Mostrar mensagens com a etiqueta Sancorlã. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Sancorlã. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 30 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4109: Blogpoesia (36): E Viva a Vida, Vida a Poesia! (Jorge Cabral)


E VIVA A POESIA!
Com um Abraço
Jorge Cabral





UMA MINA EM SANCORLÁ

Segundos? Um Minuto?
O Tempo desta Morte
Meio corpo evaporado
Só resiste o olhar
Quem a terá pisado?
Fui eu que tive sorte
Ou ele que teve azar?

Depois a Raiva, o Medo
Sim, Beber
(Chorar só em segredo)

E para sempre o Luto!

Missirá, 14/Fev./1971

...................................

ANIVERSÁRIO

Vinte seis ou Mil, conto pelos dedos
Os anos que vivi, eu não sonhei
Este tempo de Angústia e de medos
Que soletro e nunca sei.
Que Guerra é esta? Onde não estou!
Que rio aquele? Não cheira a Tejo!
Que combate? Combato, mas não sou.
E quando olho o espelho, não me vejo!
Aqui em Missirá, escravo e senhor
Invento-me. E guarda-prisioneiro
Bebo, fingindo em Alegria, a Dor.

Hoje faço anos... e continuo inteiro.
Missirá, 06/Nov./1970
...................................

O HELICÓPETRO

Pelo ar lento que aquece
Um pássaro de ferro e aço
Leva um morto que apodrece
Na boca mais um abraço
A gente fica a pensar
Mas mais um morto que interessa
Já vêm mais pelo mar
Vêm muitos e depressa
A gente pensa mas fica
Com o dedo no gatilho
Na garganta um nó que pica
Na preta o ventre com um filho

Missirá, Dez./1970

Jorge Cabral

____________

Nota de L.G.:

(*) Vd.último poste da série > 30 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4107: Blogpoesia (35): Tinhas no olhar / sinais seguros de esperança... (José Brás)

quarta-feira, 6 de setembro de 2006

Guiné 63/74 - P1051: Pel Caç Nat 63: Uma Mina em Sancorlá, poema de Jorge Cabral

Texto do Jorge Cabral (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, 1969/71)


Amigo Luís,

Então essas férias? Certamente óptimas! Por mim, cá estou, preparado para mais um ano de trabalho duro, e às vezes frustrante. Escrevi muito na Guiné, principalmente poesia, tendo deixado todo o material no Biafra, como já relatei. O Blogue porém deu-me força para tentar recuperar alguns escritos, que havia enviado a familiares e amigos. Assim, descobri mais um poema, que ora envio acompanhando um Grande Abraço.

Jorge



P.S.

1) Também eu não entendo as razões que ditaram a implementação do destacamento do Mato Cão, talvez em Setembro de 1971 (1).

2) O Pel Caç Nat 52, comandado na altura pelo Nelson Wahnon Reis, voltou a Missirá em Julho de 1971, ficando o Pel Caç Nat 54 em Fá, e o Pel Caç Nat 63 na Ponte do Rio Udunduma.

3) Quando cheguei em Junho de 1969, dependiam de Bambadinca, apenas dois Pelotões de Caçadores Nativos, o 52 e o 63.

4) O Pel Caç Nat 54, pertencia a Mansoa e o Pel Caç Nat 53, andava pelo norte, tendo vindo para o Saltinho, substituir o 63. Era então comandado pelo Alferes Mota, que conheci muito bem, e que infelizmente já faleceu.



Uma Mina em Sancorlá
Segundos? Um Minuto?
O Tempo desta Morte
Meio corpo evaporado
Só resiste o olhar
Quem a terá pisado?
Fui eu que tive sorte
Ou ele que teve azar?

Depois a Raiva, o Medo
Sim, Beber
(Chorar só em Segredo)

E para sempre o Luto!


Missirá, 14/02/71
J. Cabral

_____________

Nota de L.G.

(1) Vd. posts de:

6 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1049: O destacamento de Mato Cão (Paulo Santiago)

5 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1045: Pedido ao Joaquim Mexia Alves (Pel Caç Nat 52) para ajudar a desvendar o passado (Beja Santos)