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domingo, 23 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6455: O Spínola que eu conheci (22): Conclusão da visita de inspecção ao BART 2917 (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luis Graça)



COMANDO-CHEFE DAS FORÇAS ARMADAS DA GUINÉ

VISITA DE INSPECÇÃO AO BART 2917


DESPACHO ASSUNTO: - VISITA DE INSPECÇÃO AO BART 2917 (*)


(...) 12. Visita a NHABIJÕES em 15DEZ70

O Comandante do Destacamento não é o oficial que tinha feito o estágio dos reordenamentos no CC, mas sim o Comandante de um Pelotão da CCAÇ 12 sedeada em BAMBADINCA.

- Não é de aceitar este critério de que resulta um deficiente aproveitamento dos oficiais e quebra dos laços orgânicos das unidades. O Comandante do Destacamento não se revelou com capacidade para levar a cabo trabalho de tanta responsabilidade.

- Há que acertar o regime de trabalho com a população e dinamizar os trabalhos de reordenamento.

- A escola civil não tinha material didáctico nomeadamente cadernos.

13. Visita a FINETE em 19DEZ70

- O Comandante de Pelotão e os Comandantes de Secção das milícias usavam distintivos do Exército o que está expressamente proibido.

- Foram encontradas três armas mal limpas pertencentes a: - IERO BALDÉ (Comandante de Secção), UMARO DJALÓ e MALI DJAU. Estas milícias devem ser punidos com perda de vencimentos respectivamente por 15 dias o Comandante de Secção e por 10 dias os restantes.

- A população pediu armas para serem distribuídas pelos homens válidos. Há que aproveitar esta reacção para organizar a tabanca em “Auto Defesa”.

- O Comandante do Pelotão de Milícias não está à altura das suas funções; Ou melhora a sua aptidão ou dever-se-á escolher outro.

- O esquema da defesa deverá ser revisto luz do novo conceito.

14. Visita a MISSIRÁ em 19DEZ70 (**)

- O heliporto está muito atrasado, não tendo sido cumprido o determinado pelo CC, que estabeleceu a data do Natal para inauguração de todos os heliportos da Província.

- O esquema de defesa apresenta-se manifestamente deficiente; Abrigos muito mal construídos e falta de trincheiras.

- Ao sinal de alarme o pessoal concentrou-se nos abrigos em precaríssimas condições para tirar rendimento do armamento, com a agravante de entre os abrigos se situarem áreas não vigiadas nem batidas pelo fogo.

- Foi notada a carência de reabastecimentos devido ao “sintex” (único meio de reabastecimento) se encontrar avariado. Trata-se de um problema que compete resolver aos Comandos imediatamente superiores.

- A impressão geral da Inspecção a este Destacamento foi má.

15. CONCLUSÃO

A impressão geral da Inspecção ao Batalhão de Artilharia Nº 2917 foi francamente desfavorável. O Comando do BART não se encontra devidamente integrado no cumprimento da sua missão, pelo que terá de reajustar conceitos e rever modalidade de acção à luz de um novo espírito.

No campo propriamente da execução, o Batalhão não tem exercido acção de controlo e de inspecção sobre as suas Companhias, porquanto todas as anomalias constatadas pelo Comandante-Chefe já deviam ter sido remediadas pelo Comandante do Batalhão. Salvaguarda-se a acção diligente do Comandante do XITOLE e o do Comandante do Destacamento do ENXALÉ.

O Sr. Comandante-Adjunto Operacional deverá advertir o Comandante do Batalhão e orientá-lo no sentido de serem corrigidas urgentemente as anomalias verificadas.

15. DESPACHO:

- Dê-se conhecimento deste Despacho aos CMDTS de CAOP, BAT e COP. Bissau, 07 de Janeiro de 1971 O COMANDANTE-CHEFE

aa) ANTÓNIO SEBASTIÃO RIBEIRO SPINOLA


_________________________________________

Notas de L.G.:

(*) Conclusão da publicação do Despacho do Com-Chefe, de 7 de Janeiro de 1971, na sequência da visita de inspecção ao BART 2917. Versão transcrita por Benjamim Durães, ex-Fur Mil, Pel Rec Info, CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72).

Vd. último poste da série > 15 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6396: O Spínola que eu conheci (21): Fiquei com óptima impressão do subalterno Comandante do Destacamento do Enxalé (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)

(**) O Pel Caç Nat 63 era, desde 19 de Outubro de 1970 a unidade que guarnecia o destacamento de Missirá, sendo comandado pelo Alf Mil Art Jorge Cabral. Em Missirá havia ainda o Pel Mil 201. E em Finete o Pel Mil 202.

sábado, 15 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6396: O Spínola que eu conheci (21): Fiquei com óptima impressão do subalterno Comandante do Destacamento do Enxalé (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)

Guiné > Zona Leste > Mapa do Sector L1 (Bambadinca)  > 1969/71 (vd.  Sinais e legendas).

Fonte: História da CCAÇ 12: Guiné 69/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores nº 12. 1971

Infogravura: © Luís Graça (2005). Direitos reservados

Na época em que o BART (Bambadinca, 1970/72) foi responsável pelo Sector L1, a população  (fulas, balantas e mandingas) sob controlo das NT ou sob duplo controlo, recenseada, era da ordem dos 15 mil; por sua vez, estimava-se que  o PAIGC  controlasse cerca de 5000 habitantes, predominantemente balantas e beafadas  (a norte do Rio Geba, em Madina / Belel e ao longo da margem direita do Rio Corubal, de Seco Braima à Foz do Corubal: no croquis, os círculos a tracejado).  Sobre o Sector L1, vd. também um curioso documento do PAIGC, de 1968, já aqui publicado (*). 

______________


Continuação da publicação do Despacho do Com-Chefe, Gen Spínola, de 7/1/1971, relativo à visita de inspecção ao BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), um documento de 12 páginas (**)

(...) 8. Visita a Demba Taco em 15Dez70

 -Total abandono da população e das milícias.
- Defesa completamente descuidada.
- A milícia apresentou as armas em péssimas condições de limpeza.
- As crianças da Escola queixaram-se que o professor está sempre em Bambadinca, e que lhes falta material escolar.

[Tabanca fula, colaborante na defesa. 234 habitantes. Pel Mil 243 / Comp Mil nº 14].

9. Visita a Taibatá, em 15Dez70

 - Situação idêntica à de Demba Taco no que toca ao abandono da milícia e das populações do ponto de vista de defesa.
- A carta de tiro do morteiro (guarnição metropolitana) era teórica. O próprio pessoal declarou que em caso de ataque faria fogo “a ollho” Dispensam-se comentários a tal reacção.
- O armamento da milícia encontrava-se em péssimo estado, começando pelos comandantes que apresentavam as suas G-3 em muito precárias condições de limpeza.

[ Tabanca fula, colaborante na defesa. 228 habitantes. Sede do regulado do Xime. 1 Esq Pel Mort 2106 . Pel Mil 241 / Comp Mil nº 14]

 10. Visita a Amedalai em 19Dez70

 - A milícia desta tabanca encontra-se bem cuidada, tendo ficado com boa impressão do seu comandante.
 - As armas apresentavam-se bem limpas.
-  Há que rever o traçado doa arame farpado que se encontra fora da zona eficaz de tiro das armas de defesa.
- A população pediu que lhe fosse fornecido cimento para fazer as coberturas dos abrigos. Há que equacionar este problema em ordem a satisfazer o pedido.
- Foi chamada a atenção para a falta de material didáctico para a escola (cadernos, livros, etc.). Estas deficiências já deviam ter sido detectadas pelo Comando do Batalhão.

[Tabanca fula, colaborante na defesa. 160 habitantes. Pel Mil 242 / Comp Milicias nº 14]

 11. Visita a Enxalé em 15Dez70 

 - Fiquei com óptima impressão do subalterno Comandante do destacamento (***).  Trata-se de um elemento que, se lhe forem fornecidos os meios necessários, realizará obra válida no Enxalé.
- Sem qualquer justificação não se encontra fixada a ZA do Destacamento. A missão está mal atribuída e não se ajusta à presente situação. O Comandante do destacamento na falta de elementos actualizados tem lançado mão de documentos do passado.
 - Há que dar o necessário apoio técnico ao Comandante do destacamento para efeito de estudo da defesa do Enxalé cujo plano necessita ser revisto em ordem a englobar a tabanca, não se justificando a hipoteca de meios orientados para a bolanha do Rio Geba.
 - Falta a carta de tiro do morteiro 81.
- Há que remodelar os abrigos à luz das Directivas publicadas pelo CC.
 - O barqueiro do Enxalé pesca para o destacamento em zona vermelha, correndo os inerentes riscos. Há que equacionar o problema (pp. 8/9).

[ Povoação com 300 habitantes, colaborante na defesa. 1 loja comercial 1 Esq Pel Mort 2106 + 1 Gr Comb da CART 2715, Xime ] 

(Continua)

[Fixação / revisão de texto / notas em itálico dentro de parênteses rectos / título: L.G.]

_____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de

24 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5878: PAIGC: um curioso croquis do Sector 2, área do Xime, desenhado e legendado por Amílcar Cabral (c. 1968) (Luís Graça)

(**) Vd. postes anteriores:

 11 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6368: O Spínola que eu conheci (20): "Erros graves cometidos do ponto de vista de segurança explicam o êxito da emboscada do IN, em 26/11/1970, na região Xime-Ponta do Inglês" (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)

7 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6335: O Spínola que eu conheci (19): "Fiquei francamente mal impressionado com a visita à Companhia sediada em Mansambo" (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)

6 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6327: O Spínola que eu conheci (17): A visita de inspecção ao Xitole e às tabancas em autodefesa de Sinchã Madiu, Cambesse e Tangali em 16 de Novembro de 1970 (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)

6 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6326: O Spínola que eu conheci (16): A visita de inspecção ao BART 2917 e suas subunidades, Sector L1, Bambadinca, de 16 de Novembro a 19 de Dezembro de 1970 (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)



(***) Possível referência a um dos 4 alferes da CART 2715 (Xime, 1970/72) que tinha um Gr Comb destacado no Enxalé... Julgo que o  João Carlos Antão Fortes Rocha (que eu conheci, no último convívio em Coruche) esteve destacado no Enxalé... Mas também, podiam ser o Aníbal  de Sousa Gonçalves, o José Fernando de Andrade Rodrigues ou o João Manuel Mendes Ribeiro (este último viria a morrer em combate, em 4/10/1971, na temíovel zona do Poindon/Ponta do Inglês, no decurso da Op Dragão Feroz

terça-feira, 11 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6368: O Spínola que eu conheci (20): "Erros graves cometidos do ponto de vista de segurança explicam o êxito da emboscada do IN, em 26/11/1970, na região Xime-Ponta do Inglês [, Op Abencerragem Candente] " (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)



Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74), Os Unidos de Mampatá  > Maio de 1974 > Um bigrupo do PAIGC, a caminho de um encontro (desta vez, pacífico) com o pessoal aquartelado em Mampatá.  

Em 26 de Novembro de 1970, por volta das 8h50, no decorrer da Op Abencerragem Candente, a CART 2715 e a CCAÇ 12 sofreram uma violenta emboscada, de que resultaram 6 mortos, 9 feridos graves e um número indeterminado de feridos ligeiros entre as NT... Quinze dias depois, Spínola visita o aquartelamento do Xime (CART 2715) e tece duras críticas ao comando do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72).

Foto: © José Manuel Lopes (Josema)  (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Estrada (alcatroada) Bambadinca - Xime > Chegada ao Xime, em 9 de Março de 1974, da CCAÇ 3491 (Dulombi,  1971/74), para embarque em LDG a caminho de Bissau. A esta companhia pertencia o nosso camarada Luís Dias.  O Xime era a porta de entrada na zona leste...

Foto: ©  Luís Dias  (2008). Direitos reservados. (com a devida vénia...)

Continuação da publicação do Despacho do Com-Chefe, de 7/1/1971, relativo à visita de inspecção ao BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), um documento de 12 páginas (*)



7. Visita a Xime em 12dez70 

- A impressão colhida na inspecção à Companhia do Xime [, CART 2715, ] foi má.

- O Comandante da Companhia  revelou uma muito precária preparação táctica para conduzir a sua subunidade no mato, nomeadamente no que toca a noções elementares de segurança.

Com base na descrição que me foi feita da acção realizada em 26 de Novembro [de 1970]  na região Xime-Ponta do Inglês [, Op Abencerragem Candente,] (**), conclui que o êxito da emboscada do IN se deve fundamentalmente a erros graves cometidos pelos Comandos de Batalhão [na altura o comandante interino era o Major de Artilharia José António Anjos de Carvalho ] e Companhia, do ponto de vista de segurança. Ao primeiro por ter marcado um itinerário a percorrer numa operação,  tirando iniciativa ao Comandante da Companhia, e ao segundo por não se ter deslocado em adequado dispositivo.

É evidente que uma força que se desloca no mato por uma picada [a antiga estrada Xime-Ponta do Inglês] constitui um objectivo altamente vulnerável para uma emboscada.

Encontrei a Companhia com fraco moral em consequência das baixas sofridas (**), e não encontrei por parte dos Comandos a determinação de cumprir a missão cometida às forças emboscadas. Uma emboscada é um incidente e não pode nunca constituir motivo impeditivo do cumprimento de uma missão.

O Comando do Batalhão deveria ter imediatamente, com reforço ou não, providenciado no sentido de no mais curto prazo de tempo ter sido reconhecida a região de Ponta do Inglês (objectivo da operação). (***).

- O Comando da Companhia [CC] desconhecia a quem competia a responsabilidade da área do Destacamento do Enxalé durante o espaço de tempo em que aquele Destacamento esteve temporariamente dependente do CC; assim como também não teve conhecimento da altura em que cessou aquela responsabilidade.

É incompreensível tal situação.

- O Comandante de Companhia queixou-se que passam barcos de noite no Xime sem que este tenha conhecimento, o que dificulta o cumprimento da sua missão. Este problema deveria já ter sido coordenado pelo Comandante de Batalhão, ou posto superiormente.

- Não tem sido respeitada a orgânica das subunidades.

A Companhia do Xime foi reforçada com 1 Grupo de Combate de Mansambo [CART 2714] que foi desmembrado, ficando o seu Comandante no Xime a comandar uma secção, e tendo sido destacadas para o Enxalé duas Secções. Essa solução carece de lógica e afecta os laços orgânicos.

- Há que averiguar as condições em que está a ser pago,  com carácter permanente, pessoal nativo destinado a “picagem”, pois não é permitida a utilização de pessoal nativo a título permanente (O Tenente-Coronel Robin esclarecerá este assunto).

- A tabanca de Xime não tem chefe. O Comandante do Batalhão já devia ter levantado este problema junto da Administração.

- Verificou-se que a Companhia não emprega minas e armadilhas, especialmente em zonas onde não há população, o que não tem justificação, face à carência de meios disponíveis.

- A população da tabanca [do Xime] encontra-se completamente entregue a si própria, desconhecendo o que terá de fazer em caso de ataque e apresentando as suas armas em estado manifestamente precário de limpeza, nem tão pouco as sabendo utilizar. Não há qualquer plano de defesa da tabanca.

- O Comandante da Companhia desconhecia o plano de tráfego de canoas no Rio Geba, o que é inadmissível. Como é possível controlar o tráfego quando se desconhecem os respectivos condicionamentos (zonas amarela, azul e vermelha) ?

- O plano de defesa do Xime necessita de ser elaborado em novas bases, em ordem a englobar a defesa da tabanca.

- Não está a ser tirado rendimento da mobilidade da Artilharia [, 20º PEL GAC 7, operando o 0bus 10.5, ] que se deve deslocar por entrada para apoiar operações nas zonas nevrálgicas.

-Os abrigos da defesa encontram-se concentradas em determinadas zonas em detrimento de defesa global do quartel e tabanca.

- Não está a ser tirado rendimento da metralhadora Breda que se encontra mal localizada.

- Na missão atribuída à Companhia refere-se que deve colaborar na defesa de Bambadinca. Como ? (pp. 5/8).
_____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 7 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6335: O Spínola que eu conheci (19): "Fiquei francamente mal impressionado com a visita à Companhia sediada em Mansambo" (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)

(**) Desta emboscada  resultaram 6 mortos (quase uma secção inteira, massacrada)  e 9 feridos graves... Os mortos foram o guia e picador da CCS / BART 2917, Seco Camará (natural e residente no Xime, mandinga); e, da CART 2715, o Fur Mil Joaquim de Araújo Cunha, 1º Cabo José Manuel Ribeiro, o Sold Fernando Soares, o Sold Manuel da Silva Monteiro e o Sold Rufino Correia de Oliveira. 

(***) Vd. postes de:

26 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1317: Xime: uma descida aos infernos (1): erros de comando pagam-se caros (Luís Graça)

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6335: O Spínola que eu conheci (19): "Fiquei francamente mal impressionado com a visita à Companhia sediada em Mansambo" (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)



Guiné > Região Leste > Mansambo > CART 2339 (1968/69), Os Viriatos > 1969 > O Humberto Reis, Fur Mil Op Esp, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71),junto ao monumento aos mortos da CART 2339   pertencente ao BCAÇ 2852 (1968/1970), e que foram os construtores de Mansambo.  Em Novembro de 1970, aquando da visita de inspecção do Gen Spínola, a subunidade de quadrícula era a CART 2714, pertencente ao BART 2917 (Bambadinca, 1970/72),  reforçada com um 1 Esq do Pel Mort 2106, e com menos um pelotão (que foi reforçar o Xime).

Foto: © Humberto Reis (2005). Direitos reservados.









Guiné > Região Leste > Mansambo > CART 2339 (1968/69), Os Viriatos> Fotos Falantes II > S/ legenda > O nosso general adorava andar de helicóptero... Mas possivelmente não nunca terá ido numa simples coluna auto,como esta, na Estrada (?)  Bambadinca- Mansambo - Xitole, na época das chuvas...  O inferno, na terra... 


Fotos: © Torcato Mendonça  (2006). Direitos reservados.


Continuação da publicação do  Despacho do Com-Chefe, de 7/1/1971,  relativo à visita de inspecção ao BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), um documento de 12 páginas (*)


5. Visita a Mansambo em 18Nov70 

- Fiquei francamente mal impressionado com a visita à Companhia sediada em
Mansambo.

Foram notadas as seguintes anomalias:

-O Alferes Comandante interno da Companhia desconhecia em absoluto o plano de defesa, a actuação do IN na área e a própria situação de alguns postos de combate.

- As casernas abrigos apresentam-se totalmente inoperacionais; não há postos de combate nem tão pouco valas.

-As metralhadoras estão mal instaladas e em posições que não lhe permitem tirar rendimento de tiro.

- As bazookas e os morteiros estavam igualmente mal instalados, não se podendo de forma alguma extrair deles rendimento aceitável.

- O plano de fogos de morteiro está deficientemente elaborado. No campo da execução de tiro a ligação telefónica PC/abrigos apresenta-se totalmente inoperante; no interrogatório feito à guarnição depreendeu-se que em caso de ataque o tiro era feito “a olho”, dado que a guarnição não acreditava na eficácia do planeamento.

- Ainda no âmbito da defesa, verificou-se a construção dos balneários à frente dos abrigos, o que elimina totalmente a já precária utilização destes.

- Em resumo: a defesa do aquartelamento está estruturalmente errada na concepção e apresenta-se inoperante na execução.

-No âmbito das instalações do pessoal, verificou-se a existência duma sala de oficiais bem instalada e com requintes de decoração, a contrastar flagrantemente com a acomodação dos soldados. Foi ordenada a imediata resolução deste problema.

Neste particular o comportamento do comando da Companhia revela-se francamente negativo, tanto mais que foi chamada a atenção de todos os Comandos para a constante atenção que deve merecer o bem-estar dos soldados.

- No tocante à alimentação foram detectadas várias deficiências, nomeadamente batatas e frescos estragados (pp. 3/5).


6. Visita a Afiá e Candamã em 18Nov70 (**)

- Estas duas tabancas encontravam-se totalmente abandonadas.

Os respectivos comandantes da milícia responsáveis pela defesa não têm a mais pequena noção do que lhes compete fazer em caso de um ataque organizado. Estas tabancas encontram-se praticamente entregues a si próprias, guarnecidas por pessoal inapto e sem instrução.

- Na revista de armamento, as armas apresentavam-se em péssimas condições de limpeza, pelo que foram retiradas algumas como castigo.

- A rede de amare farpado encontra-se destruída e os campos de tiro tapados com capim.

- Não há abrigos para as populações e os antigos abrigos abatidos não foram reconstruídos.

- Os professores queixam-se da carência de cadernos, esferográficas, lápis, quadros pretos e cola.

-Os comandantes da milícia queixaram-se da falta de catanas para procederem à capinagem; quanto à limpeza de armamento queixaram-se que a Companhia não lhes fornecia óleo para o efeito.

- Em resumo: Estas duas tabancas encontram-se à mercê de ataques IN reunindo as melhores condições para serem totalmente aniquiladas.

Salienta-se que estas duas tabancas já estiveram devidamente instruídas e mentalizadas parta uma eficiente defesa. (p. 5)



[ Revisão / fixação de texto: L.G.]

Próximo ponto > 7. Visita a Xime em 12Dez70

Observ. de L.G.:

 É estranho que, na véspera da Op Mar Verde (invasão de Conacri, em 22 de Novembro de 1970), Spínola ande a fazer "visitas de rotina" em pleno interior do CTIG...

De qualquer modo, depois de 18 de Novembro (visita a Mansambo, Afiá e Candamã), há um interregno... O general volta a zona leste, para estas visitas de inspecção, no dia 12 de Dezembro de 1970 (Xime), Dembataco, Taibatá,  Enxalé, Nhabijões  (a 15), e por fim Amedalai, Finete e Missirá (a 19)... 

Spínola fará, no Xime, duras críticas ao Comando do BART 2917, por causa da violentíssima emboscada que tivemos (a CART 2715, a CAÇ 12 e outras forças) na Ponta do Inglês, causando-nos 6 mortos e 9 feridos graves (Op Abencerragem Candente).


____________

Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 6 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6327: O Spínola que eu conheci (17): A visita de inspecção ao Xitole e às tabancas em autodefesa de Sinchã Madiu, Cambesse e Tangali em 16 de Novembro de 1970 (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)

(**) Tinham cerca de 200 habitantes cada uma. Candamã era a sede do regulado de Corubal.  Mansambo não tinha população, a não ser os guias e as suas famílias.

Guiné 63/74 - P6332: O Spínola que eu conheci (18): O COMCHEFE de visita a Galomaro (António Tavares)



1. Mensagem de António Tavares* (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), com data de 3 de Maio de 2010:

Caro Vinhal,
O General António Sebastião Ribeiro de Spínola foi o Comandante-Chefe que conheci durante os 23 meses passados nas matas do Leste da Guiné.

Conheci-o, em 2 de Maio de 1970, - há 40 Anos -, em Brá, nas cerimónias de apresentação do BCaç 2912, no discurso de apresentação disse que os nossos Soldados eram os melhores do mundo, mas não tinham comandos à altura deles!

Brá > 2 de Maio de 1970 > Recepção ao BCAÇ 2912

Infelizmente, passados 17 meses, numa das rotineiras patrulhas nocturnas, auto transportado, pelas Tabancas em A/D, da área da CCS, caímos numa emboscada, perto do quartel, em Bangacia/Duas Fontes, com cinco mortes e vários feridos.

Em Galomaro foi visitar as obras do aquartelamento e saiu de lá satisfeito porquanto os homens do BEng 447, sob o comando de um Furriel Miliciano, actual dono de uma importante construtora do nosso País, estavam a interpretar bem as suas directivas e as obras propriamente ditas a decorrer em bom ritmo.

A fotografia anexa é testemunha da ocorrência como revela as caras risonhas do Oficial de Dia, o cabo-verdiano ex-Alf Mil António Delgado e do Comandante do Batalhão.

Galomaro > Visita do General Spínola às obras

Certo dia apareceu em Galomaro de surpresa - (?) - dirigindo-se de imediato ao refeitório das Praças porquanto tinha recebido uma carta de um Soldado a denunciar as más refeições.

Comandos atrapalhados porque o General Spínola perguntava às Praças se era verdade o que lhe tinham escrito sobre as refeições. Quase todos vacilavam na resposta… Um Soldado mais destemido respondeu que sim… naquele dia o rancho era melhor porque sabiam que o meu General vinha cá! De imediato o 2.º Comandante tentou emendar o Soldado dizendo que estava enganado porque ninguém sabia da vinda do nosso General…

Não houve consequências com esta inesperada - (?) - visita porquanto naquele dia a refeição era boa! Tínhamos recebido no dia anterior reabastecimento fresco.

O Capitão, Major e Comandante passaram a ir diariamente à cozinha… Durante uns tempos as refeições melhoraram… Acabando por decaírem na qualidade e quantidade.

Quanto a outras visitas aos aquartelamentos das CCaç 2699, CCaç 2700 e CCaç 2701, tive conhecimento e recordo algumas das descrições de outros ex-camaradas de Cancolim, Dulombi e Saltinho.

Lembro um Furriel Miliciano que estava destacado numa das tabancas em A/D, de Cancolim e rechaçou sozinho um ataque do IN… a recompensa foi o Gen. Spínola tê-lo transferido, quase no fim da comissão, para outra região de piores condições de guerra.

O Batalhão partiu, em 23-03-1972, nos aviões da TAM, e o heróico Furriel Miliciano permaneceu na Guiné… era um dos atributos do COM-CHEFE mudar facilmente de zona de acção qualquer patente de militar inclusive levá-los consigo no Heli.

Em 1971/72 na zona de acção da CCaç 2699 - Cancolim - o IN fez o primeiro ataque a Bafatá com foguetões… felizmente sem qualquer acerto… os nossos operacionais encontraram a rampa de lançamento!

O IN tinha-se virado para aquela zona de acção do Cossé! Era o começo do pesadelo para as nossas tropas! O início do que aí vinha de mau, na guerra de guerrilha, para os nossos camaradas do BCaç 3872, que ficaram com a responsabilidade daquela zona do Leste da Guiné.

Numa das minhas idas a Bambandinca vi, ao longe, o General Spínola com o seu séquito.
Sei que não foi no dia em que substituiu o comandante do BArt 2917 porque eu nesse dia estava em Galomaro.

Na despedida do BCaç 2912, no Comoré, recebemos os agradecimentos, da praxe, do GEN. SPÍNOLA, SEXA O COMCHEFE!

Estas foram as ocasiões que vi, ao perto ou ao longe, o Gen.Spínola, ComChefe da Guiné.

HOMEM que admirei… até pelo medo e respeito que os ex-combatentes tinham por aquele ILUSTRE MILITAR!

Um abraço
António Tavares
Ex-Fur Mil SAM
Foz do Douro, 02 de Maio de 2010

O BCAÇ 2912 no Leste da Guiné, em Galomaro, Cancolim, Dulombi e Saltinho
__________

Notaa de CV:

(*) Vd, poste de 29 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6274: O cruzeiro das nossas vidas (16): Uma viagem calma no Carvalho Araújo a caminho da Guiné (António Tavares)

Vd. último poste da série de 6 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6327: O Spínola que eu conheci (17): A visita de inspecção ao Xitole e às tabancas em autodefesa de Sinchã Madiu, Cambesse e Tangali em 16 de Novembro de 1970 (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6327: O Spínola que eu conheci (17): A visita de inspecção ao Xitole e às tabancas em autodefesa de Sinchã Madiu, Cambesse e Tangali em 16 de Novembro de 1970 (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)


Guiné > Guiné > Zona Leste > Sector L1 > CCAÇ 12 (1969/71) > Janeiro de 1970, ainda no tempo do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)  > Coluna logística, no itinerário Bambadinca - Mansambo - Xitole.  O troço entre Mansambo e Xitole esteve interdito durante cerca de um ano (desde Setembro de 1968).

Foto: © Humberto Reis (2005). Direitos reservados
.


Continuação da publicação do  Despacho do Com-Chefem, de 7/1/1971,  relativo à visita de inspecção ao BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) (*)


3. Visita a Xitole (**) em 16Nov70


- Verificou-se que, contra o que está determinado, o planeamento operacional é realizado pelo Comando do BART, o qual define as acções a realizar, os efectivos da força, os itinerários, etc.

É um sistema teórico há muito banido do TO da Guiné e sobre o qual têm incidido incisivas críticas. Deve ser dada plena iniciativa aos comandantes de Companhia, em ordem a responsabilizá-los pelo cumprimento da missão cometida.

- Não foram realizadas acções de reconhecimento na região de Seco Braima (***), assim como a sul das tabancas em 'autodefesas', o que não é admissível para uma subunidade já com alguns meses de permanência na Zona. Esta anomalia demonstra à evidência um muito precário controlo operacional do Comando do BART.

- O plano de defesa do Xitole constitui um documento teórico, mas destinado a satisfazer uma determinação superior do que a accionar um sistema dinâmico de defesa. Salienta-se a falta duma planta ou croquis da povoação e do quartel com as zonas de responsabilidade devidamente delimitadas, sectores de observação, etc. O dispositivo de defesa não englobava a povoação, o que se revela francamente inconveniente do ponto de vista propriamente de defesa e do ponto de vista psicológico, para as populações que nos compete defender.

- Foram-me apresentados vários problemas de natureza logística como o aluguer de aviões civis para transportar açúcar que faltou na Companhia. Sobre este assunto deve ser mandado levantar averiguações e reembolsada a Companhia da despesa feita com o o aluguer do avião, devendo tal encargo ser liquidado pelo CTIG. Também foi salientada a falta de cimento.

Estas anomalias deveriam ter sido detectadas e resolvidas pelo Comando do BART e não pelo Comando-Chefe.

4. Visitas às tabancas de Sinchã Madiu, Cambesse e Tangali  (***) em 16Nov70

- A organização de defesa destas tabancas deverá ser melhorada. Não as considero em condições de poderem suportar um ataque em força durante o período de tempo necessário, em ordem a evitar o seu aniquilamento antes da intervenção das forças militares sediadas no Xitole.

Ressaltaram várias anomalias susceptíveis de serem sanadas no âmbito da defesa passiva. Nomeadamente a bertura de campos de tiro (capinação).

Nota-se também a ausência de exercícios de alarme, em ordem a automatizar e dinamizar a reacção das populações,

- As populações das tabancas de Cambesse e Tangali pediram a construção de escolas, o que se justifica plenamente face ao número de crianças em idade escolar.

Não se encontrava presente o Capitão Comandante da Companhia; todavia fiquei com boa impressão sobre o Comando desta Companhia, e nomeadamente sobre o Alferes que a estava a comandar interinamente. (pp. 2-3)

[Revisão / fixação de texto: L.G.]

Continua

Próximo ponto. 5. Visita Mansambo em 18Nov70
______________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste anterior da série > 6 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6326: O Spínola que eu conheci (16): A visita de inspecção ao BART 2917 e suas subunidades, Sector L1, Bambadinca, de 16 de Novembro a 19 de Dezembro de 1970 (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)

(**) De acordo com a história da unidade (BART 2917, Bambadinca, 1970/72), o Xitole era sede de posto administrativo (com o mesmo nome). Tinha três lojas comerciais. A sua economia baseava-se na exploração do coconote e da madeira. A guerra teve um enorme impacto negativo na actividade económica.  A população rondava, no tempo do BART 2917, as 3 centenas. Unidade de quadrícula: CCAÇ 2616, com um destacamento na Ponte dos Fulas, no Rio Pulom (1 Gr Comb / CCAÇ 2616 + 1 Esq Pel Mort 2106, substituído em Dezembro de 1970 pelo Pel Mort  2268, por ter terminado a comissão).

(***) Seco Braima ou Darsalame, na foz do Rio Poulom, afluente do Rio Corubal...

(****) A sudeste de Xitole, na estrada Xitole-Saltinho, regulado do Corubal: eram tabancas em autodefesa, colaborantes com as NT. Sinchã Madiu tinha  120 habitantes, recenseados; Cambesse, 174; e Tangali,  146.  Em Maio de 1971, Cambesse tinha uma 1 Esq (-) do Pel Mort 2268 e 1 secção da CCAÇ 2616, em reforço do sistema de autodefesa.

Guiné 63/74 - P6326: O Spínola que eu conheci (16): A visita de inspecção ao BART 2917 e suas subunidades, Sector L1, Bambadinca, de 16 de Novembro a 19 de Dezembro de 1970 (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)




1. Pela mão do Benjamim Durães e do Jorge Cabral, chegou ao nosso blogue a cópia de um documento, de 12 páginas, dactilografadas, em papel timbrado do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné, assinado pelo Comando-Chefe, António Sebastião Ribeiro de Spínola, General (local e data: Bissau, 07/01/71). Trata-se de um despacho, resultante da “visita de inspecção ao BART 2917” (sediado em Bambadinca, 1970/72). A cópia tem um número de arquivo 33.80, presumivelmente atribuído pelo Arquivo Histórico-Militar.

Tendo nós os três pertencido àquela unidade (caso do Benjamim Durães) ou a subunidades adidas (CCAÇ 12, no meu caso; Pel Caç Nat 63, no caso do Jorge Cabral, um dos "inspeccionados"), achámos que poderia  ter alguma “piada”, para nós e para muitos outros camaradas que estiveram em (ou passaram por) Bambadinca e outros lugares aqui citados, a divulgação desta peça, mas também com vista a  um melhor conhecimento não só das dificuldades enfrentadas pelo dispositivo militar no Sector L1 / Zona Leste, como da própria personalidade e estilo de liderança do Com-Chefe, suas preocupações e prioridades na época, etc. Como é sabido por quem esteve na Guiné nesta época, Spínola fazia gala de aparecer, de helicóptero,  em qualquer sítio ou a qualquer hora do dia, para desespero (e terror) dos comandantes de unidades e subunidades.

Vamos transcrever o documento, na íntegra, por partes, sem intenção de fazer qualquer juízo de valor sobre o objecto das críticas de Spínola que visitou o Sector L1, entre 16 de Novembro e 19 de Dezembro de 1970, e muito menos dos oficiais que comandavam o BART 2917 e as suas subunidades. No nosso blogue, evitamos a tentação da fulanização. Podemos acrescentar uma ou outra nota, apenas para esclarecimento ou informação complementar, entre parênteses rectos. Em todo o caso, convirá dizer que é possivelmente em resultado desta visita inspectiva que o Com-Chefe manda,  para comandar o BART 2917, em princípios de Fevereiro de 1971 (se não erro),  um homem da sua inteira confiança (apesar de ser de infantaria...), o Ten Cor João Polidoro Monteiro (e que tanto eu como o Jorge Cabral e o Paulo Santiago conhecemos bem, eles dois melhor do que eu, já que terminei a comissão mês e meio depois da sua chegada a Bambadinca).

O despacho é constituído por 15 pontos. Eis um sumário: 

Visita de inspecção ao BART 2917 [Comando: principais deficiências e anomalias]. Visita a Xitole em 16Nov1970. Visita às tabancas de Sinchã Madiu, Cambesse e Tangali em 16Nov1970. Visita a Mansambo em 18Nov1970. Visita a Afiá e Candamã em18Nov1970. Visita a Xime em 12Dez1970. Visita Dembataco em 15Dez1970. Visita a Taibatá em 15Dez1970. Visita a Amedalai em 19Dez1970. Visita Enxalé em 15Dez1970. Visita a Nhabijões em 15Dez1970. Visita a Finete em 19Dez1970. Visita a Missirá em 19Dez1970. Conclusão.




Folha de rosto do despacho. Imagem digitalizada: Luis Graça & Camaradas da Guiné (2010). 


Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné  > Despacho 

Assunto – Visita de inspecção ao BART 2917


1.Terminei a visita de inspecção ao BART 2917 nos termos da minha directiva nº 62/68 de 23Dez68.

Foram visitados respectivamente: (i) o Comando do Batalhão em Bambadinca; (ii) as companhias sediadas em Xitole, Mansambo e Xitole; (iii) os destacamentos de Ponte do Rio Pulom (Ponte dos Fulas), Enxalé e Missirá; (iv) o reordenamento de Nhabijões; (v) as tabancas em autodefesa de Sinchã Madiu, Cambesse, Tangali, Candamã, Afiá, Dembataco, Taibatá, Amedalai e Finete.


2. Na esfera do Comando do BART 2917, além das anomalias verificadas nas suas subunidades, foram notadas seguintes deficiências:

- No quadro da misão operacional atribuída ao BART verifica-se que o Comando do BART centralizou o planeamento operacional, não respeitando o que se encontra determinado e afectando sensivelmente o rendimento operacional das suas subunidades.

- Não tem sido exercida uma eficiente acção de reconhecimento nas áreas fulcrais ou suspeitas, com vista a concluir sobre a presença ou ausência do IN nas mesmas áreas e seu potencial.

- Os comandantes de Companhia não têm sído devidamente orientados nem assistidos, nem tão pouco controlada a sua acção. 

- É confrangedor verificar-se o total abandono em que se encontra a defesa das tabancas. Anota-se um total desinteresse sobre as “autodefesas” da maioria das tabancas do sector, em especial no que se refere a planos de defesa, instrução das milícias e da população.

- Os planos de defesa dos quartéis das Companhias encontram-se na generalidade mal elaborados.

- De uma maneira geral as subunidades do Batalhão descuraram a defesa dos núcleos populacionais onde estão sediadas, não cumprindo a missão que lhe está atribuída. 


[ Fixação / revisão de texto / título: L.G.]


Continua > Próximo ponto: Visita ao Xitole e as tabancas de Sinchã Madiu, Cambesse e Tangali em 16 de Novembro de 1970.

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Nota de L.G.:

(*) Último poste da série > 29 de Abril de 2010 >  Guiné 63/74 - P6277: O Spínola que eu conheci (15): Muito obrigado pelas palavras que proferiu em S. Domingos (Bernardino Parreira / Plácido Teixeira)


quinta-feira, 29 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6277: O Spínola que eu conheci (15): Muito obrigado pelas palavras que proferiu em S. Domingos (Bernardino Parreira / Plácido Teixeira)

Guiné > Algures > O Alf Mil Pil Heli Al III (BA 12, Bissalanca, 1968/70) e o Spínola (Com-Chefe e Governador Geral, CTIG, 1968/73)
Foto: © Jorge Félix (2010). Direitos reservados


1. Mensagem de Bernardino Parreira (ex-Fur Mil da CCAV 3365/BCAV 3846, S. Domingos e Bachile), com data de 12 de Abril de 2010:

Caro camarada Luis Graça, autor e editor deste Blogue e caros camaradas co-editores.
Começo por apresentar-vos a minha saudação e os meus parabéns pelo trabalho extraordinário que realizam diariamente, neste digníssimo Blogue.

Apesar de não pertencer a esta Tabanca, acompanho diariamente a mesma e tudo que se relaciona com a Guiné, e até já me concederam a oportunidade de comentar alguns posts.

A propósito da homenagem ao Sr. Marechal Spínola, tenho a dizer que tive a honra de o conhecer pessoalmente no dia da minha chegada à Guiné em 09/04/1971 quando apresentou os cumprimentos de "boas vindas" ao BCAV 3846, e no dia do meu regresso à Metrópole em 17/03/1973, quando o mesmo se deslocou ao Aeroporto de Bissau para apresentar os cumprimentos de despedida à CCAV 3365 a que eu pertencia.

Com já referi em anteriores comentários, fiz parte da minha Comissão Militar como Furriel Miliciano em S. Domingos e outra parte no Bachile. Em todos os destacamentos que estive e no contacto com as populações que convivi testemunhei a grande admiração e respeito que a população nativa manifestava pelo Sr. General Spínola.

Enquanto estive em S. Domingos testemunhei muitos ataques ao Quartel e posso dizer que quando de lá saí, em 1972, a situação começava a estar insustentável. Os ataques do PAIGC, vindos do Senegal intensificavam-se.

Há algum tempo, o meu camarada e amigo Plácido Teixeira, que reside nos EUA, e que também pertenceu à CCAV 3365, que esteve sempre colocado em S. Domingos de 1971 a 1973, escreveu sobre o "Inferno" que viveu em S. Domingos, e sobre o General Spínola, o seguinte texto, que vos envio com a devida permissão desse meu amigo, para publicarem se assim o entenderem.

Bem Hajam!

Abraços
Bernardino Parreira


2. Texto escrito por Plácido Teixeira, da CCAV 3365, colocado em S. Domingos,1971/1973:

"Senhor Spínola... sim, Senhor, porque outros tempos vão longe! Mas Senhor Spínola com muito respeito eu digo e escrevo o seguinte:

Muito obrigado pelas palavras que proferiu uma vez em S. Domingos, para uma Companhia abusada, e maltratada e deitada ao abandono. Lembro-me que uma vez, num horrível mês, do ano de 1972, a nossa Companhia foi um alvo, uma carreira de tiro. Sim, uma carreira de tiro e nós o alvo!!! Era bombardeamento diário. Não havia comida, não havia bebida ou até luz.

Lembro-me que andava a passar uma ronda e fomos apanhados no meio do campo de futebol. Todos saltámos do Jeep, uns para a direita, outros para a esquerda. Como fomos apanhados no meio do campo de futebol, a vala e os abrigos estava muito longe. Corri e cheguei finalmente a vala, sem arma, sem sapatos e sem oculos! Bonito para a minha defesa. Mais uma vez a ideia era sobreviver. Havia fumo por todo o lado. Como tinha chovido, na vala era só lama. Não havia luz e com o fumo nada se via para fora da vala. Era até impossível por a cabeça de fora. O tiroteio do outro lado do arame era intenso. Constou que estávamos a ser atacados com bombas de fumo e que até já tinham entrado para dentro do "quartel".

Ficámos toda a noite nos abrigos. Mesmo após o tiroteio ter parado, estava tudo cansado e desmoralizado, sabe-se lá até com que ideias... Sabíamos que do lado de fora do arame, o ataque estava bem organizado e como tal para sobreviver não havia que dar chances ou oportunidades.

Na manhã seguinte com a luz do dia só se via destruição. Poucos foram os que se aventuraram para fora dos abrigos. No entanto como era normal principiaram os boatos... o Jeep está destruído... o bar está acabado... ha dois mortos... há inúmeros feridos... na enfermaria só há sangue etc. etc.

Foi bombardeamento diário durante muitos dias. Era afinal S. Domingos. Era a razão pela qual a sede do Batalhão foi para lugar seguro. Foi assim o nosso pesadelo!

Durante os ataques e certas vezes podia-se ouvir o outro lado, sabiamos portanto que eles não estavam longe, e que afinal eram seres humanos como nós, só que defendiam a sua terra a qual não nos pertencia. Eles tinham razão. Nós éramos invasores, éramos seres humanos como eles, com pais e irmãos, alguns casados e com filhos. Ficámos esgotados e sem energia para sobreviver, água não havia a não ser a da chuva, comer não havia, e munições também estavam a esgotar rápido.

A lama acabou por secar e as pernas foram ficando presas como no cimento. As armas, muitas não trabalhavam de sujidade. Estávamos deitados ao abandono e à mercê da sorte ou do destino.

Não veio ajuda... nem do ar, nem por terra, nem tão pouco por água. Esperávamos somente ajuda, mas do Céu. Mais um dia e seríamos todos mortos ou prisioneiros tal foi essa semana maldita.

Os aviões não podiam vir, pois eles estavam tão perto, corriam o risco de ser também feridos ou mortos. Helicópteros não vinham mandar mantimentos, medicamentos e o necessário, pois seriam alvejados... estes foram os boatos!.

Finalmente ao fim de uma semana, fomos ajudados. Talvez tenha sido por Deus... Como ratos saímos das valas. A cara estava amarela, a barba enorme as roupas rasgadas, e havia lama por todo o lado e até ao cabelo.

O choque final foi saber quem ficou ferido, quem morreu etc.

Ficou tudo destruído. Gerador, frigoríficos, fogões até as panelas ficaram como um assador de castanhas! Água não havia. Passamos a beber água amarela dos "poços" da tabanca. Estávamos portanto sujeitos a malária etc.

Era uma Companhia desmoralizada, sem energia sem sono! Uns choravam com o stress de Guerra, outros não falavam, outros ficaram sem o sorriso da juventude.

Finalmente um dia um helicóptero!

Foi tudo reunido para ouvir o Governador da Guiné. Senhor Spínola eu agradeço imenso e esteja onde estiver, esteja em paz, como em paz nos deixou!
Agradeço as palavras, não de um General mas palavras de um amigo, palavras de reconhecimento.
Agradeço ter compreendido estes jovens que foram deixados a mercê das armas e da sorte.

Senhor Spínola... muito e muito obrigado por ter dito a todos nós, em frente do Comandante da Companhia que... a culpa não foi nossa... que: "a culpa foi do vosso Comandante que deixou que o vosso quartel fosse uma carreira de tiro..."!

Resta-me portanto dizer que fomos bombardeados diariamente, que sofremos porque gente sem escrúpulos, sem dignidade, gente agarrada as ideias fascistas e de poder, orgulhosos de uma farda e de peso nos ombros famintos por medalhas ao peito, nunca pediu ajuda! Esse Comandante não teve dignidade humana...

Senhor Spínola, muito obrigado é verdade... aquele senhor desumano, realmente deixou fazer do nosso quartel uma carreira de tiro, onde todos nós fomos o alvo.

Bem-haja.
Plácido Teixeira"

__________

Nota de CV:

[...]
Bernardino, não tenho ninguém da tua CCAV 3365. Obrigado pelos teus elogios ao nosso blogue (nosso, meu, teu, de todos nós). Está na altura de saltares os muros da parada e apresentares-te ao serviço... Sob pena de eu te considerar "desertor"... A Tabanca é Grande e é Nossa. Conheces as regras da casa. Manda as duas fotos da praxe. E conta-nos uma história de São Domingos. Um Alfa Bravo. Luís
[...]

Vd. último poste da série de 17 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6168: O Spínola que eu conheci (14): Sempre vi naquele homem, trinta e quatro anos mais velho do que eu, o Chefe Militar (Torcato Mendonça)

sábado, 17 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6168: O Spínola que eu conheci (14): Sempre vi naquele homem, trinta e quatro anos mais velho do que eu, o Chefe Militar (Torcato Mendonça)


O nosso Camarada Torcato Mendonça (ex-Alf Mil At Art da CART 2339, Mansambo, 1968/69), enviou-nos, com data de 15 de Abril de 2010, a seguinte mensagem:

Camaradas,
Parece difícil e pouco conveniente o envio deste escrito. São notas, simples notas sobre um Homem que respeitei com Comandante Militar.
Leio o que se escreve; leio uma breve biografia saída num "Diário" e vêm-me à memória tempos passados, quer encontros, quer histórias sobre este Militar.
Será sempre uma figura incontornável da guerra na Guiné. Mesmo da Guerra Colonial, pois, além de ter combatido em Angola, teve papel militar de relevo. Não esqueçamos o dia 25 de Abril e o pós-Abril.
Sobre isso não me pronuncio.

Envio as notas.

Enviei textos, talvez na semana passada. Pedi, como sempre o acusarem a recepção. Só depois soube a ausência do Vinhal e a consequente sobrecarga.

NOTAS sobre ANTÓNIO de SPÍNOLA
Recebi só hoje, segunda-feira dia 12, a Biografia do Marechal Spínola, saída num diário na última sexta-feira.

É o custo do interior ou da interioridade. Veio e esgotou porque vieram poucas. Pessoa amiga comprou-o e só hoje o tive em mão. Certamente o livro Spínola vai demorar mais. Está pedido e… espero…

Não queria escrever mais sobre este Homem. Receio que, ao ler estes dois livros, altere, modifique mesmo, não as recordações que dele tenho mas o que dele penso, mais como homem do que como militar. Difícil a alteração.

Escrevo estas notas tentando recordar vivências passadas na Guiné. Outras, que sei dele como homem e militar, se não passadas na Guiné do meu tempo nada anotarei.

A primeira vez que com ele me encontrei foi em Mansambo. A data não me recordo. Pensava ser em Junho mas tenho uma nota a dizer que ele visitou Mansambo em 2 de Julho de 68. É possível porque a actividade operacional estava intensa e sofremos um forte ataque ao aquartelamento em 28 de Junho. Irrelevante a data ou talvez não.

Convém recordar que o Com-Chefe estava atento, quotidianamente, aos acontecimentos na Província ou Colónia. Devido à efervescência na zona talvez tenha ido lá naquela data.

Ouvimos o som característico do helicóptero e rapidamente se montou segurançaAterrou e dele saíram o então Brigadeiro Spínola e o seu ajudante de campo Capitão Almeida Bruno. A recebe-los o Comandante da Companhia (que pouco por lá ficava, exercia o comando mais de Fá e Bambadinca) e vários graduados.

Em Mansambo só estavam, se bem me recordo, três grupos e o outro estava á disposição do Batalhão. Também em Fá ou Bambadinca estavam a maioria dos militares da “formação”.

Os cumprimentos normais e o Brigadeiro Spínola questionou, com uma voz rouca e pausada, sobre a nossa situação. Perguntou aos oficiais o nome e o que faziam na vida civil e falou de Angola com o Capitão. Este tinha feito uma comissão como Alferes e, ou se conheceram lá ou tinham outro conhecimento qualquer em comum.

Dirigimo-nos para uma morança, que servia de comando, refeitório de oficiais e sargentos, sala de convívio e muito mais num exíguo espaço. Sobre a mesa foi colocada a Carta da zona e falou-se, com mais pormenor da situação militar. A conversa era mais entre o Brigadeiro e o Capitão.

O ajudante-de-campo estava atento a tudo. No decorrer do breve briefing o Brigadeiro perguntou qual a principal base IN. Foi de pronto informado que era o Burontoni mas que numa noite se conseguia lá chegar saindo de Mansambo.

Sensivelmente a resposta foi esta. Eu devo ter abanado a cabeça ou ter feito outro gesto, simples e breve, de discordância. Se o Capitão não ia l, á porque dava aquela informação e sabendo que, a ir-se lá, não se sairia de onde estávamos e seriam forças superiores a uma companhia. Tudo fácil para ele.

O Capitão A. Bruno, talvez pelo conhecimento que tinha do Com-Chefe quase sem se dar por isso, disse-me algo e eu apontei na Carta.

Continuou a conversa. Já a terminar o Brigadeiro voltou-se para mim e disparou:

- Parece que aqui o Alferes não está muito de acordo com o seu Capitão sobre o Burontoni.

Olhei para ele e, quando ia responder fui interrompido pelo Capitão Bruno que disse ser uma aproximação difícil e o IN ter, antes da base, postos avançados. Dificultava assim qualquer aproximação, pior ainda se fosse feita com saída por Mansambo etc.

Safou-me e o assunto ficou por ali. O Brigadeiro veio para fora e falou às tropas. Discurso inflamado, apelando ao patriotismo, ao dever, à necessidade de ali estarmos. Um discurso com teor idêntico aos do regime vigente nesse tempo. Só que aquele homem, além da memória que mostrou ter, quando da conversa tida com o capitão sobre Angola; com o interesse demonstrado sobre a nossa situação quer face ao IN quer de vida; a visão, quase periférica e atenta a tudo o que se passava em redor e na qual eu caí; ao falar assim aos militares comovia-os e apelava a que lutassem em nome de uma pátria que tudo lhes daria e, pela qual os sacrifícios eram deveres: Alguns, mais sensíveis, tinham lágrimas nos olhos.

Ouvia e pensava para comigo: parece que estou em plena II Guerra e isto são para fotos da “ Revista dos Aliados – Guerra Ilustrada", creio eu; só que com este ar de oficial prussiano dado pelo monóculo, pingalim e luvas pretas (O Capitão Bruno segurava a G3, a descansar a coronha no cinturão, com luvas cremes de condução auto), o Brigadeiro parecia estar noutro teatro de operações.

Depois, pouco tempo depois, começamos a receber notícias do já General e das transformações por ele operadas na Guiné. Além do respeito começo a ver uma personagem diferente do primeiro encontro. Os oficiais superiores certamente também sentiram a diferença e alguns vieram a ser bons operacionais, outros vieram mais cedo para a metrópole. Creio mesmo que todos os militares sentiram a mudança.

Encontramo-nos diversas vezes. Confesso que sempre vi naquele homem, trinta e quatro anos mais velho, o Chefe Militar. Obstinado, de forte coragem e frontalidade, teimoso, determinado em vencer o inimigo mas não de qualquer maneira.

Discordava dele muitas vezes, só que impensável dizer algo. Discordei quando não permitiu montarem emboscadas na margem direita do Corubal, na operação Lança Afiada. Operação que acompanhou talvez diariamente e não se furtando a ir a zonas de maior perigo. Talvez quisesse vencer o inimigo, não destrui-lo, como diz o Cor Comando Matos Gomes. Ainda o respeito pelo IN e que não se torturassem os prisioneiros.

Quanto ás torturas não aceito e, nem me passa pela cabeça, que não estivesse informado sobre determinados comportamentos.

Encontrei-o em Galomaro a querer que retirassem, creio eu, roquetes, na parte inferior das asas de uma DO. Assunto entre ele e os Páras.

Nós estávamos no COP 7 mas, eu e o grupo, só fazíamos segurança e outros trabalhos.

Humano e pronto ajudar quem comandava. Um exemplo: Época das chuvas de 69. Estava com o meu grupo numa tabanca. Tínhamos ido por breves dias. Só que a rendição não se fez e a alimentação e não só estavam a atormentar os militares. Havia que aguentar o que estava a ser difícil.

Uma manhã sente-se o barulho de um helicóptero, foge a malta para a segurança e eu tento encontrar uns calções melhores e umas botas do nosso exército, nada. Atiram-me um quico e aí está o General a sair do héli.

A ele e a quem o acompanha me dirijo. Barba e cabelo grande, camisola, outrora branca, calções e botas não regulamentares. Haja Deus, o quico era regulamentar. Sentido, faço continência, recebo a resposta e vislumbro por detrás daquela cara uma interrogação.

Conheceu-me claro e perguntou o que se estava a passar. Disse que estávamos mal de alimentação devido á época das chuvas, ao prolongar da estadia e a roupa, a minha e de outros, estava a tentar secar depois de uma saída. Falou no tom habitual e despediu-se mais rápido do que costumava.

Talvez duas ou três horas depois novo barulho de heli. Gritam: aí está ele…aí…mas não era. O piloto e o mecânico entregam caixas com mantimentos e uma garrafa de uísque para o comandante daquela tropa. Com os cumprimentos do Com-Chefe. Conseguimos comer decentemente, beber, fumar um cigarro e sorrir.

Passados, talvez dois dias éramos rendidos.

Obrigado meu General em meu nome e dos militares que comando.

São notas, breves e poucas notas de alguns encontros com um Militar que foi meu Comandante e que respeito bastante.

Quanto ao cidadão e ao político nada digo. Na Guiné tentou a política “por uma Guiné melhor”, para saída política e negociada para o conflito. Não só. Posso discordar. Cá foi um cidadão conotado com o regime vigente. Talvez mais antes da ida para a Guiné. Não vou anotar nada sobre isso.

Pós 25 de Abril a História o julgará. Faria cem anos se fosse vivo.

Estou velho pois tenho só menos trinta e quatro anos e uns meses. Velho não, isso é feio de se dizer.

Espero a leitura dos Livros/Biografia. Ainda me falta um.

Um abraço,
Torcato Mendonça
Alf Mil At Art da CART 2339
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Nota de M.R.:
Vd. poste anterior desta série em: