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quarta-feira, 9 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9873: Estórias cabralianas (72): Ressonar... à fula (Jorge Cabral)



Guiné > Zona Leste > Sector L5 (Galomaro) > Saltinho > 1971 > O comandante do Pel Caç Nat 53 (1970/72), Paulo Santiago, tomando o seu banho à fula no Rio Corubal.


Foto: © Paulo Santiago (2006). Todos nos direitos reservados.


1. Mais uma estória, a nº 72 (*), do alfero Cabral, cujo pseudónimo literário é Jorge Cabral... Banho à fula, todos tomámos na Guiné... Falar fula, alguns de nós até  falavam, melhor ou pior  (Temos o Luís Borrega que até publicou aqui um minidicionário de fula-português)... Mas ressonar à fula, não era para todos. O alfero Cabral terá sido um dos eleitos. Porquê, não sei. 


Mas vamos lá ler a história (há quem não goste do vocábulo estória, mas isso não vem ao caso por agora).  Recorde-se que o alfero também comandava um Pel Caç Nat, o 63 (Setor L1, Fá e Missirá, 1969/71)... LG


2. Estórias cabralianas > Ressonar em fula...
por Jorge Cabral

Além de ressonar, sempre falei a dormir. Um dia em Missirá propus-me descobrir, de que falava, o que dizia.

Ora, havia lá um velho gravador de fita, máquina pertencente a não sei quem, enfim nossa, pois viviamos numa espécie de “economia comum”

Resolvi pois gravar uma das minhas noites. E assim adormeci, com o gravador ligado, à cabeceira. No dia seguinte, logo pela manhã, à volta da mesa ensebada onde comíamos, quase todos os brancos e alguns negros escutaram. Roncos e mais roncos, mas entre eles alguns sons que me pareceram intraduziveis. É latim alvitrou o Teixeirinha, talvez espanhol opinou o Freitas, balanta gritou o Demba e já íam entrar em discussão, quando o Daíro, com um ar muito sério, sentenciou:
- Alfero, palabras nka ntindi, mas ronca na fula.

Fiquei esclarecido. Ressonava em fula.

Ainda me lembro aliás, da cara do Polidoro (**), quando em Missirá me perguntou:
- O Cabral fala fula? -  E eu convictamente respondi:

- Não. Em fula só ressono.

Confesso que havia esquecido este meu atributo, até que há um mês o Gama dos Morteiros, me encontrou no Jardim da Estrela e indagou: 
- Ainda ressona em fula?

 Fiquei curioso e nesse mesmo dia corri a pôr um anúncio no Correio da Manhã:

 "Precisa-se senhora fula para acompanhar o sono de senhor um pouco idoso. Assunto sério!"

Devem ter interpretado mal, pois nem uma resposta recebi.

Será que continuo a ressonar em fula?

Jorge Cabral
_______________




(...) Há uns tempos recebi uma simpática mensagem de uma leitora das “estórias cabralianas”. Gabava-me o humor mas alertava-me, algumas indiciavam uma certa “fixação mamária”. Nada de grave, que não pudesse ser tratado no seu divã, de psicanalista, presumo. (...)

(**) Ten cor inf João Polidoro Monteiro, comandante do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72)

sábado, 12 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P9034: As Nossas Tropas - Quem foi quem (7): João Polidoro Monteiro, Ten-Cor Inf (cmdt do BCAÇ 2861, Bissorã, 1970, e BART 2917, Bambadinca, 1971/72) (Armando Pires / David Guimarães / Paulo Santiago)




Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > BART 2917 (1970/72) > Centro de Instrução de Milícias > Da esquerda para a direita, em segundo plano, Ten Cor Polidoro Monteiro, Gen Spínola e Alf Mil Paulo Santiago.

Foto (e legenda): © Paulo Santiago (2006). Todos os direitos reservados

1. Temos uma série, ainda com poucos postes, sobre os nossos comandantes e outros militares que, no TO da Guiné (*), se destacaram de uma maneira ou de outra ou ficaram na nossa memória (pelo seu currículo militar, pela sua liderança, pela sua personalidade, pelo seu convívio,  pelas histórias que deles se contavam, etc.). 

Hoje reunimos alguma informação adicional sobre o último comandante do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), João Polidoro Monteiro, infelizmente já falecido, mas que alguns de nós conheceram e que com alguns privaram:


1. Armando Pires [ex-Fur Mil Enf da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70] (**):

O Ten Cor João Polidoro Monteiro [JMP] veio, em 1970, directamente de Moçambique, onde comandava a Guarda Fiscal, para Bissorã, comandar o [meu batalhão, o] BCAÇ 2861, em substituíção do Ten Cor César Cardoso da Silva.  Em Dezembro de 1970,  o 2861 regressou a Portugal, terminada a comissão. Foi nessa altura que JPM foi comandar o BART 2917.

(...) Estou a vê-lo, ao Polidoro, galões reluzentes sobre um camuflado acabadinho de saír do Casão Militar, olhos protegidos pelas lentes escuras de uns inevitáveis Ray-Ban, pingalim tremelicando na mão direita, voz forte e decidida advertindo a força em parada:
- Não me tomem por periquito, que de guerra venho eu farto.

Depois, a ordem que obrigava todos os militares a andarem devidamente fardados e ataviados quando não em serviço (???).

Se esta não fosse já um mimo, a cereja em cima do bolo veio de seguida. Íamos fazer exercícios de protecção ao aquartelamento. Poupo-vos ao relato e consequências, embora fossem de ir às lágrimas.

Já mais tarimbado na função, o Paulo Santiago, ex-comandante do Pel Caç Nat 53, aqui nos relatos da Tabanca mostra-o, ao Polidoro, numa foto  tirada nas margens do Geba, ali no Mato Cão, exibindo um magnifico troféu de caça.

Com a mais respeitosa vénia ao Santiago, recoloco aqui a tal foto, ao lado de uma outra tirada por mim, em Bissorã, pedindo-lhes que descubram a semelhança. 

Hum!!! Já viram? Reparem outra vez… olhem bem… não deram por ela?... 

É A FACA DE MATO, caramba! Ali, sempre pendurada no ombro direito.



Guiné > Região do Oio > Bissorã > BCAÇ 2861 (1969/70) > 1970 > Festa tribal:  À esquerda o Alf Capelão Batista, à direita o Ten Cor Polidoro Monteiro

Foto (e legenda): © Armando Pires  (2009). Todos os direitos reservados


 Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Mato Cão > O Ten Cor Polidoro Monteiro, último comandante do BART 2917 (1970/72), o Alf Médico Vilar e o Alf Mil Paulo Santiago, instrutor de milícias, com um jacaré do rio Geba... Foto tirada em Novembro ou Dezembro de 1971 no Mato Cão, após ocupação da zona com vista à construção de um destacamento, encarregue de proteger a navegação no Geba Estreito e impedir as infiltrações na guerrilha no reordenamento de Nhabijões, um enorme conjunto de tabancas de população balanta e mandinga tradicionalmente "sob duplo controlo".

Foto (e legenda): © Paulo Santiago (2006). Todos os direitos reservados
2. David Guimarães [ex-Fur Mil Art Minas e Armadilhas, CART 2716/BART 2917, Xitole, 1970/72] (***)

(...) A CART 3492 (Xitole, Janeiro de 1972/Março de 1974) foi exactamente a Companhia que rendeu a CART 2716 a que eu pertenci e fomos nós que fizemos a sobreposição...
(...) Um dia o Comandante do BART 2917, já na sobreposição, apareceu no Xitole. O Luís Graça e o Humberto Reis conheciam-no. Era o Tenente Coronel Polidoro Monteiro... Conto-vos uma peripécia passada com ele.

Perguntava eu, bem perfilado, ao Polidoro Monteiro:
- Meu comandante, a nossa missão é ir ensinar o caminho a esta gente...Proponho que ensinemos o início dos caminhos por onde passamos tantas vezes....

Resposta:
- Vai-te foder, seu caralho, quero que lhes ensinem a toca....

Deu em riso, como é evidente....

O Polidoro Monteiro foi o único Tenente-Coronel que usava arma e eventualmente percorria um pedaço de caminhos connosco... Gostava muito de passear no Xitole, pois de manhã gostava de ir até Cussilinta, ao banho, no Corubal,  e à noite ir à caça às lebres que iam para junto da mancarra (amendoím], na Tabanca de Cambessé, à guarda do aquartelamento do Xitole....

Sempre vi nele um bom militar e era da inteira confiança de Spínola.... Aliás ele era Tenente-Coronel de Infantaria e foi colocado por Spínola em Bambadinca para ir comandar o BART 2917, [em substituição do]  Tenente-Coronel Magalhães Filipe, que era o Comandante inicial do Batalhão (...).

A gota de água para retirar o Comando ao Magalhães Filipe foi a operação na Ponta do Inglês onde morreu aquela secção do Cunha [da CART 2716, do Xime]... Quem merecia a porrada acabou por não a apanhar (...).

Ainda sobre o Polidoro Monteiro... Um dia ele manda um rádio para o Xime com a seguinte nota: "Dois pelotões formados às 5.30 para sair com CMDT" (...). O Polidoro Monteiro chama o condutor de dia e percorre,  sem qualquer escolta,  aquele caminho de Bambadinca ao Xime, a alta velocidade... Resultado: 10 dias de prisão para o [alferes que exercia as funções de] 2º Comandante, e 10 de detenção para outro alferes... É que eles nunca se fiaram que àquela hora ele aparecesse lá e como tal não estavam prontos como ele mandara....

Luís Graça e Humberto Reis: vocês já não estavam lá, creio, mas que isto se passou, passou... O Polidoro era assim, um bom Comandante, a nível operacional: dizia quantas asneiras havia no dicionário... Muito operacional mas bom sujeito... Vocês conheceram-no ainda (...).

 3. Paulo Santiago [, ex-Alf Mil,  cmdt do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72] (****)

 (...) Acontece,algumas vezes, aparecerem postes que mexem comigo, precisando...emocionam-me. É o caso de hoje, com este poste do camarada Armando Pires,que entrou, em grande forma, para a Tabanca. Não é por causa da foto, onde apareço abrindo a boca do anfíbio bicharoco; não,o que me tocou mais fundo foi a recordação do Polidoro, pessoa que nunca mais encontrei após a minha saída de Bambadinca. 

Todos sabeis, já o escrevi várias vezes (****), o Ten-Cor Polidoro Monteiro foi talvez o  oficial superior, melhor, devo dizer, foi o único oficial superior que me mereceu respeito, e conheci vários. Estes vários que conheci, majores, tenentes-coronéis, quando íam ao Saltinho (é um ex.) utilizavam o heli, nada de ir em colunas, havia o pó e outras merdas mais complicadas... E aqui começa a diferença... Conheci o Polidoro, não em Bambadinca, conheci-o (e também ao Vacas de Carvalho)... no Saltinho, onde chegaram e de onde partiram numa coluna com o trajecto  Bambadinca-Mansambo-Xitole-Saltinho
e depois o trajecto inverso. 


Não sei a razão, mas em Bambadinca, havia, como dizer?, uma certa cumplicidade entre mim e o Polidoro.  Entendíamo-nos muito bem, já o mesmo não acontecia com o 2º comandante, o [major] Anjos de Carvalho, um militar emproado, bom para andar na parada, esperando ver um militar com menos atavio,ou que se esquecesse da
continência, para de imediato lhe foder a vida.

Agora a foto. Quem era o comandante de batalhão que se metia num Sintex e descia o Geba Estreito até Mato Cão? Só o Polidoro...e ficou lá a dormir nos buracos com o pessoal do Pel Caç Nat  63. Aquela faca no ombro direito, de que fala o Armando, é imagem de marca, julgo que nunca vi o Polidoro com outra farda que não fosse o camuflado, raramente com galões, contrariamente ao 2º comandante que sempre vi de calções, meia
alta e respectivos galões.



Agora vou "entrar" com o Armando quando cita aquela apresentação do Polidoro ("Não me tomem por piriquito que de guerra venho eu farto").  Oh Armando,  não terá sido assim: "
"C..., não me tomem por piriquito que de guerra venho eu farto" ? 
Ou assim: "Não me tomem por piriquito, c..., de guerra venho farto" ?.


Agora, ainda a propósito da foto, reparem no outro personagem,o Alf Mil Médico Vilar, "apanhado" na altura (...hoje... psiquiatra)... Olhem para a arma que segura: é uma carabina de caça 22...Não é que ele lhe acoplou aquela imensa baioneta (comprada na Feira da Ladra) de uma Kropatschek ?! (...)


4. Comentário do editor:


(...) Companhias de quadrícula do BART 2917 (Maio de 1970/Março de 1972) (comandado por Ten Cor Art Domingos Magalhães Filipe e depois por Ten Cor Inf João Polidoro Monteiro):

(i) CART 2714, sita em Mansambo (Cap Art José Manuel da Silva Agordela)

(ii) CART 2715, sita no Xime (Cap Art Vitor Manuel Amaro dos Santos, Alf Mil Art José Fernando de Andrade Rodrigues, Cap Art Gualberto Magno Passos Marques, Cap Inf Artur Bernardino Fontes Monteiro, Cap Inf José Domingos Ferros de Azevedo)

(iii) CART 2716, sita no Xitole (Cap Mil Art Francisco Manuel Espinha de Almeida) (...).

______________


Notas do editor:


(*) Vd. postes anteriores desta série:
21 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7313: As Nossas Tropas - Quem foi quem (6): Hélio Esteves Felgas, Maj Gen (1920-2008)

9 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 – P4313: As Nossas Tropas - Quem foi quem (5): João Bacar Jaló (1929-1971) (Benito Neves, Mário Fitas e João Parreira)


13 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3735: As Nossas Tropas - Quem foi quem (4): Cap Art Ricardo Rei, CART 1792: Lixaram-no, não passou de coronel (Joseph Belo)

21 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2569: As Nossas Tropas - Quem foi quem (3): João Bacar Djaló (1929/71) (Virgínio Briote)



4 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2239: As Nossas Tropas - Quem foi quem (2): António de Spínola, Governador e Comandante-Chefe (1968/73)

23 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2207: As Nossas Tropas - Quem foi quem (1): Vasco Lourenço, comandante da CCAÇ 2549 (1969/71) e capitão de Abril



(**) Vd. poste de 4 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4778: Tabanca Grande (168): Armando Pires, ex-Fur Mil Enf da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã (1969/70)


Vd.comentário ao poste de 10 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9021: História do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72): Resumo dos factos e feitos mais importantes, por João Polidoro Monteiro, Ten Cor Inf (Benjamim Durães)


(***) Vd. poste, da I Série > 26 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - XXVI: A malta do triângulo Xime-Bambadinca-Xitole (6) 

(****) Vd. comentário ao poste P4778. E ainda:

8 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3187: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (16): Instrutor de milícias em Bambadinca (Out 1971)

9 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3189: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (17): Instrutor de milícias em Bambadinca (Out 1971).

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P9021: História do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) (1): Resumo dos factos e feitos mais importantes, por João Polidoro Monteiro, Ten Cor Inf (Benjamim Durães)


In: História do Batallhão  de Artilharia nº 2917, de 15 de Novembro de 1969 a 27 de Março de 1972.


Referência à História do BART 2917, Bambadinca, 1970/72 - documento classificado como "reservado" - , segundo versão policopiada gentilmente cedida ao nosso blogue pelo ex-Fur Mil Trms Inf, José Armando Ferreira de Almeida, CCS/ BART 2917, Bambadinca, 1970/72, membro da nossa Tabanca Grande; o excerto que hoje se publica consta de outra versão, em suporte digital, corrigida, aumentada e melhorada pelo Benjamim Durães.  Com a devida vénia e com o nosso apreço por todos os camradas do BART 2917. L.G. (*)






Guiné > Zona leste > Sector L1 > Bambadinca > BART 2917 (1970/72) >  Aspeto exterior do aquartelamento, frente ao complexo das instalações do comando, da messe e quartos dos oficiais bem como da messe e quartos dos sargentos.




Guiné > Zona leste > Sector L1 > Bambadinca > BART 2917 (1970/72) > População fula em traje festivo






Guiné > Zona leste > Sector L1 > Bambadinca > BART 2917 (1970/72) >  Transporte de obuses 10,5 




Guiné > Zona leste > Sector L1 > Bambadinca > BART 2917 (1970/72) >  Ponte dos fulas, ou ponte sobre o Rio Pulon, destacamento do aquartelamento do Xitole (CART 2716)

Fotos: © Benjamim Durães (2010) / Legendas: L.G. Todos os direitos reservados



CAPÍTULO IV > APRECIAÇÃO DO COMPORTAMENTO GERAL DAS COMPANHIAS > DOCUMENTOS DIVERSOS
(...)

20DEZ71
BART 2917
BAMBADINCA
281800DEC71
                                                                                                                        3332/302.0



RESUMO DOS FACTOS E FEITOS MAIS IMPORTANTES DO BART 2917 [Bambadinca, 1970/72]

REFª: NEP OP do QG/COMCHEFE - PRO 32 ACOPU
Circular nº 5024/C, Procº 39.80, 35.31.00, 31.31.1, de 24NOV71 do QG/COMCHEFE (REP OPER).



1 – GENERALIDADES

a) – Tendo por divisa P’LA GUINÉ E SUAS GENTES, o BART 2917 saído de LISBOA em 17MAI70, a bordo do N/M CARVALHO ARAÚJO, desembarcou em BISSAU em 25MAI70 e assumiu a responsabilidade do SECTOR L-1 em 08JUN70.

b) – Tendo como Unidades orgânicas além da CCS – sediada em BAMBADINCA, a CART 2714 – sediada em MANSAMBO, a CART 2715 – sediada no XIME e a CART 2716 – sediada no XITOLE.

O BATALHÃO recebeu em reforço a CCAÇ 12, o PEL MORT 2106, o PEL DAIMLER 2206, o PEL CAÇ NAT 52, o PEL CAÇ NAT 54, o PEL CAÇ NAT 63, o 20º PEL ART, a COMPANHIA DE MILÍCIAS nº 1, com os seus PELOTÕES nºs 241, 242 e 243.


Trabalhando em proveito de todo o Sector Leste mas apoiados disciplinar, administrativa e em viaturas pelo Batalhão encontram-se sediados em BAMBADINCA o DEPAE 1 e um destacamento de Intendência [PIAD 2189].

c) – Em 18DEC70 entra em Sector o PEL MORT 2268 indo sediar em BAMBADINCA, em substituição do PEL MORT 2106 que, por ter terminado o seu tempo de comissão na Província da Guiné, regressou à Metrópole.

Este Pelotão mantém destacadas 09 ESQ (-) colaborando na defesa dos aquartelamentos e destacamentos a seguir indicados.

- MANSAMBO
- XIME
- XITOLE
- ENXALÉ
- MATO DE CÃO
- PONTE DO RIO PULON
- TAIBATÁ
- CAMBESSÉ
- MISSIRÁ

d) – Em 05AGO71 é criado o CIMIL (Centro de Instrução de Milícias) de BAMBADINCA que fica à responsabilidade do Batalhão.

e) – Em DEC71 entrou em Sector o PEL DAIMLER 3085, em substituição do PEL DAIMLER 2206 que havia terminado a sua comissão de serviço no Província da Guiné regressando à Metrópole.

f) – Em 25OUT71, foram sediar em CANDAMÃ e ENXALÉ, os PMIL (Pelotões de Milícias) 308 e 309, respectivamente formados no Centro de Instrução de Milícias de BAMBADIINCA.

g) – Em 25DEC71 após o término do 3º Turno/71 da instrução de Milícias em BAMBADINCA foi sediar no ENXALÉ o GEMIL 310 (Grupo Especial de Milícias) formado no Centro de Instrução de Milícias de BAMBADINCA.


h) – O Centro de Instrução de Milícias de BAMBADINCA já formou, além dos GEMIL 309, 310 e PMIL 308 atribuídos, ao seu Sector, os seguintes para outros sectores:

                   os PMIL  315 e 316 para o SECTOR L-5;
                   GEMIL 323 para o SECTOR L-4.


- Em 17JAN72 iniciará a instrução de PELOTÕES DE MILÍCIAS para DEBA, CAMPADA e PONTA AUGUSTO DE BARROS.

i) – O BATALHÃO prestou o seu apoio ao Centro de Instrução de “COMANDOS AFRICANOS” quando em funcionamento em FÁ MANDINGA.

j) – É o seguinte o dispositivo actual do BART 2917:

- BART 2917                                                                                                 BAMBADINCA
– CCS (-)                                                                                                     BAMBADINCA
- 1 PELOTÃO                                                                                       NHABIJÕES 
– CCAÇ 12                                                                                                 BAMBADINCA
–CART 2714 (-)                                                                                         MANSAMBO
- 1 PELOTÃO                                                                                    XIME
– CART 2715 (-) REF C/ 1 PEL CART 2714                                          XIME
- 1 PELOTÃO                                                                                       ENXALÉ
- 1 PELOTÃO                                                                                       PONTE RIO UDUNDUMA 
– CART 2716 (-)                                                                                        XITOLE
- 1 PELOTÃO                                                                                       PONTE DO RIO PULON
- 1 SECÇÃO                                                                                         CAMBESSÉ
– PEL CAÇ NAT 52                                                                                   MISSIRÁ
– PEL CAÇ NAT 54                                                                                   FÁ MANDINGA
– PEL CAÇ NAT 63                                                                                   MATO DE CÃO
– PEL REC DAIMLER 3085                                                                     BAMBADINCA
– 20º PEL ART / GAC 7 (10,5 cm)                                                         XIME
– PEL MORT 2268 (-)                                                                               BAMBADINCA
- 1 ESQ (-)                                                                                          MISSIRÁ
- 1 ESQ (-)                                                                                           MANSAMBO
- 1 ESQ (-)                                                                                           XIME
- 1 ESQ (-)                                                                                           ENXALÉ
- 1 ESQ (-)                                                                                           TAIBATÁ
- 1 ESQ (-)                                                                                           XITOLE
- 1 ESQ (-)                                                                                           PONTE DO RIO PULON
- 1 ESQ (-)                                                                                           CAMBESSÉ
- 1 ESQ (-)                                                                                           MATO DE CÃO
– COMPANHIA DE MILÍCIAS DO CUOR (-)                                            MADINA BONCO
- PEL MILÍCIAS 201                                                                                FINETE
- PEL MILÍCIAS 202 (-)                                                                           MISSIRÁ
           - 01 SECÇÃO                                                                                    MATO DE CÃO 
- PEL MILÍCIAS 203 (-)                                                                           MADINA BONCO
- 1 SECÇÃO                                                                                        BISSAQUE
- 1 SECÇÃO                                                                                        SANSANCUTA 
– COMPANHIA DE MILÍCIAS DO XIME (-)                                            TAIBATÁ
- PEL MILÍCIAS 241                                                                               AMEDALAI
- PEL MILÍCIAS 242                                                                               TAIBATÁ
- PEL MILÍCIAS 243                                                                               DEMBA TACÓ
- PEL MILÍCIAS 308 (-) / COMP MIL DO CORUBAL                            CANDAMÃ
- 2 SECÇÕES                                                                                     AFIÁ
– GEMIL 309 (COMP MIL DE PORTO GOLE)                                       ENXALÉ
– GEMIL 310 (COMP MIL DE PORTO GOLE)                                       ENXALÉ

k) – O BART 2917 será rendido na Província pelo BART 3973 cujo desembarque está previsto para 28DEC71.

A CCS / BART 2917 será substituída em Bambadinca pela CCS / BART 3873
A CART 2714 será substituída em Mansambo pela CART 3493
A CART 2715 será substituída no Xime pela CART 3494
A CART 2716 será substituída no Xitole pela CART 3492


2 – DOS FACTOS E DOS FEITOS

a) – Com o IN armado:

1 – O BART 2917 realizou inúmeras acções e operações procurando o IN armado afim de capturar ou destruir os seus elementos ou, ao menos criar-lhe insegurança nos seus redutos;

Dessa actividade ofensiva são de salientar as Operações:

“BACIA DESERTA”                                 [16 AGO 70]
“BOINAS DESTEMIDAS”                       [01 OUT 70]
“ABENCERRAGEM CANDENTE”         [25 e 26 NOV.70]
“TURRA”                                                 [ ?]
“ARRUAÇA DOURADA I”                     [18 e 19 FEV 71]
“ARRUAÇA DOURADA II”                    [21 e 22 FEV 71]
“RATO TRAQUINAS”                            [28 FEV 71]
“ESTRELA GALANTE”                         [14 MAR 71]
“CAÇADA EFICAZ”                              [19 e 20 MAR 71]
“CORRIDA ENTUSIÁSTICA”               [27 e 28 MAR 71 e 03 e 04 ABR 71]
“ESCALADA GIGANTE”                      [ 03 e 04 ABR 71 ]
“TRIÂNGULO VERMELHO                  [04 e 05 MAI 71]
“GATO IRREQUIETO”                          [18 MAI 71]
“TANTA VESPA”                                  [07 JUL 71]
“QUADRILHA SAGAZ”                        [11 e 12 JUL 71]
“AVANTE CAMARADAS”                    [ ?  ]
“BALADA DIURNA”                             [  ? ]
“DRAGÃO FEROZ”                               [02, 03 e 04 OUT 71]
“APANHA CHUVA”                              [23 e 24.OUT 71]
“TARECO VILÃO”                                [02, 03, 04, 05, 06 e 07 NOV 71]

2 – O INIMIGO

- Flagelou por 39 vezes os aquartelamentos e destacamentos das NT:

XIME                                                            11
MANSAMBO                                                06
XITOLE                                                        05
MATO DE CÃO                                            04
PONTE DO RIO PULON                              04
ENXALÉ                                                       04
NHABIJÕES                                                02
AMEDALAI                                                  01
DEMBA TACÓ                                             01
CAMBESSÉ / SINCHÃ MADIU                   01

- Reagiu à actividade de penetração das NT em operações ou acções 22 vezes.

- Colocou 22 engenhos explosivos, dos quais 13 foram detectados e levantados e 09 foram accionados pelas NT.

- Flagelou uma vez os trabalhos de construção da estrada BAMBADINCA – XIME em PONTA COLI.

- Flagelou por cinco vezes embarcações navegando no Rio GEBA “Estreito”.

- As suas acções causaram:

- 16 mortos e 89 feridos às NT.
- 03 mortos, 31 feridos e 01 desaparecido à população controlada pelas NT.
- estragos importantes num barco e ligeiros em dois outros.

3 – O BATALHÃO aos grupos armados IN:

- Causou 13 mortos confirmados, além de mais de 50 prováveis, e de inúmeros feridos confirmados.
- Apreendeu o seguinte material:

- 01 MET LIG DEGTYAREV
- 01 PM M-25
- 1 PM PPSH
- 02 ESP MOSIN NAGANT
- 11 MINAS A/P PMD-6
- 02 MINAS A/C
- 09 GR RPG-2
- 02 GR RPG-7
- 04 GR CAN S/R
- 01 GR MORT 61

- Retirou violentamente ao seu controlo 45 elementos da população.

- Obteve a apresentação voluntária nos seus quartéis e destacamentos de 87 elementos da população controlada pelo IN: [38 homens, 30 mulheres e 19 crianças].

- Emboscou-o repetidamente evitando, ou ao menos dificultando os seus movimentos.

b) – Com a população:

- Certo de que o progresso sócio-económico das nossas populações é a única arma capaz de conseguir a repressão da subversão o BART:

1 – Garantiu a segurança dos trabalhos da construção da estrada BAMBADINCA – XIME, apenas permitindo que o IN fizesse uma (01) única flagelação ao  pessoal e meios técnicos empenhados nas terraplanagens causando uma interrupção de uma (1) hora em cerca de um ano de trabalhos.

- Do tráfego da estrada XIMA – BAFATÁ dentro do seu Sector apenas permitindo em PONTA COLI a flagelação a uma (01) viatura civil sem consequências, e a flagelação a uma (01) manada de vacas, também sem consequências, movimentos estes que eram desconhecidos do BART.

- Da navegação no RIO GEBA “Estreito”, apesar de quase diariamente ali navegarem diversas embarcações, numa média diária que ultrapassa as três (03) unidades, o IN apenas conseguiu flagelar cinco (05) embarcações das quais apenas de uma (01) se conhecia a passagem.

- Das populações reordenadas apenas consentindo 02 flagelações ao Reordenamento dos NHABIJÕES, e uma (01) a cada uma das A/D seguintes: AMEDALAI, DAMBA TACÓ e CAMBASSÉ.

2 – Promoveu por sua iniciativa a ocupação de MATO DE CÃO a fim de aumentar a segurança da navegação no RIO GEBA, evitar as flagelações ao Reordenamento dos NHABIJÕES, e criar condições de segurança para os trabalhos agrícolas nas ricas bolanhas anexas, provocando a apresentação dos seus antigos habitantes quase todos ainda sob controlo IN.

3 – Manteve em funcionamento os P.E.M. (**) existentes quando da sua entrada em Sector (NHABIJÕES, FÁ MANDINGA, XIME, ENXALÉ, XITOLE e MANSAMBO) e impulsionou a criação e mantém em funcionamento mais dez (10) P.E.M.  (CANDAMÃ, MISSIRÁ, SINCHÃ MADIU, DEMBA TACÓ, MERO, GANHOMA, AFIÁ, SINCHÃ MAMAJÃ, DEMBATACOBÁ e SAMBA JULI).

No total de 16 P.E.M.  estão matriculados e frequentam as aulas

- 496 crianças na classe pré-primária;
- 249 crianças na 1ª classe;
- 050 crianças na 2ª classe, e;
- 027 crianças na 3ª classe.

4 – Reparou ou reconstruiu abrigos e redes de arame farpado nas tabancas em A/D.

5 – Construiu grande parte do Reordenamento dos NHABIJÕES (elevou as paredes de 287 casas a abertura de 106 abrigos para a população e sua ulterior cobertura encontra-se praticamente concluída;) levantou as paredes da Escola da Administração, etc. etc. etc.).

6 – Edificou 4 escolas definitivas para P.E.M. e construiu 08 provisoriamente.

c) – Como Órgão Logístico:

- O BATALHÃO garantiu:

1 – Descarregar e transportar para os locais de armazenagem em BAMBADINCA de todos os reabastecimentos e materiais destinados às Unidades do Leste e manuseados os Portos do XIME e BAMBADINCA.

2 – Armazenar e garantir o correcto encaminhamento de todos os materiais e a reabastecimentos referidos em 1) – com excepção de alguns materiais de engenharia (a cargo do DEPAE1) e de todos os géneros e artigos de cantina (a cargo do Destacamento de Intendência local – PIAD 2189).

3 – Carregar nos portos do XIME e BAMBADINCA todo o material evacuado do SECTOR LESTE.

4 – O pronto embarque e desembarque de todas as Unidades que desde 08.JUN.70 entraram ou saíram do SECTOR LESTE por via fluvial.

5 – Encaminhar para os seus destinos todo o pessoal militar não enquadrado que embarque ou desembarque no XIME e em BAMBADINCA.

6 – Adquirir, retirar da mata e embarcar no XIME rachas de cibo destinadas em BENG 447.

7 – Reabastecer não só as suas Companhias mas também, com excepção de um curto período, a CCAÇ 2701, (no SALTINHO, do BCAÇ 2912) do vizinho Sector L-5.


    O COMANDANTE
JOÃO POLIDORO MONTEIRO (***)
         TEN COR INF
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Notas do editor:


(*) Vd. poste anterior, com excertos deste documento > 16 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6601: Elementos para a caracterização sociodemográfica e político-militar do Sector L1 (6): Povoações sob controlo IN; Recursos; Clima e meteorologia; Dispositivo e actuação da guerrilha (Benjamim Durães / J. Armando F. Almeida / Luís Graça)


(**) P.E.M. = Postes Escolares Militares, segundo creio...  Os PEM fazem referência a tabancas em autodefesa, com programas de desenvolvimeno socioeconómico, e onde há crianças que frequentam o ensino primário (ministrado por militares).  


(***) Último comandante do BART 2917. Oficial superior da confiança do Gen Spínola, corajoso, competente, desassombrado, truculento, usando e abusando da linguagem de caserna. O único, de resto, que vi, de arma na mão, a meu lado, no Sector L1, no tempo em que lá estive (Julho de 1969 / Março de 1971)... Já morreu. O  Jorge Cabral e o Paulo Santiago privaram com ele… Há vários postes publicados, fazendo referência ao Ten Cor de Infantaria João Polidoro Monteiro.


O BART 2917 foi mobilizado pelo RAP 2. Embarciou para a Guiné em 17/5/1970 e regressou à Metrópole em 24/3/1972. Foi colocado no Sector L1, em Bambadinca, substituindo o BCAÇ 2852 (1968/70). O seu primeiro comandante foi o Ten Cor Art Domingos Magalhães Filipe. Unidades de quadrícula:  CART 2714 (Mansambo);  CART 2715 (Xime; teve 5 comandantes); e CART 2716 (Xitole).