia do Facebook da Maria Arminda Santos. (Reproduzida aqui com a devida vénia...).


Hélder Valério de Sousa (ex-Fur Mil de TRMS TSF, Piche e Bissau, 1970/72) não precisa de apresentação... Nosso colaborador permanente, tem cerca de centena e meia de referências no nosso blogue. 

É o regulo da Tabanca de Setúbal... Engenheiro de formação... É bom, voltar a vê-lo em Monte Real (***).
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(...) Setúbal reconheceu e condecorou Arminda Santos como cidadã de grande relevo nacional, ela que foi a primeira paraquedista militar como enfermeira na Guerra Colonial. Andámos na mesma guerra em Angola nos anos de 1961 a 1963, mas por sorte e por ter uma saúde de granito do Alto Minho, mais exatamete da terra onde começou a nascer Portugal, só precisei de seguir o exemplo da sua coragem. Esperemos agora que lhe seja atribuída uma rua com o seu nome nesta cidade que a viu nascer e ainda por cá vive aos 81 anos... (...)

(***) Último poste da série > 2 de maio de 2019>  Guiné 61/74 - P19737: XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande (8): Data-limite para inscrições: próximo dia 10 de maio, sexta-feira... Está a ser enviado lembrete, por email, para os retardatários...

terça-feira, 3 de julho de 2018

Guiné 61/74 - P18805: (Ex)citações (339): "Hoje sentimo-nos bem connosco, por termos ajudado a minorar o sofrimento dos feridos e doentes, que nos foram confiados. Em nós ficou o sentimento de um dever cumprido" (Maria Arminda Santos, capitão, enfermeira paraquedista, ref)


Leiria, Monte Real > Palace Hotel Monte Real > XII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 29 de abril de 2017 > Da esquerda para a direita, a Giselda, a Maria Arminda Santos (que veio pela primeira vez a um encontro nacional da Tabanca Grande) e a Maria de Lurdes (de perfil) (, esposa do nosso camarada Jorge Canhão).

Foto: © MIguel Pessoa (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1, Pedi às nossas amigas, camaradas e grã-tabanqueiras, as enfermeiras paraquedistas, hoje jubiladíssimas, mas sempre atentas, disponíveis e amáveis, Giselda, Arminda, Rosa... para comentarem o poste do nosso Dino, que esteve em Fulacunda, região de Quínara, em 1972/74, e em especial um excerto de um aerograma à namorada e futura mulher, Amélia, com data de setembro ou outubro de 1973, em que dizia assim:

“Antes de te falar romanticamente, quero informar-te que hoje veio aqui um helicóptero e nele vinham duas moças pára-quedistas brancas,  foram para uma operação no mato e por causa do nevoeiro tiveram de aterrar aqui. Com estas duas, são três as mulheres brancas que vi em Fulacunda. Quando puderam partir levaram correio, espero que desta vez recebas”. 

Eu próprio comentei no poste, em tom de brincadeira, o seguuinte;

"Dino, com um ano de Guiné tinhas a 'obrigação' de saber que havia mulheres, nossas camaradas, enfermeiras paraquedistas que andavam nos helis e nas DO 27 a 'socorrer' os desgraçados dos nossos feridos graves, com direito a evacuação Ypsilon...

Geralmente não paravam nos quartéis, faziam as evacuações a partir do mato até ao HM 241, em Bissau...Não tinham tempo para se 'coçar'...

Acho que havia muita gente, nos nossos quartéis, que não sabiam mesmo da existência das enfermeiras paraquedistas... Elas não precisavam de pôr anúncios nas revistas cor de rosa da época... Mas eu vi-as, no mato e no quartel de Bambadinca, sempre elegantes, sempre eficientes, sempre corajosas... Temos uma grande dívida de gratidão para com estas raparigas, hoje com a nossa idade"...


Capa do livro "Nós, enfermeiras  paraquedistas" (Coord., Rosa Serra) Porto: Fronteira do Caos Editores. 2015 (Há já uma 2º ed). Prefácio do professor Adriano Moreira.



Da esquerda para a direita, a Maria Arminda, a  Maria  Zulmira André (falecida em 2010) e a Júlia Almeida (, falecida em 2017). Guiné, Bissalanca, BA12, s/d .  Foto de cronologia do Facebook da Maria Arminda Santos. (Reproduzida aqui com a devida vénia...).



2. A Maria Arminda Santos,  que esteve na Guiné (e mais do que uma vez, foi de resto a primeira a chegar ao território, logo em julho de 1962; e em 1969/70 era tenente enfermeira paraquedista; hoje capitão reformado, vive em Setúbal e tem 4 dezenas de referências no nosso blogue),  já me respondeu, ontem às 23h00, dizendo:

"Obrigada,  amigo Luis Graça, por me ter feito chegar esta mensagem. Não me surpreende que muitos militares desconheçam ainda muita coisa, da nossa existência e das missões que desempenhámos, durante o decurso da Guerra do Ultramar, ou Colonial.

Já coloquei o meu comentário no Blogue, conforme a sua solicitação. Envio um grande abraço. Não esqueço quem sempre nos tratou bem, apesar de eu participar pouquíssimo no blogue. Até sempre, M. Arminda Santos".

Aí vai comentário da Maria Arminda Santos,  deixado no poste P18799:

 "Li com atenção e não levo a mal, por esse nosso camarigo, desconhecer da nossa existência, na Guiné e nas Tropas Paraquedistas.

Realmente nós éramos poucas para acudir a todos os locais, mas de facto eram muitas as saídas em DO 27, Alouette III e até em Dakota, fizemos evacuações de feridos e não só, porque até a elementos da população civil, prestámos cuidados.

Também fizemos Bases de Operações, principalmente em Aldeia Formosa e Cufar, mantendo-nos de alerta para possíveis evacuações de feridos , que viésssem a ocorrer em teatro de operações, como na realidade aconteceram.

Ainda bem que esse camarada, não precisou de nos conhecer, no âmbito do nosso trabalho. Bom sinal para ele.


Hoje sentimo-nos bem connosco, por termos ajudado a minorar o sofrimento dos feridos e doentes, que nos foram confiados. Em nós ficou o sentimento de um dever cumprido.
Um abraço.

M. Arminda Santos" (**)

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(**) Último poste da série > 1 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18798: (Ex)citações (338): Quem não sabe beber, que beba m..., dizia um durão de Bambadinca... Mas, camaradas e amigos, era mesmo m... a famosa "água de Lisboa" que nos chegava aos nossos quartéis para matar a nossa dor e a nossa sede... (Luís Graça / Virgílio Teixeira)

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17345: XII Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 29 de Abril de 2017 (20): os representantes da "frota celestial" (FAP) e o Johnnie Walker black label 12 years old, oferecido à malta pelo Tony Borié ("from America with love")


Foto nº 1 > A feliz contemplada com o  "Johnnie Walker black label 12 ears old", oferecido pelo Tony Borié à Tabanca Grande, na pessoa do editor Luís Graça...  Do lado direito, o Carlos Silva.


Foto nº 2 > A Elisabete, esposa do Francisco Silva, a Giselda e o Carlos Silva... "Então, não vai um golinho?", parece perguntar a nossa querida aniversariante e histórica camarada Giselda, a primeira a entrar para a Tabanca Grande.


Foto nº 3 > O ten gen pilav ref António Martins de Matos, e o Zé Manell Cancela (Penafiel) e a nossa "bar(wo)man" Giselda


Foto nº 4 >  O Joaquim Mexia Alves, a "jogar em casa"... à direita, a esposa Catarina... 


Foto nº 5 >  Uma mesa só com gente da "frota celestial" (FAP): um antigo piloto de DO 27, o Silvino Correia d'Oliveira (Leiria), o António Martins de Matos (ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74) e a Giselda Pessoa... a nossa sempre amável, prestável e (e)terna enfermeira paraquedista...


Foto nº 6 > O António Martins de Matos (Lisboa)


Foto nº 7 > A "periquita" (em matéria... tabancal) enfermeira paraquedista Maria Arminda Santos (uma das primeiras a chegar ao TO da Guiné)


 Foto nº 8 > Os dois setubalenses, o nosso colaborador permanente Hélder Sousa e a Maria Arminda

Leiria, Monte Real > Palace Hotel Monte Real > XII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 29 de abril de 2017

Fotos: © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Foto nº 9 > Águeda, 18 de Outubro de 2016 >  Tony Borié e Carlos Vinhal > Em visita a Portugal, o Tony Borié (ex-1º cabo cripto,  Comando de Agrupamento 16, Mansoa, 1964/66), bem sucedido e integrado "tuga" no "melting pot" americano, fez questão de se encontrar, em Águeda, com dois dos nossos editores, em Àgueda (**).

Por razões de disponibilidade. avançou o Carlos Vinhal.  O Borié trazia uma lembrança para cada um de nós, uma garrafa de Johnnie Walker, rótulo preto, 12 anos... Uísque de cinco estrelas!... A garrafa só seis meses depois,  em 29/4/2017, chegaria às mãos do nosso editor Luís Graça...

Em dia de dupla festa (aniversário da Giselda e realização do XII Encontro Nacional),  o Luís Graça confiou a garrafa à aniversariante para repartir irmamente o precioso líquido para quem tinha "sede", no fim do almoço, com o cafezinho...

A Giselda, que não bebe, saiu-se muito bem de mais esta inesperada missão, a de "bar(wo)man"... Como estava em terra, e em dia de merecido descanso, não infringiu nenhuma das regras de segurança da "frota celestial"...

Daqui vai um triplo xicoração: (i) para o Borié, que foi superlativamente generoso para connosco; (ii) para a Giselda, que foi superlativamente gentil connosco em dia de anos; e (iii) para o Carlos Vinhal que foi superlativamente competente, enquanto "intermediário" entre mim e o Tony Borié. (LG)

Foto: © Carlos Vinhal (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementra: Blogue Luís Grça & Camaradas da Guiné]
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 8 de maio de  2017 > Guiné 61/74 - P17334: XII Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 29 de Abril de 2017 (19): Por mim, manteria o sítio, o hotel, e a relação qualidade/preço, melhoraria a refeição principal e, sobretudo, agarraria com unhas e dentes esta oportunidade (histórica, única) de convívio anual entre nós, amigos e camaradas (António Duarte, Lisboa)

(**) Vd, poste de 30 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16658: Atlanticando-me (Tony Borié) (14): O nosso encontro em Águeda