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quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13920: Blogoterapia (263): O Homem entre o Amor e a Guerra (Francisco Baptista, ex-Alf Mil da CCAÇ 2616 e CART 2732)

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), com data de 13 de Novembro de 2014:

A adolescência é uma fase difícil da vida, em que o homem procura construir uma identidade com bases sólidas que lhe dêem segurança para o futuro. Nesse tempo sofri bastante sobretudo por duas causas: Sendo o tempo de despertar para o amor e para o sexo e eu como a maioria dos rapazes do meu tempo estava mal preparado para enfrentar esse choque originado pela transformação física e psíquica que ocorre. A atração súbita pelo outro sexo vai alterar toda a nossa rotina de vida de conversas, pensamentos e passatempos que vínhamos mantendo com amigos e colegas, sem sobressaltos desde meninos. Até esse despertar as raparigas eram-nos indiferentes pois elas tinham outras brincadeiras e outros interesses.

Pouco habituado a ter conversas com elas e cheio de preconceitos e tabus, fruto da sociedade conservadora, patriarcal, autoritária, religiosa e obediente a todas as regras proclamadas pela Igreja Católica quando senti urgência em me aproximar delas não sabia muito bem como o fazer, pois elas sempre me pareceram pertencer a outro mundo.

Essas paixões platónicas pelas raparigas paralisavam-me e dificultavam-me uma abordagem descontraída sobre esses temas mesmo quando por alguns sinais eu suspeitava que elas estavam à espera duma iniciativa nesse sentido. Cheguei a criar ilusões numa ou outra rapariga com declarações que em tom brincalhão lhes fazia, com todo o à-vontade, pois por essas não sentia atração. Nesse tempo vivi eu e muitos outros, segundo me parece, em silêncio, paixões arrasadoras. Também é verdade que no geral as raparigas, bastante tímidas e reservadas, não davam qualquer ajuda, lançavam uns olhos meigos ou brilhantes que nos incendiavam as noites os dias e era tudo. Nesse tempo vi olhos muito lindos e faiscantes, os olhos das raparigas brilham mais.

Quando me despedi em Vila Real da minha mãe, irmãs e irmãos, que estavam lá a estudar, levei comigo na memória para a Guiné além das lágrimas da minha mãe e dos meus irmãos, uns olhos verdes, duma colega duma irmã minha. Olhos tão verdes e tão lindos como Almeida Garret esse escritor romântico descobriu no vale de Santarém, nas Viagens da Minha Terra.

"Olhos verdes!...

"Joaninha tem os olhos verdes.
"Não se reflete neles a pura luz do céu, como nos olhos azuis.
"Nem o fogo - e o fumo das paixões, como nos pretos.
"Mas o viço do prado, a frescura e animação do bosque a flutuação e a transparência do mar...
"Tudo está naqueles olhos verdes.
"Joaninha, por que tens tu os olhos verdes? " 

Almeida Garrett"

Porém fui para a Guiné, cansado de amores intocáveis e à distância, não quis deixar namorada, correspondente ou madrinha de guerra. Na altura, já numa fase mais racional da minha vida, achei que uma fidelidade tão longa seria demasiado exigente, como longos e exigentes são em amor, envolvimento e carinho os vinte anos de ambos os sexos.

A curiosidade intelectual revela-se no homem pouco depois de começar a falar e acentua-se nos primeiros anos da meninice. É a idade dos porquês, que todos os pais conhecem. Quando chega a adolescência, o homem já com mais conhecimentos e uma inteligência mais desenvolvida, na solidão da sua mente, faz perguntas mais elaboradas e com outro alcance que têm a ver com os mistérios da existência, da morte, da terra do universo etc.

Tantas duvidas tantas perguntas, algumas que se repetem tanto, noite e dia numa intermitência capaz de enlouquecer qualquer ser bem pensante. Até a um termo em que a terra acaba e o mar começa e ficamos sós e pensativos entre a imensidão dos céus que nos cobrem e o abismo do mares profundos que se alargam em horizontes sem fim. Sós perante as perguntas primordiais. PORQUE? PARA QUÊ? É um caminho dialético e difícil, que cria em nós essa ilusão que sendo superiores em inteligência aos outros animais, tão próximos dos deuses que nos criaram, seremos capazes de decifrar os grandes mistérios da vida. No final ficamos perdidos e sós entre esse céu e esse oceano que nos esmagam pela sua imponência e que não nos dão um tratamento diferente do que dão às aves ou aos peixes

Como romeiros pelas estradas de Santiago, chegamos a Compostela levados por essas estradas da terra e da mente já cansados e doridos no corpo e na alma e depois dessa longa caminhada descobrimos que só nos resta a fé para nos salvarmos do vazio a que nos conduziu a nossa longa caminhada. Como num sonho confuso não sabemos se devemos recolher-nos na Catedral de Santiago ou caminhar pelo mar na esperança que algum Deus separe as águas para nos salvar ou que nos deixe dormir em paz sob esse grande lençol de água imenso, tão liquido e aconchegante como o ventre da nossa mãe que nos deu a vida.

A minha santa mãe, durante muito tempo pensei que era a melhor do mundo, já tarde apercebi-me que as mães dos outros também eram as melhores. Mãe que me ensinou a rezar e que tinha uma crença religiosa mais sólida do que as largas paredes da igreja da paróquia não me conseguiu transmitir essas verdades.

Nunca consegui resolver essa equação tão difícil que reside entre o mistério da vida e da morte. Nascemos do nada? Morremos para voltar a esse nada?

Revi recentemente num canal de televisão as batalhas cruéis que se desenrolaram tanto na 1.ª como na 2.ª Guerra Mundial, em que milhões de jovens, dum lado e do outro do conflito, foram empurrados para uma morte certa, como se fossem carne para canhão.

Pensando no mistério da vida da morte, eu, um não crente, apiedado por tantos mortos, tão jovens e transbordantes de energia e entusiasmo, sou quase levado a crer, como alguns muçulmanos, que eram esperados nos céus por 30 virgens

No final das guerras há sempre conversações para restabelecer a paz e dividir as riquezas das nações, com prejuízo naturalmente para os beligerantes derrotados. Depois do renascimento, do século da luzes, do aufklarung alemão, depois da Revolução Francesa e da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, porque é que os países não discutiram as formas de evitar essas guerras terríveis em que o homem deixa de ser um ser humano civilizado para passar a ser a besta do Apocalipse. Desde a 2.ª Guerra Mundial até hoje, os setenta anos já passados, são muito pouco tempo em termos históricos para haver uma alteração de mentalidade do homem.

Na opinião de outros não há cultura, tratados ou proclamações de direitos que curem o homem do seu instinto guerreiro e destrutivo, pois esse instinto reside na parte mais antiga e funda do seu cérebro que a razão não consegue dominar. São tempos terríveis em que o homem se transforma na fera que terá sido nos primórdios da sua existência, e semeia a morte e destruição à sua volta.

A harmonia do universo, essa verdade proclamada por alguns teólogos e filósofos, no que concerne ao planeta Terra, é desmentida pelo espectáculo de devastação, destruição e morticínio que aconteceram um pouco por toda a Terra nas duas últimas grandes guerras. As guerras são uma constante histórica de todas as civilizações se fizermos um estudo do passado do homem.

A Bíblia, que é uma história da humanidade, segundo alguns bastante fantasiada, que usa muito a parábola, ainda antes de Jesus Cristo, que foi um mestre no uso dessa figura de estilo, conta a morte de Abel por seu irmão Caim por ciumes, quando a terra imensa, ainda era só deles. Se quisermos ser pessimistas e olhar para a História pelo seu lado mais negro, chegaremos à conclusão que o homem é o mais bruto e selvagem de todos os animais, pois as guerras por toda a terra têm-se sucedido a um ritmo impressionante.

Será a guerra inevitável? Iremos morrer todos numa 3.ª guerra mundial?

Está provado que o homem tem aprendido pouco com a História e estão sempre a surgir loucos destruidores e sedentos de sangue.

Segundo alguns, na idade moderna os políticos que declararam as guerras e os generais que as comandaram, no geral ficavam sempre protegidos na comodidade dos seus luxuosos gabinetes na retaguarda, o que terá provocado um maior número de mortos. Esses generais e políticos davam aguardente, rum ou zurrapa aos soldados para mais alegremente morrerem por uma pátria, por uma bandeira, onde eles afinal não passavam de escravos ao serviço dos grandes senhores.

A minha homenagem a todos esses jovens condenados e sacrificados, dentre eles aos 7000 portugueses que morreram na Flandres na 1.ª Guerra Mundial.

"Nos campos da Flandres crescem papoilas
Entre as cruzes que, fila a fila,
Marcam o nosso lugar; e no céu
As cotovias, ainda corajosamente a cantar, voam
Escassas, fazendo-se ouvir entre as armas abaixo.

Nós somos os Mortos.
Há poucos dias atrás
Vivíamos, sentíamos o amanhecer, éramos amados; agora repousamos
Nos campos da Flandres.

Tomem a nossa guerra com o inimigo
A vós entregamos, das nossas mãos moribundas,
A tocha; que seja vossa, para que a mantenhais ao alto.
Se traírdes a nossa fé, dos que morremos,
Jamais dormiremos, ainda que cresçam papoilas
Nos campos da Flandres."

John McCrae

Um abraço a todos
Francisco Baptista
____________

Nota do editor

Último poste da série de 7 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13582: Blogoterapia (262): Algo de estranho e sinistro (Amado Juvenal, ex-1.º Cabo Cond Auto do BCAÇ 3872)

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13586: Manuscrito(s) (Luís Graça (42): Extremadura(s)...



Lourinhã > Praia do Caniçal > Finais de agosto de 2014 (1)


Lourinhã > Praia do Caniçal > Finais de agosto de 2014 (2)


Lourinhã > Praia de Paimogo > Finais de agosto de 2014


Lourinhã > Praia de Paimogo > Forte de Paimogo (séc. XVII) >Finais de agosto de 2014


Lourinhã > Vimeiro > Monumento comemorativo e centro de interpretação da Batalha do Vimeiro > Azulejo alusivo ao desembarque das tropas luso-britânicas, na Praia de Paimogo, em 19 de Junho de 1808, sob o comando do brigadeiro-general Robert Anstruther... A batalha do Vimeiro foi em 21 de Agosto de 1808. Azulejo desenhado e pintado à mão por Salvador (2000).



Torres Vedras > Maceira > Estrada (particular) das Termas do Vimeiro (Fonte dos Frades) até à Praia de Porto Novo (1)

Torres Vedras > Maceira > Estrada (particular) das Termas do Vimeiro (Fonte dos Frades) até à Praia de Porto Novo (2) >  Margem direita do Rio Alcabrichel



Torres Vedras > Maceira > Estrada (particular) das Termas do Vimeiro (Fonte dos Frades) até à Praia de Porto Novo (3) > Rio Alcabrichel (que nasce na Serra de Montejunto e desagua na Praia de Porto Novo)

Foto: © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados


Extremadura(s)


1. 
Casas caiadas, paradas,
O silêncio escorrendo pelas paredes;
Nas águas furtadas
Já não dormem as criadas
E na praça, ah!, da liberdade,
Já não se ouve o frufru das sedas
Roídas pelo bicho da traça.

2. 
“Esquecei o que vedes”,
Avisa o guia da cidade,
Poeta, cego, negro, escravo,
Enquanto os voyeuristas
Espreitam por ruelas e veredas.


3.
Há bonecas de porcelana,
Quiçá das Chinas,
Às janelas
E os dedos delas
Confundem-se com as rendas de bilros,
As teias de aranha,
As cortinas,
Os brocados de cetim,
Os deveres e os lavores femininos,
As máscaras de Arlequim,
As fantasias de antigos carnavais.

4. 
Dedos que teceram intrigas e redes,
Redes de pescadores
Há muito perdidos nas colinas
Do alto mar.
Ou dedos que fiaram outras redes
Clientelares, sociais, clandestinas,
Sob os portais,
Os corredores e as esquinas
Dos paços,
Dos passais,
Dos passos perdidos,
Das antecâmeras reais.

5. 
O silêncio não pára
Ou só vai parar
A um metro do chão,
Na barra azul
Dos moinhos de vento
Mais a sul,
Entre pomares e vinhedos.
À entrada.
Fora das muralhas,
O cemitério,
Cofre forte de segredos.
Aqui acabam-se todos os medos.

6. 
Valha-me a brisa do mar
Que me faz algum refrigério
Na canícula do fim de estação
Da minha civilização.

7. 
Casas paradas, caiadas
Com a mesma cal viva
Das valas comuns.
Pelos claustros do convento,
Entre suspiros, sussurros e zunzuns,
Esquivam-se furtivos noctívagos
Trânsfugas,
Infiéis,
Pecadores,
Hereges,
Proscritos,
Desertores,
Penitentes,
Almas penadas,
Poetas malditos,
Quiçá bruxas e duendes.

8. 
A calçada outrora portuguesa,
Gasta pelos cascos dos cavalos
Dos invasores,
Picam-se os brasões dos solares
Da mui antiga nobreza,
Corta-se rente
A árvore genealógica
Dos velhos senhores
E arrasados e salgados são, até às fundações,
Os seus doces lares.

9. 
Um estranho cheiro
A incenso, mirra, algas e maresia
Sobe pelos ares.
Violadas as filhas,
Raptadas as servas,
Passados a fio de espada
Os primogénitos,
Fundido o ouro e a prata,
Postos os novos deuses nos altares,
Pergunta o guia
O que é pior
Se a triste e vil desonra do presente
Ou o silêncio premonitório do futuro.

10. 
Por mim, nada de bom auguro.
Não sei que lugar é este
Sem memória
Nem glória,
À beira da estrada
Do Atlântico
Da minha infância revisitada.

11. 
Não há mais quem cante o cante
Dos poetas,
A doce cantilena das Naus Catrinetas,
O fero cântico dos últimos guerreiros
Do Império,
Ou até a última oração,
De lamento e impropério,
Em canto chão,
Que é devida
Aos bravos
Que pela Pátria deram a vida.

12. 
Fora de portas,
Num atalho ou trilho
Que leva ao monte das forcas,
Compro o último pão de centeio
E a última boroa de milho
À última padeira de Aljubarrota
Que ainda estava viva,
À hora do pôr do sol.
Padeira, viandeira, mãe coragem, altiva,
Que nem sempre o que parece é,
A vitória ou a derrota,
Medindo forças no tribunal da história.

13. 
Águas paradas do Rio Alcabrichel,
Tingidas de verdete e de sangue,
No fim de tarde de todas as batalhas.
“Pour Monsieur Junot,
C’était encore trop tôt!”.
Saqueada a  cidade,
Enchem-se as tulhas e as talhas,
Ainda a guerra é uma criança.

14. 
O último terno de cornetins
Da fanfarra do exército dizimado
Toca a silêncio,
Enquanto me despeço
Na parada, em ruínas, do quartel.

15. 
Em boa verdade, o silêncio
É a única linguagem universal
Que eu conheço
Na Torre de Babel.



Périplo pelas terras da Lourinhã, em 15 passos, entre a Praia de Paimogo e a Praia de Porto Novo, fim de verão, 2014. Aqui desembarcaram tropas luso-inglesas que derrotaram Junot na batalha do Vimeiro. Há 206 anos. 
_______________

Nota do editor:

Último poste da série > 30 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13547: Manuscrito(s) (Luís Graça (41): Roleta russa

terça-feira, 11 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11691: Blogpoesia (345): War is over, baby [ A guerra acabou, querida] (Luís Graça)

War is over, baby
[ A guerra acabou, querida]

por Luís Graça


A guerra acabou…
E depois ?
Depois,  os avós contarão aos netos,
tintim por tintim,
como foi a última batalha de bagdade
que não chegou a haver
mas que rimava com liberdade,
e com bombas de mil sois
(Ou foi hiroshima, meu amor ?)

Ou talvez não contem a história assim,
talvez prefiram antes arrumar as botas,
e até calar-se para sempre
e poupar os netos,
que esses, afinal, são muito mais espertos,
e têm jogos de guerra bem mais divertidos
no último modelo da sua playstation.
E sobretudo já não têm mais pachorra
para aturar os cotas,
infoexcluídos,
e com a rede neuronal avariada
(Como é  triste ser velho,
infoexcluído
e com sinais de alzheimer!)

De qualquer modo,
disse o repórter português,
o carlos fino,
foi a primeira das batalhas da história
transmitida em direto.
(O fino, o carlos, estava lá,
foi politicamente correto,
e isso é um motivo de orgulho nacional,
disse alguém,
assessor de belém).

Uma batalha anunciada,
uma cruzada de cruzados,
logo com princípio,  meio e fim,
como no jogo do xadrez,
com cheque-mate  ao rei e às suas odaliscas.
Uma história das arábias
onde sobraram as espadas de deus
e dos homens faltaram as palavras sábias.
(Ó carlos fino,
tal como em quinhentos, 
somos tão poucos,
para cobrir a imensão do globo
e calcorrear todas as picadas e os sete mares!).

Mas tu, baby, lembras-te,
tínhamos comprado pipocas,
no cinema do nosso bairro
de classe média arruinada.
Sentámo-nos no chão
entre camelos e beduínos
à espera da queda do saddam.
(Ou de satã?,
já não me lembro;
lembro-me, isso sim,  como se fosse hoje,
que já estavas meio pedrada,
do pó marado do casal ventoso;
e  campo de ourique ali tão perto!).

Éramos colecionadores de quedas e de quebras,
do PIB,
do moral da nação,
da moral de todos nós,
da bolsa da valores,
dos valores da bolsa,
de meteoritos,
de aeronaves,
de cabeças coroadas;
e a última queda, essa, fora a do muro de berlim
em mil nove oitenta e nove.
Regámos com vodka e coca-cola
o anúncio do recomeço do reich dos mil anos.
(Ou era licor beirão ?!,
ai, a minha cabeça!)

Depois os soldados regressarão
a casa.
E casarão.
E terão filhos que vão à escola,
pública, privada ou social,
conforme os escalões do irs.
Ou talvez não.
Os soldados proletários,
mercenários, 
voluntários,
patriotas,
partirão para outra guerra.
Que a guerra  sempre foi uma profissão.
(Disseste procissão ?
Ah, sim, a da vida e da morte!).

Os bisnetos dos escravos
das plantações de algodão do sul,
os afros,
os chinas,
os hispânicos,
os filhos dos imigras
de várias raças, credos e nações,
do grande melting pot americano,
os ex-colarinhos azuis
das linhas de montagem do taylorismo-fordismo,
no museu industrial de michigan.
Na fotografia amalareda tinham um ar de idiotas,
usavam grandes jeans
e chapéus à texano.
(Mas podia ter sido na região de tombali,
meu amor,
muito mais perto de ti,
em linha reta,
no carreiro do povo,
no corredor da morte!).

Enfim, só sei que eles guardarão a espingarda,
a baioneta,
o capacete,
o cantil
e a marmita,
no bengaleiro
ou, talvez melhor,
no sótão,
no baú, herança dos tretavós,
arrebanhados do cacheu ao cunene.
E o canhão sem recuo, esse, guardá-lo-ão
no jardim, em miami.
E o clarim,  em nova orleães.
E, na casa branca, o cartão do tio sam que dizia:
I wanto you for u.s. army!

Em abono da verdade,
não escondo
que alguns morrerão.
Talvez de solidão.
Ou de tédio.
Ou de falta de fé em deus.
Ou na humanidade.
Ou em deus e na humanidade ao mesmo tempo.
No criador e na sua criatura.
Ou de stresse pós-traumático de guerra,
como dizem hoje os psis
que vivem dos despojos de todas as guerras.
(Apanhado do clima, dirias tu,
meu tuga,
meu nharro,
que no tempo da guerra colonial da guiné
estava por inventar a palavra stresse.)

Morrerão simplesmente de solidão
como as carcassas dos tanques
nos jardins suspensos da babilónia.
(Ou na estrada de madina do boé;
não importa, ou que importa ?!,
sentados ou de pé!,
nas berliets, gê-ème-cês, unimogues,
à sombra dos bissilões).

Afinal, que importam os detalhes
se um dia todos temos de morrer,
presas e predadores,
caçadores e leões,
escravos e senhores,
soldados e generais,
de uma merda qualquer,
de peste, sida,  ébola,
gripe das aves,

radiações ionisantes,
insolação, raiva, insónia,
desidratação,
febre hemorrágica,
bê-esse-é,
tiro da bófia,
pneumonia atípica,
cancro,  
gás mostarda,
sari,
trombose,
avêcê,
tsunami,
ou aperto da aorta.

O repórter de serviço diz,
na têvê do berlusconi,
que esta foi a última campanha de caça
ao leão da mesopotâmia.
Ou da abissínia,  tanto faz,
que o berlusconi tem gê-pê-esse
e borrifa-se  na geografia,
agora com as autoestradas da globalização,
dando largas ao delírio
e à livre circulação do capital.
(Estranho: eu imaginava-o extinto,
ao leão da abissínia,
na época dos últimos glaciares.)


Ah! se eu não fosse um sem-abrigo,
Ah! se eu não fosse um desertor da guerra colonial,
Ah! se eu fosse poeta proactivo,
um repórter reformado da guerra fria,
com pensão,  cama e roupa lavada,
um gajo decente
com sensibilidade social
e uns restos de testosterona
na ponta mais ocidental da G3…
Ah!, se eu fosse tudo isso,
eu escreveria um grafito
no meu epitáfio,
nas paredes do meu bunker:
- Deus é grande,
e maomé o seu profeta!
Estive em badgade,
mas não vi nada, meu irmão.
Não rezei na tua mesquita azul.
Não rezei por ti nem por mim nem por nós.
Apenas tive pena do teu povo,
curdos,  xiitas,  sunitas,  árabes
e todos os outros filhos bastardos de abraão
e  das tábuas e tabus de  moisés.
Fulas, mandingas, tugas, felupes, balantas, nalus,
filhos pródigos da humanidade achada e perdida.

Mais te direi por e-mail
que morri com um estilhaço de granada.
A meu lado, um capitão dos marines
afogou-se num poço de petróleo,
coberto com a bandeira dos states,
como na batalha de iwo jima.
Verde e vermelha,
como a imaginava o poeta,  jorge de sena,
a cor da liberdade,
em 1961.
(Angola… é nossa!,
que importa a cor da liberdade,
quando a joia da coroa está em perigo?!).
Era um caixa de óculos como o o’neil,
poeta, obscuro,
que nem para contínuo serviu
do ministério dos negócios estrangeiros.

Mas hão-de morrer mais.
Conta, baby,  conta até mil
e lê o jornal.
É a astróloga do ano que tudo viu
na sua bola de cristal.
Italianos dos carabineiros,
espanhóis da secreta,
espiões do efbiai,
judeus errantes da diáspora,
goeses de damão e diu,
mexicanos do pancho villa,
lusitanos da diáspora,
talvez do luxemburgo,
onde nem sequer há poilões
nem acácias
nem jagudis.
Hão de morrer, todos,  de puro terror,
estampado nos olhos.
Tudo por causa de um homem-bomba
que foi visto visto a sobrevoar
a estátua da liberdade agrilhoada.

Mas agora és tu, private jessica lynch,
baby-doll em camuflado
a nova namoradinha
dos tele-espectadores globais.
Ou por breves instantes foste
a heroína,
a heroinazinha.
Que a fama e a glória são
deusas vãs, avaras e cruéis.
Quiçá na próxima guerra te verei
ao serviço da bandeira da cnn,
ou doutro xogum qualquer dos mass media,
embeded com os bravos da mítica 7ª cavalaria,
mobilizada pelo ral 7,
ali à calçada da ajuda.
No país do show business,
das fábricas de sonhos e de fadas de carne e osso,
e em que o sucesso é um pudim instâneo
e a medida de todas as coisas,
está tudo a condizer.
Tu estás a condizer, minha joia,
o carlos fino está a condizer,
mais o pobre ministro da propaganda,
de seu nome mohamed saeed al-sahaf
que que queria resistir ao apocalipse now
com um microfone na mão.
A gnr dos portugas em nassíria está a condizer

com a batalha de nassíria.
Tu e eu estamos a condizer
no tempo em que éramos todos telegénicos,
e até o bush, my friend george, caraças!,
por deus e pelo diabo protegido e ladeado,
segurava um perú de plástico
no dia de ação de graças.
(Poupem o perú, seus cabrões,
mas deem-me cabo do império do mal!)

Tu, my darling, minha querida,
ouvi dizer que eras filha
de um condutor de camião,
daqueles que atravessam a américa,
de lés a lés.
Uma heroína do povo sem pedigree,
escriturária,
amanuense,
anjo da guarda,
carinha larocas,  teenager,
de uma qualquer terra saloia da américa profunda,
da américa larga, comprida e funda.
Ferida em combate por engano,
sorry que numa lady americana,
não se bate,
diz o puro sangue árabe, 
com sotaque português.
Baleada mas logo resgatada,
que um camarada morto ou ferido
nunca se deixa para trás,
muito menos acima do paralelo 38
das linhas do fogo inimigo.
Muito menos,  já se vê,
num hospital de retaguarda do eixo do mal,
diz o pentágono.

Li nos jornais velhos  que acumulo no wc
que já te ofereceram um milhão
(de dólares, entenda-se).
Queriam fazer um filme
com a história da tua curta vida,
de heroína por equívoco.
Tu que só tens 19 anos.
Não mais.
E já tanto (ou, afinal, tão pouco) para contar
aos netos que hão de vir.
Perdi-te o rasto, meu amor,
minha bajuda,
my baby,
nas voltas que o mundo dá.
A guerra acabou, dizem,

war is over.
O problema agora é de polícia
e do homem-bomba
ou da mulher do tchador
Adeus, querida,
adeus às armas,
adeus, iraque,
adeus, guiné…

E depois ?
Bem, depois é amanhã,
não há azar,
que não é sexta nem treze.
E amanhã há mais,
cantemos o hino.
A vida pode parar,
a vida pode esperar,
a vida pode até perder-se.
O espetáculo é que não, my god!
O espetáculo, esse, continua,
tem de continuar...
Só vou ter saudades é do carlos fino!


11/1/2004. Revisto em 10/6/2013

_____________

Nota do editor:

Último poste da série > Guiné 63/74 - P11690: Blogpoesia (344): A minha Pátria (J.L. Mendes Gomes)

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11648: Blogpoesia (342): Antologia: Poemas de Maio, de Ovar a Mafra, entre o céu e o inferno, com as bolanhas de Tombali ao fundo (J. L. Mendes Gomes)



Álbum do José Neto (1929-2007) > Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1966/68) > Foto nº 8: fim de tarde


Álbum do José Neto (1929-2007) > Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1966/68) > Foto nº 6: bando de jagudis 


Fotos: © José Neto (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados

Lavo minha alma…

Encomendo minha alma a Deus,
Todas as noites,
Antes de dormir.
Pode ela não mais acordar. 
E subir ao céu.
Onde, perdidamente,
Para sempre, 
Restaria triste.
Como um anjo
Que voou da terra,
E apareceu a Deus,
Sem se lavar…

Ovar, 17 de Maio de 2013
16h37m

Subindo à montanha

Arregaço as mangas.
Pego na pena.
Lanço meus olhos
Para o infinito do céu.
Estremeço, de medo,
Na escuridão que o cobre.
Nem uma estrela sozinha aparece.
Tremente.
É o silêncio. 
E o ermo.
Ergo uma prece
Uma luz que rasgue e desfaça
Em pedaços as trevas
E negrumes de todas as serras.
Lanço no mar
Minhas cordas e amarras que prendem.
Levanto e bato as asas do sonho,
E parto à sorte e ao vento.
Atravesso as nuvens.
E eis que, num espanto,
Entro num céu vasto de luz.
Só o silêncio
Aqui reina, inunda e seduz.
Surgem flores de todas as cores.
Abro janelas em mim.
Entra uma aragem suave
Que inunda minha alma. 
Meus olhos cerrados voltam a ver.
Passam clarões pela frente.
Que me inundam de rastos.
Tento apanhar pedaços e restos
Como quem colhe flores.
Quando vou a tocar-lhes,
Desfazem-se em fumo,
E se escondem no espaço.
Mas parecem brincar,
Vão a sorrir. 
Corro no encalço,
Encantado e sedento.
Não desisto e tento.
E uma lufada de vento mais forte
Rasga as cortinas
E me mostra um jardim.
Fico suspenso.
Ressoam, cá dentro,
Ondas indizíveis,
Pintadas de tons
De todas as cores
Que me deixam feliz.
E começo a pintar e escrever…


Mafra, 23 de Maio de 2013
7h43m

Que grande estrumeira!

Eles entram-me em bando,
Pelas frestas da minha janela.
Como mosquitos.
Zumbem. Vêm vorazes.
Chupam-me o sangue.
Só me deixam os ossos.

Piores do que larvas.
Piores que serpentes.
Trazem lama nas patas.
Como lagartas.
Minhas escadas ficam sujas
De sangue e terra.
Estou desarmado.
Deixei minha G3,
Nas bolanhas da Guiné,
Tão longe.
Se não correria com eles
Com rajadas de os derreter.
Nem um só ficava.
Assim, só a pontapé.
Já me falta o sangue…
Já pedi socorro.
Ninguém atende.
Só um tornado gigante.
Do Oklahoma.
Que os meta em coma.
Depois o lixo.

Que grande estrumeira
Me restou em casa!...

Mafra, 21 de Maio de 2013
20h49m


Fecunda guerra...

Caem pedras no meu telhado.
Chovem na minha cama
Cinzas negras
Dum vendaval feroz.
Oiço cães na rua.
Vêm esfaimados
Das mansões de luz.
Passam os coveiros
De enxada nas mãos.
Querem enterrar-nos vivos.
Por ordem d’alguém.
Estilhaçaram tudo.
Com vestes de anjos.
Querem o meu sangue
Para o seu festim.
São canibais de fome...
Devoraram os pais.
Não poupam ninguém.
Deixei minha G-3
Nas bolanhas de África.
Minha cartucheira amada.
Agora é que eu a queria
Mesmo à cabeceira.
Nem um só escapava.
Mesmo sem pontaria.
Ia tudo a eito.
Até que, de novo, a paz
Voltasse a nascer...
E minha terra verde
Me visse a morrer.

Ovar, 27 de Maio de 2013
14h53m



Batuque no meu quintal

Armei uma tenda grande
No meu quintal.
De caqui da tropa.
Pequei num tambor
E pus-me a tocar.
Aquele batuque,
Soturno e longo,
Bem à moda da Guiné.
A passarada à volta,
Apardalada,
Foi a primeira.
Debandou em alvoroço.
Por momentos,
Fiquei só eu
E o agudo latir
Dos cães do povoado.
Foi só um pouco.
Um a um,
Depois em grupo,
Foram chegando,
Espavoridos,
Primeiro, os vizinhos,
Depois, de mais longe,
Os mais curiosos.
Ainda assim, eram vizinhos.
Não levou muito.

Uma magna assembleia,
Vinda de longe e perto,
Se prantou a ouvir
O trinado forte
E toques simples
Que não dizem nada...
São só batuque!

Ovar, 28 de Maio de 2013
8h12m

Serei feliz...

Custe o que custar,
Prometi a mim mesmo
Que serei feliz.
Tenho Fé!...
Não há vagas,
Não há rochedos
Que eu não escale
De olhos presos
E o coração livre.
Não preciso de asas.
Basta um balão
E uma chama a arder.
O vento me leva,
Rumo ao infinito.
Basta soltar amarras
E deixar-me ir.
É lá do alto,
Por cima das nuvens
Que se vê o céu.
Como é pequena e simples
Esta terra azul.
Nem os montes mais altos
Me conseguem tocar.
Quanto mais subir
Mais pequenos ficam.
Já não há impérios,
Nem coações ferozes
Que me prendam o leme.
É só neste mundo livre
Que eu quero florir.

Ovar, 28 de Maio de 2013
13h58m

Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes

[ex-alf mil, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66]

[Seleção dos poemas, enviados por email ao longo do mês de maio, e título da antologia: L.G.]

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Nota do editor:
Último poste da série > 27 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11638: Blogpoesia (341): Ainda o paludismo... (Manuel Maia)

domingo, 3 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11183: Blogpoesia (323): É um pássaro, diz ela. De areia. Ferido de morte (Luís Graça)




Lourinhã > Praia de Vale de Frades > 8 de Junho de 2007 > É um pássaro, diz ela. De areia. Ferido de morte.

Foto: © Luís Graça (2007). Todos os direitos reservados.

Para o Idálio Reis e os bravos da CCAÇ 2317 

(Gandembel/Ponte Balana, 1968/69), 
com um Alfa Bravo

É um pássaro.
De areia.
Diz ela.
Ferido de morte.
Uma jurássica ave de arribação
que te veio anunciar a peste.

Peste branca. Preta. Vermelha.
Vírus do Nilo.
Dengue.
Al Qaeda.
O tchador.
A burkha.
A mulher dengosa.
A expulsão do paraíso.
A língua viperina.
O caduceu do Asclépio.
Febre hemorrágica.
Sida.

Pena capital.
Terror nuclear.
Pandemia. Amarela.
Bílis negra.
Os neutrões.
A língua azul dos camelos.
O vírus influenza
dos gansos selvagens.

A danação eterna.
A gripe das gaivotas-ratazanas.
A implosão dos neurónios.
O buraco do ozono.
A febre da carraça.
Malária, paludismo, sezonismo.
A doença de Creutzfeldt-Jakob.
O mal de viver.

O mal de amores.
O morbo gálico.
A vingança das índias
que envenenaram o sangue dos espanhóis.
Os vectores de todas doenças emergentes e reemergentes.
As metástases pancreátricas.
O pão transgénico.

As setas pragas do Egipto.
A implosão do milenar Portugal dos pequeninos.

O triunfo do Goldman Sachs Sachs Sachs,
o homem de ouro
que está acima de Deus
e de todas as suas criaturas.

A estátua jazente de um deus alado
que morreu nas dunas.
Diz ele.
Por fadiga. 

Burn-out
Desidratação.
Imprecação.
Hipotermia.
O irã que largou o poilão
e morreu de infinita tristeza.
Vidrado.
Varado por um tiro de Kalash.

Puro pau sangue exangue.
Triste bissilão dda diáspora,
sem raízes.
Ou então um pobre náufrago da costa de ouro, marfim e prata.
A escassos metros da meta.
À entrada do paraíso.
Da reserva ecológica.
Dos abrigos à prova de canhão sem recuo
da Europa imaginada.
Blindada.

Cega.
Surda.
E muda.

Terá atravessado os campos de golfe magnéticos
que outrora eram verdes.
Diz ela.
Na rota das Canárias e do Saará,
segue sempre em frente
e encontrarás o paraíso.

Do ouro, do incenso e da mirra.
Já.
Ou encontravas.

Miragem,
diz ele.

Aqui jaz.
Agora.
Na areia da praia.
O soldado.
Desconhecido.
Número tal.
Que terá vindo de Gandembel,
sobrevoando Ponte Balana.
Sem senha
nem contra-senha,
nem ração de combate,

nem número mecanográfico.
Nem requisição de transporte.
Nem visto
ou simples carta de chamada
da Pátria.
Nem sequer muda de roupa
para o além.

Nem sequer a última carta da namorada.
Simples soldado raso,

morto por uma roquetada.

O puro terror dos fornilhos,
diz ele.
A cilada.
A emboscada.
As pirogas à deriva.
A guerra elevada à categoria de arte
do predador.
Generalíssimo predador.
As tripas de fora
de um deus-menino.
O pássaro.
De fogo.
Desintegrado.

Oh! Gandembel das morteiradas,
dos abrigos de madeira
onde nós, pobres soldados,
imitamos a toupeira
.
-diz ele.


In memoriam.
A morte, sem legenda,
a asfixia, sem escape,
a exaustão, sem honra,

a luta sem glória nem compaixão,
os nervos de aço esfrangalhados
do soldado-toupeira,
o envenenamento das fontes de água
que corria doce e triste,
o triste rio Balana,
triste como todos os rios da Guiné,
o céu trespassado por setas envenenadas,

as chuvas ácidas,
o napalm,

o jato do povo.
o strela,
o RPG-Sete.

O pássaro de areia, diz ela, 

outra vez.
- Quem vem aí ?
Cala-se o dari no Cantanhez. 

Imobiliza-se o jagudi de Pirada.
Esconde-se a gazela na orla da bolanha de Ponta Coli.

....Para se poder ouvir o tiro tenso do voo
da ave mortal da madrugada.

______________

Nota do editor

Último poste da série > 26 de fevereiro de 2013> Guiné 63/74 - P11160: Blogpoesia (322): Não sou nada, não sou ninguém (Ernesto Duarte)