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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2496: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (5) (Carlos Silva)

O guião alternativo do BCAÇ 2879, o Batalhão dos Cobras.

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Continuação da História do BCAÇ 2879


Farim, a sua história e as suas gentes.

O Carlos Silva dá a oportunidade, até agora única, aos que passaram por Farim, Jumbembem, Canjambari, Cuntima e K3, de reverem gentes e terras, inesquecíveis para tantos de nós.

Fixação do texto: vb

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Farim, 1969 - Vista aérea

Localização

A Vila de Farim situa-se a cerca de 150 Kms a Norte de Bissau e a cerca de 50 Kms. a Sul da fronteira do Senegal e na margem direita do Rio Cacheu.

É constituída por uma dúzia de ruas perpendiculares umas às outras e de terra batida, cor de fogo, junto a zona ribeirinha, onde existem casas térreas construídas em alvenaria, de traça colonial, com os seus alpendres e jardins, não tão bem tratados como os existentes em Bissau.

Circundando esta zona urbanizada, para o lado Norte, existem os bairros conhecidos por Sintchã(2), Morcunda, Bantadjam e Nema, situado à saída da Vila e junto à estrada que dá acesso à localidade fronteiriça do Dungal.

Podemos considerar o terreno plano, existindo uma pequena elevação a caminho de Nema onde tinha sido construído um aquartelamento.

“Debruçada sobre o rio Cacheu, Farim tem já o aspecto de uma pequena cidade, animada por um intenso movimento comercial.

Fundada em 1641 por Gonçalo Gamboa Ayalla, é uma das mais antigas povoações da Guiné.”(
3)

Mapa com a localização de Farim.

Mapa do sector de Farim, que tem a configuração de um coração achatado
Ver a partir da fronteira Dungal>Farim>Ionfarim>Canjambari>Sitató

No dizer de Armando de Aguiar, (4) Farim é das maiores circunscrições. Aproximadamente 5.000 Kms2 e cerca de 58.000 habitantes distribuídos pela sede e postos de Bigene e Cuntima, perto da fronteira com o Senegal, Mansabá e Olossato, no interior.

É das mais ricas regiões da Guiné, e foi há três décadas um dos mais importantes centros comerciais. A população europeia fugiu, abandonando a luta diária, atraída por outras miragens. E, no entanto, a evoluída Vila de Farim, velha praça-forte onde os capitães Lima Júnior e Jaime Falcão se firmaram em mais de uma circunstância arriscada, é sede de uma importante circunscrição.

Tem uma escola onde se ensina a língua portuguesa aos habitantes da região. Há enfermarias e na principal praça pública ergue-se um monumento aos aviadores Pinheiro Correia, Sérgio da Silva e Manuel António, que em 1952 realizaram, com êxito, a primeira viagem aérea Lisboa-Guiné.

Mas Farim, cuja fundação data de 1640, servida pelo porto fluvial de Binta, ainda é o principal centro comercial daquela região, onde se transaccionaram em larga escala madeiras, mancarra, coconote, óleo de palma e outras oleaginosas que abastecem os mercados da Metrópole e os portos do Norte da Europa, levados também por barcos da Noruega e da Suécia que subiam o rio de S. Domingos e iam a Binta carregar produtos para a Escandinávia.

Hoje (1964) esse tráfego diminuiu, mas dia virá em que Farim há-de readquirir a importância que teve (talvez, actualmente fala-se que Farim está assente sobre grandes jazidas de fosfatos e que tende a desaparecer, caso venham a ser explorados. Devendo ser transferida mais para Norte, no sentido de Lamel-Jumbembem ou para a margem esquerda do rio Cacheu).

A exportação da mancarra atingiu no 2º semestre de 1960 cerca de 12.000 toneladas. Os seus cinco celeiros trabalham sempre em pleno, distribuindo pelos agricultores milhares de quilos de semente de mancarra e de arroz, que mandingas, fulas e balantas, as principais tribos que habitam aquela região, sabem aproveitar.

Os rendimentos que revertem para os cofres da província com a exportação de produtos da região foram da ordem dos três milhares de contos. E mais podia ser se os agricultores se dedicassem, afincadamente, ao amanho da terra, utilizando as sementes das granjas e os ensinamentos da moderna agricultura que lhe são ministrados, pois o Estado possui na circunscrição de Farim uma série de granjas com o intuito de obter sementes e plantas para distribuição.

Uma capela a Nossa Senhora das Graças, erguida em 1949, é outra afirmação de fé nas antigas terras pagãs da Guiné, onde Farim, vila progressiva, debruçada sobre o rio Cacheu, com a sua vida social agradável, o seu clube recreativo e a sua piscina, espera a construção da tão almejada ponte a ligar com a estrada para Mansabá, onde ela se bifurca para Bissau ou Bafatá.

Então Farim ganhará, extraordinariamente, como importante centro comercial que já é. E esse dia, com o ritmo de trabalho verificado em toda a Província, não estará felizmente longe....”.

(Nota de C. Silva: decorridos mais de 40 anos, e após a independência do território, a ponte não foi construída e constitui apenas uma miragem para daqui a muitos anos e Farim não progrediu, mas regrediu).


Infraestruturas


Podemos considerar que Farim tinha uma razoável autonomia e vida própria, na medida em que tinha razoáveis infra-estruturas situadas na zona ribeirinha, designadamente: pista de aviação, cais de acostagem para barcos de a média dimensão, escola primária, igreja, correios, clube recreativo, piscina, campo de voleibol, um lindíssimo jardim com um coqueiral tombado na direcção do rio, monumentos.

Tinha também uma razoável actividade comercial e de restauração.

Existiam alguns estabelecimentos comerciais, Mharon Saad, libanês, Pintozinho, Pinheiro, e outros onde a malta comprava os seus relógios, Breitling, Rolex, Yema, gravadores, ventoinhas, tapetes, bandeirolas com motivos orientais, etc.

A população nativa do sexo feminino comprava aqueles panos de cores garridas, lindíssimos, que usavam enrolados da cintura para baixo e os homens compravam para o seu vestuário as célebres "sabadoras" (5), túnicas amplas, largas e compridas (fazendo lembrar o traje dos advogados “as togas” e dos juízes “as becas”), tipicamente africanos, além de outras coisas, o que prestava à Vila um colorido muito peculiar.

Havia também uma escola de condução, onde a rapaziada aprendia a conduzir e ali tirava a sua carta de condução, bem como, havia um estabelecimento de fotografia “ Foto Brigadeiro”.

Na esplanada do Pedro, também conhecido por “Pedro Turra” comia-se uma boa mariscada, ostras e uns bons frangos assados com piri-piri bem regados com as ditas “bazucas”, cerveja grande bem geladinha.

Apesar de tudo isto, podemos considerar que Farim, se mostrava degradada e infelizmente com tendência para uma maior degradação.


Farim, 1969 > Casario junto ao jardim, e piscina e capela. Zona Ribeirinha, junto do Campo de Volei.

Farim , Novembro de 1969 > Alferes periquitos observando o trabalho do artesão de tecelagem


Farim, 1969 > Alferes André e Marques da CCAÇ 2548 e Alf Capelão Manuel Gonçalves em convívio com a população e aprendendo a jogar o jogo típico das damas.



Fotos cedidas pelo ex-Alf Mil André , da CCAÇ 2548 (1969/71)


Farim > Bairro de Bantadjam na estrada para Lamel-Jumbembem.

Farim, 1970 > Vista aérea do Bairro Morocunda.

Farim em 1970 > Zona do Cais, o campo de volei e a piscina.

Farim, 1970 > Coqueiros, próximo do Pelotão de Morteiros e junto ao rio Cacheu.

Farim > Área do cais, jardim e piscina.

Farim > Jardim, igreja e monumento.

Farim, a piscina em Janeiro 1970.

Farim, 1970. Escola Marechal Carmona. Antes dos CTT e Estrada para Nema .

Fotos: Carlos Silva (2008).

População civil

O aglomerado populacional da Vila de Farim, sede do concelho, em finais de 1967, cifrava-se em cerca de 3900 elementos de diversas etnias. A Vila concentrava, portanto, um aglomerado razoável de população nativa, constituída por várias etnias, principalmente, mandigas, fulas, e alguns balantas, pelo que se considerava chão mandinga e fula.

A população nativa vivia concentrada mais a Norte das ruas ribeirinhas onde estavam implantados os edifícios que albergavam os militares e a população civil europeia, libanesa e cabo-verdiana.

Residiam nos chamados bairros de Morocunda, Sinchã, Bantadjam e de Nema, que ae estendiam para Norte, na direcção das estradas do Dungal e de Lamel, Jumbembem e Cuntima, ficando a primeira e última povoação situadas junto à fronteira senegalesa. Habitavam em casas construídas de adobe de terra e cobertas de palha (capim). Ao conjunto de habitações de um agregado familiar, designava-se por morança (6) e ao conjunto das moranças existentes no local, designava-se por tabanca (7) (aldeia).

No entanto, a Vila de Farim não era designada por tabanca e a sua divisão estava estruturada pelos mencionados bairros.

População civil europeia, praticamente não existia. Basta dizer que além dos militares e suas famílias, apenas existiam duas famílias europeias, compostas por seis elementos, presumo que apenas a família do comerciante Pinheiro e o Brigadeiro, fotógrafo.

Os poucos metropolitanos que ali viviam, ou eram funcionários ou dedicavam-se ao comércio.Ali viviam também alguns libaneses e cabo-verdianos, mas em número pouco significativo. Aqueles dedicavam-se exclusivamente ao comércio. Os cabo-verdianos, uns eram funcionários da Administração Colonial e outros dedicavam-se ao comércio.



1969 – Em Farim também havia bajudas muito lindas.



O menino e a virgem e menino rezando

Farim, 1970 – Quem não se acredita que não havia hipopótamos no rio Cacheu? Aqui está o malandro que dava cabo dos arrozais

Farim, 1970 – População regressando dos trabalhos das bolanhas do K3.

Fotos: Carlos Silva (2008).

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Notas de Carlos Silva :

(1) Farim – Na língua mandinga significa governador. "...Assim o Estado do Mali, diferentemente do Ghana, pode ser qualificado de Impéio; aos países povoados de mandingas, juntaram-se numerosas províncias exteriores, cujas populações pagavam um tributo [ por acaso muito fraco ] ao Mansa « Imperador » e onde este era representado por governadores que tinham o título de 'Farim'...”, pág. 35.

"...O Gabú torna-se assim uma província do Império do Mali, dirigida por um governador 'Farim' escolhido entre os membros dos Mané e Sané, descendentes de Tiramakhan....”, pág. 54.

"...Cada província era dirigida por um governador 'Farim', o qual recebia o seu boné de comandante dado pelo Mansa. O farim, pelo seu lado, ordenava aos chefes de distrito e aos Kanta Mansa 'guardas do mansa – Imperador' que se estabelecessem nas fronteiras do reino, que eles tinham por missão proteger. ", pág. 55.

PAIGC, 1974 - História da Guiné e Ilhas de Cabo Verde, Edições Afrontamento, págs. 32, 54 e 55

(2) Sintchã – Significa tabanca nova – Álvaro Nóbrega, A luta Pelo Poder na Guiné-Bissau, ISCSP, pág. 98.

(3) In, Fernando Lindley – Missão em África, Angola, Moçambique e Guiné: Percursos de uma História, p.207.

(4) In, Armando de Aguiar – Guiné, Minha Terra, Agência Geral do Ultramar, Lisboa, 1964, págs. 98 a 100.

(5) Sabadora - Peça principal do vestuário dos autóctones maometanos. Amplo, de grandes mangas, e preferentemente branco. Também denominada camisa, vuvu, cabaia ou balandrau.(dialecto mandinga).

(6) Morança - Numa tabanca, a morança é um conjunto de casas, próximas umas das outras, pertencentes a pessoas com uma ligação consanguínea, agregado familiar.

(7) Tabanca – Local constituído por todo o aglomerado de casas - aldeia, unidade de base da família alargada, conjunto de várias moranças. A palavra também poderia significar a casa, também por nós chamada de palhota.
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Notas do co-editor:

vd artigos de:

30 de Janeiro de 2008> Guiné 63/74 - P2491: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (4) (Carlos Silva)

24 de Janeiro>Guiné 63/74 - P2477: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim : O Batalhão dos Cobras (3) Carlos Silva)

20 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2464: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (2) (Carlos Silva)

15 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2440: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes para Farim : O Batalhão dos Cobras (1) (Carlos Silva)

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2491: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (4) (Carlos Silva)

Guião do BCaç 2879.


Continuação da História do BCAÇ 2879.

Depois da formação do Batalhão, da viagem rumo à Guiné e da chegada a Bissau, com as impressões que a cidade deixou ao nosso Camarada Carlos Silva, ex-Furr Mil do Batalhão, publicamos hoje a entrada em quadrícula do BCAÇ 2879.

Revisão e fixação do texto: vb





04-08-69 – Segunda-feira

O Comando do BCAÇ nº 2879 comunica que havia assumido a responsabilidade do Sector 02, substituindo assim o COP3, que antes se encontrava em Farim.

Daqui havia partido há pouco mais de um ano o Ten Cor Agostinho Ferreira, que tinha estado anteriormente a comandar o BCAÇ 1887 no sector de Farim, tendo rendido ali o BART 1733 e posteriormente foi rendido pelo BCAÇ 1932, vindo agora substituí-lo com o BCAÇ 2879 (1).
Apesar de toda esta movimentação ser da vontade do nosso Comandante, a História tem coisas destas.
O Batalhão efectuou desde a sua chegada ao Sector, um período de treino operacional, tendo efectuado tiro, patrulhas, picagens de itinerários, etc, com vista a uma melhor adaptação ao clima, ao terreno e ao IN que viria a encontrar. Com a entrada do Batalhão em Sector saíram do mesmo as CCAÇ 1788 e 1789 do BCAÇ 1932 e a CART 2478 do BART 2865.


Localização do Sector de Farim – Zona de actuação do Batalhão e Companhias Independentes




O mapa a abrange quase toda a região do Oio, onde se situa o sector

Caracterização Geral do Sector

1. O Terreno e Recursos

O terreno deste Sector pode-se considerar plano pois a cota mais alta é de 59 metros. Tem a configuração da metade inferior de um coração, tendo por limites:
- Norte, a fronteira com a República do Senegal, desde o marco 122, próximo do Dungal até ao marco 96 próximo de Sitató;
- Sul, Saliquinhedim-K3 e Rio Canjambari;
- Nascente, antiga tabanca de Solucocum, rios Uranto e Canjambari;
- Poente, Binta, Cufeu e Guidage.

Como estradas principais utilizáveis existiam a estrada Ponte do Rio Caúr - Farim - Jumbembem - Cuntima, que noutros tempos ligava ao Senegal. De Jumbembem saía outra estrada que liga a Canjambari e que segue para o sector vizinho, para Fajonquito, não se efectuando na altura quaisquer ligações com o sector do lado.

As estradas Farim - Dungal e Cuntima - Sitató não estavam utilizáveis. De Farim depois de passar o rio Cacheu, existem as estradas que ligam Farim - Olossato, que não era utilizada e Farim - Mansabá, que presentemente dentro do Sector, apenas era utilizada até Saliquinhedim, tabanca mais conhecida por K3.

Estava previsto a abertura desta estrada, que beneficiaria grandemente a tropa e as populações presentes na área, tal como veio a acontecer.

Os recursos eram fracos e não chegavam para o abastecimento normal, quer de militares quer de civis. Praticamente, era tudo trazido de Bissau, quer por via marítima, através de batelões ou lanchas da Marinha, que navegavam no Atlântico, subindo depois o rio Cacheu até Farim, quer por via aérea através do velho Dakota ou de Nord-Atlas.

No que respeitava a fruta e outros frescos pode dizer-se que não havia, dada a exiguidade das quantidades que iam aparecendo no mercado e que se resumiam a bananas, mangos e ananases.
No caso particular da carne, vinha toda da República do Senegal, fazendo-se o transporte de animais vivos que depois eram abatidos nas Unidades dos subsectores. A água, bem essencial e precioso, era extraída de poços, havendo a suficiente para os gastos normais, mas nem sempre de boa qualidade.

2. A População Civil

O aglomerado populacional mais importante no sector era o da Vila de Farim, sede do concelho. Existindo ainda as povoações de Cuntima, Jumbembem, Canjambari e Saliquinhedim-K3.
População civil europeia praticamente não existia.

Basta dizer que além dos militares e famílias, apenas existiam 2 famílias europeias residentes, compostas por 6 elementos, que ali viviam (família Pinheiro). Ali viviam também alguns libaneses (Maron Saad e Madame) e caboverdianos, mas em número pouco significativo.
A população nativa do Sector é constituída por diferentes raças, predominando a raça mandinga e fula, embora por ali existissem alguns balantas.

Esta população nativa não tinha uma mentalização portuguesa. Nada as identificava com os portugueses europeus (apesar de uma ocupação durante quase 500 anos do território, não se alteraram as mentalidades nem os costumes). Não reconheciam qualquer benefício que se lhes fizesse, antes o aceitavam como uma obrigação (o branco tinha obrigação de tudo fazer e de lhes dar e ainda hoje mantêm a mesma mentalidade).

Os reordenamentos são um caso típico, em que os mesmos só colaboram, após muito instados, pois julgavam que a tropa era paga para lhes fazer as casas. Todas as povoações, antigas tabancas espalhadas pelo sector, encontravam-se abandonadas devido à guerra, pois a maior parte da população do Sector encontrava-se ao longo da fronteira em território da República do Senegal, para onde se refugiou, havendo apenas umas casas de mato na área de Bricama onde o IN tinha alguma população sobre o seu contole, outra parte da população foi acolhida nas localidades onde existia guarnições militares, que lhes poderia garantir alguma segurança, com a seguinte distribuição aproximada, em finais de 1967:

Farim: 3900 elementos de diversas etnias, mandigas, fulas e balantas;

Jumbembem: 280 elementos, na sua maioria fulas

Cuntim: 300 elementos, na sua maioria fulas

Binta: 1000 elementos, na sua maioria fulas

Guidaje: 370 elementos, na sua maioria fulas

O relacionamento da população com as Autoridades Administrativas era bom, tendo os seus altos e baixos, mas sem qualquer significado. Com as Autoridades estrangeiras vizinhas, realizaram-se um ou dois contactos pessoais, com reservas próprias com que se tinha de olhar as autoridades de um país que no mínimo consente no seu território elementos que nos são hostis.

3. No Plano Militar

O Inimigo

O IN não tinha bases dentro do Sector 02, exceptuando a região a Sul do rio Cacheu e do rio Camjambari (Bricama, Biribão e Ionfarim), onde haviam diversas referenciações, obtidas através de RVIS ou por informações colhidas por vários meios, mas onde efectivamente há bastante tempo não se faziam operações.

Havia referência a 2 bigrupos, actuando um na área do Biribão e outro na área da Bricama, mas notícias posteriores diziam que os mesmos tinham ou teriam sido retirados, visto as NT não irem ali fazer operações e portanto não se justificar a sua presença. Ficariam apenas Mílicias Populares para controle e guarda das populações.

Dentro do Sector na parte controlada pelas NT, dado que o mesmo era um Sector de fronteira, o IN apenas o utilizava para fazer entrar ou sair as suas colunas, normalmente de reabastecimentos, mas com escolta.

As suas linhas de infiltração preferidas eram o corredor de Lamel que conduzia directamente à Bricama e o de Sitató que conduzia directamente a Canjambari. Logo que atinjiam aqueles pontos ficavam em terreno, subtraído ao controle efectivo das NT.

O IN mostrava-se na altura pouco agressivo e normalmente furtava-se ao contacto. Utilizava minas A/P (anti-pessoal) e A/C (anti-carro), mas na sua maioria foram neutralizadas pelas cuidadas picagens efectuadas pelas NT.

As Nossas Tropas

A nossa tropa tinha partido no cumprimento do serviço militar obrigatório, que não sentia, nem vivia o problema. Portanto, cumpria sem grande entusiasmo as missões que lhe eram impostas.
Tudo isto criava no pessoal do QP (Quadro Permanente), com funções de chefia e comando directo, um desgaste muito grande, pois tinham necessidade de determinar tudo, verificar tudo, resolver tudo, quer dizer os quadros não existiam.

Dado o modo de actuar do IN, dentro do Sector, em que praticamente só se faziam colunas, as NT actuavam principalmente por emboscadas nos corredores tradicionais e por patrulhamentos com o fim de detectar novos trilhos. Era esta a missão principal. Quanto a moral, situação sanitária e logística, apresentava e apresentou os seus altos e baixos normais, sem referência especial.

Instalações Militares

As instalações militares eram razoáveis, compostas por vários edifícios espalhados pela Vila.
Edifício do Comando, messe dos oficiais, messe dos sargentos, casernas dos soldados, refeitório e outros edifícios relacionados com a tropa. Edifícios onde estavam instalados os destacamentos de intendência, pelotão de morteiros, pelotão Daimlers, transmissões, pelotão auto, enfermaria etc.

O dispositivo das NT no Sector estava distribuído da seguinte forma:

Cuntima

  • CCAQÇ 2549
  • CCAÇ 2529
  • 10º PEL ART (-)
  • PEL MIL119
  • 2 Mort. 10,7
Jumbembem
  • CArtª 2384

Canjambari

  • CCaç. 2533
  • Pel Natº 58
Farim
  • Comando e CCS do BCaç. 2879
  • CCaç. 2547 em Nema + GComb. “ Os Roncos”
  • CCaç 2548 (-)
  • Pel Morteiros Médios 2116 (-)
  • Pel Rec Daimler 2047
  • Dest. Intendência 2010
  • 10º Pel Artª – Sec Obus 14
  • Compª Milª 5 c/ Pel Milª 115, 116, 117
  • CArtª 2478 – Aguardando transporte p/ outro Sector

Saliquinhedim – K3

  • CCAÇ 2548 – 4º Pel
  • Pel Morteiros Médios 2116 – 1 Secção
  • Pel Mil 118


O BCAÇ nº 2879

O Batalhão (1) em 4-08-1969, substituindo o COP3, assumiu a responsabilidade do Sector 02, novamente transferido para esta zona de acção, com sede em Farim e abrangendo os subsectores de Farim, Jumbembem, Cuntima e Canjambari.

As suas subunidades mantiveram-se sempre integradas no dispositivo e manobra do Batalhão, o qual desenvolveu intensa actividade operacional, particularmente orientada para a contra-penetração nas linhas de infiltração de Lamel e Sitató, para a segurança e controlo dos itinerários, para impedir a instalação de bases inimigas na sua zona de acção e ainda para a segurança, defesa e construção de aldeamentos e promoção socioeconómica das populações.

O Comando e CCS (Companhia de Comando e Serviços), ficaram instalados na sede do Batalhão.
A CCAÇ 2548, que substituiu a CCAÇ 1788 do BCAÇ nº 1932, no incremento do esforço de contra-penetração no corredor de Lamel, ficou integrada no dispositivo e manobra do Batalhão, tendo ficado também aquartelada em Farim.

Contudo, tinha destacado um pelotão em regime de rotação para guarnecer o destacamento de Saliquinhedim-K3. Podemos dizer que a CCAÇ 2548, encontrava-se numa posição de intervenção e reserva, sob as ordens do Comando, actuando em todo o território da responsabilidade do Batalhão, como se depreende das acções efectuadas até 31 de Dezembro de 1969, designadamente: Solinto, Binta, Cofeu, Dungal, Lamel; no subsector de Jumbembem da responsabilidade da CART 2384, Lambã, Farincó, Fambantã, Sare Soriã e no subsector da responsabilidade CCAÇ 2549, Cuntima, Sitató e noutros locais onde fosse necessário actuar.


Farim, 1969 > Edifício do Comando

A CCAÇ 2547 substituiu a CART 2478 do BART 2865 a partir de 4-08-1969, na responsabilidade do subsector de Farim e também na contrapenetração sobre o corredor de Lamel e de Sitató, ficando integrada no dispositivo e manobra do Batalhão, tendo ficado aquartelada em Nema, situada no termo norte de Farim à entrada da estrada que vai para o Dungal.




Farim, 1970 > Vista aérea do Quartel de Nema. Foto cedida pelo ex-Alf Mil Carmo Ferreira.


Quartel de Nema, Dezembro 1969. Porta d’ Armas. Cavalo Frisa

Para Saliquinhedim-K3, localidade situada a 3 kms. da margem esquerda do rio Cacheu, para guarnecer o destacamento e para proteger a respectiva população deslocava-se um pelotão da CCAÇ 2548, em regime de rotação, bem como uma secção do Pel. Mort. 2116 e o Pel Mil 118.

Saliquinhedim – K3 e rio Cacheu. Março/1971. ista aérea – Slide das férias.



Saliquinhedim – K3 – Caserna do lado Oeste - Maio/1971. Slide tirado na deslocação de regresso do Batalhão pra o Cumeré.

Em Jumbembem a CART 2478 do BART 2865, no dia 4-08-69 é rendida pela CART 2384 (1), regressando assim aquele subsector, de onde havia saído havia pouco.


Jumbembem. Vista aérea, cedida pelo ex-Alf Mil Roda, da CCAÇ 14.



Pormenor de Jumbembem Velho, Janeiro de 1970 .

A CCAÇ 2549, seguiu em 30-07-69 para Cuntima, a fim de efectuar o treino operacional e render a CCAÇ 1789 do BCAÇ 1932, assumindo a responsabilidade do respectivo subsector, em 4-08-1969 e ficando integrada no dispositivo e manobra do Batalhão.

Cuntima, 1969. Entrada do quartel. Foto cedida pelo ex-Alf Mil Carmo Ferreira.


Cuntima, 1969 > Ritual do arrear da bandeira.

Outro dos aquartelamentos pertencentes ao Sector era Canjambari.

Em 1-06-1969, seguiu para esta localidade a CCAÇ 2533, a fim de realizar o treino operacional, de 3 a 17-06-69, sob a orientação do COP 3.

Em 19-06-69, assumiu a responsabilidade do respectivo subsector de Canjambari, em substituição do pessoal restante da CART 2340 e outros efectivos ali colocados, temporariamente, em reforço ficando integrada no dispositivo e manobra do COP 3 e depois do BCAÇ 2879.



Canjambari, 1969. Aspecto geral do Quartel e Pista. Slide cedido pelo ex-Fur Mil Pires



Canjambari, 1969. Aspecto geral duma Caserna abrigo. Slide cedido pelo ex-Fur Mil Pires

Fotos de Carlos Silva (2008).

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Notas de Carlos Silva:

(1) In Estado-Maior do Exército - Comissão para o Estudo das Campanhas de África
Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África
(1961-1974). 7º Volume - Fichas das Unidades- Tomo II - Guiné, 1ª edição, Lisboa 2002 - p. 206, 82 e 127
__________

Notas do co-editor vb:

vd artigos de

24 de Janeiro>Guiné 63/74 - P2477: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (3) (Carlos Silva)

20 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2464: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (2) (Carlos Silva)

15 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2440: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes para Farim: O Batalão dos Cobras (1) (Carlos Silva)

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2477: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (3) (Carlos Silva)

Continuamos a transcrever a História do BCaç 2879. Depois da formação do Batalhão e da viagem rumo à Guiné, publicamos hoje a chegada a Bissau, com as impressões que a cidade deixou ao nosso Camarada Carlos Silva, ex-Furr Mil do Batalhão e hoje um ilustre advogado, há mais de vinte anos a defender causas de ex-combatentes brancos e negros.
 vb
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Bissau - Breve descrição Durante a estadia que foram de alguns dias na Amura e no Quartel dos Adidos, sediado nos arredores da cidade e a caminho do aeroporto de Bissalanca, sempre que surgia uma oportunidade e tínhamos possibilidade, apanhávamos boleia nas viaturas militares e lá íamos dar uma passeata até à baixa, onde éramos matraqueados com o célebre cantarolar de pelos mais velhos de “salta periquito, salta periquito, a velhice vai no metrópole”…

1969 – Vista aérea de Bissau e do ilhéu do Rei 

Podemos caracterizar Bissau como uma cidade bastante bonita, simpática e alegre, plantada à beira mar, praticamente plana, com declives pouco acentuados, aliás, na Guiné o relevo é pouco acentuado.

Dotada de boas avenidas e ruas transversais, bastante arborizada com mangueiros, cajueiros, a ponciana, espécie de acácia que embeleza a urbe na época da floração, etc.

É de salientar a avenida principal, Av. da República, que parte da zona ribeirinha do Cais do Pidjiguiti até à Praça do Império, onde se situa o Palácio do Governador da Província. A avenida marginal, lindíssima, repleta de palmeiras e coqueiros, passando pelo jardim junto à Fortaleza de S. José da Amura.

As ruas perpendiculares umas às outras, tem uma extensão enorme, como por exemplo a célebre Estrada de Sta. Luzia que parte da Fortaleza da Amura, e vai até onde ficava situado o Quartel-general. Nesta estrada situa-se o Hospital Civil Central.

As casas térreas, com a sua traça típica da época colonial e rodeadas de lindíssimos jardins, sempre bem tratados. Apenas se via um ou outro prédio de dois ou três andares, tal como aquele onde estavam instalados os serviços da TAP. Portanto, não destoavam do restante casario, enquadrando-se na cidade de forma harmoniosa. Praticamente, com o início, por trás do Palácio do Governador, estendia-se até ao Quartel-General o célebre bairro designado por Pilum ou Pilão.

A cidade estava dotada de boas infra-estruturas escolares, Liceu Honório Barreto, hospitalares, Hospital Central – após a independência da Guiné passou a designar-se por Hospital Simão Mendes em homenagem a um combatente responsável pela área da saúde do PAIGC e que morreu em combate (1) e Hospital Militar, considerado um dos melhores hospitais da África Ocidental, desportivas, tais como o Estádio do Sport e Benfica de Bissau e outras, o Hotel Portugal e o Grande Hotel, pensões etc.

Infelizmente devido à guerra, havia muito movimento na cidade, pelo facto de ali se concentrarem milhares de militares. Os que ali estavam colocados, cumprindo a sua comissão até ao fim e os que estavam por lá em trânsito, ora aquando da sua chegada à Guiné, ali teriam de aguardar por transporte a fim de serem colocados nas suas respectivas zonas de intervenção no interior, ora quando aguardavam pela hora do embarque de regresso para a Metrópole.

Havia muito movimento devido à circulação constante das viaturas militares, na cidade, e, entre esta e as Unidades instaladas na periferia, a caminho do aeroporto, assim como se via uma grande circulação de viaturas civis.

Existia muita actividade comercial e de restauração. Na baixa, as lojas estavam completamente cheias; Casa Gouveia, Ultramarina, Pinto, Taufik Saad, Mercado Central etc. Os militares compravam tudo e mais alguma coisa. Desde roncos (2) para levarem para as suas famílias, namoradas e amigos, passando pela compra de máquinas fotográficas, aparelhagem, gravadores Akai, gira-discos, ventoinhas Termozeta, whisky, tapetes com motivos orientais, carpetes, arcas de cânfora, enfim, um mundo de objectos.

Nos restaurantes e cervejarias verificava-se um ambiente de frenesim constante, essencialmente com os militares. Os clientes não deixavam os empregados de mesa descansarem um minuto. Ora pedindo mariscada com aquele molho picante, gindungo, que sabor! Ora pedindo ostras, quentinhas a sair do forno, que maravilha! Bem regadas com cerveja grande bazucas, fantas, coca-cola, whisky, gin, etc., pois o calor apertava e a sede também, pelo que, havia uma grande necessidade de refrescar as gargantas sequiosas.

Deste modo, quer durante o dia, quer à noite, a rapaziada passava o tempo de lazer na cervejaria Sol Mar ou na esplanada do Bento, mais conhecida pelo Q.G, onde se saboreava o cair violáceo da tarde sob as acácias, numa amena cavaqueira, bebendo umas bazucas, apreciando a passagem de modelos multicoloridos das guineenses e de algumas europeias, ou ainda na mais recente e mais moderna cervejaria O Pelicano (3), situado na marginal, mais cosmopolita, onde à noite se podia desfrutar duma esplêndida vista para o cais e para o Ilhéu do Rei, experimentando os sabores, quer da comida guineense, ostras ou camarão com gindungo, chabéu, moqueca, caldo de mancarra, acompanhado dumas imperiais, bebendo um bom whisky, um refrescante gin tónico ou misturas destas bebidas alcoólicas com coca-cola que ainda não era conhecida na Metrópole e onde também se podia comer um bom bife com ovo a cavalo.

Os mais atrevidos davam uma saltada até ao Pilão (Cupilão ou Pilum) ver o desfile da moda feminina, aproveitando para satisfazer os prazeres da carne, não descurando a segurança, mantendo sempre um camarada de sentinela, ou então iam até à boite, designada pomposamente por Chez Toi, onde paravam as meninas da Metrópole.

Bissau, 1969 > Praça do Império e Palácio do Governador

Bissau, 1969 > Avenida da República: Casa Gouveia (à esquerda); Palácio da Justiça (à direita)

Bissau, Praça do Império,1969 > Monumento ao Esforço da Raça.

Bissau, 1969 > Praça do Império: Monumento ao Esforço da Raça, Palácio ao fundo

Bissau, 1969 > Ponte Cais e Ihéu do Rei no Estuário do Rio Geba.

Bissau, 1969 > Av Marginal, com os seus belos coqueiros, Ponte Cais e Ihéu do Rei.

Bissau, 1969 > Av Marginal

Fotos: Carlos Silva

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Notas de Carlos Silva: (1) Cabral, Luís, Crónica da Libertação – Edição “ O Jornal “ 1984, pág.

(2) Roncos -Objectos de missanga, amuletos etc. A palavra poderia também significar êxitos ou triunfos.

(3) O postal pode ver-se in Loureiro, João – Livro de Postais Antigos da Guiné, postal 102, pág. 66

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Nota de vb: Fotos da responsabilidade de Carlos Silva e postal in Loureiro, João – Livro de Postais Antigos da Guiné, postal 102, pág. 66. vd artigos de 20 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2464: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (2) (Carlos Silva) 15 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2440: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes para Farim : O Batalhão dos Cobras (1) (Carlos Silva)

domingo, 20 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2464: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (2) (Carlos Silva)


O justo reparo do Carlos Silva, ex-Furr Mil do BCAÇ 2879

Amigo Briote

(...)

Hoje tive uma reunião na Associação de Comandos e ofereceram-me a Revista onde vem publicado o teu artigo, o qual não li.


Querem que eu escreva um artigo sobre os nossos militares africanos abandonados.

Vi a publicação do 1º post, mas cortaste a história do brasão da cobra (*), bem como não publicaste o mesmo e a foto do nosso camarada Carlos Fragoso que o concebeu e desenhou.




É como se fosse uma perna amputada, porque não se dá a conhecer o brasão, que deu o nome do Batalhão dos Cobras. Talvez falta de espaço. Não sei se no futuro é possível dar retoques ou não, isto é depois de inserido o trabalho.

Segue em anexo o 2º Post, o embarque e desfile do Batalhão e aspectos da viagem no navio Uige e irão seguindo sucessivamente. Agradeço-te que me avises da publicação.

Eu continuo a insistir na dificuldade da pesquisa, mas a pouco e pouco vou descobrindo com algum trabalho aquilo que quero, pois vou procurar também aos sacos escondidos e não identificados. Vou abrindo o que me chama a atenção.

Já estou a fazer uma espécie de índice onde as coisas se encontram, que junto anexo, para ver se um dia é possível aglutinar.

Tenho muitas ideias que gostaria de desenvolver. Quero enviar para aí um inédito sobre o início da Guerra, isto é, sobre o ataque a Tite em 23-01-1963. Já vi algures no blogue o tipo do 1º tiro, vou ver se o encontro e se encontro algo mais sobre o assunto, para depois carregar o pessoal com metralha. Se souberes alguma coisa sobre este tema diz-me.

Há muito para dizer e para enviar. Vamos com calma, para ver se conseguimos fazer alguma coisa de jeito.

Informa-me se recebeste os anexos em condições, pois seguem várias fotos inseridas no meu trabalho de forma cronológica.

Recebe um abraço.

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Resposta de vb:

Carlos,

Tenho ainda várias fotos tuas para inserir em posts futuros. Como pensei que o brazão da cobra tivesse sido desenvolvido já na Guiné, não o inseri por uma questão cronológica.

Trata-se do 1º capítulo, a mobilização e os preparativos, agora segue-se a formação da unidade e o embarque. Espero que me arranjes fotos do embarque. Como cada fotografia é História, agradeço que as legendes.

Grato pela tua excelente colaboração. E as desculpas pelo lapso.

vb
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De Abrantes a Farim, o Batalhão de Caçadores 2879 e a sua história. Ou, melhor dizendo, o BCAÇ 2879 e a nossa História (**).

Texto e imagens da responsabilidade de Carlos Silva.


19-07-1969 – Sábado - Dia do embarque do BCAÇ nº 2879 no Navio “Uíge”



A Conde de Óbidos, que quase todos nós vimos, muitos pela primeira vez, e alguns pela última.




19-07-1969 – Dia do embarque do Batalhão – A difícil despedida dos nossos familiares.



19-07-1969 – Desfile do Batalhão – CCaç. 2548 - Em primeiro plano, o Cap Sobral, o Casanova e o Marques.



19-07-1969 – Desfile do Batalhão – Foi a vez da CCAÇ 2549 aparecer na fotografia.


O Uíge de muitos

20-07-1969 – Domingo



Almoço a bordo. Furriéis da CCAÇ 2548 . O Galo, o Serrenho, o Barroso e o Leça.




Almoço a bordo. Furriéis da CCAÇ 2549. Vaz

21-07-1969 – Segunda-feira




Confraternização a bordo do Uíge. De pé: Alf. Sampaio, Cap Vasco Lourenço, Alf Carmo Ferreira e Cap Covas de Lima. De cócoras, os Alferes Casanova, André, Baptista e Rebelo.




Confraternização a bordo do Navio Uíge dos Furriéis da CCAÇ 2548 De pé: Serrenho, Lopes, Galo, Vasques, Barroso, Godinho, Vitorino e Nascimento. De cócoras: Leça, Évora, Tavares, Pontes e Coelho


25-07-1969 – Sexta-feira - Chegada à Guiné e desembarque em Bissau

O Comando do Batalhão com as CCAÇ 2548 e CCAÇ 2549 foram alojados nas futuras instalações do Batalhão de Serviço de Material em Brá e ficaram a depender do Depósito de Adidos.
Dois barracões, uma manta, mosquitos e nada mais.

Para os militares que já tinham várias comissões e para os que vinham pela primeira vez, embora por razões diferentes, o choque foi grande.

A CCAÇ 2547 ficou instalada na Amura em razoáveis condições.

28-07-69 – Segunda-feira

O Comando do Batalhão, a CCAÇ 2549 e 50 elementos da CCS, embarcaram em Bissau na LDG “Alfange” com destino ao Sector 02 onde iriam ficar instalados.

Em 29-07-69 desembarca-se em Farim.

30-07-69 – Quarta-feira

A CCAÇ 2549, em coluna auto, desloca-se para Cuntima, localidade situada nas proximidades da fronteira norte com a República do Senegal, assumido mais tarde a responsabilidade do subsector.

No mesmo dia marcham de Bissau para a Ponte de S. Vicente, em coluna auto, a CCAÇ 2548 e mais 50 elementos da CCS. Naquela localidade, embarcam na LDG “Alfange”, subindo o rio Cacheu e desembarcam ao fim da tarde em Farim.

01-08-69 – Sexta-feira

Finalmente, neste dia seguem de Bissau para a Ponte de S. Vicente, em coluna auto, a CCaç. 2547 e os restantes elementos da CCS.
Naquela localidade, embarcam na LDG “Alfange”, subindo o rio Cacheu e desembarcam ao fim da tarde em Farim.

Nesta data, portanto, todo o BCAÇ 2879 encontrava-se no Sector 02 que lhe foi atribuído.

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Fixação do texto: vb

(*) Um outro símbolo do Batalhão foi adoptado, embora não saiba por alma de quem surgiu a ideia, o qual nada tem a haver com a heráldica militar, conforme o desenho constante do crachat.
Passados alguns anos após o regresso do Batalhão da Guiné e num dos almoços de confraternização, segundo me contou o Ten Cor Vasco Lourenço, ao qual perguntei para satisfazer a minha curiosidade se sabia como surgiu a ideia de adoptar tal símbolo, este disse-me que a ideia surgiu espontaneamente de entre um grupo de oficiais do Batalhão que entenderam adoptar um símbolo que chamasse à atenção e deixasse uma marca para sempre.

Também, muitos anos mais tarde após o regresso do Ultramar, segundo me contou o nosso camarada então Cabo Mil Carlos Fragoso da CCAÇ 2549, obtido o acordo no dito conclave, foi chamado pelo então Cap Vasco Lourenço, na medida em que tinha um curso de artes, para conceber e desenhar um emblema apelativo do Batalhão, que se relacionasse com algo que rastejasse (até parece que o quotidiano da Guiné seria o rastejar).

Daí, o Fragoso colocar o seu cérebro a funcionar e conceber a ideia da cobra, porque se trata de um réptil rastejante, surgindo assim, o emblema conhecido por todos nós.

Deste modo, o nosso glorioso Batalhão passou a ser conhecido pelo Batalhão dos Cobras”.

Carlos Silva

(**) A odisseia ultramarina aproximava-se do fim. Um dos maiores protagonistas, que a nossa História recente registou, embarcava no Uíge, comandando uma das Companhias do Batalhão dos Cobras, que se iria fixar em Cuntima (Colina do Norte) junto à fronteira com o Senegal.

vd post:

Guiné 63/74 - P2440: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes para Farim: O Batalhão dos Cobras (1) (Carlos Silva)