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quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Guiné 61/74 - P21295: Efemérides (334): O Dia do Combatente Limiano, em 24 de agosto de 2020, foi partilhado com um "anjo da guarda", Rosa Serra (Mário Leitão)

Ponte de Lima > 24 de agosto de 2020 > Mário Leitão e Rosa Serra, dois ilustres membros da nossa Tabanca Grande.


Fotos (e legenda): © Mário Leitão (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de hoje, às 1h42, do Mário Leitão [ex- Fur Mil na Farmácia Militar de Luanda, Delegação n.º 11 do Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos (LMPQF), 1971 a 1973; famacêutico, membro da nossa Tabanca Grande; autor, entre outros, do livro "História do Dia do Combatente Limiano", lanaçdo o ano passado Museu da Farmácia, em Lisboa]

Caro Luís! Um abraço!

Que grata surpresa ter sido visitado pela Alferes Paraquedista Enfermeira Rosa Serra, neste 24 de Agosto, dia de S. Bartolomeu! 

Fez hoje 7 anos que iniciamos a homenagem anual do Dia do Combatente Limiano, que, na celebração de 2018,  contou com a presença dessa distinta Camarada Paraquedista.

Também esteve a meu lado no Museu da Farmácia, quando a ANF apresentou o livro "Heróis Limianos da Guerra do Ultramar", no qual ela está referida a propósito da evacuação do Sold António Capela, durante a Operação Ostra Amarga.

Eis três empolgantes momentos da minha vida partilhados com um Anjo da Guerra, em que a emoção e o registo histórico se configuram numa saborosa herança para deixar aos meus netos!

Sentes a minha vaidade?

Grande abraço, camarada!

Fur Mil Farmácia Mário Leitão
(Luanda, 71/73)

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Nota do editor:

Último poste da série > 4 de agosto d3 2020 > Guiné 61/74 - P21224: Efemérides (333): Foi há 54 anos que parti para o CTIG, no T/T Uíge, para ir formar em Bolama o Pel Caç Nat 54 (Jose António Viegas)

sábado, 22 de agosto de 2020

Guiné 61/74 - P21281: Os nossos seres, saberes e lazeres (407): No Alto Minho, lancei âncora na Ribeira Lima (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Março de 2020:

Queridos amigos,
Hoje é dia da primeira saída de Ponte de Lima. É uma estranha sensação ter andado catorze anos a ler periodicamente os jornais de Viana, Ponte da Barca ou de Arcos de Valdevez, entre outros, tudo esmiuçado, até a necrologia, sempre que se falava numa publicação, havia que fazer um telefonema para encomendar a obra, o primo em Viana do Carlos Miguel ficava responsável pelo caudal das compras, casos havia em que eu telefonava para bibliotecas e arquivos, começava um tempo de impaciência até chegarem as obras, tudo quanto se publicava sobre o Alto Minho tinha prioridade.
O Carlos Miguel tinha os seus ciclos nostálgicos, umas vezes dizia-me que não queria morrer sem que lêssemos certas obras, a tudo eu dizia que sim, e lembro-me perfeitamente de um dia ele me ter dito que já não sabia onde tinha posto a Casa Grande de Romarigães, de Aquilino Ribeiro, perguntei-lhe se achava bem a minha edição com ilustrações de João Abel Manta, estou ainda a vê-lo com uma pose quase religiosa quando comecei: "Quando se procedeu ao restauro da casa grande, que foi solar dos Meneses e Montenegros, houve que demolir paredes de côvado e meio de bitola em que há um século lavrava a ruína, ocasionando-lhes fendas por onde entravam os andorinhões de asas abertas e desníveis com tal bojo que a derrocada parecia por horas. Num armário, não maior que o nicho de um santo, embutido na ombreira da janela, que a portada, em geral aberta, dissimulava atrás de si, encontrou-se uma volumosa rima de papéis velhos".
E começou uma nova saga de leitura, peripécia vivida ali para os lados de Paredes de Coura.

Um abraço do
Mário


No Alto Minho, lancei âncora na Ribeira Lima (3)

Mário Beja Santos

Hoje é dia de Ponta da Barca, mas sem ir ao Lindoso. Dentre as assinaturas que o meu saudoso amigo Carlos Miguel de Abreu de Lima de Araújo fazia de jornais de imprensa regional constava o Notícias da Barca, que lhe lia religiosamente quando chegava. Não é a primeira vez que venho à região, em férias no Gerês era inevitável passar pelo Soajo e, sempre que possível, parar aqui para admirar a ponte e o casco histórico em Alto Minho, Carlos Ferreira de Almeida refere: “Rústico, montanhês, mas também fidalgo, o concelho de Ponte da Barca tem uma curiosa evolução. Na Idade Média, quando o transporte fluvial no Lima era relativamente intenso, Barca era, a jusante, o último embarcadouro possível. Desde a foz até aqui, o rio desliza, brando, serpenteando entre margens de salgueiros e bancos de areia. Daqui para montante, o Lima corre em leito geralmente baixo, com bastantes pedras e saltando de degrau em degrau”. Agora percebe-se como é itinerário apetecível para a lampreia. Tudo foi feito para aqui amesendar, o dia está relativamente acinzentado, para fazer horas para o almoço e despertar o apetite nada melhor que subir a ladeira e descer até ao rio. Se é verdade que o lugar relevante do seu património vai para a ponte, há muito a ganhar em visitar a Matriz, deve o seu risco ao engenheiro vianês Manuel Pinto de Vilalobos, harmoniosamente posicionada, com escadaria monumental, capelas laterais, valioso recheio, altar-mor rococó e cá fora brasão. Antes de lá chegar deu-se com quinta fidalga, coisa que não é nada incomum por estas bandas.






Ferreira de Almeida, muito curiosamente, entronca a vida rural circunvizinha a este casco histórico, os Paços do Concelho, dos meados do século XVIII, a Casa dos Farias, com muro fronteiro, ameado e brasonado, e a Casa de Santo António, edifício da segunda metade de 700, dotado de uma bela fachada e capela lateral com retábulo da época. É sabido que há farta discussão sobre a terra-berço de Diogo Bernardes, há a crença de que o bardo, figura-suprema do bucolismo, nasceu na margem direita do Lima, numa casa pertencente à família dos Pimentas, a Casa da Prova de Baixo e a da Prova de Cima, à cautela, e por pura ignorância na matéria, abstenho-me de comentários, seja o que Deus quiser. Segue o passeio e encontram-se belos azulejos a decorar o portão de casa da vila, irresistível não captar a imagem pela elegância dos desenhos e cores. E fica-se especado a contemplar a Capela de Nossa Senhora da Lapa, lá está bem à vista o brasão de armas dos Magalhães, confrange o mau estado relativo deste templo que transita do maneirismo para o barroco, paciência, é elegante e um dia terá obras.



Desce-se até à ponte, e dá-se a palavra ao que escreve Carlos Ferreira de Almeida: “A ponte tem um lugar relevante por ser, no género, uma das mais notáveis obras construídas no Portugal medieval. Ela é um singularíssimo exemplo de quanto uma arquitetura modifica uma paisagem que lhe cria novos volumes e outros pontos referenciais. Aí, nada ficou igual depois da sua construção. Com perto de duzentos metros de comprido de dez amplos arcos, apoiados em fortes pilares com talha-mares, conservando a altura dos primeiros templos, esta obra teve duas grandes reformas, uma nos fins do século XIX que visou o alargamento do seu piso e outra, em 1761, reconstruiu e modificou os dois arcos centrais. Da construção medieval conservam-se oito arcadas, ligeiramente quebradas. São as que se apoiam nos pilares que apresentam olhais. Foi, sem dúvida, uma obra inspirada no prestigiado modelo da de Ponte de Lima”.




Ponte da Barca tem, desde o século XVIII, feira quinzenal, que alterna com a dos Arcos de Valdevez. Junto da ponte há um edifício icónico que alguém da terra disse ser conhecido pelo velho mercado. O que importa é que está muito bem requalificado, e ali bem perto desponta, bem garboso, o pelourinho. Não deixa de ser curioso quando andei a arrecadar literatura avulsa sobre o verdejante Alto Minho encontrei uma brochura alusiva em que era o castelo de Lindoso a proposta mais apetecível para fazer turismo. Será, a visita fica para a próxima, o próximo agora é ir para a mesa e saborear rojões, à tarde quero passar por Bravães e mais alguma coisa, o meu saudoso amigo disse-me um dia que é preciso olhar para Bravães para perceber o sentimento português. Assim seja.


Imagine o leitor, e tome isto como ciência certa, que após o obrigatório caldo verde e a pratada de rojões e um café abagaçado para esmoer as banhas da fritura, se veio para a rua para passeio pedestre à beira Lima e seguir para outras paragens. A roda do destino trocou as voltas, andava-se por ali naquela amenidade a ouvir as águas revoltas do Lima quando se começaram a soltar as notas das concertinas, era festa rija com certeza, talvez romaria ou filarmónica a desfilar. Fui ver, e dali não saí e uma hora passou veloz. Não se percebe o minhoto sem a música e o baile. No interior da farta tenda concentrava-se no centro, em círculo, os mestres da concertina, jovens e adultos de diferentes idades, viola e creio que um reco-reco. A alegria dos bailantes era esfusiante. Como quem não sabe é como quem não vê, cheguei-me a alguém que era nitidamente da terra e que cumprimentava, prazenteiro, quem chegava e quem partia. Que festa era aquela, seria o orago da terra, quando se realizavam os bailes e outras perguntas adjuvantes. O dito senhor mirou o forasteiro e deu-lhe as seguintes explicações ou coisa parecida: “Meu caro senhor, o minhoto sem bailarico não pode andar alegre. O que aqui vê acontece todos os domingos, começa por esta hora e vai até os músicos e os bailantes se cansarem. Está-nos na alma este ritmo, este modo de dar ao corpo, temos diferentes modalidades de música folclórica, dança-se aos pares, as concertinas aceleram e anda tudo num rodopio. Onde há minhoto há concertina, temos ranchos folclóricos em todas as povoações, a música está-nos no sangue”. E ali estive, compartilhando à distância o que de vibrante há nos sentimentos lúdicos minhotos. E agora, não sem algum pesar, deixa-se esta festa para ir até Bravães, convém não esquecer que esta rota de saudade tem por mercê um limiano, um tanto vianês, que amou o seu terrunho até ao último dia da sua vida, e de quem fui cúmplice catorze anos a fio, lendo-lhe os jornais, os livros, as revistas, e ele escutava, fazia comentários, regressava até à Casa da Feitosa, guardava infinitas saudades, as tias, os primos, a consoada. E a viagem prossegue.


(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 15 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21256: Os nossos seres, saberes e lazeres (406): No Alto Minho, lancei âncora na Ribeira Lima (2) (Mário Beja Santos)

sábado, 15 de agosto de 2020

Guiné 61/74 - P21256: Os nossos seres, saberes e lazeres (406): No Alto Minho, lancei âncora na Ribeira Lima (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Março de 2020:

Queridos amigos,
Recém-chegado, começo a sentir que o Lima é a veia cava deste povoado que se pode orgulhar de fazer parte do berço da nacionalidade. Aqui estou, em respeitosa memória de um querido amigo nonagenário que me deixou inconsolável com a sua partida. Era um homem de cultura desmesurada, nela cabiam o sebastianismo, as querelas sobre as origens de Cristóvão Colombo, o integralismo lusitano, toda a história do Estado Novo e mais recentemente o espetro das direitas radicais em Portugal, mas também a literatura contemporânea, o surrealismo literário e as suas respetivas Artes Plásticas, o fim da monarquia e toda a questão monárquica desde a morte de D. Manuel II. Foram catorze anos de leituras onde se saltava de Paiva Couceiro para a correspondência entre Mário Cesariny e Maria Helena Vieira da Silva, os jornais do Alto Minho eram um enxame de abelhas, possuo a cátedra da informação, até a necrologia se lia. Fui igualmente seu confidente, e recordo um episódio quase truculento já que o seu espetro de curiosidades abrangia a genealogia e a heráldica. Um dia, numa dessas reuniões de aficionados da genealogia, o Carlos Miguel ouvia um certo Peixoto, não sei se de Penalva do Castelo ou Paredes de Coura, gabava-se de ter familiares já identificados do século XVI, o Carlos Miguel respondeu-lhe que era descendente de D. Afonso Henriques. Embasbacado, o tal Peixoto pediu-lhe o como e o porquê. "Meu caro senhor, o nosso primeiro rei teria, se tivesse, aí uns 40 ou 50 mil portucalenses no território. Há notícia que bastardos eram pelo menos 50, não me venha dizer que não me coube uma pinga de sangue real...". O Peixoto emudeceu. Ultraconservador, não se cansava de elogiar os romances de José Saramago. Era assim que praticava a integridade, não se coibindo, por vezes, de ser truculento, mas sempre se arrependia.
Por isto e por muito mais, estou feliz por ter vindo a Ponte de Lima.

Um abraço do
Mário


No Alto Minho, lancei âncora na Ribeira Lima (2)

Mário Beja Santos

Em quantas leituras a Carlos Miguel de Abreu de Lima de Araújo apareceu a Ribeira Lima? Não têm conta. Na obra Alto Minho, do professor Carlos Alberto Ferreira de Almeida, o cântico do lugar é muito poderoso, o que é geografia prevalece: “A mais bucólica e celebrada ribeira portuguesa, a do Lima, a de Diogo Bernardes e António Feijó, tem o seu coração em terras de Ponte. É na área deste concelho que as suas veigas e alvéolos se abrem mais, oferecendo-nos, entre as encostas abruptas da Serra d’Arga e os cumes do Oural, um enorme anfiteatro que o rio drena, axializa e parece não querer deixar”. De facto, há qualquer coisa de magnético, passeia-se na Avenida dos Plátanos, o olhar pode ir até ao fundo, até aos esporões da Serra de Antelas, mas é sempre o Lima a que nos fixamos. Aqui começa a caminhada do dia de hoje, deixa-se para depois o casco histórico, passou a ponte romana e medieval, as torres da Cadeia Velha e de São Paulo, há a esperança de bisbilhotar o Teatro Diogo Bernardes, será imperioso, em homenagem ao meu querido amigo recentemente partido visitar a Biblioteca Municipal e o arquivo, por ora contempla-se a fachada da Igreja de Nossa Senhora da Guia, de um barroco sóbrio, está fechada, não terei nesta viagem circunstância de admirar os seus belos azulejos. Avança-se então para o Museu dos Terceiros.




Este museu é uma referência na Arte Sacra no norte do país, reabriu em 2008, quem visite Ponte de Lima tem tudo a ganhar com a sua visita. Há o museu e há o jardim, a vila mais antiga de Portugal dá enormes sugestões para a Rota das Camélias, ainda irei encontrar muitas.


O museu encontra-se instalado em duas casas religiosas associadas à Ordem Franciscana: o extinto Convento de Santo António dos Capuchos e o edifício da Ordem Terceira de São Francisco. É indissociável da história de Ponte de Lima pois a parte remanescente do convento foi fundada em finais do século XV por D. Leonel de Lima, alcaide da vila, formada por igreja, por capela da Senhora da Graça e pela sacristia. Riqueza não falta à igreja e até pormenores que assombram. Ora vejam.


A sacristia é de uma enorme exuberância, vem na sequência da igreja da Ordem Terceira, edificada entre 1745-1747, aqui se podem contemplar riquezas em retábulos, púlpitos e sanefas de desenho rococó. É para ver e não esquecer.





O museu foi constituído na década de 1970, com a criação do Instituto Limiano – Museu dos Terceiros. O restauro foi decidido em 2002 e aqui fica uma pálida amostra deste património espetacular.





Ponte de Lima tem a fama e o proveito dos belos jardins, das camélias, azáleas e rododendros, entre outra flora maravilhosa. A Avenida dos Plátanos, oferecendo sombra no verão, contraste de folhas no outono e o seu tapete de folhas caídas ou plátanos nus, sempre majestosos, como agora os vejo, é um dos ícones este mundo florido de jardins, parques e praças, mas também de largos e casas, como iremos ver adiante na Casa de Nossa Senhora da Aurora. Este é o Jardim dos Terceiros, a beijar o Convento de Santo António e dos Terceiros, são uma recuperação, houve estudo que veio permitir uma simulação do provável traçado do antigo jardim. Os jardins conventuais não eram local por onde qualquer um deambulasse, serviam para contemplação e cultivo de plantas medicinais e de temperos. Por isso este jardim que ora percorro organiza-se em espaços de cultivo de plantas medicinais, temos também o jardim dos cheiros e o jardim dos temperos. Está na hora de almoçar, apetece-me um bom caldo verde e uns filetes com aquele arrozinho sem igual que acompanha qualquer prato, depois uma pequena volta pela vila e segue-se para Ponte da Barca.

Jardim dos Terceiros

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21235: Os nossos seres, saberes e lazeres (405): No Alto Minho, lancei âncora na Ribeira Lima (1) (Mário Beja Santos)

sábado, 8 de agosto de 2020

Guiné 61/74 - P21235: Os nossos seres, saberes e lazeres (405): No Alto Minho, lancei âncora na Ribeira Lima (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Março de 2020:

Queridos amigos,
Com exceção do período das férias, todas as semanas durante os últimos catorze anos acompanhei um querido amigo nonagenário que perdera a visão, mas recrudescera em curiosidade pelos livros e pelas Artes Plásticas. Correspondi sempre aos livros que queria ler, fundamentalmente tudo aquilo que aparecia no mercado e que lhe merecia o entusiasmo imediato: os trabalhos sobre as direitas portuguesas, o surrealismo literário e plástico português, as polémicas sobre o Cristóvão Colombo português, os novos estudos sobre Eça de Queirós e Camilo Castelo Branco, e muitíssimo mais. Mas Ponte de Lima e também Viana do Castelo, onde estudou, lhe suscitava imensa curiosidade. Daí a correnteza de jornais que lhe lia todas as semanas, com destaque para A Aurora do Lima e Cardeal Saraiva, mas não faltavam as publicações periódicas limianas.
Isto para significar que fui a Ponte de Lima todas as semanas sem nunca lhe ter posto os olhos em cima. Este meu querido amigo partiu, para meu profundíssimo desgosto, e fui-lhe dar esta satisfação, mais não lhe posso fazer como forma de agradecimento do muito que lhe fico a dever.

Um abraço do
Mário


No Alto Minho, lancei âncora na Ribeira Lima (1)

Mário Beja Santos

Durante cerca de catorze anos, uma, duas ou até três vezes por semana, fiz leituras a um grande amigo que tinha perdido a visão, o limiano Carlos Miguel de Abreu de Lima de Araújo, morreu nonagenário em janeiro de 2020. Lia-lhe o que ele me pedia, logo dois jornais, o Aurora do Lima e o Cardeal Saraiva, mantinha-se permanentemente informado sobre o que se passava na terra-berço, e logo que se noticiava uma publicação havia que a encomendar. Chegavam revistas como a Limiana e o Anunciador das Feiras Novas, eram outros meios de convívio em que eu me via envolvido. Mal surgia um título sobre o poeta António Feijó, por exemplo, era indispensável adquiri-lo depressa e lê-lo quase de um só fôlego. Isto para dizer que Ponte de Lima, a mais antiga vila de Portugal, tem andado comigo sem eu nunca, até agora, lá ter posto os pés. E jurei a mim próprio, quando o meu querido amigo partiu para as estrelinhas, que iria até este Alto Minho que conheço aos farrapos, iria lembrá-lo em sede própria, era este o último penhor de amizade que queria cumprir. E em 6 de março parti, era algo como uma romagem de saudade, de confirmação, de paraninfo. E um deslumbramento aconteceu nesse universo que incidentalmente conheci na juventude através de um grande poeta que se estudava em literatura portuguesa, no então sexto ano do liceu, Diogo Bernardes, nascido talvez na Ponte da Barca ou em Ponte de Lima, mas que cantou essas terras vicejantes, verdejantes. Aqui estou num alojamento local, sito na Rua do Souto, impossível não captar esta rua algo medieval, na continuidade, tudo aqui aparenta respeito pelo património. Desço e vou até à igreja primaz, tem a escultura do Cardeal Saraiva (que foi cardeal patriarca) ali ao pé. Ao fundo, avisto o Lima, esse formidável Lima, que li ao meu querido amigo cego, milhentas vezes.


O portal, belíssimo, é tardo-gótico, com grande equilíbrio e sobriedade, o templo foi alvo de imensas alterações, a rosácea que se sobrepõe é relativamente recente, mas de modo algum desfeia a singeleza da fachada, pelo contrário.


Entra-se no templo e uma litografia logo prende a atenção, faz parte de um tempo em que eu já vivi, com anjos da guarda a proteger criancinhas, havia imagens da Imaculada Conceição e muito mais. Empolga-me a fé dos homens, a sua capacidade de moldar graças às Artes Plásticas figuras que nos possam fazer entender um quadro de mentalidade e de valores, este São José parece tirado da imagem de um cavalheiro do princípio do século XX, não interessa esta conjetura, é a imagem cativante que fica, pronta para a exultação da Sagrada Família.


Sei que aqui voltarei outras vezes, o que importa é que avanço pela nave central até à cabeça do templo e não resisto a fixar o contraste das luzes entre as paredes laterais e o abobadado, é tudo lavra severas só quebrada pelas riquezas do altar.


Logo à saída do templo, temos a atração pela esplendorosa esplanada que vai beijar o rio Lima, é inevitável olhar à direita para o seu ex-líbris, uma ponte medieval que entronca numa ponte romana, do lado de Arcozelo. Mas fica-se especado a ver os restos dos panos de muralha que se adossam a edifícios, não é chocante. A imagem permite ver ao fundo do lado esquerdo a Igreja da Misericórdia, uma congregação que tem grande peso na vila mais antiga de Portugal.


Ouve-se ao fundo um rumor de música, tipicamente minhota, não há que enganar, e o grupo avança, é dia fasto para apresentar a concertina, as violas e o reco-reco, os sons troam no casco histórico de Ponte de Lima, e que beleza.


A vila está em animação, já se fala do Covid-19, mas o estado de despreocupação sobrepõe-se. Verifico que são escassos os panos de muralha que restam, estão bem cuidados, bem embebidos pelos edifícios e dá gosto entrar no casco histórico por esta porta medieval.


Quantas vezes vi e li esta Avenida dos Plátanos ligada às feiras e mercados que aqui se realizam. É frondosa, apetece nela caminhar, fazer paragens para contemplar o Lima e a sua corrente vagarosa, a outra margem, de Arcozelo até ao infinito, e os montes ao longe, é ali que se abre caminho que leva à majestosa Serra d’Arga. Para ganhar os benefícios de todo este efeito cénico, caminho para lá e depois regressarei também contemplando o casario, os jardins, a beleza da fachada do Museu dos Terceiros.



Este o Lima que tanto cativa poetas, esta a nova ponte que alterou a política urbanística e garantiu a preservação da ponte romana e medieval que vemos ao fundo, o açude dá-lhe imensa beleza.


Vou parando aqui e acolá, o Lima, ao longo de tempos imemoriais encheu-se de veios de água, ilhotas de tufo, formas de uma flora aquática, multiplicação de verdes, sobreposições de arvoredo, constatarei depois, em certas horas do dia, a atração romântica que sugere, quando surgir aquela neblina que marca uma identidade da região. Por hoje chega. Vou documentar-me sobre a rota das camélias em Ponte de Lima, os monumentos de visita indispensável, dar umas passadas pelo chamado Caminho Português de Santiago em Ponte de Lima e preparar passeios a Ponte da Barca, Arcos de Valdevez e Viana do Castelo, veio comigo a obra Alto Minho, de Carlos Ferreira de Almeida, Editorial Presença, 1987, é o meu guia de viagem, tenho seis dias por minha conta, quero fruí-los por inteiro, tudo em memória desse querido amigo Carlos Miguel de Abreu de Lima de Araújo.




(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21215: Os nossos seres, saberes e lazeres (404): Alfredo Keil, um bom pretexto para ver a pré-primavera no agreste Cabril (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20831: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (5): Op. Sarrabulho (com o covidis por perto) - II Parte

1. Em mensagem do dia 1 de Abril de 2020, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos mais uma Boa memória da sua paz, desta feita a Op. Sarrabulho. 
Esta a segunda parte.


BOAS MEMÓRIAS DA MINHA PAZ

4 - Op. Sarrabulho (com o covidis por perto) - II Parte







Passámos pelo largo Camões, subimos à Capela de N.ª S.ª das Misericórdias das Pereiras, vimos a Igreja Matriz e parámos junto da Câmara Municipal. Dali, olhámos o Instituto do Vinho e o Centro de Interpretação Militar.
Entretanto, alguns Bandalhos ficaram para trás, entretidos, na Tasca das Fodinhas, a escolher o prato mais adequado ao seu gosto ou às suas “capacidades”.


Ainda fomos às traseiras da torre prisão, onde vimos a Maria da Fonte substituir, no pelourinho, o cruzeiro destinado a amarrar os condenados.

E foi ali que nos despedimos do Dr. Nuno Abreu que não nos pôde acompanhar no almoço. Manifestamos-lhe o nosso agradecimento pessoal e à autarquia Limiana.

Não houve tempo nem oportunidade para visitar o Clube Náutico de Ponte de Lima. Actualmente é o melhor clube nacional de Canoagem.
Hoje é muito acarinhado pela Câmara Municipal de quem tem recebido apoios exemplares. Está instalado na margem direita do Rio Lima, em óptimas instalações, construidas exclusivamente para este clube.
No meu tempo de Presidente da Federação de Canoagem, dediquei uma atenção especial à criação deste clube. Recordo o esforço e dedicação de um jovem ainda menor, Hélio Lucas, que assumiu toda a responsabilidade.

O Clube Náutico de Ponte de Lima foi fundado no dia 21 de Agosto de 1991, tendo por base a extinta secção de canoagem da Escola Desportiva Limiana, a primeira entidade a promover a canoagem no concelho de Ponte de Lima nas suas precárias instalações situadas na antiga Escola Preparatória.

Ao longo dos seus vinte e nove anos de história, o Náutico formou campeões que elevaram o nome do Portugal aos quatro cantos do mundo, com a conquista de títulos mundiais, europeus e medalhas olímpicas.


O atleta Fernando Pimenta é, de longe, o melhor canoísta português e um dos melhores do Mundo.

Seguimos, então, para o Restaurante “O Sonho do Capitão”.


Após saborosas entradas, deliciamo-nos com o famoso Sarrabulho com Rojões à Moda do Minho.







Tudo correu bem; bom ambiente, boa comida e boa pinga. Tudo do melhor e tudo à vontade do freguês.
Por acaso, julgo que ainda poderia ter corrido melhor. A alegria não era tão exuberante como nos convívios anteriores. De vez em quando tocava um telelé. Ninguém dizia nada, talvez para não ensombrar o ambiente. No entanto, a avaliar pelos contactos que também recebi, estavam todos os nossos familiares carinhosamente apreensivos com a nossa “ousadia”.

Já vínhamos na A3 e recebemos a mensagem do Isolino, querendo levar-nos para S. Tomé. Um tanto no escuro, anuímos ao convite e seguimos as suas picadas. E, quando julgávamos estar perdidos no mato, fomos forçados a parar. E aí, dentro de um campo arável, havia vários carros. Estacionei entre um tractor e um Tesla moderno e o Isolino “encaixou” ao lado de um Maserati.

Como só via a Capela do S. Tomé, pensei que deveria haver algum evento religioso, aonde iríamos encostados ao Sr. Eng.º Gomes, o “Rei do Granito”.
Entrámos por uma porta larga que, de repente, nos mostrou que ali a religião era outra. Era uma senhora tasca em ambiente rural. Efectivamente, verificámos que as mesas e bancos de madeira estavam dispersos, com os seus clientes a devorar os mais variados petiscos. Olhando ao que havíamos comido e bebido no prolongado almoço, limitámo-nos a provar um Espadal especial, religiosamente acompanhado de algumas iguarias, de onde destacamos a qualidade do presunto. Tudo estava bom e funcionou como mais um pretexto para prolongar a nossa habitual camaradagem.
Saí dali feliz por termos conseguido mais um dia de excepção. Todavia, à medida que me aproximava de casa, sentia um peso crescente, que se havia de prolongar por mais 14 dias.




Nota final:
Esta reportagem só se realizou após último telefonema do José António Sousa que, para me descansar, me ia informando diariamente do seu estado de saúde. E quando foi ultrapassado o 14.º dia da sua ida aos fados, fiquei tão contente que lhe prometi um almoço económico, numa tasca a designar.

José Ferreira (Silva da Cart 1689)
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de Abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20826: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (4): Op. Sarrabulho (com o covidis por perto) - I Parte