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sexta-feira, 28 de junho de 2019

Guiné 61/74 - P19925: Notas de leitura (1191): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (12) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Março de 2019:

Queridos amigos,
Estamos no início das atividades do BCAV 490, o bardo relata os primeiros sinistros, feridos na ocorrência de uma mina anticarro. É coloquial e íntimo, não esquece os nomes, é um cronista sentimental. E flui a memória para esse manancial inesgotável de relatos de minas como de emboscadas. Pois neste exato momento lê-se o cartapácio "A Nossa Guerra", dois anos de muita luta, o histórico da CCAÇ 675 redigidos por dois eméritos confrades do blogue, o Belmiro Tavares e o JERO, aproveita-se aquele dia nefasto de 28 de dezembro de 1964 em que o Furriel Mesquita exalou o seu último suspiro, e como a Companhia do Capitão do Quadrado prontamente reagiu. A associação não é fortuita, em toda esta narrativa de Belmiro Tavares e JERO se fala no Tenente-Coronel Fernando Cavaleiro e em Unidades da BCAV 490, eram próximos.
Aqui fica a minha homenagem às perdas que ambos tiveram.

Um abraço do
Mário


Missão cumprida… e a que vamos cumprindo (12)

Beja Santos

“Cumprindo a sua missão,
a 489 alinhava.
Feriu-se um rapaz nosso amigo,
quando a mina rebentava.

Muitas escoltas fazia
o José Pombo Cordeiro.
Quem para Bissorã saiu primeiro
foi a 3.ª Companhia.
Nesse tempo não havia
terroristas nesta região.
Passaram-se 18 dias então
e malvados ninguém viu
e a 487 os substituiu
cumprindo a sua missão.

O tempo vai-se percorrendo
e no mês de Outubro estamos
e todas as coisas que passamos
eu aqui vou escrevendo.
Todos nós fomos sofrendo.
Para isso alguém nos mandava.
Em Mansabá me preparava
para os terroristas deixar de ver
e para me vir render,
a 489 alinhava.

Em Bissorã se encontrava
o nosso Capitão Romeiras
e com as suas boas maneiras
a missão desempenhava.
De noite ou de dia mandava
a rapaziada para o castigo,
em busca do inimigo,
mas pouca vez o viram,
e, quando numa emboscada caíram,
feriu-se um rapaz nosso amigo.

Na última viatura ia
o Joaquim António Machado
que pelo ar foi levado
quando a mina explodia.
Ali se feriu o Francisco Maria
que no terreno se deitava
e o 314 gritava
com um ferimento muito forte.
Viu ali pertinho a morte
quando a mina rebentava.”

********************

Com estes feridos e minas, a memória voou para os livros que se têm escrito sobre a CCAÇ 675, contemporânea do BCAV 490. Muito se tem escrito sobre a tropa chefiada pelo Capitão do Quadrado, Alípio Tomé Pinto, também conhecido pelo Capitão de Binta. Esta unidade chegou em 1964 à região de Binta, então as forças do PAIGC e as populações que ele arregimentava movimentavam-se com total liberdade nesta quadrícula. No seu livro “A Nossa Guerra, a história da Ccaç 675”, Belmiro Tavares, de colaboração com José Eduardo Reis de Oliveira, edições dos autores, maio de 2017, fazem um histórico, um misto de diário, de agenda, de considerações soltas, sobre a sua presença em Binta e a amizade que ficou até aos dias de hoje. É impressionante a movimentação operacional que desenvolveram a partir de junho de 1964, limpeza das estradas cheias de abatises, destruição dos locais de residência das forças do PAIGC, emboscadas, golpes de mão, operações em Sambuiá, a abertura de estrada para Farim e igualmente para Guidage, havia jornal de caserna, acompanhamento médico para gente que vinha do Senegal. Tudo se lê e deixa-nos empolgados ao ver a consideração desmedida, a confiança incondicional que toda a Companhia depositava no Capitão do Quadrado. Combatiam e faziam obras de beneficiação, procuravam ajudar as populações, dava-se aulas regimentais para superar o analfabetismo de um conjunto de praças, tiveram dias memoráveis e dias nefastos.
Quanto a estes, ele relata um drama vivido em 28 de dezembro de 1964, é uma descrição pormenorizada e contextualizada:
“Sabíamos, por informações colhidas no Senegal, que os guerrilheiros de Sambuiá não queriam lá mais população não-combatente para beneficiarem de mais liberdade de movimento. Mantinham a população nas aldeias limítrofes, prometendo-lhes a segurança necessária; assim seria mais fácil prevenir-se, sempre que a tropa de Binta se aproximasse. Nós éramos os únicos a apoquentá-los.
Tudo foi feito para não denunciar a nossa presença, naquelas paragens: camuflagem, aproveitando as zonas de vegetação mais densa ao longo do rio e sem provocar ruídos desnecessários.
Apesar dos nossos esforços, eles aperceberam-se das nossas movimentações, dispararam sobre nós e obtiveram a nossa resposta no mesmo tom, mas com melhor pontaria; perseguimo-los e fizemos três prisioneiros, vários feridos e alguns foram abatidos.

Sem a surpresa habitual, não seria aconselhável atacar Udasse, já fora de horas. Iniciámos o regresso a Sansacutoto; pouco depois das 12 horas, as viaturas iniciaram a marcha rumo a Binta com todos os operacionais a bordo; seriam umas 12h30, quando o rebentamento medonho, um estrondo anormal, fez parar a coluna; toda a gente saltou para as bermas da estrada, tomando posição uns metros fora da via. O que mais preocupava era não saber claramente o que tinha acontecido; ninguém queria acreditar que se trataria de uma mina anticarro; a coluna era constituída por 10 viaturas e o espaço entre elas era demasiado grande; a primeira viatura e a última, devido à poeira, estavam separadas por cerca de mil metros. Lá à frente, os guerrilheiros, emboscados ao longo da estrada, desencadearam uma violenta emboscada. Os nossos atiradores responderam na máxima força e em breve fizeram calar as armas adversárias. Lá na frente, uma grossa coluna de fumo espesso e assustadoramente negro subia pelos ares; via-se uma viatura que, ardendo, se desfazia em chamas; havia feridos, mas lá atrás não se sabia quantos nem a gravidade das lesões.

Em murmúrio, foi passando a dolorosa notícia que uma minha potente explodira debaixo de um Unimog, provocando vários feridos; logo surge a nova e mais brutal e atroz: há um morto, o Furriel Mesquita, natural de Famalicão.
O nosso médico, Dr. Martins Barata, tal como por vezes acontecia, naquele dia acompanhou a tropa no mato. No meio daquele desastre, ele foi de uma utilidade extrema. Com tantos feridos, ele e os enfermeiros não tinham mãos a medir. Foi logo pedido um helicóptero e duas avionetas; como a nossa pista ainda não se encontrava devidamente operacional, as avionetas aguardaram em Farim que o helicóptero chegasse com os feridos e o morto.
Depois de um jantar mal deglutido e sem vontade, o enorme capitão reuniu com os seus colaboradores mais directos; nem uma palavra sobre o que acontecera naquele malfadado dia; aparentemente eram águas passadas, mas uma dor imensa, tristeza infinita estavam notoriamente espelhadas nos seus olhos. Agora, o essencial era recuperar o ânimo da rapaziada, moralizar aquela gente”. 

Como se disse, trata-se de uma descrição minuciosa, lista-se o morto, os sete feridos em combate, fala-se do Soldado Atirador António Filipe que enquanto esteve internado no Hospital Militar Principal concluiu o quinto ano liceal, o que lhe proporcionou um emprego na Mague, onde trabalhou até à reforma, ficara com uma incapacidade de 77%. Houvera comportamentos de bravura, abarcando praças europeias e guineenses.
A tropa pôs-se logo em movimento, partiram na manhã seguinte para uma emboscada. “Pretendia-se demonstrar ao inimigo que não era um desaire que nos quebrava o ânimo, embora aquele contratempo fosse tremendamente doloroso e marcante; não seria facilmente esquecido; ainda hoje, volvidos mais de 50 anos, quando relembramos aquele dia, a voz fica embargada e a alma dilacerada. Pela primeira vez, com todos os operacionais no mato, o excelso Capitão de Binta ficou no quartel; quando saíam dois pelotões… ele estava sempre ao nosso lado; mesmo quando saía só um grupo de combate, ele quase sempre nos acompanhava. Com uma dor de alma inimaginável”.

(continua)

Aguarela do pintor Manuel Botelho, viatura destruída por uma mina anticarro, coleção de Mário Beja Santos.
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Notas do editor

Poste anterior de 21 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19907: Notas de leitura (1189): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (11) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 24 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19916: Notas de leitura (1190): "Memórias de África, Angola e Guiné", pelo General José de Figueiredo Valente; Âncora Editora, 2016 (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 8 de abril de 2019

Guiné 61/74 - P19659: Notas de leitura (1166): “A nossa guerra, dois anos de muita luta, Guiné 1964/66 – CCaç 675”, por Belmiro Tavares e José Eduardo Reis de Oliveira, edição de autores, 2017 (3) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Março de 2019:

Queridos amigos,
Recomendo vivamente a leitura da obra assinada por Belmiro Tavares e JERO. Não se pode ficar insensível à fidelidade, à camaradagem e solidariedade que estes homens mantêm entre si, extravasa encontros regulares, entreajudam-se, procuram-se depois da natural diáspora em que no fim da comissão (1966) muita gente procurou dar outros rumos à vida. Toda a documentação sobre a Companhia de Binta é motivo de estudo: como fora possível chegar a tanto abandono aquele ponto da região norte, tão sensível, já que Guidage era um quase ponto de fronteira, ali perto passava um corredor por onde as forças do PAIGC iam até Sambuiá e depois ao Morés?
Pode-se avaliar que havia um certo equilíbrio de armamento entre guerrilheiros e contra guerrilheiros; e estão aqui os dados flagrantes da condição de milhares de guineenses forçados a abandonar as suas tabancas para não serem colhidos entre os dois fogos e permanentemente intimidados pela guerrilha; e ressalta uma história sublime, a relação com o Capitão do Quadrado, momentos há, na leitura deste cartapácio, e nos outros livros que têm a ver com Tomé Pinto e os seus homens na Guiné em que somos forçados a reconhecer que muitas vezes a realidade é mais potente e grandiosa que os voos da imaginação, em literatura memorial.

Um abraço do
Mário


Binta, Guiné, A Companhia do Capitão do Quadrado, novas memórias (3)

Beja Santos

O livro intitula-se “A nossa guerra, dois anos de muita luta, Guiné 1964/66 – CCaç 675”, por Belmiro Tavares e José Eduardo Reis de Oliveira, edição de autores, 2017. A capa é surpreendente, como se escreve: “Uma bonita abatis na estrada de Farim. Esta não cumprira a sua missão: impedir a passagem; as viaturas passavam por baixo!”. No blogue, já tive oportunidade de me debruçar sobre três livros referentes ao historial da CCaç 675: primeiro, o galvanizante “Diário de JERO”, um relato feito pelo enfermeiro da Companhia de tudo quanto se vai passando, e tudo quanto se vai passando gravita à volta de um oficial bem-amado, Alípio Tomé Pinto, que irá ficar conhecido pelo nome de “Capitão do Quadrado”, um documento publicado à sorrelfa em 1965, podia ter custado a carreira deste oficial que chegou a general; seguiu-se outra obra “Golpes de Mão’s”, se apresentava como o segundo volume do diário, leitura estimulante, mas não chegava ao sopro anímico do primeiro; terceiro, a biografia do general Tomé Pinto, da responsabilidade da jornalista e investigadora Sarah Adamoupoulos. O impulsionador deste quarto documento é um homem sentimental que ainda hoje nos impressiona tanto pela memória dos acontecimentos vividos, como pela sua arte de contar, não é a primeira vez que o oiço de voz embargada e lágrimas a bailar nos olhos, Binta e arredores não lhe saem do coração.

O fôlego, o ritmo da escrita do primeiro ano da comissão, vai conhecer quebras acentuadas na narrativa do segundo ano. A primeira condicionante é de que um homem não é de ferro, era inteiramente impossível manter aquela passada vertiginosa em limpezas de estrada, acolhimento das populações em fuga, fazer patrulhamentos ofensivos, operações e colunas de reabastecimento a Guidage. A segunda passará com uma alteração logística de tomo, a CCAÇ 675 é forçada a manter um pelotão em Guidage, começa a história do cavalo do inglês, o devaneio de que se pode fazer o mesmo com muito menos.

Fazem-se colunas, volta-se a Sambuiá, mantêm-se as batidas constantes. Na nota do diário de 12 de maio de 1965 lembram-se os três mortos, o que se passou, a frescura física já não é a mesma, a vida operacional vai-se mitigando, entenderam os autores apresentar uma galeria de retratos dos que mais se sobressaíram, uns mais desenvoltos ou desenrascados, outros introvertidos, são notas ternas sobre o Lua, o Aguardente, o Engrácia, o Moreira, o Eurico, o Vendas Novas, e muitos outros. O médico da Companhia também tem honras de destaque. O diário é mais sóbrio, resumido, aliás começam a aparecer súmulas mensais. O moral da tropa é oscilante, por motivos fúteis surgem quezílias. Um dos narradores, Belmiro Tavares, conta a morte do Nascimento que pisara uma mina antipessoal. Em Guidage, aconteceu algo de tétrico, fugira um prisioneiro, alguns soldados do pelotão espancaram até à morte o soldado Fó Gomes, houve decisão do tribunal militar. A guerrilha não perdeu totalmente a iniciativa, em agosto de 1965 ataca Guidage. O Capitão do Quadrado volta de férias e logo a seguir parte para fazer o curso do Estado-Maior, o novo Comandante é o Tenente Cruz. Partiu o BCAV 490, chegou o BART 733, vão começar os contenciosos com o Major Azevedo. Chegou a luz elétrica a Binta, as batidas e patrulhamentos entre Binta e Guidage são constantes, há consciência de que o PAIGC quer aumentar a perturbação com a afluência das populações que abandonam o Senegal e que pretendem acolher-se ao setor de Binta. Nisto, explode uma bomba numa festa em Farim, mortos e feridos aos montes, a maioria crianças e mulheres. Um velhinho Dakota faz várias viagens por essa noite para recolher os feridos às centenas. A PIDE executa prisões, o gerente da Sociedade Comercial Ultramarina em Farim, um madeireiro, o bailarino, um chefe do grupo de milícias, mas também funcionários da Administração de Farim, do Centro de Saúde, da Central Elétrica. Volta-se a Sanjalo, há notícias de um acampamento clandestino. Segue-se a história do soldado Joaquim Lopes Henriques que ficou com um braço esfacelado, uma história que ficou para a vida inteira. Crescem as tensões entre a CCAÇ 675 e o Major Azevedo. E assim se chega a 1966. Já não há diário, há resumos mensais, suspira-se pelo final da comissão. Recorda-se com saudade o soldado n.º 108 Mamadu Bangoran, um Fula valoroso, comportara-se heroicamente retirando das chamas vítimas de uma mina anticarro entre labaredas e ferros retorcidos, não temendo a explosão do depósito de gasolina, retirou todo o material de guerra que por ali se espalhava. O Capitão do Quadrado chamou-o para o elogiar e Bangoran que era um muçulmano heterodoxo pediu licença a Tomé Pinto para se embebedar.

A CCAÇ 675 passou à disponibilidade em 4 de maio de 1966 mas está viva da costa, as páginas finais deste cartapácio relatam encontros, episódios pessoais, lançamento de livros, gente que se dispersou pelas sete partidas do mundo, falecimentos, doenças. Todos os acontecimentos à volta do Capitão do Quadrado são pretexto para ajuntamento dos seus homens, caso do lançamento da sua biografia que ocorreu em Lisboa em abril de 2016. O álbum fotográfico completa a obra. Foram dois anos de muita luta, escrevem insistentemente os autores, e dizem concretamente porquê. Mas o que sobressai, o que ficará para todo o sempre é um caso particular de devoção ao Comandante de Companhia, isto para já não esquecer aqueles primeiros meses de turbilhão que transformaram a região de Binta de corredor livre do PAIGC num caso de êxito de contraguerrilha, e por isso se percebe muito bem a ligação inquebrantável entre o Capitão do Quadrado e os seus devotados militares.
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Nota do editor

Poste anteriores de:

25 de Março de 2019 > Guiné 61/74 - P19621: Notas de leitura (1162): “A nossa guerra, dois anos de muita luta, Guiné 1964/66 – CCaç 675”, por Belmiro Tavares e José Eduardo Reis de Oliveira, edição de autores, 2017 (1) (Mário Beja Santos)
e
1 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19639: Notas de leitura (1165): “A nossa guerra, dois anos de muita luta, Guiné 1964/66 – CCaç 675”, por Belmiro Tavares e José Eduardo Reis de Oliveira, edição de autores, 2017 (2) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 25 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19621: Notas de leitura (1162): “A nossa guerra, dois anos de muita luta, Guiné 1964/66 – CCaç 675”, por Belmiro Tavares e José Eduardo Reis de Oliveira, edição de autores, 2017 (1) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Março de 2019:

Queridos amigos,
É um tomo de mais de 500 páginas, primeiro diarístico e depois mensal, 1964, Binta completamente controlada por adeptos do PAIGC, o seu potencial fogo ainda é precário, como precária é a sua capacidade de aterrorizar, Alípio Tomé Pinto tem uma Companhia bem preparada, as primeiras semanas correm a um ritmo enlouquecedor, não tivesse o essencial desta trama aparecido em obras anteriores e julgávamos tratar-se de um romance de aventuras.
Lê-se e medita-se: como a guerrilha cresceu de 1963 para 1964, tudo parte e irradia do Morés, bem se procurou desalojar a força militar do PAIGC e a sua população, o insucesso por completo.
Belmiro Tavares é de uma enorme coragem, diz desabridamente que as Unidades à volta mal saíam dos quartéis, permitiam uma quase total liberdade às forças do PAIGC.
O homem inspirador de tudo, que nesta obra é sempre incensado chama-se Alípio Tomé Pinto, permanentemente adorado por quem combateu às suas ordens naquele rincão da Guiné.

Um abraço do
Mário


Binta, Guiné, A Companhia do Capitão do Quadrado, novas memórias (1)

Beja Santos

O livro intitula-se “A nossa guerra, dois anos de muita luta, Guiné 1964/66 – CCaç 675”, por Belmiro Tavares e José Eduardo Reis de Oliveira, edição de autores, 2017. A capa é surpreendente, como se escreve: “Uma bonita abatis na estrada de Farim. Esta não cumprira a sua missão: impedir a passagem; as viaturas passavam por baixo!”. No blogue, já tive oportunidade de me debruçar sobre três livros referentes ao historial da CCaç 675: primeiro, o galvanizante “Diário de JERO”, um relato feito pelo enfermeiro da Companhia de tudo quanto se vai passando, e tudo quanto se vai passando gravita à volta de um oficial bem-amado, Alípio Tomé Pinto, que irá ficar conhecido pelo nome de “Capitão do Quadrado”, um documento publicado à sorrelfa em 1965, podia ter custado a carreira deste oficial que chegou a general; seguiu-se outra obra “Golpes de Mão’s”, se apresentava como o segundo volume do diário, leitura estimulante, mas não chegava ao sopro anímico do primeiro; terceiro, a biografia do General Tomé Pinto, da responsabilidade da jornalista e investigadora Sarah Adamoupoulos. O impulsionador deste quarto documento é um homem sentimental que ainda hoje nos impressiona tanto pela memória dos acontecimentos vividos, como pela sua arte de contar, não é a primeira vez que o oiço de voz embargada e lágrimas a bailar nos olhos, Binta e arredores não lhe saem do coração.

Entendeu Belmiro Tavares, de colaboração com JERO, regressar ao tempo dos acontecimentos, começa quase como a forma de um diário, de uma agenda volumosa, pretende contar tudo o que aconteceu, relembrar factos desagradáveis, e aí mostra-se inabalável na descrição até de atos irresponsáveis, fraquezas várias, comportamentos impensados.

Seguindo uma cronologia convencional, temos a chamada para Mafra, a recruta e a especialidade em Mafra, tudo em 1963. No início de 1964, Belmiro Tavares está no RI 16, em Évora, onde em abril se forma a CCaç 675, inicialmente o seu futuro parecia talhado para Moçambique, dá-se a mudança de rumo para a Guiné. Convém não esquecer que por essa época se estavam a precipitar acontecimentos na colónia, tudo se agravava, Arnaldo Schulz pedia mais efetivos, alguns foram-lhe concedidos, inclusive meios aéreos. O Uíge leva-os até Bissau, a narrativa recorda uma vez mais que os oficiais e os sargentos iam bem instalados e as praças viajavam em condições imundas, nas entranhas do barco, escuras e fedorentas, numa atmosfera pestilencial. Estamos em maio, chega-se à Guiné, os oficiais ficaram alojados num avelhantado prédio sem água corrente, os soldados de novo alojados em péssimas condições, camas era coisa que não havia.

Da primeira à última página deste relato que excede as 500 páginas, a figura central, carismática, tratada com todos os encómios, é o capitão do quadrado, o autor recorda que nenhum dos homens da CCaç 675 veio a sofrer do síndroma pós-traumático de guerra, a sua unidade militar era a gloriosa, era e continua a ser. Em junho, rumam para Binta, nesse tempo a guerrilha toma praticamente conta de toda a região, cultiva placidamente, do Senegal, através de Dungal avança-se para Sambuiá e daqui para o Oio, será esta a rota preparada por Osvaldo Vieira para receber Amílcar Cabral e Gérard Chaliand quando ambos visitam a região, em 1964, o livro de um dos mais eminentes historiadores dos conflitos revolucionários do século XX será publicado no ano seguinte, na Maspero. Tomé Pinto pretende atrair populações a Binta e limpar o seu setor até Guidage. E o leitor imediatamente começa a ouvir falar em Sanjalo, Lenquetó, Caurbá, e outros pontos de constante visita.

O diário da guerra abre com uma descrição de Binta e no dia 3 de julho abrem-se as hostilidades, visita-se a Tabanca de S. João, a 4 quilómetros e depois Genicó Mandinga. População em fuga, há tiros, a tropa apercebe-se que toda aquela gente vive o drama de ter que tomar um partido, crueldade não falta, mesmo que se fuja para o Senegal há sempre ameaças, é preciso estar do lado da guerrilha, há aldeias queimadas, picadas intransitáveis. No dia seguinte, é o batismo de fogo, em Lenquentó, descobre-se que a picada para Guidage está polvilhada de abatises.
No adianto do relato, Belmiro Tavares explica-nos o funcionamento do quadrado:
“Saindo a pé do quartel, normalmente em noite escura, seguíamos em fila indiana; ao amanhecer, se aconselhável, passávamos a duas filas: os dois pelotões deslocavam-se lado a lado. Quando nos aproximávamos de um local potencialmente mais perigoso, ou havendo contacto com o inimigo, em escassos segundos, formávamos o nosso quadrado. Esta formação de combate era, para nós, muito querida, porque nos permitia grande poder de fogo em todas as direcções. Caminhar em fila, no meio do mato, entre árvores ou arbustos, no meio do capim, muitas vezes mais alto do que nós, não era tarefa fácil e o homem da frente tinha de ser substituído com alguma frequência. Caminhar pelas matas em quadrado, é uma tarefa muito mais desgastante porque a linha da frente tem de abrir 16 trilhos… Apenas tantos quantos os homens das duas secções que as constituem. Se seguíssemos em duas filas paralelas e se se tornasse obrigatório formar o quadrado fazíamo-lo em dois tempos: as duas secções da frente, uma de cada pelotão, formavam uma linha de 16 homens; as duas secções seguintes afastavam-se lateralmente uma da outra, colocando-se no enfiamento de dois extremos da linha da frente; as duas últimas secções formava, em simultâneo, a linha da retaguarda daquela hábil e eficiente formação de combate.
Progredir em quadrado no meio do matagal era difícil e extenuante; fazê-lo em corrida e debaixo de fogo, era dose para leão. Rodar o quadrado em velocidade, sem desalinhar (como se no cruzamento das diagonais houvesse um eixo vertical) para que enfrentássemos adversários sempre com uma frente de 16 atiradores, era tarefa hercúlea. A verdade é que fazíamos aquilo em absoluta sincronia. Se uma das laterais era atacada em força, a frente e a retaguarda alinhavam com esse lado e logo atacávamos com uma linha de 40 combatentes. Se fossemos atacados pela retaguarda, o quadrado não rodava; todos fazíamos meia volta e, em quadrado, logo atacávamos, afugentando os guerrilheiros. Estas mudanças bruscas eram uma grande surpresa para eles. Por vezes, o nosso sábio capitão e os subalternos entendiam que ainda não era hora de mudar a formação e já um outro soldado alertava os oficiais para se proceder à alteração. Era difícil e cansativo mas era preferível andar em quadrado e ter segurança do que procurar facilidade que só nos traziam perigo. As secções de cada pelotão rodavam as posições sempre que saíamos para o mato, para que não fossem sempre os mesmos a enfrentar o maior sacrifício, encabeçando o quadrado. Cada secção sabia, em cada dia, qual era o seu lugar na coluna. Se saíamos nas viaturas a ordem era a mesma”.

E vamos entrar agora num rodopio operacional tão persistente, tão atuante, que o PAIGC, à cautela, abandona todas as posições que detinha na região de Binta.

(continua)



Belmiro Tavares, o primeiro à direita, segue-se o  JERO, o comandante do navio e Virgínio Briote, um contemporâneo da CCaç 675, fotografia já existente no nosso blogue (, publicada aquando da entrada do Belmiro Tavares, em 1/11/2009, para a Tabanca Grande), A foto é do JERO.
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Nota do editor

Último poste da série de22 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19610: Notas de leitura (1161): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (78) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16817: Agenda cultural (529): Integrado no 16.º Ciclo das Tertúlias Fim do Império, apresentação do livro "TEN.GENERAL ALÍPIO TOMÉ PINTO, O Capitão do quadrado", dia 13 de Dezembro de 2016, pelas 15 horas, na Livraria-Galeria Municipal Verney/Colecção Neves e Sousa, Oeiras (Manuel Barão da Cunha)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Barão da Cunha, Coronel de Cav Ref, que foi CMDT da CCAV 704/BCAV 705, Guiné, 1964/66, com data de 9 de Dezembro de 2016:

Com votos de bom fim de semana, recordamos última tertúlia do 8.º ano do Programa Fim do Império e 155.ª, com importante participação de Autor/General Tomé Pinto e Editor/Professor Pedro Sousa.

Abraço e votos de saúde, de
M. Barão da Cunha


16.º CICLO DE TERTÚLIAS DO PROGRAMA FIM DO IMPÉRIO OEIRAS

155.ª Tertúlia

Livraria-Galeria Municipal Verney/Colecção Neves e Sousa, Oeiras

Dia 13 de Dezembro de 2016, às 15 horas
2.ª terça-feira por causa do Natal


"TEN.GENERAL ALÍPIO TOMÉ PINTO, O Capitão do quadrado"[1], de Sarah Adamopoulos e T-General Alípio Tomé Pinto, prefácio do General Ramalho Eanes, edição de Ler Devagar, 2016, 413 pp, lançado em Lisboa em 7 de Abril de 2016.
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Notas do editor

[1] - Vd. poste de 5 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16801: Notas de leitura (908): “Ten General Alípio Tomé Pinto, O Capitão do Quadrado”, pela jornalista Sarah Adamopoulos e pelo biografado, Editora: Ler Devagar, 2016 (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 8 de dezembro de 2016 Guiné 63/74 - P16813: Agenda cultural (528): Mestre Braima Galissa e sua banda, hoje, no B.Leza, Cais do Sodré, Lisboa, a partir das 22h30

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16801: Notas de leitura (908): “Ten General Alípio Tomé Pinto, O Capitão do Quadrado”, pela jornalista Sarah Adamopoulos e pelo biografado, Editora: Ler Devagar, 2016 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Dezembro de 2016:

Queridos amigos,

Alípio Tomé Pinto está bastamente referenciado no blogue. A sua biografia é vastíssima, vai desde a esplêndida e comovente narrativa sobre a sua aldeia, Maçores, os locais de estudo, o cadete da Escola do Exército, a sua ida em 61 para Angola, onde chega a receber a Extrema-Unção, segue-se os tempos do capitão de Binta, depois o curso do Estado-Maior, o Funchal, de novo Angola, o seu envolvimento nos acontecimentos do 25 de Novembro, o Comando-Geral da GNR, depois de ter comandado a Primeira Brigada Mista Independente, e muito mais.

É uma leitura que delicia, temos ao espelho um homem íntegro, que despreza a pesporrência. Cinjo-me a três momentos que me sensibilizaram profundamente: Maçores, Angola e Binta. O resto fica para vocês todos lerem, seguramente com entusiasmo.

Um abraço do
Mário


Alípio Tomé Pinto, o Capitão do Quadrado

Beja Santos

O livro intitula-se “Ten General Alípio Tomé Pinto, O Capitão do Quadrado”, um mano-a-mano entre a jornalista Sarah Adamopoulos e o biografado, Ler Devagar, 2016.

Trata-se de alguém, hoje octogenário, ferido em Angola e ferido na Guiné. Promovido a general aos 45 anos de idade, por razões de mérito. Uma folha de serviços invejável. Alguns se pronunciarão de que a narrativa no seu todo é aliciante e de exigente leitura. Confesso que me comoveu acima de tudo a elegia transmontana e o palco da guerra. É sobre esses dois tópicos que me vou centrar.

Fins do século XIX, início do século XX, um geógrafo de renome, Vidal de La Blache, defendeu a tese de que ao meio que define o caráter do homem e das populações, é a factura de viver rodeado de montes ou à beira-mar, com verdura, neblina, florestas ou areais. Tomé Pinto, di-lo com orgulho, aquele chão foi a génese do sonho e da aventura, o chão chama-se Maçores, aldeia na Terra Quente do nordeste transmontano. E o meio fica cinzelado nestes termos:  

“As pessoas viviam do que produziam. Eram autónomas, ou quase. O dinheiro não circulava muito. Nem para ir à vila era preciso, por que as pessoas tinham com o médico uma avença que era honrada em cereal. Foi assim até aos anos 1950. O dinheiro quase não era preciso para a vida do dia-a-dia, porque havia a troca, a cedência e a oferta, e, na verdade, só quando iam à feira é que as pessoas precisavam de dinheiro. Para comprar, por exemplo, um fato, ou um lenço, ou tecido para o avental, ou para fazer um vestido. Ou então as coisas que a terra ali não dava: arroz, açúcar, bacalhau, peixe salgado, polvo seco”.

Um maçorano que foi assistindo ao progresso, viu as ruas calcetadas, a linha telefónica para Moncorvo, a chegada da luz elétrica, do transporte diário para Peredo e Torre de Moncorvo, uma escola de ensino primário. Depõe uma memória iluminada pela distribuição de papéis, masculino e femininos, Tomé Pinto é terno a falar das mulheres e da sua solicitude na vida comunitária, a aldeia como uma família, guarda com nitidez a casa, a escola, a educação e depois os estudos em Moncorvo, no Porto e em Bragança. Em 1953 assenta na Escola do Exército, não esqueceu detalhes que mais vida que minudências:  

“Lá vim eu pela primeira vez até Lisboa. Com o dinheiro enfiado no bolso da camisola interior que a minha mãe me tinha arranjado. Na altura, tínhamos de ser nós a comprar as fardas. E também pagávamos o talher com que comíamos, e a roupa de cama com que nos cobríamos. Havia uma despesa grande à cabeça que era preciso fazer. Sim, era uma espécie de enxoval militar”.
Vai cursando e descobre o amor da sua vida.

Em 1961, em Maio, chega a Angola, ainda viu trabalhos forçados. A sua Companhia é a CCAÇ 129. Em Outubro, quase morre na região do Uíge, entre Quizalala e São José do Encoje:

“Fui ferido nos chamados dembos, na Serra de Ambuíla, terra do café, numa emboscada durante um patrulhamento”.

Ferimento grave: Uma bala havia entrada por um dos lados dos maxilares, partindo-o, passando pelo palatino, e alojando-se junto à carótida. Chega a receber a Extrema-Unção. Recupera-se em Lisboa, é reenviado para o Regimento de Nova Lisboa (atual Huambo) onde vem a formar 200 cabos indígenas. Voltará várias vezes a Angola, durante a guerra e depois.

A segunda experiência duríssima é a Guiné, onde amadureceu e ficou marcado para a vida. Vai para Binta, chamar-lhe-ão o capitão de Binta, entre Farim e Bigene. Para entender o que ele foi encontrar temos que recuar àquele pano de fundo que é a desarticulação quase completa daquela região, com fuga de populações para o Senegal e os guerrilheiros a circularem com a maior liberdade, cultivando mesmo as bolanhas. Chega e procura percecionar as formas de atuação. Comanda a CCAÇ 675. Vai de patrulhamento em patrulhamento, impunha-se esclarecer onde estavam os focos da guerrilha, afastá-los e intimidá-los, e estabelecer mesmo ligação entre Binta e Farim, sede do BCAÇ 490. Sucedem-se as operações a um ritmo trepidante: uma batida à região de Lenquetó, a 12 km de Binta. Esta operação teve números consideráveis: entre 20 a 30 mortos, 40 prisioneiros. Progridem em quadrícula, dois grupos de combate reproduzem um clássico dispositivo militar, muito usado nas campanhas africanas do século XIX. Tática bem-sucedida, Tomé Pinto passará a ter cognome: o Capitão do Quadrado.

A obra cita o livro que escrevi com o Embaixador Henriques da Silva “Da Guiné Portuguesa à Guiné-Bissau: Um Roteiro”, onde se fala nessa catadupa de patrulhamento ofensivos e golpes de mão e batidas; as estradas que estavam ao abandono ficaram limpas das abatizes, assim se chegou a Guidage; 22 itinerários, numa extensão de cerca de 250 km, foram percorridos ao longo do mês de Julho de 1964. O dia 5 de Agosto será funesto. Pretende-se ir até Santancoto, no limite do setor. Entra-se numa mata fechadíssima, passa-se por uma bolanha, e nisto deu-se uma intensa troca de fogo, retoma-se o quadrado, e um acidente tomou conta de tudo:

“Apesar do recomendado ao soldado do morteiro para ter cuidado com as árvores de grande copa que ladeavam a estrada, o seu excesso de zelo e ardor combativo (…) levou-o a disparar a morteirada, com tal precipitação que a granada foi rebentar num ramo alto de uma árvore (…) crivando de estilhaços o lado onde se encontrava o capitão e alguns soldados”.

Tomé Pinto cai ferido, o furriel enfermeiro estanca-lhe a hemorragia, pede-se a evacuação. E desse relato há uma página memorável:

“Todos queriam pegar na maca para o transportar até ao helicóptero; um despia o casaco camuflado para lhe aconchegar melhor a cabeça na maca (…) outro dava-lhe o seu concentrado de frutos da ração de combate para comer pelo caminho; outro ainda quase que o obrigava a beber a água do seu cantil. Todos lhe queriam tocar, apertar a mão, desejar-lhe as melhoras para que voltasse depressa”.

Recupera, vai de avião até Farim e com o comandante de batalhão mete-se num barquinho a motor no rio Cacheu, pretende chegar até junto dos seus soldados que dentro de horas partem para uma operação. É recebido com emoção. A guerra não pára, chegou a vez de Binta ser flagelada. Além da guerra, reergue-se a povoação, atrai-se população dispersa, cultivam-se alimentos, há imenso entusiasmo entre civis e militares. Quando, em Agosto de 1965, está em Bissau a caminho de férias, é informado ter sido admitido no Curso do Estado-Maior. Tomé Pinto resistiu a deixar a sua Companhia, tentou adiar a entrada no curso para o ano seguinte. Mas teve que partir. Tudo se irá alterar a partir de então, multiplicar-se-ão as missões e os elogios. Não será por acaso que se escolheu para a capa do seu livro a sua fotografia a bordo do Uíge, a caminho da Guiné. É o Capitão do Quadrado, desse momento inevitável em que se transformou numa terra chamada Binta, congraçando os feitos de guerra com as alegrias do repovoamento e do cuidar do próximo.

Uma grande biografia em que Sarah Adamopoulos revela o seu altíssimo nível jornalístico.
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Nota do editor

Último poste da série de 2 de Dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16788: Notas de leitura (907): “Histórias Coloniais”, por Dalila Cabrita Mateus e Álvaro Mateus, A Esfera dos Livros, 2016 (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P16015: Agenda cultural (476): Lançamento do livro “Ten-General Alípio Tomé Pinto – O Capitão do Quadrado”, de Sarah Adamoupoulos, levado a efeito no passado dia 7 de Abril de 2016, no Palácio da Independência (José Eduardo Oliveira)

1. Mensagem do nosso camarada José Eduardo Oliveira (JERO) (ex-Fur Mil da CCAÇ 675, Quinhamel, Binta e Farim, 1964/66), com data de 19 de Abril de 2016, dando-nos conta do lançamento do livro biográfico "Ten-General Alípio Tomé Pinto - O Capitão do Quadrado", da autoria de Sarah Adamoupoulos, ocorrido no passado dia 7 de Abril:


Lançamento do livro “Ten-General Alípio Tomé Pinto – O Capitão do Quadrado”

Em Lisboa, o lançamento do livro decorreu no passado dia 7 de Abril no Palácio da Independência, onde estiveram presentes algumas das principais figuras nacionais e internacionais, presenteando o biografado com uma sala absolutamente cheia.


A obra em causa é da autoria de Sarah Adamoupoulos, que também esteve na mesa de honra.
Por motivos profissionais, o General António Ramalho Eanes, que prefaciou o livro, não pôde estar presente. No entanto, o Gen. Alexandre de Sousa Pinto leu na altura o discurso que o antigo Presidente da República tinha preparado e do qual destacamos o seguinte: "Tomé Pinto é, para mim – que o conheço há décadas – não só, como o próprio afirma nesta obra, um Militar por paixão, mas, sobretudo, um militar de sonho e aventura, de vocação, ambição e missão, um dos melhores entre os melhores, e não só na Instituição Militar, mas, também, no Pais (Portugal)"

Na mesma cerimónia, o Gen. Alexandre de Sousa Pinto aproveitou também para proferir algumas palavras sobre o biografado: "O exercício da profissão de militar exige uma vocação; tal como o sacerdote, o militar que não tenha verdadeira vocação será sempre um infeliz e, mais grave, fará infelizes os subordinados que tenham que o aturar."

O “Capitão do Quadrado, que conta hoje uns invejáveis 80 anos, deslocou-se no fim de semana seguinte a Angola, para fazer o lançamento do seu livro, que teve lugar na Fortaleza em Luanda, no passado dia 12 de Abril.


Alípio Tomé Pinto, hoje General na reforma e que anda a plantar árvores em Maçores, no planalto Mirandês, ficou conhecido como o “capitão do quadrado”. Quando chegou à Guiné, no comando da CCAÇ 675, já tinha desnorteado a “senhora morte”. Fora alvejado numa patrulha a São José do Enconge, no coração dos Dembos, em Angola. A bala atravessou o maxilar e alojou-se junto à carótida. Foi-lhe administrada a extrema-unção mas recuperou. A lenda de Tomé Pinto, também conhecido pelo Capitão de Binta, começa com os primeiros trinta dias em que chegou ao aquartelamento e se pôs a patrulhar toda a região, os guerrilheiros cultivavam à volta de Binta, aproveitavam-se do temor da tropa que anteriormente ali estivera.


Há já obras publicadas sobre esta CCAÇ 675, nomeadamente do então Furriel Milº. Enfermeiro José Eduardo Oliveira que escreveu sobre o primeiro ano de atividade desta Companhia. É o caso inédito de um diário com olhar coletivo publicado em tempo praticamente real.

O Capitão do Quadrado voltará a ser ferido em combate e o cronista destes acontecimentos escreverá com imensa ternura, como soperasse a dor coletiva: “Todos queriam pegar na maca para o transportar; um despia o casaco camuflado para lhe aconchegar melhor a cabeça; outro dava-lhe o seu concentrado de frutos da ração de combate; outro ainda quase que o obrigava a beber água do seu cantil”.


Regressará a Binta semanas depois e lança-se na atividade operacional. Abandonará a Companhia para fazer o curso do Estado-Maior do Exército. O seu sucessor desabafará: “Envergonho-me de comandar os homens de Tomé Pinto. No meio deles, sinto-me um soldado, pois eles não precisam de ordens, nem as esperam. Têm tal conhecimento da zona, tal sentido de orientação e tal intuição do perigo que se movem ordeiramente para qualquer lado". Tomé Pinto chegara a Binta a 29 de Junho de 1964 e no relatório de 24 de Dezembro já registavam 51 ações de fogo sobre o seu comando. Alguns dos seus militares dos tempos de Binta estiveram presentes na cerimónia de Lisboa.

No emblema da CCaç. 675 a inscrição que permanece viva diz: “Nunca Cederá”.

No dia 8 do próximo mês de Maio, o “Capitão do Quadrado” e os seus homens de Binta deslocar-se-ão a Évora para comemorar os 50 anos do seu regresso a Portugal.

JERO
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Último poste da série de 20 de abril de 2016 Guiné 63/74 - P15994: Agenda cultural (475): Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes, amanhã, 21, às 16h00, no auditório da biblioteca municipal da Covilhã: Juvenal Amado apresenta o seu livro "A Tropa Via Fazer de Ti um Homem"; confirmada a presença do prof Pereira Coelho, que foi um dos médicos do BCAÇ 3872, em Galomaro, 1971/72

domingo, 3 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P15933: Agenda cultural (473): Integrada no 15.º Ciclo das Tertúlias Fim do Império, dia 7 de Abril de 2016, pelas 18 horas, apresentação do livro "Ten. General Tomé Pinto - O Capitão Quadrado", no Palácio da Independência, em Lisboa (Manuel Barão da Cunha)



 


Em mensagem do dia 30 de Março de 2016, o nosso camarada Manuel Barão da Cunha, Coronel de Cav Ref, que foi CMDT da CCAV 704 / BCAV 705, Guiné, 1964/66, dá-nos notícia da apresentação do livro "Ten. General Tomé Pinto - O Capitão Quadrado", integrada no 15.º Ciclo de Tertúlia Fim do Império.




15.º CICLO DE TERTÚLIAS FIM DO IMPÉRIO 
LISBOA

PALÁCIO DA INDEPENDÊNCIA
07 DE ABRIL DE 2016
18,00 HORAS

Apresentação do livro "Ten. General Tomé Pinto - O Capitão Quadrado".
Estarão presentes: o biografado, a escritora Sarah Adamopoulos e o General António Ramalho Eanes que prefaciou o livro.
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Nota do editor

Último poste da série de 3 de abril de 2016 Guiné 63/74 - P15932: Agenda cultural (472): sessão de lançamento do livro de Jorge Sales Golias, "A descolonização da Guiné-Bissau e o movimento dos capitães" (Lisboa, Edições Colibri, 2016, 385 pp.), dia 14 de abril de 2016, 5ª feira, às 18h, na Comissão Portuguesa de História Militar, Palácio da Independência, largo de São Domingos, 11, Lisboa. Prefácio: cor Carlos Matos Gomes; apresentação: cor Aniceto Afonso

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15098: Guiné, Ir e Voltar (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando) (XIII Parte): Conversa em Brá e Nunca digas adeus a Cuntima

1. Parte XIII de "Guiné, Ir e Voltar", enviado no dia 1 de Setembro de 2015, pelo nosso camarada Virgínio Briote, ex-Alf Mil da CCAV 489, Cuntima e Alf Mil Comando, CMDT do Grupo Diabólicos, Brá; 1965/67.


GUINÉ, IR E VOLTAR - XIII

Conversas em Brá

A nossa função é militar, os nossos objectivos são militares, repor a ordem na província. A política não é connosco, reafirmava, convicto, o capitão responsável pelo serviço de informações do batalhão.

Querem a independência, dizem que querem ser livres, que querem ser eles a traçar os destinos da pátria deles, é por isso que dizem que lutam, insistia um dos alferes. Se estivéssemos no lugar deles, se calhar fazíamos o mesmo!

O que faria o nosso alferes é consigo, o que eu faria no lugar deles não vem para aqui chamado. Foi o PAIGC que começou com o terrorismo, todos os dias desencadeiam acções terroristas, nem as populações indefesas poupam e ainda dizem que é por elas que lutam! E nós vamos deixar? Temos armas suficientes para combater, vamos deixar que eles continuem a matar pessoas?
Armas para combater? 

Ó meu capitão, temos G3, Fox e Daimlers compradas em Inglaterra, dizem que foram todas as que estavam num canto, arrumadas desde a 2.ª Guerra. Parece que o Estado Português até nem queria tantas, os ingleses é que insistiram, levem-nas todas! Parece que nenhuma estava operacional, tiram peças de uma para se meterem noutras. E, certamente, acontece o mesmo com os T-6 e com as Dorniers, tudo material da década de 40! A arma mais recente que temos ainda é a G3!

É o que o alferes tem e tem muita sorte porque dispõe dos melhores soldados do mundo. Olhe para os soldados do seu pelotão, do que eles são capazes, a troco de quê, dinheiro não é! Sempre prontos para arrancar, sempre dispostos para tudo. Alferes, se perdermos a guerra, que só acontecerá se houver uma catástrofe, não vai ser devido ao armamento, nem às praças. Seja o nosso alferes digno deles e os saiba comandar. Para o bem do País e para o seu. Boa noite a todos!
Sabiam, continuava o mesmo alferes, que os F-861 tiveram que ser retirados? E sabem por quê? Um avião qualquer pediu licença para aterrar, em Bissalanca, a torre deu-lhe o ok, fez-se à pista, não aterrou, uns dias depois apareceram fotos nas Nações Unidas, uma esquadrilha de F-86 da NATO, alinhada em Bissalanca. A NATO a colaborar na guerra colonial dos portugueses? Um escândalo, os F-86 tiveram que retirar para o Sal. É por isso que estão lá, não é por questões logísticas. E há quem diga que vêm aqui de vez em quando, fazem o que têm a fazer e depois regressam ao Sal.


Na messe dos oficiais em Brá.

Todas as noites, no fim do jantar, a messe de oficiais do aquartelamento de Brá transformava-se num centro de conversa sobre os assuntos mais variados. O ar que se respirava, no que à guerra dizia respeito, não era realmente muito animador. Dispersos em pequenos grupos falavam de futebol, do que se passava em Lisboa e um grupo ou outro de política.

Alguns oficiais, subalternos quase sempre, sobretudo quando havia notícias de baixas das NT numa acção qualquer, por regra começavam a falar da qualidade ou da falta de material, da impreparação para esta guerra e inevitavelmente acabavam por vir à tona as razões da luta de um lado e do outro e a justiça ou a falta dela da guerra em que estávamos a participar.

Os alferes milicianos, os que diziam alguma coisa em voz alta e os que por ali ficavam sentados a seguir as conversas, eram quase todos contra a guerra, os poucos oficiais do quadro que se manifestavam eram invariavelmente a favor, mas os outros, a maioria, os que se mantinham calados ninguém sabia ao certo o que pensavam. Uma coisa parecia uni-los, o regresso à metrópole, às terras e às ocupações deles, e que os 24 meses de comissão voassem.

Este batalhão tinha chegado há cerca de três meses. Primeiro, fez algum treino operacional, depois as companhias rodaram pelo norte e pelo leste, em acções de reforço a unidades em quadrícula. Coabitavam com os Adidos e com a companhia de comandos, em Brá.

Com tão pouco tempo de comissão já se notava, entre eles, a falta de convicção na luta contra a guerrilha. Alguns admitiam publicamente estarem numa guerra injusta, uma guerra dirigida contra um povo que se queria libertar.

Em frente, num dos quartos dos comandos, um, deitado na cama, folhava uma revista que tinha apanhado no QG, a "U. S. News & World Report" quando parou para ler uma entrevista com um coronel americano no Vietname. Ouçam esta!

"A arma individual é a AR-15, da Colt, em Hartford, no Connecticut. Uma espingarda ponto 22 com um impacto tremendo, destrói e mata onde quer que acerte. Se acertar na mão parte os ossos do braço todo. Apesar disso é muito leve. Transportamos 400 balas no cinto quase sem sentirmos o peso. Temos um novo lança-granadas, o M-79, a arma de elefante. Lança uma granada a cerca de 200 jardas, parece uma caçadeira, a granada introduz-se pela culatra, como qualquer cartucho, liquidando 8 a 10 onde cair!”

Nem com material deste conseguem travar os norte-vietnamitas! Quando cá cheguei, há um ano, o armamento ligeiro da guerrilha era bom, é o que eles têm agora, só que agora têm muitas mais Simonovs, Kalashs, Degtyarevs, PPSHs, canhões sem recuo, antiaéreas quádruplas, morteiros 82… Uma manhã em Cuntima, estava o meu pelotão com as milícias a capinar a estrada para Jumbembem, um soldado veio com um papel. “Obrigado tropa, estrada capinada fica melhor para bazucada”.

Guerrilheiro do PAIGC com RPG2. Foto na net.

Só ameaçavam naquela altura. Agora, RPGs e morteiros aparecem em todo o lado, qualquer dia, pelos vistos, temos aí foguetes, artilharia, blindados, aviões, helis. Ainda vamos assistir a muitas inaugurações.

Para já, malta, o que está em causa é a nossa capacidade e motivação, se a temos ou não. Queremos ganhar a merda desta guerra ou queremos que a comissão acabe depressa, desafia outro.

Há unidades junto às fronteiras que se fecham nos abrigos, fazem umas fosquinhas à volta do arame farpado, a guerrilha não os incomoda muito porque precisa de passagem para o Cantanhez ou para o Oio. Outras não trabalham a zona como devem, o PAIGC a minar, de um momento para o outro, ataques, emboscadas, minas, mortos, feridos. E depois reclamam reforços, somos poucos, não temos condições, gritam contra os gajos do ar condicionado.

E quando por qualquer motivo, cunha ou outro não interessa, os capitães dessas companhias vão para o QG, no dia seguinte já não se lembram de nada, esquecem tudo.

Quem está a aguentar isto somos nós, pá, os milicianos, essa é que é essa! Alferes, furriéis e soldados! E alguns capitães, que se contam pelos dedos, o tipo da varinha de Tite3, o Tomé Pinto que foi da 675 de Binta, um grande capitão, o Osório, o Calvão dos fuzos, que também já acabou a comissão, não são precisas as duas mãos para os contar, acrescenta outro.

Claro, muitos deles já vão na 2.ª comissão, alguns até a caminho da terceira, a família na metrópole, a filharada a crescer, quando vão de férias, os filhos encontram um estranho em casa, a mãe casou com este tipo? Cansa, claro que cansa. Mas não acham que se nota demais, que muitos deles fogem do mato, encostam-se ao ar condicionado do QG a dar palpites, a ver o tempo a passar e a guerra dos alferes, dos furriéis e dos soldados. Ofereceram-se voluntários, não foram obrigados, frequentaram cursos, o Estado investiu neles! As condições de vida é que os obrigaram? Que tivessem ido para padres! Se não têm competência operacional, ao menos que não atrapalhem, que porra!

O problema não está nos capitães, pá, é daí para cima. É nos comandantes de batalhão que está o problema, aprenderam em livros ninguém sabe de que guerras. Até agora só vi um comandante4 de batalhão que falava de bolanhas com o conhecimento de quem as tinha atravessado, que falava de barracas de mato porque entrou nelas de G3 nas mãos, em Farim até diziam que era o melhor alferes do batalhão!

A malta vem da metrópole com a preparação básica, cortam-nos o cabelo, mandam-nos tomar banho, farda em cima, passam-nos a G-3 para as mãos quando cá chegamos, ainda não nos habituamos ao clima e já estamos a levar no toutiço! E quando já estamos aclimatados, ao clima e à guerra, a comissão está no fim. E recomeça a história com mais maçaricada5 a desembarcar em Bissau para outros dois anos. Os turras não fazem comissões, não perdem experiência, ganham-na todos os dias a toda a hora!

Uma guerra destas não se ganha só com armas. Se é que alguma guerra deste tipo pode ser ganha! Os franceses perderam na Indochina e na Argélia, os americanos estão atolados no Vietname!

E são bons exemplos os franceses e os americanos? Há quantos anos a França não ganha uma guerra? Já ninguém se lembra, não? E os americanos? Atenção, aqui em Brá, enquanto estamos a discutir as razões da guerra, se se deve ou não participar, o PAIGC está neste momento a montar minas, a preparar emboscadas, a atacar aquartelamentos, essa é que é essa!


Coluna de guerrilheiros do PAIGC. Foto na net.

Não falavam muito nos dias que faltavam para o fim, nem perdiam tempo com as dificuldades da guerra, ocupavam-se com a vida deles, os treinos diários, as preparações para as saídas. Todas as semanas havia grupos no mato, à caça da guerrilha, embora muitas vezes não os encontrassem. Sentiam que o IN estava cada vez menos ingénuo, melhor preparado e mais atrevido. Mas eles também estavam e não devia ser por eles que a guerra se iria perder.

Nas apreciações que, entre eles, faziam sobre algumas unidades dispersas pelo mato, custava-lhes ver o ar crítico com que frequentemente eram recebidos por alguns profissionais do quadro, do género, lá vêm estes tipos complicar-me a vida. E, quase sempre, eram eles que os chamavam. Diziam que tinham informações novas de um acampamento, guia para os levar, que tinham tudo, era só irem lá e apanhavam-nos logo.

Estavam habituados a testemunhar cenas caricatas. Quando os comandos chegavam ao local, a primeira tarefa era falar com o tal guia e, quase sempre, a história não fora bem contada, nem era assim tão raro concluir-se que não havia qualquer dado concreto. Que havia lá guerrilha nem se discutia. E guia havia, da zona, o que já não era nada mau! Caçador quase sempre, acampamento, sim, ouvira contar que estava na mata de Buba Tombó, em Morés, no corredor de Sitató, com manga de turra e manga de armas.

São muitos? Sim, manga de pessoal bandido! Quantos pessoal? 10? Sim, são! 50? Sim, são! Tem armas? Tem! Muitas? Muitas, sim! Blindados também? Sim, tem também! E mais uma saída para o galheiro, curvas e mais curvas na mata e nas bolanhas, é já ali e nunca mais era. Mais uma noite às voltas, com muita atenção para não acabarem embrulhados. Percorreram quilómetros e quilómetros em saídas abortadas.

A partir de certa altura, com a experiência ganha, os comandantes de grupo desconfiavam quando viam tanta informação. E, por vezes, surgiam problemas, quando reparavam que os estavam a querer levar. Diziam que assim não, não era missão para comandos. Só que já estavam no local e, embora defraudados, custava-lhes virar a cara.

Os comandantes dessas companhias, o que queriam era dar ronco6 à tropa deles, a parte melhor destinavam-na para a tropa que comandavam. Lógico, se estivessem tão seguros da informação é claro que não chamavam os comandos, o ronco era para a unidade deles. Pediam-lhes para executarem um golpe de mão a um acampamento inimigo e, depois de os terem na zona, utilizavam-nos como elemento de dispersão, pondo-os a trilharem carreiros que desconfiavam estar armadilhados, a servirem de rebenta-minas, ou, na melhor das hipóteses, há muito abandonados. E quando acontecia, e aconteceu mais que uma vez, que, apesar da pouca informação, por uma execução feliz, apanhavam guerrilheiros desprevenidos, quando regressavam à base com o material capturado já não davam importância ao facto de serem recebidos com frieza pelos comandos da companhia ou do batalhão. Interessava-lhes muito mais terem tido sucesso e ficavam satisfeitos pela forma calorosa com que geralmente eram recebidos pelos soldados, sargentos e alferes.

O Comandante Militar, especialmente depois do caso de Teixeira Pinto, viu-se na necessidade de elaborar uma directiva esclarecendo as condições da utilização dos grupos de comandos tal era a resistência das chefias das unidades espalhadas pelo mato. E este foi um factor com que os grupos tiveram sempre de lidar até ao final da comissão e que só terminou com a chegada das companhias formadas em Lamego, que vinham já com um estatuto melhor definido. De resto, esta foi esta uma das razões que levou o Capitão Rubim a bater com a porta e a dizer ao Comandante Militar, venha outro que eu prefiro comandar uma companhia no mato, nem que seja em Guilege!

A vida no mato era difícil para as NT, as instalações eram precárias, muitas vezes não eram reabastecidos a tempo, estavam fartos de viverem dentro do arame farpado. Era o que acontecia a praticamente todas as unidades que estavam sediadas fora de Bissau, de Bolama, de Bafatá, de Farim, de Teixeira Pinto, dos centros de decisão onde normalmente estavam sediados os comandos de batalhão. E naturalmente estavam ansiosos de saírem dali.

Claro, o pessoal dos comandos também ansiava por uns dias na metrópole, uns abraços à família, passear com a namorada, ir até à praia, apanhar um ar mais fresco. Um ou dois dias depois do regresso a Brá, ainda com o cheiro de Lisboa no nariz, já estavam no Oio, no Cantanhez, em Guilege, em qualquer lado, G-3 na mão, T-6 no ar, manga de chocolate7, água dos charcos das últimas chuvas para matar a sede.

Ainda a semana passada... A semana passada? Anteontem, porra! Anteontem então, o bife no Toni dos bifes, no Saldanha, a ida até ao Ritz, ao Comodoro, ao Fontória da Praça da Alegria, o twist, o rock!
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Notas:
1 - Oito F-86F foram para a Guiné em 9 de Julho de 1961, no início mais como efeito dissuasor. Com o agravamento da situação acabaram por desenvolver várias acções de combate a partir de Julho de 1963. Entre Agosto de 63 e Outubro de 1964, os F-86 voaram 577 missões, a maioria das quais de ataque ao solo ou apoio aéreo próximo. Dos oito aviões destacados, sete foram atingidos por fogo inimigo, conseguindo todos regressar a Bissalanca, à BA 12. Dois foram destruídos, um a 17 de Agosto de 1962 numa aterragem de emergência, ainda com as bombas nos suportes externos e o outro a 31 de Maio de 1963 abatido por fogo antiaéreo inimigo. Em ambos os casos os pilotos foram recuperados. Pressões políticas da Administração Norte-Americana obrigaram ao regresso dos aviões a Portugal, já que os mesmos tinham sido fornecidos no âmbito da NATO, com a missão de proteger o flanco Sul.
 
2 - Lança-granadas foguete, “Rocket-propelled grenade”.
 
3 - Capitão Carlos Fabião
 
4 - Tenente-Coronel Fernando Cavaleiro 

5 - Militares recém-chegados
 
6 - Festa
 
7 - Confusão, em dialecto local

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Nunca digas adeus a Cuntima

28 Março, 06H00, céu limpo na Base Aérea de Bissalanca.


Esquadrilha dos Alouettes III, alinhados na BA 12, em Bissalanca. Imagem da net.

30 comandos recebem ordem de embarque nos 6 Allouettes III, motores a trabalhar, formados em 2 colunas.

Ganham altura, rumam a Norte, fumos aqui e além sobem das matas. Às 06h30 desviam-se para leste, baixam a altitude e, alguns minutos depois muda o tempo. O nevoeiro cobre a zona a norte de Farim. Que estavam na zona da fronteira os pilotos não tinham dúvidas, tinham era sobre que território estavam a sobrevoar e o local previsto para a largada não o conseguiam ver. O comandante da esquadrilha, Major Mendonça, decide recuar para a área de Jumbemebem e, depois, voltam para nordeste, a rapar as copas das árvores, directos até ao local previsto.
Frente à larga bolanha que procuravam, abrandam e aproximam-se em linha da orla da mata. Recebida a indicação para abrir portas preparam-se para saltar. Aos pares, um por cada porta, saltam para a bolanha com mais água do que aparentava, enterram-se no lodo com água pela cintura e era uma vez o pão com chouriço que levavam nas calças. Internam-se na mata, enquanto vêem os helis, graciosos, virarem à esquerda, a recuperarem altitude, de regresso a Bissau. De joelhos, aguardam instruções enquanto os dois chefes de grupo consultam o mapa e verificam os rádios.


Estavam na fronteira com o Senegal a cerca de uma quinzena de quilómetros de Cuntima, aquartelamento das NT flagelado diversas vezes nos últimos meses. Nos trilhos de acesso à povoação minas anti-carro e anti-pessoal tinham causado estragos.

O grupo helitransportado tinha recebido a missão para nomadizar na zona durante dois dias, procurando o IN e dando-lhe caça, posto o que se deveria dirigir pelos seus meios para Cuntima, onde aguardaria o regresso a Farim em coluna auto.

Regressaria a Bissau, logo se via se por via aérea ou marítima. Previsto um único contacto visual e rádio pelo sobrevoo de uma Dornier-27 para as 11h00 do dia seguinte. Montada a segurança, dispostos em círculo, ouvem as indicações específicas da missão. Alguns aproveitam para ficarem mais leves, comem os pães encharcados em molho de água da bolanha. Em coluna por um, bem separados uns dos outros, como estavam habituados durante o dia, iniciam a marcha sem pressas.
Arbustos intercalados por árvores de algum porte, montes de baga-baga aqui e além. Procuram trilhos. Na maior parte conseguem andar fora deles e progridem sem dificuldade. Pesquisam-nos, vêem pegadas, sinais de movimento recente. Decidem-se por um, metem-se por ele, pelas margens, rumo a noroeste, em direcção a Cuntima.

Estavam claramente na fronteira e em dúvida se já não estariam mesmo em território senegalês. Por volta das 10h00 atingem o final da mata com nova bolanha, com pouca água, pareceu-lhes, em frente. Dispõem-se em linha na orla da mata e, sem pressas, instalam-se ali a observar o movimento.

Decidem atravessá-la e entrar na mata. É uma bolanha larga. Começam a travessia, cada homem separado uns 3 a 4 metros da sua parelha, em linha, vista e ouvidos alerta para a floresta em frente.

Mais de metade da travessia feita, um tiro. Instintivamente param e ajoelham. A bala não lhes pareceu ser de pistola, não lhes tinha sido dirigida, mas naquele momento não têm dúvidas, tinham sido detectados. Ali é que não podiam ficar. Cautelas reforçadas, retomam a travessia. Minutos depois, começam a chegar à orla da mata de onde foi feito o disparo. Abrigam-se, à escuta, quietos.

Uma rajada curta, três ou quatro tiros. Surpresos, ouvem conversas e gargalhadas muito perto. Estão à porta de um acampamento IN. Não perdem tempo. Por sinais, são dadas indicações a três equipas para progredirem pelo trilho, enquanto as outras três se mantiveram em linha, abrigadas.

Vagarosamente, passo a passo, dão com uma das entradas da base inimiga. As outras três equipas chegam-se à frente e vêem a cerca de cinco metros, no máximo, o interior do acampamento com alguns guerrilheiros lá dentro.

Guerrilheiros em limpezas dentro de um acampamento. Imagem da net. Com a devida vénia ao autor.

Cinco, segundo uns, seis, viram outros, estão sentados, armas desmontadas, na limpeza. Voz de fogo, rajadas curtas à queima-roupa. Não há qualquer hipótese de reacção, há gritaria, tentativas de fuga, um salve-se quem puder, uns pelo meio de outros. Um guerrilheiro com um lança-roquetes numa mão escapa-se entre eles, dois no encalço dele. Dentro do acampamento começa a caça às armas, às granadas de mão e de roquete, munições, documentação, material diverso. Casas de mata vasculhadas, lançam granadas incendiárias. Seriam mesmo? Só fumo!

O golpe de mão8 dura pouco mais de meia hora. Os homens da equipa do Black, os últimos do grupo, saem do acampamento a tossir, no meio da fumarada. A corta mato, fora dos trilhos, pisgam-se em corrida da zona. Minutos depois, ouvem rajadas e alguns rebentamentos de granadas de morteiro no acampamento assaltado. Riram-se para dentro quando viram que o fogo IN não tinha nada a ver com eles.

Bem lhes parecia. No regresso, no trilho que julgavam ser para Cuntima, os primeiros homens do grupo avistam, a cerca de uma centena de metros, junto a uma mangueira, dois guardas fronteiriços senegaleses, as armas encostadas à árvore. Abrigam-se e ficam uns momentos a observá-los. Depois, conforme o ajustado na altura, um dos chefes do grupo, cano da arma para o ar, começa a caminhar em direcção aos guardas. A meia dúzia de metros, bonjour, os senegaleses surpreendidos, levantam-se. Olham para todos os lados, desconfiados.

Guardas fronteiriços senegaleses na zona de Cuntima

Nous nous sommes perdus! Nous cherchons le chemin pour Cuntima!
Mais, Cuntima, c’est lá!
É em frente, então. Pouvons-nous passer par ici, non?
Mais oui, certainement!
Excusez-nous, bonjour!
Çá va, bonjour!

Com os últimos homens do grupo a olhar para trás, o sol a cair, o pessoal acantonado em Cuntima viu-os chegar do lado do Senegal.

O capitão Leandro estivera no final da manhã no aeroporto a informar-se das condições em que o grupo tinha sido largado lá em cima na fronteira e pelas indicações do comandante da esquadrilha correra tudo sem problemas. Agora, restava-lhe aguardar o dia seguinte. Logo pela manhã apanharia uma Dornier e lá para as 11, 11 e 30 estaria em cima da zona, a inteirar-se do decorrer da acção. Em Brá, dentro do gabinete a pôr a papelada em dia, vê o soldado Napier bater à porta. Uma mensagem para o meu capitão.

“De Cmdt CArt 732 para Cmdt BArt 733, com inf. a CEM, Cmdt Agr 16 e Cmdt Comandos Vamp terminada(.) Armamento capturado Faquina Fula(.) 2 met ligeiras Degtyarev 1 PPSH 1 Thompson 1 Beretta 1 Mauser 2 carabinas e mais material(.) Grupos recolhidos em Cuntima.”
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Nota:
8 - Assalto a acampamento inimigo

(Continua)
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Nota do editor

Poste anterior da série de 27 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P15044: Guiné, Ir e Voltar (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando) (XII Parte): Guia em fuga; Um descapotável em Bissau e Entram os Alouettes

domingo, 28 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11496: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (44): A gloriosa CCAÇ 675 foi realmente única

1. Mensagem do nosso camarada Belmiro Tavares, (ex-Alf Mil, CCAÇ 675, Quinhamel, Binta e Farim, 1964/66), com data de 15 de Abril de 2013:

Caro Carlos Vinhal, Será isto uma doença?
Caso afirmativo… não tenho cura!

Somos levados a concluir que a gloriosa CCaç 675 foi realmente única; não, é claro, por não haver outra com este número, mas porque ela foi realmente diferente, para melhor, em comparação com a grande maioria das unidades que “guerrearam” (sem ódio) nos três teatros de operações.

O Jero, eu e outros temos apregoado intensamente que fomos e continuamos a ser ímpares – perdoem a nossa vaidade. A verdade é como o azeite: vem sempre à superfície.

Quem leu os nossos textos no blogue e os deliciosos livros do Jero ficou a conhecer, em parte, as razões do nosso orgulho.


Prestem atenção: 

- 1º - Tivemos um capitão sem par! Grande parte da nossa obra é consequência disso mesmo.

- 2º - Limpámos completamente a nossa zona e mantivemo-la sem “intrusos” até ao fim da nossa comissão.

- 3º - Os nossos militares distinguiam-se, no aquartelamento, no mato ou na cidade, pela sua valentia, coragem e pelo seu comportamento e disciplina.

- 4º - Recuperámos milhares de civis que, para fugirem à guerra, se refugiaram no Senegal vizinho; voltaram quando se aperceberam que ali já havia paz e condições “ótimas” para viver.
Por ação direta, dedicada e intensa do nosso capitão conseguimos sementes para as suas “lavras”. Tiveram uma colheita “astronómica”; foram “ensinados” que era necessário semear e colher o máximo para alimentar também os que ainda haviam de voltar – e vieram muitos.

- 5º - Mais de três dezenas de militares habilitados apenas com a 3ª classe de adultos frequentaram, nos intervalos a guerra, as “nossas aulas” regimentais e concluíram em Farim a 4ª classe.

- 6º - Construímos uma Igreja e duas pistas de aterragem.

- 7º - Para uso dos nativos, edificámos um posto de Primeiros Socorros e preparámos pessoal de enfermagem; construímos uma escola para a miudagem nativa.
Um dia, Domingo, os miúdos, alinhados por alturas compareceram frente ao comando da companhia; enquanto a Bandeira subia garbosa, ao topo daquela haste tosca, eles cantaram, donairosos, o Hino Nacional. Não se tratou de ordem ou sugestão nossas; foi decisão do professor “improvisado” que trouxemos de Farim.

- 8º - Transformámos uma singela e ruim picada de 12Km em estrada e reconstruímos duas pontes.

- 9 - Custeámos a trasladação dos nossos três mortos em combate.

- 10 - Além de vários louvores e condecorações individuais, a CCaç 675 recebeu dois merecidos louvores coletivos.


Depois do regresso, continuámos a nossa senda de diferenças: 

A) Todos os anos, em Maio, sem falha, realizamos o nosso almoço de confraternização sem esquecer a missa pelos nossos mortos, de lá… e de cá.

B) Nos intervalos dos almoços anuais tem havido as chamadas “mini 675”, com 3; 5; 10; 20 ou mais de sessenta convivas.

C) Desde a 1ª hora, os nossos familiares participam nas nossas reuniões; os familiares de alguns dos nossos mortos fazem questão de confraternizar connosco.

D) Há alguns anos, iniciámos a colocação de lápides nas sepulturas dos nossos “elos” falecidos. Este rol, longo, mas por certo, incompleto, veio a lume na sequência do lembrete para requerer as medalhas em epígrafe; acontece que todos nós, oficiais, sargentos e praças somos detentores de tais insígnias que nos foram presenteadas pela própria CCaç 675, a gloriosa.

Belmiro Tavares e José Eduardo Oliveira (JERO) juntos de um "Elo" falecido

Eis mais um tema que não consta do rol.
Obrigado, Carlos, pelo tempo roubado, mas no que à CCaç 675 diz respeito, nós sentimos sempre ganas de agarrar o mote.
Não nos levem a mal por isso!

Aquele abraço!
BT
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Notas do editor:

- Quem quiser conhecer a história da CCAÇ 675, além de ter de ler o livro do nosso JERO, "Golpes de Mãos - Memórias de Guerra", podem ler aqui no Blogue as Histórias e memórias de Belmiro Tavares e Histórias do JERO

Último poste da série de 7 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11355: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (43): Eu, aprendiz de perfeito, apresento-me

sexta-feira, 8 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11216: Tabanca Grande (389): Joaquim Nunes Sequeira, ex-1.º Cabo Canalizador do BENG 447 (Guiné, 1965/67), grã-tabanqueiro nº 608

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano Joaquim Nunes Sequeira, ex-1.º Cabo Canalizador do BENG 447, Guiné, 1965/67:

Primeiro uma explicação, o aerograma foi para ver se há mais companheiros que tenham outros pois até hoje só vi este que guardo religiosamente e que me foi enviado por um conterrâneo da Força Aérea que já não está entre nós.

A outra foto é em Belém no 10 de Junho de 2009 onde já vou pela 20.ª vez consecutiva, levando o Guião da Liga dos Combatentes - Núcleo de Sintra. Será recorde.
Quem está comigo é o General Tomé Pinto da CCAÇ 675 - Binta, onde estive algum tempo, onde estavam também os camaradas Belmiro Tavares e o J.E.R.Oliveira e tantos outros que nos encontramos há vários anos no almoço da Companhia, a Gloriosa 675 - "Que Nunca Cederá" que tem no emblema uma corrente. Sendo eu da ferrugem, não mais os larguei.

- Joaquim Nunes Sequeira - "O Sintra da Guiné"
- Data de Nascimento - 11/03/1944
- 1.º Cabo Canalizador N.º 8/65 C.M.E
- Batalhão de Engenharia 447
- Guiné, 17/12/1965 a 22/11/1967

Segue em anexo foto actual e mais duas da Guiné. Logo que tenha oportunidade mando a primeira história da praxe e depois irão mais, seguindo mais ou menos as voltas que dei pela Guiné.

Passagem por: Pelundo, Nhacra, Mansoa, Cutia, Mansabá, K3, Farim, Binta, Lamel, Jumbembem, Canjambari, Bambadinca, Cuntima, Bafatá, Nova Lamego, São João, Bolama, Jabadá, Tite, Enxudé, Fulacunda, Ilha das Galinhas, Ilha das Cobras, Nova Sintra, Olossato, e Bissorã...

Por agora é tudo, até sempre.
Um abraço Amigo

Antes de terminar, não sei qual o meu número de Tabamqueiro se antes, se depois do 600.
Antecipadamente um obrigado por me aceitarem a fazer parte da Familia mais Nummmmmmmmerosa de PORTUGAL.

O SINTRA DA GUINÉ
1.º CABO Nº 8/65
BENG 447

Nova Sintra > Bagabaga

S. João, 1966


2. Comentário de CV:

Caro Sintra da Guiné, bem-vindo à Tabanca Grande.
Deste-me cá uma trabalheira para decifrar a tua mensagem que nem te conto. Eram estrelas por tudo quanto era sítio e o texto todo misturado. Para a próxima escreve a mensagem de dia, evitas assim as "estrelas", e confere se o que escreveste está perceptível. Desta vez desenrasquei-me.

Desculpa por ter brincado agora mesmo contigo, precisas, talvez, de um pouco mais de treino.

Já vi que tens bons amigos, a perceber pela amostra. O JERO e o Belmiro Tavares são nossos amigos particulares e tertulianos activos. Não tenho o prazer de conhecer pessoalmente o senhor General Tomé Pinto, mas o seu passado fala por si.

Para os nossos leitores perceberem a tua introdução, vou fazer um link para o teu primeiro poste* já publicado e apresentar de novo as fotos que referes.



Belém, 10 de Junho de 2009 > Joaquim Nunes Sequeira, porta-bandeira do Núcleo de Sintra da Ligados Combatentes, falando com o Gen Tomé Pinto.

Caro Sequeira, estás então apresentado à tertúlia.
Quando quiseres envia as tuas fotos, com as legendas à parte, porque as que enviaste traziam umas etiquetas que tive de retirar pois não são muito funcionais em termos de edição. Podes dar um número a cada foto, e à parte, escreves as respectivas legendas.

Recebe um abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores.
 O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 30 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10881: O nosso livro de visitas (154): Joaquim Nunes Sequeira, ex-combatente da Guiné

Vd. último poste da série de 4 de Março de 2013 > Guiné 63/74 - P11192: Tabanca Grande (388): Fernando Macedo, ex-1.º Cabo Apontador de Artilharia Pesada do 5.º Pel Art (Cabedu, 1971/72)

sábado, 15 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10389: Bibliografia de uma guerra (64): Heróis do Ultramar, de Nuno Castro (Maria Teresa Almeida)

1. Mensagem da nossa amiga tertuliana D. Teresa Almeida (Liga dos Combatentes) com data de 11 de Setembro de 2012:

Boa Tarde meu Estimado Combatente Dr. Luís Graça
Verifico agora que o Livro HERÓIS DO ULTRAMAR, que peço divulgação no blog, tem depoimentos escritos dos nossos Amigos e Combatentes na Guiné: José Eduardo Oliveira, Belmiro Tavares, do Sr. General Tomé Pinto e vários.

Um abraço muito amigo
Teresa Almeida


Sinopse*:

Entre 1961 e 1974, centenas de milhares de portugueses combateram em Angola, em Moçambique e na Guiné. Mas, como acontece em todos os conflitos, só alguns combatentes se destacaram. Heróis do Ultramar traça o retrato de um punhado de homens que se distinguiram nos campos de batalha da Guerra Colonial e que ainda hoje são recordados pela sua bravura extrema. Portugueses que, independentemente do curso da História, da política ditada pelo governo de Lisboa, das suas próprias convicções e até das suas personalidades por vezes polémicas, demonstraram uma extraordinária capacidade de liderança debaixo de fogo e uma determinação inabalável perante a adversidade e o terror que só uma guerra consegue despertar. Escrito a partir de vários testemunhos e das memórias dos combatentes, Heróis do Ultramar reúne alguns dos episódios mais ousados e dramáticos das três frentes do conflito português em África, na perspectiva dos seus principais protagonistas no terreno.

Autor: Nuno Castro
Editora: Oficina do Livro
Lançamento: Agosto de 2012
N.º páginas: 192
Encadernação: Capa mole

(*) Com a devida vénia a Site da FNAC
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 15 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10266: Bibliografia de uma guerra (63): Uma foto de 1972 que documenta a visita da Cilinha a Cufar (Armando Faria)