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quinta-feira, 2 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14825: Memória dos lugares (300): Rio Cacheu, o meu rio...Ia-me engolindo, em 1964, mas continuei sempre a gostar dele. (António Bastos, 1.º cabo do Pel Caç Ind 953, Cacheu, Farim, Canjambari, Jumbembem, 1964/66)


Foto nº 1

Guiné > Região do Cacheu > Rio Caboiana > 1964 > "Um afluente do Cacheu,  Coboiana, onde íamos lá muitas vezes fazer em psico... O "Pecixe" fazia o transporte de civis do Cacheu para S. Domingos... 

[Ou não será antes o Rio Grande de São Domingos, afluente do Rio Cacheu, margem direita ? A região ou regulado chama(va)-se Caboiana, e não Coboi...ana; na margem esquerda há outro rio, o Churro, e também o Rio Lenhe e outros mais pequenos... vd. aqui carta de São Domingos [Cacheu];  no nosso blogue há vários postes em que aparece o topónimo Coboiana, Coboiana-Churro, mas temos que corrigir... Não consigo localizar nenhum Rio Caboiana, muito menos Coboiana... Por mor da verdade e do rigor, temos que esclarecer e corrigir este lapso... Os nossos cartógrafos não brincavam em serviço, e é bom que se diga que prestaram um alto serviço científico e cultural ao povo da Guiné-Bissau, cartografando ao milímetro todas aquelas terras, do Cacheu ao Cacine... Ainda hoje estas cartas são altamente cobiçadas por muita boa gente!... Para nós, amigos e camaradas da Guiné,  são um extraordinário auxiliar de memória... Já há muito que nos teríamos perdido nos labirintos de memória sem estas preciosas cartas... Vd. também cartas de Pelundo e Sedengal]





Foto nº 2

Guiné > Região do Cacheu > Rio Cacheu > 1965 > Em Farim, num zebro...


Foto nº 3

Guiné > Região do Cacheu > Rio Cacheu > 1964 > "Um mergulho no Cacheu", diz a legenda nas costas da foto...



Foto nº 4

Guiné > Região do Cacheu > Rio Cacheu > 1964 > Um banho à "leão"...




Foto nº 5

Guiné > Região do Cacheu > Rio Cacheu > 1966 > No "barco turra", de regresso a Bissau, em fim de comissão...


Fotos (e legendas): © António Bastos (2015). Todos os direitios reservados [Edição: LG]


1. Mensagem, de 30 de junho último, enviada pelo António Paulo Bastos (ex-1.º cabo do Pel Caç Ind 953, Teixeira Pinto e Farim, 1964/66):


Boa tarde, companheiro Luís.

Respondendo à nossa sondagem desta semana... O meu rio na Guiné é o Cacheu.

Em 1964, ele ia me engolindo mas continuei sempre a gostar dele.

A 1ª foto é de um afluente do Cacheu é o Rio de Coboiana, onde íamos lá muitas vezes em psico.

As outras estão identificadas.

Um abraço. 

António Paulo Bastos

Pel Caç 953 (1964/66)
Cacheu, Farim, Canjambari, Jumbembem
_________________

Nota do editor:

Último poste da série > 1 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14823: Memória dos lugares (297): O Rio Geba e o "barco turra", a caminho de Bissau, no dia em que o homem chegou à lua (20 de julho de 1969) (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 /CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12476: Blogoterapia (245): Homenagem ao nosso 'cartógrafo-mor', Humberto Reis, para o quem o nosso blogue tem uma dívida de gratidão... Que o bom irã do nosso poilão lhe dê amor, saúde, patacão, longa vida... e bons augúrios para 2014!...








Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (julho de 1969/ março de 1971) > O Humberto de Reis: de cima para baixo: (i) no abrigo, na ponte do Rio Udunduma, que era defendido por uma grupo de combate (rotativamente, por várias subunidades de Bambadinca); (ii) à pesca, sobre a ponte semidestruída do Rio Udunduma; (iii) no Xitole, com um pequeno macaco-cão; e (iv) à civil em Bambadinca. Fotos do álbum do fur mil op esp Humberto Reis (CCAÇ 12, 1969/71).

Fotos: © Humberto Reis (2013). Todos os direitos reservados (Edição e legendagem L.G.)


O nosso blogue tem uma dívida de gratidão para com o Humberto Reis: (i) é um dos nossos “sócios-fundadores”, o nº 3 da Tabanca Grande (ex-aequo com o David Guimarães e o A. Marques Lopes...); (ii)  é o nosso fornecedor de magníficas fotos (nomeadamente aéreas) de Bambadinca, Bafatá, Xime, Mansambo, Xitole e Saltinho; e, sobretudo,  foi o municiador das cartas ou mapas militares da antiga província portugesa da Guiné.

Nunca é demais recordá-lo, para mais em dia de festa quando ele faz 67 aninhos...

Quando voltou à Guiné-Bissau, em 1996, em viagem de negócios (mas também em romagem de saudade), o eng. Humberto Reis (ex-furriel miliciano da CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71) já tinha adquirido as 72 cartas da antiga província portuguesa, à escala de 1/50.000. Em Dezembro de 94 já lhe custaram 450$00 cada uma (, e o mapa geral, 600$00)… Era muito dinheiro na época...

Na altura estas cartas ainda podiam ser adquiridas no Centro de Documentação e Informação do Instituto de Investigação Científica e Tropical, em Lisboa Muitas dessas cartas estarão hoje esgotadas.

Na altura foi exigida ao Eng. Humberto Reis uma declaração da embaixada da República da Guiné-Bissau, a qual se transcreve, como simples curiosidade, com data de 29 de Dezembro de 1994: "A Embaixada da República da Guiné-Bissau em Portugal declara, para os devidos efeitos que está o sr. Eng. Humberto Simões dos Reis autorizado a adquirir cartas geográficas da Guiné-Bissau.

"Para que não haja nenhum impedimento a tal objectivo, se passou a presente declaração que vai ser assinada e autenticada com o carimbo a óleo em uso nesta Missão Diplomática".

Presumimos que esta exigência de autorização da embaixada da Guiné-Bissau para um turista levar consigo cartas geográficas do país fosse ditada, na época por razões,  de "segurança de Estado"... Admitimos que algumas dessas cartas possam ter ido parar, hoje, às mãos de inimigos do povo da Guiné-Bissau.

A divulgação destas cartas, devidamente digitalizadas, no nosso blogue, não tendo quais propósitos comerciais ou outros, de índole lucrativa, pretendia (e pretende) tão somente  prestar um serviço útil aos ex-combatentes da guerra colonial, e nomeadamente aos membros da nossa Tabanca Grande, e a todos os demais amigos do povo guineense.

Estas cartas, apesar de algumas lacunas, tendo muitas delas já mais de meio século, foram (e continuam a ser) fundamentais para a reconstituição da memória dos lugares e a reorganização das memórias dos ex-combatentes portugueses que estiveram aquartelados e/ou envolvidos em operações na Guiné, durante a guerra colonial (1961/74).

Quisemos, eu e o Humberto Reis, prestar também aqui a nossa homenagem aos valorosos cartógrafos militares portugueses. As cartas da Guiné resultaram do levantamento efectuado nos anos 50/60 pela missão geo-hidrográfica da Guiné, a cargo da nossa Marinha. A fotografia aérea foi da responsabilidade da então aviação naval e depois da FAP.  A restituição foi feita pelos Serviços Cartográficos do Exército. 

A fotolitografia e impressão froam da responsabilidade de várias empresas tipográficas portuguesas, como a Litografia de Portugal, da Arnaldo F. Silva ou da Papelaria Fernandes . A edição foi da Junta das Missões Geográficas e de Investigações do Ultramar, do antigo Ministério do Ultramar, 

E, por fim, a digitalização foi efectuada na Rank Xerox, em 2006, também a expensas do nosso camarada e benemérito Humberto Reis para quem vai, hoje, um muito especial Alfa Bravo do tamanho do Rio Geba, com uma travessa (virtual) de camarões gigantes apanhados no Mato Cão… para partilhar com o João Melo, um rapaz do Cumbijã, também aniversariante... Saíam as "bazucas"!

Teu amigo, vizinho e camarada Luís Graça.
_______________

Nota do editor:


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9539: (In)citações (37): O topónimo fula Tabassai (e não Tabassi)... e a lealdade dos fulas, aliados dos portugueses (Cherno Baldé / José Manuel Dinis)



Carta da Colónia da Guiné (1933) > Escala de 1 / 500 mil > Localização de Tabassá  

Fonte: Portugal. Ministério das Colónias, Comissão de Cartografia,  1933




Guiné > Zona leste > Carta de Pirada (1957) (Escala 1/25 mil) > Localização de Tabassi (ou Tabassai ?)


Guiné-Bissau > Mapa, 1981 (Escala 1/500 mil) > Edição do Instituto Geográfico Nacional de França (1981) > Detalhe > Posição de Tabassi (a vermelho)



1. Comentário de Cherno Baldé, técnico superior da administração pública da República da Guiné-Bissau [, foto a seguir, com os filhos, na festa do Tabaski], com data de 24 do corrente, ao poste P9522

Caro José Dinis e prezados Editores,



(i) Eu presumo que houve um erro de grafia [na carta de Pirada, de 1957], pois a fonia "Tabassai" é a mais conhecida. A palavra ou a junção das palavras (Taba e Say)é seguramente de origem mandinga como é o caso de quase todas as localidades da zona norte e leste (p.ex. Farim, Kaabu, Bafatá, Badjucunda, Kuntuba, Fadjunkito, Paunca, Tabató). 

De uma forma geral, todos os topónimos que começam com o prefixo "Can/kan/Gan", "Ba/Fa", "Man" e os que terminam com o sufixo "to/ta", "do/din", "cama/cunda",[ referem-se a localidades] conquistadas pelos fulas na segunda metade do séc. XIX.
(ii) Mudando de assunto, foi com alguma curiosidade que li as notas de apresentação do José Dinis relativamente à sua zona de atuação durante a sua comissão na Guiné e sobre o conhecimento que pretendia ter sobre as populações locais, fulas na sua maioria, penso que, certamente, já teve tempo e oportunidade para mudar de opinião em alguns aspectos.

Embora esteja de acordo com ele sobre as suas observaçõ
es em relação ao apego dos fulas à religião muçulmana, que não tem, nem hoje nem ontem, nada de reprovável em si a não ser do ponto de vista etnocêntrico de quem quer impor a sua ordem e sua lógica das coisas, que na altura se chamava "colonialismo" . 

Infelizmente, não concordo com ele quando diz que "as populações manifestavam colaboração mas assumiam uma posição neutral em relação ao IN, de maneira a, agradando a uns, não desagradar aos outros".

Caro José Dinis, o comportamento das populações camponesas em todos os teatros de guerra é quase sempre a mesma, ou seja,  de quase neutralidade com o conflito em si. Isto é válido tanto em África como na Ásia ou América-latina, o grande Che Guevara também observou e escreveu sobre o mesmo assunto.

Não obstante, a posição das populações fulas durante a guerra era muito clara, tão clara que ficou escrito nos anais da história do PAIGC, de Cabral e da Guiné; tão clara que, logo depois da independência, a primeira medida que tomaram foi cortar a cabeça, aniquilar as chefias tradicionais e militares que lideraram a oposição e tomaram o partido da aliança com os portugueses. 

Durante a guerra, eu vivi sempre na charneira entre a população nativa e os militares portugueses e sempre pressenti esta desconfiança latente da tropa em relação às populações, e quase sempre, de forma absolutamente injustificada.

Os fulas, à semelhanca dos portugueses, foram ingénuos e não conseguiram fazer a leitura correta do sentido da história e pagaram por isso. No caso especifico dos fulas pode-se mesmo dizer que vão pagar, ainda, por muito mais tempo, incluindo várias gerações, por uma aliança onde nem sequer tinham o crédito que mereciam pela sua fidelidade.

Um grande abraço a todos,

Cherno Baldé 


2. Resposta de José Manuel Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71) [ na mesma data, em comentário no mesmo  poste P9522 :

Caro Cherno, Camaradas,

Muito obrigado pelo teu comentário esclarecedor em duas vertentes.



A primeira parte tem a ver com a grafia toponómica de Tabassai, geralmente expressa nas cartas geográficas por Tabassi.

Concordo com a tua ilação sobre um erro gráfico nas cartas (serão só as de origem portuguesa?) , hipótese que já me tinha colocado, e por essa razão tem-se perpetuado. Assim, talvez se deva chamar a atenção, não só para o Instituto Geográfico e Cadastral, como para o Departamento congénere do Exércto, e a autoridade da Guiné.

Quanto à segunda parte do teu comentário, apesar da tradicional colaboração, ou pretensa proteção dos Fulas em relação à antiga autoridade portuguesa, tive essa experiência por via de diferentes contactos, mas também me lembro de termos sentido alguma dificuldade em relação a alguns elementos da população, apesar de, no geral, serem de grande alegria e afabilidade as relações da tropa com a população. 

Por acaso, reporto-me a Tabassai, para referir que for transformada em aldeia em auto-defesa e, para o efeito, recebeu algumas armas G-3, praticamente novas. Todavia, apercebi-me de que as armas não eram vistas. Nunca observei algum popular com a sua arma. E tive até uma chatice com o chefe da tabanca, porque, mostrando-se solícito em busca dos elementos da auto-defesa, nunca encontrou algum, nem armas. 

Um dia, que tínhamos aprazado para o efeito,mostrou-se desdenhoso comigo, pelo que lhe retirei duas granadas que, na ocasião, ostentava à cinta. Dei conhecimento do facto ao capitão e desinteressei-me do caso. Sei que desautorizei uma autoridade, mas constava que as armas tinham levado sumiço, e contavam com a tradicional displicência dos portugueses. 

Seria de considerar, neste caso, pelo menos, uma atitude de diplomacia na aceitação das armas para a prática da auto-defesa, que nunca se concretizou enquanto lá estive.

Também sei que havia tropa que roubava bens à população, pelo que admito que houvesse diferentes estados de espírito nas relações da população com os portugueses.

Além disso, havia aldeias mescladas de raças, ou condicionadas por factores assistenciais ou de ordem económica e social, mais ou menos determinantes de emoções que condicionavam as relações. 

Mas registo a informação que prestaste, e afirmo a minha repugnância pelos actos de vingança gratuita que incidiram sobre famílias tão sofridas.

Um grande abraço
JD



3. Comentário do editor:


3.1. Na carta da "colónia da Guiné", de 1933, de que se publica acima um detalhe, o topónimo que está grafado é Tabassá... Em 1957, ficou grafado Tabassi, possivelmente por gralha tipográfica... A ser erro, como se deduz depois da convincente e erudita explicação do nosso amigo Cherno Baldé, a grafia tem-se mantido até hoje (nos mapas da Guiné-Bissau, nos mapas do Google...). Seri abom que alguém tomasse as necessárias porvidências para corrigir este erro.


Encontrámos duas fotos, com referência à Tabanca de Tabassi (sic), da autoria do nosso camarada Luís Guerreiro, publicados no blogue do Batalhão de Artilharia nº 2857 (Piche, 1968/70), a cujos editores (Pereira da Costa, Francisco Pereira e José Rocha) mandamos um fraternal abraço, extensivo ao Guerreiro, fotógrafo. (Recorde-se que o Luís, hoje a viver em Monte Real... do Canadá,  foi Fur Mil, CART 2410,  Gadamael, Ganturé e Guileje, e Pel Caç Nat 65, Bajocunda e Buruntuma, 1968/70).



Tabassai, 1970: uma terra de belas mulheres

Fotos: © Luis Guerreiro (2010). Todos os direitos reservados. (Por cortesia do blogue do Batalhão de Artilharia nº 2857 )

3.2. Sobre eventuais brechas na aliança dos fulas com os portugueses, leia-se o que escreveu o comando do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) na história da unidade:
Nota do editor:

(...) "As facilidades de transporte, o contacto íntimo com o militar europeu começa a desenvolver na juventude fula (os nossos milícias, os nossos soldados) uma certa atitude de contestação contra a sua situação de subalternidades no grupo social, apesar de constituir a principal fonte de recursos desse mesmo grupo social. E, na medida em que, por conveniência, apoiamos as suas estruturas, pode tal juventude de hoje, seus dirigentes de amanhã, acusar-nos de travar o seu progresso, apoiando o despotismo a que as estruturas a sujeitam, e criando assim uma brecha potencial por onde o PAIGC pode penetrar na lealdade Fula".(...) [Vd.  poste P6437]
 ________________



Último poste da série > 30 de novembro  de 2011 > Guiné 63/74 - P9117: (In)citações (36): Para melhor compreendermos a África... (Artur Augusto Silva, 1963)

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Guiné 63/74 - P3102: Memória dos lugares (13): De Guileje a Gadamael, velhos caminhos esquecidos... (Amaro Samúdio / Nuno Rubim)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Estrada Gadamael-Guileje > Cruzamento de Guileje > 15 de Fevereiro de 2008 (e não 1 de Março de 2008, como sugere o Nuno, já que o meu companheiro de viagem ao sul, nesse dia, envergava uma T-shirt castanha) > O Nuno Rubim, que foi para a Guiné-Bissau, um mês antes da realização do Simpósio Internacional de Guileje (1 a 7 de Março de 2008), junto a actuais moradores da tabanca que aqui nasceu, no cruzamento para Guileje (que era, no tempo da guerra, o coração do corredor de Guileje)... Na região e na época de o Nuno Rubim era conhecido (e foi saudado em 2008) como o "capitão fula"...


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Estrada Gadamael-Guileje > Cruzamento de Guileje > 15 de Fevereiro de 2008 > O Nuno Rubim posando junto célebre poilão do Corredor de Guileje, ponto de referência tanto para as NT como para os guerrilheiros do PAIGC... Foi batizado

Fotos : ©
Nuno Rubim (2008). Direitos reservados.


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Simpósio Internacional de Guiledje > 1 de Março de 2008 > Visita ao antigo aquartelamento de Guileje, em ambiente festivo e emocionante: na foto, três oficiais portugueses cujas vidas e memórias ainda hoje estão profundamente ligadas a este lugar: o Nuno Rubim, o capitão fula dos primórdios de Guileje (em primeiro plano, à direita); o Abílio Delgado, ex- Cap Mil dos Gringos de Guileje, a CCAÇ 3477 (à esquerda); e o Coutinho e Lima, em segundo plano, major e comandante do COP 5 na altura da retirada do aquartelamento e tabanca, em 22 de Maio de 1993...

Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.



Guiné > Pormenor das cartas de Guileje e Iacoca (Gadamael)... A azul, o trilho seguido pelo pessoal da CCAV 8350, na retirada de Guileje, em 22 de Março de 1973; e a vermelho, a estrada Guileje-Cruzamento de Guileje - Gadamael...

Imagem : ©
Nuno Rubim (2008). Direitos reservados.


Região de Tombali > Guileje > Estrada de Gadamael, para norte, cruzamento de Guileje, coluna de Gadamael [CART 2410], transporte do obus 11.4, em 19 de Março de 1969. A(s) foto(s) da polémica...

Fotos: ©
Luis Guerreiro / Nuno Rubim ( (2008). Direitos reservados.


1. Mensagem de 29 de Julho, do Amaro Samudio (*)

Caro Luís:

Era outra a estrada que ligava Gadamael Porto a Guileje. Se a memória não me atraiçoar na estrada que eu conheci de Guileje a Gadamael e o inverso, nomeadamente naquilo que era chamado o cruzamento. Para a esquerda, corredor da morte; para a direita, Bendugo. Estrada lisa e clareiras não existiam até ao cruzamento, era mata cerrada e buracos para picar. É certamente de outra "estrada", de que falam.

Um Abraço

2. Resposta de Nuno Rubim, na mesma data:


Deve haver confusão sua, caro camarada Amaro Samúdio. A nossa carta militar esclarece perfeitamente a questão (estrada a vermelho, vd. mapa acima ).

Houve outra "ligação" que marquei na carta: o trilho da retirada da CCav 8350 e da população de Guileje no fatídico dia 22 de Maio de 1973 (a azul, trajecto aproximado, porque há uma versão de que, na última parte do deslocamento, viaturas de Gadamael foram ajudar, o que só poderia ter sido pela estrada, daí a linha tracejada ).

Um abraço

Nuno Rubim

3. Resposta do A. Samúdio para o Nuno Rubim, com data de 29 de Julho:


Caro Camarada Nuno Rubim

Não deixo passar em claro a chamada de atenção do nosso amigo Luís relativamente a um 1º cabo enfermeiro (*). Hoje era certamente major enfermeiro mas a tropa marca-nos como nas ganadarias marcam cavalos e...

Quem melhor poderá conhecer todos os pormenores daquela zona, e não só, do que o Nuno Rubim? Para mim, ninguém.

Eu andei muitas vezes e posso, se a paciência não me interromper, dizer exactamente quantas. Por onde saiu a CCAÇ 8350 foi pelo trilho ao fundo da pista de aterragem das DO.

Admito perfeitamente erros de memória mas a estrada onde fazíamos as colunas Gadamael /Guilele/Gadamael era mato cerrado e com muitas covas e não estrada lisa como eu vi. Engano meu. Possívelmente.

Um Abraço
A. Samúdio
Soldado depois da despromoção



4. Resposta do Nuno Rubim, de 30 de Julho:

Caro Camarada:

De facto fui duas vezes a Gadamael em coluna, mas muitos pormenores do trajecto de então já se perderam... Os anos não perdoam ...

Mas. repare que este assunto decorreu da foto enviada pelo nosso camarada Luis Guerreiro que afirma taxativamente que foi tirada já perto do cruzamento
e até fornece a data precisa. Não tenho motivos para pôr em causa esta
asserção dele.

A CCav 8850 saiu realmente pela pista de aviação.

Hoje, no cruzamento, existe uma grande tabanca e o pessoal recebeu-nos de braços abertos, quer a população, quer ex-milícias que combateram connosco, quer antigos guerrilheiros ... Foi realmente impressionante ! (**)

Até à próxima ...
Um abraço
Nuno Rubim


___________

Notas de L.G.:

(*) Eu tinha dito ao Nuno que o Samúdio era 1º Cabo Enfermeiro dos Gringos de Guileje... Não era ? Eu sempre o tratei como tal, no nosso blogue... Se me enganei, se o (des)promovi, peço desculpa...

A nossa base de dados está sempre a incorporar novos inputs... e os editores a levar, de vez em quando, no toutiço... Embora neste blogue cultivemos o rigor factual, tambném não damos excessiva importância a postos e patentes... Hoje, paisanos, somos todos iguais, somos pares, tratamo-nos por tu e por camaradas... Para mim (e para o Nuno Rubim), o mais importante foi o Samúdio ter tido a proeza de, ao fim de 33 anos, conseguir reunir os Gringos de Guileje... Se não fosse só por isso, eu promovi-o a general de cinco estrelas!

O Amaro Munhoz Samúdio, que vive em Matosinhos (e que ue já tive o grato prazer de conhecer pessoalmente na Casa Teresa, num dos célebres almoços de 4ª feira, da tertúlia de Matosinhos), chegou à nossa Tabanca Grande em Outubro de 2006, pela mão nosso querido amigo e camarada de Guigões, Matosinhos, o Albano Costa (que esteve em Guidaje, na fronteira norte). Para ambos vai daqui um grande Alfa Bravo (abraço).

Vd. postes de e sobre o Samúdio:

28 de Junho de 2007 >
Guiné 63/74 - P1894: Louvores e punições (2): CCAÇ 3477, Os Gringos de Guileje (Amaro Samúdio)

22 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1869: Convívios (19): Os Gringos de Guileje, a açoriana CCAÇ 3477, encontram-se ao fim de 33 anos! (Amaro Samúdio)

27 de Janeiro de 2007 >
Guiné 63/74 - P1466: Mário Bravo, médico de Guileje (Amaro Munhoz Samúdio)

3 de Dezembro de 2006 >
Guiné 63/74 - P1334: Guileje: espectacular foto aérea de 1972 (Amaro Munhoz Samúdio, CCAÇ 3477)

18 de Novembro de 2006 >
Guiné 63/74 - P1293: Guileje: do chimpanzé-bébé aos abrigos à prova do 122 mm (Amaro Munhoz Samúdio, CCAÇ 3477)

10 de Outubro de 2006 >
Guiné 63/74 - P1162: Guileje: CCAÇ 3477, os Gringos Açorianos (Amaro Munhoz Samúdio)

22 de Junho de 2007 >
Guiné 63/74 - P1869: Convívios (19): Os Gringos de Guileje, a açoriana CCAÇ 3477, encontram-se ao fim de 33 anos! (Amaro Samúdio).

11 de Junho de 2006 >
Guiné 63/74 - P864: Unidades aquarteladas em Guileje até 1973 (Nuno Rubim / Pepito)

11 de Maio de 2007 >
Guiné 63/74 - P1750: Com os Gringos de Guileje... em Nhacra (Herlander Simões)

6 de Maio de 2008 >
Guiné 63/74 - P2815: Tabanca Grande (67): Os Gringos de Guileje: Abílio Delgado, Zé Carioca e Sérgio Sousa (CCAÇ 3477, Nov 1971/ Dez 1972)

(**) Vd. postes de:

16 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2650: Uma semana involvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (6): No coração do mítico corredor de Guiledje

17 de Março de 2008 >
Guine 63/74 - P2655: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (7): No corredor de Guiledje, com o Dauda Cassamá (I)

domingo, 13 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3058: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Nuno Rubim (4): Slides (de 10 a 18): Dos Strellas à Op Amílcar Cabral


"Dispositivo do Sector Sul em Abril de 1973, pouco antes do ataque do PAIGC a Guileje. O COP 5 tinha sido activado em 22 de Janeiro de 1973, comandando as unidades instaladas em Guileje, Gadamael e Cacine. A vermelho, as zonas de intervenção do Com-Chefe " (NR).


Imagens : © Nuno Rubim (2008) . Direitos reservados.


1. Fim da apresentação dos slides referentes à comunicação do Cor Art na situação de reforma, Nuno Rubim > Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > Simpósio Internacional de Guileje (1 a 7 de Março de 2008) > Dia 5 de Março ded 2008 > Painel 3 > O pós-Guiledje: efeitos, consequências e implicações político-militares do assalto ao aquartelamento. Moderador: Mamadú Djau (Director do INEP) > Comunicação de Nuno Rubim, português, Cor Art Ref > 17h30 – 18h00 > "A batalha de Guiledje: uma tentativa de reconstituição histórica em dioramas" (*)



Documento secreto, directiva nº20/73, de 27 de Maio de 1973:

"3. Procedimentos de voo de carácter geral: São estabelecidos os seguintes procedimentos de voo, aplicáveis a todas as aeronaves e em todos os tipos de missões:

"a. Altitudes de voo - acima dos 6 mil pés [cerca de 2000 metros] e abaixo de 200 pés.

"b. Entre aquelas altitudes, todas as aeronaves manobram constantemente (mudanças bruscas de rumo e de altitude).

"c. Todas as subidas e descidas sobre as pistas do interior do TO são executadas em espiral, cpm in versões ferquentes de sentido.

"d. As rotas são variadas de a que as areonaves, sempre que possível, nã sobrevoem sempre os mesmos pontos, pelo menos dentro de períodos curtos de tempo.

"e. Todas as areonaves actuam, no mínimo, em parelha".

"O Míssil anti-aéreo SA-7 Strela. Um dos factores mais decisivos na guerra da Guiné" (NR).


"A reunião de Comandos em 15 de Maio de 1973 ( oito dias antes do início do ataque a Guileje). Se não existissem mais evidências, esta reunião deixou perfeitamente claro que os altos comandos na Guiné já não acreditavam numa solução militar e os pedidos de reforços colocados, irrealistas e absurdos no contexto internacional de então, constituíram um “recado” claro ao governo português"(NR).









As exigências da Marinha...





As reivindicações da Força Aérea...

Comentário de L.G.: A hierarquia militar portuguesa tem perfeita consciência da inferioridade das NT (Exército, Marinha e Força Aérea) , em termos de material bélico. Esta estimativa do equipamento em falta é sintomática... Ou tratava-se de fazer chantagem contra o poder político, sediado lá longe, em Lisboa ?





"Cópia e resumo dos originais autógrafos de Amílcar Cabral do planeamento do ataque a Guileje, operação “Maimuna-A”. Arquivo Amílcar Cabral/ Fundação Mário Soares"(NR)







"Ataque a Guileje, a partir de 22 de Mai 73. O dispositivo do PAIGC ... Só para ti, Luís, julgo eu... Este dispositivo constituíu a única parte da minha intervenção que sofreu uma confirmação já na Guiné. Como deves saber eu fui para lá em 8 de Fevereiro. No interim tive oportunidade de conversar, na AD, com o hoje Maj Gen Watna Na Lai, um dos Cmdts da Art do PAIGC no ataque a Guileje ( conjuntamente com o Gen Veríssimo Seabra, que foi CEMFA, assassinado em Out de 2004 ). Ora quando lhe mostrei a minha 'teoria' sobre a implantação das posições da Artilharia do PAIGC durante o ataque ele ficou surpreendido e disse-me que tinha sido tal e qual !!!

"O que eu fiz foi simplesmente, sabendo do alcance máximo dos materiais utilizados, marcar na nossa carta 1:50000 esses alcances com círculos e depois ver onde eles interceptavam as possíveis vias de comunicação ( caminhos ) que vinham da Guiné-Conacri, por onde o material forçosamente teria de ser deslocado com alguma facilidade. Aí seriam as prováveis bases de fogos ! A nossa carta era de facto extraordinária !

“Bingo” … eram mesmo ! …, segundo ele confirmou! ( vê no CD o esquema que eu tinha idealizado): “Artilharia do PAIGC- Ataque a Guileje”) (NR) .

O PAIGC toma posse do aquartelamento de Guileje, em 25 de Maio de 1973, três depois da retirada das NT. Foto do Arquivo Amílcar Cabral / Fundação Mário Soares.

Raio de acção do armamento do PAIGC, que cercava Guileje: Morteiro 120 (4 km); Grad (6 km); peça de 130 mm (12 km)... Reconstituição de Nuno Rubim.





Comentário de L.G.: Agradeço ao Nuno Rubim as notas que me cedeu e que acompanharam os seus slides, enviados em CD-Rom. A sua comunicação, em Bissau, foi oral.

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Nota de L.G.:

(*) Vd.postes anteriores:

13 de Julho de 2008 >
Guiné 63/74 - P3054: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Nuno Rubim (1): Como dar a volta aos Strella ?

13 de Julho de 2008 >
Guiné 63/74 - P3055: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Nuno Rubim (2): Slides (1 a 4): O sector sul

13 de Julho de 2008 >
Guiné 63/74 - P3056: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Nuno Rubim (3): Slides (de 5 a 9): Comparando os armamentos

domingo, 30 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2703: Memória dos lugares (6): Destacamento de Ponte Balana (Nuno Rubim)

Foto 1 > Destacamento de Ponte Balana: em 1968 e... em 2008 (vestígios)

Foto 2 > Vestígios actuais do antigo destacamento de Ponte Balana

Foto 3 > Coordenadas GPS do antigo destacamento de Ponte Balana, de acordo com fotografia de satélite do Google.
Fotos : © Nuno Rubim (2008) . Direitos reservados.

1. Texto do Nuno Rubim (Cor Art Ref, com 2 comissões na Guiné, e especialista em história da artilharia) (1):

Caro Luís

Mais uma informação com possível interesse para os camaradas do blogue.

Na ida ao Sul, durante o Simpósio de Guiledje, aproveitei para tirar coordenadas GPS de vários locais.

Também andei a procurar vestígios das construções que existiram no destacamento da Ponte Balana, de acordo com uma fotografia que o nosso camarada Idálio Reis me forneceu ( ver foto 1). Coloquei-me mais ou menos na posição do fotógrafo de 1968 (?) e depois entrei no mato do lado esquerdo. E realmente encontrei alguns vestígios (foto 2 ). Só uma limpeza aturada permitiria descobrir algo mais.

Nesse local as coordenadas GPS são: 11º 25' 33" N - 14º 48' 05" W. ( atenção que constatei que a carta 1:50 000 contem erros de localização ... ) (Ver Google, Foto 3).

Quanto a Gadembel, as coordenadas do centro geométrico do aquartelamento são: 11º 24' 47" N - 14º 47' 53" W.

Um abraço

Nuno Rubim


PS - Como sabes estou a contactar alguns cmdts do PAIGC no sentido de tentar aclarar dúvidas que tenho no que concerne os aspectos organizativos e operacionais e ainda o armamento. Vamos lá ver se eles respondem ...

Talvez alguma coisa possa vir a interessar para publicação no blogue. Nada de especulações ( cada vez constato mais ... ), textos curtos, nada de complicado, imagens, etc... Depois te consultarei, artigo a artigo.

Tudo isto porque julgo que se não fôr o blogue, muita coisa ficará por dizer sobre a guerra na Guiné ... Temos tempo, não é ? ... até porque ando enfronhado com o livro [que ando a escrever].
___________

Nota de L.G.:

(1) Vd. último poste de Nuno Rubim: 26 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2687: Cemitério militar de Bissau: homenageando os nossos 350 soldados, uma parte dos quais desconhecidos (Nuno Rubim)

sexta-feira, 30 de março de 2007

Guiné 63/74 - P1637: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (40): Cartas de além-mar em África para aquém-mar em Portugal (2)


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Regulado do Cuor > Missirá > Pel Caç Nat 52 > 1968 > O Alf Mil Beja Santos, rodeado das autoridades civis e religiosas de Missirá. "Uma recordação do dia grande do Ramadã". À sua direita, o velho régulo Malã Soncó , "sua aristocracia de turbante, a ostentação de suas vestes". À sua esquerda, "o bom Keban, expressão de um orgulho que não morre" e o padre Mané (...) o mais humilde do grupo, o grande conhecedor e intérprete do Corão, uma boa alma, feliz com nada que tem" (BS).

Foto: © Beja Santos (2006). Direitos reservados.

O Vice-almirante Avelino Teixeira da Mota (1920-1982), um dos oficiais da Marinha Portuguesa intelectualmente mais brilhantes do Séc. XX, cartógrafo de renome mundial, historiógrafo, grande amigo da Guiné e estudioso da suas gentes. É co-autor dessa obra-prima bibliográfica que é a Portugaliae Monumenta Cartographica.

Fonte: Revista da Armada (2002) (com a devida vénia...)


40ª Parte da série Operação Macaréu à Vista, da autoria de Beja Santos (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) (1). Texto enviado em 13 de Março de 2007.


Cartas de um militar de além-mar em África para aquém em Portugal (II parte)
por Beja Santos


Carta para o Comandante Avelino Teixeira da Mota (2)

Sr Comandante e meu bom amigo:

Fico muito contente em saber que lhe foram úteis as informações que aqui obtive sobre a presença em Missirá e no Cuor do Prof. Armando Zuzarte Cortesão, o outro autor da Portugaliae Monumenta Cartographica (3).

Ainda há lembranças do Prof Cortesão e tenho com pesar de lhe transmitir que a cama onde ele descansou e dormiu ficou reduzida a ferro queimado depois de uma pesada flagelação que aqui sofremos em 19 de Março. Creio já lhe ter dito que o régulo Malã Soncó me ofereceu a cama, bem ampla por sinal, tinha um colchão com barbas de milho que me dava um sono confortável.

Quanto a Infali Soncó (4), dou-lhe hoje conta do que pude obter. Não está sepultado em Missirá, aqui só temos o túmulo do seu filho Bacari. Ele está sepultado no cemitério de Sansão, onde viveu na velhice. Se tiver prazer nisso, vou lá com o régulo Malã (5) localizar o túmulo e fotografo. O último filho sobrevivente de Infali vive em Missirá e é Alage Soaré Soncó. Registo o que ele me disse sobre o seu pai.

Infali terá nascido por volta de 1870, em Berrocolom (6), no sector do Gabu. Com 19 anos, à frente de 100 cavaleiros e de mais de 500 soldados guerreiros apeados, conquista Cumpone, na região de Boké, ou seja na Guiné Conakri. Tal façanha grangeia-lhe a admiração dos mandingas, tendo sido convidado para régulo de Cumpone. Infali encontrou a forte hostilidade dos fulas e espreitou a primeira oportunidade de sair de Cumpone. Essa oportunidade veio a acontecer em 1894, quando o seu tio Calonandim Mané, régulo do Cossé, região de Bafatá, como sabe, e aliado dos portugueses, lhe pediu para invadir o chão do Cuor.

Sr. Comandante, os Mané vivem aqui com os Soncó, casam entre si e já me informaram que há Mané, no Cossé, ainda hoje. Não sei se este aspecto é curioso para si, mas Alagé Suaré Soncó disse-me que Porto Gole é uma forma de Porta do Cuor, no fundo a entrada do regulado do Cuor. Pretendia-se depor o régulo Sambel Nhatam, que tinha a sua fortaleza em Sansão (chamava-se Sam-Sam, perto de Gã Gémeos, já lá estive, restam umas paredes e nada mais. Era daí que partiam as hostilidades contra as embarcações portuguesas e cabo-verdianas que Sambel Nhatam atacava com ferocidade no rio Geba, entre Mato de Cão e Bambadinca (fique sabendo que é aí que vou todos os dias).

Infali aceitou combater ao lado de Calonandim Mané, ambos cercaram Sam-Sam com mais de 200 guerreiros armados de longas (canhagules) e azagaias, tendo Sambel Nhatam retirado. Foi nessa altura que as autoridades portuguesas se aperceberam das vantagens de uma aliança com estes guerreiros mandingas. Dito pelo filho, o Governador Alito de Magalhães (5) veio de Bolama e convidou Calonandim a aceitar o regulado do Cuor. Houve festas faustosas e compareceram os régulos de Mansoa e Mansabá.

Calonandim reinou cerca de 20 anos e foi morto numa batalha perto de Enxalé, terra de balantas. Com a aprovação das autoridades de Bolama, Infali sobe ao trono e vinga exemplarmente Calonandim, tendo corrido rios de sangue entre Enxalé e a Porta do Cuor. Infali foi condecorado em Geba, em 1914.

Tenho mais coisas para lhe contar acerca das lutas entre Infali e as autoridades portuguesas. Penso que vai escrever sobre este episódio da história da Guiné e gostaria de lhe ser útil, pelo que lhe peço instruções já que Alage Soare Soncó não é criança e foi o único membro da família Soncó que descobri saber o que se passou.

O meu quartel ardeu, perdi os meus livros e , infelizmente, as suas cartas. Se me puder ajudar, peço-lhe o favor de me oferecer mais livros. Fui castigado e não irei de férias. O Cinatti disse-me que provavelmente será colocado este ano em Bissau. Oxalá, assim os aerogramas farão uma menor distância e sei que me ofecerá as valiosas publicações do Centro de Estudos.

Agora o trabalho é muito duro, fazemos blocos de lama, substituimos todos o arame farpado, recontruímos casas e abrigos. Todos os dias se vai a Mato de Cão, a jornada de trabalho é entre as 6 e as 17, fora os patrulhamentos, as idas a Bambadinca e os reforços. Mas não quero aborrecê-lo com coisas da Infantaria... Receba a gratidão deste amigo sempre ao seu dispor e que gosta tanto de aprender coisas sobre a Guiné.


Carta para Luís Zagalo Matos

Estimado Luís Zagalo:

Obrigado pela sua carta. Li-a aos homens de Missirá, riam e batiam as palmas de contentamento por saber que não esqueceu este povo. Vou tirar fotografias e mandar-lhe. Tenho aqui um soldado que insistiu em contar-me as suas façanhas, ele estava de sentinela e durante horas ouvi falar de si, arrumando ideias sobre o princípio da guerra e o seu desenvolvimento até hoje.

Os meus soldados estavam em Enxalé ao tempo em que aqui havia uma companhia, a que V. pertencia. O pelotão 54 estava em Porto Gole, o 52 acabava de chegar a Enxalé. V. estava destacado em Missirá e fazia frequentemente o percurso com dois Unimogs e um jipe, reabastecia-se no Enxalé. Até ao dia em que uma mina anticarro mudou tudo, na curva de Canturé em ligação com a estrada ao pé de Gambana.

Este meu soldado, de nome Queta, contou-me que um furriel ficou tão despedaçado que foram buscar as pernas a uma árvore. Para este povo V. é um herói porque conhecia toda esta região, era destemido e amigo de ajudar. O Queta não é para intrigas, baixou a voz e disse-me "Nosso alfero, Zagalo ia a toda a parte mas tinha medo de ir ao Gambiel, pois naquela altura as tropas portuguesas abandonaram os quartéis em Mansomine e Joladu, só ficou Geba". Como não lhe quero tirar os méritos, estou inteiramente à sua disposição para o levar ao Gambiel, se este episódio for importante para que o seu nome se torne numa lenda.

Por aqui, chegou a minha vez de ter o quartel incendiado e de estar a viver as maiores dificuldades. Mas não vou incomodá-lo mais com esta guerra, fico feliz por saber que V. foi colega da Cristina. Como não irei a Portugal tão cedo, e se for possível ajudar-me peço-lhe que lhe telefone e lhe fale desta guerra, desdramatizando o que é possível desdramatizar.

Prometo mandar-lhe as fotografias em breve, não espero ir ao Enxalé mas vou mandar fotografias do Geba e dos palmeirais à hora do pôr do Sol. Se lhe for possível, na resposta mande-em uma fotografia sua para eu entregar ao régulo. Só fiquei triste em saber que V. nunca mais teve um sono completo e que tem pesadelos quando se lembra dos momentos trágicos que passou. Desejo que recupere e peço-lhe por tudo que me dê companhia, pois os amigos de Missirá meus amigos são. Até breve.


Carta para Cristina Allen

Meu Adorado Amor:

Recebi ontem duas cartas tuas com as boas notícias dos teus Hegel e Fichte. Sei que vais ter boa nota a Filosofia Contemporânea.

Aos poucos, o que estava morto e calcinado volta à vida. Veio cá o Capitão Neves para apreciar a construção dos abrigos, deu sugestões sobre as novas cubatas ficarem em ligação com os novos abrigos. Também o Capitão Gamito aqui aterrou para dar parecer, verificou que estava chegar material que tão generosamente nos facilitou.

É um vida extremamente dura mas os momentos de bom humor também existem. Apareceram aqui dois apontadores de morteiro 81, de uma esquadra de Bambadinca, dois tipos espantosos. Os pais são primos uns dos outros, padrinhos um dos outros, os dois foram no mesmo dia às sortes, namoram primas, fizeram a recruta e a especialidade juntos, forma mobilizados no mesmo dia, parecem irmãos siameses. Chegaram a Missirá e começaram a dar ordens ao Cherno, que tinham de ficar no mesmo abrigo do alferes, trouxeram uma enorme mala de folha e madeira onde se prepraravam para jogar interminavelmente às cartas. Ficaram chocados quando lhes disse que a especialidade deles era uma coisa do passado, aqui refaz-se um quartel, há patrulhamentos e reforços. O Furriel Pires chama-lhes As manas catatuas, comem juntos, vão juntos na patrulha, fazem reforço à mesma hora.

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Regulado do Cuor > Finete > 1968 > O Alf Mil Beja Santos, comandante do Pel Caç Nat 52, com sede em Missirá, também era o comandante do problemático pelotão de milícias de Finete.

Foto: © Beja Santos (2006). Direitos reservados.


Não posso esquecer-me que sou Comandante de Finete, onde neste momento tenho o problema disciplinar de Bazilo Soncó que comprovadamente fazia fraude nos pagamentos aos milícias. Já está a aguardar decisão superior de Bambadinca, entreguei o comando a Bacari Soncó que é apoiado pelo Furriel Sambajumba Cumbassar. Bacari ajuda-me imenso com os patrulhamentos à volta do Geba até Gã Joaquim, mas há instrução a dar aos novos milícias, tanto de morteiro 60 como de dilagrama. Reduzimos as aulas para as crianças e soldados, tal é o cansaço.

Esqueci-me de te dizer mas andamos a recuperar com palmeiras as pontes de Sansão, por onde passam os Unimogs a caminho de Canturé.

Não tenho nenhuma objecção a um casamento por procuração, mas questiono se é lícito da minha parte submeter-te a mais uma dura prova de casares comigo aqui na guerra. Sim, eu sei há muitos filmes e livros sobre situações como esta, vou reflectir e prometo dar-te uma resposta em breve.

Voltámos a acordar de madrugada com o barulho monumental de uma explosão para os lados de Morocunda [, a sudoeste de Missirá]. Creio que te disse que o Reis andou a armadilhar toda aquela região para travar os avanços da gente de Madina. Estive lá de manhã com o Cibo Indjai que pronto me indicou o motivo do rebentamento: um porco do mato farejou ali perto e detonou o engenho.

Desculpa hoje ser breve mas cabe-me ir para uma emboscada nocturna ao anoitecer. Amanhã vou dar-te notícias sobre o que ando a ler e que é muito bom: A Tentação do Ocidente, de Andre Malraux, um livro muito curioso que ele escreveu aos 22 anos, que é uma troca de correspondência entre um chinês que viaja pelo Europa e um francês que percorre o Extremo Oriente. É um confronto dos pontos de vista culturais, o francês é possuidor de conhecimentos de obra chinesas e o chinês tem conhecimentos livrescos da cultura ocidental.

Como eu gostaria de escrever como Malraux. Por exemplo: "A civilização não é de modo algum coisa social mas psicológica e só há uma verdadeira: a dos sentimentos". Diz o Chinês ao Ocidental: "O tempo para vós é aquilo que fazeis dele e nós somos o que ele faz de nós". E também: "Os jovens chineses que lêm os vossos livros ficam a princípio espantados com a vossa pretensão de compreender os sentimentos das mulheres. Além de tal esforço ser, na sua opinião, digno de desprezo, estaria necessariamente condenado ao insucesso". Que beleza, que ousadia.

Despeço-me cheio de saudades e recebe beijos que passam o oceano.

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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 23 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1623: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (39): Cartas de além-mar em África para aquém-mar em Portugal (1)

(2) Avelino Teixeira da Mota (1920-1982): Vd. o excelente artigo de Carlos Manuel Valentim, S/Tenente (Comissão Cultural da Marinha) , publicado na Revista da Armada, nº 352, Abril de 2002: Avelino Teixeira da Mota, uma vida dividida entre a África e o Mar


(...) "A bordo do contra-torpedeiro Lima entre 21 de Setembro de 1944 e 3 de Abril de 1945, – depois de ter embarcado em vários navios: Dão, Vouga, Canhoneira Faro, Navio-escola Sagres, Afonso de Albuquerque – encontra novas oportunidades para expandir a sua pena. Nos Açores, onde se encontrava em comissão, surgem na imprensa periódica insular os seus primeiros artigos. Ao Comandante do navio, Sarmento Rodrigues, não passam desapercebidas as qualidades intelectuais do jovem oficial. Com efeito, quando Sarmento Rodrigues é nomeado para tomar conta do destino da Guiné Portuguesa, Teixeira da Mota é naturalmente convidado a integrar a sua equipa.

"Na Guiné muita coisa estava por fazer. Colónia pobre, irrequieta, entrincheirada entre os territórios da África Ocidental Francesa, necessitava de um amplo programa de reformas, que a administração, arguta e dinâmica, do Governador Sarmento Rodrigues [1945-1950] se encarregou de pôr em prática.

"Teixeira da Mota aceita de bom agrado os novos desafios e trabalha arduamente como ajudante de campo do Governador, acabando por descobrir verdadeiramente a África profunda, dos povos e das culturas tradicionais, da savana e da floresta.

"Para além de ser um dos principais obreiros, senão o principal, de toda a reforma cultural na Guiné Portuguesa, através da fundação do Centro de Estudos, do Boletim Cultural e da realização em 1946 das comemorações do Centenário do seu Descobrimento, ainda participa na realização da Segunda Conferência Internacional dos Africanistas Ocidentais, que se reúne em Bissau no ano de 1947, e dirige um Inquérito Etnográfico, que tem como objectivo a edificação de uma nova carta humana e geográfica do território.

(...) "A problemática africana veio a incrustar-se no pensamento de Teixeira da Mota. Do gosto pela História e pela Geografia passara a interessar-se por ciências como a Antropologia, Etnografia ou Topografia.

"O seu estudo sobre A Descoberta da Guiné, que saiu em 1946 no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, agitou as águas da historiografia portuguesa, que nesses anos se debatia entre a tradição e a renovação. O conhecimento directo das populações e do meio geográfico, completado com a utilização de antigos textos, muitos até aí desaproveitados, deram ensejo ao emérito oficial da Armada de resolver o intricado problema da cronologia, e de todo o processo, que rodeou descobrimento da Guiné. O estudo mereceu fortes aplausos, de historiadores tão conceituados como Duarte Leite, Damião Peres ou Magalhães Godinho.

(...) "Em fins de 1947 Teixeira da Mota passou à Missão Geo-Hidrográfica da Guiné.

(...) "Se antes trabalhara no mato, num contacto intenso com as populações e o meio envolvente, agora navegava nos caudalosos rios da Guiné, sondando, erguendo torres hidrográficas, cartografando as costas e os litorais africanos.

(...) "Notado pela sua sabedoria e propensão para os estudos cartográficos é (...) convidado a colaborar com Armando Cortesão na preparação da edição da cartografia portuguesa antiga. O projecto era ambicioso. Podemos, ainda hoje, constatar a sua originalidade no panorama editorial português. As investigações vindas de trás, levadas a cabo por Teixeira da Mota foram desde logo aproveitadas para a tão aguardada obra - titulada Portugaliae Monumenta Cartographica - sair sem atrasos do prelo, em 1960, quando se comemorava o quinto centenário da morte do Infante D. Henrique.

(...) "Os anos 60 foram consagrados por completo ao ensino [na Escola Naval].

(...) "Em 1969, (...) após uma década votada ao ensino, Teixeira da Mota regressa à África para chefiar o Estado-Maior do Comando da Defesa Marítima da Guiné. Mas no continente negro tudo mudara. Muito do que tinha construído na sua juventude parecia agora desabar diante dos seus olhos, perante uma guerra atroz que se eternizava. Triste e desanimado, abandona a Guiné para ir chefiar o Estado-Maior do Comando Naval de Angola.

(...) "Avelino Teixeira da Mota veio a falecer no dia 1 de Abril de 1982. Pouco antes, é eleito Presidente da Academia de Marinha, uma das instituições que ajudou a erguer. Como reconhecimento dos serviços prestados ao País fora promovido por distinção, em Setembro de 1981, ao posto de Vice-Almirante. Em acumulação de funções militares e civis, este distintíssimo oficial de Marinha e notável historiador, deixou uma vasta obra, assente em criteriosos métodos científicos, ainda hoje, em muitos dos seus pontos actual" (Carlos Manuel Valentim).

(3) Cortesão, Armando; Mota, A. Teixeira da - Portugaliae Monumenta Cartographica, 6 vols, Lisboa, Comissão para a Comemoração do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique, 1960-1962.

(4) Vd. post de 18 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P882: Infali Soncó e a lenda do Alferes Hermínio (Beja Santos)

(5) Vd. post de 3 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1021: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (4): A minha paixão pelo Cuor

(6) Não será Beracolom, a nordeste de Fajonquito ? (vd. carta de Colina do Norte).

(7) Não me parece ter havido nenhum Governdador da Guiné com este nome. Terá sido Albano Mendes de Magalhães Ramalho, que foi Governador entre 1898 e 1899 ?