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domingo, 18 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6175: O povo e o município de Moura homenagearam, no passado dia 10, os seus 29 mortos na guerra colonial (Parte I) (Luís Graça / Francisco Godinho)




Moura > Largo de São Francisco > 10 de Abril de 2010 > Concentração junto ao monumento aos mortos da guerra do Ultramar. A pedido da Comissão Organizadora, coube à nossa camararada Giselda Pessoa efectuar a deposição de um ramo de flores na base do monumento. Foram lidos os nomes dos nossos 29 camaradas mortos nas três frentes da guerra colonial (Angola, Guiné e Moçambique). Respeitou-se depois um minuto de silêncio à sua memória.



Moura > Largo de São Francisco > 10 de Abril de 2010 > Singelo monumento de "homenagem aos jovens do concelho de Moura que perderam a vida na guerra colonial", num total de 29. O monumento, iniciativa do Município, data de Junho de 2008. A lista está organizada por freguesias (entre parêntesis, os respectivos naturais): Amareleja (7), Estrela (1), Moura (11), Póvoa de S. Miguel (1), Safara (3), Sobral (4), Santo Aleixo da Restauração (1), Santo Amaro (1). Por teatro de operação, a contabilidade dos mortos é a seguinte: Angola (16), Moçambique (7), Guiné (6).



Moura > Rua Henrique José Pinto > 10 de Abril de 2010 > Natural da freguesia de Santo Agostinho, o 1º Cabo At Henrique José Pinto, da CCav 487 / BCav 490, morreu em combate 24 de Janeiro de 1964, repousando os seus restos mortais no cemitério de Bissau.


Moura > Cine Teatro Caridade > 10 de Abril de 2010 > Aspecto parcial da assistência (primeiras filas, lado esquerdo) ao colóquio sobre a guerra colonial. Na primeira fila, quatro dos cinco elementos da Comissão Organizadora, todos eles ex-combatentes.



Moura > Cine Teatro Caridade > 10 de Abril de 2010 > Aspecto parcial da assistência (primeiras filas, lado direito) ao colóquio sobre a guerra colonial



1. Realizou-se em Moura, cidade do Baixo Alentejo, no passado dia 10, uma condigna homenagem aos ex-combatentes, naturais do concelho, mortos durante a guerra do Ultramar / guerra colonial (*)
Às 10h30, teve lugar, no Cine teatro local, um colóquio subordinado ao tema da guerra colonial, o 25 de Abril e a descolonização, com a participação de cerca de 80 pessoas, incluindo diversos autarcas.

Intervieram os seguintes oradores:

(i) José Joaquim das Esteves, ex-Fu Mil, Polícia Militar, Guiné, 1966/68, em nome da Comissão Organizadora;

(ii) Pedro Lauret, comandante da Marinha de Guerra Portuguesa, Cap de Mar e Guerra na Reserva, Militar de Abril, membro da Direcção da Associação 25 de Abril, membro do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, ex-combatente, Guiné 1971/73.

(iii) José Brás, autor do romance "Vindimas no Capim" (Editora Europa-América), galardoado com o Prémio Revelação de Ficção 1986 da Associação Portuguesa de Escritores e do Instituto Português do Livro e da Leitura; .ex-combatente, Guiné, 1966/68.

(iv) Luís Graça, sociólogo (Escola Nacional de Saúde Pública / Universidade Nova de Lisboa); fundador, administrador e editor principal do Blogue "Luís Graça&Camaradas da Guiné"; ex-combatente, Guiné, 1969/71.

(v) Miguel Pessoa, Cor Pilav Ref, membro do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, ex-combatente, Guiné 1972/74.

Por razões de ordem pessoal e imprevistas, o Mário Beja Santos comunicou na véspera a impossibilidade da sua participação no colóquio.

Intervieram no final o Major General Manuel Monge e o vice-presidente da edilidade.



Moura > Cine-teatro Caridade > 10 de Abril de 2010 > Intervenção do Major General na Reserva Manuel Monge, Governador Civil do Distrito de Beja, ex-combatente em Angola (duas comissões) e na Guiné (duas comissões), membro do MFA, natural do vizinho concelho de Serpa. Na mesa, da direita para a esquerda: Vice-presidente da CM Moura, Santiago Augusto Ferreira Macias; e os nossos camaradas Pedro Lauret, Miguel e Giselda Pessoa.


Finda a sessão, os participantes dirigiram-se para o Largo de S. Francisco, onde por volta das 12h45 foi depositada, pela nossa camarada Giselda Pessoa, uma coroa de flores junto à lápide evocativa aos 29 ex-combatentes mortos ao serviço da Pátria durante a guerra colonail. Após a leitura dos respectivos nomes foi guardado um minuto de silêncio em sua memória.

As 13h00 houve um belíssimo almoço-convívio no Restaurante O Celeiro, junto ao Pavilhão de Exposições e Depósito de Água, mais exactamente sito na Rua Henrique José Pinto (ex-combatente morto em combate na Guiné, em 1964).

A Animação musical esteve a cargo de 2 grupos: (i) Grupo Coral e Etnográfico do Ateneu Mourense; (ii) Grupo Vá de Modas.


Moura > Restaurante O Celeiro > 10 de Abril de 2010 > A Giselda e o Miguel Pessoa, cuja história militar e pessoal tocou os participantes locais no colóquio... Foram apresentados por Luís Graça como "o casal de militares mais strelado do mundo"...




Moura > Restaurante O Celeiro > 10 de Abril de 2010 > O Pedro Lauret e a esposa



Moura > Restaurante O Celeiro > 10 de Abril de 2010 > O nosso camarada José Brás, que pertenceu ao pessoal de voo da TAP e de cujo sindicato foi dirigente nacional, fez uma emocinante e emocionada intervenção no âmbito do colóquio, e de que esperamos poder apresentar, em vídeo, um excerto.


Moura > 10 de Abril de 2010> Aqui ficam a saudação especial à Comissão Organizadora: Francisco Diogo Candeias Godinho (Telem. 93 343 47 24), membro do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, ex-combatente na Guiné (primeiro à esquerda); José Mira Borralho Infante; José Manuel Ramos Lérias; José Joaquim das Estevas (que esteve na Guiné, tal como o Godinho);  António Fernando Canudo Capa.

(Continua)

Fotos: © Luís Graça (2010). Direitos reservados

____________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 13 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5989: Agenda Cultural (66): Homenagem aos ex-combatentes da Guerra Colonial do Concelho de Moura, dia 10 de Abril (Francisco Godinho)

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3840: Sítio Guerra Colonial (1961-1974), da A25A, em colaboração com a RTP (1): Intervenção do Maj Gen Pezarat Correia





Auditório da Academia Militar, Amadora, 4 de Fevereiro de 2009, 16h/18h > Sessão de apresentação do 'site' Guerra Colonial (1961-1974), da A25A - Associação 25 de Abril, em colaboração com a RTP > Intervenção do Major General na Reforma Pezarat Correia que vem defender uma tese, que não é nova mas é interessante, sobre a velha questão guerra ganha/guerra perdida: politicamente, a potência colonizadora (que era Portugal) não ganhou nem podia ganhar; militarmente, a situação no terreno estava longe de estar ganha pelos movimentos nacionalistas...(*).


Vídeo (7' 54'' ) alojado no
You Tube > Nhabijoes
Fonte: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2009). Direitos reservados.


Omtem, 4 de Fevereiro de 2009 - simbolicamente, quarenta e oito anos depois do início, em Angola, da guerra colonial - , foi apresentado oficialmente o 'site' Guerra Colonial (1961-1974), uma iniciativa conjunta da Associação 25 de Abril, e da RTP com o apoio do POC - Programa Operacional da Cultura. Na realidade trata-se de dois sites (ou sítios), embora articulados:

- Guerra Colonial (1961-1974), alojado em endereço próprio: http://www.guerracolonial.org/. (Já foi aqui sumariamente apresentado no nosso blogue) (*)


- Guerra Colonial (1961-1974), alojado no portal da RTP: disponibiliza dezenas de vídeos e documentários (actuais e da época), do Arquivo da RTP, sobre a guerra colonial e o seu contexto. Os comentários aos diferentes documentários, efectuados em colaboração com a Associação 25 de Abril, são da responsabilidade de vários especialistas militares : Cor Inf José Aparício; Cor Art Eduardo Abreu; Cor Pilav Villalobos Filipe; Capitão-de-mar-e-guerra Pedro Lauret.



Lista dos documentários da RTP títulos disponíveis:1970-01-01 • Missão na Guiné 1967 - Teixeira Pinto
1970-01-02 • Angola - Março 1967
1970-01-03 • Uma operação na Guiné
1970-01-04 • Um Ano de Revolução - 1974 e 1975
1970-01-05 • Actual Reportagem - Barata Feio - Vietname, Afeganistão, Guerra Colonial
1970-01-06 • Geração de 60 - Diana Andringa
1970-01-07 • Missão na Guiné
1970-01-08 • Liberdade de Expressão - Artº 37
1970-01-09 • Missão em Angola 1967
1970-01-10 • Angola, Dias De Morte - Joaquim Furtado (vol. I)
1970-01-11 • "Andar Rápido e em Força" - Joaquim Furtado (vol. II)
1970-01-12 • Massacres Contra Chacinas - Joaquim Furtado (vol. III)
1970-01-13 • Operação Nambuangongo Joaquim Furtado (vol. IV)
1970-01-14 • As Colónias E As Províncias Joaquim Furtado (vol. V)
1970-01-15 • As Guerras Antes Da Guerra - Joaquim Furtado (vol. VI)
1970-01-16 • O Ano Que Marca A História - Joaquim Furtado (vol. VII)
1970-01-17 • A Guiné Depois De Angola - Joaquim Furtado (vol. VIII)
1970-01-18 • Moçambique, Nova Frente - Joaquim Furtado (vol. IX)
1970-01-19 • Entrevista com Amilcar Cabral (Líder do PAIGC)
1970-01-20 • As Duas Faces da Guerra - Parte 1
1970-02-01 • Guiné - Autodefesa das Populações
1970-02-02 • O impacto da Guerra - Louça, entrevista 3 deficientes das Forças Armadas
1970-02-03 • Guiné - Março 67 - Por quem combatemos
1970-02-05 • Crónica do Século - Parte 1
1970-02-06 • PAIGC - Documentário Francês
1970-02-07 • Nambuangongo - A Grande Arrancada
1970-02-08 • Artigo 37 - Diana Andringa - Entrevista Matos Gomes
1970-02-09 • Nas 3 Frentes
1970-02-20 • As Duas Faces da Guerra - Parte 2
1970-03-01 • O Exército na Guiné - Bula
1970-03-03 • Guiné Março de 67 - Marinha - Água e Floresta
1970-03-05 • Independência Já! - Moçambique - Descolonização e Independência
1970-03-09 • Angola Março 67 - Asas no céu de Angola
1970-04-01 • Portugalmente - Canções de guerra
1970-04-03 • INDEPENDÊNCIA JÁ - Uma História a Pretos e Brancos
1970-04-08 • Guiné Março 67 - Autodefesa
1970-04-09 • Moçambique
1970-05-01 • Angola - Março de 1967
1970-05-03 • Guerra Colonial na Guiné - Louçã - Entrevista Carmo Vicente elemento Paigc
1970-05-09 • Missão em Angola 1967 - Gago Coutinho
1970-06-09 • A RTP Nas 3 Frentes
A sessão de lançamento dos dois sites teve a presença dos Ministros da Defesa Nacional, Nuno Severiano Teixeira, e da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago, bem como do presidente do Conselho de Administração da RTP, e do presidente da A25A, Vasco Lourenço, um conhecido capitão de Abril, hoje Cor Inf Ref. O anfitrião foi o director da Academia Militar.

Do pessoal da Tabanca Grande, com quem tive o prazer de estar (eu e a Maria Alice), aponto os seguintes:

- Miguel Pessoa (Cor Pilav Ref) e a esposa Giselda (Srgt Enfermeira Pára-quedista Ref) (tive hoje o prazer de os conhecer pessoalmente e logo os baptizei como o casal mais célebre da guerra da Guiné...);
- António Graça de Abreu (que ainda entusiasmadísismo a traduzir mais um dos clássicos da poesia chinesa);
- Zé Carioca e a esposa;
- Zé Martins, técnico oficial de contas, colaborador regular do nosso blogue;
- Carlos Silva, advogado, que parte dia 6 para a Guiné, para mais uam jornada de solidariedade;
- Coutinho e Lima;

e, claro, o Pedro Lauret (que fez publicamente um rasgado elogia ao nosso blogue). Tive ainda o prazer de cumprimentar (e de falar com) o Carlos Matos Gomes (Cor Cav Ref), co-autor com Aniceto Afonso do livro que forneceu o essencial dos conteúdos ao novo site. Também o Cor Pára-quedista Nuno Mira Vaz fez questão de me cumprimentar e manifestar o seu apreço pelo nosso blogue. O mesmo se passou com o jornalista Joaquim Furtado, que agradeceu a nossa colaboração pontual, em relação ao dossiê do Chão Manjaco (morte dos três majores).

Coube, de resto, ao nosso camarada Pedro Lauret a tarefa de falar deste projecto da A25A e da RTP bem como dos conteúdos que estão disponíveis (por exemplo, mais de 5 horas de documentários).

Por falta de tempo, falaremos desta sessão com mais detalhe, em próximos postes.

_________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 2 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3829: Convite da A25A/RTP: Sessão de apresentação do sítio Guerra Colonial, Academia Militar, Amadora, 4ª feira, dia 4, às 16h

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3829: Convite da A25A/RTP: Sessão de apresentação do sítio Guerra Colonial, Academia Militar, Amadora, 4ª feira, dia 4, às 16h


1. Mail do Pedro Lauret, membro do nosso blogue, neste fim de semana:

"Segue convite para a apresentação do site http://www.guerracolonial.org/. Gostaria de o tornar extensivo a toda a nossa tertúlia. Como achas que podemos fazer? Se o quiseres reenviar eu ficaria grato. Aguardo noticias. Um abraço. Pedro Lauret".

O convite chegou-nos, em nome do presidente da Associação 25 de Abril (A25A) e do presidente do Conselho de Administração da Rádio Televisão Portuguesa (RTP), para a sessão de apresentação de: (i) sítio Guerra Colonial (http://www.guerracolonial.org/), da iniciativa da A25A, e em colaboração com a RTP; (ii) página de documentários sobre a Guerra Colonial, alojada no site da RTP (http://www.rtp.pt/).

A sessão terá lugar no Auditório da Academia Militar, na Amadora, na apróxima 4* feira, dia 4 de Fevereiro de 2009, pelas 16.00 horas, e a sua apresentação estará a cargo do Major-General Pedro Pezarat Correia e do Capitão-de-Mar-e-Guerra Pedro Cunha Lauret.

A cerimónia será presidida pelo Ministro da Defesa, sendo anfitrião o Chefe do Estado-Maior do Exército.

Se possível, confirma a tua presença através do Telefone 213 241 420.





2. Comentário de L.G.:

O blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné associa-se a esta iniciativa, convidando todos os membros da nossa Tabanca Grande bem como os demais amigos e camaradas da Guiné, a comparecer na Academia Militar, aquartelamento da Amadora, à supracitada sessão.

Sabemos que a hora não é a mais conveniente para quem ainda trabalha. Mesmo assim, será bom que os ex-combatentes da Guiné, com destaque para a malta do nosso blogue, possam fazer sentir a sua presença.

Eles, os nossos camaradas da Guiné, mais que ninguém, são a memória viva da guerra colonial ou do ultramar. Eles e os camaradas que estiveram nas outras frentes (Angola e Moçambique). Infelizmente, no arquivo da RTP, não há muitas imagens da Guiné (*). Seria curioso saber porquê. Para documentar a guerra da Guiné, vai-se buscar filmes de arquivos estrangeiros, como por exemplo o do Institut National de l'Audiovisuel (INA), francês.

A guerra da Guiné não teve, entre nós, o mesmo impacto mediático da guerra em Angola, no seu início, em 1961. Por exemplo, nenhum operador de câmara, português, civil, da RTP, conseguiu apanhar imagens dramáticas como as da ORTF, que passaram na reportagem sobre a Operação Ostra Amarga (**).

De qualquer modo, com as limitações que apresenta o - mesmo assim vasto e rico - arquivo RTP, no que diz respeito à guerra colonial/ guerra do ultramar, aqueles filmes de documentário, aqueles imagens dos repórteres da RTP, também nos pertencem. E há muito que deveriam estar disponíveis 'on line'...

A RTP cumpre a sua missão de serviço público. Tardiamente, mas cumpre. Nunca é tarde para o fazer. A nós compete-nos também mostrar reconhecimento por esse facto, sem perda da nossa independência, do nosso espírito crítico e da nossa especificidade. Como consta do nosso blogue, não somos historiadores, jornalistas ou investigadores, nem temos nenhuma bandeira. Isso não nos impede de estar gratos pela conjugação de esforços de entidades e de pessoas como, por exemplo, o Pedro Lauret (A25A) e o Joaquim Furtado (RTP), que tornaram possível este site e puseram à nossa disposição um vasto conjunto de recursos que vamos explorar e apreciar, com emoção, sensibilidade e espírito crítico. Haverá naturalmente outros públicos-alvo como os nossos filhos e netos que andam na escola, e a quem deve ser transmitida a memória e a história do nosso país, incluindo a guerra colonial/guerra do ultramar (1961-1974).

Eu, pelo menos, estarei lá, no anfiteatro da Academia Militar, na Amadora, às 16h em ponto, para ver e ouvir. A cerimónia terá, seguramente, boa cobertura televisiva, pelo menos por parte da RTP (daí a hora, um pouco estranha, que consta do convite). Até 4ª feira.

_________

Notas de L.G.:

(*) Vd. a página de Multimédia do sítio Guerra Colonial (que, de resto, apresenta de deficiências na reprodução do som, há filmes que ainda não estão disponóveis, e que portanto ainda está em fase de edição e de afinação):

Galeria Multimédia

» Portugal no pós II Guerra Mundial

Retrospectiva - Em Pano de Fundo
Portugal na Cena Internacional - 1960, 1961
Portugal e a ONU - Caso Angola
Guerra e Sociedade - Resistências
Do ímpasse ao litígio - A ONU e Portugal
Política de Defesa - A Viragem
Oposição - Convicções e hesitações
Igreja Católica - Colaboração e resistência
Envolvimento politico dos militares - O Movimento dos Capitães
O 25 de Abril e o fim do Império

» O Contexto Internacional

Descolonização - Portugal e os Ventos da História
A Libertação de África - OUA

» Doutrinas

O Inimigo
Doutrinas
A Africanização da Guerra
Forças Armadas - Contra-Guerrilha
Manobra das Populações - Psico

» Cenários

Cenários - O Mato
Angola – Meio Físico – Humano - Económico
Angola - Teatro de Operações
Guiné - Meio Físico - Humano - Económico
Guiné - Teatro de Operações
Moçambique - Meio Físico - Humano - Económico
Moçambique - Teatro de Operações

» Organização e Dispositivo

A Viagem
Exército
Marinha
Força Aérea
Logística - Transportes
Finanças - Custos de Guerra
Informações - Os olhos e os ouvidos
Organizações femininas - Apoio Moral

» Forças Portuguesas

Armas e Forças
Unidades Especiais - Caçadores
Comandos - "Audaces fortuna juvat"
Fuzileiros - «Gente mais ousada»
Pára-quedistas - «Que nunca por vencidos se conheçam»
Guerra a Cavalo - Leste de Angola

» Forças dos Movimentos de Libertação

Movimentos de Libertação - Evolução Política
Movimentos de Libertação - Angola
UPA - FNLA
MPLA
UNITA
PAIGC
FRELIMO

» Armas

Armamento Exército
Forças Armadas prtuguesas - Armamentos
Movimentos de Libertação - Armamentos
Forças terrestres - Exército
Armada Portuguesa - Lanchas e Navios
Aeronaves

» Operações

Acções de Guerrilha e Contra-Guerrilha
O dia do terror - 15 de Março
A Reocupação
Operação Viriato
Comunicações Terrestres - Abertura de Itinerários
Grandes Operações - Raros Êxitos
Operação Tridente
Operação Nó Górdio
Guiné Maio de 1973: O Inferno
Operação Águia

» Quartéis e Quotidiano

Quartéis - Capelas Imperfeitas
Viver dois anos

» Feridas de Guerra

Feridas de Guerra - Mortos, feridos e prisioneiros
Feridas de Guerra, Deficientes

» Cerimoniais

O Embarque
O 10 de Junho

Vd também poste de 4 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3701: Blogues da Nossa Blogosfera (12): Portal Guerra Colonial, da A25A (Pedro Lauret)

(**) Sobre a Operação Ostra Amarga, vd. postes de:

8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2249: Vídeos da guerra (2): Uma das raras cenas de combate, filmadas ao vivo (ORTF, 1969, c. 14 m) (Luís Graça / Virgínio Briote)

8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2250: Vídeos da guerra (3): Bastidores da Op Ostra Amarga ou Op Paris Match (Bula, 18Out1969) (Virgínio Briote / Luís Graça)

domingo, 4 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3701: Blogues da Nossa Blogosfera (12): Portal Guerra Colonial, da A25A (Pedro Lauret)


1. Mensagem de Pedro Lauret


Está on-line o novo site sobre a Guerra Colonial – http://www.guerracolonial.org/ – lançado pela Associação 25 de Abril e coordenado por mim.

Os textos base são da obra de Aniceto Afonso e Matos Gomes – Guerra Colonial. De momento o site está em finalização e aperfeiçoamentos, devendo ser lançado oficialmente a 4 de Fevereiro. Nesse mesmo dia será lançado, conjuntamente, uma página, no site da RTP, com documentários da Guerra, quer produzidos na época quer actuais, incluindo o do Joaquim Furtado.

Se acharem indicado divulguem pela nossa Tabanca e quem entender fazer críticas ou sugestões nós agradecemos.

Para o lançamento oficial enviarei os adequados convites.

Pedro Lauret

2. Comentário de VB:

Ver aqui o mapa do site: http://www.guerracolonial.org/mapa_do_site

Tem cinco grandes dossiês:

» Cronologia
» ONU
» Protagonistas
» Galeria Multimédia
» Estatísticas

Os nossos parabéns ao nosso camarada Pedro Lauret e à sua equipa. Este portal historiográfico, recheado de textos, imagens e vídeos (estes, fundamentalmente com origem na RTP) é um valiosíssimo contributo para o aprofundamento e divulgação do conhecimento da guerra que Portugal travou em três frentes, no continente africano, entre 1961 e 1974.

Vamos incentivar os amigos e camaradas da Guiné a visitá-lo e a consultá-lo com atenção, entusiasmo e espírito crítico. Para já nem todas as funcionalidades parecem estar operacionais, presumimndo-se que o site ainda esteja em construção, como se deduz da própria mensagem do Pedro Lauret (por exemplo, ainda está disponível a informação de rodapé sobre: Colaborações e bibliografia; Equipa técnica; Mensagem; Links; Contactos...).
__________

Notas de vb:

1. Pedro Lauret, actualmente Capitão-de-mar-e-guerra na reforma, embarcou para a Guiné, em Setembro de 1971. Como Imediato do NRP "Orion" percorreu rios e braços de mar navegáveis (Cacheu, Geba, Buba, Tombali, Cumbijã, Cacine, Bijagós). Em Maio de 1973 encontrava-se em missão no Rio Cacheu aquando dos ataques a Guidage, Desembarcou o DF 8 no Jagali, afluente do Cacheu. No mesmo mês, no rio Cacine, foi a primeira unidade a chegar a Gadamael depois da retirada de Guileje, evacuando cerca de 300 militares e civis que se encontravam espalhados pelas margens do rio. Actualmente faz parte da Direcção da Associação 25 de Abril e lidera um projecto de investigação Histórica com a designação –“Marinha: do fim da II Guerra Mundial ao 25 de Abril de 1974”.

2. Último artigo da série:

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2764: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Pedro Lauret: O papel da Marinha em Guidaje e Gadamael, Maio-Junho de 1973

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cacine > 2 de Março de 2008 > Visita de um grupo de participantes do Simpósio Internacional de Guileje, depois de um almoço em Cananime, na margem direita do Rio Cacine. É hoje uma povoação com evidentes sinais de abandono e decadência.

Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Azalai > 7 de Março de 2008 > Simpósio Internacional de Guileje > O último dia da nossa estadia > Três companheiros de uma jornada inesquecível: O Capitão de Mar e Guerra, na situação de reforma, Pedro Lauret, Iva Cabral, historiadora, primeira filha de Amílcar Cabral e da portuguesa Maria Helena Ataíde Vilhena, e o Cor Comando, na situação de reforma, Carlos Matos Gomes (também conhecido e celebrado autor de obras de ficção sobre a guerra colonial e as vivências de África, sob o pseudónimo de Carlos Vale Ferraz).

Fotos e legendas: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.

Guiné > Região do Cacheu > Rio Cacheu > A LFG Orion a navegar no Cacheu em Janeiro de 1967.

Foto: © Lema Santos (2006). Direitos reservados.

"A revolta do navio Orion, da Marinha portuguesa, no dia 2 de Junho de 1973 foi decisiva para salvar a vida de centenas de soldados e população que fugiram dos bombardeamentos do PAIGC na batalha de Gadamael. Este episódio de desobediência a ordens de Spínola, desconhecido até hoje, é indissociável da resistência travada por meia dúzia de soldados no interior do aquartelamento de Gadamael. As suas histórias são aqui contadas por alguns dos seus protagonistas, como o comandante da Marinha Pedro Lauret, o coronel dos comandos Manuel Ferreira da Silva e o grumete Ulisses Faria Pereira. Eles são, com outros, os heróis desconhecidos de Gadamael". (In: "A nave dos feridos, mortos, desaparecidos e enlouquecidos. Uma investigação de Eduardo Dâmaso". Público, nº 5571, 26 de Junho de 2005).


1. Mensagem do Pedro Lauret (1), com data de 8 de Abril, respondendo ao meu pedido para publicar, no blogue, a sua comunicação ao Simpósio Internacionald e Guileje:


Caro Luís,

Tens toda a autorização para publicares a minha comunicação no Simpósio, que agradeço.

A gala da A25A [- Associação 25 de Abril ] foi espectacular muita emoção, muitas recordações… [Gala Vozes de Abril, no dia 4 de Abril de 2008, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa]

Tenho acompanhado, [no nosso blogue,] as reportagens da Guiné, que estão excepcionais. É muito bom que um acontecimento histórico, como foi o Simpósio, esteja devidamente documentado e divulgado.(...)

Brevemente teremos que falar sobre o nosso site da Guerra Colonial, que penso que estará pronto no último trimestre deste ano.

Um abraço

Pedro Lauret


2. Comunicação do Capitão de Mar e Guerra, na situação de reforma, Pedro Lauret, no Simpósio Internacional de Guileje: Bissau, Hotel Palace, de 5 Março de 2008, Painel 2. Título da comunicação: A Marinha no Teatro de Operações da Guiné. Guileje Gadamael, Maio Junho de 1973, o papel da Marinha.



A Marinha no Teatro de Operações da Guiné. Guileje Gadamael, Maio-Junho de 1973, o papel da Marinha (2)

por Pedro Lauret (3) . Subtítulos de L.G.


(i) Imediato da LFG Orion, em fim de comissão: subordinando as suas convicções políticas à vida dos seus subordinados


Tentei até agora dar uma visão sintética da História da Marinha após a II Guerra Mundial, seu enquadramento político, e a realidade que emergiu do início da Guerra Colonial.

Sinteticamente também pretendi transmitir o que era a Marinha no teatro de operações da Guiné.

Para terminar vou abordar os acontecimentos ocorridos em Maio e Junho de 1973 em que participei. Será uma narrativa muito mais pessoal e opinativa, embora, obviamente baseado em factos reais por mim vividos.

Fui imediato do NRP Orion uma LFG, de Setembro de 1971 a Julho de 1973 (4), o meu navio esteve sempre operacional pelo que tive oportunidade de conhecer bem todos os rios com água suficiente para o meu navio passar.

Quando em 1971 cheguei a Bissau, jovem guarda-marinha de 22 anos, já tinha sobre a guerra uma visão clara da sua natureza, já tinha uma visão clara da natureza do regime ditatorial em que nascera e logicamente sabia que iria combater por uma causa que não considerava justa. Era uma situação difícil, que aceitei lucidamente com a noção das dificuldades que iria encontrar. Tinha também uma certeza: uma vez que optara por ir, a prontidão e operacionalidade do meu navio nunca poderia estar em causa. A vida dos meus subordinados e o meu compromisso com eles sobrepunham-se às minhas convicções.

Nas muitas milhas que naveguei tive oportunidade de desembarcar em muitos aquartelamentos do Exército, apreciei o modo de vida dos soldados, o seu dia-a-dia, as casernas, os abrigos. Vi jovens como eu, condenados a passar dois anos fora das suas terras, das suas famílias e amigos, vivendo dias de tensão e de perigo, mal comidos, mal fardados, mal armados. Vi muitas companhias comandadas por jovens capitães milicianos, com início de carreira interrompida, completamente desmotivados e incapazes de conduzir satisfatoriamente os 170 homens que comandavam. Aqueles homens, além do mais, estavam também mal comandados.

Quando à noite no meu navio, fundeado no Cumbijã, ou Cacine, atracado em Bigene ou em Binta ou em qualquer outro local, via e ouvia os rebentamentos, ora dos morteiros ou foguetões de 122, ora a resposta dos obuses do exército, era um espectáculo inesquecível de uma beleza cruel. Por detrás de cada um daqueles rebentamentos e clarões poderia naquele momento ter acabado de morrer ou ficar ferido algum ser humano.

Todas estas situações me levavam a pensar: que regime era aquele que durante tantos anos atirava gerações sucessivas de jovens para aquela situação, uma guerra votada ao insucesso e à derrota.

(ii) Gudaje, a ferro e fogo, e três aeronaves abatidas no dia 8 de Maio de 1973

Foi já em fim de comissão, no início de Maio de 1973, propriamente no dia 8, que estando atracado em Bigene logo pela manhã sinto em terra, onde estava aquartelado o Destacamento de Fuzileiros nº 8 (DFE 8), movimento fora do comum, indiciando que algo de grave se passava ou iria passar.

Guidaje fora atacada logo aos primeiros alvores com enorme intensidade tendo feito um elevado número de feridos. Um Dornier tinha levantado de Bissau e dirigia-se a Bigene para recolher o médico que aí se encontrava para, posteriormente, ir socorrer os feridos. Logo após ter levantado e a meio caminho de Guidaje foi abatido.

O DFE8 estava em preparativos para se deslocar para o local. O destacamento devia embarcar no meu navio e ser largado, por botes, junto à foz do pequeno Rio Jagali. Neste meio tempo começa um movimento de helicópteros como em 2 anos nunca vira. A princípio não me apercebi do que se passava, depois fui informado que uma companhia de Páras fora transportada de Bissau para Bigene para a partir daí seguir ao encontro do DFE 8 e ambos tentarem resgatar o que fosse possível.

Entretanto vindos de Bissau dois T6 foram bombardear a zona e um deles foi de imediato abatido.

Conseguimos desembarcar o DFE8 conforme previsto, que conseguiu chegar ao local onde os aviões se encontravam, sem incidentes. O mesmo não aconteceu à companhia de Páras que à saída de Bigene fora emboscada e tivera um morto.

Algumas horas depois reembarcámos os fuzileiros que só encontraram destroços carbonizados, e entre eles um pedaço do míssil que abatera o avião. Esse pedaço de míssil foi por nós trazido para Bissau, poucos dias depois. Serviu para confirmar, com certeza, que se tratava de um míssil Strella.

Viemos posteriormente a saber que, nesse mesmo dia, tinha levantado um outro Dornier rumo a Guidaje para socorrer os feridos da manhã, conseguira aterrar, mas ao levantar, após ter embarcado os feridos, desaparecera sendo dado por abatido.

Três aviões no mesmo dia foram abatidos, o que levou a Força Aérea a interromper as suas missões, só as retomando algum tempo depois com perfis de voo defensivo e uma eficácia global muito reduzida.

Esta situação de perda da superioridade total do ar, como sempre tivéramos, teve de imediato duas muito graves consequências:

- As evacuações de feridos por helicóptero não se faziam;
- Não havia apoio aéreo próximo que permitisse interromper ataques às nossas tropas.

Estas circunstâncias vão permitir ao PAIGC cortar a estrada de Binta a Guidaje e montar-lhe um cerco que, apesar de muitos esforços, só consegue ser totalmente levantado através da Operação Ametista Real que envolve a totalidade do Batalhão de Comandos Africanos.


(iii) 1 de Junho: no sul, no Rio Cumbijã, para embarcar uma companhia de páras em Cafine

Após alguns dias de estadia em Bissau para pequenas reparações e reabastecimento, sigo para o Rio Cumbijã, render a LFG que aí se encontrava em missão. Tínhamos como força, além da própria LFG, duas LDM e transportávamos 8 botes e respectivos motores com elementos da companhia de fuzileiros para o seu manuseamento e condução.

No dia 1 de Junho ao jantar sou alertado pela cabine de TSF que estava a chegar uma mensagem “O” – designativo para mensagem de muito elevado nível de precedência – dirigi-me à cabine e assisti ao final da decifração da mensagem.

O teor da mensagem era preocupante: Dirigir-se a Cafine na margem esquerda do Cumbijã e embarcar uma companhia de Páras que aí se encontrava estacionada e de imediato seguir para Cacine.

Só o facto de efectuar o embarque no navio àquela hora e naquelas circunstâncias denotava uma situação grave e urgente.

Demos ordem às 2 LDM para seguirem para Cacine pelo Canal do Melo o que abreviava em muito a viagem. Nós não podíamos seguir aquele itinerário devido ao nosso calado.

Conseguimos embarcar a companhia sem incidentes e dirigimo-nos para Cacine, onde chegámos aos primeiros alvores do dia seguinte. Aí, após termos desembarcado a companhia, entrou a bordo o Major pára-quedista Pessoa que nos informou:
- Que Guileje, após intensos bombardeamentos, fora evacuada e o contingente aí instalado seguiu para Gadamael;
- Que o Major Coutinho e Lima, comandante do COP, que tinha dado a ordem, seguira para Bissau sob prisão;
- Que Gadamael estava sob fogo intenso e a grande maioria dos militares tinha fugido para as margens do rio Cacine;
- Que o General Spínola tinha estado em Cacine e tinha dado ordem explícita para ninguém ir socorrer o pessoal que andava fugido nas margens do rio, apelidando-os de cobardes.

O Major Pessoa ainda nos informou que, se nós não fossemos recuperar o pessoal, ele próprio iria nem que fosse de canoa.

Pela minha cabeça, de imediato, passou a imagem dos generais que em Nuremberga justificaram as atrocidades que cometeram por terem recebido ordens para as executar. Sem obviamente querer comparar a gravidade relativa do caso, foi isto que pensei. Pensei que há ordens que não se cumprem, apesar de nós, militares, sermos formados para obedecer. A recusa ao cumprimento de tal ordem era uma exigência de honra, era uma exigência moral.

(iv) No Rio Cacine, recolhendo o pessoal fugido de Guileje e de Gamadael


O navio por sua inteira responsabilidade, e sem nada comunicar ao Comando da Defesa Marítima, decidiu de imediato ir recuperar o pessoal. Foram dadas indicações aos patrões das LDM para seguirem nas águas da Orion.

Passámos o rio Meldabon junto a uma marca radar (marca Lira), a qual já não era passada por uma LFG há muito, não se conhecendo a situação dos fundos.

Conseguimos seguir até ao rio Dideragabi, para montante era impossível navegar pois já não tínhamos fundo.

Foram colocados botes na água que passaram revista à margem esquerda do Cacine bem como as duas LDM. Foram recolhendo pessoal que traziam para bordo da Orion onde os feridos passaram a ser tratados, os mais ligeiros no convés, os mais graves foram para a coberta das praças. Foi fornecida alguma alimentação ao pessoal. Como já havia muito pessoal a bordo as LDM passaram a levar o pessoal para Cacine.

Já de noite a Orion dirigiu-se a Cacine, não podendo desembarcar os feridos mais graves pois estávamos em baixa-mar e a pista de lodo impedia-o.

Nesse dia a coberta das praças funcionou como navio hospital. O soro, compressas e outra material de primeiros socorros esgotaram. Foi pedido reabastecimento urgente a Bissau. Na manhã seguinte o material chegou num pequeno avião da Marinha.

O ambiente na coberta das praças estava de tal forma carregado de vapores de éter, que, tendo entrado uma praça a fumar, provocou uma explosão que fez disparar os disjuntores dos geradores, colocando o navio, por breves momentos às escuras.

Não sei descrever a situação moral e psicológica daqueles homens, as palavras não eram muitas, só os seus olhares denunciavam, sem margem para dúvidas, os sofrimentos porque passaram.

Esta operação continuou nos dias seguintes, não sei quantos homens evacuamos naquele dia 2 de Junho, mas certamente entre militares e população ultrapassou o milhar (confirmei na visita a Guileje que da população eram mais de 600 pessoas).

Continuámos nos dias seguintes a dar apoio aos pára-quedistas que entretanto tinham desembarcado em Gadamael.

Após alguns dias fomos rendidos e regressámos a Bissau. A bordo, deixadas de lado, algumas dezenas de G3 abandonadas pelos soldados. O princípio de nunca abandonar a própria arma já não tinha qualquer sentido.

(v) A controversa ordem de Spínola, ditada pelo desnorte militar, prenúncio do 25 de Abril
Quero concluir com duas notas.

A ordem do general Spínola não corresponde, em minha opinião a uma intenção sincera, revela antes um desnorte pela situação militar que então se vivia e pela incapacidade de a debelar.

Revela ainda que uma derrota militar na Guiné se podia aproximar rapidamente, com consequências, em termos de sacrifícios humanos, imprevisíveis, e que o Estado Novo se preparava, como fez na Índia para culpar os militares pela derrota, lavando com sangue a sua i ncapacidade para encontrar soluções políticas para os conflitos.

O 25 de Abril estava em marcha.

______________
Notas de L.G.:

(1) Vd. poste anterior: 13 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2629: Fórum Guileje (3): A Marinha esteve como peixe dentro de água no CTIG, e teve um papel logístico fundamental (Pedro Lauret)

(2) Também está disponível, em formato.pdf, no blogue da A25A,
Avenida da Liberdade.

(3) No nosso blogue, também já está disponível a comunicação do Cor Art Ref Coutinho e Lima:

23 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2677: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Coutinho e Lima (1): Comandante do COP 5, com 3 comissões no CTIG

23 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2678: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Coutinho e Lima (2): A dolorosa decisão da retirada de Guileje

(4) Sobre o Pedro Lauret, vd os postes:

1 de Outubro de 2006 >
Guiné 63/74 - P1137: Do NRP Orion ao MFA: uma curta autobiografia (Pedro Lauret, capitão-de-mar-e-guerra)

Sobre o desempenho da LFG Oiron e outros navios da nossa Marinha no TO da Guiné, vd.:


21 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXIII: Apresenta-se o Imediato da NRP Orion (1966/68) e 1º tenente da reserva naval Lema Santos

5 de Maio de 2006 >
Guiné 63/74 - DCCXC: Os marinheiros e os seus navios (Lema Santos)

15 de Junho de 2006 >
Guiné 63/74 - P878: Antologia (42): Os heróis desconhecidos de Gadamael (Parte I)

15 de Junho de 2006 >
Guiné 63/74 - P879: Antologia (43): Os heróis desconhecidos de Gadamael (II Parte)

5 de Outubro de 2006 >
Guiné 63/74 - P1151: Resposta ao Manuel Rebocho: O papel do Orion na batalha de Guileje/Gadamael (Pedro Lauret)

31 de Outubro de 2006 >
Guiné 63/74 - P1231: Estórias avulsas (5): Rio Cacheu: uma mina aquática muito especial (Pedro Lauret)

7 de Março de 2007 >
Guiné 63/74 - P1571: A Operação Larga Agora, o Tancroal / Porto Batu e as cartas náuticas do Instituto Hidrográfico (Lema Santos)

18 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2659: Histórias da Marinha (1): Um ataque à LFG Lira em 1967, em Cadique, no Rio Cumbijã (Manuel Lema Santos)

27 de Janeiro de 2008 >
Guiné 63/74 - P2483: Estórias de Guileje (3): Devo a vida a um milícia que me salvou no Rio Cacine, quando fugia de Gadamael (ex-Fur Mil Art Paiva)

(...) "Por obra do acaso, deparei hoje com alguns blogues sobre os acontecimentos ocorridos em Guileje e Gadamael no período de 1972 a 1974 (2). Porque na oportunidade desempenhava funções de furriel miliciano afecto à Unidade de Artilharia localizada inicialmente em Guileje, e posteriormente retirada para Gadamael (após o abandono do primeiro daqueles aquartelamentos), tomei parte nos referidos acontecimentos.

(...) "Este pelotão de artilharia retirou na totalidade para Gadamael quando foi dada ordem de abandono do aquartelamento de Guileje. Para além dos graduados e oficial acima referidos, retiraram ainda os cabos e praças (estes últimos naturais da Guiné).

"Em Gadamael, a artilharia passou efectivamente muito maus bocados mas não ficou totalmente inoperacional, tanto quanto me recordo. O seu alferes teve aliás um comportamento de bravura pois foi ferido e continuou a desempenhar as sua funções, embora numa situação bastante precária.

(...) "Já agora poderia acrescentar que uma parte dos militares que se deslocaram para Gadamael, acabaram por abandonar também este aquartelamento, acompanhados de parte da população. Porém uma parte dos militares conseguiu aguentar este aquartelamento até à chegada de reforços que entretanto para ali foram enviados.

"Alguns oficiais, sargentos e praças (acompanhados de parte da população) - nos quais me incluía eu -, iniciaram uma retirada para Cacine que foi efectuada debaixo de fogo e que se processou em botes dos fuzileiros. Já agora poderei acrescentar que a evacuação não foi totalmente conseguida nesse dia porque entretanto as operações de resgate foram suspensas por ter começado a anoitecer.

(...) "Eu próprio iniciei a travessia antes de se ter completado o vazamento da maré e, porque não era um nadador exímio, e por outro lado com o peso das botas e da G3 e a força da corrente, tive que a meio da travessia me desembaraçar da minha arma (foi para o fundo do rio) para não morrer afogado. E fiquei a dever a minha vida a um milícia guineense que na outra margem do rio - e a partir do lodo onde se encontrava e para onde eu pretendia arrastar-me - me estendeu a coronha da sua arma a que eu, num esforço titânico, consegui agarrar-me. Fiquei a dever-lhe a minha vida e, no meio da confusão e do caos, sem saber a quem concretamente (ainda hoje...)" (...)

quinta-feira, 13 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2629: Fórum Guileje (3): A Marinha esteve como peixe dentro de água no CTIG, e teve um papel logístico fundamental (Pedro Lauret)

Guiné-Bissau > Bissau > Palace Hotel > Simpósio Internacional Guiledje na Rota da Independência da Guiné-Bissau > 4 de Março de 2008 > Painel 1 (Guiledje e a Guerra Colonial / Guerra de Libertação) > Intervenção de Pedro Lauret, dirigida à mesa, e mais concretamente a Manuel dos Santos, ou Manecas, antigo comandante militar do PAIGC, que fez um comunicação sobre Amílcar Cabral e a componente militar do PAIGC: achegas para a compreensão dos meandros estratégicos e tácticos da guerra de libertação nacional.

Vídeo: ©
Luís Graça (2008). Direitos reservados.
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Visita dos participantes do Simpósio Internacional de Guiledje > 1 de Março de 2008 > Pedro Lauret foi o único represente da Marinha no simpósio, pelo lado dos ex-combatentes portugueses. Como orador, fez uma comunicação, no dia 5 de Março, no âmbito do painel 2 (Guerra colonial / luta de libertação nacional: problematização conceptual, contextualização histórica e importância historiográfica), subordinada ao título A Marinha no Teatro de Operações da Guiné: Guiledje e Gadamael, Maio-Junho de 1973, o papel da Marinha (1).
Sinopse da comunicação:

A Guiné, atravessada por uma multiplicidade de rios e braços de mar, com uma rede viária escassa será um Teatro de Operações privilegiado para a actuação da Marinha. Mais de 80% de todo o reabastecimento será efectuado por via fluvial. A evolução dos meios navais, as missões as potencialidades e as dificuldades, encontradas no teatro de operações. A missão hidrográfica, os levantamentos e as cartas hidrográficas, a balizagem e a farolagem. Os fuzileiros navais. A partir de Maio de 1973 com as dificuldades sentidas pela Força Aérea, a Marinha irá ser chamada a um maior esforço apesar das grandes dificuldades em meios. A Marinha e o Inferno dos 3 G’s – Guiné, Maio-Junho 1973.

Guiné > Região de Tombali > Rio Cacine > 1971 ou 1972 > Pedro Lauret, oficial imediato do NRP Orion (1971/73), na ponta do navio, a navegar no Cacine, tendo a seu lado o comandante Rita, com quem fez a primeira metade da sua comissão na Guiné. "Um grande homem, um grande comandante" (PL).

Foto: © Pedro Lauret (2006) . Todos os direitos reservados.

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cacine > 2 de Março de 2008 > Visita dos participantes do Simpósio Internacional de Guileje > Os tugas de volta a Cacine, outrora um importante baluarte no sistema de defesa do Rio Cacine contra as infiltrações e ataques do PAIGC. Foi sede do Destacamento de Fuzileiros Especiais 22. Hoje, é uma terra com ar desolado e decadente. Partimos de Cananima, do outro lado do rio, num barco de pesca, depois de um belíssimo almoço onde não faltou o saboroso e fresquíssimo peixe local. Embarcados, éramos um grupo de 30 participantes do Simpósio. O nosso capitão de mar-e-guerra ficou em terra a planear as eventuais operações de socorros a náufragos. Na foto, o regresso ao barco, depois de uma duas horas em Cacine: em primeiro palno, o jornalista do Correia da Manhã, correspondente em Guileje, José Marques Lopes, seguido da Júlia, esposa do Coronel Nuno Rubim, e da Diana Andringa...

Foto e legenda: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.

Pedro Manuel Cunha Lauret Saldanha e Albuquerque - CV abreviado:

(i) É capitão-de-mar-e-guerra na situação de reforma.

(ii) Nasceu em Lisboa, a 23 de Janeiro de 1949.

(iii) Efectuou os estudos secundários no Liceu Camões (1960/67), em Lisboa, onde foi dirigente da Acção Católica (JEC), participando em movimentações estudantis.

(iv) Entrou para a Escola Naval em 1967, tendo terminado o curso de Marinha em 1971.

(v) Foi um dos fundadores, em 1970, de uma organização política clandestina de Oficiais da Armada.

(vi) Em Setembro de 1971 iniciou uma comissão na Guiné, como oficial imediato da Lancha de Fiscalização Orion, exercendo uma intensa actividade operacional até Agosto de 1973; participou no início das operações conhecidas pelo cerco a Guidaje em Maio de 1973, e nesse mesmo mês e seguinte nos acontecimentos de Guileje e Gadamael.

(vii) Em Outubro de 1973, já no continente, efectuou os primeiros contactos com o Movimento dos Capitães, por designação de um grupo de oficiais da Armada.

(viii) Fez parte da comissão que redigiu o Programa do Movimento das Forças Armadas, e outros importantes documentos – em conjunto com Vítor Alves, Melo Antunes, Franco Charais, Vítor Crespo, Almada Contreiras.

(ix) Após o 25 de Abril integrou o gabinete do Almirante Pinheiro de Azevedo, Chefe do Estado-Maior da Armada e membro da Junta de Salvação Nacional.

(x) Faz parte da Comissão Coordenadora do MFA Armada, da Assembleia do MFA Armada e Assembleia do MFA Nacional.

(xi) Em 1976, especializou-se em sistemas de armas, embarcando em 1977 como chefe de serviço de Artilharia na fragata Comandante Roberto Ivens, participando em numerosos exercícios nacionais e no âmbito NATO.

(xii) Desembarcou em 1979 vindo a desempenhar funções técnicas no Gabinete de Estudos da Direcção Geral do Material Naval onde foi nomeado para a frequência de numerosos cursos no âmbito da electrónica, sistemas digitais e informática.

(xiii) Em 1981 concluiu uma pós graduação em Estratégia e Organização, no Instituto Superior Naval de Guerra.

(xiv) Em 1983, em comissão civil, exerceu as funções de engenheiro no Grupo de Oficinas de Armamento e Electrónica do Arsenal do Alfeite, acumulando com Chefe de Serviço de Informática do Arsenal.

(xv) Em 1986 passou à reserva e depois à reforma, iniciando actividade empresarial no âmbito
da engenharia e consultoria informática.

(xvi) Foi Membro fundador da Associação 25 de Abril, integrando actualmente a sua Direcção.

(xvii) Coordenou a equipa que produziu o site da Associação 25 de Abril e dirige, actualmente, no mesmo âmbito, um site sobre a Guerra Colonial.

(xviii) Dirige um projecto de investigação histórica designado Marinha: do fim da segunda Guerra Mundial ao 25 de Abril de 1974, que conta com o apoio do Chefe do Estado Maior da Armada.

(xix) Foi agraciado com o grau de Grande Oficial da Ordem da Liberdade.

Fonte: Site oficial do Simpósio Internacional de Guiledje > Oradores > Pedro Lauret

___________


Notas de L.G.:

(1) Vd. postes anteriores desta nova série, Fórum Guileje:

12 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2626: Fórum Guileje (1): E Cameconde ? Cabedu ? E a nossa Marinha ? (Manuel Lema Santos / Jorge Teixeira / Virgínio Briote)

12 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2628: Fórum Guileje (2): Nunca uma guerra foi feita de uma só batalha (Mário Fitas)

(2) Postes do nosso amigo e camarada Pedro Lauret:

1 de Outubro de 2006> Guiné 63/74 - P1138: 'Siga a Marinha': uma expressão do tempo da República (?) (Pedro Lauret)

5 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1151: Resposta ao Manuel Rebocho: O papel do Orion na batalha de Guileje/Gadamael (Pedro Lauret)

31 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1231: Estórias avulsas (5): Rio Cacheu: uma mina aquática muito especial (Pedro Lauret)

21 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1300: O cruzeiro das nossas vidas (3): um submarino por baixo do TT Niassa (Pedro Lauret)

29 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1393: Saudações tertulianas na chegada do novo ano de 2007 (1) : Luís Graça / Pedro Lauret

13 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1590: O sacrifício dos oficiais do quadro permanente (Pedro Lauret)

18 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1767: Spínola e Senghor encontram-se na região de Casamance em 1972 (Pedro Lauret)

27 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2222: RTP: A Guerra, série documental de Joaquim Furtado (4): Aspectos positivos e negativos (Pedro Lauret)

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2415: Uma guerra entregue aos milicianos: onde estavam (estão) os nossos comandantes ? (Hugo Guerra, Coronel, DFA, na reforma)

1. Mensagem do Hugo Guerra (ex-Alf Mil, hoje Coronel DFA, na reforma, Pel Caç Nat 55 e Pel Caç Nat 60, Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70) (1):

Caros Camaradas:

Que comece um bom ano para todos nós, são os meus votos.

Estou a escrever só para pedir que façam uma importante correcção no meu currículo da Guiné (1).

Em São Domingos o meu Pel Caç Nat era o 60 (e não 50, como erradamente indiquei). As minhas desculpas a todos, especialmente ao pessoal dos Pelotões visados.

À pala desta minha incorporação no blogue já comecei a receber telefonemas e emails de malta que já não vejo há 38 anos…. E a sensação é óptima. Vamos ver se este ano dou a volta por cima e começo a conviver.

Já agora uma pergunta com água no bico.

A Guerra na Guiné não tinha Comandantes de Companhia, Batalhão, Sector etc? Ou foi só mastigada pela rapaziada miliciana, desde soldados a alferes?

Esses senhores não estavam lá ou querem continuar a desenfiar-se como quase sempre fizeram? (2)

Salvo as honrosas excepções dos nossos 3-4? Tertulianos que eram Capitães na altura, os demais continuam a enviar pra frente, agora da Net, dois Pelotões para evitar as idas pró mato, como faziam lá???

Só a partir de 3 Pelotões era moralmente obrigatória a chefia do Comandante de Companhia, salvo erro…..

Um abraço e até um dia destes

Hugo Guerra
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Nota de L.G.:

(1) Vd. posts do Hugo Guerra:

22 de Dezembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2374: O meu Natal no mato (10): Bissau, 1968: Nosso Cabo, não, meu alferes, sou o Marco Paulo (Hugo Guerra)

29 de Novembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2312: Tabanca Grande (43): Hugo Guerra, ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 55 e 50 (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70)

(2) Do ponto de vista estatístico pode-se dizer que os oficiais superiores, na reforma, sobretudo do Exército, estão bem representados no nosso blogue... Mas poucos são os que, com a patente de capitão para cima, dão hoje a cara... Parabéns aos que são a excepção e que nos honram com a sua presença... E aproveito para sublinhar, mais uma vez, que a nossa Tabanca Grande não tem arame farpado nem porta de armas (nem, muito menos, messe de oficiais, messe de sargentos e refeitório de praças).

Há duas explicações para este fenónemo da ausência dos nossos antigos comandantes na nossa Tabanca Grande:

(i) há um problema geracional: em geral os capitões do QP, no meu tempo (1969/71), eram mais velhos cerca de 15 anos, do que os seus soldados, furriéis e alferes milicianos; isso pode torná-los, por exemplo, menos à vontade para chegar à Internet e a um blogue como o nosso; claro que há excepções: cito, a título de mero exemplo, o nosso saudoso capitão, na reforma, Zé Neto (1927-2006);

(ii) a ideologia (elitista) da corporação: os oficiais da Academia foram formatados de acordo com o figurino da segregação sócio-espacial... A palavra camarada não cola bem na pele de um oficial do QP, e sobretudo de um oficial superior, a menos que a sua origem não seja a Academia Militar (como era o acso do Zé Neto, ou dos oficiais superiores que vieram de milicianos, como o A. Marques Lopes ou o Hugo Guerra, por exemplo)... Claro, há as honrosas excepções, no nosso blogue (não preciso de citar nomes);

(iii) há um pudor imenso em falar, publicamente, de uma guerra tão longa e dolorosa como esta, que implicou também para os militares de carreira (oficiais e sargentos) pesados sacrifícios, a nível de saúde, de qualidade de vida pessoal e familiar... É bom não esquecer isso... A este propósito leia-se o post do nosso camarada
Pedro Lauret, Capitão de Mar e Guerra, na reforma, antigo imediato do NRP Orion, Guiné (1971/73):

13 de Março de 2007 >
Guiné 63/74 - P1590: O sacrifício dos oficiais do quadro permanente (Pedro Lauret)
(...) Qualquer oficial saído da Academia Militar em 1961, ou nos anos imediatamente seguintes, fizeram 4 comissões na mesma colónia ou em várias.

A vida dos meus camaradas do Exército foi de enorme esforço e sacrifício. Quem fez 4 comissões tem pelo menos um ida como subalterno e duas como capitão, eventualmente uma última como major. A vida de um oficial do QP eram dois anos em comissão, um ano no continente.

Como é sabido, o número de oficiais que entravam na Academia Militar começou a diminuir a partir de 1961. A Guerra nos três teatros de operações aumentou sempre em área operacional e em consequente número de efectivos, pelo que foi exigido um esforço muito grande aos oficiais dos QP, que a partir de certa altura já eram insuficientes, pelo que começaram a ser formadas capitães milicianos, como todos sabemos.

A tese de que havia guerra porque os oficiais dos QP a fomentavam para ganhar mais, e que praticamente a vitória militar estava garantida, foi posta a circular pela propaganda do Estado Novo tendo tido acolhimentos diversos, nomeadamente nos colonos em Angola e Moçambique (...).

(...) Das centenas de oficiais que fizeram várias comissões permitam-me que vos evoque dois de duas gerações: Carlos Fabião, uma comissão em Angola e, penso, quatro na Guiné; e Salgueiro Maia, que em 1974 tinha 28 anos, com uma comissão nos Comandos em Moçambique e outra na Guiné. (...)

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1767: Spínola e Senghor encontram-se na região de Casamance em 1972 (Pedro Lauret)

Mensagem de Pedro Lauret:

Caros companheiros,

Em 18 de Maio de 1972 Spínola e Senghor encontravam-se na região do Casamance numa tentativa de encontrar uma solução negociada para a Guerra na Guiné.

No blogue da A25A, Avenida da Liberdade, textos do Coronel Carlos Fabião e Prof. Marcello Caetano em Efemérides.

Por considerar que tem interesse para a nossa tertúlia aqui estou a fazer propaganda a este blogue de que sou responsável.

Um abraço
Pedro Lauret

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Guiné 63/74 - P1701: Guileje: Artilharia do PAIGC: a peça 130 mm M-46 (Pedro Lauret)

Mensagem do Pedro Lauret, com data de 27 de Março de 2007:

Caro Luís,

Sobre o último post do Nuno Rubim (1) posso informar que, quando recuperei o pessoal em Gadamael em fins de Maio de 1973 (2), foi-me referido por vários camaradas, sendo um deles, se bem me lembro um capelão, que teriam sido bombardeados por uma nova arma cuja velocidade inicial do projéctil seria próxima da velocidade do som, o que tinha como consequência que quando se ouvia a saída o projéctil, este estava a chegar, não dando por isso tempo para fugir para os abrigos, constituindo mais uma factor de desequilíbrio militar e psicológico.

Este facto recorta com a informação do referido post sobre peças de 130mm.

Um abraço

Pedro Lauret

___________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 27 de Março de 2007 Guiné 63/74 - P1628: Projecto Guiledje: fotografias de armamento e equipamento, das NT e do PAIGC, precisam-se (Nuno Rubim)

(...) "O Projecto Guiledje, no que me diz respeito, tem continuado de vento-em-popa. As investigações a que tenho procedido trazem achegas que permitem clarificar várias questões mal conhecidas. Por exemplo e só para mencionar um dado, Guileje foi bombardeada em Maio de 1973 com canhões s/r de 82 mm, morteiros de 82 e 120 mm e ... só há pouco referenciado, peças de 130mm ! Os Grad (foguetões de 122 mm) não foram aí usados, só mais tarde em Gadamael (ainda por confirmar junto do então comandante da artilharia do PAIGC, com quem espero ter um encontro)" (...)

(2) Vd. posts de:

15 de Junho de 2oo6 > Guiné 63/74 - P878: Antologia (42): Os heróis desconhecidos de Gadamael (Parte I)

15 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P879: Antologia (43): Os heróis desconhecidos de Gadamael (II Parte).

terça-feira, 13 de março de 2007

Guiné 63/74 - P1590: O sacrifício dos oficiais do quadro permanente (Pedro Lauret)


Guiné > Zona Leste > Estrada Xime- Bambadinca > 1969 > O Cap do QP Carlos Brito, da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71).

Era uma um homem afável e civilizado no trato, como poucos, não tendo nada a ver com a imagem (negativa) que eu tinha dos oficiais do QP que eu havia conhecido até então, na Metrópole. Com os seus 37 anos, e três comissões no Ultramar (Índia, Moçambique e Guiné), foi tão explorado pelo comando do Sector L1 (no tempo do BCAÇ 2852 e do BART 2917) como os seus milicianos e os seus soldados, da Metrópole ou do TO da Guiné.
No final da comissão, lá ganhou, com justiça, os galões de major. Em Fevereiro de 1971, se não me engano. À pala disso, também apanhei um louvor: de facto, dava jeito ao meu capitão, em vésperas de ser promovido a major, mostrar-se grato e reconhecido aos seus rapazes, incluindo este gajo porreiro, que era eu, que se dava bem com os guinéus, e que era o seu pião de nicas (substituindo todos os camaradas furriéis, com baixa, lerpados, cacimbados, em férias em Lisboa, desenfiados em Bissau), embora às vezes imprevisível e inconveniente nas suas bocas, alcunhado de Soviético pelo sargento Piça...
Devo dizer que, hoje, o louvor não me envergonha. Não o escondi mas também não o emoldurei. Nunca me serviu para nada. Mas um dia destes fui à velha caderneta militar, copiei-o e escarrapachei-o no meu currículo... É um simples louvor, não pelas qualidades bélicas que nunca tive, mas pelo meu trato humano e por ter feito a história... da unidade (que ele não aprovou).
É a ele - o bom do major Brito - que se refere o nosso camarada Jorge Cabral, ao evocar o episódio em que, sendo comandante do Pel Caç Nat 63, foi avisado pelo major Brito da chegada do novo comandante do BART 2917, com fama de militarista, e aconselhando-o a cortar as farfalhudas suíças, antirregulamentares, que trazia das férias em Lisboa...
Carlos Brito é hoje coronel e vive em Braga. Creio que passou pela GNR. Já em tempos formulei o desejo - que hoje reitero - de o voltar a ver, bem de saúde e, até por que não, como membro desta tertúlia... Revi-o apenas em 1994, em Fão, Esposende (1) (LG).
Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados.


1. Mensagem do Pedro Lauret:

Caros companheiros e camaradas,

Sobre a proposta do João Tunes (2) também não me parece ter muito sentido.

Ainda voltarei a escrever sobre refratários e desertores, mas hoje quero fazer um comentário sobre uma frase do David Guimarães (3) quando se referia a militares que faziam quatro comissões numa mesma colónia, apontando que a sua motivação seria apenas ganhar dinheiro.
Em minha opinião é uma afirmação perigosa, pela generalização.

Qualquer oficial saído da Academia Militar em 1961 , ou nos anos imediatamente seguintes, fizeram 4 comissões na mesma colónia ou em várias.

A vida dos meus camaradas do Exército foi de enorme esforço e sacrifício. Quem fez 4 comissões tem pelo menos um ida como subalterno e duas como capitão, eventualmente uma última como major. A vida de um oficial do QP eram dois anos em comissão, um ano no continente.

Como é sabido, o número de oficiais que entravam na Academia Militar começou a diminuir a partir de 1961. A Guerra nos três teatros de operações aumentou sempre em área operacional e em consequente número de efectivos, pelo que foi exigido um esforço muito grande aos oficiais dos QP, que a partir de certa altura já eram insuficientes, pelo que começaram a ser formadas capitães milicianos, como todos sabemos.

A tese de que havia guerra porque os oficiais dos QP a fomentavam para ganhar mais, e que praticamente a vitoória militar estava garantida, foi posta a circular pela propaganda do Estado Novo tendo tido acolhimentos diversos, nomeadamente nos colonos em Angola e Moçambique.

Não quero dizer o nosso companheiro David Guimarães tenha querido aderir a esta tese, mas considero que alguma generalização pode ser perigosa. Não quero dizer que não tenham existido casos como os que são referidos, não foram no entanto a regra, foram a execepção. A Guerra Colonial, como qualquer guerra, deu oportunidades de ganhar dinheiro a muita gente, alguns de forma legítima, outros ilegitima.

Das centenas de oficiais que fizeram várias comissões permitam-me que vos evoque dois de duas gerações: Carlos Fabião, uma comissão em Angola e, penso, quatro na Guiné; e Salgueiro Maia, que em 1974 tinha 28 anos, com uma comissão nos Comandos em Moçambique e outra na Guiné.

Caro David, estas palavras destinam-se apenas a que este tema seja abordado com alguma profundidade adicional.

Um abraço

Pedro Lauret
Capitão de Mar e Guerra, na reforma,
antigo imediato do NRP Orion, Guiné (1971/73)

2. Resposta do David Guimarães:


Nessa matéria, Pedro, peço desculpa... Efectivamente pode haver um perigo de generalização que não era a minha intenção... Perigoso, sim, quando dito alto numa caserna - muito mais quando se tratam de amigos...

Talvez que nem sempre sejamos felizes nos ditos e aí teremos que estar calados somente, ou então encobrir aqueles que o fizeram, omitindo também com receio de ferir os não culpados... Emotivamente falei... Sim, em caso conhecido. Não o deveria ter feito e, sendo certo o que penso e vi, mal é efectivamente qualquer generalização. Por aí peço desculpa... Foram palavras do entusiasmo e o sangue português que me fez falar... Desculpa então, se puderes...

Sei do esforço que todos fizemos quadros e milicianos - isso não ponho dúvidas....

Um abraço, David Guimarães

3. Comentário do Pedro Lauret:

Caro David Guimarães,

Calculei que tivesse sido o entusiasmo das palavras que provocaram o disparar daquela frase que, como todos muito bem sabemos, tem fundo de verdade. O problema único é a generalização.

Voltarei em breve ao problema das deserções e não só … ao problema dos refractários. Posso deixar este dado para a tertúlia, nos 13 anos de guerra a percentagem de refractários foi de aproximadamente de 18%, ou seja, faltaram às incorporações 18% dos mancebos convocados, não é de forma alguma um número residual.

Um grande abraço
Pedro Lauret
_________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 24 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1313: Estórias cabralianas (14): Missirá: o apanhado do alferes que deitou fogo ao quartel (Jorge Cabral)

(2) Vd. post de 3 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1560: Questões politicamente (in)correctas (25): O ex-fuzileiro naval António Pinto, meu camarada desertor (João Tunes)

(3) Vd. post de 13 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1589: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (5): David Guimarães / António Rosinha

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Guiné 63/74 - P1508: LFG no Cumbijã, marujos contra infantes ? Acidentes de guerra (Pedro Lauret)



Guiné > Região de Tombali > Rio Cacine > O Pedro Lauret, oficial imediato da LFG Orion (1971/73), a navegar no Cacine. Em segundo plano, o comandante Rita.

Depois de ter completado o Curso de Marinha na Escola Naval (1967/71), o Pedro Lauret foi promovido a Guarda-Marinha em Julho de 1971, tendo embarcado para a Guiné, em Setembro de 1971. Aí exerceu o cargo de Oficial Imediato do NRP Orion. Na sua comissão na Guiné (1971/73) exerceu intensa actividade operacional em todos os rios e braços de mar navegáveis pelo navio (Cacheu, Geba, Buba, Tombali, Cumbijã, Cacine, Bijagós).

Foto: © Pedro Lauret (2006).Direitos reservados.

1. A propósito da última crónica do nosso Palmeirim de Catió (1), mandei aos nossos dois marinheiros, Manuel Lema Santos e Pedro Lauret, o seguinte SOS, com pedido de esclarecimento:

Queridos marinheiros: Peço para darem uma vista de olhos a esta crónica… O nosso Palmeirim troca o Cumbijã pelo Geba e as LGF pelas corvetas… Fiz a devida correcção… Mas queria a vossa douta opinião… E depois a Marinha a matar os nossos infantes, também não é coisa que se faça… Aconteceu, podia acontecer… (?). Saudações, com água doce e salgada. Luís

2. A resposta do Pedro Lauret (2) foi gentilíssima e célere. Aqui fica:

Caro Luís,

Não tenho conhecimento do episódio que é narrado, nem sequer tal assunto foi ventilado no tempo da minha comissão. De qualquer forma vou tentar investigar o que aconteceu para depois vos comunicar. Talvez o Lema Santos, que fez a sua comissão antes de mim, tenha ouvido falar no incidente.

Tenho alguma dificuldade em perceber a situação operacional que poderia estar por detrás de tão grave incidente. As LFG estavam armadas com duas peças Bofors de 40 mm, peças anti-aéreas, de ritmo de fogo de 120 munições por minuto. Como peças anti-aérea estavam preparadas para efectuar tiro tenso, ou seja, para aproveitar utilmente a parte rectilinea inicial da trajectória. O tiro contra-costa fazia-se sobretudo tudo em situações defensivas, com o IN à vista - tiro contra as margens ou para o orla da mata em clareiras.

Não possuíamos mecanismos de tiro contra alvos fora da visão directa dos apontadores. Ou seja, não havia condições para, de forma útil, efectuar tiro contra alvos fora do alcance visual, ou seja, tiro curvo. Nem as peças estavam vocacionadas para tal fim. Só seria possível se dispusesemos de uma direcção de tiro que permitisse posicionar as peças relacionando o movimento do navio, as coordenadas do alvo e os elementos de tiro.

Tanto quanto sei, quando foi necessário efectuar tiro contra costa foram utilizadas as peças de fragatas, no início da guerra, por exemplo na Operação Tridente [, na Ilha do Como, Janeiro a Março de 1964] ou posteriormente e raramente a peça de 120 mm do Navio Hidrográfico Pedro Nunes.

Acidentes numa guerra como foi a da Guiné existiram e não é de admirar, a proximidade dos combatentes era grande e as comunicações nas nossas FA nunca foram o seu forte!!! Numa operação em que estão envolvidos muitos meios, a coordenação deve ser perfeita, caso contrário os acidentes são inevitáveis. Todos estamos lembrados do Vietname e mesmo agora no Iraque.

Basta por vezes um conjunto de circunstâncias se conjugarem para o acidente ocorrer, por exemplo, o meu navio [, a LFG Orion,] foi uma vez flagelado pela artilharia de Binta.

Recebemos uma mensagem, ao fim do dia, para apoiar Binta que estava a ser flagelada com grande intensidade. Subimos o rio e um pouco a montante da clareira do Tancroal, vimos claramente as saídas do IN. Abrimos fogo intenso tendo calado aquele grupo atacante.

Em Binta o pessoal ouviu rajadas e uma chuva de tracejantes pouco habitual que presumiu ser do IN e abriu fogo. Fomos contemplados com uma salva de obus (salvo erro, de 14), que rebentaram na margem muito próximo de nós, com uma imponência de pôr em sentido o mais valente marinheiro. Suspendemos o tiro continuamos a subir o rio em direcção a Binta sem mais qualquer incidente.

Um abraço
Pedro Lauret
Capitão de Mar e Guerra, na reforma,
antigo imediato do NRP Orion,
Guiné (1971/73)

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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 8 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1502: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (8): Com Bacar Jaló, no Cantanhez, a apanhar com o fogo da Marinha

(2) Vd. também o último post do Pedro Lauret: 12 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1423: Questões politicamente (in)correctas (15): Na guerra não vale tudo (Pedro Lauret)