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quarta-feira, 14 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18415: Bibliografia (47): “Lamento de uma América em Ruínas”, por J. D. Vance; Publicações Dom Quixote, 2017 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Dezembro de 2017:

Queridos amigos,
Há muito que procurava um depoimento de como vivem os grupos sociais desfavorecidos nos EUA.
Este livro tece considerações perturbadoras sobre a perda do Sonho Americano para um largo espectro da população. Quem o escreve é um jovem que constitui um dos raros casos de ascensão social, ele saiu da comunidade operária branca do Cinturão da Ferrugem, o Ohio. Dá-nos, dada a sua análise pessoal e apaixonada, a oportunidade de conhecer a cultura dos norte-americanos brancos e pobres, de ficar a conhecer melhor o lento processo de desagregação que começou há cerca de 50 anos e parece imparável. É a história de uma família que vai de Kentucky para o Ohio, na esperança de escapar à miséria.
Um testemunho que nos insere numa comunidade caótica marcada pelo abuso, o alcoolismo, a pobreza e o trauma.
Uma outra América que raramente vemos nos filmes nem nas séries televisivas.

Um abraço do
Mário


Imperdível: Lamento de uma América em Ruínas

Beja Santos

É o testemunho de um jovem bem-sucedido diplomado em Direito pela Universidade de Yale, um caso bem raro de ascensão social entre a comunidade operária branca do Cinturão da Ferrugem. Relato de uma experiência de vida de quem viveu numa família e num grupo social disfuncionais, incapazes de aceder ao Sonho Americano. De múltipla leitura, pois é uma análise pessoal de uma cultura em crise – a dos norte-americanos brancos e pobres, na vertente da desintegração, que se iniciou nos anos 1970; e é um verdadeiro lamento, autobiográfico, íntimo e sentido; e uma viagem pela história, tudo começa pelos seus avós que se mudaram da região apalache do Kentucky para o Ohio, procuravam escapar à miséria generalizada da sua comunidade, obtiveram um relativo sucesso e formaram uma família da classe média, o símbolo desse sucesso é o autor deste documento de leitura obrigatória: “Lamento de uma América em Ruínas”, por J. D. Vance, Publicações Dom Quixote, 2017.

Famílias disfuncionais, é um grito que ele não reprime:  
“Uma das perguntas que eu odiava, e que os adultos me faziam constantemente, era se eu tinha irmãos ou irmãs. A menos que alguém seja um sociopata especialmente ardiloso, não é possível estar sempre a mentir. Eu tinha um meio-irmão e uma meia-irmã biológicos que nunca tinha visto porque o meu pai biológico me dera para adoção. Eu tinha muitos irmãos e irmãos não-biológicos segundo um terminado critério, mas apenas dois se limitasse o cálculo aos filhos do marido atual da minha mãe. E havia a esposa do meu pai biológico, e ela tinha pelo menos um filho, então talvez eu tivesse de contar com ele também. Às vezes pensava filosoficamente sobre o sentido da palavra irmão. Os filhos dos antigos maridos da minha mãe ainda eram meus parentes? Se sim, o que dizer dos futuros filhos dos antigos maridos das minha mãe?”.

Temos pois uma relação complexa com este meio familiar, avós amorosos e uma mãe toxicodependente. Destinado a ter um futuro sombrio pela frente, descreve a genealogia mais recente, os inumeráveis acidentes da sua infância, o meio operário e o sonho de ascender à classe média. Dá-nos um relato primoroso dos locais onde viveu, do sistema educativo público, do que é viver numa relíquia da glória industrial norte-americana. Comunicação violenta, o recurso às obscenidades, discussões de partir a loiça, intervenções da polícia e da assistência social. O autor irá listar-se nos Marines após completar o ensino secundário e combateu no Iraque. Amadureceu, frequenta o ensino universitário em Ohio e em Yale, é hoje diretor de uma destacada firma de investimentos de Silicone Valley. Um tremendo relato que nos prende pela lucidez e subtileza, onde se misturam todos os dramas da sua vida familiar e onde entram em cena, para nosso espanto, gente pobre completamente descrente do futuro. E nessas famílias disfuncionais todos os incidentes são imprevisíveis, como em dado passo ele observa:  
“Era assim o meu mundo: um mundo de comportamentos verdadeiramente irracionais.
Gastamos tudo até ficarmos pobres. Compramos televisões de ecrã gigante e Ipads. Os nossos filhos usam roupas boas graças a cartões de crédito com juros altos e empréstimos. Compramos casas de que não precisamos, refinanciando-as em troca de mais dinheiro para gastar, e depois declaramos falência e deixamo-las geralmente cheias de lixo. Poupar é para nós uma hostilidade. Gastamos para fingir que somos de uma classe superior. E quando a poeira assenta – quando a falência chega ou algum parente paga a fiança da nossa estupidez –, não sobra nada”. 

O ambiente familiar também não é poupado: 
“As nossas casas estão sempre numa desordem total. Gritamos e berramos uns com os outros como se fôssemos um bando de arruaceiros num jogo de futebol. Pelo menos um membro da nossa família consome drogas. Em momentos particularmente stressantes, batemos uns nos outros, e à frente do resto da família, inclusive das crianças pequenas. Um dia mau é quando os vizinhos chamam a polícia para acabar com a confusão. Os nossos filhos vão para um centro de acolhimento mas nunca ficam por muito tempo. Pedimos-lhes desculpa”.

A ignorância e a alarvice andam de mãos dadas: “Percentagens significativas de eleitores brancos conservadores acreditam que Barack Obama é muçulmano. Numa sondagem, 32% de votantes conservadores declararam que acreditam que Obama tinha nascido no estrangeiro. Ouço frequentemente conhecidos ou parentes distantes dizerem que Obama tem laços com extremistas islâmicos, ou é um traidor”. Conservador, está ciente da profunda debilidade ideológica deste pensamento: “Em vez de incentivarem o envolvimento, os conservadores cada vez mais fomentam o tipo de desapego que exauria a ambição de muitos dos meus amigos. A mensagem da direita é cada vez mais: você não tem culpa de ter fracassado; a culpa é do Governo”.

A todos os títulos, um relato corajoso no quotidiano de maus-tratos, de insultos, de depressões, dos traumas múltiplos que sofrem os membros da classe operária. E há esse rolo compressor que há um grau de instabilidade nunca visto em nenhum lugar do mundo: a miríade de figuras paternas, a elevada percentagem de crianças expostas a três ou mais parceiros das mães, o caos em casa. E testemunha o que viu: “Para muitas crianças, o primeiro impulso é fugir, mas as pessoas que correm para a saída raramente escolhem a porta certa. Foi assim que a minha tia se viu casada aos 16 anos com um marido abusivo. Foi assim que a minha mãe, a oradora da turma na escola secundária, no final da adolescência já tinha engravidado e depois divorciou-se, mas não chegou a terminar o secundário. Saem de uma situação má para uma pior. O caos gera mais caos”.

É um livro inspirador, mais construtivo não pode ser, ajuda a compreender aqueles EUA conservadores que confiam nas vozes messiânicas, como nos ajuda a compreender que há vencedores que não se atolam no princípio da competição e que tanto lutam pela sua felicidade como pela solidariedade com os grupos sociais desfavorecidos que vivem no país mais rico do mundo.
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18339: Bibliografia (46): “Lideranças na Guiné-Bissau, Avanços e recuos”, por Santos Fernandes, Chiado Editora, 2017 (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17739: Em busca de... (278): informação sobre uma senhora cabo-verdiana, Maria da Graça de Pina Monteiro, nascida em 1900, e que teve 3 filhas: (i) Ana Gracia Malaval, nascida em 1918, em Bafatá, de uma união com o sr. Edmond Malaval; e (ii) Judite e Linda Vieira, em Bissau, de uma outra união com um sr. português ou cabo-verdiano, de apelido Vieira (Ludmila A. Ferreira)


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto: © Ludmila Ferreira (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Mensagem da nossa leitora Ludmila A. Ferreira [que julgamos ser guineense, ou de origem guineense]:

De: Ludmila A. Ferreira

Data: 5 de setembro de 2017 às 08:36

Assunto: Pedid de informação sobre família cabo-verdiana que viveu em Bafatá [entre 1900 e 1980]

Bom dia,  Senhores

Encontrei um blogue na Net, com o vosso email, sobre a Guiné- Bissau.

Estou à procura de uma família que viveu em Bafatá  entre 1910 e o golpe [de Estado] de 14 de Novembro [de 1980, liderado por 'Nino' Vieira] .

Vou enviar as descrição agora:

Maria da Graça de Pina Monteiro (sozinha na foto nº1), nascida no ano de 1900, é uma senhora cabo-verdiana que "casou" com um senhor cujo apelido era Vieira, em Bissau. Achamos que esse Vieira era um português ou cabo-verdiano e não um guineense. Teve duas filhas com um esse senhor: Judite e Linda Vieira [foto nº 2].

Por isso agradeceria caso souberem de alguma informação sobre algum português ou cabo-verdiano com esse apelido.

Mas antes de ter essas filhas com o Vieira, essa senhora,  a Maria da Graça de Pina Monteiro,  viveu antes em Bafatá e teve uma filha com um senhor que se chamava Edmond Malaval, da Maison Gurnier.  Essa filha se chamava Ana Gracia Malaval (nascida em 2/4/1918).

Portanto: o que eu queria saber é quem era o Vieira que se casou e teve filhas com Maria da Graça de Pina Monteiro. E se por acaso já ouviu falar das duas filhas, Judite e Linda Vieira.

Ludmila Ferreira

2. Resposta do editor:

Ludmila, obrigado pelo  seu contacto. Se a nossa intuição está certa, a Ludmila é guineense ou de origem guineense, a viver neste momeno no Brasil, segundo a  informação que encontrámos no Facebook.

Fizemos questão de publicar o seu pedido, na esperança de que alguém tenha uma informação útil para si. O nosso blogue é essencialmente lido e feito por homens (e algumas mulheres) que participaram na guerra colonial, no período de 1961/74.  Temos também gente da Guiné-Bissau. Temos centenas de fotos de Bafatá e de Bissau e muitos textos sobre estas duas cidades, incluindo referências a famílias (portuguesas, cabo-verdianas, sírio-libanesas e outras) que conhecemos... Só pelo apelido "Vieira" vai ser difícil localizar o pai da Judite e da Linda, que poderão ter nascido nos anos 20/30 do século passado. Quando ao senhor, Edmond Malaval,  de nacionalidade possivelmente francesa e empregado da "Maison Gurnier", não temos qualquer pista... Mas pergunto-lhe: não seria antes "Maison Garnier" ? Pode haver aqui um erro ortográfico... "Gurnier" não nos parece que seja um apelido francês...

Em todo o caso vamos contactar um camarada, o Leopoldo Correia, que conviveu, de mais perto, com famílias de Bafatá, dos anos 50/60... Pode ser que ele nos dê alguma "pista"...

Peço à Ludmila para manter o contacto connosco.

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Nota do editor:

Último poste da série > 25 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17698: Em busca de... (277): Júlio Rodrigues, natural de Viseu, engenheiro formado no Porto, divorciado, com dois filhos e vivendo actualmente em São Tomé e Príncipe grande parte do ano... Ex-combatente, conhecemo-nos nas ilhas, e deveríamo-nos encontrar neste período de férias em Portugal mas não tenho o seu contacto telefónico... Será que a Tabanca Grande me poderia ajudar a localizá-lo? (Renata Monteiro Marques)

domingo, 25 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17509: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (43): o coronel médico, meu bisavô, Francisco Augusto Regalla (Aveiro, 1871 - Mindelo, 1937): pedido de utilização de foto da fortaleza da Amura de cuja guarnição ele fez parte em 1915 (Ricardo Moreira Regalla Dias-Pinto, Cascais)


Capa do livro de Ricardo Regalla Dias-Pinto, em preparação. Cortesia do autor



1. Mensagem do nosso leitor Ricardo Moreira Regalla Dias-Pinto

Data: 17 de maio de 2017 às 22:37
Assunto: Fotografia

Exmo. Senhor
Prof. Luís Graça

Estou a escrever um livro sobre a minha família.

O meu bisavô Francisco Augusto Regalla, combateu em 1915 na Coluna de Operações em Bissau pelo que gostava muito de pedir autorização para colocar uma vossa fotografia, mais propriamente a nº 3 da Fortaleza de Amura de cuja guarnição o meu bisavô fez parte durante algum tempo.

Naturalmente que, caso autorizem, terei o maior prazer em nomear o vosso blogue nos agradecimentos do referido livro que terá o título:

Família Regalla: A Hora da Verdade!

Agradeço desde já o tempo por vós dispensado aguardando com confiança a breve resposta.


Melhores e mais respeitosos cumprimentos,

Ricardo Moreira Regalla Dias-Pinto



 Guiné > Bissau >Fortaleza da Amura > Entrada do lado sul (frente ao porto e ao rio Geba).  Foto (º 3)  de Manuel Caldeira Coelho (ex-fur mil trms, CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68)

Foto ( e legenda): © Manuel Coelho (2011). Todos os direitos reservados. (Edição:  Blogue Luís Graça &  Camaradas da Guiné)


2. Resposta do nosso editor, em 22 do corrente:

Ricardo:

Em primeiro lugar, obrigado pelo seu contacto.

Em segundo lugar, parabéns pelo seu projeto: todos temos o "dever de memória", e no seu caso acho lindo que esteja a escrever a história de vida do seu bisavô Francisco Augusto Regalla.

Será que é o coronel médico Francisco Augusto Regalla, nascido em 1871, em Aveiro, e falecido em 1937, no Mindelo ? Pai de Agnelo Augusto Regalla; Mário Augusto Monteiro Regalla; Armanda Monteiro Regalla; Crizanta Monteiro Regalla e Hélia Regalla ?

Alguns dos meus camaradas (e eu próprio) passaram por Galomaro, estiveram em Galomaro ou fizeram operações no regulado do Cossé. Boa parte dos meus soldados africanos (da CCAÇ 12) eram oriundos do Cossé (, outros de Badora).

Em 1969/71, esse seu bisavô já não era vivo. Em todo o caso, nessa altura, havia um comerciante, casado e com família, que dava pelo nome de Regala (ou Regalla)...Seria mais provavelmente seu avô ou um dos seus tios-avôs... Não me lembro do nome próprio, só do apelido de família. Tinha em Galomaro um café e restaurante muito frequentado pelo tropa portuguesa, e em geral com agrado...Naturalmente, não se livrava da suspeita de simpatia pelo PAIGC...

Vou pô-lo em contacto com alguns dos meus camaradas que conheceram pessoalmente esses seus parentes, o sr. Regala e a família de Galomaro...

Quanto ao pedido que me faz, não tenho qualquer objeção, pelo contrário, em satisfazê-lo. Pode usar a foto, com indicação da fonte (autor e blogue)... Mas tenho dúvidas quanto à foto em causa... Será esta a foto nº 3 (Fortaleza da Amura, Bissau, entrada do lado sul, frente ao porto e ao rio Geba) ?

Se sim, os créditos fotográficos são de Manuel Coelho, a quem vou dar conhecimento do seu pedido. Gostaria que ele também lhe desse o seu OK, como autor da foto.

Para já é tudo, embora eu gostasse de saber, muito sumariamente, a razão de ser do título do seu livro: "Família Regalla: A Hora da Verdade!"...E, se nos der autorização, gostaríamos de divulgar também, no nosso blogue, o seu pedido. Haverá com certeza mais camaradas nossos que conheceram o sr. Regala (ou Regalla) de Galomaro e que podem até ter fotos dele (ou com ele) que disponibilizem, digitalizadas, para o seu projeto.

Disponha sempre,

Boa saúde, bom trabalho. Luís Graça

3. Mensagem do Ricardo Regalla Pinto-Dias na sua página do Facebook, de 22/12/2016, sobre o livro que está a escrever com a história da família:

Este é já mais do que um desejo, é uma realidade que surgirá a público no ano de 2017.

Será o livro que contará a história da minha família e o seu contributo para a sociedade portuguesa desde o ano de 1670!

Família essencialmemte de médicos e militares mas também de alguns homens de direito que, por junto, maravcaram aqui e ali a vida de portuguieses e até mesmo de Portugal.

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domingo, 11 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17454: (De) Caras (71): Também eu fiz parte dessa rede de "contrabando de ternura" que permitia, aos nossos familiares, fazer-nos chegar a Bissau e ao 'mato' as suas "encomendinhas"... (Hélder Sousa, ex-fur mil trms TSF, Piche e Bissau, 1970/72; criado em Vila Franca de Xira e a residir hoje Setúbal)

1. Comentário deixado no poste P17453 (*), pelo nosso colaborador permanente Hélder Valério de Sousa (ex-fur mil trms TSF, Piche e Bissau, 1970/72, ribatejano a viver em Setúbal, com página pessoal no Facebook)


Uma história deliciosa (não só por causa do bacalhau...) que demonstra bem a capacidade inventiva do 'português típico' que é capaz de descortinar uma saída qualquer para os 'milhentos' problemas com que muitas vezes se depara.

Essa cadeia de solidariedade, de boas vontades, funcionou. E funcionou bem.

Em Vila Franca de Xira, onde vivi até ir para a Guiné e ainda algum (pouco) tempo depois, havia (e ainda há) um rapaz do meu tempo (1 ou 2 anos mais velho),  o Orlando Levezinho, que julgo ser primo do Tony. Tocava num daqueles conjuntos que proliferavam na década de sessenta e acho que ainda hoje está ligado a actividades musicais.

Mas o que me levou a fazer este comentário foi o apelo do Luís para que aparecessem mais histórias de remessas de produtos que chegavam por diversas formas e meios.

É claro que para quem estava em Bissau as coisas eram muito mais facilitadas, mas no interior também chegavam coisas. Acontece é que para o Levezinho a cadeia de solidariedade era mais complexa mas, mesmo assim, não teve quebras...

Uma das formas como as coisas chegavam era pelo 'portador'.

Quando se regressava de férias lá havia umas 'lembranças', fosse em bacalhau, chouriços, queijos, etc.

Quando fui para a Guiné (já contei aquando da minha apresentação aqui) fui portador de um garrafão de água-pé, castanhas e outras coisas, pois calculava-se que chegaria lá a tempo para o S. Martinho e de facto assim aconteceu pois cheguei no dia 9 de Novembro.

Essa 'encomenda' foi para o meu conterrâneo José Augusto Gonçalves, colega de turma na EICVFXira [, Escola Industrial e Comercial de Vila Franca de Xira] que era Fur Mil no Pelotão de Transmissões (tratava da montagem dos rádios e assistência à aparelhagem),  cujo quarto (que ele partilhava com outros dois Fur Mil,  o Vítor Ferreira, também de Vila Franca e meu parceiro/competidor de bilhar na "Brasileira", e o já aqui várias vezes referido Pechincha, da CART 11) fui usufruir.

Mais tarde, também foi a minha vez de receber alguma coisa, desta vez por intermédio de um tripulante do T/T "Niassa". Era avisado por carta (ou aerograma) de que isso ia acontecer, estava atento à chegada dos navios, entrávamos em contacto e lá recebia a encomenda.

Também tinha a sorte de ter um primo (aí já em terceiro grau...) na Base Aérea [,BA 12, em Bissalanca], o Sargento Salgado Valério (acho que era Valério Salgado, não sei bem) e que também de vez em quando recebia coisas por via aérea e que me facultava parte quando calhava.

Mas a maior parte e mais interessante, eram as encomendas que o meu camarada das Transmissões e da Escuta, o Fur Mil Nelson Batalha,  recebia.

O seu pai era funcionário de um Despachante aqui de Setúbal, o Fernando Pedrosa, que foi dirigente do Vitória de Setúbal e também com responsabilidades federativas.

Algumas vezes foi possível enviar, já quando estávamos em Bissau, na Escuta, umas caixas isotérmicas em barcos que passavam por Setúbal, por exemplo o "Ana Mafalda". Nessas caixas iam imensas coisas variadas que o Nelson partilhava connosco. Fruta da época (lembro-me bem dos melões, que o pessoal nativo dizia ser "papaia da metrópole"), compotas, bolachas, enchidos, etc..

Havia também patês variados de coisas que não estava habituado, como veado, javali e outros (isso agora é corriqueiro mas na época o que havia eram os de sardinha e atum e de presunto) e também várias espécies de salsichas, da Baviera, suecas, etc, que provinham das amostras que os fornecedores deixavam na Alfândega e que,  pronto!,  lá seguiam até à Guiné.... para se fazer o teste e aprova de qualidade.

Quando estive no interior, no 'mato', em Piche, lembro-me que de vez em quando havia quem recebesse coisas da 'Metrópole' mas não me lembro qual o meio utilizado.

Abraços
Hélder Sousa

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Nota do editor:

Vd. poste de  10 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17453: (De) Caras (77): O "contrabando" da... ternura ou como o "fiel amigo", o bacalhau, chegava à Bambadinca, ao Tony Levezinho, utilizando uma vasta rede de intermediários, do navio-tanque da Sacor à Casa Fialho - Parte II

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16759: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (107): meninos do Xime: a Sene Sancó era minha prima porque a irmã mais nova da minha mãe era madrasta dela e a tia dela (irmã mais nova do pai dela) era minha madrasta (José Carlos Mussá Biai, engenheiro florestal, Lisboa)



1. Mensagem do José Carlos Mussá Biai, "menino do Xime" em 1970, hoje engenheiro florestal radicado em Lisboa, membro da nossa Tabanca Grande desde a primeira hora:

Data: 25 de novembro de 2016 às 13:39

Assunto: fotos de José Nascimento e Domingos Fonseca

Olá, Luís, viva
Foto nº 1

O pai da minha prima Sene Soncó, chamava-se Ansu Soncó, nunca foi picador, era mais ou menos da idade do meu pai.

O meu pai tinha um irmão (do mesmo pai e mãe),  de nome Mancaman,  e um primo-irmão (os pais é que são dois irmãos) com o mesmo nome. Foi este último que era picador, o Mancaman Biai.

A Sene era minha prima porque a irmã mais nova da minha mãe era madrasta dela e a tia dela (irmã mais nova do pai dela) era minha madrasta.

O meu irmão que casou com ela era o Fodé Biai,  o primeiro a contar da direita para esquerda nesta foto do Domingos Fonseca [foti nº 1].

Um abraço e bom fim de semana,
Zé Carlos

Foto nº 2 

2. Pergunta anterior do editor:

Zé Carlos:
O pai da tua prima Sené Sancó era o picador e guia que aparece na foto [nº 2]? Se sim, era o teu tio Mancaman Biai ? Ou a Sene era tua prima pelo lado materno, da tua mãe? Donde lhe vinha o apelido Sancó? E qual dos teus irmãos casou com ela ? [oto nº 1]... 

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16623: Inquérito 'on line' (77): Num total de 117 respostas, 62% diz que, nos sítios onde esteve, no mato, nunca houve familiares de militares, metropolitanos ou guinenses... Comentários dos camaradas Jorge Cabral, Vasco Pires, Jorge Canhão, Rogério Cardoso, Carlos Mendes Pauleta, Eduardo Estrela, José Colaço, J. Diniz Sousa Faro e Manuel Amaro


Guiné > Região do Óio > Bissorã > c. 1973/74 > Maria Dulcinea (Ni), esposa do nosso camarada Henrique Cerqueira, que esteve com o marido e o filho em Bissorã, de outubro de 1973 a junho  de 1974 (*). [O Henrique Cerqueira foi fur mil, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, e  CCAÇ 13, Biambe e Bissorã, 1972/74]


Guiné > Região do Óio > Bissorã > c. 1973/74 > Miguel, o filho do Henrique Cerqueira, e da Maria Dulcinea (Ni),  com a filha de um capitão da CCS, no quintal da casa dos Cerqueira.


Guiné > Região do Óio > Mansoa > c. 1973/74 > Miguel, a Maria Dulcinea (Ni), de costas, com a esposa de um outro militar de Bissorã, também de costas, em visita a Mansoa.

Fotos (e legendas); ©  Maria Dulcinea (Ni) / Henrique Cerqueira  (2011), Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


A. INQUÉRITO 'ON LINE': 

"NO MATO, NO(S) SÍTIO(S) ONDE EU ESTIVE, NA GUINÉ, HAVIA FAMILIARES NOSSOS"...

Resultados finais (=117)



1. Sim, esposas (não guineenses) > 26 (22%)

2. Sim, esposas e filhos (não guineenses) > 13 (11%)

3. Sim, familiares guineenses (sem ser das milícias) > 14 (11%)

4. Não, não havia > 73 (62%)

5. Não aplicável: não estive no mato > 3 (2%)

6. Não sei / não me lembro > 0 (0%) 

Total: 117


O prazo de resposta terminou em 20/10/2016, 5ª feira, às 6h52.  O inquérito admitia até três respostas: por exemplo 1, 2 e 3.


B. Comentários dos nossos  camaradas, leitores do blogue (**):

(i) Jorge Cabral

Missirá era um Quartel ou uma Tabanca? E estar no mato, o que era? Tudo fora de Bissau? Bafatá era mato? Por outro lado, e como se sabe, as mulheres fulas acompanhavam sempre os maridos militares. (...) Assim no meu Pelotão [, Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, 1969/71] , existiam 24 soldados, 19 mulheres e 32 crianças...


(ii) Vasco Pires

Nós,  da Artilharia, "herdávamos" um Pelotão [, o 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72] com cerca de trinta soldados e outras tantas mulheres, e uns quantos filhos, e, sinceramente, às vezes ficava difícil de a administrar. (...) Felizmente, lá em Gadamael,  como já referi anteriormente, os Furriéis eram dedicados, eficazes e leais (Furriéis Kruz e Oliveira). Eu mesmo (com os Furriéis) morava na tabanca, bem como os soldados e cabos de recrutamento local.


 (iii) Jorge Canhão

Em relação ao poste do meu camarada Carlos Fraga, há um pequeno equívoco da parte dele, pois em Mansoa, além de esposa do cmdt do batalhão, esteve lá também a esposa e filho do cap Patrocínio, então da CCaç 15, a esposa e filha de um camarada nosso mas da CCS, assim como a esposa de um furriel (Roma) da CCS. Penso que também a esposa do major de operações da CCS estava lá. Inclusive numa festa africana em Mansoa, um individuo atirou uma granada para o meio da festa tendo provocado bastantes feridos, estava lá o camarada Jesus (o tal da CCS) com a esposa e a filhota, que felizmente não foram feridos.

Jorge Canhão,  ex fur mil. 3ª Caç/BCaç 4612/72


(iv) Rogério Cardoso

Em 1964 e 1965 a Cart 64, "Águias Negras", estava sediada em Bissorã. O seu 1.º sargento,  de nome Rogério Meireles, estava acompanhado da mulher e de uma filha de pouca idade, residia numa pequena casa fora do aquartelamento. Acabou ao fim de 1 ano deixar de pertencer à companhia  por ter problemas de estômago, e deste modo foi embora com a família. Digo de passagem que foi o melhor que ele fez, pois, quando de alguns ataques noturnos, aquelas pobres sofriam bastante. Também o furriel vaguemestre mandou ir a mulher, que chegou a Bissau no dia seguinte a ele ter sido ferido, mas sem gravidade. Ele ao fim de uns meses também mandou a mulher de regresso, pelas mesmas razões do anterior caso.


(v) Carlos Mendes Pauleta

O camarada Fraga refere que não existiam familiares de militares em Mansoa. Como o Jorge Canhão referiu no seu comentário, tal não corresponde à realidade. Além dos militares identificados pelo Canhão,  também o major António Rebelo Simões, 2.º Comandante do BCAÇ 4612/72, vivia com a sua esposa. Se assim não fosse como poderia um 1.º cabo sapador ter sido castigado por estar a "espreitar" a esposa do 2.º comandante do batalhão a tomar banho?


(vi)  Eduardo Estrela [ ex-Fur Mil da CCAÇ 14, Cuntima, 1969/71]

(...) Lembro-me bem que em 1970 estavam em Farim, a esposa dum fur mil e a esposa e filha dum 1.º sargento. Não me recordo a que unidades militares pertenciam, mas ambos estavam integrados na guarnição do Batalhão 2879, do qual a minha CCaç 14 fazia parte como unidade de reforço.


(vii) José Botelho Colaço

Penso que nos primeiros anos da guerra no verdadeiro mato não havia um mínimo de condições [para alojar familiares de militares, quer esposas, quer filhos]. Além disso a cultura que nos foi ministrada também não ajudava nada para que tal acontecesse, os filhos e esposas não guineenses coabitarem connosco no mato.

Na minha CCaç 557 (1963/65) a única mulher que nos fez companhia foi a esposa do médico mas só nos finais de 1964 quando no regresso do mato (Ilha do Como) a Bissau e nos fixámos em Bafatá. Aí a drª Maria Luísa foi uma companheira amiga e presente no dia a dia além do doutor, ela era,  e ainda é para nós, militares da 557, a nossa amiga doutora.


(viii) José Diniz Carneiro de Sousa e Faro

O meu caso assim como todos os combatentes pertencentes à BAC 1 / GAC 7 que estavam no mato, os pelotões de Artilharia tinham sempre familiares dos seus praças oriundos de incorporação territorial que transportavam consigo os seus familiares (mulheres e filhos). Era frequente utilizar duas ou mais viaturas só para transporte dos familiares que eram alojadas nas tabancas. Em Binar (1970) tinha um soldado com 6 mulheres.

J. Diniz S. Faro, ex-fur mil art, 1968 - 1970


(ix) Manuel Amaro

No meu BCAÇ 2892, em 1970,  Aldeia Formosa (Quebo), estiveram, durante pouco tempo, duas senhoras, esposas de um Alferes e de um Sargento. A estada foi curta porque o PAIGC, depois de um tempo de quase ausência, decidiu aumentar a sua acção na zona. O único branco civil em Aldeia Formosa era o agente da PIDE/DGS, de apelido Manjerico.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de  26 de maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8329: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (11): Como fui parar à Guiné (Maria Dulcinea)

(...) Quando chegamos a Bissorã e entro na nossa 'Casa' fiquei espantada pois estava decorada com assentos dum carocha, as camas eram da tropa, tínhamos um frigorífico a petróleo, a casa de banho eram dois bidões de chapa. Tínhamos chuveiro pois o Henrique conseguiu ir buscar água bem longe (daí a explicação do seu estado de magreza pois que arranjou casa, fez uma abrigo, decorou a casa e sempre fazendo a sua actividade militar, porque na CCAÇ 13 não se mandriava).

Quanto à nossa alimentação, foi organizada do seguinte modo: as refeições dos adultos vinham duma espécie de restaurante (O Labinas') que tinha um acordo com a tropa, mas as refeições do nosso Miguel era eu que as confeccionava com artigos comprados na messe e outros sempre que possível na população.

Entretanto eu e o Henrique tiramos a Carta de Condução no mesmo dia em Bissau. Não pensem que nos facilitaram a vida, não, pelo contrário, foram bem exigentes no exame em Bissau.

Para além de ter tido um Natal muito especial em 1973, com pinheirinho (uma folha de palmeira enfeitada), rabanadas e aletria, tudo isto foi enviado pela família da metrópole. Mas o que mais gostei foi ter partilhado esse Natal com outros soldados que invadiram a nossa casa que até se esqueceram que havia algures por ali uma Guerra.

Entretanto veio o 25 de Abril, e tive a oportunidade de ir cumprimentar o pessoal do PAIGC ainda no seu estado de combatentes inimigos. Uns dias antes os "patifes" tinham-nos bombardeado com foguetões, porque pareciam não estarem satisfeitos com o susto que me pregaram em Dezembro, ao infligirem-nos um bruto ataque que foi o meu baptismo de fogo.  (...)

Em Junho [de 1974] regresso a Portugal com o Miguel, e em Julho regressa o Henrique, e uma vez mais fui ter com ele a Lisboa ao RALIS onde foi (fomos) definitivamente desmobilizado[s].

(...) Antes de acabar, lembro que em Bissorã viviam mais senhoras, esposas de militares, ou seja dum soldado, dum furriel e de um capitão que tinha uma menina linda de quem vou tomar a liberdade de publicar a foto, junta com o meu Miguelito. (...)



(**) Vd. os últimos postes da série:


17 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16609: Inquérito 'on line' (75): as primeiras 66 respostas, a três dias do fim do prazo (5ª feira, dia 20): só em 28 casos havia famílias de militares, não guineenseses, no mato... "Lembremos que o maior número de militares do quadro não estavam longe de belas cidades como Luanda, Benguela, Uíge, Malange, Lourenço Marques, Beira, Nova Lisboa e Bissau, por exemplo, onde não faltava nada (comentário de Antº Rosinha)

13 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16597: Inquérito 'on line' (73): Até ao dia 20 deste mês, responder à questão "No mato, no(s) sítio(s) onde eu estive, havia familiares nossos... esposas com ou sem filhos"

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16620: (Ex)citações (320): Fiquei triste e revoltado com a imagem da piscina do QG de Bissau, parecia um SPA!... Era uma afronta para estava no mato (Armandino Oliveira, ex-fur mil, CCS / BCAV 1897, Mansoa, Mansabá e Olossato (1966/68; vive no Brasil há 40 anos)


Guiné > Bissau > Anos 70 > Quartel General em Sta. Luzia > Piscina, a que tinham acesso os oficiais do QP e milicianos, e seus familiares.

Foto do álbum do nosso saudoso António [Henriques Campos] Teixeira, o "Tony" (1948-2013), ex-alf mil da CCAÇ 3459 / BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, e CCAÇ 6, Bedanda, 1971/73).

Depois da independência, as instalações hoteleiras (messe e quartos de oficiais) do QG foram transformadas em hotel, o Hotel 24 de Setembro (hoje Hotel Azalai 24 de Setembro, 4 estrelas, sito na Av Pansau na Isna, Santa Luzia, 285 Bissau, Guiné-Bissau).

Foto (e legenda): © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné  (2016). Todos os direitos reservados.  

1. Comentário,  com data de 18 do corrente (*), de Armandino 
[José de Jesus] Oliveira, ex-fur mil da CCS / BCAV 1897,  Mansoa,  Mansabá e Olossato (1966/68); vive no Brasil há 40 anos, e é membro da nossa Tabanca Grande desde 8 de maio de 2011:


Boa tarde,  meu amigo Luís Graça:

Fiquei muito triste, para não dizer revoltado, com as imagens da piscina do QG de Bissau, parece um SPA .

Enquanto milhares estavamos na selva, combatendo, morrendo, vendo colegas e amigos sendo destroçados e outros se suicidando, pegando malária, em condições bem degradantes, psicologicamente .

Não posso gostar desse artigo, é uma afronta a todos que foram para a GUERRA !

Só louco ou insano levaria a família para o campo de batalha, só no QG de Bissau.

Era furriel miliciano do BCAV 1897, estive em Mansoa , Mansabá e Olossato (1966/1968 ).

Creio que entendes a minha revolta . (**)

Abraços
Armandino
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Notas do editor:
(*) Vd,. poste de 17 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16609: Inquérito 'on line' (75): as primeiras 66 respostas, a três dias do fim do prazo (5ª feira, dia 20): só em 28 casos havia famílias de militares, não guineenseses, no mato... "Lembremos que o maior número de militares do quadro não estavam longe de belas cidades como Luanda, Benguela, Uíge, Malange, Lourenço Marques, Beira, Nova Lisboa e Bissau, por exemplo, onde não faltava nada (comentário de Antº Rosinha)

(**) Último poste da série > 10 de outubro de 2016 >  Guiné 63/74 - P16585: (Ex)citações (319): O cap inf José Abílio Lomba Martins que eu conheci, no Enxalé, em novembro de 1963, antigo professor da Academia Militar, cmdt da CCAÇ 556 (Bissau, Enxalé, Bambadinca, 1963/65) (Alcídio Marinho, ex-fur mil inf, CCAÇ 412, Bafatá, 1963/65) (*)

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16609: Inquérito 'on line' (75): as primeiras 66 respostas, a três dias do fim do prazo (5ª feira, dia 20): só em 28 casos havia famílias de militares, não guineenseses, no mato... "Lembremos que o maior número de militares do quadro não estavam longe de belas cidades como Luanda, Benguela, Uíge, Malange, Lourenço Marques, Beira, Nova Lisboa e Bissau, por exemplo, onde não faltava nada (comentário de Antº Rosinha)


Guiné > Bissau > Anos 70 > Quartel General em Sta. Luzia > Piscina, a que tinham acesso os oficiais do QP e milicianos,  e seus familiares. Foto do álbum do nosso saudoso António [Henriques Campos] Teixeira,  o "Tony"  (1948-2013), ex-alf mil da CCAÇ 3459 / BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, e CCAÇ 6,  Bedanda,  1971/73) (*)


Guiné > Bissau > s/d [, meados dos anos 60] > Av Carvalho Viegas, um das ruas da baixa, onde o comércio tinha tudo... Bilhete postal, nº 129, Edição "Foto Serra" (Colecção "Guiné Portuguesa")


Guiné > Bissau > s/d   [, meados dos anos 60] > Aspecto parcial  da cidade, Câmara Municipal à direita, Palácio do Governador ao fundo à esquerda... Bilhete postal, nº 133, Edição "Foto Serra" (Colecção Guiné Portuguesa")


Guiné > Bissau > s/d  [. meados dos anos 60] > Um cidadezinha colonial, feita a régua e esquadro, desenhada pela República, desenvolvida com o Estado Novo (a partior dos anos 40)... Vista parcial da baixa com o estuário do Geja e o ilhéu do Rei, ao fundo... Bilhete postal, nº 117, Edição "Foto Serra" (Colecção "Guiné Portuguesa").

Colecção: Agostinho Gaspar / Digitalizações: Bogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010). (**)


I. INQUÉRITO 'ON LINE':

 "NO MATO 
NO(S) SÍTIO(S) ONDE EU ESTIVE, NA GUINÉ,
HAVIA FAMILIARES NOSSOS"...


As primeiras 66 respostas:


1. Sim, esposas (não guineenses)  > 

19 (28%)

2. Sim, esposas e filhos (não guineenses) >  
9 (13%)

3. Sim, familiares guineenses (sem ser das milícias)  > 
9 (13%)

4. Não, não havia >  
35 (53%)

5. Não aplicável: não estive no mato  > 
2 (3%)

6. Não sei / não me lembro  > 
0 (0%)


Termina dia 20/10/2016, 5ª feira, às 6h52. O inquérito admite até duas respostas: por exemplo 1 e 3; 2 e 3. (***)


2. Comentário de Antº Rosinha (***):

[ Antº Rosinha, em Pombal, 2007:  é um dos nossos 'mais velhos', andou por Angola, nas décadas de 50/60/70, do século passado, fez o serviço militar em Angola, foi fur mil, em 1961/62, diz que foi 'colon' até 1974... 'Retornado', andou por aí (, com passagem pelo Brasil), até ir conhecer a 'pátria de Cabral', a Guiné-Bissau, onde foi 'cooperante', tendo trabalhado largos anos (1987/93) como topógrafo da TECNIL, a empresa que abriu todas ou quase todas as estradas que conhecemos na Guiné, antes e depois da 'independência'; é colunista do nosso blogue com a série 'Caderno de notas de um mais velho']

Este pormenor das famílias dos militares irem [ou poderem ir] para o Ultramar,  pode ser um ponto de vista para explicar muita coisa sobre a durabilidade da Guerra.

A vida da maioria dos oficiais e sargentos (não milicianos) e muitos tenentes e capitães milicianos, casados,  com filhos quer no liceu ou na primária ou mesmo na Universidade, tornou-se numa rotina bem "oleada" que corria sobre esferas, em plena Guerra do Ultramar.

Lembremos que o maior número de militares do quadro não estavam longe de belas cidades como Luanda, Benguela, Uíge, Malange, Lourenço Marques, Beira, Nova Lisboa e Bissau,  por exemplo, onde não faltava nada.

E nessas cidades havia casas para arrendar e o pessoal do quadro tinha direito a "subsídio de renda de casa", quer na metrópole ou no Ultramar, e evidentemente, o subsídio de cada filho menor ou enquanto estudasse.

E lembremos que essa rotina bem "oleada" continua em quantidade e qualidade com comissões em "Lisboa, Porto, Coimbra, Faro, Guarda, Bragança..." (em ondas curtas compridas e comprometidas) por mais alguns anos de 1974, até aos anos 80, com concursos e promoções e preenchimento das imensas "vagas" do quadro.

É que a luta continuou indefinidamente, Porquê ?  A explicação deve ser a mesma pela qual não se explica cabalmente por que é que os capitães de Abril só apareceram em 1974 e não em 1968.

A guerra não acabou para todos em 1974, houve uma (boa) continuação para alguns.

Canquelifá, Buruntuma, Binta é uma coisa... outra coisa é outra coisa.

Tem que haver memória.
Antº Rosinha

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16597: Inquérito 'on line' (73): Até ao dia 20 deste mês, responder à questão "No mato, no(s) sítio(s) onde eu estive, havia familiares nossos... esposas com ou sem filhos"



A nossa amiga Adelaide Barata Carrêlo,
aos sete anos:
 viveu com a família  e andou na escola
em Nova Lamego (1970/71)
I. INQUÉRITO 'ON LINE': 


"NO MATO
NO(S) SÍTIO(S) ONDE EU ESTIVE,  NA GUINÉ,
HAVIA FAMILIARES NOSSOS"...




Hipóteses de resposta:

1. Sim, esposas (não guineenses)

2. Sim, esposas e filhos (não guineenses)

3. Sim, familiares guineenses (sem ser das milícias)

4. Não, não havia

5. Não aplicável: não estive no mato

6. Não sei / não me lembro



O inquérito em curso admite até 2 respostas (por ex., 1 e 3). O prazo de resposta temina no dia 20/10/2016, às 8h52,



Guiné > Região do Oio > Biambe >  CCAÇ 13 > Set 73 / jan 74 > O Henrique Cerqueira [ex-fur mil, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, e da CCAÇ 13, Biambe e Bissorã, 1972/74] foi outro dos nossos camaradas que teve consigo, durante cerca de 9 meses (de outubro de 1973 a junho de 1974),  a esposa,  Maria Dulcinea (Ni)" [, nossa grã-tabanqueira],  e o pequeno Miguel Nuno, hoje um um homem de quarenta e tal anos, e já pai...

Aqui os vemos, mãe e filho, num "burrinho", o Unimog 411, numa "visita que fizemos à minha antiga companhia no Biambe"...

Foto (e legenda): © Henrique Cerqueira (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


II. Há dias o nosso editor escrevia aqui que, "tirando Bissau, era invulgar ver-se famílias de militares no mato, com crianças" (*), como era o caso da família Barata (que esteve em Nova Lamego, em 1970/71: o ten SGE José Maria Barata,  da CCS/BCAÇ 2893, mais a esposa e 3 filhos menores, incluindo a nossa amiga, grã-tabanqueira, Adelaide Barata Carrêlo).

Aparecererm alguns comentários (César Dias, Jorge Rosales, Henrique Cerqueira, Cherno Baldé, Tino Neves, Francisco Baptista, Jorge Picado, Manuel Carvalho, Adelaide Barata...), ajudar a esclarecer este assunto, e a justificar a realização de mais um inquérito 'on line'.

Por exemplo, o Henrique Cerqueira escreveu o seguinte;:

"Em Bissorã estiveram quatro esposas em que três das quais tinham filhos pequenos. Por ordem hierárquica havia: (i) uma esposa com uma filha pequena dum capitão da CCS,  Pontes Fernandes,  algarvio; (ii) a minha, com o meu filho Miguel; e ainda (iii) a esposa de um cabo da CCS com uma criança bébé. Em Inquida,  um destacamento da zona do Biambe,  esteve durante algum tempo a esposa de um alferes,  sem filhos. Comigo habitava ainda a esposa do alferes Santos, recém casada mas sem filhos,  que estiveram até final da comissão em 1974. Portanto em 1972/73 não era assim tão invulgar a presença de familiares com crianças fora de Bissau. "

O nosso amigo Cherno Baldé também deu uma ajuda para refrescar a nossa memória:

"O cap graduado Sampedro que substituiu o cap Patrocínio em Fajonquito (CCAC 3549, 1972/74), vivia com a esposa e um filho pequeno em Fajonquito. Lembro-me de ver o puto deambular dentro do quartel na companhia dos soldados. O ex-cap Sampedro continua a participar em todos os encontros anuais da companhia."

Muitos outros sítios no mato não eram, no entanto, "amigos das famílias", O nosso Francisco Baptista recorda dois que conheceu: 

"Em Buba nos 17 meses que lá estive nunca houve famílias de militares, penso por haver ataques de armas pesadas bastantes frequentes ao aquartelamento. Soube pelo Moutinho, "chefe" da Tabanca de Matosinho, s que ele quando esteve a comandar, como capitão graduado, Empada, não longe de Buba, teve lá a esposa alguns meses com ele, já posteriormente à minha saída dessa zona. Em Mansabá, onde estive poucos meses, encontrei lá a esposa do alferes médico, que não terá lá estado sequer dois meses, pois um dia após uma flagelação ao quartel, a senhora foi de avioneta para Bissau e regressou à terra dela."

O Manuel Carvalho, o nosso Carvalho de Mampatá, corrige uma imprecisão do amigo Francisco Baptista:

(...) Quanto à esposa do Eduardo Moutinho em Empada,  julgo que ela só passou lá o Natal de 69 e,  quando muito,  mais um dia ou dois, mas ainda hoje fala dessa experiência como uma coisa de que gostou muito. Esteve,  sim,  algum tempo em Quinhamel onde estiveram também as esposas de dois camaradas nossos, daí talvez a tua confusão." (...)

 Esperamos mais uma vez a ativa colaboração dos nossos leitores que podem opinar sobre esta matéria, tendo em conta a sua experiência e sua memória: de facto, no "mato" (ou seja, para lá de Bissau...), alguns de nós, em diferentes épocas, tiveram a sorte de poder levar consigo, para o CTIG, as suas famílias: na maior parte dos casos, só as esposas, mas também, nalgumas localidades, sedes de circunscrição e de batalhão, também filhos menores.

Em alguns dos nossos aquartelamentos e destacamentos também viviam familiares de camaradas nossos, guineenses, no caso das subunidades com militares do recrutamento local, não contando com as milícias (hipótese de resposta nº 3).

Quem não esteve no "mato" (ou seja, quem esteve só em Bissau...), também pode responder, assinalando a hipótese de resposta nº 5 ("Nâo aplicável, não estive no mato"). Sabemos que em Bissau havia bastantes militares com família, desde oficiais do quadro a médicos do HM 241: por ex., a família do nosso amigo Luís Gonçalves Vaz, filho do falecido cor cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG, 1973/74); tinha 13 anos e vivia em Bissau quando se deu o 25 de abril de 1974.

Testemunhos, histórias e fotos sobre este tema serão bem vindos!... A resposta ao inquérito é feita, como sempre, "on line", no canto superior da coluna da esquerda do nosso blogue. (**)


Guiné > Zona Leste > Bafatá > "Foto tirada no dia 30 de Março de 1971 em Bafatá, onde o grupo foi jantar, para celebrar os meus 24 anos. Na foto, e da esquerda para a direita temos: o caboverdiano Leão Lopes (fur mil, BENG 447), e ex-esposa Lucília; fur mil op esp Benjamim Durães;   Fernando Cunha (Soldado condutor);  Rogério Ribeiro (1º cabo aux enfermeiro);  Braga Gonçalves (alf mil cav) e ex-esposa Cecília; Isabel e o marido José Coelho (furriel mil enfermeiro);  e o 1º cabo condutor auto José Brás", todos da CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72).

Foto (e legenda): © Benjamim Durães (2009). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Arquipélago dos Bijagós > lha de Bubaque > "A esposa do coronel Henrique Gonçalves Vaz, os três filhos mais novos e o capitão Pombo, na pista de Bubaque na Páscoa de 1974... Fotografia de Henrique G. Vaz. [O Luís é o da esquerda].

Foto (e legenda): © Luís Gonçalves Vaz (2014). Todos os direitos reservados.  [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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(**) Último poste da série > 6 de outubro de 2016 > São todos iguais mas uns mais iguais do que outros?... Resultado final (n=94 respostas): os ricos, os poderosos e... os famosos andaram comigo na escola (38%), na tropa (26%) e na guerra (17%)

sábado, 8 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16576: O cruzeiro das nossas vidas (24): Ainda o regresso a casa, no inesquecível paquete Uíge, da Companhia Colonial de Navegação, em março de 1971 (Adelaide Barata Carrêlo, filha do ten SGE José Maria Barata, CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego, 1969/71)



N/M Uige > Viagem Bissau-Lisboa > Março de 1971 >  O ten SGE José Maria Barata  mais a esposa dona Floripes da Palma Teixeira Barata... A família (que incluía os 3 filhos menores, Rui, de 8 anos e as gémeas Sofia e Adelaide, de 7) viajou em 1ª classe. O ten Barata regressou mais cedo, nesta data, pro razões de saúde.


 Viagem Bissau-Lisboa >  Novembro de 1969 > O ten SGE José Maria Barata, do lado direito ao centro,  num grupo de alferes milicianos da CCS/BCAÇ 2893 (Nova Lamego, 1969/71). O BCAÇ 2893 partiu de Lisboa, moblizaqdo pelo BCAÇ 10, em 25/11/1969 e regressaria à metrópole, depois de cumprida sua missão, em 25/9/1971.

Esteve sempre em Nova Lamego.´Foi seu comandante o ten cor inf Fernando Carneiro de Magalhães. Companhias de quadrícula: CCAÇ 26167, 2618 e 2619..

O nosso camarada Constantino Neves, identificou os oficiais desta foto; ao lado do ten Barata, junto à janela de oculos escuros está o alferes mec auto José dos Santos Rosado de Oliveira (1), à frente deste (1), também de óculos, está o alferes de transmissões, caboverdiano, Antónop Augusto Gonçalves (2); de frente ao ten Barata, está o alferes João dos Santos Serra Lavadinho (3). Dos outros dois ele não se recorda dos nomes mas diz que eram do Batalhão ("basta ver o emblema do batalhão num deles").


Ver  a lista dos passageiros da 1ª classe embarcados em Bissau e com destino a Lisboa (, abaixo reproduzida): eram 46, entre militares (35) e civis (11), na maioria familiares (mulheres e crianças). Há 3 famílias a bordo, com crianças: as famílias Barata, Vidal Saraiva e Brandão. Estas duas últimas eram de médicos milicianos, em serviço seguramente no HM 241.  O alf mil médico Vidal Saraiva  (1936-2105) esteve com alguns de nós em Bambadinca, em 1970, ao tempo do BART 2917,  e já foi aqui homenageado no nosso blogue.

A única família que "vinha do mato" (Nova Lamego), era a família Barata, um caso raro, excecional. (Os Barata tiveram todos o "batismo de fogo", em 15/11/1970, em Nova Lamego; é possível que o ten José Maria Barata tenha decidido antecipar o regresso da família, face ao agravamento da situação militar no leste da Guiné, e em particular na região do Gabu).

Nota curiosa... nesta viagem do N/M Uíge, que partiu de Bissau em 2/3/1971,  vieram também, de regresso a casa, pelo menos dois camaradas nossos,  o César Dias (em classe turística) (ex-fur mil sapador da CCS/BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71) e o Manuel [Carline] Resende [Ferreira]  (em 1ª classe) (ex-alf mil da CCaç 2585 / BCaç 2884, Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71).

Como alguém disse, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!


Fotos: © Adelaide Barata Carrêlo (2016) Todos os direitos reservados. [Edição e  legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Adelaide Barata, aos 7 anos
1. A nossa amiga Adelaide Barata Carrêlo mandou-nos, a 19 de setembro último, mais umas recordações do tempo em que esteve, aos 7 anos,  na Guiné, mais exatamente em Nova Lamego, com o pai, a mãe e os irmãos, tendo regressado no N/M Uíge,  em 2 de  março de 1971.

 Amigo Luís,

Mais uma recordação do nosso regresso da Guiné.  

Na ida para o leste da Guiné, em 1970, sei que apanhámos um avião, bastante barulhento, de Bissau para Nova Lamego, e o regresso foi da mesma forma [, talvez um Dakota]. 

Quando regressámos a Lisboa foi naquele paquete inesquecível UIGE- Companhia Colonial de Navegação" (*)

Beijinhos
Adelaide











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sexta-feira, 15 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16306: (In)citações (97): Nova Lamego, 15 de novembro de 1970, uma das noites mais longas das nossas vidas... Nós, miúdos, achamos que os nossos pais não choram, mas eu sei que também se chora em silêncio e sem lágrimas.... (Adelaide Barata Carrêlo, filha do ten SGE Barata, CCS/BCAÇ 2893, 1969/71)

De: Adelaide Barata Carrêlo, 
membro nº 721 da nossa Tabanca Grande,
filha do tenente SGE Barata, 
CCS/BCAÇ 2893 (Nova Lamego, 1969/71) (*)

Data: 13 de julho de 2016 às 17:19

Assunto: 15 Novembro 1970 (**)



15 de Novembro de 1970, 
uma das noites mais longas das nossas vidas.

O ambiente era de festa e no quartel 

tudo parecia desenrolar-se dentro  da normalidade.

Além de ser o dia em que se comemorava um ano de comissão, 

também os  meus pais celebravam aniversário do seu casamento.

Chegámos a casa já tarde.

Quando nos preparávamos para dormir, 

lembro-me de ouvir uma espécie de  assobio 
e, segundos depois.  uma explosão. 
Tenente SGE Barata, CCS/BCAÇ 2893
(Nova Lamego, 1969/71).
Faleceu em 15/1/1979,
como capitão,
estava colocado na altura
no Ministério de Exército,
 na Praça do Comércio.,

A luz apagou-se 
e, tal como o  meu pai nos ensinou, 
corremos para o canto de sala, 
onde as paredes  eram mais fortes.

O zinco do telhado crepitava.

O meu pai decidiu 

que não podíamos ficar ali 
nem mais um minuto,  
segurou-nos ao colo como pôde 
e abriu a porta em silêncio.
Eu não queria acreditar, 
a rua estava cheia de chinelos,  "descalços"...
para onde teriam corrido os pés daquela gente ?

No trajecto para o quartel, 

três paraquedistas prontificaram-se a  ajudar os meus pais, 
levando-nos ao colo com passo apressado. 
Eles  traziam um cachorro que cheirava a after-shave.

À chegada, o meu pai soube 

que o seu amigo e camarada Cipriano Mendes  Pereira,
2º  sargento miliciano enfermeiro, 
tinha falecido, 
as marcas  estavam na parede da casa 
e na árvore junto à janela.

Também o soldado Seixas nos deixou nesse dia.  

(Lembro-me que era ele 
que enchia o bidão da água que tínhamos em casa).

Nós, miúdos, achamos que os nossos pais não choram, 

mas eu sei que  também se chora em silêncio 
e sem lágrimas.

Obrigada 

Adelaide Barata (***)



Guiné > Zona Leste > Nova Lamego > 1970 > Emblema do BCAÇ 2893 (1969/71), unidade de que faziam parte as CCAÇ 2617 ("Magriços de Guileje", Pirada, Paunca, Guileje, 1969/71), CCAÇ 2618 (Nova Lamego, 1969/71)   e 2619 (Madina Mandinga, 1969/71), além da CCS, a que pertencia o nosso camarada Constantivo Neves, ex-1º Cabo Escriturário, mais conhecido por Tino Neves.

Foto: © Tino Neves (2006). Todos os direitos reservados.



Guiné > Região de Gabu> Nova Lamgo (Gabu Sara) > Carta  dos Serviços Cartográficos do Exercito (1961) > Escala 1/50 mil >  Detalhe

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2016)
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Notas do editor CV:

(*) Vd. postes de:

11 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16294: Tabanca Grande (490): Adelaide Barata Carrêlo, filha do ten SGE Barata, CCS/BCAÇ 2893 (Nova Lamego, 1969/71)... Com sete anos apenas, sofreu a brutal flagelação do IN ao quartel e vila do Gabu, em 15/11/1970, que causou 3 mortos e 4 feridos graves entre as NT e 8 mortos e 80 feridos (graves e ligeiros) entre a população... Passou a ser a nossa grã-tabanqueira nº 721


(***) Último poste da série > 9 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16288: (In)citações (95): "Terra vermelha quente e de paz, / lugar onde tive medo, fui feliz e vivi, / amar-te-ei sempre, / minha Guiné menina velha encantada"... (Adelaide Barata Carrêlo, filha do tenente Barata, que viveu em Nova Lamego, no início dos anos 70, durante a comissão do pai, e aonde regressou, maravilhada, quarenta e tal anos depois)

(...) Em 1970 aterrámos em Bissau onde o meu pai nos esperava ansiosamente, seguimos alguns dias depois para Nova Lamego onde ele estava colocado.

Eu tinha 7 anos, sou gémea com uma irmã e tenho um irmão mais velho 1 ano. Somos a família Barata. Quando chegou a hora dos meus pais decidirem juntar-se naquela terra, não conseguiram convencer-nos de que poderíamos separar-nos, não, fomos também. E até hoje agradeço por ter conhecido gente tão bonit, , tão pura.

As primeiras letras da cartilha, foram-me desenhadas pelo Prof. José Gomes, na Escola que hoje se chama Caetano Semedo.

Aquele cheiro, a natureza comandada pelo calor húmido que sufoca e a chuva que cai como uma cascata sobre a pele e o cabelo que teima em não se infiltrar...cheguei a pedir à minha mãe para me deixar correr como aqueles meninos que se ensaboavam no meio da rua e com um chuveiro gigante que deitava tanta água de pingos grossos e doces.

Também me lembro de quem lá ficou para sempre, não éramos muitos. (...) 

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15550: Tabanca Grande (481): Osvaldo Pereira da Cruz, 1.º Cabo Radiotelegrafista (rendição individual) – Piche 1969/71. É o grã-tabanqueiro n.º 710

1. O nosso Camarada [António M. ] Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74), enviou-nos a apresentação de mais um camarada nosso, com a seguinte mensagem: 



Camaradas



Envio a apresentação de um novo Tertuliano, Osvaldo Pereira da Cruz, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista em Piche – Guiné,  1968/71. Para além de camarada d’armas também foi meu colega de trabalho nos ENVC (Estaleiros Navais de Viana do Castelo). 

Saudações,
A. Sousa de Castro


OSVALDO PEREIRA DA CRUZ, EX-1.º CABO RADIOTELEGRAFISTA EM RENDIÇÃO INDIVIDUAL NA GUINÉ – PICHE, 1969/71

PARA DAR UM ABRAÇO AO IRMÃO QUE IA CHEGAR À GUINÉ PARA CUMPRIR A SUA COMISSÃO AO SERVIÇO DO ESTADO PORTUGUÊS, INVENTOU PROBLEMAS DENTÁRIOS PARA CONSEGUIR CONSULTA E DESLOCAR-SE A BISSAU, FICOU SEM DOIS DENTES MAS PASSOU O NATAL DE 1970 COM O IRMÃO PAULO. VALEU A PENA! 

HISTÓRIA QUE SUA FILHA PAULA OLIVEIRA DA CRUZ FEZ QUESTÃO DE RECORDAR E PARTILHAR. MUITO BOM! (Sousa de Castro)


4 IRMÃOS NA GUERRA COLONIAL AO SERVIÇO DO ESTADO PORTUGUÊS.

Tenho 68 anos, trabalhei nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo. (Fui Serralheiro Mecânico.) Fui para a tropa e daí para a Guerra Colonial na Guiné em rendição individual, fui 1.º Cabo Radiotelegrafista,  tinha 21 anos. Pertenci à Companhia de TRMS sediada em Bissau, no Quartel General, passei por Teixeira Pinto, Farim e completei a maior parte da comissão em Piche (15 meses, zona Leste da Guiné, no STM - Serviço de Transmissões Militares),  adido à CCS do BART 2857.

Foi muito duro para os meus pais pois estivemos na guerra ao mesmo tempo 4 irmãos, 2 na Guiné, 1 em Moçambique e outro em Angola.

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José Cruz

Meu 2.º irmão: José Pereira da Cruz, ex-Fur Mil TRMS INF. Cumpriu na Província de Moçambique desde 1969/71 a sua comissão de serviço,  integrado na CCAÇ 2555 como adjunto do Centro Cripto.


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Paulo Cruz 


Meu 3.º irmão: Paulo Pereira da Cruz, ex-Fur Mil, chegou à Guiné em rendição individual, em 1970/72. Ficou integrado num Pelotão de Nativos até ao fim. Não sei qual a designação do Pelotão e onde pertencia. Faleceu há mais de trinta anos por afogamento no Rio Lima,  no Barco do Porto em Cardielos, Viana do Castelo.


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Domingos Cruz 

Por último o meu irmão mais novo, o 4.º,  Domingos Pereira da Cruz:  cumpriu a sua comissão em Angola,  em rendição individual nos anos  de 1973/74 como Rádio-Montador. 

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- Pai, esta foi, por ventura, a história de Natal mais bonita que me contaste. Talvez não te lembres de a ter escrito no projeto Sénior, mas eu guardei-a para ti. Paula.


Osvaldo Cruz com sua filha Paula




MEMÓRIAS DO LESTE DA GUINÉ QUE NUNCA VÃO DEIXAR DE O SER!



Osvaldo Cruz
Estava na GUERRA COLONIAL da GUINÉ, e como tinha ido em rendição individual, passei por Teixeira Pinto e por Farim, acabando por me fixar em Piche onde estive quinze meses. 

Piche era uma zona do mato, no leste da Guiné. Como era uma zona das mais flageladas pelos ataques do PAIGC, não era fácil uma deslocação a Bissau onde acima de tudo se respirava um pouco melhor aquele ambiente de guerra. Acontece, porém, que eu recebo um aerograma dos meus pais onde me diziam que meu irmão Paulo tinha sido mobilizado e iria embarcar também para a Guiné. Fiquei muito surpreendido, e eis que chega novo aerograma do meu irmão onde me diz a data em que embarcaria em Lisboa,  directo à Guiné.

Eu era Radiotelegrafista, e a partir desta notícia desdobrei-me para saber quando chegava o navio a Bissau pois gostava muito de dar um abraço ao meu irmão, naquela hora da chegada. Então comecei a pensar o que fazer para vir a Bissau, pensa que pensa, e eis que surge uma ideia! Fui falar com um sargento-ajudante, com quem tinha já alguma amizade, e que eu sabia que me poderia ajudar. Contei-lhe a minha pretensão ao que ele me diz: “Tu és maluco, tu nem as pensas!”.

Fiquei triste, mas não saí dali. Então ele diz-me: “Olha lá,  os teus dentes estão bons ou tens algum avariado?” Eu tinha dois dentes atrás que estavam mais ou menos, mas estavam a cariar. Respondi: “Tenho um que volta e meia não o suporto com dores.” “Ora bem” - diz ele - “Sendo assim eu vou falar com o médico para ver se ele ajuda nisto”.

O médico era meu amigo e antes que o sargento falasse com ele falei eu primeiro, onde ele me diz: “Ó Cruz,  por mim não sou problema, deixa-o vir”. No dia seguinte sou chamado ao comandante. Quando chego diz-me o comandante: "Então queres ir à consulta do dentista no hospital militar?" Eu respondi afirmativamente e, olhando para a secretária dele, vejo a guia de marcha para eu ir para Bissau no primeiro meio aéreo que aparecesse. Entretanto ele pega nos papéis,  assina,  põe o carimbo e manda enviar uma mensagem para marcar a consulta. Manda-me sair e esperar por notícias.

Eu via o tempo a passar e nada de notícias, até que chega finalmente a confirmação da consulta e o meu amigo sargento mandou-me chamar. Fui a correr onde ele me diz: "Só falta o avião, o resto já cá está".

Entretanto chega uma mensagem dizendo que um avião DAKOTA chegaria naquele dia e que trazia reabastecimentos. O sargento diz-me: “Eh´, pá, parece que estás com sorte. Vou ver se o Dakota te leva, aguarda”.

Lá viemos para o posto de rádio para comunicar com a Força Aérea para confirmarem a boleia,  o que aconteceu. Fiquei muito contente e lá vim para Bissau. Quando cheguei , apresentei-me na Companhia de Transmissões para me darem alojamento e alimentação. Como ainda faltavam oito dias para a consulta, puseram-me a trabalhar no posto de rádio do Quartel-General.

Os manos Cruz, Paulo e Osvaldo
Dali a dois dias chegava o navio que trazia meu irmão. Como para entrar no cais era preciso uma credencial, fui pedi-la à secretaria e aí não houve problemas, pois fui com o condutor da carrinha de Transmissões que tinha livre-trânsito. 

Já no cais, eis que o navio que já fazia manobras para desembarcar o pessoal é vedado pela Polícia Militar, e não deixam ninguém contactar com os militares que chegavam, e estes são metidos em camiões directo ao Depósito Geral de Adidos que ficava a uns 16 quilómetros. Lá pedi ao condutor e este levou-me aos Adidos. O condutor deixou-me ficar, mas também nos Adidos não era fácil chegar ao contacto com os que chegavam e que estavam a ser encaminhados para os diferentes quartéis. 

Já estava desesperado e vejo aquela cabecita a olhar para todo o lado, não à minha procura porque ele não sabia que eu estava ali, mas porque tudo era diferente para ele a partir daquele momento. Eu gritei: “PAULO! PAULO!” e ele ouviu-me,  saiu da fila e com as lágrimas nos olhos veio dar-me um abraço. 

Como ele já sabia que iam ser alojados temporariamente no Quartel-General e eu tinha que vir para entrar de turno, despedi-me e disse-lhe que o procurava em Bissau. Lá arranjei boleia, o que era fácil, e vim para o Quartel. Ainda não tinha terminado o turno e chega um colega meu que me diz: “Cruz, está lá fora um periquito à tua procura.” 

Pedi-lhe que terminasse o turno por mim, depois de lhe dizer que o periquito era meu irmão que tinha chegado naquele dia. Fomos beber uma cerveja na cantina, pois o calor assim o impunha, conversamos para saber notícias e decidimos ir jantar num restaurante em Bissau.

Fui-me vestir com roupa civil e lá viemos para a cidade que ficava a uns 4 quilómetros. Foi uma noite diferente. Depois todos os dias nos encontrávamos, até que chegou a consulta. Chegado ao Hospital lá sou encaminhado para uma fila com mais de dez pessoas. Chega o enfermeiro faz a chamada e de seguida sem ser visto pelo médico que era um oficial da Marinha, começa a dar anestesia a todos que ali estavam.

Já não sentia a cara quando sou chamado, o médico manda-me deitar na cadeira e pergunta "qual era o dente?” Eu não sabia falar, pois não sentia a cara. Abri a boca, ele olha toca no dente mais estragado e arrancou-o. Meteu uma gaze no buraco olha de novo e diz: "O melhor é tirar aquele também que já não te vai chatear mais". E vai daí fiquei com menos dois dentes.

Entretanto,  trago a alta do médico onde dizia que podia voltar à minha unidade. Faltavam mais ou menos três semanas para o Natal, mas o transporte era difícil e aí eu já não tinha muita pressa. Chegou o Natal e, nem eu nem o meu irmão, tínhamos ainda transporte para os destinos. Então foi muito bom porque passamos juntos o Natal de 1970.

Passados uns dias sou chamado e fui de volta para Piche onde os meus camaradas de transmissões me esperavam, pois já estavam só os dois há mais de um mês e como o turno era de 24 horas, cada um trabalhava doze horas por dia. Passado um mês sou mandado para Bissau, pois tinha terminado a comissão e aguardava por transporte para a Metrópole. (Assim era chamado o nosso Portugal.) Em Abril de 1971 regressei com menos dois dentes, mas com grande alegria porque tinha ido receber o meu saudoso irmão. 

Um abraço, camaradas 

Osvaldo Cruz 
1.º Cabo Radiotelegrafista (rendição individual)

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: