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domingo, 17 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21777: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (82): as milícias que ajudaram os militares a ripostar o ataque da UPA no norte de Angola, a 15 de Março de 1961... Quem conheceu de perto a OPDVCA - Organização Provincial de Voluntários e Defesa Civil de Angola ? (Tiago Carrasco, jornalista)



Diário de Lisboa, 18 de março de 1961 (*)


[Fundação Mário Soares > Portal Casa Comum > Pasta: 06541.079.17211 > Título: Diário de Lisboa > Número: 13743 > Ano: 40 > Data: Sábado, 18 de Março de 1961 > Directores: Director: Norberto Lopes; Director Adjunto: Mário Neves > Edição: 2ª edição > Observações: Inclui supl. "Diário de Lisboa Magazine", "Diário de Lisboa Juvenil" > .Fundo: DRR - Documentos Ruella Ramos. (Com a devida vénia...) 

Citação:
(1961), "Diário de Lisboa", nº 13743, Ano 40, Sábado, 18 de Março de 1961, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_16336 (2019-1-9)


1. Do jornalista Tiago Carrasco recebemos o seguinte pedido
 
Date: terça, 12/01/2021 à(s) 17:37
Subject: Pedido de colaboração reportagem Revista Sábado 

Boa tarde,

Como estão? Chamo-me Tiago Carrasco, sou jornalista da revista Sábado e estou a preparar uma reportagem sobre as milícias que ajudaram os militares a ripostar o ataque da UPA no norte de Angola, a 15 de Março de 1961. 

A reportagem vai sair em Março, exatamente para assinalar o 60º aniversário desses acontecimentos. 

No entanto, escasseia o material sobre as OPVDCA [Organização Provincial de Voluntários e Defesa Civi de Angolal]. 

Contacto-vos para vos pedir a vossa preciosa ajuda - que muito útil me foi noutras ocasiões - na identificação de pessoas que testemunharam estes acontecimentos e que fizeram parte (ou viveram perto) destas milícias em Angola e até mesmo em Moçambique.

Conseguem me ajudar?

Gostava de saber quem fazia parte destas milícias, como se organizavam, como atacavam, como se armavam e como evoluíram depois para uma organização muito ligada aos salvamentos, combates a incêndios e desenvolvimento rural.

Muito obrigado.

Eu vivo em Peniche (perto do Luís Graça, creio) mas consigo pôr-me rapidamente em qualquer parte do país.

Cumprimentos,

Tiago Carrasco
Telemovel: 926 988 005


2. Resposta do nosso editor LG, com data de 15 do corrente;

Tiago, obrigado pelo seu contacto. Em relação ao seu pedido..., como sabe o nosso blogue só reúne ex-combatentes que estiveram na guerra colonial na Guiné...Alguns de nós conhece(ra)m outros territórios, como é o caso de Angola...

Posso sugerir que contacte o nosso amigo e camarada António Rosinha, que fez o serviço militar em Angola, e estava lá justamente em 1961...E tem uma larga experiência de Angola (bem como da Guiné), como civil: trabalhou como topógrafo numa empresa de obras públicas... O António Rosinha é uma testemunha privilegiada desses tempos de 1961 em Angola. Ele tem cerca de 125 referências no nosso blogue.

Para já é tudo, espero que o Rosinha aceite falar consigo. Tenho outros contactos de camaradas que lhe podem falar de Angola em fases da guerra posteriiores...

Boa saúde e bom trabalho. Luís Graça

3.  Posto em contacto com o António Rosinha, este respondeu hoje  ao Tiago nestes termos:

Sobre esta organização [OPVDCA], mais não sei do que publicamente em geral se falava.

Nem nunca conheci pessoalmente qualquer elemento dessa organização, nem conheci qualquer actividade militar.

Mas de certeza que existe gente viva e de cabeça fresca que, anunciando, vão comparecer.

Não sei se essa organização durou muitos anos, Quem tenha incorporado essa organização em 1961, que tivesse 22 ou 23 anos, hoje tem 83 ou 84.

Cumprimentos

Antº Rosinha

4. Resposta do Tiago Carrasco:

Caro António Rosinha,

Prazer em conhecê-lo.

Muito obrigado pela resposta rápida ao meu pedido. As OPVDCA foram constituídas espontaneamente em 1961 para dar resposta aos ataques da UPA em 1961 e evoluíram para uma organização paramilitar de defesa civil até 1974. Também eram conhecidas como defesas civis e, para além da defesa das zonas urbanas, prestavam serviços como salvamentos, combate a incêndios e projetos de desenvolvimento rural. 

Não conhece ninguém que tenha feito parte do conflito em Angola que tenha conhecimento sobre estas organizações? Haverá alguém do seu conhecimento que possa ter feito parte das defesas civis ou que tenha testemunhado as suas acções? Eu já tenho dois ou três contatos mas estou à procura de mais informação.

Qualquer pista que me possa prestar será de extrema utilidade para mim.

Muito obrigado e bom resto de domingo,

Tiago Carrasco


5. Novo pedido de Tiago Carrasco, de hoje, às 16h33:


Caro Luís Graça,

Muito obrigado pela sua resposta e pelo encaminhamento para o vosso camarada António Rosinha. Entretanto, o António Rosinha já entrou em contacto comigo e estamos a falar. Ele não tem memória destas organizações, mas estou a pedir-lhe contactos que possam ter.

Aproveito para lhe perguntar se na Guiné não existiam, durante a época do conflito, organizações similares às OPVDCA, ou seja, grupos paramilitares que se encarregavam da defesa do território e de outras acções relacionadas com a protecção civil? 

Calculo que não, uma vez que na Guiné-Bissau havia menos colonos, mas não gostaria de deixar de lhe perguntar.

Retribuo os votos de boa saúde e desejo-lhe um bom resto de fim-de-semana,

Tiago Carrasco

6. Comentário e apelo do editor  LG:

Tiago, o mais próximo o que eu conheco, no teatro de operações da Guiné, equivalente às OPVDCA, são as milícias e as tabancas em sistema de autodefesa... 

Não temos grande informação sobre o seu início, formação, organização e funcionamento. Em princípio, estavam subordinadas a um régulo, oficial de segunda linha (alferes, tenente, capitão)... Havia também a polícia administrativa (cipaios), às ordens do adinistrador de circunscrição / concelho e do chefe de posto...

Mas, que saibamos, os colonos (da metrópole, de Cabo Verde ou de origem sírio-libanesa) não estavam enquadrados em nenhuma organização de tipo paramilitar como as mílicias (que eram, etnicamente, homogéneas, e em geral formadas por homens da etnia fula). E alguns desses colonos (pequeno funcionalismo público, empregados de comércio, pequenos comerciantes, pequenos agricultores, donos de "pontas"...) foram também foam aliciados pelos movimentos nacionalistas, e em especial pelo PAIGC. De resto, eram de facto poucos os chamados "colonos" e estavam espalhados pelo território. 

Mas podemos pedir aqui também a ajuda do nosso colaborador permanente Cherno Baldé, que vive em Bissau... No entanto, ele era criança, no início da guerra. Mas é uma espécie de "caixa forte" das memórias dos mais velhos...

Fazemos igualmente um apelo a todos os colaboradores e leitores que queiram e possam responder a este pedido de colaboração do jornalista Tiago Carrasco. (**)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 9 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19385: Guerra colonial - cronologia(s) - Parte I: 1961, Angola

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Guiné 61/74 - P21269: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento, ex-Fur Mil Art) (20): O sargento da milícia de Amedalai

Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca)  > Subsector do Xime > Amedalai (tabanca em autofesa e destacamento de milícias) >  Junho de 1970 > José Nascimento.


1. Mensagem do nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art, CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) com data de 14 de Julho de 2020:


O sargento da milícia de Amedalai

A zona operacional do Xime abrangia as tabancas de Amedalai, Taibatá e Dembataco que estavam em auto defesa. Amedalai ficava no percurso do Xime para Bambadinca, sede do Batalhão 2852 e quando por qualquer motivo a CART 2520 fazia deslocações a Bambadinca era normal fazer-se uma pequena paragem junta a esta tabanca, costumávamos transportar alguns elementos da população até Bambadinca e vice-versa. Esta pequena aldeia guineense era defendida por uma secção de milícias comandada por um sargento de milícia africano.

Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca > Subsector do Xime > Carta do Xime (1955) > Escala 1/50 mil > O traçado a vermelho indica a antiga estrada Xime-Bambadinca, passando por Taliuara, Ponta Coli, Amedalai, Ponte do Rio Udunduma.

Com alguma frequência para receber instruções do capitão da Companhia esta secção deslocava-se ao Xime e certa vez ao cruzar-me com o sargento da milícia este pediu-me emprestados 100 "pesos" (100 escudos) que me pagaria logo que possível. Acedi e passado algum tempo o sargento cumpriu o prometido e liquidou o empréstimo. Por algumas vezes a situação repetiu-se e o comandante da milícia não ficou a dever nada ao suposto primo da Dona Branca.

Acontece que no decurso duma operação executada pela CART 2520 tivemos de pernoitar na tabanca de Amedalai. A tropa manda desenrascar e cada um assim o fez, o pessoal ficou instalado em redor da pequena aldeia indígena. Quando me preparava para passar o noite o melhor possível, apareceu-me o sargento da milícia que pediu-me para o seguir, levou-me para uma morança com quarto e cama a que não faltava um mosquiteiro e que tinha um conforto razoável para a circunstância, durante a noite mosquito foi picar para outro lado. Foi a prova de gratidão deste camarada africano. Espero que depois da independência não tenha sido importunado pelo PAIGC.

Na manhã do dia seguinte e devidamente recomposto do percurso do dia anterior, seguimos rumo a Samba Silate e depois junto à margem do rio Geba, regressámos à nossa base no Xime.

Para todos os camaradas da nossa aventura africana, um grande abraço.
José Nascimento
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21174: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento, ex-Fur Mil Art) (19): Uma desditosa criança do Biombo

terça-feira, 30 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21124: Estórias avulsas (99): Histórias de Porto Gole e encontro com um médico guineense no Hospital do Barreiro (Acácio Mares, ex-Fur Mil Inf)

Vista de Bissau - Guiné-Bissau
Com a devida vénia a dnoticias.pt


1. Mensagem do nosso camarada Acácio Mares (ex-Fur Mil Inf da 1.ª Comp/BCAÇ 4612/72, Porto Gole, 1972/74), com data de 27 de Junho de 2020:

Boa tarde camarada Carlos
Recordei mais uma história que passo a contar.

Estava a organizar uma patrulha e disse ao soldado das milícias para ir à frente com o pica. Respondeu que não ia porque não tinha medo de mim, que só ia com outro furriel porque quando não ia ele tirava dente e punha dente e tinha manga de medo eu puxa e não tiro dente.

Estava em Porto Gole e havia um homem que pertencia à Casa Gouveia (CUF) e que recebia produtos para a CUF, amendoim e ráfia. Tinha cinco filhos aos quais eu dava pão com manteiga. Há pouco tempo fui ao Hospital do Barreiro e fui atendido por um médico de cor que em conversa me disse ser natural da Guiné-Bissau,  Porto Gole. Eu disse-lhe que tinha lá estado e  vim a saber que ele era filho do António da Casa Gouveia e que lhe tinham posto o nome Alfredo da Silva em homenagem ao patrão da CUF. Eu tinha uma foto com ele e os irmãos que posteriormente lhe entreguei, ficando ele muito sensibilizado com a situação.

Guiné-Bissau - Exterior do Forte de São José da Amura
Com a devida vénia a Tripadvisor

Camarada, fui à Guiné mais ou menos há 7 anos, que desgraça a avenida que vem do Palácio até ao porto, tudo com grandes buracos, nem um camarão nem ostras havia, tudo desapareceu. O Grande Hotel queimado, Amura igual o Pelicano também. As ruas com sucata.

Eu falei demais, revoltado com o que vi, entretanto estava perto um sujeito de nome António que até me ameaçou.
Fui falar com um português que lá estava há anos que me sugeriu que fosse para Varela. Assim fiz, na volta fui logo direto ao aeroporto pensando que desta já me tinha safado.

Por hoje é só, até que me lembre de outra situação.

Abraço
Acácio Mares
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P20961: Estórias avulsas (98): Histórias do vovô Zé (2): História da Carochinha, contada em confinamento, em homenagem à D. Virgínia Teixeira e ao Senhor Jotex (José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Esp)

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17856: (De) Caras (96): os três antigos bravos comandantes de pelotão da Companhia de Milícias nº 17, de apelido Camará, o Quebá, o Sitafá e o Bacai, recordados no memorial aos mortos da CART 1525, Bissorã, 1966/67 (Rogério Freire / Adrião Mateus)


Foto nº 1 B


Foto nº 1 A



Foto nº 1 

Guiné > Região do Óio > Bissorã > CART 1525 > Galeria de Fotos >   "Os três Comandantes dos Pelotões de Milícia de Bissorã: Bacai Camará,  alferes de 2ª Linha Quebá Camará e Sitafá Camará  [, junto a armamento capturado ao inimigo em 3 de fevereiro de 1967 em Conjogude]


Foto (e legenda) : © Adrião Mateus  (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].(Cortesia do sítio da CART 1525 > Galeria de Fotos, de que é administrador o nosso grã-tabanqueiro Rogério Freire)



1. Comentário do nosso camarada Rogério Freire (ex-alf mil, MA, CART 1525, "Os Falcõe", Bissorã, 1966/67) ao poste P17853 (*):

(...) O Quebá e o Citafá Camará eram comandantes de pelotão da milícia. Eram irmãos e ambos foram promovidos a alferes [de 2ª linha] durante a nossa Comissão. O Quebá veio com um prémio a Portugal.

O Quebá foi ferido com gravidade em combate por duas vezes durante a nossa comissão: a primeira em 5 de dezembro de 1966 na Operação Bissilão, ao Biambi; e e na segunda vez em 9 de junho de 1967 na Operação Bizarma, ao Tiligi.

Foram dois heróis a quem entregávamos as nossas vidas quando íamos para o mato ...e foram muitos milhares de portugueses que, ao longo do tempo em que eles estiveram ao serviço das NT, a eles se entregavam durante a noite pelas bolanhas fora a caminho do objetivo.

Triste ... Triste mesmo é que eu li no Diário de Notícias uns meses depois da saída das NT da Guiné (1974 ou 1975) que, tanto o Quebá como o Citafá, tinham sido fuzilados pelo PAIGC ... abandonados à sua sorte pela forma infeliz com que a descolonização foi efectuada.

Caro amigo ... sugiro uma visita ao nosso Historial (não sei se haverá outros documentos tão completos disponíveis na Internet) publicado no nosso site em www.cart1525.com. Lá encontrarás muita informação. Páginas 109/110 nº 4 - Valorização das Forças Nativas.

Quanto ao [José] Ramos ...

Pág. 35/36 do Historial: 7. Operação FURÃO II, QUERÉ, 21MAI66

RESULTADOS 
Memorial da CART 1525,
em Bissorã (*)

- Foram feitos 10 mortos confirmados ao IN, entre os quais se conta um natural de São Tomé, José Ramos, responsável pela base de BANCOLENE, o qual foi trazido para Bissorã. (...) (**)

2. Informação adicional que encontramos na legenda da foto nº 0015, do Adrião Mateus (ex-fur mil mec auto), publicada em CART 1525 > Galeria de Fotos:


(...) "Os 3 Comandantes dos Pelotões de Milícia de Bissorã: Bacai Camará,  alferes de 2ª Linha Quebá Camará e Sitafá Camará.

"Os dois últimos foram premiados com o prémio 'Governador da Guiné' por terem prestado serviços de extraordinária valia às nossas tropas, com exceptional valor e coragem com brilhantes actuações em combate, reveladores da sua alta determinação e patriotismo. Foram condecorados e vieram a Portugal em inícios de 1968 conhecer a capital da que consideravam a sua Pátria.

"Depois do 25 de Abril estes valorosos militares portugueses que consideravam Portugal a sua Pátria foram abandonados pelo governo português e foram assassinados pelas tropas do PAIGC, durante a governação do Presidente da Guiné Bissau Luís Cabral, sem qualquer julgamento ou meio de defesa, perante um pelotão de fuzilamento Cremos que os seus restos mortais foram depositados numa vala comum em Mansoa". (..)


3. Excerto do Historial da CART 1525, pág. 109/110 (com a devia vénia):

(...) VALORIZAÇÃO DAS FORÇAS  NATIVAS

(...) Aquando da nossa chegada a esta vila, viemos encontrar dois pelotões da Companhia de Milícia nº 17 e uma Companhia de Polícia Administrativa, constituída a 4 pelotões. A actividade destas forças era bem diversa e, assim, enquanto que a Milícia era empenhada em operações, encabeçando as colunas, à Polícia Administrativa era atribuído um papel secundário, saindo para o mato apenas integrada em colunas-auto, para colaborar nas picagens de estrada.

Dependia a Milícia da CCAÇ 1419, para todos os efeitos, ao passo que a Polícia Administrativa, como o nome indica, disciplinar e administrativamente estava subordinada à Administração, podendo contudo dispor-se dela operacionalmente, sempre que as circunstâncias o exigissem. Assim, desde a chegada da nossa CART até cerca do 10º mês de comissão, altura em que a CCAÇ  1419 foi para Mansabá, apenas podia haver um conhecimento relativo da verdadeira situação dessas forças nativas e das dificuldades ou problemas que poderiam ter.

Passou então o comando militar de Bissorã para a CART 1525 e, consequentemente, a dependência das referidas forças. A constituição das mesmas não foi alterada, não só por que vinha do antecedente, mas também porque, salvo algumas e poucas excepções, se provou que estava correcta. A Milícia continuou assim com Quebá Camará, no comando do pelotão nº 157 e Bacai Camará comandando o nº 158, estando a cargo de Citafá Camará e Landim Camará as funções de guias e informadores da NT.

(...) Mas, à medida que o tempo foi decorrendo, começaram a surgir outros problemas, da mais variada ordem. Estes, uma vez apresentados ao Comandante da CART 1525, mereceram sempre a melhor atenção e respeito, tentando dar-lhe a devida solução, dentro das suas possibilidades.

Os guias Citafá Camará e Landim Camará acusavam o peso dos anos e não podiam manter o mesmo ritmo em que até aí tinham sido utilizados e a Milícia, a começar nos seus comandantes, não tinha ainda visto premiado o seu valor, quer individual, quer colectivamente.

As numerosas operações que se seguiram reforçaram mais profundamente, no Comandante da CART [1525], o real mérito que as forças nativas possuíam e do qual já se tinha algum conhecimento. Com base nos relatórios dessas operaçõe surgiram as primeiras citações e o primeiro objectivo foi conseguido,  a promoção a alferes de 2ª linha de Quebá Camará e de Citafá Camará, na realidade, dentre todos, os mais merecedores, por tantos e tão relevantes serviços prestados. 

Estas duas promoções, que há muito haviam sido prometidas, mas sem que efectivamente se concretizassem, causaram natural júbilo, não só aos galardoados, mas também aos seus subordinados e à maioria da população nativa que muito os estima. 

Posteriormente foi ainda proposto, também para ser promovido a alferes de 2ª linha, o outro comandante de pelotão de Milícia, Bacai Camará. Seguiram-se propostas de Cruzes de Guerra para dois comandantes de secção de Milícia, Bacar Camará e Bajeba Jana e para o comandante de pelotão de Polícia Administrativa, Pedro Sambajuma. A culminar foram ainda propostas para o Prémio do Governador da Guiné,  deslocação à Metrópole os já referidos Quebá Camará e Citafá Camará.

 (...) Não foram, contudo, descurados outros problemas que se nos apresentavam, pelo que surgiram bastantes oportunidades de se ajudarem os elementos das forças nativas, conseguindo-se coberturas de zinco para as casas de alguns deles, emprestando-lhes dinheiro e arranjando-lhes alguns géneros alimentícios, nas alturas mais difíceis. Os processos para a concessão de subsídios aos feridos e incapacitados seguiram o seu curso normal, aguardando apenas o deferimento superior e aos mortos a nossa homenagem foi prestada com a inscrição do seu nome no monumento de reconhecimento a Bissorã, por nós erigido.

Quando se abandonou Bissorã e para mostrar o nosso incontestável reconhecimento e apreço pelas forças da Milícia local, foi por nós elaborada [uma] proposta de louvor que, mais tarde, veio a ser considerada pelos Comandos Superiores" (...)
____________



(**)  Último poste da série > 15 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17770: (De) Caras (97): O AVC na primeira pessoa e o processo de recuperação e reintegração (José Saúde)

domingo, 28 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17405: Falsificações da história (1): a fantasiosa versão do repórter de guerra e escritor sul-africano Al J. Venter sobre o ataque a Bambadinca em 28/5/1969


Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > O alf mil  trms Fernando Calado, de braço ao peito, junto à parede, crivada de estilhaços de granada de morteiro, das instalações do comando, messe e dormitórios de oficiais e sargentos, na sequência do ataque de 28 de maio de 1969.

Esta era a parte exterior dos quartos dos oficiais (vd. ponto 6 da foto aérea abaixo reproduzida),  que dava para as valas, o arame farpado e a bolanha, nas traseiras do edifício do comando... Era uma parte mais exposta, uma vez que o ataque partiu do lado da pista de aviação.

Pelo menos aqui, caíram duas morteiradas:

(i) Uma das morteiradas atingiu o quarto onde dormia, com outros camaradas,  o fur mil amanuense José Carlos Lopes. Tinha acabado de sair.. Ainda hoje conserva um lençol crivado de estilhaços... Está vivo por uma fração de segundos... (Bancário reformado do BNU, vive em Linda a Velha e é membro da nossa Tabanca Grande.);

(ii) Outra morteirada atingiu o quarto onde dormia o Fernando Calado e o Ismael Augusto.  O Fernando ainda apanhou o efeito de sopro, tendo sido menos lesto que o Ismael, a sair logo que rebentou a "trovoada"...

Também podia ter "lerpado", como a gente dizia na época... Apesar de tudo, a sorte (ou a má pontaria dos artilheiros da força atacante, estimada em 100 homens, o que equivalente a 3 bigrupos) protegeu os nossos camaradas da CCS/BCAÇ 2852 e subunidades adidas (, entre elas, o Pel Caç Nat 63 cujos soldados, guineenses, dormiam a essa hora, com as suas bajudas, nas duas tabancas de Bambadinca, e que portanto estavam fora do arame farpado)...

Na foto acima , o Fernando Calado, membro da nossa Tabanca Grande (tal como o Ismael Augusto), traz o braço ao peito, não por se ter ferido no ataque mas sim por o ter partido antes, num desafio de... futebol. Infelizmente  temos poucas fotos dos efeitos (de resto, pouco visíveis) deste ataque.

Foto: © Fernando Calado (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) >  Invólucros de granadas de canhão s/r, deixadas na orla da mata contígua à pista de aviação, na noite do ataque a Bambadinca, 28 de maio de 1969... Ainda tenho bem presente, na minha memória, estes "objetos" de guerra, na nossa passagem por Bambadinca, a caminho de Contuboel, em 2 de junho de 1969...



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Bidões de combustível atingidos pelo fogo do IN, no ataque da noite de 28 de maio de 1969. Recorde-se aqui o sistema de cores dos nossos bidões de combustíveis e lubrificantes: Vermelho (gasolina), verde claro (petróleo branco), azul (gasóleo), amarelo (óleos)...No caso dos combustíveis para aeronaves, os bidões também eram verde-claro, mas de tampa (topo do bidão) de cor branca.

Fotos: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > c. 1970 > Vista aérea do aquartelamento, tirada no sentido leste-oeste, ou seja, do lado da grande bolanha de Bambadinca

Do lado esquerdo da imagem, para oeste, era a pista de aviação (1) e o cruzamento das estradas para Nhabijões (a oeste), o Xime (a sudoeste) e Mansambo e Xitole (a sudeste). Vê-se ainda uma nesga do heliporto (2) e o campo de futebol (3). A CCAÇ 12 (julho de 1969/março de 1971) começou também a construir um campo de futebol de salão (4), com cimento "roubado" à engenharia nas colunas logísticas para o Xitole.

De acordo com a fotografia, em frente, pode ver-se o conjunto de edifícios em U: constituía o complexo do comando do batalhão (5) e as instalações de oficiais (6) e sargentos (7), para além da messe e bar dos oficiais (8) e dos sargentos (9). As messes de oficiais e sargentos, tinham uma cozinha comum (10).  Na noite de 28 de maio de 1969, uma granada de morteiro explodiu no ponto 7.

Do lado direito, ao fundo, a menos de um quilómetro corria o Rio Geba, o chamado Geba Estreito, entre o Xime e Bafatá. O aquartelamento de Bambadinca situava-se numa pequena elevação de terreno, sobranceira a uma extensa bolanha (a leste). São visíveis as valas de protecção (22), abertas ao longo do perímetro do aquartelamento que era todo, ele, cercado de arame farpado e de holofotes (24). A luz eléctrica era produzida por gerador... Junto ao arame farpado, ficavam vários abrigos (26), o espaldão de morteiro (23), o abrigo da metralhadora pesada Browning (25). Em 1969/71, na altura em que lá estivemos, ainda não havia artilharia (obuses 14).

A caserna das praças da CCS (11) ficava do lado oeste, junto ao campo de futebol (3). Julgava-se que o pessoal do pelotão de morteiros e/ou do pelotão Daimler ficava instalado no edifício (12), que ficava do outro lado da parada, em frente ao edifício em U. Mais à direita, situava-se a capela (13) e a secretaria da CCAÇ 12 (14). Creio que por detrás ficava o refeitório das praças. Em frente havia um complexo de edifícios de que é possível identificar o depósito de engenharia (15) e as oficinas auto (16); à esquerda da secretaria, eram as oficinas de rádio (17).

Do lado leste do aquartelamento, tínhamos o armazém de víveres (20), a parada e os memoriais (18), a escola primária antiga (19) e depósito da água (de que se vê apenas uma nesga). Ainda mais para esquerda, o edifício dos correios, a casa do administrador de posto, e outras instalações que chegaram a ser utilizadas por camaradas nossos que trouxeram as esposas para Bambadinca (foi o caso, por exemplo, do alf mil António Carlão, nosso camarada da CCAÇ 12).

Esta reconstituição foi feita por Humberto Reis, Gabriel Gonçalves e Luís Graça.

Foto do arquivo de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Já muito se escreveu aqui sobre o célebre ataque a Bambadinca em 28 de maio de 1969 (*), por coincidência uma data simbólica para o regime político então em vigor: em 28 de maio de 1926 deu-se um golpe de Estado que pôs fim à I República, instaurou a Ditadura Militar e institucionalizou o Estado Novo, derrubado 48 anos depois, em 25 de abril de 1974.

A data nunca foi esquecida por quem, como o Fernando Calado e o Ismael Augusto, estava em Bambadinca nessa noite e foi brutalmente acordado pelas explosões dos canhões sem recuo e dos morteiros 82, e pelas rajadas de armas automáticas... 

O simbolismo da data é reforçado pelo facto de tudo ter acontecido  pouco mais de dois meses depois da grande Op Lança Afiada, em que as NT varreram  toda a margem direita do Rio Corubal, desde a foz do mítico rio até à floresta do Fiofioli, considerado um bastião do PAIGC. Cerca de 4 mil almas deveriam viver, sob controlo do PAIGC, desde o início da guerra, nos subsetores do Xime e do Xitole. Cerca de 1300 homens, entre militares e carregadores civis. participaram nesta grande "operação de limpeza". de 10 dias, que não se voltaria a repetir, no setor L1.

Refeito dos desaires sofridos (nomedamente, a desarticulação e/ou destruição de boa parte dos seus meios logísticos, incluindo moranças e meios de subsistência da guerrilha e das populações sob o seu controlo: toneladas de arroz, dezenas e dezenas de cabeças de gado, centenas de galináceos e porcos...), o PAIGC decidiu atacar em força Bambadinca, porta de entrada da zona keste. 

Na história do BCAÇ 2852, o ataque (ou melhor, "flagelação") a Bambadinca é dado em três linhas, em estilo seco, telegráfico:

"Em 28 [de Maio de 1969], às 00H25, um Gr In de mais de 100 elementos flagelou com 3 Can s/r, Mort 82, LGFog, ML, MP e PM, durante cerca de 40 minutos, o aquartelamento de Bambadinca, causando 2 feridos ligeiros. " (...).


2. Sobre este ataque a Bambadinca lemos há dias o seguinte excerto da versão contada pelo escritor e jornalista sul-africano Al J. Venter que, em missão de reportagem à Guiné,  visitou o aquartelamento, um ano depois, já no tempo do BART 2917 (1970/72) e que falou, entre outros com o comandante de batalhão. O excerto é reproduzido pelo nosso crítico literário, Mário Beja Santos (**):


(...) “O último ataque [a Bambadinca] ocorrera exatamente um ano antes de eu chegar: um grupo infiltrado tinha-se dirigido para Norte do outro lado da fronteira  [com a República da Guiné-Conacri] a partir de Kandiafara [corredor de Guileje] para tentar cortar a estrada de Bafatá. 

"Num final da tarde, os guerrilheiros atacaram Bambadinca a partir do outro lado do rio [ Corubal ? ],  retirando-se depois para uma posição pré-determinada, onde esperaram pelo dia seguinte antes de se juntarem a outros dois grupos. Esta força combinada iria então atacar outras posições durante o assalto. Foi então que algo correu mal. 

"Um grupo de pisteiros da força atacante colidiu com uma patrulha de Bambadinca e foi capturada intacta, sem ter sido disparado um único tiro. Um dos homens era um alto oficial do PAIGC. 

"Os quatro homens foram levados de helicóptero para Bambadinca onde foi oferecida ao oficial a opção de contar tudo ou aceitar as consequências. Era uma situação sem saída, e o rebelde foi suficientemente inteligente para aceitar”. (...)

O referido ataque a Bambadinca foi a 28/5/1969 (ou "flagelação", segundo a história da unidade...), estava o Mário Beja Santos em Missirá, a comandar o Pel Caç Nat 52,  e eu a chegar a Bissau no "Niassa", ainda deu no dia 2 de junho, ao passar por lá, vindo de Bissau de LDG até ao Xime, a caminho de Contuboel, para ver os estragos (relativamente poucos... ) mas sobretudo sentir as reações e emoções da malta da CCS/BCAÇ 2852 e subunidades adidas...

Ora eu nunca ouvi esta versão Al J. Venter / Domingos Magalhães Filipe, ou a melhor, a versão contada pelo comandante do BART 2917 (que rendeu o BCAÇ 2852) e registada pelo escritor e jornalista sul-alfricana... Será que o inglês do Magalhães Filipe e o português do Venter eram assim tão maus ?

Parece que alguém está a delirar... ou trocou as cassetes... ou está deliberadamente a falsificar a história. Não fazemos "juízos de valor", interessa-nos apenas a verdade dos factos.

Recorde-se que o BART 2917 chegou a Bambadinca em finais de maio de 1970... O BART 2917 foi mobilizado pelo RAP 2. Embarcou para a Guiné em 17/5/1970 e regressou à Metrópole em 24/3/1972. Foi colocado no Sector L1, em Bambadinca, substituindo o BCAÇ 2852 (1968/70). O seu primeiro comandante foi o ten cor art Domingos Magalhães Filipe. Unidades de
quadrícula: CART 2714 (Mansambo); CART 2715 (Xime; teve 5 ncomandantes); e CART 2716 (Xitole).

O Venter deve, portanto, ter falado, talvez em junho ou mesmo princípios de junho de 1970, com o então ten cor art Domingos Magalhães Filipe, que irá ser substituído pelo famoso ten cor inf Polidoro Monteiro. O Spínola, recorde-se, pôs-lhe os "patins"...

Por que não me parecia que esta história tivesse pés e cabeça, confrontei alguns camaradas de Bambadinca desse tempo, e nomeadamente   o Fernando Calado e o Ismael Augusto, dois bem colocados oficiais milicianos da CCS/BCAÇ 2852, ambos membros da nossa Tabanca Grande.

Mais uma vez o Fernando Calado, que foi  alf mil trms (e, portanto, um oficial bem por dentro do sistema de informação e comunicação do setor L1) contou-me ao telefone a sua versão, que vem desmentir a versão do Al J. Venter / Domingos Magalhães Filipe,  e que ele prometeu passar a escrito, para "memória futura":

(i) o relato do escritor sul-africano Al J. Venter é uma falsificação da história;

(ii) ele e o Ismael já estavam deitados, o ataque terá sido perto da 1 hora da noite; e apanhou toda a cheia desprevenida;

(iii) a sorte de Bambadinca foi os canhões s/r (ele diz que eram seis, a história da unidade fala em três...) ao fazerem tiro direto, no fundo da pista, se terem enterrado ligeiramente (, estava-se já na época das chuvas), pelo que as canhoadas passaram a razar as instalações do quartel; mais certeiras foram algumas morteiradas que fizeram estragados (inckuindo nos quartos dos sargentos);

(iv) não houve prisioneiros nenhuns, nem muito menos foi apanhado à unha nenhuma figura grada do PAIGC; em suma, ninguém foi trazido de helicóptero para Bambadinca para ser interrogado;;

(v) o comandante do BCAÇ 2852, ten cor Manuel Maria Pimentel Basto (, de alcunha, o "Pimbas"),  não estava em Bambadinca nem ele nem a esposa; [o que é difícil de comfirmar a partir da história da unidade: a 14 de maio, o cor Hélio Felgas, cmdt do Comando de Agrupamento 2957 (Bafatá) tinha, juntamente com o ten cor Pimentel Basto, visitado Mansambo, Ponte dos Fulas, Xitole, Saltinho, Quirafo, Dulombi e Galomaro; e a 25, Bambadinca tinah sido visitada pelo Cmdt Militar e e pelo Cmdt Agr 2957; onde é que poderia estar o Pimentel Basto em 28 ? Em Bissau ?]

(vi) a única senhora que vivia no quartel era a esposa do tenente SGE Manuel Antunes Pinheiro, o chefe de secretaria do comando do BCAÇ 2852, e que era açoriano (se não erro);

(vii) o Fernando Calado conirma que houve algumas "cenas de histeria" a nível do comando de Bambadinca... (entre o major  inf Viriato Amílcar Pires da Silva, oficil de op inf, e o 2º cmdt, o maj inf Manuel Domingues Duarte Bispo).

Sabemos, pela história da unidade, que a 2 de junho de 1969, cinco depois do ataque a Bambadicna,os destacamentos de milícias e tabancas autodefesa de Amedalai,  Dembataco e Moricanhe foram flagelados, durante a noite, em simultâneo por 3 grupos não estimados, usando um arsenal impressionante: 7 canhões s/r, 8 mort 82, 13 LGFog, metralhadoras pesadas 12.7, além de armas automáticas, "causando 1 morto e 3 feridos milícias, 1 morto e 4 feridos civis, e danos materiais nas tabancas"... O mês de junho de 1969, já em plena época das chuvas,  foi, de resto, um mês de intensa atividade operacional do PAIGC no setor L1...

Para o comando e CCS do BCAÇ 2852, houve de imediato consequência deste ousado ataque do PAIGC:

(i) ainda em maio  o maj op info Herberto Alfredo do Amaral Sampaio vem substituir o maj Manuel Domingues Duarte Bispo, "transferido para o QG" (sic);

(ii) em julho o ten cor Pimentel Basto, "transferido por motivos disciplinares" (sic), é substituído pelo ten cor inf Jovelino Pamplona Corte Real;

(iii) em agosto, o cap inf Eugénio Batista Neves, cmdt da CCS, é também "transferido por motivos disciplinares", sendo substituído pelo cap art António Dias Lopes (que fica pouco tempo em Bamabadinca: logo em setembro é também substituido, pelos mesmos motivos, pelo cap inf Manuel Maria Fontes Figueiras);

(iv) nesse mesmo mês de setembro, chega a vez do maj inf Viriato Amílcar Pires da Silva: "transferido por motivos disciplinares", é substituído pelo maj art Ângelo Augusto Cunha Ribeiro, o nosso conhecido "major elétrico"...

Em suma, o comando do BCAÇ 2852 é completamente "decapitado" devido ao ataque a Bambadinca de 28/5/1969... que não conseguiu prever e para o qual também não se preparou convenientemente (em termos de defesa e de resposta)...



Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de outubro de 2013 > Sessão de lançamento do livro do José Saúde, "Guiné-Bissau, as minhas memórias de Gabu, 1973/74" (Beja: CCA - Cooperativa Editorial Alentejana, 170 pp. + c. 50 fotos) > Aspeto parcial da assistência: em primeiro plano, o Fernando Calado  e o Ismael Augusto, dois oficiais milicianos da CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) que estava em Bambadinca na noite do ataque do PAIGC, em 28/5/1969; o primeiro era o oficial de transmissões e o segundo o oficial de manutenção.

Foto (e legenda) : © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados



3. Seria interessante que os camaradas da CCS/BART 2917 se lembrassem da visita deste jornalista e escritor Al J. Venter, a Bambadinca, logo no início da comissão, portanto em finais de maio ou princípios de  junho de 1970.

Eu estava lá e não dei por nada, mas também não admira, já que a malta da CCAÇ 12 andava sempre por fora, no mato... Mas, de vez em quando, apareciam por Bambadincas jornalistas e personalidades estrangeiras que em geral "simpatizavam" com o regime de então... Eram visitas discretas, a maioria da malta não se apercebia... Vinham de heli ou DO 27 diretamente de Bissau, com carta branca do Spínola... Lembro-me de um grão-duque qualquer, com um título pomposo... mas também de dignitários religiosos muçulmanos... como o Cherno Rachid...


Em 28/5/1969, as forças que estavam em Bambadinca, sede do setor L1 eram as seguintes:

(i) o comando e a CCS/BCAÇ 2852;

(ii) o Pel Caç Nat 63;

(iii) o Pel Rec Daimler 2046;

e (iv) o Pel Mort 2106 (com secções destacadas em Xime, Mansambo, Xitole e Saltinho.

No total seriam apenas 200 homens em armas...Só a partir de 18 de julho de 1969, Bambadinca passa a ter a mais 160 homens, a CCAÇ 2590 (futura CCAÇ 12), constituída por 60 graduados e especialistas metropolitanos e 100 praça do recrutamento local...

Por sua vez, as subunidades de quadrícula, no setor L1, em 28/5/1969, eram as seguintes:

(i) CART 1746 no Xime;

(ii) CART 2339 em Mansambo (irá depois. no dia seguinte, destacar um pelotão para a defesa da ponte do Rio Udunduma, na estrada Xime-Bambadinca, ponte que fora dinamitada e parcialmente destruída);

(iii) CART 2413 no Xitole (com um pelotão destacado na Ponte dos Fulas´);

(iv) CART 2405 em Galomaro (com um pelotão destacado em Samba Cumbera e outro, depois, na ponte do Rio Udunduma, e outro ainda, mas reduzido, em Fá Mandinga):

(v) CCAÇ 2406 no Saltinho  (com um pelotão depois destacado para a ponte do Rio Udunduma);

(vi) Pel Caç Nat 52 em Missirá;

(vii) o 8º Pel Art / BAC  (-) em Mansambo;

(viii) e pelotões de milícias em Missirá e Cansamange (101), Finete (102), Quirafo (103), Taibatá e Amedalai (104),  Dembataco e Amedalai (105=) Dulombi (144), Moricanhe (145),  Madina Bonco (146), Madina Xaquili (147)...



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) >  Ponte do Rio Udunduma, afluente do Rio Geba, na estrada Xime-Bambadinca > Possivelmente no(s) dia(s) seguinte(s) ao ataque ao quartel de Bambadinca, em 28 de maio de 1969. Nessa noite, esta ponte, vital para as comunicações com todo o leste da província (o eixo Xime-Bambadinca era a porta de entrada do leste), foi objeto do "trabalho" dos sapadores do PAIGC... Os estragos, embora visíveis, não abalaram felizmente a sua estrutura. Era uma bela ponte, em cimento armado, construída no início dos anos 50. Continuou a funcionar, sem quaisquer reparações por parte da engenharia militar... Passou a ser defendida permanentemente por um grupo de combate (que ia rodando pelas subunidades de quadrícula do batalhão e subunidades adidas), até à inauguração anos depois da nova estrada alcatroada Xime-Bambadinca.

Esta foto é "histórica". O José Carlos Lopes, furriel mil  amanuense do conselho administrativo da CCS/BCAÇ 2852, teve de "alinhar no mato", nesta dramática ocasião,  posando aqui para... a "posteridade".

Foto: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. [Edição  e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16127: (De)Caras (41): A Canquelifá da CCAÇ 3545 (1972-1974) e os acontecimentos de janeiro de 1974: a morte do "ranger" fur mil op esp Luís Filipe Pinto Soares (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/74)


1. Mensagem, com data de 19 do corrente, do nosso colaborador, amigo, camarada e grã-tabanqueiro, Jorge Araújo, (que, na "vida real", é docente universitário, para quem não sabe, tendo na "outra vida" sido fur mil at inf op esp/ranger, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/74):

Caro camarada Luís Graça e demais editores:

Conforme promessa, que te dei conta em comentário escrito hoje no blogue, anexo uma nova narrativa histórica sobre os terríveis acontecimentos de janeiro de 1974 em Canquelifá (*), que guardarei para sempre na minha memória.

Aproveitei para juntar, no mesmo texto, três variáveis da guerra: os factos, os relatórios oficiais (Perintreps) e a comunicação social, com relevância para a morte de mais um camarada meu/nosso. (**)

Um abraço.

Jorge Araújo.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15755: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (38): De 10 a 31 de Julho de 1974

1. Em mensagem do dia 11 de Fevereiro de 2016, o nosso camarada António Murta, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), enviou-nos mais uma das suas Memórias, a 38.ª.


CADERNO DE MEMÓRIAS
A. MURTA – GUINÉ, 1973-74

38 - De 10 a 31 de Julho de 1974

Da História da Unidade do BCAÇ 4513: 
(continuação)

JUL74/10 – (...). Continua a verificar-se o cessar-fogo tácito em todo o TO. Prossegue a mentalização das populações, militares e milícias africanos, como preparação para a Independência. Continua a notar-se a adesão ao PAIGC da população, especialmente dos mais jovens, notando-se por enquanto nos Homens Grandes uma certa reserva.

JUL74/11 – (...). Após a passagem por A. FORMOSA de um Furriel dos Comandos Africanos, começou a esboçar-se na CCAÇ 18 uma mudança de atitude quanto ao problema da entrega do armamento e passagem à disponibilidade. Embora ainda não tivessem sido recebidas directivas a este respeito, dentro da mentalização que se vem fazendo tem-se de facto notado ultimamente esta mudança de atitude.

JUL74/19 – (dos Factos e Feitos, pág. 31). A fim de assistir a uma reunião no Comando-Chefe, respeitante a contracção do dispositivo das NT e receber directivas, seguiu para BISSAU o Comandante.

Tendo sido recebidas as directivas para desactivação dos Pelotões de Milícias, foram reunidos no Comando do Batalhão, o Comandante do Batalhão, Comandante da Companhia de Milícias, assim como os respectivos Comandantes de Pelotão, a quem foi comunicado, em sequência da mentalização que se vinha fazendo do antecedente, a maneira como iria ser feito o seu desarmamento e as condições em que os referidos milícias continuariam a usufruir das suas regalias.

Após várias trocas de impressões ficou assente que se iniciava o respectivo desarmamento no dia seguinte. Quanto às populações que tinham armamento distribuído para colaborarem nas autodefesas, e para se proceder ao seu desarmamento, foram reunidos neste Comando todos os “Homens Grandes”, entre os quais se encontravam o Régulo IAIA e o CHERNO SECUNA.

JUL74/20 – Iniciou-se sem quaisquer espécies de problemas o desarmamento dos Pelotões de Milícia do Sector S-2.

JUL74/21 – Comandante regressou de BISSAU.


Das minhas memórias: 

21 de Julho de 1974 (domingo). Guerrilheiros do PAIGC em Nhala (novamente). 

[Salto as notas deste dia. Quero realçar a seguir, algumas fotografias que ajudam à compreensão da época que se vivia. (Julgava que já tinha sido claro a esse respeito). Estas fotografias são importantes, na medida em que mostram o contexto em que se faziam certos “disparates” (como vestir uma camisola com a cara do Amílcar Cabral, fazer-se fotografar ao lado do inimigo, etc.) que tanto chocam hoje os veteranos que não viram o fim da guerra. É devido a esse contexto que eu desvalorizo esses disparates e, se os compararmos, por exemplo, com o hastear da bandeira do PAIGC nos quartéis ou nas tabancas, quando Portugal continuava a manter ali a soberania, o que se dirá então? Chocante? Estou convencido que isto estava a acontecer um pouco por todo o lado na Guiné e, o que ontem era chocante, hoje banalizou-se, perdeu importância e não tem retorno].

Nesta data, 21-07-74, chegaram mais uma vez os guerrilheiros. Pediram autorização para dormirem na escola. Aí, hastearam a bandeira do PAIGC e, quando chegou a hora, procederam à cerimónia de arrear a bandeira. O único incidente passou-se comigo. O alferes do PAIGC no fim da cerimónia abordou-me (eu estava a fotografar), para dizer que quando estavam a entrar Nhala e nós procedíamos ao arrear da nossa bandeira, todo o bigrupo parou em sentido, mesmo os que ainda estavam fora do aquartelamento. Agora ali, eu não mandara pôr em sentido os soldados – e eram muitos – que assistiam ao arrear da bandeira deles... Achou que não houve retribuição nas honras à bandeira. Como se as honras devidas à bandeira de um país soberano, fossem as mesmas a prestar à bandeira de um partido que, oficialmente, ainda não passava disso.

[Era este contexto concreto o que se vivia e não outro, como ainda há dois ou três meses atrás. E que adiantava agora lembrarmo-nos que foram eles que feriram e mataram os nossos amigos e companheiros de armas? Tão despropositado como admitir-lhes que entrassem pelo aquartelamento adentro, à procura de quem lhes matou o familiar ou o camarada. Todos sabíamos que o nosso convívio com eles estava por dias apenas e, com maior ou menor frieza e distanciamento, tínhamos de lidar com eles sem conflitos desnecessários, sendo certo que era com eles que seriam tratadas as formalidades da entrega do território. 

Receio que tudo o que ficou dito possa parecer uma grande necessidade de justificação da minha parte. Deixo já claro: não o faria e não voltarei a abordar o assunto. Mas gostava, sinceramente, que quem não viveu aquele período inédito do fim da guerra, pudesse partilhar a minha informação, histórias e fotografias (mais as dos outros que “fecharam” a guerra), sem as tentar compreender à luz de um tempo passado. Mas, até a nós, o tempo novo, de tão novo e tão inédito, todos os dias nos surpreendia: nada estava previsto, pouco se conseguia planear e a maioria das situações eram resolvidas à medida que surgiam. Apenas as directivas superiores, quando chegavam, eram aplicadas sem empenhos imaginativos. 

Nota: As fotografias a cor, derivadas de slides, são minhas. As outras foram-me cedidas pelo meu amigo ex-Furriel Mil Trms José Roque, a quem agradeço]. 

Foto 1 – Nhala, 21-07-1974. Guerrilheiros do PAIGC na tabanca. Sempre muito disciplinados e contidos.

Foto 2 – Nhala, 21-07-1974. O Alferes Mil. Campos Pereira, actualmente Comandante da Companhia, circula pensativo por entre os guerrilheiros.

Foto 3 – Nhala, 21-07-1974. Alferes do PAIGC, Fur Mil Trms J. Roque e um guerrilheiro.

Foto 4 – Nhala, 21-07-1974. Alferes do PAIGC e alguns militares de Nhala trocando impressões.


Fotos 5 e 6 – Nhala, 21-07-1974. Bandeira do PAIGC hasteada junto à escola.

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Notas quase “telegráficas” dos meus últimos dias na Guiné.

20-07-1974 – Ainda não sei se terei de cancelar as férias. Os acontecimentos estão a evoluir rapidamente. (No dia seguinte anotaria que tinha sabido de Bissau que estava tudo pronto para viajar); temos já directrizes sobre a forma de entregarmos as instalações e os equipamentos ao PAIGC; recebemos ordens de desarmar as populações; o nosso armamento está ser limpo e encaixotado; o Comandante do Batalhão foi chamado a Bissau para receber instruções.

22-07-1974 – A Companhia de Mampatá já tem dois grupos em Buba que embarcam amanhã. Os outros dois em Mampatá, (...); continuam a sair companhias do teatro de operações (TO).

28-07-1974 – Sigo amanhã para Bissau. Em 1 de Agosto embarco de férias para a Metrópole; por aqui muita chuva; continuam a sair Unidades.

************ 

Retomo a História da Unidade. 

JUL74/22 – Pelas 10h00 quando o Comandante e o Oficial de Operações se deslocavam para MAMPATÁ contactaram com GR/PAIGC, estimado em 40 elementos armados e que se encontravam estacionados junto do Reordenamento/ÁFIA, e cujo Chefe se encontrava em MAMPATÁ.
Contactado o mesmo neste Destacamento, em conversa cordial disse chamar-se RAYMO CHAMBU e obedecendo a ordens superiores, tinha saído há dois dias de KANSEMBEL para efectuar um patrulhamento a esta região, mas que nesse dia regressaria.

- Procedeu-se em A. FORMOSA à inauguração da Sala do Soldado, que tomou o nome de Sala “25 de Abril”.

JUL74/23 – Completou-se o desarmamento dos Pelotões de Milícia de CUMBIJÃ, A. FORMOSA, COLIBUIA, ÀFIA e MAMPATÁ.

- CART 6250 deixou o Subsector de MAMPATÁ, seguindo para BISSAU, via BUBA, para aguardar embarque para a Metrópole.

- A pedido de duas comissões organizadas por militares da CCAÇ 18, e Milícias, foi pedido a BISSAU autorização para os mesmos se deslocarem ao Comando-Chefe para tratar de diversos assuntos relacionados com o desarmamento dos militares e algumas regalias pecuniárias dos milícias. [Sublinhado meu, tal como seguintes].

- Com o desarmamento dos Pel Mil de BUBA e NHALA, completou-se o desarmamento de todos os pelotões de Milícia do Sector S-2.

JUL74/24As comissões da CCAÇ 18 e Milícias seguiram para BISSAU via fluvial.

(...).

JUL74/28 – Escalou A. FORMOSA o NORD ATLAS. Neste avião regressou a comissão da CCAÇ 18, que em reunião havida neste Comando relatou as suas diligências em BISSAU.

JUL74/29Apesar das diversas reuniões havidas com elementos da CCAÇ 18, estas mostraram-se na disposição de não entregarem o armamento, mesmo aqueles que conforme comunicação da 1.ª Rep/CTIG, acabaram o tempo normal de serviço e têm de passar à disponibilidade.

Presume-se que esta sua atitude esteja relacionada, não só com a vinda do Furriel Comando Africano a A. FORMOSA, como também com atitudes tomadas pelo PAIGC em algumas regiões já sob o seu controle. 

(...).

JUL74/31 – Esteve presente em A. FORMOSA uma delegação da 4.ª Rep/CTIG, chefiada pelos Exmos Majores PIRES AFONSO e COSTA PINTO, que veio tratar de assuntos relacionados com a desactivação de COLIBUIA e CUMBIJÃ em particular e duma maneira geral da desactivação do Sector S-2.

- Acompanhados do Comandante deslocaram-se a COLIBUIA e CUMBIJÃ e acompanhado do Oficial de OP/INF deslocaram-se a BUBA e NHALA.

************ 

Eu já não iria assistir à desactivação de nada. A não ser à desactivação de mim próprio dali a um mês em Lisboa, bilhete na mão a sair de casa da tia no Restelo para o Aeroporto, telefone a tocar, não embarques, já regressaram todos, passou aqui um soldado de Coimbra em casa dos teus pais a avisar, que bom, podes voltar já para casa... [Uns segundos de silêncio, uma coisa a nascer-me no estômago, sem querer acreditar no que ouvia. A seguir, explodi]. Que bom, uma porra! Já pensaste que entregaram aquilo sem eu estar presente, vim sem me despedir de ninguém, vou lá deixar a roupa e o meu dólmen, os livros, os diários, o artesanato, o meu caixote de uísque, a minha pressão de ar 4,5, etc., etc. Que pulhice foi esta? Porque não me chamaram? E agora ainda tenho de pedir à tia que me deixe ficar para amanhã, a ver se descubro onde e quem me desactive de vez.

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Deixo algumas fotografias da viagem de Aldeia Formosa para Bissau, com paragem em Catió. Sem o saber, estava a fotografar aquelas terras pela última vez. Não precisam legendagem.







Fotos 7, 8, 9, 10, 11, 12 e 13.

(continua)
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Nota do editor

Poste anterior da série de 9 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15728: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (37): De 1 a 8 de Julho de 1974

domingo, 11 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14138: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte XX: setembro de 1973: (i) declaração unilateral da independência; (ii) início do Ramadão: o Islão como forte barreira antissubversiva; (iii) propostos como candidatos a peregrinação a Meca os régulos do Xime e Badora; (iv) morte do Cherno Racide, e AldeiaFormosa





Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) >  Julgo que  estas imagens têm alguma coisa a ver com a visita que o Cherno Rachide fez a Bambadinca, no meu/nosso tempo (c. 1970)...Infelizmente as fotos do meu camarada Arlindo Roda não trazem legenda (nem data)... ... A personagem central, vestida de branco e "gorro" preto, que parece estar a presidir a uma cerimónia religiosa islâmica,  pode muito bem ser o Cherno Rachide que eu conheci em Bambadinca... 

Recordo-me de as NT lhe terem armado uma tenda, no recinto do quartel de Bambadinca, para ele receber condignamente não só as autoridades locais, civis e militares, como também os seus fieis...  Ele virá a falecer, em Aldeia Formosa, em setembro de 1973. O Cmnd do BART 3873 organizou uma coluna de transporte (!) para os seus fiéis poderem ir prestar-lhe a última homenagem em Aldeia Formosa!,,,  No meu tempo, o troço Saltinho-Aldeia Formosa estava interdito... 



Fotos: © Arlindo Roda (2010). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]


1. Continuação da publicação da História do BART 3873 (que esteve colocado na zona leste, no Setor L1, Bambadinca, 1972/74), a partir de cópia digitalizada da História da Unidade, em formato pdf, gentilmente disponibilizada pelo António Duarte (*)

[António Duarte, ex-fur mil da CART 3493, a Companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972-1974; foi transferido para a CCAC 12 (em novembro de 1972, e não como voluntário, como por lapso incialmente indicamos); economista, bancário reformado, formador; foto atual à esquerda].


O destaque do mês de setembro de 1973 (pp. 67/69) vai para:

(i) declaração unilateral, por parte do IN, da independência da Guiné-Bissau, "ato político que não teve eco no seio da população controlada pelas NT";

 (ii)  início do Ramadão: o Islão como forte barreira antissubversiva;

(iii) propostos como candidatos à peregrinação a Meca os régulos do Xime e Badora [, Mamadu Bonco Sanhá, tenente de 2ª linha];

(iv) morte do Cherno Rachide, de Aldeia Formosa
















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Nota do editor: