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domingo, 13 de março de 2022

Guiné 61/74 - P23075: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte XXIX: Ìndia, Cochim, novembro de 2016




Índia >  Cochim > 17 de novembro de 2016 >  O autor e a esposa. junto à catedral-basílica de Santa Cruz

Fotos (e legenda): © António Graça de Abreu (2016) Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Cochim, União Indiana, novembro de 2016

por António Graça de Abreu

[Escritor e docente universitário, sinólogo (especialista em língua, literatura e história da China); natural do Porto, vive em Cascais; autor de mais de 20 títulos, entre eles, "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura" (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp); é membro da nossa Tabanca Grande desde 2007, tem mais de três centenas de referências no blogue; texto enviado em 10 do corrente]


Na boca deste rio tem el-rei nosso senhor uma fortaleza mui formosa, 
derredor da qual está uma grande povoação de portugueses 
e de cristãos naturais da terra 
que se fizeram cristãos 
depois de assentada a nossa fortaleza.

Duarte Barbosa, O Livro de Duarte Barbosa, em 1516



Pois, os façanhudos portugueses de antanho, pouco ajuizados, indomáveis, valentes lusitanos da era de quinhentos, Cabral, Gama, Albuquerque. Hoje, na velha Cochim um cemitério holandês e uma imensidão de túmulos vazios. Da fortaleza do tempo de Afonso de Albuquerque resta um pequeno troço da muralha debruçado sobre o mar.

Entro na igreja de S. Francisco, o primeiro templo católico europeu a ser construído pelos portugueses na Índia, em 1503. Lá dentro, lápides e sepulturas de gente da nossa pequena nobreza e a tumba vazia onde esteve Vasco da Gama falecido em Cochim em 1524. O corpo aqui permaneceu até 1539 quando foi transladado para Portugal, pelo seu filho Estevão da Gama. 

Recentemente, uns brasileiros amantes do futebol passaram por esta igreja e tiveram a original ideia de deixar num expositor ao lado do túmulo uma bandeirinha do Club de Regatas Vasco da Gama, homenagem ao nosso navegador. Algum orgulho num não esquecido, ainda faiscante nome português que até deu o nome a um grande clube de futebol do Rio de Janeiro.

Entro numa escola primária, católica, dirigida por freiras. As salas de aula têm as portas abertas para os miúdos verem os turistas estrangeiros, e vice-versa. Rapazes bem dispostos vestem todos umas camisas com quadrados vermelhos, brancos e pretos e saúdam-nos alegremente num inglês macarrónico.

Adiante, fica a catedral-basílica de Santa Cruz. Edificada por portugueses em 1550, foi reconstruída de raiz em 1888. É por isso, um templo mais moderno, imponente, com mil histórias para contar. Um altar com a Senhora de Fátima.

Avanço para o outro lado da antiga de Cochim, com a sinagoga e o quarteirão judaico. Ainda cruzes de David na fachada de seculares habitações e lojas. Existem judeus em Cochim desde o século XI, e a sinagoga, sóbria, com um conjunto notável de candelabros de vidro e o chão revestido com azulejos chineses, foi construída em 1568. A cidade albergou durante centenas de anos franjas de judeus que fugiam das perseguições na Europa, chegados da Holanda, de Espanha, de Portugal, condenados a um distante exílio definitivo. 

Recordo o nosso médico Garcia da Orta (1501-1568) judeu de Castelo de Vide, que por aqui andou e faleceu em Goa. Dizem-me que com a fundação do estado hebraico, em 1948, a maioria dos judeus de Cochim partiu para Israel e hoje apenas meia dúzia de crentes na religião do ramo plural de Abraão e Isaac vivem neste bairro judaico.

Há uma cidade nova de Cochim do outro lado do braço de mar, que não visitei. É nos quarteirões antigos deste burgo que o meu coração melhor pulsa e o sangue melhor circula.

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sexta-feira, 12 de março de 2021

Guiné 61/74 - P21999: Agenda cultural (769): "Judeus portugueses na América: uma outra diáspora", de Carla Vieira (Lisboa, A Esfera dos Livros, 2021, 344 pp.)


 Carla Vieira: "Judeus portugueses na América: uma outra diáspora" (2021). 


Título: Judeus Portugueses na América: Uma outra diáspora
Autora: Carla Vieira
ISBN: 9789896269036
Ano de edição ou reimpressão: 03-2021
Editor: A Esfera dos Livros
Idioma: Português
Dimensões: 165 x 235 x 20 mm
Encadernação: Capa mole
Páginas: 344
Tipo de Produto: Livro 
Classificação Temática: Livros > Livros em Português > História > História de Portugal

Preço de capa: c. 18,5 €

Fonte: Bertrand Livreiros

Sinopse:

A Liberdade, que desde 1886 recebe de chama na mão quem se aproxima de Manhattan, guarda aos seus pés a memória de uma diáspora com origens no outro lado do Atlântico.
Emma Lazarus, a autora do poema gravado no pedestal da estátua, conseguia recuar a sua ancestralidade até um judeu de Lisboa que, em 1738, chegara naquela mesma cidade de Nova Iorque. Mas a história dos judeus portugueses na América do Norte havia começado bem antes, quando, em meados do século XVII, o navio St. Catrina aportou em Nova Amesterdão, trazendo a bordo 23 refugiados do Recife.

A gesta continuou ao longo das décadas e séculos seguintes, repleta de personagens inolvidáveis. Do rabino patriota ao príncipe mercador, do herói revolucionário ao daguerreotipista do Faroeste, da matriarca que escrevia poemas ao médico que catalogava as maleitas da Virgínia, este livro revisita estas e outras histórias de judeus portugueses que marcaram os primórdios dos Estados Unidos da América.

O presente livro resgata do esquecimento as histórias destes indivíduos cujas vidas espelham a extraordinária epopeia dos judeus portugueses, uma outra «Expansão» da língua e cultura ibéricas pelo mundo, perpetuada por um grupo marginal, perseguido, alvo de ostracismo, mas, ainda assim, capaz de se reinventar, de reconstruir vidas e fortunas, e de manter aceso o sentimento de pertença a uma entidade grupal que atravessava impérios e culturas. 

Lá fora, apelidavam-nos de «a nação portuguesa».Apesar de dignas de nota, estas e outras histórias da diáspora judaico-portuguesa na América do Norte têm sido praticamente votadas ao silêncio pela historiografia portuguesa. Um silêncio ainda mais ensurdecedor quando comparado com a proficuidade com que a literatura norte-americana trata o tema, mote de numerosos livros e artigos publicados em periódicos de referência.

Suprimir uma lacuna? Só em certo ponto. Afinal, esta não é uma obra historiográfica. É um livro de divulgação científica, destinado ao leitor comum, que não abrirá este volume à procura de material e referências para o seu trabalho académico. O rigor nos dados transmitidos e a metodologia aplicada na busca de informação são comuns a um estudo historiográfico, mas não a forma nem os objectivos. 

A intenção é que o leitor se envolva na trama partindo de casos particulares, em registo biográfico, que abrem janelas para um retrato do tempo e das comunidades em que se inserem e dos episódios históricos dos quais participam. 

O aparato crítico inerente a um estudo historiográfico, como as notas referenciais ao longo do texto, foi sacrificado em prol de maior fluidez do texto. Para minorar essa ausência, no final do livro poderá encontrar uma breve nota sobre as fontes e bibliografia consultadas na composição de cada um dos capítulos. E ainda há muito mais por saber.


Autor: Carla Vieira

Carla Vieira é investigadora de pós-doutoramento no CHAM – Centro de Humanidades da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e membro da Cátedra de Estudos Sefarditas Alberto Benveniste. 

Nos últimos anos, tem centrado a sua pesquisa em torno da diáspora sefardita e das relações luso-britânicas no século xviii. É autora de vários artigos científicos publicados em revistas da especialidade portuguesas e internacionais, bem como dos livros 

(i) Uma amarra ao mar e outra à terra. Cristãos-novos no Algarve (1558-1650) (2018), baseado na sua tese de doutoramento, 

(ii) Mendes Benveniste. Uma família nos alvores da Modernidade (2016), em co-autoria com Susana Bastos Mateus, 

e (iii) Olhão, Junho de 1808. O levantamento contra as tropas fracesas através da imprensa e literatura da época (2009), que recebeu o Prémio Nacional de Ensaio Histórico Francisco Fernandes Lopes.

Para mais informações ou contato com a autor:

Victoria Gallardo > victoria.gallardo@esferalibros.com

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Nota do editor:

sábado, 12 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21638: Os nossos seres, saberes e lazeres (428): Em Belmonte, na companhia de Vitorino Nemésio, e não esquecendo Pedro Álvares Cabral (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Setembro de 2020:

Queridos amigos,
Não fosse eu assumidamente um info-excluído e outro galo cantaria. Andámos em digressão na região de Óbidos e vizinhança, primeira etapa, regressámos à base para retempero, e depois rumou-se a Pedrógão Pequeno, subiu-se à Serra da Estrela, com estadia em Manteigas, de novo em Pedrógão Pequeno para ir à Conservatória entregar a casinha a novo proprietário e montar a operação de ofertas e transferências de trastes.
Entrementes, tiraram-se imagens, muitas, para evitar perdas e a mágoa das mesmas, começou-se por Santa Maria das Salzedas, segue-se hoje Belmonte, agora há que preparar outra visita deslumbrante, ao Mosteiro de S. João de Tarouca, e logo de seguida fazer o elogio do burel, era matéria-prima que ignorava completamente a não ser em fatiota assim especificada. Como a roda da fortuna dá imensas guinadas, dei comigo a ler uma revista Panorama dedicada a Pedro Álvares Cabral, nado e criado em Belmonte, filho de alcaide, o nauta que chegou a terras de Vera Cruz, um número datado de setembro de 1968. E deleitei-me com a prosa de Vitorino Nemésio, chegarei a Belmonte numa atmosfera de canícula e uma neta a pedir constantemente água e sombra, visita abreviada, o guia foi Nemésio e a lembrança para esta terra de judiaria endereçou-se a Samuel Schwarz, como uma das nossas pechas nacionais é a ingratidão, bom seria que se desse ampla divulgação à investida cultural deste engenheiro de minas, que aproveitou poliglota para escrever em diferentes idiomas e portanto em diferentes publicações a importância do fenómeno judaico em Portugal.

Um abraço do
Mário


Em Belmonte, na companhia de Vitorino Nemésio, e não esquecendo Pedro Álvares Cabral

Mário Beja Santos

A revista Panorama publicou-se entre 1941 e 1974, editada pelo Secretariado Nacional da Informação, Cultura Popular e Turismo (outrora o SNI), e o número a que fazemos referência data de setembro de 1968, o tema era Pedro Álvares Cabral, sobre ele irão dissertar nesta publicação, entre outros, Damião Peres, Hernâni Cidade e Alberto Iria. Mas o texto, no meu modesto entender, de maior vibração, era assinado por Vitorino Nemésio e intitulava-se “Porto seguro em Belmonte”. Estou a relê-lo em Manteigas, amanhã iremos a Belmonte, passaremos ainda por Portalegre antes de arribar em Pedrógão Pequeno. Estou rendido a esta prosa de Vitorino Nemésio, que bom seria que este professor de Cultura Portuguesa amanhã pudesse estar em Belmonte, eu levava esta publicação e pedia-lhe que ele lesse parágrafos admiráveis como estes a propósito do nauta que aportou às terras de Vera Cruz:
“Filho de alcaide, neto de alcaides – eis o que ele é. Valente como as armas, passa de capitão delas em terra a capitão delas no mar. Nada menos parecido estruturalmente com um castelo da Beira do que um castelo de proa. Mas ele, Pedro Álvares, não ia à testa da Armada porque soubesse de rumos e mexesse em papa-figos, senão porque tinha qualidade, coragem e prestança para chefe de chefes. Três, pelo menos, dos seus capitães tinham folha rezada de coisas que não se sabe que ele fizesse: o grande Bartolomeu Dias, seu irmão Diogo Dias e Nicolau Coelho, expertos de larga pilotagem investidos de grandes missões anteriores”. E, mais adiante, caso pudesse acontecer que se ouvisse a voz um tanto roufenha, sibilante e nasalada por restos de falar terceirense deste Grão-mestre da língua portuguesa, pedia-lhe também que lesse o seguinte parágrafo, mas tinha que ser em terras de Belmonte:
“Fui outro dia a Belmonte, com amigos. Romagem cabralina e, para mim (vergonha de coscuvilheiro da história, descobridor sedentário de tudo e de nada!), o vero descobrimento do caminho pela Serra da Estrela desde a Guarda a Viseu. Covilhã, Penhas da Saúde, as lagoas Escura e Comprida a distância, - os brutos, imponentes topónimos de covões que exprimem a rudeza e frieltura da Serra explicados a mim pelo meu piloto em tudo isto, Fernando Russell Cortez. No alto que fizemos em Belmonte, propositadamente não passei de meia dúzia de notas: eu que não sei nada em pormenor de Cabrais e suas alcaidarias, do seu senhorio de Azurara, das muitas e esmeriladas miunças que hão-de colmatar a grande brecha de olvido aberta na vida gloriosa de Pedro Álvares. Preferi respirar o ar serrano do alto da torre albarrã, o ar beirão que sopra já cerca de Espanha, de onde dizem que não vem bom vento, mas vinha! E, por sinal que nestes tempos de calor, sem bafores. A torre, com o paço velho do alcaide-mor desenhado num arco e numa ou outra encosta, a cachorrada de granito sobranceira à porta sobrepujando o brasão das ‘duas cabras passantes’ que deviam estar ‘sotopostas de vermelho e armadas de negro’, mas onde apenas luzia o amarelo sujo do quartzo e o negro da mica corroída”.

Isto e muito mais passou-me pela cabeça, um puro devaneio, mas foi assim que Nemésio veio à procura do rasto de Pedro Álvares Cabral. É um calor tórrido, quase sufocante que nos recebe nesta encosta oriental da Serra da Estrela, é a chamada visita de médico, uma passagem fugaz por este belo castelo, quem resiste a não ficar especado diante daquela janela esplendorosa e vaguear sem olhar para trás no interior do castelo? Passa-se à Igreja de Santiago, há uma criança de nove anos a insistir que quer uma garrafa de água, entra-se no museu judaico com o firme propósito de ir cumprimentar o legado do Engenheiro de Minas Samuel Schwarz, um polaco que se afeiçoou por Portugal, que se naturalizou português e, entre outras proezas, comprou a Sinagoga de Tomar e a ofereceu ao Estado, não se fazem negócios com monumentos nacionais, acresce tratar-se da mais representativa sinagoga tardo-medieval em território português, examina-se cuidadosamente as vitrinas que o homenageiam, é pena saber-se tão pouco sobre este herói português que em boa hora veio trabalhar nas minas da região.

Mandaria o bom-senso turístico que toda esta visita se prolongasse e motivos não faltam, a vila romana da Quinta da Fórnea, as capelas e a sinagoga, visitar mesmo o Convento de Nossa Senhora da Esperança, com tantas ligações ao credo religioso de Cabral. Nisto se repete o que insistentemente já se escreveu noutros lugares e neste: a viagem nunca acaba, quem acaba são os viajantes ou os seus sonhos idealizados ou por idealizar, volta-se qualquer dia, há legítimo pretexto para regressar, estamos enamorados pelos dias de Manteigas e pelo que se visitou na Serra da Estrela, e pela descoberta do burel, de que mais adiante falaremos, há míngua de textos, daremos vazão às imagens, pois pode dar-se o caso de algumas delas valerem por mil palavras.
Uma imagem imponente do Castelo de Belmonte com janela manuelina
Pormenor do Castelo de Belmonte
Belmonte na Rede de Judiarias de Portugal, com Pelourinho à frente
Escritor Vitorino Nemésio
Igreja de Santiago e Panteão dos Cabrais
Revista Panorama, número de setembro de 1978
Sinalética para o Museu Judaico de Belmonte
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21613: Os nossos seres, saberes e lazeres (427): Na RDA, em fevereiro de 1987 (6) (Mário Beja Santos)

domingo, 16 de agosto de 2020

Guiné 61/74 - P21258: A galeria dos meus heróis (35): Rosemarie e os seus dois maridos... - Parte II (Luís Graça)


Capa do livro de Jules Roy, "La bataille de Dien Bien Phu", 
Paris, Le Livre de Poche, 1972, 538 pp. ( a 1ª edição é de 1963;
 um dos livros  que o Antoine Ben Oliel nunca leu 
mas por onde perpassa a sua sombra. Um dos maiores 
desastres militares da França colonial e dos seus bravos soldados 
da Legião Estrangeira. Juley Roy é um "pied-noir", 
nascido na Argélia em 1907. Morreu em 2000. Foi militar e resistente
na II Guerra Mundial. Deixou o exérito, em 1953,  em protesto 
contra a guerra da Indochina.

 
A galeria dos meus heróis > Rosemarie e os seus dois maridos... 

Parte II 

(Luís Graça) *

(Continuação)

Num outro dia, num dos nossos verões passados, apanhei a Rosemarie particularmente bem disposta, a cantarolar um dos fados da Amália, a sua musa inspiradora. Não reconheci de imediato nem a letra nem a música. 

C'est le fado de Paris.  − respondeu-me ela.

(...) O fado veio a Paris,
Alfama veio a Pigalle
E até o Sena se queixa de pena
Que o Tejo não quis sair de Portugal.

O fado veio a Paris,
Alfama veio a Pigalle
E até Saint-Germain-des-Prés
Já canta o fado em francês! (…)


Foi uma deixa para falarmos do bistrot do Antoine, que tinha nome português, “O Cantinho da Saudade”… lá na petite ville, a sudeste  de Paris, onde ambos viveram… Foi o seu primeiro trabalho, quando chegou a França em 1967: foi empregada de mesa e de balcão no bistrot que se tornou um local de encontro dos imigrantes portugueses da região, mas também de magrebinos, em especial de antigos combatentes da guerra de Argélia, os harkis… E a partir do momento em que começou a haver “fado ao vivo”, passou a ser também frequentado por alguns franceses, como os nossos anfitriões da casa da Lagoa de Óbidos, que já eram conhecidos do Antoine, do tempo da Argélia.

Enquanto tomávamos café numa esplanada junto à praia, eu puxei a conversa para o Antoine… Queria saber como a Rosemarie conhecera o homem que a levou para França, “a salto”, em 1967,  e que iria mais tarde lançá-la na “vida artística”, como cantora de fado, e depois a dormir com ela… na cama.

É uma outra história, longa e algo rocambolesca, com muitos "claros e escuros", e alguns silêncios que eu tive de respeitar.

A Rosemarie já o conhecia de Chaves. “Vagamente”, garantiu-me ela. “Ainda antes de casar”…Já não podia precisar o ano, nem as circunstâncias, de resto “não era muito boa em datas”. Talvez nalgum baile ou nas festas da cidade. Alguém o terá apresentado à Rosemarie, na altura criada de servir, na cidade:

− Eu dava nas vistas… E ele tirou-me logo a 'fotografia'… Disse-mo dez anos mais tarde, quando me levou para França… Tinha vindo da tropa, usava o cabelo à escovinha, ainda falava um português avec accent… Não lhe achei muita piada, para mais numa terra de magalas que passavam a vida a mandar piropos parvos às raparigas, quando vinham à cidade…

A Rosemarie reparou, isso sim, na extensa cicatriz, com quatro ou cinco centímetros, que o Antoine ostentava no rosto, no maxilar direito, no enfiamento da orelha. Parecia exibi-la com orgulho, apesar do disfarce das patilhas. Vim a saber mais tarde que era a sua “medalha de guerra”, ganha com sangue na Indochina, em  março de 1954, logo no início da batalha de Dien Bien Phu.

O Antoine era de nacionalidade francesa, mas de origem portuguesa, por parte do pai. Este era flaviense e tinha integrado o corpo expedicionário português, o CEP, na I Grande Guerra, como 1º cabo ou sargento, a Rosemarie não sabia precisar o posto.

E por lá ficou, em França, o pai do Antoine, tendo-se tornado francês por casamento. Vivia na região da Île de France. Segundo percebi, foi um dos prisioneiros portugueses da batalha de La Lyz, em abril de 1918. No cativeiro contraiu a tuberculose e escapou, com sorte,  à pneumónica de 1918/19. 

Nunca mais regressou à Pátria, e fez um primeiro casamento, logo que foi libertado. Ficou com uma pequena pensão de guerra, mas cedo enviuvou, não tendo filhos. Até ao final dos anos 20 só se sabe que trabalhou como capataz ou encarregado numa grande quinta que fornecia produtos agrícolas e animais para os mercados abastecedores de Paris.

Foi lá que conheceu a segunda mulher, também francesa, mas de origem judia sefardita, com antepassados em Marrocos. Terão sido, muito provavelmente a avaliar pelo apelido, Ben Oliel, judeus expulsos de Portugal no tempo de Dom Manuel I.

A Rosemarie não sabia grandes pormenores sobre a “árvore genealógica” do Antoine, do lado da mãe, embora usasse o seu nom, o apelido de família. O seu companheiro era uma pessoa muito reservada, muito raramente falando do seu passado, e em especial do tempo da tropa e da guerra.

A Rosemarie não chegou a conhecer a família do Antoine, nem sequer a sua segunda mulher, que morrera onze antes de ela chegar a França. O pai morrera ainda mais cedo, em 1939, na véspera da II Guerra Mundial, não tendo por isso sofrido a vergonha, la honte, da derrota militar da França, cujo território ele estava convencido que era “intransponível” devido à mítica “linha Maginot”… Nem conheceu, felizmente para ele, a amargura da ocupação da sua querida França pelo exército nazi. Tinha quarenta e poucos anos, e deixou 4 filhos órfãos, dos quais três rapazes e uma rapariga.

Em junho de 1940, a família, em pânico, como milhões de outros franceses, fugiu para o sul, refugiando-se em Bordéus, onde sobreviveu, algumas semanas, com as suas escassas economias e parcos haveres.

Com a ajuda do cônsul português de Bordéus (de que a Rosemarie, imperdoavelmente, não sabia o nome, Aristides Sousa Mendes, acrescentei-lhe eu), a família Ben Oliel conseguiu obter um visto que lhe permitiu chegar a Vilar Formoso, sã e salva. O Antoine não tinha ainda 10 anos nessa época mas, ao que parece, terá ficado com recordações bem vivas dessa dramática viagem de comboio, de noite, e do alívio da chegada a Portugal, país de que ele irá gostar muito, até ao fim da vida.

Il aimait trop le Portugal! − jurava a Rosemarie.

A família é, entretanto, separada, a mãe fica com os filhos mais novos. O Antoine e outro irmão mais velho vão para um seminário ou orfanato.

−Tempos difíceis! – comentei eu. 

−Viveram da caridade. Tanto quanto sei, e pelo que o Antoine me contava, e que era muito pouco, a mãe, viúva, sem qualquer contacto com a família do marido, que era de Chaves, estava num lar de freiras, no Porto ou arredores, com o apoio discreto de uma organização judaica.

Com 15 anos, o Antoine, já rapagão, voltou a França, depois da Líberation, para ver em que pé estava o assunto da casa da família… A quinta ( e a casa onde viviam, com mais trabalhadores, franceses e estrangeiros) fora requisitada pelas autoridades militares alemãs, e havia notícias de que tinha sido  alvo de ações de sabotagem por parte da Resistência francesa ou bombardeada pelos Aliados.

Entretanto, o Antoine encantara-se por Chaves onde descobriu, com a ajuda dos padres, alguns parentes da família do pai, incluindo um tio, que era guarda fiscal, e alguns primos, que o ajudaram a ele bem como à mãe e aos irmãos. Ia lá passar férias enquanto esteve no seminário. 

Mas em 1944 terá sido expulso pelos padres por razões que a Rosemarie nunca soube. Desconfiava, isso sim,  que terida sido pelo seu comportamento truculento e até violento, enfim, pela sua maneira de ser e de falar, que “não ficava bem num futuro representante de Deus na terra”.

Fixou-se em Chaves, "deu em malandro" (sic). Já perto do final da guerra, meteu-se numa "troupe" que fazia contrabando fronteiriço, com um dos primos, filho do tio da Guarda Fiscal. Pequeno contrabando, como café e cigarros...

Mas,  logo em finais de 1946, o Antoine  voltou a Chaves e às atividades lucrativas do contrabando. Aprendeu a conhecer aquelas serras e o caminhos dos contrabandistas. Passados uns meses, teve que fugir para França quando um dos elementos do bando foi atingido, na Galiza, pela Guardia Civil. O tio aconselhou-o a ficar por lá uns tempos.

A família Ben Oliel conseguiu reaver a casa que tinha, a sudeste de Paris. Os miúdos voltaram. E por lá cresceram e casaram. A Rosamarie só conhecia os mais novos. O mais velho já tinha, entretanto, emigrado para Buenos Aires e por lá ficou, sem nunca ter regressado a França ou a Portugal. Nem sequer ter dado notícias.

Em França, a vida da família melhorou um pouco com o apoio da Sécurité Sociale, enquanto o país ia recuperando do pesadelo da guerra, da ocupação e da resistência.

Os “30 gloriosos”, o “milagre económico francês”, fizeram também esquecer os conflitos militares nos territoires d’ outre-mer em que a IV República estave mergulhada, a começar pela sangrenta guerra da Indochina e depois a da Argélia.

Sem paradeiro certo, vivendo de biscatagem, o Antoine não resistiu a uma campanha de recrutamento da Legião Estrangeira, fazendo por volta de 1950 um contrato de seis anos. Era menos uma boca a alimentar lá em casa. Por outro lado, tinha frequentes conflitos com a mãe e os irmãos mais novos.

A Rosemarie sabia pouco deste período obscuro da vida do Antoine e não conseguia sequer localizar no mapa a Indochine … e muito menos pronunciar Dien Bien Phu. Desculpava-se que a geografia também não era o seu forte. E quando chegou a França em 1967, no tempo do De Gaulle, já não se falava dessas guerras,

Por outro lado, dizia-me que ele tinha sido paraquedista, o que não correspondia à verdade. Os nossos anfitriões da casa da Lagoa de Óbidos é que me deram informação adicional, mais detalhada e precisa, sobre o passado militar do nosso homem.

Nesse aspeto eles conheciam o Antoine, légionnaire, muito melhor do que a Rosemarie. E confirmaram-me que o Antoine deve ter-se alistado na Legião Estrangeira (Francesa), aos 19 anos, por volta de 1950. Pertencia não aos paraquedistas mas a um regimento de infantaria, um dos que foram para  Dien Bien Phu e lá seriam massacrados. De resto, o Antoine não gostava de voar, tinham vertigens, pelo que nunca teria passado sequer nos testes para paraquedista.

Em finais de 1953 estava na Indochina,  para logo, passados três meses,  em 13 ou 14 de março de 1954  ser ferido gravemente por um estilhaço de obus que lhe desfigurou o rosto.  Teve ainda a sorte de poder ser evacuado e sujeito a uma cirurgia reconstrutiva.

Menos de dois meses, em 7 de maio de 1954, Dien Bien Phu cairia nas mãos dos viet-minh do general Giap, e muitos camaradas do Antoine, de várias nacionalidades, perderam lá a vida ou foram feitos prisioneiros. E muitos também não regressariam do doloroso cativeiro.

−Escapou da morte quase certa, em Dien Bien Phu ou no cativeiro – comentaram os nossos anfitriões, em tom lacónico.

Um ano e tal  depois da convalescença ainda passou pela Algérie. Conseguiu prorrogar o seu contrato por mais uns tempos e ficou por Argel. Aí, sim, terá estado numa base aérea, numa unidade de apoio logístico aos paraquedistas, antes de completar os seis anos de contrato com a Legião Estrangeira.

A doença, e a subsequente morte da mãe, obrigou-o a apressar o regresso a casa, em 1956. E foi, talvez um ano depois, em 1957, tinha a Rosemarie vinte anos, que ele a  conheceu em Chaves.

Os nossos amigos também eram repatriés ou retornados (pieds-noirs, era a expressão injuriosa que se usava em França para designar a população europeia, ou de origem europeia,  que fora obrigada a deixar a Argélia, depois da independência). Professores num colé
gio privado, eram de origem judia, como muitas das profissões liberais a viver e a trabalhar naquela antiga colónia francesa do Magrebe, a “joia da coroa” do império colonial francês: médicos, farmacêuticos, advogados, notários,  professores, agricultires, empresários, etc. A maior parte, de resto, eram já nascidos na Argélia,  há várias gerações. 

Os nossos amigos foram viver para a região da Ilha de França,  logo em 1962, tendo vindo na leva dos cerca de 800 mil repatriés… Por volta de 1966 começaram a frequentar o bistrot do Antoine, de quem eram vizinhos, mas ele nunca ou raramente abria o jogo sobre os seus tempos de legionário. Gostava, isso sim, de falar da Argélia e de Portugal… mas nunca da Indochina. Eram as duas coisas que os aproximavam. De resto, não falavam de política. Nenhum deles gostava de De Gaulle, mas por razões diferentes, que eu também não quis esmiuçar.

O bistrot do Antoine, na petite ville de A…, no Val-de-Marne, era muito popular nesse tempo, sendo o centro da vida social dos imigrantes portugueses que chegavam a França mas também de alguns magrebinos nascidos em França ou com muitos anos de França, incluindo ex-combatentes da guerra da Argélia…

Antigos camaradas de armas do Antoine, que viviam na banlieue  de Paris, também apareciam de vez em quando para saluer les copains, beber um copo em memória dos “bons velhos tempos” e fazer uma jogatana de cartas, refugiando-se numa das “salas reservadas” do estabelecimento.

A Rosemarie tinha uma presença discreta mas assídua no bistrot do Antoine, substituindo-o, nas funções de gerência, sempre que ele se ausentava por mais de um dia. Em boa verdade, não gostava dos amigos do Antoine, do tempo da tropa e da guerra. Sempre os achou "más companhias" do seu patrão. E, quando ele não estava, "apalpalvam-lhe o rabo, os salauds, os sacanas".

A pouco e pouco o Antoine começou a ser conhecido como o “padrinho” dos portugueses da região e ninguém sabia ao certo desde quando e como é que ele começara a sua atividade de “passador”. Levava, no mínimo,  dez contos por cabeça, para atravessar a fronteira. Por vezes a crédito, mas sempre com juros. Começou a trazer muita gente do Norte, "do rio Minho ao Mondego"... 

Respeitavam-no, para não dizer que o temiam. Aos caloteiros não estava com meias medidas: das ameaças passava aos atos e, não raramente, “andava à porrada”. Muitos foram viver para o bidonville de Champigny, e ele procurava ajudá-los a arranjar emprego e a “tratar dos papéis”. Havia redes de recrutadores de mão de obra ilegal, para o bâtiment, os chantiers, a construção e obras públicas. Enfim, tudo isto custava dinheiro, pelo que alguns desgraçados passavam um ano a trabalhar para pagar as dívidas do “salto”… 

De estatura média mas com um “tronco de touro bravo”, era exímio no jogo de pés e cabeça. A cabeçada dele chegou a mandar alguns para o hospital. Não usava armas,  a não ser em “casos extremos”.

Foi sempre bem sucedido nas suas “viagens de passador”, sem percalços de maior. Conseguiu arranjar passaporte português, já que tinha dupla nacionalidade, obtida em finais de 50. Ao que se suspeita, mais do que se sabe, tinha alguns bons contactos, na PIDE,  na Guarda Fiscal, na GNR, na Guardia Civil e na Gendarmerie, o que facilitava as suas deslocações e a passagem da “carga” nas duas fronteiras.

(Continua)

© Luís Graça (202o). Revisáo; 5/8/2023
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 11 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21246: A galeria dos meus heróis (34): Rosemarie e os seus dois maridos... - Parte I (Luís Graça)

(...) Conheci a Madame Ben Oliel, como ela gostava de ser tratada, numa festa do 14 Juillet, o Dia Nacional da França. Ben Oliel era o apelido  materno do seu segundo marido, de origem portuguesa e judia sefardita, que esteve nas guerras da Indochina e da Argélio,  como légionnaire

Maria Rosa era o seu nome de batismo, de que trocou a ordem e afrancesou: Rosemarie, soava-lhe muito melhor,  fazia-lhe oublier (esquecer) e até talvez cacher (esconder) a sua origem portuguesa e a sua condição de imigrante em França. (...)

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20690: Tabanca da Diáspora Lusófona (7): A história de mil anos de Portugal explicada numa hora à comunidade eslovena em Nova Iorque (João Crisóstomo) - IV (e última) Parte


Fonte: Cortesia de Luso-Americano, 19 de janeiro de 2018


[Foto à direita: O nosso camarada e amigo 

João Crisóstomo,luso-americano, natural de Torres Vedras, conhecido ativista de causas que muito dizem aos portugueses: Foz Côa, Timor Leste, Aristides Sousa Mendes... Régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, foi alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): vive desde 1975 em Nova Iorque; é casado, desde 2013, com a nossa amiga eslovena, Vilma Kracun] 





Conversa sobre Portugal: 19 de janeiro de 2020, Comunidade eslovena em Nova Iorque

por João Crisóstomo


[ O autor tinha preparado um guião original, já com cortes, para uma conversa de meia hora; como o tempo disponível acabou, entretanto, por ser maior - cerca de uma hora - ele passou a ter liberdade para introduzir notas e comentários extra; a versão original está disponível em inglês, no final deste poste (*); o editor Luís Graça fez a tradução e adaptação livre para o blogue, com a devida autorização do autor ](**)

(Continuação)


De alguma maneira esta saída dos judeus de Portugal veio a ter muita relevância na América: sem estar com grandes detalhes permito-me enumerar e salientar alguns factos.



Os primeiros judeus que chegaram aos Estados Unidos vieram do Brasil, depois de, por razões já mencionadas, terem saído de Portugal. A eles se devem a criação da primeira comunidade judaica em Nova Iorque; a construção da primeira sinagoga em Newport, Rhode Island (a "Touro Synagogue"); e logo a seguir uma outra sinagoga em Nova Iorque, a primeira nesta cidade  ainda hoje chamada "The Spanish and Portuguese Synagogue" — onde durante muitos anos os serviços eram em ladino, como hoje podemos ver nos documentos originais. 

Em ambas as sinagogas a maior parte dos nomes daqueles que as construíram, e assim gravados em pedra, são bem portugueses.


A própria "Estátua da Liberdade” em frente a Nova Iorque tem uma vertente portuguesa: o conhecido poema "Deixai vir a mim os desterrados", que se pode ler na base desta estatua, é da autoria de Emma Lazarus [1849-1887], ainda de ascendência portuguesa; os seus antepassados pertenceram ao grupo daqueles saídos de Portugal depois da instituição da Inquisição. 



E, a título de curiosidade, o mesmo se pode dizer do maior autor de marchas militares americanas, John Philip de Sousa [1854-1932], de pais açoreanos, cujas marchas ouvimos sempre, queiramos ou não, no dia da Idependência e outros momentos solenes e assim pertinentes.



E já que estou mencionando pessoas e factos/acontecimentos relevantes, não posso deixar de mencionar alguns: Peter Francisco [1760-1831],   o conhecido gigante português, guarda-costas de George Washington, considerado por muitos o mais famoso do “Continental Army” e possivelmente até de toda a história militar dos Estados Unidos,  assim reconhecido num selo postal.

E porque não mencionar também a Pedra de Dighton, onde estão gravados em pedra os nomes de Corte Real, o escudo real português e outros testemunhos de que, antes dos ingleses chegarem a terras americanas,  havia muito tempo já que os portugueses aqui tinham chegado. E quem fez esta descoberta escrita na pedra não foi nenhum português, mas antes um professor americano, em 1920, Edmund Burke Delabarre, professor na Universidade de Brown em Providence, Rhode Island. Quem quiser ver a pedra e o seu pequeno museu, estes podem ser visitados a qualquer altura. 

Após a libertação da Espanha [, em  1 de dezembro de 1640], Portugal conseguiu recuperar a maioria das colónias invadidas durante a ocupação espanhola. E um ressurgimento se seguiu. Foi no Brasil, 150 anos antes do mesmo acontecer nos EUA, que ocorreu a primeira corrida do ouro nas Américas. Ouro, diamantes, tabaco e outras riquezas começaram a afluir a Lisboa novamente. 

E Portugal tornou-se novamente um país rico. Riquezas do Brasil foram usadas para construir uma enorme Basílica, Palácio e Convento em Mafra, perto de Lisboa, que hoje possui o maior corredor de qualquer palácio da Europa, incluindo Versalhes; uma grande e nova grande casa de ópera foi construída; e outros monumentos. 

Mas essas riquezas não foram usadas em proveito  do povo, mas apenas em benefício de alguns; e enquanto o Vaticano recebia uma luxuosa embaixada portuguesa, as condições de trabalho em Portugal eram muito próximas da escravidão. O fato é que, embora nas mãos de poucos, havia muita riqueza em Portugal. 

Mas em 1755 uma tragédia natural atingiu Portugal: um terramoto terrível, seguido por um tsunami e incêndios destruíram a maioria dos edifícios em Lisboa, sobretudo na Baixa, e outras cidades e povoações do litoral. Apenas em Lisboa houve cerca de 75.000  mortos (, as estimativas variam, conforme as fontes, entre 10 mil e 90 mil). 


A  reconstrução da cidade, sob a liderança do Marquês de Pombal, foi e ainda hoje é objeto de admiração para quem visita Lisboa. Mas logo outro revés ocorreu com três invasões sucessivas pelas forças francesas, quando Napoleão tentou levar Portugal à submissão como primeiro passo na sua luta com a Inglaterra. O rei português e sua corte conseguiram escapar para o Brasil, em 1807, em navios fornecidos pelos britânicos antes da chegada dos franceses, mas estes, ao chegarem, ocuparam Portugal por algum tempo, até serem forçados a recuar. Napoleão enviou imediatamente uma segunda força, que teve o mesmo destino da primeira. E uma terceira invasão se seguiu.

Foi em Torres Vedras, minha cidade natal, que as forças portuguesas e britânicas sob o comando de Arthur Wellesley,  futuro Duque de Wellington [1769-1852], deram o golpe final às forças francesas em Portugal, impedindo-as de ocupar Lisboa novamente e forçando-as a recuar pela terceira vez para não mais voltarem. Mas o que havia em Portugal de qualquer valor durante essas três invasões foi propositadamente destruído ou levado para a França. Recentemente, alguns mapas da costa africana e registos do desenho e construção de navios, roubados pelos invasores franceses, foram encontrados no departamento de Arquivos de Gironde, na França. 

Em 5 de outubro de 1910, os portugueses optaram por uma república, em vez de um sistema de governo de monarquia constitucional. Mas durante muito tempo Portugal foi um país muito pobre. 

Em 1932, Salazar foi escolhido pelo presidente para ser o novo primeiro-ministro. Ele conseguiu manter Portugal neutral  na Segunda Guerra Mundial e, por meio de medidas rigorosas e austeras, trouxe alguma estabilidade económica ao país. Mas enquanto as outras nações que haviam saído da guerra completamente destruídas, estavam no caminho de uma notável recuperação económica, investindo em educação e infra-estruturas, Salazar [1889-1970] não fez nada disso, mantendo o ouro que acumulou e economizou em reserva,  por razões que ninguém entendeu. 

Ele figurava entre os líderes autoritários mais antigos do mundo, mas quando morreu [, em 1970, depois de ter sido sustituído em 1968, sem nunca o saber, por doença grave], o seu regime [, o Estado Novo] conseguiu sobreviver, mantendo Portugal com o rendimento mais baixo da Europa Ocidental.

Por outro lado,enquanto outras nações estavam prontas para conceder autonomia e independência às suas colónias, ele resistiu aos movimentos de libertação nas colónias portuguesas (, que ele insistia em chamar de "províncias ultramarinas" ou extensões de Portugal), à custa de milhares de vidas, e perda de riqueza, numa longa e inútil guerra, que se prolongou de 1961 a 1974(, a guerra colonial).

Muito mais podia e devia ser dito. Mas não o posso fazer neste curto espaço de tempo. Não quero porém deixar de fazer uma menção ao papel de Portugal no que respeita aos refugiados durante a II Guerra Mundial.

Como mencionei atrás, Portugal conseguiu conservar uma posição neutral neste conflito. A sua posição geográfica porém fez dele o destino ideal como porto de saída para o resto do mundo. E Salazar por razões que a razão desconhece - por um lado tínhamos uma ligação de aliança com a Inglaterra, mas ao mesmo tempo Salazar era um admirador de Mussolini e de Hitler, mais do primeiro do que do segundo, é certo —, decidiu neste assunto alinhar-se com a maioria das nações, dificultando e mesmo proibindo, na maioria dos casos, e salvo raras excepções, a entrada de refugiados, especialmente os de origem judia, em Portugal.

E foi neste momento em que apareceu o grande humanista Aristides de Sousa Mendes [1885 - 1954]. Alegando que o dever de sua consciência cristã se sobrepunha a qualquer outra consideração, não hesitou em desobedecer às directivas directas do governo português e deu milhares de vistos a todos os refugiados que o procuraram,quando era cônsul em Bordéus, em 1940. O seu gesto corajoso, foi o primeiro e o maior a nível individual de todas as operações de resgate que se seguiram.


Muitos outros diplomatas, e até pessoas individuais, seguiram o seu exemplo depois em actos de corajosos resgates. É o seu pioneirismo que quero realçar, pois foi o facto de isto ter acontecido logo no início da guerra que forçou a abertura das portas que Salazar não teve mais coragem de fechar. Por estas portas passaram centenas de milhares de refugiados, muitos dos quais teriam perecido em Auschwitz e noutros campos de concentração, se não fora a coragem heróica deste português.


Como devem saber, Salazar (que,  acabada a guerra vangloriou de ter salvo muitos refugiados, dizendo ter pena de não ter feito muito mais), nunca perdoou a Aristides o que ele considerou um acto de desobediência, e Aristides veio a morrer como um pobre num auspício para pobres em Lisboa. 



Depois da morte de Salazar,    os portugueses aperceberam-se de que se impunha um novo rumo político para o país. E cedo ocorreu uma revolução em Lisboa [, em 25 de Abril de 1974]. Mas,  talvez porque cansados de guerra e de lutas, esta foi uma revolução quase pacífica , se assim se pode dizer, pois que não houve mortes, e viria a ser chamada "revolução dos cravos” pelas flores com que todas as armas eram "coroadas" por civis e depois mesmo pelos militares.



Foi uma recuperação longa e lenta desde 1974, quando um novo governo democrático foi instalado em Lisboa. Hoje, Portugal, conhecido por sua hospitalidade, vida simples e ambiente seguro, é hoje considerado um bom lugar para se viver e visitar. Eu, pelo menos, espero que continue assim. 

Obrigado! João Crisóstomo
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Bibliografia que consultei;


1. O livro de onde faço várias referências é o livro:” The First Global Village"- How Portugal changed the world , da autoria do escritor Inglês Martin Page, 12a edição. " Casa das Letras" ( comprei este aí em Portugal).



Outros livros que li e que “consultei" agora:


2. "Encompassing the World” Portugal and the World in the 16th and 17th Centuries. Um daqueles livros grandes em todo o sentido, de se lhe "tirar o chapéu, pelo seu conteúdo fabuloso em todos os aspectos. Publicaçao da “Arthur M.Sacckler Gallery( da Smithsonian Institute em Washington)

3. Lisbon - War in the shadow of the city of light, 1939-1945 da autoria de Neil Lochery

4. The First World Sea Power—1139-1521; volume 1o. Autor: Saturnino Monteiro

5. 1494 How a Family Feud in Medieval Spain Divided the World in Half . Autor:Stephen R. Bown ( St Martins Press, New York)

6. 1808 (5a edição) Autor: Laurentino Gomes ( jornalista brasileiro). Editora Planeta. Brasil

7. Os Pioneiros Portugueses e a Pedra de Dighton, do Dr. Manuel Luciano da Silva

8. Magellan autor ; Stefan Zweig,( version française) par Alzir Hella; Bernard Grasset- Paris

Jornais e revistas:

1. "Luso-Americano” uma série de artigos sobre esta exposição, da autoria do jornalista /escritor/editor principal do" Luso Americano". Publicadas neste jornal de 27 de Abri29 de Junho de 2007.

2. New York Times, Friday, June 29 2007

3. Washington Post, June 24 2007 e July 20 2007

4. "Portuguese in the making of America” da autoria de James H.Gill

5. Military History, July/August 2006, artigo do historiador Michael D. Hull, capa e artigo (páginas 24 a 31).

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Notas do editor:

(*) January 19, 2020; Slovenian community:Talk on Portugal…



(...) After the liberation from Spain Portugal was able to recover most of the colonies which had been invaded during the Spanish occupation. And a recovery followed. It was in Brasil, 150 years before the same would happen in US, that took place the first gold-rush in the Americas.



Gold, diamonds, tobacco and other riches started to flow to Lisbon again. And Portugal became again a wealthy country. Riches from Brasil were used to build a massive Basilica in Mafra, near Lisbon, which today boast the longest corridor of any palace in Europe, including Versailles; a great grand new opera house was built; and other. But these riches were not used for the people but just for a few; and while the Vatican was recipient of this Portuguese royal generosity, working conditions in Portugal were very close to slavery.

The fact is that, though in the hands of a few, there was much wealth in Portugal. But In 1755 a natural tragedy struck Portugal : a terrible earthquake, followed by a tsunami and fires destroyed most buildings in Lisbon, Porto and other places. Just in Lisbon there were 75,000 people dead.

The following reconstruction of the City was and is still today object of admiration for anyone who visits Lisbon. But soon another setback occurred with three successive invasions by French forces, as Napoleon tried to bring Portugal into submission as a first step in his fight with England. The Portuguese king and his court were able to escape to Brasil on ships provided by the British before the French arrived, but upon arrival they occupied Portugal for some time, until they were forced to retreat. Immediately Napoleon sent a second force, which had the same fate of the first one. And a third one followed.

It was in Torres Vedras my hometown that the Portuguese and British forces under the command of the future Duque of Wellington gave the final blow to the French forces in Portugal, preventing them from occupying Lisbon again and forcing them to retreat a third time not to come back any more.

But what there was in Portugal of any value during these three invasions was either purposely destroyed or taken to France. Just recently some maps of the African coast and records of the design and construction of ships which were stolen by the French invaders were found in the Archives department of Gironde in France.

In 1910 the Portuguese opted for a republic, instead of a monarchy system of government. But for a long while Portugal was a very poor country.

In 1932 Salazar was chosen by the President to be the new Prime Minister. He was able to save Portugal from entering WW II and by means of strict and austere measures brought some economic stability to Portugal. But while other nations which had come out of the war completely destroyed were in the road to a healthy recovery by investing in education and infrastructures, Salazar did nothing of this, keeping the much gold he had amassed and saved in storage for reasons nobody understood. 

He is among the the longest authoritarian leaders , but when he died, and for some years afterwards as the same regime continued, Portugal had the poorest income in Western Europe. While other nations were ready to grant autonomy and independence to their colonies, he resisted the liberation movements in Portuguese colonies, which he insisted in calling extensions of Portugal, at the cost of thousands of lives, and the loss of all he had amassed in a futile war that nobody understood.

It has been a long and slow recovery since 1974 when a new democratic government was installed in Lisbon. Portugal of today, well known for its people hospitality, simple living and safe environment, is considered now a good place to live and visit.

I for one hope it will continue so. Thank you!




Postes anteriores:






segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20679: Tabanca da Diáspora Lusófona (7): A história de mil anos de Portugal explicada numa hora à comunidade eslovena em Nova Iorque (João Crisóstomo) - Parte III


O nosso camarada e amigo  João Crisóstomo, luso-americano, conhecido ativista de causas que muito dizem aos portugueses: Foz Côa, Timor Leste, Aristides Sousa Mendes...  Régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, foi alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): vive desde 1975 em Nova Iorque; é casado, desde 2013, com a nossa amiga eslovena, Vilma Kracun:

Conversa sobre Portugal: 19 de janeiro de 2020, Comunidade eslovena em Nova Iorque

por João Crisóstomo


[ O autor tinha preparado um guião original, já com cortes, para uma comversa de meia hora (*); como o tempo disponível acabou, entretanto,  por ser maior - cerca de uma hora - ele passou a ter liberdade  para introduzir notas e comentários extra;   a versão original está disponível em inglês, no final deste poste; o editor Luís Graça fez a tradução e adaptação livre para o blogue, com a devida autorização do autor](**)


(...) Logo, de Lisboa à Índia, China e Japão, os navios portugueses,  sob o comando de Afonso de Albuquerque,  haviam se tornado os donos dos mares. Com a conquista de Malaca, porta de entrada para todo o Extremo Oriente, Portugal teve o controle completo de toda a região. 


Embora sejam atribuídos aos ingleses os primeiros povoamentos da Austrália, há um crescente consenso entre os historiadores australianos de que os portugueses de Malaca foram os primeiros europeus que chegaram lá.




Japão > Arte nambam > Séc. XVII > Uma "carraca": obra atribuída a Kano Naizen, Kobe City Museum.
Fonte: Wikipedia (com a devida vénia...)

namban | s. m. pl.

namban
(palavra japonesa)

substantivo masculino plural

Palavra japonesa que significa bárbaros do Sul ou portugueses e geralmente empregada, nos séculos XVI e XVII, para designar obras num estilo inteiramente novo, de influência ocidental, quer na pintura, quer no baixo-relevo, de entre os quais se salientam os namban-byobu (= biombos dos bárbaros do Sul), que perpetuaram a chegada dos barcos portugueses ao Japão.

"namban", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020, https://dicionario.priberam.org/namban [consultado em 23-02-2020].

Os portugueses foram os primeiros ocidentais a chegar ao Japão, onde, entre outras coisas, mostraram e ensinaram  aos japoneses como construir em pedra, e introduziram a fabricação de armas de fogo que por sua vez levaria à unificação do Japão. Mais tarde, um grande número de colonos portugueses fundou e construiu a cidade de Nagasaki (P 146). 

Na China "os portugueses já conselheiros do imperador da China antes que Marco Polo alegasse ter chegado lá". (P.19) 


E, ao contrário de Hong Kong, que foi obtida pelos ingleses pela força, a cidade de Macau foi um presente dado aos Portugueses pelo imperador da China,  por terem, a seu pedido, corrido com os piratas que infestvan os mares da China. 


Como vocês se devem lembrar, Macau foi a última colónia de um país ocidental a ser restituída, e isso foi feito a pedido dos portugueses que tomaram a iniciativa, pois a China não mostrava nenhum interesse em recuperá-la.

Tudo isso parece muito difícil de entender, uma vez que Portugal tinha uma população de apenas 1,5 milhão de pessoas (em comparação com os 12 milhões de italianos, 6,0 na Espanha e 3,0 na Inglaterra); mesmo assim, Lisboa se tornou a nova capital mundial da riqueza no mundo ocidental, "a cidade mais fabulosamente rica da Europa "(p. 107/8).

Foi nesse momento da história, em 1494, que ocorreu o Tratado de Tordesilhas. O objetivo era resolver a confusão criada por Cristovão Colombo depois da descoberta  da América, que Colombo pensava ser a Índia. 


O Papa Alexandre VI criou então uma linha imaginária dividindo o mundo em duas  partes: quaisquer novas terras descobertas a leste desta linha passavam a ficar sob a posse de Portugal;  e as terras a oeste dessa linha seriam pertença da Espanha. No final do século XVI, Espanha e Portugal uniram-se [, a chamada monarquia dual: o último rei de Portugal [ da II dinastia, o cardeal dom Henrique, 1543-1580, tio-neto de Dom Sebastião,] morreu sem herdeiro e o "parente mais próximo" foi o rei da Espanha[, Filipe II, Filipe I de Portugal,III dinastia]. 


Os primeiros anos pareciam bons, mas logo essa união provou ser um desastre para Portugal. As colónias de Portugal,  agora sob o domínio espanhol,   ficaram sem proteção,  e sujeitas a ataques e invasões dos ingleses e holandeses, inimigos da Espanha.


 A maioria dos navios portugueses (embora sem suas tripulações originais, pois os espanhóis, por um bom motivo, não podiam confiar nos portugueses para combater os ingleses) foram integrados na gigantesca 'Armada invencível'  que atacou a Inglaterra e foi completamente destroçada. 



Os nobres portugueses começaram a perder poder à medida os cargos governamentais começaram a ser ocupados por espanhóis.

Quando os portugueses perceberam que o rei da Espanha pretendia fazer de Portugal apenas uma província   de Espanha, eles se revoltaram-se, expulsaram os representantes dos espanhóis,  e proclamaram um novo rei , [, Dom João IV, em 1 de dezembro de 1640].

Durante séculos, Portugal foi um refúgio para os judeus, a única nação europeia  que os não  perseguia. Em algumas partes do mundo, Portugal era até considerado um Estado judeu. Mas as coisas mudaram com a introdução da Inquisição na Espanha e logo a Inquisição foi introduzida em Portugal, forçando a maioria dos judeus a sair. O Império Otomano,  a Holanda e as cidades-estado italianas
 foram os principais locais de refúgio. Esses países beneficiaram dessa fuga. Portugal, por sua vez, perdeu muito com a partida dos judeus.


(Continua)(***)

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Bibliografia que consultei;

1. O livro de onde faço várias referências é o livro:” The First Global Village"- How Portugal changed the world , da autoria do escritor Inglês Martin Page, 12a edição. " Casa das Letras" ( comprei este aí em Portugal).

Outros livros que li e que “consultei" agora:

2. "Encompassing the World” Portugal and the World in the 16th and 17th Centuries. Um daqueles livros grandes em todo o sentido, de se lhe "tirar o chapéu, pelo seu conteúdo fabuloso em todos os aspectos. Publicaçao da “Arthur M.Sacckler Gallery( da Smithsonian Institute em Washington)

3. Lisbon - War in the shadow of the city of light, 1939-1945 da autoria de Neil Lochery

4. The First World Sea Power—1139-1521; volume 1o. Autor: Saturnino Monteiro

5. 1494 How a Family Feud in Medieval Spain Divided the World in Half . Autor:Stephen R. Bown ( St Martins Press, New York)

6. 1808 (5a edição) Autor: Laurentino Gomes ( jornalista brasileiro). Editora Planeta. Brasil

7. Os Pioneiros Portugueses e a Pedra de Dighton, do Dr. Manuel Luciano da Silva

8. Magellan autor ; Stefan Zweig,( version française) par Alzir Hella; Bernard Grasset- Paris

Jornais e revistas:

1. “ Luso-Americano” uma série de artigos sobre esta exposição, da autoria do jornalista /escritor/editor principal do" Luso Americano" . Publicadas neste jornal de 27 de Abri29 de Junho de 2007.

2. New York Times, Friday, June 29 2007

3. Washington Post, June 24 2007 e July 20 2007

4. "Portuguese in the making of America” da autoria de James H.Gill

5. Military History, July/August 2006, artigo do historiador Michael D. Hull, capa e artigo (páginas 24 a 31).

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Notas do editor:

(*) Vd. postes anteriores:


(**) Primeira versão do texto, em inglês:

January 19, 2020; Slovenian community :Talk on Portugal…
 

(...) Soon, from Lisbon to India, China and Japan the Portuguese ships under Afonso de Albuquerque had become the masters of the seas. With the conquest of Malaca, gateway to all the Far East, Portugal had complete control of the whole region.

Though it is attributed to the English the first settlements in Australia, "there is a growing consensus among Australian Historians that it were Portuguese from Malaca the first Europeans who arrived there".

The Portuguese were the first westerners to reach Japan where among other things they showed and taught the Japanese how to build in stone, and introduced the manufacturing of guns which in turn would lead to the unification of Japan. Latter on Portuguese settlers in large numbers founded and built the city of Nagasaki (P 146).

In China "Portuguese were advisors to the Emperor of China before Marco Polo claimed to have reached there." (P.19)

And, unlike Hong Kong, which was claimed by the English by force, the city of Macau was a gift to the Portuguese by the Emperor of China for having at his request, get rid of the Pirates who plagued the China Seas. As you will remember Macau was the last official Western colony to be given back, and it was done so at the request of the Portuguese who took the initiative, as China was not showing any interest in getting it back.

All this seems almost difficult to grasp as Portugal at this time had a population of only 1.5 million people, ( comparing with Italy's 12 million, 6.0 in Spain and 3.0 in England; Even so, Lisbon became the western world new capital of wealth, "the most fabulously rich city in Europe"( P. 107/8).

It was at this moment in history, 1494, that took place the Treaty of Tordesilhas. It was meant to solve the confusion created by Cristovão Colombo after he discovered America, which Colombo thought to be India. Pope Alexander VI created an imaginary line dividing the world in two, and awarded any new lands discovered to the east of this line to Portugal and lands to the west of this line to Spain.

By the end of the 16th century Spain and Portugal became united: the king of Portugal died with no heir and the "next of kin" was the king of Spain. The first years seemed OK but soon this union proved to be a disaster for Portugal.

Portugal colonies who had became under Spanish rule lost any protection when these were subject to invasions by the English and the Dutch, enemies of Spain. Most of the Portuguese ships ( without its original crews though , for the Spanish with good reason could not trust the Portuguese to fight the English) were included in the vast 'invincible Armada" which attacked England and was completely destroyed.

The Portuguese noblemen started to lose power as government posts started to be filled by Spaniards. So when the Portuguese realized that the King of Spain was intended on making Portugal just a royal province of Spain they revolted, threw out the Spanish king's representatives and proclaimed a new King.

For centuries Portugal was an haven, the only European nation not to persecute Jews. In some parts of the world Portugal was even considered to be a Jewish State. But things changed with the introduction of the Inquisition in Spain and soon the Inquisition was introduced in Portugal, forcing most of the Jews to leave. Turkey, Rome and Holland were the main places of refuge which benefitted from this escape from Portugal who in turn lost much with their departure.

(To be followed)

(***) Último poste da série: 

18 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20664: Tabanca da Diáspora Lusófona (6): Alô, Alô, Luiz Farinha, Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, Brasil!!!... Daqui, João Crisóstomo, Nova Iorque, USA...