Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça, com o objetivo de ajudar os antigos combatentes a reconstituir o puzzle da memória da guerra da Guiné (1961/74). Iniciado em 23 Abr 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência desta guerra. Como camaradas que fomos, tratamo-nos por tu, e gostamos de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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segunda-feira, 30 de março de 2009
Guiné 63/74 - P4109: Blogpoesia (36): E Viva a Vida, Vida a Poesia! (Jorge Cabral)
E VIVA A POESIA!
Com um Abraço
Jorge Cabral
UMA MINA EM SANCORLÁ
Segundos? Um Minuto?
O Tempo desta Morte
Meio corpo evaporado
Só resiste o olhar
Quem a terá pisado?
Fui eu que tive sorte
Ou ele que teve azar?
Depois a Raiva, o Medo
Sim, Beber
(Chorar só em segredo)
E para sempre o Luto!
Missirá, 14/Fev./1971
...................................
ANIVERSÁRIO
Vinte seis ou Mil, conto pelos dedos
Os anos que vivi, eu não sonhei
Este tempo de Angústia e de medos
Que soletro e nunca sei.
Que Guerra é esta? Onde não estou!
Que rio aquele? Não cheira a Tejo!
Que combate? Combato, mas não sou.
E quando olho o espelho, não me vejo!
Aqui em Missirá, escravo e senhor
Invento-me. E guarda-prisioneiro
Bebo, fingindo em Alegria, a Dor.
Hoje faço anos... e continuo inteiro.
Missirá, 06/Nov./1970
...................................
O HELICÓPETRO
Pelo ar lento que aquece
Um pássaro de ferro e aço
Leva um morto que apodrece
Na boca mais um abraço
A gente fica a pensar
Mas mais um morto que interessa
Já vêm mais pelo mar
Vêm muitos e depressa
A gente pensa mas fica
Com o dedo no gatilho
Na garganta um nó que pica
Na preta o ventre com um filho
Missirá, Dez./1970
Jorge Cabral
____________
Nota de L.G.:
(*) Vd.último poste da série > 30 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4107: Blogpoesia (35): Tinhas no olhar / sinais seguros de esperança... (José Brás)
quarta-feira, 6 de setembro de 2006
Guiné 63/74 - P1051: Pel Caç Nat 63: Uma Mina em Sancorlá, poema de Jorge Cabral
Texto do Jorge Cabral (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, 1969/71)
Amigo Luís,
Então essas férias? Certamente óptimas! Por mim, cá estou, preparado para mais um ano de trabalho duro, e às vezes frustrante. Escrevi muito na Guiné, principalmente poesia, tendo deixado todo o material no Biafra, como já relatei. O Blogue porém deu-me força para tentar recuperar alguns escritos, que havia enviado a familiares e amigos. Assim, descobri mais um poema, que ora envio acompanhando um Grande Abraço.
Jorge
P.S.
1) Também eu não entendo as razões que ditaram a implementação do destacamento do Mato Cão, talvez em Setembro de 1971 (1).
2) O Pel Caç Nat 52, comandado na altura pelo Nelson Wahnon Reis, voltou a Missirá em Julho de 1971, ficando o Pel Caç Nat 54 em Fá, e o Pel Caç Nat 63 na Ponte do Rio Udunduma.
3) Quando cheguei em Junho de 1969, dependiam de Bambadinca, apenas dois Pelotões de Caçadores Nativos, o 52 e o 63.
4) O Pel Caç Nat 54, pertencia a Mansoa e o Pel Caç Nat 53, andava pelo norte, tendo vindo para o Saltinho, substituir o 63. Era então comandado pelo Alferes Mota, que conheci muito bem, e que infelizmente já faleceu.
Uma Mina em Sancorlá
Segundos? Um Minuto?
O Tempo desta Morte
Meio corpo evaporado
Só resiste o olhar
Quem a terá pisado?
Fui eu que tive sorte
Ou ele que teve azar?
Depois a Raiva, o Medo
Sim, Beber
(Chorar só em Segredo)
E para sempre o Luto!
Missirá, 14/02/71
J. Cabral
_____________
Nota de L.G.
(1) Vd. posts de:
6 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1049: O destacamento de Mato Cão (Paulo Santiago)
5 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1045: Pedido ao Joaquim Mexia Alves (Pel Caç Nat 52) para ajudar a desvendar o passado (Beja Santos)
Amigo Luís,
Então essas férias? Certamente óptimas! Por mim, cá estou, preparado para mais um ano de trabalho duro, e às vezes frustrante. Escrevi muito na Guiné, principalmente poesia, tendo deixado todo o material no Biafra, como já relatei. O Blogue porém deu-me força para tentar recuperar alguns escritos, que havia enviado a familiares e amigos. Assim, descobri mais um poema, que ora envio acompanhando um Grande Abraço.
Jorge
P.S.
1) Também eu não entendo as razões que ditaram a implementação do destacamento do Mato Cão, talvez em Setembro de 1971 (1).
2) O Pel Caç Nat 52, comandado na altura pelo Nelson Wahnon Reis, voltou a Missirá em Julho de 1971, ficando o Pel Caç Nat 54 em Fá, e o Pel Caç Nat 63 na Ponte do Rio Udunduma.
3) Quando cheguei em Junho de 1969, dependiam de Bambadinca, apenas dois Pelotões de Caçadores Nativos, o 52 e o 63.
4) O Pel Caç Nat 54, pertencia a Mansoa e o Pel Caç Nat 53, andava pelo norte, tendo vindo para o Saltinho, substituir o 63. Era então comandado pelo Alferes Mota, que conheci muito bem, e que infelizmente já faleceu.
Uma Mina em Sancorlá
Segundos? Um Minuto?
O Tempo desta Morte
Meio corpo evaporado
Só resiste o olhar
Quem a terá pisado?
Fui eu que tive sorte
Ou ele que teve azar?
Depois a Raiva, o Medo
Sim, Beber
(Chorar só em Segredo)
E para sempre o Luto!
Missirá, 14/02/71
J. Cabral
_____________
Nota de L.G.
(1) Vd. posts de:
6 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1049: O destacamento de Mato Cão (Paulo Santiago)
5 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1045: Pedido ao Joaquim Mexia Alves (Pel Caç Nat 52) para ajudar a desvendar o passado (Beja Santos)
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