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domingo, 16 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P19020: O Cancioneiro da Nossa Guerra (10): O fado "Tudo isto é tropa" (recolha de Gabriel Gonçalves, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71)

Gabriel Gonçalves
1. Mais uma letra de fado (parodiada...) a juntar ao Cancioneiro da Nossa Guerra. Foi-nos enviada pelo nosso grã-tabanqueiro Gabriel Gonçalves (ex-1.º cabo cripto, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71), com a seguinte mensagem, datada de 29/11/2011 (*):


(...) Já que estamos em maré de fados, junto um fadinho, de que não sei quem é o autor. Também não me lembro como o aprendi (...), mas é bastante giro, pois retrata bem a nossa triste vida, na tropa!

Já agora, dei-me ao luxo de alterar a última quadra; onde se lê "cuidado" [2º verso da IV quadra], substituí por "azar" e para rimar..."estás a lerpar"!... Achei que era mais giro.

De resto, acho que este fado é anterior ao nosso tempo [de Guiné,] porque fala em botas cardadas. No nosso tempo as botas já não tinham cardas! (...)

2. Renovo aqui o que em tempos escrevi sobre o "Arcanjo São Gabriel" ou "Guê-Guê":

Não sei por que te fizeram arcanjo e santo ... Talvez porque, simbolicamente, nos ajudaste,  a nós, operacionais da CCAÇ 12, a dar de beber à dor... e assim nos inunizaste e nos protegeste!

Sempre foste um grande senhor e um  camaradão... Com a tua viola e a tua bela voz, animaste muitas das nossas noites, quer no bar de sargentos de Bambadinca, quer também no nosso quarto (conhecido por quarto das 'putas'.  como a devida vénia ao Humberto Reis, o autor da expressão: não por elas terem autorização de lá entrar, mas por ser o quarto da rebaldaria, só habitado por anjos e arcanjos: eu, o Humberto Reis, o Tony Levezinho, o Joaquim Fernandes e o José Luís Sousa - o madeirense...). Não era o céu, era o que se podia arranjar mais próximo do céu, naquele cantinho do inferno...

Tenho eu, temos nós,  uma dívida de gratidão. para contigo, Guê-Guê!  E mais grato ainda te fico   por teres salvo e enviado esta letra de fado que tu cantavas, nós cantávamos, nesses tempos, juntamente com outras que já recuperámos e que já  fazem  (ou vão fazer) parte de O Cancioneiro da Nossa Guerra   (**)

É justo lembrar que tu eras, de todos nós, o que tinhas mais "cultura fadista", sendo alfacinha e rapaz vivido...A tua viola e a tua voz animarama muitas noitadas e tainadas em Bambadinca... Muitas ? Aquelas que conseguíamos roubar ao tempo da guerra, do teu serviço cripto e das nossas saídas para o mato, das nossas operações, etc. Não tenho sabido de ti. Dá notícias. 

3. Letra fado "Tudo isto é tropa"

Com música de "Tudo isto é fado" (Letra: Aníbal Nazaré; Música: Fernando Carvalho; criação de Amália Rodrigues).[Clicar no atalho para ver e ouvir vídeo no YouTube]


Tudo isto é tropa

I

Perguntaste-me outro dia
O que era a vida militar,
Eu disse que não sabia
Mas estava-te a enganar.

II

Sem saber o que dizia,
Menti-te naquela hora,
Eu disse que não sabia
Mas vou-te dizer agora.

Refrão


Botas cardadas, mal engraxadas, sempre a marchar.
Batendo a pala, como um magala, sem refilar.
Toda a semana, numa má cama, sem ter cachopa.
Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é tropa.


III

Se pensas tomar chuveiro,
E andar bem asseado,
Perde a esperança, companheiro,
Pois vais ser desenganado.

IV

Quando limpas a espingarda,
Quer tenhas ou não cuidado, [azar]
Vais sujar de massa a farda,
E depois ser castigado, [ estás a lerpar].



Refrão


Botas cardadas,  etc.,  etc.


[ Recolha: Gabriel Gonçalves, Lisboa, 2011. Revisão e fixação de texto: LG]

______________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 29 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9111: O nosso fad...ário (2): Fado Tudo isto é tropa (Gabriel Gonçalves, ex-1º Cabo Cripto, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)

(**) Último poste da série >  14 de agosto de 2018 >  Guiné 61/74 - P18921: O Cancioneiro da Nossa Guerra (9): Os bravos de Bambadinca

domingo, 11 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17454: (De) Caras (71): Também eu fiz parte dessa rede de "contrabando de ternura" que permitia, aos nossos familiares, fazer-nos chegar a Bissau e ao 'mato' as suas "encomendinhas"... (Hélder Sousa, ex-fur mil trms TSF, Piche e Bissau, 1970/72; criado em Vila Franca de Xira e a residir hoje Setúbal)

1. Comentário deixado no poste P17453 (*), pelo nosso colaborador permanente Hélder Valério de Sousa (ex-fur mil trms TSF, Piche e Bissau, 1970/72, ribatejano a viver em Setúbal, com página pessoal no Facebook)


Uma história deliciosa (não só por causa do bacalhau...) que demonstra bem a capacidade inventiva do 'português típico' que é capaz de descortinar uma saída qualquer para os 'milhentos' problemas com que muitas vezes se depara.

Essa cadeia de solidariedade, de boas vontades, funcionou. E funcionou bem.

Em Vila Franca de Xira, onde vivi até ir para a Guiné e ainda algum (pouco) tempo depois, havia (e ainda há) um rapaz do meu tempo (1 ou 2 anos mais velho),  o Orlando Levezinho, que julgo ser primo do Tony. Tocava num daqueles conjuntos que proliferavam na década de sessenta e acho que ainda hoje está ligado a actividades musicais.

Mas o que me levou a fazer este comentário foi o apelo do Luís para que aparecessem mais histórias de remessas de produtos que chegavam por diversas formas e meios.

É claro que para quem estava em Bissau as coisas eram muito mais facilitadas, mas no interior também chegavam coisas. Acontece é que para o Levezinho a cadeia de solidariedade era mais complexa mas, mesmo assim, não teve quebras...

Uma das formas como as coisas chegavam era pelo 'portador'.

Quando se regressava de férias lá havia umas 'lembranças', fosse em bacalhau, chouriços, queijos, etc.

Quando fui para a Guiné (já contei aquando da minha apresentação aqui) fui portador de um garrafão de água-pé, castanhas e outras coisas, pois calculava-se que chegaria lá a tempo para o S. Martinho e de facto assim aconteceu pois cheguei no dia 9 de Novembro.

Essa 'encomenda' foi para o meu conterrâneo José Augusto Gonçalves, colega de turma na EICVFXira [, Escola Industrial e Comercial de Vila Franca de Xira] que era Fur Mil no Pelotão de Transmissões (tratava da montagem dos rádios e assistência à aparelhagem),  cujo quarto (que ele partilhava com outros dois Fur Mil,  o Vítor Ferreira, também de Vila Franca e meu parceiro/competidor de bilhar na "Brasileira", e o já aqui várias vezes referido Pechincha, da CART 11) fui usufruir.

Mais tarde, também foi a minha vez de receber alguma coisa, desta vez por intermédio de um tripulante do T/T "Niassa". Era avisado por carta (ou aerograma) de que isso ia acontecer, estava atento à chegada dos navios, entrávamos em contacto e lá recebia a encomenda.

Também tinha a sorte de ter um primo (aí já em terceiro grau...) na Base Aérea [,BA 12, em Bissalanca], o Sargento Salgado Valério (acho que era Valério Salgado, não sei bem) e que também de vez em quando recebia coisas por via aérea e que me facultava parte quando calhava.

Mas a maior parte e mais interessante, eram as encomendas que o meu camarada das Transmissões e da Escuta, o Fur Mil Nelson Batalha,  recebia.

O seu pai era funcionário de um Despachante aqui de Setúbal, o Fernando Pedrosa, que foi dirigente do Vitória de Setúbal e também com responsabilidades federativas.

Algumas vezes foi possível enviar, já quando estávamos em Bissau, na Escuta, umas caixas isotérmicas em barcos que passavam por Setúbal, por exemplo o "Ana Mafalda". Nessas caixas iam imensas coisas variadas que o Nelson partilhava connosco. Fruta da época (lembro-me bem dos melões, que o pessoal nativo dizia ser "papaia da metrópole"), compotas, bolachas, enchidos, etc..

Havia também patês variados de coisas que não estava habituado, como veado, javali e outros (isso agora é corriqueiro mas na época o que havia eram os de sardinha e atum e de presunto) e também várias espécies de salsichas, da Baviera, suecas, etc, que provinham das amostras que os fornecedores deixavam na Alfândega e que,  pronto!,  lá seguiam até à Guiné.... para se fazer o teste e aprova de qualidade.

Quando estive no interior, no 'mato', em Piche, lembro-me que de vez em quando havia quem recebesse coisas da 'Metrópole' mas não me lembro qual o meio utilizado.

Abraços
Hélder Sousa

_______________

Nota do editor:

Vd. poste de  10 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17453: (De) Caras (77): O "contrabando" da... ternura ou como o "fiel amigo", o bacalhau, chegava à Bambadinca, ao Tony Levezinho, utilizando uma vasta rede de intermediários, do navio-tanque da Sacor à Casa Fialho - Parte II

sábado, 10 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17453: (De) Caras (70): O "contrabando" da... ternura ou como o "fiel amigo", o bacalhau, chegava à Bambadinca, ao Tony Levezinho, utilizando uma vasta rede de intermediários, do navio-tanque da Sacor à Casa Fialho - Parte II




"António Eugénio da Silva Levezinho nasce a 24 de Novembro de 1947, em Lisboa. Do pai, António Levezinho, herda o nome e a vontade de "vestir a camisola" pela Sacor. Seu pai era o funcionário número 27 da Sacor, onde entrou como electricista em 1954. É com orgulho que refere: "Já não fui o primeiro Levezinho a entrar para a Sacor, porque o meu pai é contemporâneo ao primeiro dia de existência da Sacor e contribuiu com as suas capacidades e competências para a construção da Refinaria de Lisboa." Com 5 anos apenas, ia já à refinaria onde o porteiro, impecavelmente bem vestido, perguntava: "Vem ver o paizinho?" Desde essa altura que entende esta empresa como uma segunda casa. É aqui que, em 1968, é abraçado pelo petróleo como escriturário aspirante. Na Sacor faz todo o seu percurso profissional, em Aprovisionamento e Exportação, até chegar a director-adjunto, em 1990." 

(Fonte: Vidas Galp Museu Virtual > Família > {1967] Anrtónio Levezinho, com a devida vénia. Segundo o Tony Levezinho, o pai começou por trabalhar, em 1940, numa das empresas que estava a construir a refinaria da Sacor. E entrou a seguir para a Sacor. Quando se reformou já era o funcionário nº 1 e não o 27).


1. Mensagem do Tony Levezinho, ex-fur mil at inf, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71):

 Olá,  Luis

Tal como o prometido, aqui segue um pequeno texto, o qual, tanto quanto a memória me permite, tenta corresponder ao teu desafio (*)

Sabes que,  em "open space",  não me é particularmente grato falar na 1ª pessoa. Contudo, acho que neste caso, tinha que ser mesmo assim.

Agradecimentos, entre amigos são dispensáveis. No entanto, quero que saibas do meu reconhecimento pela tua referência ao meu pai, a qual, sei que é genuína.

Um grande Abraço e um Beijinho para a Alice.

Tony

P.S. - Na Net encontras um site,  Galp Vidas -Museu Virtual. Já na primeira década de 2000 (talvez 2005/6) fui convidado pela Galp para participar, no contexto da minha área (Aprovisionamento e Exportação). Se tiveres algum interesse...


2. A OPERAÇÃO “BACALHAU COM TODOS” 

por Tony Levezinho


O Bacalhau, mais do que um produto gastronómico comum à mesa portuguesa é, sem dúvida, uma herança cultural de gerações.

Fazendo honras, como nunca, ao seu título de “Fiel Amigo”,  foi companheiro de muitos de nós com a frequência possível, mas sempre com a virtude de confortar o estômago e de mitigar quer as saudades que sentíamos das nossas famílias, quer as vicissitudes e incertezas do nosso dia-a-dia.

Concretamente, acerca do Contrabando de Ternura, tal como o meu querido amigo Luis Graça lhe chama, aqui vão os contornos principais do esquema que fazia funcionar esta “rede de contrabando”, a operar a partir do Continente, sempre com o objetivo de nos fazer sentir um pouco mais próximos dos nossos locais de origem, de onde (ainda hoje não percebo bem porquê) nos tiraram.

Na empresa onde trabalhei, a Sacor (depois de abril,  integrou a Petrogal, que hoje pertence ao grupo Gal),  tive a sorte de ter um colega que por acaso também se chamava António Levezinho, pessoa muito estimada naquela organização, na altura, um dos poucos ainda no ativo, desde a sua fundação [. Chegaria a ser o nº 1, na altura em que se reformou.]

Acresce que este colega era o meu pai. Assim se justifica (ainda mais) a sua iniciativa de usar as boas relações que tinha com todos os setores da companhia para, junto da Sacor Marítima, empresa armadora do grupo (existe ainda hoje com a mesma designação) assegurar que os pacotes com o “precioso miminho” chegavam ao Parque de Armazenagem de Combustíveis de Bandim, em Bissau.
Para o efeito, os navios envolvidos neste tráfego eram o  “SACOR”, o “ROCAS”, o “CIDLA” ou o “BANDIM”, aqui apresentados, pela mesma ordem:







Chegada a mercadoria à Guiné, era então a vez de entrar em ação o chefe do parque da Sacor, o senhor Daniel Brazão, com quem ainda viria a trabalhar em Lisboa, após o meu regresso. Este cúmplice providenciava no sentido de que as encomendas com o "fiel amigo" fossem entregues na Casa Fialho, casa comercial à boa maneira colonial e com grande implantação no território, a qual, a partir da sua casa-mãe em Bissau, se encarregava de as fazer seguir até à sucursal de Bafatá, onde eu próprio ou alguém a meu pedido as recolhia, logo que possível.


O porquê do envolvimento da Casa Fialho nesta “liga de boas vontades”? [Não tenho a certeza se a foto à esquerda à da Casa Fialho ou da Casa Pintozinho em Bissau... Foi o TOny que ma mandou, sem legenda. LG]

Simplesmente porque o seu dono, o senhor Sérgio Fialho, era o líder de uma família abastada de uma aldeia chamada Sobrena, no concelho do Cadaval, onde uma tia minha (irmã do meu pai) vivia, por se ter casado com um natural daquela localidade.

Depois desta confidência sobre os detalhes de como funcionava, no terreno, a operação “Bacalhau Com Todos”, dou comigo a pensar se não será excessiva a fidelidade que atribuímos ao Bacalhau, a ponto de o tratarmos como o “Fiel Amigo”.

Da minha parte, garanto, a fidelidade é absoluta para com o Bacalhau, qualquer que seja a maneira como ele se apresente no prato.

Um Abraço Amigo

Tony Levezinho
(CCaç.12 - Bambadinca, 1969/71)

08/jun./2017

[Imagens enviadas pelo Tony Levezinho]



Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Estrada Bambadinca-Xime > Ponte do Rio Udunduma >  Destacamento da CCAÇ 12 > 1970 > 2º Grupo de Combate >  Era um ponto estratégico esta ponte. Dormíamos em buracos. De dia, davam-se ums mergilhos, apanhava-se peixe à linha ou à granada, fazíamos uns petiscos...mesmo sem cozinha. O almoço e a janta vinham de Bambadinca. O Tony Levezinho deve ter comido aqui, com o seu pessoal, uns postinhas de bacalhau assado na brasa.

Na foto, o Tony e o Humberto estão sentados na manjedoura... Era ali, protegidos da canícula, que tomavámos em conjunto as nossas refeições, escrevíamos as nossas cartas e aerogramas, jogávamos à lerpa, bebíamos um copo, matávamos o tédio...O dia acabava cedo, mal o sol de punha. O Tony, à esquerda, segura  uma granada de LGFog, calibre 3.7. Também à esquerda, de pé, em segundo plano o saudoso 1º cabo José Marques Alves (1947-2013).


Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



3. Comentário do editor LG:

Tony, obrigado!... Tenho mesmo que te agradecer em nome da Tabanca Grande. Seria uma pena que esta história ficasse só no baú da memória... e acabasse por se perder!

Por outro lado, ninguém vai ter lata de pôr em causa ou contestar o esquema que o pai Levezinho arranjou para te fazer chegar o "fiel amigo"... Na realidade, este esquema é centenário e tipicamente português...Um amigo faz sempre um jeitinho a um amigo, e para mais quando a causa era "nobre".. 

Bolas, estávamos em guerra, e longe de casa, e o teu velho devia ter uma coração de manteiga... Daí me ter ocorrido a expressão "contrabando de ternura"... O que ele organizou foi apenas uma rede de suporte social informal que funcionou às mil maravilhas, com 5 mil quilómetros de comprimento, Bafatá, Bambadinca)... E repara: nem tu nem o teu pai lesaram ninguém, muito menos a companhia... A "encomendinha" chegava sempre a bom porto, graças a um série de boas vontades... Um esquema bonito, perfeito, bem português... (E que eu saiba, nunca  houve reclamações: o teu/nosso "fiel amigo" não se perdia nas águas do Geba, como o da Intendência...).

Agora diz-me outra coisa: sempre tiveste jeito para a cozinha e acho que davas um grande "chef" se te metesses por aí... Em Bambadinca chegaste a meter o bedelho na cozinha das  messes ? [A cozinha era comum à messe de oficiais e à messe de sargentos]. Quem fazia os petiscos ?

Continuo a gostar de bacalhau de todas as maneiras e feitios... Ontem a Alice fez um belo bacalhau, receita meio nortenha, metade dela,   para uns alemãos de Münster... e eu contei-lhes a história do "Maria da Glória", miseravelmente afundado pelo U-94...do 1º tenente Otto Ites, em 5/6/1942... Adoraram o bacalhau... E sobre o nazismo têm um discurso inatacável: os alemães eram todos nazis, filhos, pais, avós, até ao Hitler... Um sistema totalitário a que a judia alemã Hanna Arendt  (1906-1975) chamou o "mal absoluto"... Em conversa, entre brancos, tinta  e uma aguardente velha para acabar em beleza, concluímos que o filho da mãe do Salazar até foi um ditador "ligh"... Terá sido ?

Eu discordo: afinal, cada povo tem afinal o ditador que merece... O nosso, por exemplo, não queria que os portugueses soubessem que os "nossos amigos alemães" eram capazes de fazer tiro ao alvo contra os nossos valentes pescadores e marinheiros que, no meio da maior batalha marítima de todos os tempos, se esgueiravam até à Terra Nova e à Gronelândia para pescar o "fiel amigo".

Um xicoração, Luís


4. Resposta do Tony Levezinho, com data de 8 do corrente:

Luis
Confirmo o gosto pela cozinha que ainda hoje exercito com prazer, mas em Bambadinca não me lembro de ter entrado na cozinha de qualquer das messes.
Curiosamente, lembro-me de preparar alguns petiscos, mas não recordo em que circunstâncias.

sexta-feira, 9 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17451: (De) Caras (69): O "contrabando" da... ternura ou como o "fiel amigo", o bacalhau, chegava à Bambadinca, ao Tony Levezinho, utilizando uma vasta rede de intermediários, do navio-tanque da Sacor à Casa Fialho - Parte I


Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71)  > 1970 > Furriéis milicianos Tony  Levezinho e [Luís Graça] Henriques, à civil... Dois amigos para a vida...


Foto: © António Levezinho (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Já aqui recordámos, neste blogue de antigos combatentes, a importância que tinha, no TO da Guiné, durante a guerra colonial, a presença do "fiel amigo" (*)... 

Para suprir as falhas da Intendência, eram as nossas próprias famílias que nos faziam chegar, aos aquartelamentos no mato, remessas do tão desejado bacalhau... sobretudo nas datas mais festivas e simbólicas, como o Natal ou o nosso dia de anos.

O "fiel amigo" vinha às postas, devidamente embalado, seco, salgado, e de preferência era do "especial", com a altura de 4 dedos... E ainda o João Alves, que é de Torrres Vedras,  não tinha inventado o "bacalhau demolhado, ultracongelado,  pronto a cozinhar",,, (A Riberalves aparecereá só em 1985, muito depois de ele vir da Guiné, onde estava quando aconteceu o 25 de abril) (*).

Estou-me a lembrar, isso sim, de um dos amigos que fiz, para a vida, o Tony Levezinho, meu camarada da CCAÇ 12, e um dos membros seniores da nossa Tabanca Grande, tal como o Humberto Reis (**).

É um gentleman, o Tony Levezinho,  tal como o pai, que eu ainda tive o privilégio de conhecer pessoalmente na sua casa da Amadora, nos primeiros anos da década de 1970, depois do regresso do inferno...  Pai e filho trabalharam na Sacor (mais tarde Petrogal, hoje Galp)... Quando o pai Levezinho se reformou era simplesmente o empregado nº 1 (!).

O Tony chegou mesmo a chefe de divisão (o que não era fácil a um self-made man como ele, numa empresa de engenheiros). Reformado, vive hoje com a sua querida Isabel na Tabanca,,,  da Ponta de Sagres - Martinhal...

Apesar da sua modéstia, o Tony foi (e continou a ser, mesmo depois de reformado da Galp) um perito na arte do import-export do petróleo e seus derivados... Mas, se eu evoquei aqui o seu nome, foi para contar o seguinte, a título de (in)confidência: graças às suas ligações à Sacor, nunca nos faltava o "fiel amigo" à mesa, em Bambadinca...

O bacalhau e outras iguarias chegavam-nos à Guiné, a Bisssau e depois a Bafatá e a Bambadinca, regularmente, transportado no navio-tanque da Sacor até Bissau e depois,  "à boa maneira portuguesa", encaminhado até ao seu destino final... A verdade é que o pai Levezinho nunca se esquecia do filho Levezinho e dos seus amigos e camaradas de Bambadinca...

Eu tenho que ter aqui um pensamento de grande ternura e gratidão para com esse homem, o pai Levezinho, que foi um dos nossos bons irãs poisados nos poilões de Bambadinca: o bacalhau que chegava ao Tony Levezinho, periodicamente, através do navio-tanque da Sacor ( ... e da Casa Fialho, no percurso final, de Bissau a Bafatá), não era comido às escondidas, sozinho, mas sim generosa e festivamente partilhado pelos amigos e camaradas mais próximos...

 E devo acrescentar que, se não nos matava a malvada (que era muita, aos 22 anos, e para quem palmilhava léguas e léguas pelos matos e bolanhas da Guiné), foi um suplemento de alma, e seguramente ajudou-nos a sobreviver e a regressar a casa, ainda com mais ganas de continuar a viver e a amar as coisas boas da vida, de que o "fiel amigo" fazia (e continua a fazer) parte,,,

2. Ao  escrever o poste P17440 (**) sobre uma efeméride ligada à história da pesca do bacalhau, de repente lembrei-me desta história do Tony Levezinho e do seu pai, e as remessas do "fiel amigo" que nos chegavam a Bambadinca através do navio-tanque da Sacor e, depois, da Casa Fialho...

Mas faltavan-me detalhes importantes, pelo que desafiei-o, no passado dia 7, nestes termos: "Tony, tens que me contar, agora por escrito, como é que se processava esse 'contrabando'... de ternura!"...

Embora ele não goste de falar de si, na primeira pessoa do singular, e nomeadaemente em público, logo na volta do correio, ele deu-me uma resposta afirmativa: "Viva Luis: apesar de já teres dito quase tudo, vou preparar um pequeno texto para corresponder ao teu desafio. Até já. Um Abraço .Tony".

É esse texto que vai ser publicado na II Parte, em poste a seguir. (***)

_________________

Notas de leitura;

(*) Vd. Riberalves > Quem somos

(...) "A Riberalves produz 30 mil toneladas de bacalhau por ano, o equivalente a cerca de 8% a 10% de todo o bacalhau pescado no mundo. A capacidade produtiva da empresa conheceu um forte impulso a partir do ano 2000, após o investimento na unidade industrial da Moita, transformada naquela que é hoje a maior unidade mundial a operar exclusivamente no sector do bacalhau. Nesta unidade a Riberalves tem implementada tecnologia própria, desenvolvida para assegurar a produção do Bacalhau Demolhado Ultracongelado – Pronto a Cozinhar, uma categoria de produto que pela sua qualidade e carácter prático, tem vindo a permitir reinventar o consumo do “fiel amigo” e apontar a novos mercados".(,,,)

Vd, também Riberalves > Vídeos > Vídeo institucional 30 anos

(**) Vd. poste de 7 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17440: Efemérides (256): Faz agora 75 anos que foi afundado a oeste da Gronelândia o lugre bacalhoeiro ilhavense "Maria da Glória" por um submarino alemão... Dada o forte simbolismo da data, foi já proposta a Assembleia da República a instituição do dia 5 de junho como "O Dia Nacional do Bacalhau"...


(***) Último poste da série > 8 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17447: (De) Caras (75): Fausto Teixeira ou Fausto da Silva Teixeira, um dos primeiros militantes comunistas a ser deportado para a Guiné, em 1925, dono de modernas serrações mecânicas (Fá Mandinga, Banjara...) a partir de 1928, exportador de madeiras tropicais, colono próspero e respeitável em 1947, um dos primeiros a ter telefone em Bafatá, amigo de Amílcar Cabral, tendo inclusive ajudado o Luís Cabral a fugir para o Senegal, em 1960..."Quem foi, afinal, o meu avô?", pergunta o neto Fausto Luís Teixeira (nascido em Ponte Nova, Bafatá, onde viveu até aos três anos)...

quarta-feira, 7 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17440: Efemérides (256): Faz agora 75 anos que foi afundado a oeste da Gronelândia o lugre bacalhoeiro ilhavense "Maria da Glória" por um submarino alemão... Dada o forte simbolismo da data, foi já proposta a Assembleia da República a instituição do dia 5 de junho como "O Dia Nacional do Bacalhau"...


Capa do livro do ilhavense Lícinio Ferreira Amador, "Tempos de Pesca em Tempos de Guerra", edição de autor . O livro foi apresentado em 16 de abril de 2016, no anfiteatro do Museu Marítimo de Ílhavo, entre outros pelo nosso amigo Tibério Paradela. O autor é professor do ensino secundário aposentado. O livro tem 241 pp, e já vai em 2ª edição, Preço de capa;: 12 €. Pode ser adquirido aqui, no portal da CM Ílhavo.

Fonte: portal Caxinas - Poça da Barca, de "lugar" a freguesia (com a devida vénia)


1. Onze navios, sob bandeira portuguesa, foram afundados,  durante a II Guerra Mundial, não obstante e as embarcações estarem claramente identificadas como sendo oriundas de Portugal. Uma dessas embarcações foi afundada por um submarino italiano, as restantes pela marinha e pela aviação alemãs. 

Um dos casos mais chocantes foi o bacalhoeiro, o lugre-motor, "Maria da Glória".  A tragédia ocorreu a 5 de junho de 1942, faz agora 75 anos (*). Era comandado pelo capitão Sílvio Pereira Ramalheira, natural de Ílhavo, e que ficou gravemente ferido. Dos 44 tripulantes, apenas 8 sobreviveram, a bordo de um dos dóris da embarcação. Ao todo morreram 36 homens.

A embarcação de bandeira portuguesa, registada no porto de Aveiro, tinha zarpado do estuário do Tejo em 19 de maio de 1942. Na noite de 5 de junho, navegava rumo aos bancos de pesca da costa oeste da Gronelândia, quando às 22h10 é atacada, brutalmente, sem aviso prévio, a tiros de canhão do submarino U-94. (Ainda não lemos o livro do Licínio Ferreira Amador, que é um trabalho de investigação de arquivo, de vários anos. Percorremos várias versões desta tragédia na Net, havendo erros factuais nalgumas. O próprio comportamento do submarino U-94 está por esclarecer: a decisão de atacar o indefeso e frágil lugre bacalhoeiro português pode ter sido originada por fatal erro de comunicações entre os navios pesqueiros.)

A  embarcação, de três mastros, ostentava uma bandeira portuguesa no casco, não podendo haver qualquer dúvida sob a sua identificação. Na impossibilidade de deter o ataque e salvar o navio, com incêndio a bordo, mortos e feridos, é dada a ordem de evacuação, que é feita em condições heróicas sob constante metralha. O navio afunda-se  às 22h50.

Os sobreviventes, que escaparam ao naufrágio, espalham-se pelos vários dóris que foi possível içar (pequena embarcação que não é uma baleeira, e não dispunha de água nem de comida) e aqui prossegue a II parte da sua história trágico-marítima (a fome, a sede, o frio, as tempestades, o isolamento, o desespero...). Os feridos mais graves morrem, outros perdem-se no meio das vagas... Ao fim de cinco dias, só resistiam 3 dos 9 dóris. Ao nono (ou décimo) dia, são avistados por um avião de patrulha norte-americano que lhes larga caixas de sinais e de mantimentos. Ao 11.º dia, são resgatados pelo USS Sea Cloud, um navio meteorológico da Guarda Costeira Norte-Americana. Dos 44 tripulantes, há apenas 8 sobreviventes, incluindo o capitão.

Por seu turno, o U-94, que tinha a sua base em França, em Saint Nazaire, era comandado pelo 1.º tenente Otto Ites (1918-1982). Pouco tempo depois, em 28 de agosto de 1942, é atacado e afundado quando navegava à superfície no Mar do Caribe. Os sobreviventes foram resgatados pelas marinhas do Canadá e dos EUA, e levados para este último país onde ficaram prisioneiros até ao fim da guerra.

Aconselha-se a leitura do livro "Tempos de Pesca em Tempos de Guerra”, do investigador ilhavense Licínio Ferreira Amador, que traz a última versão, rigorosa, desta  história trágico-marítima.


2. Recentemente, no passado dia 8 de fevereiro, a Associação dos Industriais do Bacalhau formalizou, na Assembleia da República, a  proposta para instituição do Dia Nacional do Bacalhau em 5 de junho, justamente para homenagear o "Maria da Glória" e os seus bravos. A ideia partiu da conhecida empresa Riberalves, com o apoio do Museu Marítimo de Ílhavo. 

O afundamento do "Maria da Glória" é considerado, pelos historiógrafos, como o episódio mais trágico da história portuguesa da pesca do bacalhau. A data tem, portanto, uma forte carga simbólica   no país que mais bacalhau consome em todo o mundo. Pretende-se homenagear não só a epopeia da pesca do bacalhau mas também valorizar a dimensão económica. gastronómica e identitária que tem o bacalhau, em Portugal e nas comunidades portuguesas em todo o mundo. Duas personalidades, Álvaro Garrido (professor da Universidade Coimbra) e Ricardo Alves (presidente da AIB – Associação dos Industriais do Bacalhau, e administrador da Riberalves) são o rosto deste projeto.

Segundo a notícia que lemos no portal Terranova, de 8/2/2017, os proponentes da ideia enfatizam o facto de, ao longo dos séculos, os portugueses terem-se tornado "os maiores consumidores mundiais de bacalhau, transformando este peixe num símbolo identitário da sua cultura, alavancando uma indústria que acolhe 2000 empregos diretos e um volume de negócios de 400 milhões de euros (100 milhões de euros de exportações)."

A fundamentação académica da proposta coube ao prof Álvaro Garrido o nosso maior especialista da história e da socioeconomia da pesca do bacalhau no Estado Novo.

Parece que a proposta teve bom acolhimento no seio dos partidos representados na Assembleia da República.  

3. Recorde-se também aqui, neste blogue de ex-combatentes, a importância que tinha ou teve, no TO da Guiné, durante a guerra colonial, a presença do "fiel amigo"... Para suprir as falhas da Intendência, eram as nossas próprias famílias que nos faziam chegar, aos aquartelamentos no mato, remessas do tão desejado bacalhau... sobretudo nas datas mais festivas e simbólicas, como o Natal ou o dia de anos. 

Estou-me a lembrar de um dos amigos que fiz, para a vida, o Tony Levezinho, meu camarada da CCAÇ 12, e um dos membros seniores da nossa Tabanca Grande (**). É um gentleman, tal como o pai, que eu ainda tive o privilégio de conhecer pessoalmente na sua casa da Amadora, nos primeiros anos da década de 1970... Pai e filho trabalhavam na Petrogal... O Tony chegou mesmo a chefe de divisão (o que não era fácil a um self-made man como ele, numa empresa de engenheiros). Reformado, vive hoje com a sua querida Isabel na Tabanca da Ponta de Sagres - Martinhal...

Apesar da sua modéstia, o Tony foi (e continou a ser, mesmo depois de reformado)  um perito na arte do import-export do petróleo e seus derivados... Mas, se eu evoquei aqui o seu nome, foi  para contar o seguinte, a título de (in)confidência: graças às suas ligações à Sacor, nunca nos faltava o fiel amigo à mesa, em Bambadinca...

O bacalhau e outras iguarias chegavam-nos à Guiné, a Bisssau e depois a Bambadinca, regularmente, através do navio-tanque da Sacor... À boa maneira portuguesa, o pai Levezinho nunca se esquecia do filho Levezinho e dos seus amigos e camaradas de Bambadinca..., e lá "arranjava" um buraquinho no navio para meter  a encomenda...

Eu tenho que ter aqui um pensamento de grande ternura e gratidão  para com esse homem, o pai Levezinho, que foi um dos nossos bons irãs poisados nos poilões de Bambadinca: o bacalhau que chegava ao Tony Levezinho, periodicamente, através do navio-tanque da Sacor, não era comido às escondidas, sozinho, mas sim generosa e festivamente partilhado pelos amigos e camaradas mais próximos...  E devo dizer que, se não nos matou a malvada,  foi um suplemento de alma, e seguramente ajudou-nos a sobreviver e  a regressar a casa, com mais ganas de continuar a viver e a amar as coisas boas da vida. 
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Notas do editor:

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Guiné 61/74 - P17017: Inquérito 'online' (103): Um novo desafio aos nossos leitores: "Estás reformado? E sentes-te bem?"... Resposta até ao dia 9, às 7h52.. Precisamos de, pelo menos, 100 respostas... É para o nosso Livro Branco sobre a Reforma dos Ex-Combatentes....






Uma amiga minha, e minha doutoranda, que eu muito estimo, e com quem já trabalhei num projeto de investigação, ofereceu-me por ocasião dos meus 70 anos, um livro de atas com a seguinte etiqueta: "Sociologia da reforma"... A Rosa P (omito o apelido, por razões óbvias...) não só define o conceito de reforma, como me propõe um plano de trabalho, incluindo a exaustiva revisão de literatura, desenho metodológica e trabalho de campo, que seguramente me vai dar água pelas barbas: vou estar ocupado pelo menos durante três anos, que é o prazo normal que a universadade  dá para se realizar uma tese de doutoramento... O livro só tem duas folhas escritas... o resto é para o sociólogo da (e não na...) reforma.

Por se tratar de uma prenda muito original, bem humorada, inteligente e  irreverente, não posso deixar de partilhá-la aqui, com os nossos leitores do blogue... Acho que só vou conseguir  escrever esta "tese" com o contributo..., empenhado, ativo, produtivo e saudável de todos vocês, a começar pelos mais velhos, os veteranos... Acabo de chegar aos 70, ainda sou "perito"... 

Para a Rosa P vai um beijinho fraterno: adorei o desafio, a prov(oc)a(ção)... Daqui a até ao fim do verão, quero a sua (dela) tese de doutoramento pronta para eu a poder ler, rever, criticar e eventualmente melhorar...Afinal, estou jubilado, mas trouxe TPC (trabalho para casa)... Ainda tenho doutorandas para acompanhar, o que farei com todo o gosto... E uma delas é a Rosa P... Boa sorte, Rosa. (LG)

Infogravuras: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017)


A.
Novo inquério 'on line', no nosso blogue 

(vd. canto superior direito)::

"Estás reformado ? E sentes-te bem ?"

6 hipóteses de resposta (escolher só uma)



1. Estou reformado e sinto-me muito bem 
2. Estou reformado e sinto-me bem
3. Estou reformado e sinto-me assim-assim,
nem bem nem mal
4. Estou reformado e sinto-me mal 
5. Estou reformado e sinto-me muito mal
6. Ainda não estou reformado

Resposta até ao dia 9, às 7h52



Agora aqui está uma pergunta a que toda gente, os nossos leitores (basicamente, os camaradas e amigos da Guiné), podem responder... Quase toda a gente, da nossa Tabanca Grande, pelo menos os ex-combatentes, já deve estar reformada, ou em vias de atingir  a idade da reforma...Também  quem que nos lê, está em condições de emitir a sua opinião sobre este tema (delicado)...

Precisamos, peço menos, de 100 (cem) respostas, nº redondo...


B. Reflexões/comentários sobre o tema da reforma



(i) Juvenal Amado (**):

Luís,  ninguém gosta de fazer 70 anos,  dizes a certa altura. Mas convirá que não os fazer será pior
Agora que os fizeste, estás melhor ou pior? Felizmente não somos como os iogurtes, que são retirados do consumo no dia que ultrapassam a data limite.


(ii) Joaquim Luís Mendes Gomes (**)

Luís, com muito gosto te dou as boas vindas ao meu clube de reformados. Acabaram-se as obrigações exógenas. As seguintes brotarão da tua vontade. Senhor total do teu tempo. Sei que não vais ter problema algum em gerir esta boa responsabilidade. Tens muitas capacidades. Nos diversos domínios. Agora é que vais poder chegar ao cume delas, conforme te aprouver. Quero desejar-te que os tempos que aí vêm sejam repletos de saúde e muita paz.

(iii) Jorge Picado (**)

Luís, com grande surpresa acabo de tomar conhecimento do teu aniversário, em que comemoraste a bonita soma de 70 anos e a consequente entrada para o Clube dos Aposentados. Espero que me perdoes esta falta, que não é de educação, mas apenas como refiro foi involuntária, já que desde uns certos tempos venho sendo um visitador menos assíduo da Nossa Tabanca. Não a abandonei, nem muito menos reneguei e não a esqueci, mas apenas outras ocupações diárias me roubaram algum tempo.

Desde que se me meteu na cabeça "conhecer as minhas origens", passo a maior parte do "tempo livre" a cansar a vista mergulhado nos registos paroquiais de Ílhavo existentes, referentes a baptismos,casamentos e óbitos, que anteriores a 31 de Março de 1911 já se encontram no Arquivo Distrital de Aveiro e a maioria de consulta até na Net. 

Esta a razão da minha passagem apenas, uma ou outra vez por semana, pelo Blogue. E assim me passou essa tua efeméride. Desejo-te as maiores felicidades nesta tua nova etapa da vida, mas sei que agora vais ter muito mais tempo para novos afazeres, sobre os quais até aqui não podias debruçar-te.

PS - Espero voltar a encontrarmo-nos primeiro em Monte Real. Quanto aos antepassados, já descobri até ao casamento do meu tetravô, mas isso agora já me obriga a deslocar-me ao Arquivo.

(iv) Luís Graça: 

(...) A reforma é, para muitos, também a perda de estatuto,
de referências, de colegas de trabalho,
e sobretudo de trabalho.
Em contrapartida, ganha-se a ilusão
de se ser dono do tempo,
das 24 hora do dia
a que se resume a nossa vida,
já que somos seres circadianos. (...)


(v) Tony Levezinho (***):

Quem assim ultrapassa o Km 70 só tem boas razões para continuar a viagem com aquele sorriso de quem sabe que não é viajante solitário.


(vi) Francisco Baptista (****);

Um abraço de parabéns, bem forte, grande camarada, e que a tua vida se prolongue por muitos e bons anos. Tu com a tua lucidez, a tua energia, a tua criatividade, a tua arte e a tua solidariedade nunca serás velho por muitos anos que vivas. Além da tua família próxima tens também esta grande família, fora de portas, de amigos e camaradas que tu criaste, a quem tens dado ânimo e voz que te estima muito e que não pode dispensar o calor da tua amizade e do teu incentivo. Ergo o meu copo à saúde do grande homem que tu és, Luís Graça!


(viii) Hélder Sousa (****)

Muitos comentários fazem referência à bondade da iniciativa que tiveste em criar condições para a existência e desenvolvimento do que chamamos a "Tabanca Grande". Com ela, e por ela, já milhares de fotos, de recordações, de memórias, de textos, de reconciliações, de conhecimentos foram feitos.
Dezenas, ou centenas, de amizades foram criadas. Reencontros foram possíveis. E isto não é de somenos. Isto é "obra"!


quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16756: Amigos para sempre (2): Tony Levezinho, boa continuação da viagem pela picada da vida fora, sempre com um olho, à esquerda, à direita, atrás e à frente, nas p... das minas e armadilhas em que podemos cair e "lerpar" (Luís Graça)



Guiné > Zona Leste > Setor L1 > CCAÇ 12 (1969/71> c. 1970 > 2º Grupo de Combate > Estrada Bambadinca-Xime > Destacamento da Ponte do Rio Udunduma

O Tony (Levezinho) e o Humberto (Reis) sentados na "manjedoura"... Era ali, protegidos da canícula, por uma chapa de zinco, à volta de uma tosca mesa de madeira, entre duas árvores,  com vista sobre o espelho de água do rio Udunduma, afluente do Geba..., era ali que tomavámos em conjunto as nossas refeições, escrevíamos as nossas cartas e aerogramas, jogávamos à lerpa, bebíamos um copo, matávamos o tédio e os mosquitos...

Na imagem, o Tony (Levezinho), à esquerda, segurando uma granada  de LGFog de 3.7.   À direita, o Humberto Reis, o nosso "ranger"... e fotógrafo. O 2º Gr Comb ficou, cedo, entregue aos dois furriéis, Levezinho e Reis... O alf mil António Carlão foi destacado... para a equipa de reordenamento de Nhabijões ( a gigantesca tabanca, ou aglomerado de tabancas, de maioria balanta, onde a rapaziada  do PAIGC se dava ao luxo  de entrar e sair quando lhe apetecia...).

Foto: © Humberto Reis  (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]-



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12  (1969/71) > c. 1970 > Furriéis milicianos António Levezinho e Luís Graça Henriques, à civil... "enquanto a guerra seguia dentro de momentos"

Foto: © António Levezinho (2006). Todos os direitos reservados



1. Meu velho camarada e amigo Tony:

Sei que és mais “feicebuqueiro” do que “blogueiro”  (, este último vocábulo já está grafado nos nossos dicionários, tal como "blogue")… Se calhar é um bom sinal (ou uma melhor estratégia) de saúde mental… Para quê voltar atrás. perguntarás tu,  ao tempo e aos lugares onde sofremos, penámos e perdemos uma parte dos nossos verdes anos ?!...

No nosso blogue tens meia centena de referência e no Google Imagens muito mais fotos, que podes visualizar aqui, umas tuas, outras partilhadas por camaradas nossos: 


Da tropa (Campo Militar de Santa Margarida e da guerra (T/T Niassa e T/T Uíge, Guiné, CCAÇ 2590/CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, maio de 1969/março de 1971) ficou, entre nós, uma bela e serena amizade, que se estendeu às nossas caras-metade, Isabel e Alice,  e filhos, Rita,  Nuno, Joana, João…

Como eu costumo dizer, a amizade é como um jardim, precisa de ser regada, nem que seja uma vez por ano, com um copo de bom vinho,   pela(s) festa(s) de aniversário natalício ou outros eventos sociais!...

De tempos a tempos lá nos vamos encontrando, aqui ou lá em baixo ( na tua Tabanca da Ponta de Sagres - Martinhal) ou falando ao telefone, mas não tantas vezes quanto as que gostaríamos… Desgraçadamente até o teu nº de telemóvel perdi, tive que ir  recuperá-lo,  naquelas velhas listas de papel que a gente tem o bom senso de não pôr no lixo (e que são o "back up" da nossa memória esburacada...), de modo a poder-te mandar ao vivo, como já o fiz esta manhã,  aquele xicoração fraterno e festivo que tu bem mereces no dia de hoje. 

Meu jovem idoso Tony, agora na terceira idade, desejo-te boa continuação da viagem pela picada da vida fora, sempre com um olho, à esquerda, à direita, atrás e à frente, nas p... das minas e armadilhas em que podemos cair e "lerpar"... E essas não são poucas, nesta fase das nossas vidas...

Bom, mas sejamos sempre ativos e proativos, como tu o tens sido, ao longo da tua vida, sabendo agora envelhecer com bom humor, sabedoria e gentileza: o caminho fez-se para caminhar,  e faz-se caminhando, e até aos 100 (5ª idade), é sempre em frente, não tem nada que enganar!…

Um bom “novo” ano, para ti, para a Isabel, para os teus filhos, para o teu neto, para todos nós, teus amigos  e camaradas, para todos nós, "tugas", e já agora para o resto do mundo, porque não podemos viver “apartados”… nem há "muros" que nos salvem... Ah!, sem esquecer a “nossa” Guiné , que também regámos com o nosso sangue, suor e lágrimas...(Ou foi ela que nos "regou" com a seiva dos seus mágicos poilões, cabaceiras e bissilões, ou nos  enfeitiçou com as mezinhas dos seus irãs?)

Amigos, para sempre!

Luís (+ Alice, Joana, João)

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Guiné 63/74 - P16755: Parabéns a você (1166): Abel Santos, ex-Soldado At Art da CART 1742 (Guiné, 1967/69) e António Levezinho, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 12 (Guiné, 1969/71)


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Nota do editor

Último poste da série de 23 de Novembro de 2016> Guiné 63/74 - P16749: Parabéns a você (1165): José Saúde, ex-Fur Mil Op Especiais do BART 6523 (Guiné, 1973/74)

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16344: Inquérito 'on line' (64): Para que servia a faca de mato ? Num total de 90 respostas, 32 % diz que nunca teve nenhuma; para 41% era o nosso "canivete suiço"; para 31%, um abre-latas; e para 23%, uma preciosa ferramenta de sapador... Também era "arma de defesa" (17%), "ronco" (13%) e "amiga inseparável" (10%)


Guiné > Zona leste > Setor L5 > Contuboel  > CCAÇ 2590 / CCAÇ 12  (1969/71) > Centro de Instrução Militar de Contuboel > Junho de 1969 > Os instrutores Luís Graça e Tony Levezinho num exercício (lúdico...) com armas brancas (o primeiro armado de catana, o segundo, de faca de mato).

Foto: © Tony Levezinho (1969). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Mansambo > CART 2339 (1968/69) >  O alf mil art  Torcato Mendonça, pronto para sair para o mato, devidamente equipado: G3, 140 munições (7 carregores)  (ou 180 munições / 9 carregadortes, conforme o tipo e duração de operação), um cantil (, recomendável dois conforme a duração da saída...), um bornaL (com ração de combate , que havia quem dispensasse ), uma faca de mato, um catana (facultativo, quem levava geralmente era o guia e picador), uma granada de LGFog 3.7. e mais uns extras nos bolsos (frutos secos, cigarros, frasco de uísque...).. Havia quem também levasse no cinturão pelo menos duas granadas de mão, defensivas... (Alguns levavavam um verdadeiro cordão detonante à cintura)... No tempo das chuvas, levasse-se poncho ou impermeável... Tudo somado, dava muitos quilos...

Foto: © Torcato Mendonça (2007). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


INQUÉRITO DE OPINIÃO: 

"PARA QUE SERVIA A FACA DE MATO ?" 

(RESPOSTA MÚLTIPLA)


Total de respostas=90



7. Outros usos (mato/quartel) > 37 (41.1%)

10. Nunca tive faca de mato >  29 (32.2%)

3. Abre-latas >  28 (31.1%)


5. Ferramenta de sapador (MA) > 21 (23.3%)



4. Talher 3 em 1 (faca. garfo, colher) > 16 (17.8%)

1. Arma de defesa >   15 (16.7%)

6. Adereço / ronco >  12 (13.3%)

8. "A minha amiga inseparável" >  9 (10.0%)

2. Limpar o sebo ao IN  > 2 (2.2%)



9. Objeto completamente inútil > 0 (0.0%)


11. Não sei / não me lembro > 0 (0.0%)




Votos apurados: 90 

Sondagem fechada em 28/7/2016, às 20h38

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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16341: Inquérito 'on line' (63): Para que servia a faca de mato ?... Resposta de Jorge Araújo (ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873, Xime e Mansambo, 1972/74)

terça-feira, 1 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15812: Inquérito 'on line' (37): O moral das tropas... lá no cu de Judas! (António Rosinha / José Colaço)


Guiné > Zona Leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Pessoal do 2º Grupo de Combate, atravessando em coluna apeada a bolanha de Finete na margem direita do Rio Geba, no regulado do Cuor, em frente a Bambadinca (que pertencia ai regulado de Badora). O destacamento que havia mais a norte, era o de Missirá (guarnecido pelo Pel Caç Nat 52, no tempo do alf mil Beja Santos, 1968/70, e depois pelo Pel Caç Nat 63, do al

A tabanca de Finete, em autodefesa, guarnecida pelo Pelotão de Milicia nº 102, é visível ao fundo. No primeiro plano, para além de municiador da Metralhadora Ligeira HK 21, Mamadú Uri Colubali (se não erro), vê-se o fur mil op esp Humberto Reis e o 1º cabo António Branco.

Guiné > Zona Leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) >  c, 1969/1970 > Pessoal do 2º Grupo de Combate da CCAÇ 12 atravessando em coluna apeada a bolanha de Finete, No primeiro plano, para além de municiador da Metralhadora Ligeira HK 21, Mamadú Uri Colubali,   vê-se o fur mil at inf Tony Levezinho, ao meio (com o tapa-chamas da sua G3 devidamente protegido por uma cápsula de plástico verde, cuidado que era raro haver entre as NT), ladeado pelo 1º cabo António Branco (à sua direita, com duas granadas defensivas à cintura) e pelo 1º cabo José Marques Alves, de alcunha, o "Alfredo" (à sua esquerda) (infelizmente, já desaparecido, em 2013),


Fotos: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados (Edição e legendagem: LG)


Comentários ao poste P15807 (*)

I. António Rosinha 

[ ex-fur mil, Angola,1961/62; viveu no Brasil,
 no pós-25 de abril;  foi topógrafo da TECNIL,
como "cooperante", na Guiné-Bissau, em 1979/93]



Nunca houve quarteis no interior em que a moral não fosse do piorio, mesmo sem guerra, nem tiros, nem ataques, nem baixas.
Exceptuando as unidades nas cidades, com especialidades burocráticas, o chamado apoio de rectaguarda, transmissões, abastecimentos, administrativos, que teriam algum alheamento do perigo e do isolamento, tudo o resto, em qualquer território africano, a tropa vivia ansiosa a dar baixa dos dias no calendário da parede.

Como vivi, por necessidade de ofício no interior de Angola (estradas, pontes e levantamentos) acampei em Angola durante anos, em lugares em que geralmente ou havia uma companhia, ou um pelotão ou uma secção, por perto.

E como fui furriel na guerra e não me sentia bem com arame farpado, capitães, e majores, aliás, acima de alferes nunca acertei, só tive duas porradas leves, mas por ser bom rapaz, como digo que para mim foi chata a tropa, custava-me ver a tropa da metrópole naqueles cus de judas, como chamou o Lobo Antunes umas terras lindíssimas, só que fosse livre de arame farpado.

Mas um dos martírios da tropa do interior, era não haver um programa de rotatividade de pequenos grupos se deslocarem às cidades para um pequeno banho de civilização (mudar de ambiente, mudar o óleo, e até de comida do mesmo cozinheiro).

Mas o pior, é que a tropa nem convivia com africanos, por não falar a mesma língua, nem com os europeus como eu, a quem por exemplo um capitão me atirou à vara que estava ali, porque eu tinha andado a tratar mal os pretos.

Ou seja, além da falta de moral, ainda havia a revolta.

Luís e António, não podiamos abandonar aquilo sem guerra. Entregar ao Amílcar Cabral, jamais, que ainda era novo, precisava viver.

Mas era preciso 13 anos? Porque não parou a meio, quando o homem de Santa Comba caíu da cadeira?

Porque os capitães de Abril ainda só eram alferes nesse tempo?

Luís Graça, quando tornares a fazer um inquérito,  questiona tudinho, mais do que questionavam os comandantes

Cumprimentos, Antº Rosinha.


II. José Colaço  

[ex-soldado trms, CCAÇ 557, Cachil,Bissau e Bafatá, 1963/65]

Respondendo ao nosso inquérito, assinalo os seguintes pontos:

(i) a deficiente instrução das tropas e quadros;

(ii) o deficiente equipamento das unidades no terreno;

(iii) as faltas de pessoal e insuficiência de efectivos;

(iv) os problemas nos abastecimentos das unidades em material, munições, víveres e água;

(v) a falta de enquadramento e aproveitamento dos nativos em operações de segurança...


Sou do início da guerra da Guiné, fui lançado na Operação Tridente só com um mínimo de preparação, eu e os meus camaradas de especialidade, inclusive o furriel (transmissões) e todas os outras especialidades até os atiradores; devido a nossa inexperiência e falta de conhecimentos houve alguns acidentes com a desconhecida G3...Por outro lado, receber uma mensagem era repetição constante dos grupos fonéticos e ter que pedir para o emissor transmitir devagar, pausado, que o operador era (maic) (maçarico)... mas como nós somos um povo do desenrasca tudo se resolveu.

Para transmitir para Catió nós não conseguíamos, comunicávmos com alguma dificuldade (principalmente durante a noite) com o BCAÇ 490 que estava em Cauane, no outro lado da Ilha do Como, e eles retransmitíam a nossa mensagem. Devido a esta dificuldade alguém do comando mandou ao Cachil um segundo sargento electromecânico e ensinou-nos como montar (e montou ele) uma uma antena horizontal.

Com este aparte, é só para dizer que concordo com todos os pontos que o meu primeiro comandante chefe na Guiné, Brigadeiro Louro de Sousa, mencionou pois tive oportunidade de os comprovar no terreno.

Mas discordo do ponto nº 1 em 50%: que os milicianos tivessem essa deficiência, concordo em absoluto, mas os quadros não: são ou eram profissionais de carreira, tinham por obrigação, dever de profissionalismo, estar preparados a 100% para todos os reveses que a profissão reserva.

Um abraço, Colaço.

________________

Nota do editor:

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Guiné 63774 - P15296: (Ex)citações (296): "A ternura dos 20 anos", vídeo de Armando Ferreira, grã-tabanqueiro nº 704: seleção de comentários (António Murta, Cherno Baldé, José Sousa Pinto, Mário Vasconcelos e Tony Levezinho)

Armando Ferreira (ex.-fur mil cav, 
CCAV 8353, Cumeré, Bula, Pete
Ilondé e Bissau (1973/74)
1. Seleção de comentários ao poste P15291 (*), sobre o vídeo "A ternura dos 20 anos", de Armando Ferreira, grã-tabanqueiro nº 704 [foto à esquerda].





(...) A foto nº 7 deve ter sido tirada entre junho a agosto de 1974, no período de euforia do pós-25A74, nela estão elementos da guerrilha e jovens simpatizantes do PAIGC.

Sobre este período de transição escrevi no Poste (P6864 - A (mu)danca das bandeiras em Fajonquito em 1974) de 17/08/10 o seguinte:

"Pela forma como os recebiam e se congratulavam, trocando pequenos presentes e 'lembranças', os soldados portugueses pareciam muito mais satisfeitos com o fim da guerra do que os guerrilheiros. Talvez pela primeira vez na história dos conflitos armados, um dos beligerantes que, para todos os efeitos, tinha perdido a guerra, parecia estar feliz por não ter vencido. Era compreensível mas nem por isso deixava de ser intrigante."




(...) Inevitável não nos revermos em muitas das passagens do texto declamado. No entanto, perdoem-me a franqueza, o tom demasiado teatral da declamação, a querer imitar um Ary ou um Mário Viegas, belisca a sinceridade do contexto do estado de alma que levou o seu autor a sentir a necessidade de dar a conhecer o seu grito.

Não dexa por isso, em meu entender, de ser mais um contributo para a história coletiva de um Portugal colonial em agonia, ainda que, aqui e ali, possamos ter visões diferentes do pesadelo em que todos os combatentes se viram envolvidos.

Saúdo o Aramando Ferreira com um abraço, extensivo a todos os camaradas. (,,,)


(...) Visionei o vídeo do Armando Ferreira. Respeito o sentimento que ele exteriorizou, mas depois dos meus 27 meses passados no teatro de operações e já casado com 4 filhos, [não] deixei em algum momento, de sentir que cumpria uma missão Patriótica, para bem de Portugal e sobretudo para bem das populações autóctones,( neste caso da Guiné), pelo que, de forma alguma, me revejo nessas palavras.

Já voltei à Guiné por 3 vezes para participar em estudos de projectos para o desenvolvimento daquela Terra. Encontrei-me 2 vezes com o Presidente Nino, antes da sua morte e falamos do que eu fiz como militar de Portugal e do que eu pensava à cerca do que teria sido melhor para a Guiné. Compreendemos ambos as situações e fizemos amizade.

Não dou, de todo. como perdido o tempo que permaneci na Guiné, apesar do atraso que isso me provocou no arranque da minha vida profissional e foi muito, mas valeu a pena por Portugal.

As maiores felicidades e muita saúde para todos os Camaradas, Tanbanqueiros , ou não. (...)


(...) Ao Armando Ferreira, militar no teatro de operações da Guiné e ao cidadão português que transporta a raça que cumpre e sofre, endereço a minha saudação de amizade.

Sendo a escultura uma arte representativa de relevos, ela vive-se aqui na ilustração de sentimentos e vivências passadas, mas nunca esquecidas. Um clamor pessoal que a todos envolve.
Um abraço sentido, que abarca todos os camaradas. (...)


(...) Tem toda a razão o Cherno Baldé quando diz que um dos beligerantes parecia estar feliz.

Mas está completamente enganado quando diz que "parecia estar feliz por não ter vencido". Não, camarada Cherno, não era por não ter vencido, (que disparate!), era por ter sobrevivido àquela guerra, por não ter sido dilacerado por ela e, razão não menos importante, saber que podia regressar a casa e à Pátria, coisa que, até ao fim das hostilidades, nunca teve como certo.

De passagem refiro que a fotografia nº 3 deste poste  (*) foi tirada no Uíge, dado que é referida a partida em 16-03-1973. Eu também vinha nele e devo-me ter cruzado com o Armando Ferreira, mas os nossos destinos tiveram rumos diferentes após a chegada à Guiné no dia 22-03-1973: em fui direitinho a Bolama com o meu BCAÇ 4513 e o Armando foi para o Cumeré com a sua CCAV 8353.

Aproveito para lhe dar as boas vindas e um grande abraço de "periquito" para "periquito", com a certeza de que os "periquitos" já não irão mais para o mato, mas que a "velhice" pode ir no Bissau quando quiser. (...) (**)

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Notas do editor:

(*) 26 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15291: Vídeos da guerra (12): "A ternura dos 20 anos", de Armando Ferreira, natural de Alpiarça, escultor de profissão, ex-fur mil cav, CCAV 8353 (Cumeré, Bula, Pete, Ilondé, Bissau, 1973/74): uma emocionante e emocionada homenagem aos seus camaradas mortos e feridos, há 42 anos, no "batismo de fogo", em 5/5/1973, em Bula, em que "deixei de ser eu" (sic)

(**) Último poste da série > 4 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15200: (Ex)citações (295): Fui advogado e amigo de Luís Cabral, e até agora não encontrei uma explicação racional para o assassinato (gratuito) dos 4 oficiais portugueses no chão manjaco nem para o fuzilamento, no pós-independência, de muitos ex-militares guineenses que serviram lealmente as NT (António Martins Moreira, ex-alf mil inf, CART 1690, Geba, 1967/69)

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15282: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte XVI: A tabanca, a bolanha e o porto fluvial de Bambadinca ("cova do lagarto", em mandinga)


Foto nº 1 > Bambadinca, vista do depósito de água: lado norte / nordeste: tabanca, estrada para o rio e acesso à estrada (alcatroada) Bambadinca-Bafatá


 Foto nº 2  > Vista do quartel de Bambadinca: lado norte /noroeste (?)


Foto nº 3 > Tabanca de Bambadinca e rio Geba: Vista do lado norte / nordeste: a rua principal, com o edifício dos correios ao centro, e o início da rampa de acesso ao quartel e posto administrativo... Bambadinca, alémdos CTT,  tinha escola primária, capela e diversos estabelecimentos comerciais.


Foto nº 4 > Quartel de Bambadinca: vista de norte / nordeste de parte da tabanca e ao fundo o rio Beba


 Foto nº 5 > Quartel de Bambadinca: vista da grande bolanha, a sul/sudeste...


 Foto nº 6 > Bambadinca: porto fluvial



Foto nº 7 > Bambadinca: porto fluvial... Cais acostável


Foto nº 8 > Bambadinca: porto fluvial,. Cais acostável (foto anterior a novembro de 1969, quando a velha autogrua Fuchs foi substituída por uma autogrua Galion)




Foto nº 9 > Bambadinca: porto fluvial... Entardecer


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca >  Pel Rec Daimler 2046 (1968/1970) >  Tabanca, bolanha e porto fluvial (no Rio Geba Estreito)


Foto (e legenda): © Jaime Machado (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. Continuação da publicação do belíssimo álbum fotográfico do Jaime Machado, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, maio de 1968 / fevereiro de 1970, ao tempo dos BART 1904 e BCAÇ 2852) (*).


[foto atual à esquerda o Jaime Machado reside em Senhora da Hora, Matosinhos; sua avó paterna era moçambicana; mantém com a Guiné-Bissau uma forte relação afetiva e de solidariedade, através do Lions Clube; voltou à Guine-Bissau em 2010]

Sobre as fotos do porto fluvial de Bambadinca (nºs 6 a 9), vs, os postes P13918 e P13956. Estas fotos são já da época do comando e CCS/BCAÇ 2852 (1968/70). (**)

São fotos anteriores a novembro de 1969... Já aqui recordámos que, a partir de 24 de novembro de 1969, a administração do porto de Bambadinca passou a dispor dum autogrua mais potente, a Galion, que veio substituir a auto grua Fuchs (que se sê na foto nº 8).

Na história do BCAÇ 2852, lê-se que no dia 25/11/1969, o 2º comandante do BENG 447 visitou a sede do batalhão, visita essa que só pode estar relacionada com a entrega da autogrua Galion, permitindo melhorar as operações de carga e descarga no porto fluvial de Bambadinca.

A autogrua Galion veio de LDG de Bissau até ao Xime (, agora com um novo cais de acesso, a partir de outubro de 1969, se não erro) e depois foi escoltada pela CCAÇ 12 até a Bambadinca, numa viagem cheia de peripécias que nos obrigou a dormir no mato, devido a um enorme atascanço a meio do troço (,ainda não havia estrada alcatroada!)...

Nessa dia, 24 de novembro de 1969, o nosso querido camarada e amigo Tony Levzinho celebrou as suas 22 primaveras com a companhia infernal da mosquitada,

Xime e Bambadinca "alimentavam o ventre do leste"... Por aqui passaram milhares e milhares de homens, e grandes quantidades mantimentos, munições, viaturas e outro material de guerra. (LG)

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29 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13956: (Ex)citações (253): de facto sou eu, estou a preparar o embarque de um jipe Willys com destino a Bissau (devidamente canibalizado)...E aproveito para recordar a BOR, embarcação civil que fazia transporte de tropas com uma pequena escolta de fuzileiros (Ismael Augusto, ex-alf mil manut, CCS/BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70)