Mostrar mensagens com a etiqueta logística. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta logística. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Guiné 61/74 - P22751: A nossa guerra em números (6): o bico-de-obra das viaturas de transporte...


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > "Porto fluvial", no Rio Fulacunda > Montagem de segurança > Um obus 14, rebocado por uma Berliet (que se tornou no auge da guerra a principal viatura pesada das Forças Armadas Portuguesas: em 10 anos, de 1964 a 1974,  a Berliet Tramagal produziu mais de 3500 viaturas Berliet).

Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2014). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Gabu > Canquelifá > CCAV 2748 (1970/72) > O Unimog 411 ("burrinho do mato"), depois da explosão de mina A/C em 16 de Abril de 1972.

Foto (e legenda): © Francisco Palma (2017) Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Contabane > Quirafo > Feverereiro de 2005 > Restos, descobertos mais de 30 anos depois, da fatídica GMC (sigla de General Motors Corporation) que serviu de caixão a muita gente, entre civos e militares,  no trágico dia 17 de Abril de 1972, na picada de Quirafo (entre o Saltinho, Contabane e Dulombi).

Foto (e legendagem(: © João Santiago / Paulo Santigao  (2006).Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Bafatá > Xitole > 1970 > Uma coluna logística, vinda de Bambadinca, passa pela Ponte dos Fulas, sobre o Rio Pulom, a caminho do Xitole (CART 2716, 1970/72).. Era habitual viaturas civis, alugadas pelas autoridades de Bambadinca, sede do setor L1 (neste caso, o BART 2917), integrarem essas colunas, por falta de veículos de transporte pesados.


Foto (e legenda): © Humberto Reis  (2006).Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Pel Rec Daimler 3089 (Teixeria Pinto, 1971/73) > Janeiro de 1972 >  A “oficina” do Pelotão Daimler, É visível o 1º cabo mecânico David Miranda que fazia o "milagre" de manter as viaturas sempre operacionais. Chegámos a ter duas ou três Daimlers, vindas da sucata de Bissau, para "canibalizar". Ao trabalho do Miranda muito ficou a dever o sucesso do Pelotão.

 Foto (e legenda): © Francisco Gamelas   (2016).Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Caro/a leitor/a: sabia que...

(i) nos anos 60 do século passado, e para satisfazer as necessidades logísticas da guerra do ultramar / guerra de África / guerra colonial, nos teatros de operações de Angola, Guiné e Moçambique, o Exército Português teve de fazer aquisições de armamento e viaturas, no valor de 6 mil e 294 milhões de contos, o que, convertida a valores de hoje,  equivaleria a mais de 2 mil e 300 milhões de euros (, o equivalente ao orçamento da defesa nacional previsto para 2022);

(ii) no que diz respeito às viaturas militares, durante os anos em que se fez a sua renovação,  as despesas anuais, a preços de hoje, foram da ordem dos 200 milhões de euros: aquisição de viaturas novas como o jipes Willys, a vaitura média Unimog e a viatura pesada Berliet;

(iii) é em 1962 que aparecem os Unimog, de fabrico alemão: o Unimog 3/4 t Diesel (, o famoso "Burrinho do Mato", o Unimog 411; e o Unimog 4 de 1,5 t, o Unimog 404, mais versáteis,  e com ómelhor capacidade de adaptação ao terreno, em substituição das viaturas norte-americanas (jipões 3/4 t, GMC, Bedford, Chevrolet,  etc.) (a razão, para lá da versatibilidade e o consuno, tinha a ver com  o facto de os norte-americanos terem passado  a cumprir a resolução da ONU de boicote de equipamento militar a Portugal, fora do âmbito da NATO);

(iv) em 1965, o Exército português já dispunha no ultramar de 2 mil Unimog... mas as dificuldades burcoráticas atrasavam a entrega de viaturas novas e de sobresselentes: por exemplo, em Angola, em 1967, o número de viaturas (ligeiras, médias e pesadas) inoperacionais era das ordem dos 60% (!);

(v) o Unimog (acrónimo do alemão UNiversal -MOtor - Gerät) era produzido pela Mercedes Benz, tendo-se tornado na viatura média mais usada na guerra do ultramar; O 411 gastava 12 litros de gasóleo aos 100, e atingia a velocidade máxima de 53 km; o 404 ia aos 20 litros de gasolina aos 100, e atingis os 95 km /hora; 

(vi) em 1964, passou a produzir-se em Portugal a Berliet, sob licença francesa, a uma média de... 140 unidades anuais (, tendo passado mais tarde às 600); de 1964 a 1974, a Berliet Tramagal (a metalúrgica Duarte Ferreira) produziu 3549 viaturas para as Forças Armadas, ou seja 350 em média  por ano; a Berliet tornar-se-ia a principal viatura pesada nos 3 teatros de operações...

2. Cada subunidade  (companhia) deveria ter, em princípio, a seguinte frota ou parque de viaturas: 

(i) 3 a 4 viaturas ligeiras (jipes); (ii)  6 viaturas médias (3/4 t) (Unimog); e 3 viaturas pesadas (Berliet, Mercedes, GMC)...

A CCS do batalhão tinha uma frota maior: (i)  5 a 8 viaturas ligeiras (jipes); (ii) 4 a 6 viaturas médias (Unimog,  404 e 411), mais  3 viaturas automacas; e (iii)  3 a 5 viaturas pesadas (GMC; Mercedes, Berliet...) 

Acrescente-se, da minha experiência e do conhecimento da minha CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71), não me lembro de haver mais de um jipe, nem nunca lá vi nenhuma Berliet... E muito menos automacas (Unimog)

3. Mas a situação do material auto (aquisição de viaturas novas para substituição das inoperacionais e perdidas, fornecimento de sobresselentes, manutenção e gestão...) foi sempre um bico- de-obra durante toda a guerra, nos três teatros de operações... 

Na Guiné, recorria-se a viaturas civis para transporte de material, nas colunas logísticas. Dadas as características do terreno, clima, tipo de guerra, etc., o desgaste e a perda de material auto tinham que ser elevadas.

Por exemplo, em 1967, na Guiné existiam 2238 viaturas,  das quais 48% (!!!) estavam inoperacionais... Em 1971, a situação não era melhor. Veja-se o nº de viaturas, por tipologia (e entre parênteses a percentagem de inoperacionais):
  • 774 jipes (49%  inoperacionais);
  • 704 Unimog  404 (39,5% );
  • 438 Unimog 411 (26%);
  • 255 GMC (48,5%);
  • 119 Mercedes 322 (63%);
  • 98 Berliet (38,5%).
Já não falando das viaturas blindadas, as autometralhadoras, mais de 2/3 das quais estavam inoperacionais (!!!)... "En passant", havia em 1971, no TO da Guiné as seguintes viaturas blindadas:
  • 16 Panhard (25% inoperacionais);
  • 10 Fox (60%);
  • 108 Daimler (75%).

Tomando como referência os anos de 1966 e 1967, verifica-se que há, nos teatros de operações ultramarinos, em 1967: (i) 3000 viaturas ligeiras 1/4 t  (jipes), menos cerca de 30% do que em 1966: (ii) 6500 viaturas médias 3/4 t, mais 75% (relativamente ao ano anterior); e (iii) 1800 viaturas pesadas, menos de 9 % (por comparação com 1966). A ter havido alguma melhoria foi graças à entrada da Berliet e do Unimog.

Por exemplo, em 1968 a situação nos 3 teatros de operações era grave, justificando a urgência da aquisição de 7 mil viaturas: 4 mil para ultrapassar a fasquia dos 75% do quadro orgânico de cada unidade; e o resto para substituir as viaturas inoperacionais e perdidas que, na altura, em 1968/69, seriam da ordem dos 20% - 25% (o que nos parece subestimado).

A "doutrina em vigor era substituir, todos os anos, em média,  600/700 jipes, 1200/1500 Unimog, e 360/450 viaturas pesadas (Berliet, Merecdes)... O que nunca se conseguiu por falta de verbas...

De qualquer modo, temos que reconhecer aqui "o engenho e a arte" (esforço, dedicação, competência, desenrascanço, imaginação) dos nossos mecânicos auto (, o pessoal da "ferrugem", de resto mal representado no nosso blogue). Sem esquecer os nossos heróicos condutores auto que faziam das tripas (caixa de velocidades, travão, volante, guincho, etc.) coração!

Para o dispositivo militar existente em 1966, pode-se dizer que faltavam mais de um terço (35%)  das viaturas necessárias para as forças que estavam no terrno, situação que se veio a agravar com o reforço de efetivos em 1968, na Guiné e Moçambique.


Fonte: Adapt de Pedro Marquês de Sousa, "Os números da Guerra de África". Lisboa, Guerra & Paz Editores, 2021, pp. 204-212, e 294-299.
__________

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Guiné 61/74 - P22707: A nossa guerra em números (4): Cada militar necessitava em média, por mês, de 240 kg de abastecimentos (no essencial, víveres e artigos de cantina, mais de 70%)... O consumo "per capita" mensal de outros artigos era o seguinte: 50 kg de combustíveis; 4,4 kg de munições; 3,1 kg de medicamentos; 1,6 kg de correio... E, miséria das misérias, tínhamos direito a... 520 gramas de víveres frescos por dia!


Guiné >  Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Estrada Bambadinca - Mansambo - Xitole > Coluna logística: uma viatura civil, transportando cunhetes de granadas e, em cima, pessoal civil. Dizia-se que as nossas GMC, "do tempo da guerra da Coreia", gastavam "100 aos 100"... Não admira, por isso, que o consumo "per capita" mensal, de combustível, fosse de 50 kg numa companhia normal de 160 homens... Em contrapartida, o consumo diário de frescos não ia além dos 500 gramas (15 kg por mês e por homem)...

Foto (e legenda): © Humbero Reis (2006).  Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
 

 1. Muitos de nós gastámos  uma boa parte da nossa energia juvenil a abastecer-nos uns aos outros... Ainda periquito, participei (eu e os meus camaradas da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12), no 2º semestre de 1969, em diversas colunas logísticas, fornecendo-lhes a segurança, de Bambadinca até ao Saltinho (via Mansambo e Xitole, mas também via Galomaro), e fazendo chegar às companhias em quadrícula do Sector L1 os "comes & bebes", mas também os artigos de cantinha, os combustíveis, os lubrificantes, as munições, o fradamento e calçado, os medicamentos, o correio, etc., indispensável à organização, funcionamento e manutenção da máquina de guerra... Chegou-se a ter que fazer em dois dias um percurso de 60 km, com vituras civis e militares que, no tempo das chuvas, ficavam facilmente "atascadas"...

Sabe-se que uma companhia (160 homens, em média) precisava de cerca de 40 toneladas de abastecimentos por mês (880 tonelados ao fim de uma comissão de 22 meses)...  

Discriminam-se a seguir, por tipologia de abastecimento, os respetivos valores por mês (em percentagem do total e em quilogramas) (*)

(i) 38,7 %; víveres (alimentação): 14,5 mil  kg, sendo 12 mil kg de víveres secos, e 2,5 mil kg de víveres frescos:

(ii) 34,7%: artigos de cantina (cerveja, tabaco, higiene, papelaria, etc.): 13 mil kg:

(iii) 21,4%: combustíveis (gasóleo, gasolina, petróleo): 8 mil kg;

(iv) 1,6%: munições:  700 kg;

(v) 1,3%: medicamentos; 500 kg:

(vi) 1,1%:  lubrificantes (óleo para viaturas e armamento, etc.): 500 kg;

(vii) 0,7%: fardamento e calçado: 300 kg;

(viii) 0,5%: correio: 250 kg.

Total= 100% | 37750 kg (a dividir por 160 homens=235,9 kg).

O pormenor do correio é relevante: cada um de nós "consumia" em média, por mês,  c. 1,6 kg de cartas, aerogramas, vales postais, telegramas e encomendas... É (era) obra!... É(era) muito papel. 

Mas também cada homem gastava 3,125 kg de medicamentos... (que na altura, ou pelo menos entre 1962 e 1969, eram de fabrico nacional). Sem esquecer, os 1,9 kg de fardamento e calçado.

Já o consumo "per capital" mensal de munições ia para os 4,375 kg. E o de combustível subia, naturalmente, para os  50 kg, abaixo dos 81,250 kg dos artigos de cantina... e dos 90,6 kg de víveres (3 quilos por dia/homem).

Last but not the least, só tínhamos direito a pouco mais de 500 gramas de víveres frescos por dia (2500 kg mês /160 homens= 15,625 kg / 30 dias= 520 gr por dia / homem). 

Parte destes víveres chegavam por via aérea (o DO-27 que trazia o correio, também largava, com sorte, umas caixas de ovos e pouco mais, não sabendo nós o que a Intendência entendia por "víveres frescos": talvez algumas batatas, cebolas e cenouras, que  o frango e o peixe, esses,  eram congelados, ou em conservas (o peixe), o leite era condensado, os legumes (feijão, grão...) eram secos, o bacalhau liofilizado, o tomate em calda, a fruta enlatada... e a carne de vaca só em dia de anos do capitão ou da companhia... 

PS - Não vejo onde estejam, nestas contas, os materiais de construção (cimento, areia, ferro, chapa, madeira, pregos, etc.). Provavelmente os custos eram imputados ao Batalhão de Engenharia (BENG 447, no caso da Guiné). E, por outro, as necessidades eram variáveis, de companhia para companhia.

(*) Fonte:  adapt. de  Pedro Marquês de Sousa, "Os números da Guerra de África". Lisboa, Guerra & Paz Editores, 2021, pp. 281 e 284. Com a devida vénia...
_________

Nota do editor:

Último poste da série > 9 de novembro de  2021 > Guiné 61/74 - P22702: A nossa guerra em números  (3): mal comidos, mal pagos, mal vestidos...

terça-feira, 9 de novembro de 2021

Guiné 61/74 - P22702: A nossa guerra em números (3): mal comidos, mal pagos, mal vestidos...












Havia quem não gastasse dinheiro à tropa em fardamento (e calçado)... Ou poupasse o camuflado quando ia, em trabalho,  num barco turra até Bissau... Ou, mal chegava do mato e tomava um banho de água ferrosa, vestia as jeans e a camisinha Lacoste de contrafacção para fingir que estava a milhares de quilómetros dali... Mas muitos de nós já nem sequer são do tempo da farda amarela... O verde veio em 1964... Mas com o uso e as lavagens as peças da farda camuflada iam mudando de cor...(Não identifico os camaradas, que por certo não me levarão a mal a brincadeira...). 


Fotos de arquivo © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


1. Houve guerras, no passado,  que se perderam porque os combatentes iam mal alimentados, outras por certo não se ganharam porque os homens foram para a frente de batalha mal recrutados, mal pagos, mal agasalhados, em mau estado de saúde, mal medicados, mal municiados, mal preparados, mal aconselhados, mal endoutrinados, mal equipados, mal enquadrados, mal comandados, etc. Ou então levavam guitarras em vez de espingardas, como em Alcácer Quibir...

Há leitores que se interessam por números... E a "nossa guerra" (, qualquer que seja o significado do adjetivo  possessivo "nossa") também tem alguns números que devem merecer a nossa atenção (*).

O facto de se ter desenrolado a milhares quilómetros de casa, no continente africano, nas nossas antigas colónias (ou "províncias ultramarinas") de Angola, Guiné e Moçambique, sendo os transportes de pessoal e os reabastecimentos feitos por via marítima, obrigava as Forças Armadas (e em especial o Exército) a criar reservas logísticas estratégicas, como se pode ler no livro, didático, do ten cor Pedro Marquês de Sousa, "Os números da Guerra de África" (Lisboa, Guerra & Paz Editores, 2021, 379 pp.).

Por exemplo, ao nível do "fardamento e calçado" (, espantoso, não tínhamos até agora este descritor!) era exigida uma certa quantidade de artigos, em "reserva permanente", nos vários  teatros de operações. No caso da Guiné, que é o que nos interessa aqui, eram os seguintes os valores (pág. 293):

  • Botas de lona (pares) > 13000
  • Botas pretas (pares) > 1900
  • Dólman (camuflado) > 2500
  • Calças > 10000
  • Barretes > 5200.

O que é intrigante é que em todos os itens de fardamento e calçado os valores da Guiné  eram muito superiores aos de Angola e Moçambique. Não se percebe a razão da diferença. Talvez o pessoal gastasse mais solas e tecido... Talvez as lavadeiras de Angola e Moçambique fossem mais delicadas a lavar e a passar a ferro a roupa da tropa... Veja-se, por exemplo, o "stock" de botas de lona de Angola (n=3712) e de Moçambique (n=4500), teatros de operações que, de resto, tinham mais militares mobilizados do que na Guiné...

Fiquei a saber (, embora isso não conte em nada para a salvação da minha alma...) que os artigos de fardamento, que nos eram distribuídos,  "desde a recruta até ao fim da comissão em África", representavam um encargo de cerca de 5300$00 / homem (dois mil euros, em valores de hoje). 

Desagregando este valor, 1300 escudos eram imputados à instrução militar (recruta e especialidade) e os restantes 4 mil à comissão em África, mesmo que lá a malta andasse, muitas vezes, de tanga, em tronco nu, de chanatas (ou até descalça), gastando por isso muito mais pele que tecido... (Os soldados da CCAÇ 12, se a gente os deixasse, iam para o mato descalços...).

Já agora, amigos e camaradas, ficam a saber quanto é que ficaram a dever ao "erário público", só pelos artigos de fardamento que receberam na recruta, a valores de 1964 (pág. 294):

  • Uma boina > 23$70;
  • Duas camisas de uniforme nº 2 > 120$60;
  • Duas calças de uniforme nº 2> 172$20;
  • Um blusão > 282$50;
  • Uma calça poliéster > 202$00;
  • Uma gravata verde > 15$00;
  • Um cinto de lona > 23$50;
  • Uma camisola de ginástica >  8$70;
  • Um calção de ginástica > 18$00;
  • Um par de sapatos (desportivos) > 28$40;
  • Um par de botas > 297$00;
  • Uniforme de instrução / farda detrabalho (nº 3): c. 200$00.
Total = 1391$60 (c. 573 euros, a valores de hoje)

Acho baratos demais os sapatos (desportivos) (28$40) por comparação com as botas (297$00): dez vezes menos|... Mas, claro, não eram em pele, deviam ser "sapatilhas", sapatos de ginástica, estou agora a lembrar-me...

Curioso é que a tropa não te pagava a roupa interior: cuecas, camisolas, peúgas, lenços de assoar, lenços de pescoço... E quanto ao blusão, não era de pele, claro, era de flanela... O blusão de couro, esse, custava uma pequena fortuna, no Casão Militar, e era apenas reservado a oficiais e sargentos, tanto quanto me recordo. Estúpido, comprei um que nunca devo ter usado na Guiné, com aqueles maldito calor e humidade, era uma autêntica estufa quente!...

O fardamento (tirando talvez as botas de lona e o camuflado) era completamente inadequado para aquele meio ambiente físico... Por exemplo, não eram distribuídas máscaras para a mosquitagem, à noite,  nem para o pó vermelho que apanhávamos nas colunas auto... (Era um espectácul0, ver a a velhada, de lenços garridos ao pescoço, nas colunas logísticas, ou até mesmo nas operações de segurança às colunas, visíveis a 100 metros, na orla do capim...). 

Cada um  usava a roupa imterior que trazia de casa, dos mais diferentes materiais, formas e feitios, completamente inadequada para aquele clima tropical... Houve até quem trouxesse ceroulas, por causa da... bicharada das bolanhas e do friods noites de dezembro... A boina e o quico eram outro problema... Mas já não falo do tempo da farda amarela... 

sábado, 10 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18400: (Ex)citações (331): Os problemas no CTIG logo em 1963: memórias de cá e de lá (Jorge Araújo)


Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Julho de 1973 > Estrada Xime-Bambadinca >  Ponte do Rio Udunduma: imagem de um buraco aberto no chão, coberto de troncos de palmeira, terra e chapas de zinco a cobri-los, protegido no exterior com bidões de gasóleo cheios de terra, com uma pequena abertura, tendo no seu interior uma cama de ferro, com colchão, do mobiliário militar. Este buraco foi o meu “quarto” durante alguns meses… 


~
Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Julho de 1973 >  Destacamento da Ponte do Rio Udunduma, na estrada Xime-Bambadinca. Imagem do 'condomínio fechado'. 


Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Agosto de 1973 >  Rio Udunduma, na Estrada Xime-Bambadinca > Plano de água incluído no Destacamento da Ponte… Creio que o canoísta é o camarada José Sebastião.



Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Setembro de 1973 >  Imagem de parte da parada do aquartelamento de Bambadinca, onde estava sedeado o comando do BART 3873 e a sua CCS, e que distava 4 kms do Destacamento da Ponte do Rio Udunduma (contrastes da/na guerra). 


Fotos (e legendas): © Jorge Araújo (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494 

(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue desde março de 2018



OS PROBLEMAS NO CTIG LOGO EM 1963: 

Memórias de cá e de lá


1. INTRODUÇÃO
As rotinas da minha continuada actividade operacional, constituídas por missões/ acções de obrigatória responsabilidade diária, têm-me impedido de dizer “presente no imediato” aos apelos do Blogue da Tabanca Grande (BTG), como eu gostaria que acontecesse. Mas, logo que a agenda o permite, lá vou ordenando algumas letras que funcionam, também, como “prova de vida”.

Assim, o caso em apreço relacionado com o tema em título, ainda que com algum atraso, levou-me a optar por uma triangulação entre memórias pessoais de cá e de lá, contributos já divulgados no nosso Blogue e trabalhos de investigação que começam a surgir, com mais frequência, sobre esta problemática.




Dito isto, espero contar com a vossa benevolência pelo facto de repetir algumas ideias expressas anteriormente nos trabalhos citados, a começar pela investigação histórica elaborada pelo nosso amigo José Matos, também ele membro da Tabanca Grande, e que aqui foi reproduzida em duas partes [P15795 e P15796], e já publicada na Revista Militar n.º 2566 de Novembro p.p., com o título “O início da Guerra na Guiné (1961-1964)”.

O artigo da autoria de José Matos acabou por suscitar o interesse e o elogio dos que sobre ele se manifestaram, levando cada qual a produzir o seu comentário de acordo com a sua perspectiva, sinal de que o tema [digo eu] continuará em aberto.



Porém, o principal destaque recaiu na avaliação feita pelo Coronel Fernando Louro de Sousa, na qualidade de novo Comandante-Chefe da Guiné nomeado em finais de 1962 pelo Governo de Lisboa (Oliveira Salazar), mas que só em 20 de Março de 1963 chegaria a Bissau, dois meses depois do ataque ao Aquartelamento de Tite, em 23 de Janeiro, considerado por todos os intervenientes [incluindo a literatura] como a data do início do conflito armado naquele território ultramarino.

Seis meses após ter iniciado as suas funções, exclusivamente como Comandante-Chefe, apresenta em Lisboa, em 4SET1963, uma exposição da situação ao Conselho Superior Militar, enumerando um conjunto de problemas que dificultavam a resposta das NT ao esforço de contra-subversão, a saber:

(i) Deficiente instrução das tropas e quadros;

(ii) Deficiente equipamento das unidades no terreno;

(iii) Falta de pessoal / insuficiência de efectivos;

(iv) Abastecimento (material, munições, víveres e água);

(v) Falta de enquadramento / aproveitamento militar dos guineenses;

(vi) Instalações inadequadas;

(vii) Cansaço das NT, sempre ansiosas por acabar a comissão e voltar para a metrópole.



2. ENTRE AS MEMÓRIAS DESSA ÉPOCA E AS MINHAS


A eclosão do conflito armado na Guiné que, mau grado, acabaria por ser o meu destino nove anos depois, na condição de combatente miliciano, tem lugar quando tinha somente doze, ou dez anos se considerar o início da insurreição armada em Angola, em 15MAR1961, realizada pela UPA [União dos Povos de Angola], desconhecendo por completo, na época, o que estava na génese de cada uma, apenas gravando o conceito “Guerra do Ultramar”, com que foi baptizado.

Frequentava, então, o Liceu Camões, a segunda escola pública a ser construída em Lisboa, na Praça José Fontana, e inaugurada em 16OUT1909, sendo a primeira o Liceu Passos Manuel, em 1836, e que na sequência do «25 de Abril de 1974» passou a designar-se por Escola Secundária de Camões, mudança de nome verificada, aliás, em todos os Liceus existentes nessa época.

Nesse período o que mais me marcou e que ainda hoje retenho daqueles ambientes carregados de emoção, muitas lágrimas e uma mancha humana acenando com lenços brancos, foram as imagens dos embarques, no cais da Rocha Conde de Óbidos, dos diferentes contingentes de militares zarpando rumo a Luanda, Bissau ou Lourenço Marques, então mais velhos do que eu nove/dez anos.



Lisboa > Cais da Rocha > 1963 (há mais de meio século) >  Imagem (cinzenta como o ambiente) que se viria a tornar banal em Lisboa, uma vez que passou a ser repetida tantas vezes quantos os embarques dos contingentes com jovens milicianos (combatentes) realizados com destino a um dos três Teatros de Operações (Angola, Guiné ou Moçambique). E foram largas centenas. Era o momento da despedida reciproca e que para alguns foi para sempre… lamentavelmente. A partir de 1971, passou a ser utilizado, também, o transporte aéreo através da FAP, por ser mais rápido, cómodo e económico quando comparado com o marítimo (foto de autor desconhecido).



Entretanto, a avaliação provavelmente empírica de Louro de Sousa deveria ser reflexo daquele que terá sido o primeiro grande PROBLEMA que se colocou aos responsáveis políticos da época - os RECURSOS (quer os HUMANOS quer a competente LOGÍSTICA) - sempre imprescindíveis em qualquer organização, de que a MILITAR não é excepção, particularmente em contexto de guerra. E esses problemas não estavam resolvidos… nem nunca estiveram.

De referir que o conceito de logística, enquanto ramo autónomo da ciência militar, significa a arte do planeamento e da execução de movimentos e sustentação de forças. Nela se inclui um vasto conjunto de actividades complexas e interdisciplinares que vão desde a sua concepção e desenvolvimento; obtenção, recepção, armazenagem, movimentos, distribuição, manutenção, evacuação e alienação de materiais, equipamentos e abastecimentos e todas as actividades de apoio sanitário.

Por outro lado, as distâncias entre a Metrópole e cada um dos três TO, às quais se adicionam a inexperiência em relação ao modo como gerir, com sucesso, a natureza social e política do conflito e, ainda, à teimosia cega de não o resolver com bom senso, conduziram a uma maior exigência operacional dos efectivos aí destacados. Os recursos humanos e logísticos cresceram, por isso, ao longo dos anos, concomitante com as responsabilidades atribuídas aos jovens militares, fazendo recair sobre estes, desde o seu início, o ônus da manutenção de Portugal no continente africano em nome da Pátria, isto é, em nome da perpectuação do regime político vigente, se necessário com recurso da sua própria vida, como está plasmado na vasta bibliografia existente, quer seja nacional ou internacional.

Considerando que o conceito problema [contexto acima] faz parte, justamente, do nosso léxico do dia-a-dia [ex: tenho um problema; só temos problemas; arranjaste-me um problema; como resolver este problema; …] recupero aqui a definição do escultor e escritor italiano Bruno Munari (1907-1998) que nos diz: “todo o problema implica um certo saber do não saber, ou seja, antever, se terá ou não solução e para isso é preciso experiência” (in. Das Coisas Nascem Coisas, Lisboa. Edições 70, 1982, p. 39).

Durante a presença no CTIG (1972-1974), que decorreu entre os nove e os onze anos do conflito, reconheço a existência dos problemas caracterizados anteriormente por Louro de Sousa, por experiência feita da actividade operacional na minha Unidade Orgânica [CART 3494], ainda que admita serem de menor escala face ao esforço que naturalmente foi despendido para os minimizar ao longo do tempo uma vez que foram operacionalizadas diversas mudanças no terreno em função da reformulação das estratégias/tácticas propostas pelas sucessivas chefias militares nomeadas pelo Governo Central, mas sem grandes resultados.

Contudo, esse contacto directo com as várias realidades leva-me a ter uma percepção dualista, ou seja, NÃO e SIM, uma vez que eram distintos ou desiguais a natureza de cada um deles, bem como os contextos e locais onde se actuava, variando em função da geografia do terreno e da proximidade das linhas de fronteira, quer a norte quer a Sul, onde, nestas regiões, estavam sedeadas as principais bases do PAIGC. Esta localização facilitava-lhes a vida, e muito, pois ampliava o quadro de opções de mobilidade para realizarem as suas actividades de ataques e flagelações aos alvos seleccionados. Era também desigual a vida nas Cidades, nas sedes de Batalhão (CCS), nos Aquartelamentos e Destacamentos, e quanto mais no interior maior, levando-nos a (con)viver com o fenómeno da interioridade e com as situações adversas sem alternativas.

Outro problema, não menos importante, estava relacionado com o esforço que era necessário fazer para manter em funcionamento a rede da estrutura logística, sem a qual não teria sido possível suportar tanto tempo, por efeito dos insuficientes recursos locais e financeiros, ainda que uma parte dela estivesse a cargo de cada umas das Unidades por descentralização de competências.

Voltando ao ano de 1963, recordo que a principal actividade era a de estudante no Liceu Camões onde existiam na minha turma alguns colegas que, em função de interesses comuns, convivíamos grande parte do tempo escolar partilhando ideias e actividades (comportamento normal no processo de socialização). Um dos interesses em presença estava relacionado com a prática lúdica, vulgo futebol, à hora do almoço, com jogos no relvado central do Parque Eduardo VII ou na zona cimentada perto da Estufa-Fria, umas vezes competindo entre nós (estudantes), outras envolvendo elementos estranhos ao grupo, funcionários administrativos de empresas instaladas na zona.

De entre os vários elementos do nosso grupo, e pelas razões que seguidamente justificarei, quero recordar o nome do saudoso colega e amigo Artur José de Sousa Branco, meu companheiro de alguns anos, e que face ao seu entusiasmo pelas letras e pelo desporto, conseguiu conciliar ambas as actividades, ingressando nos escalões de formação do S.L. Benfica. Ao atingir o escalão de sénior e antes da sua incorporação obrigatória no serviço militar representou (creio) o Sport Benfica e Castelo Branco.

Quis o destino que cada um de nós, depois de nos separarmos por algum tempo, fazendo percursos distintos, acabaríamos por convergir para o mesmo itinerário ultramarino, rumando à Guiné, eu para CART 3494 (Xime/Mar’72) e ele, poucos meses mais tarde, para a CCAV 8350 (Gadamael). Em 4 de Junho de 1973, dez anos depois do início da Guerra e a um do seu epílogo, acabaria por tombar no “jogo dos operacionais” ou seja, no “jogo da superação permanente e da sobrevivência”.


Recebi a notícia da sua morte ainda durante a “comissão” através da comunicação social da metrópole, que me era enviada pelo meu pai duas vezes por semana, na qual se faziam referências regularmente às principais ocorrências nos diferentes TO, em particular no que concerne às baixas d
as NT, desconhecendo, no entanto, os detalhes do sucedido com o meu/nosso camarada Sousa Branco, ex-Alf.Art., como era conhecido entre nós.

Porém, face à existência do nosso Blogue, descobri este episódio no P14325 narrado na primeira pessoa pelo nosso camarada José Casimiro Carvalho, ex-Fur Mil Op Esp, em sua memória, a quem envio um forte abraço de agradecimento, onde ele refere o seguinte: “sou (fui) um dos intervenientes desse triste e doloroso episódio na História da CCAV 8350”. Recorda que na tarde de 4JUN1973, em Gadamael, o Alf Mil Branco saiu com um reduzido grupo de combate (12 homens) para fazer um reconhecimento nas imediações do aquartelamento, na antiga pista, a cerca de 1 km do arame farpado. O grupo cai de imediato numa emboscada e só não foi totalmente aniquilado graças à pronta intervenção das tropas paraquedistas (CCAÇ 122/BCP 12, acabada de chegar a Gadamael, na manhã de 3JUN, sob o comando do cap. paraquedista Terras Marques).

Este acontecimento está, também, publicado em “A última missão, de José Moura Calheiros, 1.ª ed., Caminhos Romanos, Lisboa, 2010, pp. 527/528”.

Nesse mesmo ano de 1973, quando estava já contabilizada uma década do conflito armado, o problema das instalações inadequadas mantinha-se, situação gravada nas imagens abaixo [para memória futura], de que é exemplo o Destacamento da Ponte do Rio Udunduma, sito na estrada Xime-Bambadinca. Este espaço fora ocupado a partir de 29MAI1969 pelo camarada Carlos Marques [ex-Fur.Mil da CART 2339], acompanhado por elementos do seu GComb, data em que a ponte aí existente [velha] foi danificada por elementos do PAIGC, história já narrada nos P12565, P12586 e P12734.

Trata-se de um mero exemplo e não caso único, naturalmente, como se pode provar através do riquíssimo espólio existente no Blogue da Tabanca.

Recordo, nas fotos acima , esse tempo e esse espaço no cada vez mais distante ano de 1973 [julho, agosto e setembro]..




3. UMA VISÃO HISTÓRICA SOBRE A LOGÍSTICA DE PORTUGAL NA GUERRA DE ÁFRICA (1961-1974), POR PEDRO DA SILVA MONTEIRO (CAP)

Para concluir a presente narrativa, consideramos pertinente divulgar o que vem sendo feito a nível da investigação histórica relacionada com o fenómeno da “Guerra do Ultramar”, destacando o trabalho do Capitão Pedro da Silva Monteiro, elaborado certamente no âmbito da sua formação académica e destinado à Academia, publicado na Revista Militar n.º 2539/2540 de Agosto/Setembro de 2013, com o título “A Logística de Portugal na Guerra Subversiva de África (1961 a 1974)”, e que se enquadra na nossa temática.

A investigação em referência identifica, como questão central, em que medida a manobra logística de
Portugal influenciou as operações militares nos três TO e contribuiu para a sustentabilidade da Guerra Subversiva de África, de 1961 a 1974.

Desta questão de partida inicial a investigação derivou para mais seis subtemas, a saber:

a) - Qual a estrutura logística de Portugal antes e durante da guerra?

b) - Que dificuldades sentiram os serviços de apoio logístico de Portugal e quais os maiores problemas verificados?

c) - O que esperava o governo português do sistema logístico?

d) - Quais as necessidades sentidas pelas forças em operações, e que abastecimentos foram fornecidos?

e) - Que apoios logísticos recebeu Portugal do exterior?

f) - Como é que os serviços de apoio logístico se adaptaram às exigências operacionais e que implementações foram feitas?


Eis uma parte do resumo elaborado pelo autor.





Neste sugestivo trabalho de investigação encontramos algumas análises de dimensão histórica e política que ajudam a situar a problemática identificada por Louro de Sousa, em 1963.

Recebam um forte abraço de amizade.

Jorge Araújo.

10MAR2016.

______________


Nota do editor:

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8578: BCAÇ 1860 (Tite, 1965/67): Balanço da actividade logística, em banda desenhada: 22.5 toneladas de cartas e encomendas, 3 t de medicamentos, 12 t de frescos, 820 t de géneros alimentícios, 123 t de artigos de cantina, 2.5 t de rações de combate, 31 t de munições... (Santos Oliveira)


Guiné > Região de Quínara > Tite > BCAÇ 1860 (1965/67) > Resumo, ilustrado, da actividade logística (reabastecimentos) do batalhão, entre Abril de 1965 e Abril de 1967. Por mar, por terra e  por ar... (*).

Total: cerca de 82 mil toneladas movimentadas (71 mil carga grande; 11 mil carga pequena)...




Transportes aéreos (Tite, Bissau, Jabadá, Fulacunda, São João, Empada) >

Passageiros transportados: 1068 militares; 209 civis;
Evacuações:  A=6; B=28; Y=10;
Frescos (peixe, frango...): 12 toneladas;
Correio: Cartas: 2,5 t; Encomendas: 20 t;
Medicamentos: 3 t.




Transportes marítimos (porto de Enxudé, por LDM e barcos civis): 

Combustíveis: 350 toneladas;
Artigos de cantina: 123 t;  
Munições: 31 t;
Géneros alimentícios (farinha, batatas, etc.): 820 t;
Rações de combate: 2,5 t;
Materiais de construção (ferro, madeira, cimento...): 475 t;
Material de aquartelamento: 4 t;
Material de transmissões: 2,5 t;
Material de guerra: 3 t;
Sobresselentes para viaturas automóveis: 4 t;
C. A. [ Contabiliddae e Administração ?] 1 t;
Veículos automóveis + buldozzer: 13 + 12 t

Movimentação e transporte de terra, saibro e pedra > c. 80 mil toneladas

Foto: © Santos Oliveira (2008). Todos os direitos reservados.

[Edição de imagem, legendagem e título: L.G.]

Fonte: História da unidade, conforme documentos digitalizados pelo nosso camarada Santos Oliveira (2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf, Pel Mort 912, Como, Cufar e Tite, 1964/66). Material em arquivo, enviado pelo Santos Oliveira  por mail em 2008...




Guiné > Região de Quínara > Carta  de Tite  (1/50000) (1955) (Pormenor) > Posição relativa de Tite, Enxudé e Jabadá.

Fonte: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2011)

 ______________

Nota do editor:

(*) Vd. poste anterior relacionado com o BCAÇ 1860 > 20 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8575: BCAÇ 1860 (Tite, 1965/67): Balanço da actividade não-operacional, em banda desenhada... (Santos Oliveira)

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3414: PAIGC - Instrução, táctica e logística (19): Supintrep, nº 32, Junho de 1971: ABC da preparação táctica (A. Marques Lopes)

Fundação Mário Soares > Dossiers > Guiledje · Simpósio Internacional · Bissau, Guiné-Bissau · 1 a 7 de Março de 2008 > "Amílcar Cabral, no mato, utilizando um teodolito para definição de tiro de artilharia. Distingue-se, atrás, Manuel Santos (Manecas). Fotografia de Bruna Polimeni.[05345.001.029] · Documentos Amílcar Cabral (11/23)" (Com a devida vénia à autora e ao proprietário da foto...)

Fundação Mário Soares > Dossiers > Guiledje · Simpósio Internacional · Bissau, Guiné-Bissau · 1 a 7 de Março de 2008 > Retrato de Amílcar Cabral e Manuel dos Santos (Manecas). Fotografia de Bruna Polimeni.[05345.001.003] · Documentos Amílcar Cabral (10/23). (Com a devida vénia à autora e ao proprietário da foto...)

Notas dos editores: a inserção destas 2 fotos pretende também ser uma tripla homenagem do nosso blogue:

(i) a Amílcar Cabral, muitas vezes descrito, pejorativamente, como um simples intelectual, um teórico, um revolucionário de caneta e papel; ele sabia que as ideias era muito mais importantes do que as balas, mas que questões como "a instrução, a táctica e a logística", ou seja, a formação e a organização da guerrilha, também eram fundamentais para o sucesso da "luta de libertação";

(ii) à grande fotojornalista italiana Bruna Polimeni que fez seguramente as melhores fotos do dirigente político mas também do guerrilheiro Amílcar Cabral e da sua luta, no terreno, pela concretização dos ideais em que acreditava;

e (iii) à Fundação Mário Soares e à Fundação Amílcar Cabral por terem salvo o Arquivo Amílcar Cabral e disponibilizarem o seu progressivo acesso em linha (leia-se: em suporte digital), para além do acesso público (em Lisboa, Cidade da Praia e Bissau).

Para os que o admiram, como africano, como homem, como líder, como intelectual, como escritor lusófono e como cidadão do mundo, "Amílcar Cabral ká móri"...

Fotos: Cortesia de © Fundação Mário Soares (2008).

19ª e última parte do Supintrep, nº 32, de Junho de 1971, documento classificado na época como reservado, de que nos foi enviada uma cópia, devidamente tratada, através de mais de um dúzia de mails, entre Setembro e Outubro de 2007, pelo nosso amigo e camarada A. Marques Lopes, Cor DFA, na situação de reforma. O Marques Lopes foi Alf Mil na CART 1690 (Geba ) e CCAÇ 3 (Barro) entre 1967 e 1969 (Aqui, na foto, à esquerda, a sair de um abrigo (!), em Cantacunda, destacamento de Geba, que ficava também a cerca de 40 kms da sede da companhia, a CART 1690, perto da base que o PAIGC tinha em Samba Culo, na margem sul do rio Camjambari).

Apraz-nos registar aqui, publicamente, o nosso apreço pelo trabalho de pesquisa do A. Marques Lopes, pela sua grande camaradagem e amaizade, e pela sua vontade em partilhar connosco o seu vasto conhecimento sobre o PAIGC e a Guiné-Bissau, país e povo que ele (e nós) tanto ama(mos). Recorde-se que o A. Marques Lopes é um DFA, tendo sido gravemente ferido em combate, evacuado para o HML e regressado, de novo, à Guiné, onde foi colocado na CCAÇ 3, em Barro, num grupo de combate composto por balantas (os temíveis Jagudis). Desde o 25 de Abril de 1974 que tem procurado, sempre que vai à Guiné, contactar os seus antigos inimigos... É um homem lúcido, generoso, sem ressentimentos... que hoje se esforça por conhecer o "outro lado"...

Esperamos que ele continue a surpreender-nos com a exploração de novas fontes (como outros Supintrep) de informação e conhecimento sobre os adversários de ontem, contra quem combatemos, e de que hoje somos amigos e irmãos, partilhando experiências, memórias, história(s), lugares, património, afectos, sabores, cheiros e... uma mesma língua, uma formidável ferramenta com a qual podemos comunicar (do latim, communicare = pôr em comum). Apesar da distância, das dificuldades, dos obstáculos, da falta de muita coisa, cá e lá, etc. Bem hajas, António. Os editores, LG/CV/VB.


19ª e última parte da série PAIGG ABC DA PREPARAÇÃO TÁCTICA > Trabalho do chefe do destacamento (grupo) depois de receber a missão de combate.

[Transcrição de documento do PAIGC]

Fixação e revisão de texto: AML/LG

Depois de receber a missão de combate, o chefe do destacamento (grupo) deve:

- aclarar a missão;

- apreciar a situação;

- tomar a decisão;

- dar ordem de combate e organizar a cooperação.


Aclarando a missão, o chefe do destacamento (grupo) deve:

- perceber onde, quando, com o que vai realizar-se a operação;

- determinar as medidas a realizar imediatamente na preparação do combate;

- calcular o tempo.


Apreciando a situação, o chefe do destacamento (grupo) deve estudar:

- o inimigo;

- as próprias forças e meios;

- as missões dos vizinhos;

- a hora do dia e as condições do tempo.


Estudando o inimigo, o chefe do destacamento (grupo) determina:

- a disposição combativa do inimigo, situação dos seus meios de combate e o carácter das acções que se esperam, os lugares de encontro prováveis com o reconhecimento e a garda inimiga;

- a hora e o lado de chegada especialmente das reservas;

- as especialidades de guarda e de defesa do objectivo que deve atacar-se, ordem de troca das sentinelas e guardas, itinerário das patrulhas de vigilância e os lugares dos obstáculos.

Apreciando as suas próprias forças, o chefe do destacamento (grupo) deve:

- apreciar a composição e a capacidade de combate da unidade;

- tomar em consideração o grau de instrução dos guerrilheiros, sua experiência combativa, o estado político-moral e os conhecimentos do terreno na região das acções futuras;

- tomar em consideração a presença e o estado do armamento, das munições,do combustível, etc.

Apreciando os vizinhos, o chefe do destacamento (grupo) estuda a sua composição, as missões e os meios da sua realização.

Apreciando o terreno, o chefe do destacamento dos guerrilheiros determina:

- sua capacidade de passo para os guerrilheiros e o inimigo, os lugares cómodos para atravessar os obstáculos e mais favorável caminho de movimento e as condições de mascaramento;

- os lugares de descanso e de alto de dia;

- as aproximações camufladas para acesso e as posições de partida para o ataque;

- os lugares de encontro depois de ter cumprido a missão e os caminhos de recuo.


Na sua decisão, o chefe do destacamento determina:

- o objectivo da operação e os meios da sua realização;

- qual é o inimigo que deve aniquilar~se e de que maneira;

- onde se concentra o esforço principal e qual a forma de combate que deve fazer;

- as missões de combate;

- as medidas de abastecimento das acções combativas;

- os caminhos do movimento, as horas e os métodos e aproximação dos guerrilheiros aos objectivos de ataque;

- os métodos de salvar os obstáculos e as acções, perante de encontro por surpresa do inimigo;

- a hora do começo da operação e ordem das acções depois de cumprir a missão e os métodos de comando;

- onde, quando e quais as acções simulantes a realizar.


Na ordem de combate, o chefe do destacamento indica:

- os pontos de referência (objectos locais cifrados);

- as informações sobre o inimigo;

- a missão combativa do destacamento ou grupo;

- as missões dos vizinhos;

- as missões de combate para as unidades e os meios de fogo;

- a hora de estar pronto para cumprir a missão e os métodos de comando;

- seu lugar e o ajudante.


Organizando a cooperação, o chefe do destacamento (grupo) coordena:

- as consequências e as maneiras de abrir passos nos obstáculos do inimigo, eliminar as sentinelas e outra guarda;

- ordem, tempos e maneiras das acções durante o ataque contra o inimigo (ocupação do objectivo);

- as acções de atacantes, das unidades de fogo, e de asseguramento dos grupos de explosão e de reserva;

- as direcções de recuo e a ordem de proteger o recuo;

- ordem de manter a comunicação;

- sinais de identificação para o pessoal e sinais de identificação das unidades;

- sinais de ataque, começo, transmissão, cessar de fogo e recuo.


As medidas de precaução durante a instrução táctica


Nos estudos tácticos é proibido:


1. Abrir fogo contra os objectos e as construções com cartuchos de salva a distância inferior a 200 m.

2. Explodir os petardos de imitação ou outros meios de imitação na distância menos de 20 m de pessoal, lança-foguetes e com petardos de imitação perto dos homens, contra o material de combate, carros, nas aldeias, porto dos depósitos, etc.

3. Passar nas zonas e lugares proibidos, limitados com bandeiras e indicadores. Tomar e tocar os obuses, minas, petardos e espoletas não rebentadas.

4. Deter nas mãos os petardos de imitação já incendiados.

5. Lançar foguetes de iluminação e de sinais com ângulo menos de [?...ilegível].

6. Situar-se e deitar-se perto dos carros, tanques, e os canhões que atiram na distância menos de 50 m.

7. Beber a água não fervida das fontes não provadas e incendiar as fogueiras.

8. Deixar sem guarda a arma, munições e equipo, perder os mapas, os documentos, etc.

9. Transportar o pessoal no transporte não preparado, reduzir as distâncias estabelecidas, realizar travagem brusca e superar a velocidade estabelecida de marcha.

________

Notas de L. G.:

(*) Vd. postes anteriores desta série (que foi sendo publicada com alguma irregularidade, desde há mais de um ano):

22 de Setembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2124: PAIGC - Instrução, táctica e logística (1): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (I Parte) (A. Marques Lopes)

24 de Setembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2126: PAIGC - Instrução, táctica e logística (2): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (II Parte) (A. Marques Lopes)

1 de Outubro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2146: PAIGC - Instrução, táctica e logística (3): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (III Parte) (A. Marques Lopes)

8 de Outubro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2164: PAIGC - Instrução, táctica e logística (4): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (IV Parte): Emboscadas (A. Marques Lopes)

29 de Outubro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2228: PAIGC - Instrução, táctica e logística (5): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (V Parte): Flagelações (A. Marques Lopes)

4 de Dezembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2327: PAIGC - Instrução, táctica e logística (6): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (VI Parte): Minas I (A. Marques Lopes)

17 de Janeiro de 2008 >
Guine 63/74 - P2446: PAIGC - Instrução, táctica e logística (7): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (VII Parte): Minas II (A. Marques Lopes)

19 de Janeiro de 2008 >
Guiné 63/74 - P2454: PAIGC - Instrução, táctica e logística (8): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (VIII Parte): Minas III (A. Marques Lopes)

13 de Fevereiro de 2008
Guiné 63/74 - P2535: PAIGC - Instrução, táctica e logística (9): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (IX Parte): Defesa anti-aérea (A. Marques Lopes)

7 de Abril de 2008 >
Guiné 63/74 - P2730: PAIGC - Instrução, táctica e logística (10): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (X Parte): Organização defensiva (A. Marques Lopes)

15 de Abril de 2008 >
Guiné 63/74 - P2762: PAIGC - Instrução, táctica e logística (11): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (XI Parte): A máquina logística (A. Marques Lopes)

17 de Junho de 2008 >
Guiné 63/74 - P2955: PAIGC - Instrução, táctica e logística (12): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (XII Parte): Saúde (A. Marques Lopes)

7 de Julho de 2008 >
Guiné 63/74 - P3032: PAIGC - Instrução, táctica e logística (13): Supintrep, nº 32, Junho de 1971 (XIII Parte): Armamento (A. Marques Lopes)

4 de Setembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3170: PAIGC - Instrução, táctica e logística (14): Supintrep, nº 32, Junho de 1971 (XIV Parte): Educação (A. Marques Lopes)

16 de Setembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3211: PAIGC - Instrução, táctica e logística (15): Supintrep, nº 32, Junho de 1971 (XV Parte): Os Armazéns do Povo (A. Marques Lopes)

1 de Outubro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3258: PAIGC - Instrução, táctica e logística (16): Supintrep, nº 32, Junho de 1971: Itinerários de abastecimento (A. Marques Lopes)

8 de Outubro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3284: PAIGC - Instrução, táctica e logística (17): Supintrep, nº 32, Junho de 1971: A formação do soldado das FARP (A. Marques Lopes)

22 de Outubro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3344: PAIGC - Instrução, táctica e logística (18): Supintrep, nº 32, Junho de 1971: A luta contra o temível helícóptero (A. Marques Lopes)