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terça-feira, 26 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7176: (In)citações (15): Os verdadeiros filhos da Guiné (Cherno Baldé / José Belo)

1. Comentário do Cherno Baldé ao poste do António Rosinha (*)

Amigo Rosinha,


Sem concordar inteiramente com tudo o que diz neste texto, confesso que, de facto, as imagens retradas sobre o país (Guiné-Bissau) e, mais concretamente sobre Bissau naqueles fatídicos primeiros anos da nossa independência,  são a mais pura verdade e que ninguém poderá contestar ou desmentir sem correr o risco de se ridiculizar. Factos são factos.

Todavia há questões de fundo em que, a meu ver, o Rosinha não conseguiu fazer a devida e necessária separação, metendo tudo no mesmo saco (como se diz por aqui). Por exemplo o desejo de implantar o comunismo na Guiné, visto como primeiro objectivo do PAIGC, de Amílcar e de Luís Cabral. Não sei se isso corresponde à realidade dos factos. Lembro-me da resposta a que Amílcar deu a um jornalista, penso que em Itália, durante uma conferência internacional. Indagado se ele era comunista e lutava para a implantação do comunismo no seu país, ele respondeu, mais ou menos, nesses termos: Se pelo facto de lutar e de querer a liberdade, a dignidade e o bem estar para o meu país, é ser comunista, então digo que sim (as palavras são minhas).

" (...)Na Guiné, aparentemente, o povo aceita tudo que lhe é imposto sem se revoltar"...

É verdade, Rosinha, mas atenção é só aparentemente, porque de tanto sofrerem represálias cruéis (ver criminosas), e isto desde os tempos da ocupação colonial, os povos aprenderam a não enfrentar as injustiças e o poder instituído,  assim de caras, mas as consequências depois são por demais evidentes. Lembram-se do golpe de 14 de Novembro ou ainda da morte do Presidente Nino. Qual foi a reacção do povo? Nenhuma, no fundo todos (ou muitos) ficaram aliviados, e não houve uma única voz a contestar, excepção feita àfamília, claro.

Por fim, e para não me alongar, diz que "o que falhou no projecto do PAIGC e Luís Cabral foi a falta de colaboração do povo".

Bem, o povo aceitou tudo, aguentou enquanto pôde mas, como sempre, tudo tem seus limites, não é ?

Há uma frase muito interessante no livro apresentado no poste de Beja Santos em que se afirma: O que todos os movimentos nacionalistas (de libertação) que se acotevelavam nos corredores de Dakar e Conacri tinham em comum era quererem a Guiné para os Guineenses. Este nacionalismo exacerbado, na minha opinião (e aí estamos de acordo), levou o país a enveredar por um destino incerto, descontrolado, cheio de incertezas em relação ao futuro e nas mãos de pessoas que,  alguns anos antes, seriam das mais improváveis.

Eu acredito, ingenuamente, que apesar dos crimes cometidos (que bem podiam ser considerados de genocídio) e a fome engendrada, pelo menos nessa altura havia um projecto de construção nascido de um ideal positivo (com todos os defeitos imputáveis) que guiava a restrita cúpula dirigente, o que deixou de existir a partir do momento em que o país passou para as mãos dos verdadeiros filhos da terra.

Obrigado,  Rosinha,  e continua com as tuas excelentes notas de Colon (Colons há muitos, e lá como cá) que nos vão elucidando sobre os outros tempos.

Cherno Baldé

Segunda-feira, Outubro 25, 2010 12:36:00 PM

2. Comentário do José Belo ao comentário do Cherno Baldé:

Tenho duas perguntas para o Cherno Baldé, que me são provocadas pelas seguintes afirmações no comentário:

"Pelo menos nessa altura havia um projecto de construção nascido de um ideal positivo (com todos os defeitos imputáveis) que guiava a restrita cúpula dirigente, o que deixou de existir a partir do momento em que o país passou PARA AS MÃOS DOS FILHOS DA TERRA").

Quer-se com isto dizer que a Guiné estaria melhor governada por outros,que não os filhos da terra?

"O que todos os movimentos nacionalistas,de libertação,que se acotovelavam nos corredores de Dakar e Conacri tinham em comum era querer a Guiné para os Guineenses. ESTE NACIONALISMO EXACERBADO...").

Querer a Guiné para os Guineenses, precisamente como querer Portugal para os Portugueses, poderá considerar-se [uma forma] de ..."nacionalismo exacerbado?". E, apesar de tudo, não seriam os Cabo Verdianos um corpo tão estranho ao verdadeiro tecido social local, como, por exemplo os portugueses, que por lá estavam há mais de 400 anos? Não será boa prova disso ambas as  rejeições ?

Um abraço.
 
Segunda-feira, Outubro 25, 2010 3:05:00 PM
 
 
3. Resposto do Cherno Baldé ao J. Belo:
 
Amigo J. Belo,


A primeira afirmação deve ser vista com cuidado, pois ela retrata uma certa realidade local,  se quiser uma corrente de pensamento que nasceu nos centros urbanos (Bolama e Bissau) no auge da competição entre as diferentes componentes sociais que giravam à volta dos presídios e casas comerciais (princípios do séc.XX), mormente entre os assimilados, oriundos dos grupos étnicos locais e os outros vindos de fora (São-tomenses, caboverdianos e portugueses e mais tarde, também, os islamizados do sertão). Dentro desta lógica, os verdadeiros Guineenses seriam os chamados pretos nok ou sejam,  nativos locais, não mestiços.

Apesar das aparências de convivência pacífica, consubstanciadas na propaganda do partido único, esta corrente infiltrou-se no seio do PAIGC tendo ganhado força e adeptos ainda durante a luta. Depois dos Portugueses, seria a vez dos Burmedjos,  ou sejam,  os mestiços, que não eram outros senão os caboverdianos do PAIGC e que se manifestou no golpe de 14 de Novembro de 1980.

A partir dai foram os "verdadeiros filhos da terra" a comandar com os resultados que se conhecem. Quando se deu o golpe todos nós chorámos, juntamente com o Nino, junto ao Palácio do Governo, na rotunda do Império (agora Heróis Nacionais), pensando: "Agora é que é, agora somos nós a mandar"!... Tudo não passou de uma montanha de ilusões que depois se transformou num mar de frustrações que ainda hoje nos cobrem de vergonha aos olhos do mundo.

A minha visão,  hoje, é que a Guiné precisava e precisa ainda de todos os seus filhos e verdadeiros amigos. Os Guineenses,  descendentes de Caboverdianos como Amílcar ou Luís Cabral,  foram muito mais patriotas que todos os nossos "verdadeiros filhos da terra" juntos. Não se trata de competências, é muito mais que isso.

Há dias ouvi pela rádio RFI, uma entrevista de José Turpin (irmão de Elysé Turpin, co-fundador do PAIGC) que falava de Cabral dizendo:
- Quando ele chegou a Conacri, escondido sob o pseudonimo de Abel Djassi, e onde eu e mais outros camaradas já nos encontrávamos, rapidamente se impôs como líder, não pela força mas pela sua integridade moral e força de convicção. Foi ele que nos unificou sob uma única liderança política e estratégica, antes dele, os "verdadeiros" Guineenses pavoneavam-se por aí,  perdendo seu tempo em discursos patrióticos e disputas pueris por mulheres (prostitutas,  provavelmente).

Acho que a luz do que aconteceu nos nossos países e em África, não será de todo errado reconhecer que países como Angola e Moçambique, a Guiné também, poderiam ser muito mais prósperos e competitivos se não tivessem corrido com os seus compatriotas brancos. Estando de viagem para Moçambique, estive alguns dias em Johanesburg, no aeroporto, onde vi empregados pretos e brancos trabalhando lado a lado, falando em língua local (Zulu, ou outra), mesmo se os pretos, por enquanto, estão maioritariamente confinados a cuidar das cargas e latrinas.

Certamente é mais fácil falar assim agora, porque naqueles tempos nem nós nem vocês estávamos preparados para conviver de forma sã, de igual para igual. As barreiras eram artificiais mas convinham à parte dominante.

 Obrigadão,
Cherno

Segunda-feira, Outubro 25, 2010 5:17:00 PM
 
4. Comentário, final, do J. Belo:
 
Caro Cherno Baldé: Fico grato pelos esclarecimentos que vêm contribuir para um constante melhorar de perspectivas, e conhecimentos, sobre a Guiné, tão difíceis (actualmente) de se obter por aqui. O tempo para se resolver alguns dos sérios problemas locais, como da restante África, será certamente demorado.Só se espera que não seja tão demorado como o que tem levado aos (tão críticos) Europeus a resolver os seus problemas... ainda bem longe de resolvidos! Um abraço.
 
Segunda-feira, Outubro 25, 2010 6:16:00 PM (**)

[Revisão / fixação de texto / título: L.G.]
 
______________
 
Notas de L.G.:
 
(*) Vd. poste de 24 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7170: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (7): Da Casa Gouveia aos Armazéns do Povo
 
(**) Último poste desta série > 22 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7157: (In)citações (19): Neto de um gerente comercial francês, o Mr. Jean Marie Adolphe Herbert, e filho de um futebolista caboverdiano, Armando Búfalo Bill (Nelson Herbert)

domingo, 15 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6853: Futebol e nacionalismo na década de 1950 (Nelson Herbert, filho do jogador da selecção da província, Armando Lopes ou Búfalo Bill)





1. Foto e texto de Nelson Herbert, com data de 6 do corrente:

Caro Luis

Segue uma foto ilustrativo do poste referente a futebol e nacionalismo na Guiné (*)...A selecção provincial da Guiné de 1964 [ou de 1954?]... se não me falha a memória...integrada na sua maioria por futebolistas originários de Cabo Verde...

Dos futebolistas na foto, ainda consigo identificar alguns...mas quiçá o Mário Dias ne possa ajudar na identificaçãao dos restantes...

De pé da esquerda para a direita: Antero Bubo (caboverdiano); o jogador seguinte é guineense, cujo nome me escapa; Armando Lopes (Búfalo Bill,  meu pai) (**); o nome dos restantes também me escapa...

Agachados: terceiro a contar da esquerda, o guarda redes principal Júlio Almeida (antigo funcionário da granja de Pessubé que trabalhou com Amilcar Cabral e é referenciado como um dos fundadores do PAIGC); quinto atleta, Joazinho Burgo; o último...escapa-me o nome mas sei que é avô do Miguel, da selecção de Portugal... que esteve no Mundial.

Mas o Mário Dias quiçá seja a pessoa indicada para ajudar na identificação destes futebolistas ...

Mantenhas

Nelson Herbert (foto à esquerda)
USA

2. Comentário de L.G.:

Meu caro Nelson, salvo melhor opinião, a foto que me mandaste, não pode ser de 1964, mas sim do princípio dos anos cinquenta, como a própria legenda manuscrita sugere... Nessa altura, o teu pai  já tinha mais de 30 anos... Recorde-se que ele nasceu em 23 de Agosto de 1920, é 4 dias mais novo do que o meu pai, Luís Henriques.

Aproveito para saudar os nossos dois velhos, que passaram, como militares, pelo Mindelo, ilha de São Vicente, Cabo Verde, na II Guerra Mundial. Oxalá eles continuem a dar-nos a alegria do seu convívio. O meu velho já começou a comemorar o feito que é, para um homem da sua geração,  chegar aos 90: hoje mesmo vai a um convívio luso-alemão de "velhas guardas"... que incluirá uma partida de futebol entre portugueses, da Lourinhã,  e alemães, em férias... Entre os portugueses da minha terra há muita gente que ele, o meu velho, treinou quando meninos e moços... Ele próprio praticou futebol até meados dos anos 50... E hoje é o sócio nº 1 do Sporting Clube Lourinhanense.

O futebol é (ou pode ser) um traço de união entre os povos. Acabo de ler, no blogue do BART 1914, que o português Norton de Matos é o novo treinador da selecção de futebol da Guiné-Bissau.

_____________

Notas de L. G.:

(*) Vd. poste de 6 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6831: (Ex)citações (88): Futebol e nacionalismo nos anos 50/60 (Nelson Herbert)

(**) Vd. postes de:

 15 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5109: Meu pai, meu velho, meu camarada (18): Do Mindelo a... Bambadinca, com futebol pelo meio (Nelson Herbert / Luís Graça)

12 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5101: Meu pai, meu velho, meu camarada (17): Ilha de S. Vicente, S. Pedro, 1943: Armando Duarte Lopes (Nelson Herbert)

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6848: Memórias de um Combatente da Liberdade da Pátria, Carlos Domingos Gomes, Cadogo Pai (6): 1966, o ano das prov(oc)ações


Continuação da publicação das memórias de Cadogo Pai (*)... O documento, de 26 páginas, que me chegou às mãos, tem por título: Memória de Carlos Domingos Gomes, Combatente da Liberdade da Pátria: Registos da História da Mobilização e Luta da Libertação Nacional. Recordar Guiledje, Simposium Internacional, Bissau, 1 a 7 de Março de 2008.

II Parte > Excertos (pp. 8-11)

14. Numa sessão da Câmara Municipal, o Major Matos Guerra que era o Presidente anunciou-nos que ia destruir, com uma bulldozer nova encomendada, e por ordem do Sr. Governador Arnaldo Schultz, o bairro do Cupelom, suspeito de ser um ninho de terroristas.

Repliquei, pedindo-lhe para nos informar onde é que a população iria ser alojada. Respondeu que não sabia. Dei-lhe como exemplo o bairro de Alvalade, em Lisboa, onde se cosntruiu o bairro, primeiro, para depois se desalojar as pessoas.

Foi uma discussão que durou, foi suspensa para o jantar e depois retomada até de madrugada. Nós, a vereação, coesa, recusámos a proposta de decisão, que ficou suspensa. Isto pode ler-se na acta da Câmara Municipal.


A seguir, houve uma nova provocação, sempre para estudo das minhas reacções. O secretário da Câmara Municipal, António Barbosa, natural de Cabo Verde, telefonou-me a dizer que havia uma proposta para mandar uma delegação da Câmara Municipal de Bissau a Lisboa, para representar a Guiné, a exemplo das outras províncias, numa manifestação de apoio ao Professor Salazar por ter decidido desencadear a guerra contra as províncias colonizadas.

Pediram-me para ir assinar a proposta. Perguntei de quem era a decisão. Respondeu-me que fora decidido pelo Governador e o Sr. Presidente da Câmara. Respondi que, por mim, eram eles que deviam assinar. Insistiu e eu respondi para dizer ao Sr. Governador e ao Sr. Presidente da Câmara que eu recusava-me a assinar a proposta. Passou o telefone ao Presidente da Câmara que me confirmou o pedido. Dei-lhe a mesma resposta, negativa, com pedido de para a transmitir ao Sr. Governador.

16. Aconteceu esta cena de manhã. Desligaram o telefone de imediato. Telefonei ao Sr. Benjamim Correia, a dar-lhe conhecimento do ocorrido. Combinámos recusar assinar. O Dr. Armandino Pereira não tinha telefone em casa. Desloquei-me de carro para o avisar. Combinámos recusar assinar a proposta.

17. À tarde, recebemos uma convocatória para uma reunuião na Câmara após o jantar. Eu e o sr. Benjamaim Correia comparecemos, mas o Dr. Armando Pereira desculpou-se, dizendo que estava incomodado, pelo que não poderia deslocar-se à Câmara, de noite.

18. No dia seguinte, quinta-feira, era o dia normal das sessões de Câmara, o Presidente da Câmara veio ao nosso encontro, à porta, com uma amabilidade fora do habitual. Cumprimentou cada um e, ao dirigirmo-nos para os nossos lugares, convidou-nos para um encontro no seu Gabinete, com o Dr. Manuel Marques Palmeirim, que fora mandado pelo Sr. Governador Arnaldo Schulz para ter uma reunião com os vereadores.

19. Fui o primeiro a entrar. Convidou-me a ficar na cadeira mesma à sua frente e, depois de cada um ocupar o lugar que lhe fora oferecido, disparou:
- Senhores Vereadores, parece que se estabeleceu na Câmara uma confusão, para se atender o pedido do Sr. Governador, de se mandar uma delegação da Câmara a Lisboa para tomar parte numa manifestação em apoio ao Professor Salazar.

Respondi, pedindo desculpas, para dizer que não havia confusão nenhuma. Apontei para o livro que tinha aberto à minha frente, a Reforma Administrativa Ultramarina (RAU), que diz que é a Câmara que decide e delibera, não é o Sr. Governador que desencadeia a iniciativa. Respondeu-me:
- Tem razão o Sr. Carlos Gomes.


20. Fez-me três perguntas. A primeira foi a seguinte:  Sendo a Câmara que iria reunir para tomar a decisão, qual seria a minha opinião.

Respondi-lhe que, por mim, se fosse a Câmara a decidir teria que indicar o Presidennte, a quem compete a representação da Câmara.

Fez-me a segunda pergunta:
- E se o Presidente não puder ir ?

Respondi que, por mim, nesse caso seria o Sr. Vice Presidente, Dr. Armando Pereira, no caso de aceitar a missão.

Fez-me a terceira pergunta:
- E se o Dr. Armando Pereira não puder ir ?

Respondi-lhe que teríamos que decidir por escrutínio secreto… Mas se a escolha recaísse na minha pessoa, recusaria aceitar a missão.

21. O Sr. Governador teve que ser ele a decidir, mandando o Sr. Presidente da Câmara representar a Guiné.

22. A partir dessas provocações, nunca mais tive vida sossegads, sucederam-se prisões e mortes (Durante Vieira e outros)… A minha construção continuou a evoluir, mas com desassossego.

 [ Revisão / fixação de texto/ excertos / digitalizações / título: L.G.] 

domingo, 8 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6836: Memórias de Um Combatente da Liberdade da Pátria, Carlos Domingos Gomes, Cadogo Pai (4): Casado em 1956, vereador em 1957, em Bolama, regressa a Bissau em Novembro de 1960, como convicto nacionalista


Continuação da publicação das memórias de Cadogo Pai (*)... O documento, de 26 páginas, que me chegou às mãos, tem por título: Memória de Carlos Domingos Gomes, Combatente da Liberdade da Pátria: Registos da História da Mobilização e Luta da Libertação Nacional. Recordar Guiledje, Simposium Internacional, Bissau, 1 a 7 de Março de 2008.

II Parte > Excertos (pp. 1-5)

"1. Casei-me a 8 de Setembro de 1956, viajei para Dakar, a 12 de Setembro de 1956, de ambulância, de Lulula para Zinguinchor. Era condutor um amigo e colega de infância José Bapote, que ainda vive. 

De Zinguinchor segui para Dakar, onde passei um mês na companhia da esposa e do Djack, Jacinto Gomes, meu sobrinho que eduquei desde os dois anos e meio, após a morte da mãe.

"2. A primeira reunião que decidiu a fundação do PAIGC, realizou-se na Rua Severino Gomes de Pina, a 19 de Setembro de 1956, com as presenças de Amílcar Cabral, Luís Cabral, Aristides Pereira, Fernando Fortes, Inácio Júlio Semedo e Elisée Turpin.

“O documento elaborado é de oito artigos. O Art 3º diz que o Partido trabalha no sentido de unir todos os africanos, de todas as etnias e de todas as camadas sociais. Consta da primeira edição do Jornal Nô Pintcha, artigo esse que mandei publicar. Citei o artigo mencionado para esclarecer que tinha ligações com o PAIGC, quando Luís Cabral tentou impedir a minha candidatura às primeiras eleições legislativas realizadas em Bissau, após a independência.

“Esta declaração provocou o interesse do Dr. Vasco Cabral, que não me largou até o fornecer e ao camarada Nino Vieira. Refiro-me ao texto completo que me foi fornecido após o meu regresso de Dakar em 1956.

"3. Após o meu casamento, em 1957 fui eleito vereador da Câmara Municipal de Bolama, palco dos meus primeiros confrontos com o poder colonial, que marcaram bem a minha vida de luta e experiência.

“Foi onde comecei a interessar-me pela interpretação da leis, por que a luta era árdua, de confrontos de interesse do município e dos colonialistas. Era secretário Abeilard Vieira, presidente Camilo Monte Negro (administrador), Olívio Pinto Pereira, funcionário administrativo, testemunho válido das lutas travadas que as actas assinalam.

"4. Não completei o mandato, porque começou a repressão colonial, após a fundação do PAIGC a 19/9/1956 e os acontecimentos de 3 de Agosto de 1959 no Cais do Pinjiguiti. Tive que viajar para Portugal em Junho de 1960, porque corria enorme risco de ser preso. As actividades atrás citadas – visitas de excursões de rapazes de Bissau a Bolama – geraram uma situação que abalou totalmente a confiança que levou os Portugueses a convidar-me para a Câmara Municipal de Bolama como vereador.

"5. Regressei de férias em Novembro de 1960, directamente para me instalar em Bissau, dadas as notícias que recebia das prisões e mortes de presos em Tite.

“Depois de me instalar em Bissau, transferi os stocks de Bolama para Bissau, a seguir às operações de Fulacunda, Junqueira, cessando a minha actividade em Bolama e zonas de Tite, porque eram perigosas.

"6. Antes de partir de férias, os meus contactos eram muito notórios. Aos fins de tarde, reuníamo-nos habitualmente na marginal, mesmo em frente aos Armazéns da Alfândega e o chamado Porto das Canoas, eu, Carlos Domigos Gomes, com os amigos Aristides Pereira, Alcebias Tolentino, Adelino Gomes, Barcelos de Lima e Alfredo Fortes, nomes já mencionados na primeira parte deste trabalho.

Aristides Pereira deixou Bolama, a pretexto de concorrer a um concurso nos Estados Unidos, afinal [seguiu] para as fileiras do PAIGC. (…).


Estas ligações eram tidas como suspeitas. No livro do Aristides Pereira, Guiné-Bissau e Cabo Verde,uma luta, um partido, dois países, na página nº 79, ele refere a nossa amizade e faz uma observação em relação à minha pessoa como nacionalista convicto, já na altura, no decurso dos nossos contactos.

“Voltei a encontrar o camarada Aristides Pereira em Madina do Boé. Foi na altura do 1º Aniversário da nossa Independência Nacional. Conduzi uma delegação de Bissau até Gabú. Era comandante da zona o sr. Honório Chantre que nos recebeu à chegada a Gabú. Após se inteirar da nossa intenção de irmos assistir às comemorações do 1º Aniversário da nossa Independência, mandou-nos procurar alojamento e aguardar a resposta à comunicação que ia mandar para a base.

“No dia seguinte, logo pela manhã, mandou-me chamar a mima e aos companheiros a fim de dar a resposta prometida. Da autorização recebida, só eu podia entrar para a base, escolhendo uma pessoa para me acompanhar. A delegação era composta por 14 nacionais e um português, de nome António Augusto Esteves, ex-comerciante bem conhecido, já falecido, radicado há dezenas de anos na Guiné-Bissau. Posso testemunhar a sua dedicação, bem coberta a causa da Independência (como o testemunham os bens implantados).

Foi ele então a pessoa escolhida para me acompanhar. Foi deslocado um helicóptero da base de Madina Boé a Gabu para nos transportar. A minha escolha causou mal estar na caravana que teve de regressar a Bissau.

A chegada à base que acolheu a manifestação, fomos recebidos pelo então Comissário do Comércio, o camarada Armando Ramos, que a seguir às manifestações, recebeu ordens para nos conduzir a uma sessão especial, onde encontrámos, reunido, todo o elenco dirigente do Partido, entre eles com a toda a surpresa o camarada Aristides Pereira que me acolheu de braços abertos, com uma abertura desconhecida no seu semblante, sempre fechado. Disparou-me a seguinte pergunta:
- E as nossas conversas em Bolama ?

Respondi comovido, só descobri os fundamentos dos nossos encontros após a sua partida dita para os Estados Unidos.

Fecho solenemente este episódio com uma declaração: nunca mais esqueci o abraço deste encontro, para testemunhar que os efeitos de Aristides Pereira, em prol dos trabalhos de mobilização, merecem muito mais do que o silêncio do seu n ome que nos tem chegado. Aproveito esta oportunidade para agradecer a menção do meu nome no seu livro atrás citado.

[ Revisão / fixação de texto/ excertos / digitalizações / título: L.G.]

(Continua)

________________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores:

30 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6807: Memórias de um Combatente da Liberdade da Pátria, Carlos Domingos Gomes, Cadogo Pai (1): Encarregado de uma empresa francesa, em Bissau e depois Bolama (1946-1951)

2 de Agosto de 2010 > 
Guiné 63/74 - P6815: Memórias de um Combatente da Liberdade da Pátria, Carlos Domingos Gomes, Cadogo Pai (2): A elite guineense nos anos 50


5 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6828: Memórias de um Combatente da Liberdade da Pátria, Carlos Domingos Gomes, Cadogo Pai (3): Estabelecido por conta própria em 1955

Guiné 63/74 - P6835: (Ex)citações (89): As elites e a formação dos movimentos nacionalistas (António Rosinha)



Angola > 1961 > Desfile de tropas > O António Rosinha, furriel miliciano, aparece aqui em primeiro plano, assinalado com um X... Depois de ter o CSM, em Nova Lisboa, foi chamado de novo às fileiras do exército, para combater os "terroristas" da UPA no norte de Angola...  Repare-se no tipo de armamento das NT: pistola-metralhadora FBP, para os graduados; espingarda Mauser, para as praças...Farda: caqui amarelo... Capacete de aço...

Foto: Foto: © António Rosinha (2006). Direitos reservados


1. Comentário de António Rosinha, com data de 2 do corrente,o Poste P6815

Como habitualmente, quando lemos as poucas coisas que escrevem os participantes da formação dos movimentos nacionalistas nas várias ex-colónias, aparecem sempre em número reduzido.

Refiro-me ao que seria o PAIGC, FRELIMO e MPLA, ou seja, aqueles movimentos com gente mais preparada.

Se na Guiné haveria pouca gente mais preparada, mas creio que todos os guineenses e lusodescendentes (mestiços) tinham ideias nacionalistas, no caso de Angola eram muitos e em grandes cidades.

Com muitos fiz o curso de sargentos milicianos (CSM) em Nova Lisboa. E o primeiro classificado do meu pelotão, luandense, gente boa, com ideias iguais às dos outros, já foi vítima das catanas da UPA.

Quando fui reconvocado como furriel para combater "os terroristas", fomos contar quantos éramos e faltava esse jovem, Patricio de seu nome.

Eu fiz esta guerra, julgando que lutava do lado certo,  pensando que era o mal menor para toda a gente, principalmente para esses angolanos mais preparados.

Exatamente, porque estive sempre acompanhado, por um grande número desses angolanos... e caboverdeanos. Eles viam aquela guerra duma maneira mais abrangente que nós,  tugas. Eles tinham mais consciência, apesar de jovens, o que representavam internacionalmente as riquezas africanas, "que o Salazar queria esconder".

Alguns desses nacionalistas não quiseram tomar parte nas guerras que se seguiram nas ex-colónias e vieram para Portugal e Brasil.

Dizia mais tarde um desss nacionalistas revoltado: «Agora alguns ficaram com uma ferida na Tchetchénia».

Esse nacionalista era Raul Indipo,  do Duo Ouro Negro.

Antº Rosinha (*)

_____________

Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 6 de Agosto de 2010  > Guiné 63/74 - P6831: (Ex)citações (71): Futebol e nacionalismo nos anos 50/60 (Nelson Herbert)

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6831: (Ex)citações (88): Futebol e nacionalismo nos anos 50/60 (Nelson Herbert)


Guiné-Bissau > Bissau > s/d (pós-independência > Campo de jogos de Bissau (antigo estádio Sarmento Rodrigues) > Um jogo de futebol, sob a bandeira da nova República, duas equipas locais, com equipamentos de clubes portugueses (Benfica e Sporting). Foto de autor desconhecimento.

Imagem: Gentilmente cedida por Nelson Herbert / Maria da Conceição Silva Évora


1. Comentário, com data 2 do corrente,  do Nelson Herbert,  ao poste P6815 (*):

"Apareceram também clubes de futebol como o Sport Lisboa e Benfica, 'por iniciativa de alguns nomes conhecidos da sociedade portuguesa, Gama das Construções [Gama] Lda, Pimenta do Cadastro, Casqueiro, etc.' e o Sporting Club de Bissau, 'sob a égide de Eugénio Paralta, irmão Zé Paralta, Chico Correia'... A UDIB já existia, diz-nos Cadogo Pai. No entanto, o desemvolvimento do futebol, 'trouxe mais um bafo de rivalidades, olhando a situação dos jogadores caboverdianos , importados pelo Benfica, que, para os atrair, os adeptos bem colocados, tinham que lhes oferecere bons empreegos. Bons rapazes, no fundo, Antero, os sinais [?] Tcheca, Marcelino Ferreira (Tchalino), etc." (1ª Parte, p. 6).

Caro Luis

A origem das equipas de futebol da Guiné é, por sinal,  uma das tematicas que há meses vinha eu já ensaiando propor a "debate" e [pedir] contribuições ao blogue...Sobre esta temática tenho eu recolhido alguns testemunhos, por incentivo do meu próprio progenitor... por sinal da leva dos futebolistas caboverdianos que povoaram o meio desportivo guineense da época. Alias, modalidade-rei, com a qual os caboverdianos estavam em certa medida familiarizados, através dos ingleses, que pelas passagens pelo Porto Grande da Ilha de São Vicente, introduziram o futebol e o "cricket"...Quanto a este último facto curioso, nos demais territorios "ultramarinos" de Portugal, foi o único onde a modalidade pegou e conserva ainda alguns resquícios da sua práctica.

Dessa "hegemonia" de futebolistas caboverdianos - Antero, Marcelino (Gazela),  Armando Lopes (Búfalo Bill , meu pai), Tcheca, Júlio Almeida (referenciado como um dos fundadores do PAIGC), na sua maioria atletas do Sport BISSAU e Benfica e da UDIB (caso do meu pai que,  "importado" de Cabo Verde, inicia a sua carreira na UDIB,transferindo-se anos mais tarde para o Benfica de Bissau), houve na época a necessidade de se contrabalançar...essa então "primazia" de futebolistas das ilhas, pelas razões  já expostas acima... 

E seria pois com base nesse pressuposto que nasceria o Sporting Club de Bissau (clube de que fui futebolista junior, apesar da minha paixão clubística pela UDIB)...outrora Império... e na qual militaram numa primeira fase da sua fundação, e na sua quase totalidade, futebolistas originários da Guiné. 

"Caboverdianos" do Sporting viriam depois... e entre os nomes sonantes dessa época, cito aqui o nome de "Djinha" Almeida...

Por iniciativa dos irmãos Paralta,e de mais um lote de futebolistas, de novo, na sua maioria caboverdianos, que,  na época do defeso do campeonato provincial, praticavam o ténis nos adstritos courts do então estádio Sarmento Rodrigues, nasceria a ideia de fundação estariam envolvidos do Tenis Club de Bissau...

Eis pois aqui uma proposta de "debate" e de recolha de testemunhos de que o Blog...tem sido proficuo...
Por exemplo, que papel teve a "tropa" na sustentabilidade do futebol na Guiné, pelo menos a nivel das equipas do interior do pais, algumas que com inicio da guerra deixaram de ser parte do campeonato provincial da Guiné.

Entretanto, relativamente à participação das equipas do futebol guineense, incluindo a própria selecção provincial, nas competições regionais africanas da época... Bobo Keita, um hist+rico comandante da guerrilha e talentoso futebolista guineense, entretanto ja falecido, recordou em tempos,  em entrevista por mim conduzida, o seu primeiro contacto com a ideia da necessidade da emancipação do homem africano...Aconteceu pois aquando de uma digressão da selecção provincial da Guiné ao Ghana de Kwame Nkrumah...

Mantenhas
Nelson Herbert
USA 

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(**) 4 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6827: (Ex)citações (70): O direito de um velho colon a ter um ponto de vista um tanto reaccionário (António Rosinha)

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6828: Memórias de um Combatente da Liberdade da Pátria, Carlos Domingos Gomes, Cadogo Pai (3): Estabelecido por conta própria em 1955



Continuação da publicação das memórias de Cadogo Pai (*)... O documento, de 26 páginas, tem por título: Memória de Carlos Domingos Gomes, Combatente da Liberdade da Pátria: Registos da História da Mobilização e Luta da Libertação Nacional. Recordar Guiledje, Simposium Internacional, Bissau, 1 a 7 de Março de 2008.

Excertos da 1ª Parte, Pág. 7-9 


"17. Foi a fase em que surgiu Amílcar Cabral, [em 1952, o qual ] jogou um papel importante, inteligente, em que organizou a sociedade, fazendo serenar os ânimos [exaltados devidos às ] rivalidades, e levando os adeptos a uma camaradagem que se impunha, e a um convívio em paz. E unidos, no sentido de organizar o combate ao único inimigo da Pátria, o nefasto colonialismo.

“Amílcar organizou os contactos, restritos. Para defesa da confidencialidade necessária”: Elisée Turpin, Inácio Semedo, Fernando Fortes, Luís Cabral, Aristides Pereira, Epifânio Soto Amado, Júlio Almeida, guarda-redes da UDIB, etc.

"18. Os colonialistas, em vez de corrigirem, incentivaram mais os motivos das rivalidades e dos reparos dos guineenses: Liceus em Cabo-Verde, bons empregos, salários desiguais, etc.

"19. Vinha de Bolama, as reuniões eram no quarto de Elisée Turpin, [,em Bissau,] que ficava situado atrás do salão onde se pratica hoje o judo. Vinham conhecidos dele do Senegal e os encontros eram ali e também na messe do B.N. U. [, Banco Nacional Ultramarino,] com os cabo-verdianos, empregados do B.N.U. que passaram a dar uma contribuição válida, Lima Barber, Júlio Simas, Eanes, Cézar, Lomba Nascimento, etc., sendo os últimos de S. Tomé.

“Após as reuniões, o camarada Luís Cabral, invariavelmente, mantinha-s eno passeio do B.N.U,, a passear. Ao chegarmos à esquina da empresa francesa NOSOCO (hoje Henrique Rosa), o Elisée dizia-nos:
- Um momento, para eu dar uma fala ao Luís Cabral.  

"Mas nunca dizia o que ia tratar com ele"... 









Cópia da 1ª Parte, pág. 8 (em cima)... Transcrição da página 9 (a seguir):

"razão do meu constrangimento e propôs-me uma transferência para Paris, dada a confiança que ganhei em toda a organização, a exemplo de muitos colegas que foram transferidos na altura para Ziguincgor, Dakar, etc. 

"Avisou-me que o vento da Independência iniciada nos países vizinhos (Conakry, Senegal, etc.) chegaria à Guiné-Bissau e aconselhou-me que, se ficasse na Guiné, iria passar mal, como passei.

"Após esta reunião, decidi adiar a minha decisão, era altura da campanha, mas com o constrangimento a que éramos obrigados nas compras dos produtos, voltei à carga com a decisão. Foi assim que me estabeleci por conta própria a 5 de Setembro de 1955.

"Fim da 1ª Parte".

[ Revisão / fixação  de texto/ excertos / digitalizações / título: L.G.]

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Nota de L.G.:

 (*) Vd. postes anteriores da série:


2 de Agosto de 2010 > 
Guiné 63/74 - P6815: Memórias de um Combatente da Liberdade da Pátria, Carlos Domingos Gomes, Cadogo Pai (2): A elite guineense nos anos 50


quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6827: (Ex)citações (87): O direito de um velho colon a ter um ponto de vista um tanto reaccionário (António Rosinha)

1. Comentário de 29 de Julho último, assinado por António Rosinha [, foto à esquerda,  em Pombal, 2007, de L.G.], ao poste P6802:

 Beja Santos, esta tua capacidade e força para publicares e analisares tudo o que se escreve sobre a Guiné, enriquece imenso este blogue. Com a vantagem de deixar campo para cada leitor fazer a própria análise.

E, no caso deste livro, que não dá muitas novidades mais que outras leituras, é aquela dúvida se seria exactamente o PAIGC de Amílcar e Luís Cabral, que os guineenses queriam.

Atenção,  que eu assisti ao 14 de Novembro de 1980, em que Vasco Cabral (não era da família),também foi baleado à porta de casa por «uma bala perdida».

E o facto de alguns guineenses ficarem satisfeitos com a nova constituição, o povo em geral também não teve opinião. Porque aquilo não foi mais do que um tiro no próprio pé do PAIGC.

Será que a grande preocupação do povo seria mesmo uma nova "constituição"? É que aqueles que se diziam membros do PAIGC apregoavam que o golpe nos «bormelhos» foi justo, porque tanto a distribuição dos lugares bons, assim como a distribuição dos automóveis, tinha ido parar às «mãos erradas».

Era um bom motivo para um golpe de estado, visto do PAIGC;  do PAICV, nunca li grandes comentários.

Mário e Luís, o facto de eu ser um velho «colon»,  também tenho direito a analisar de um ponto de vista um tanto reaccionário.

Faço votos que a democracia imposta pelos FMI, ONU, Banco Mundial, e Igreja, e umas tantas ONG, substitua um dia a droga e a corrupção, e fixe os guineenses mais preparados na sua terra. Caso contrário, com o tempo desaparece a nossa velha Guiné.

2. Outro comentário (ao poste P6807) do camarada do nosso querido amigo António Rosinha, a quem desejamos saúde  e longa vida:

Luís Graça, deve ser interessantíssimo publicar na íntegra as memórias do Cadogo Pai, que provavelmente vai permitir, simultaneamente,  ficarmos com uma ideia sobre Cadogo Filho, 1º ministro e talvez o maior empresário guineense pós-independência.

Se o pai não seria histórico do PAIGC?

Podia não ser, mas Luís, nos anos 50,  todos os guineenses letrados, chamemos-lhe assim, (não indígenas), tipo Luís Cabral, da Casa Gouveia, dos Correios,  tipo Aristides, ou o Cadogo, de uma casa comercial, todos eram nacionalistas.

Tanto do PAIGC em Bissau, como do MPLA e outros de Angola, todos eram nacionalistas.  Antes de Março de 1961, não se preocupavam muito em esconder o que pensavam e até o manifestavam entre amigos e colegas metropolitanos.

O que confundia muitos, era essa ligação política ao comunismo, e veio a ver-se,  depois de Março de 1961, as ligações aos americanos através das missões evangelistas em Angola.

Daí haver milhares que, sendo nacionalistas, nunca aderirem aos movimentos. Daí  também se contarem pelos dedos os pouquíssimos dirigentes (letrados) do MPLA e do PAIGC.

É que,  quando lemos tudo o que há escrito sobre os movimentos, principalmente do PAIGC, que secou os outros em volta, são sempre um pequeno grupo.

No entanto todos eram nacionalistas, desde os que foram Cabos, Furriéis e Alferes do nosso exército,  lado a lado connosco, como os que foram colegas de trabalho.

O Cadogo, incompreensivelmente aos olhos de um tuga, tinha sucesso como empresário, em plena implantação do comunismo mais ortodoxo em Bissau de Luis Cabral.

Cumprimentos.
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Nota de L.G.:

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6815: Memórias de um Combatente da Liberdade da Pátria, Carlos Domingos Gomes, Cadogo Pai (2): A elite guineense, nos anos 50



Lisboa > c. 1947 > Subindo o Chiado, Artur Augusto da Silva e Clara Schwarz da Silva... Futuros pais do nosso muito querido Pepito (Carlos Schwarz da Silva).

Artur Silva,  nascido em Cabo Verde, em 1912, viveu os primeiros anos em Farim, na Guiné, e depois em Lisboa onde se licenciou em Direito e conheceu Clara (n. em Lisboa, em 1915). Teve uma vida intelectual intensa enquanto estudante, frequentando as tertúlias literárias da Baixa. Ainda conheceu Fernando Pessoa (que morreu em Novembro de 1935), e privou com intelectuais com o poeta António Botto, o romancista Ferreira de Castro, o músico Luís Freitas Branco, o pintor Eduardo Malta. Esteve de 1939 a 1941 em Angola, como secretário do Governador Geral; de regresso a Portugal exerceu advocacia em Lisboa, Alcobaça e Porto de Mós)..Em 1949, o casal partiria para a Guiné, onde o Artur foi, até 1966, advogado, notário e até substituto do Delegado do Procurador da República. Morreu em Bissau, em 1983.

Por sua vez, Clara Schwarz, de pais judeus (o pai polaco e a mãe russa), licença em letras, e diplomado em volino pelo Conservatório de Música de Lisboa, foi uma notável pedagoga, tendo sido professora, no Liceu Honófrio Barreto, em Bissau, de alguns dos futuros dirigentes e quadros do PAIGC. Membro do nosso blogue, faz em Fevereiro passado a bonita idade de... 95 anos!

Fotos: © Mikael Levin (com a devina vénia...)




Excerto do documento policopiado, "Memórias de Carlos Domingos Gomes"... (ª1 Parte, p.5).


Continuação da publicação das memórias de Cadogo Pai (*)... O documento, de 26 páginas, tem por título: Memória de Carlos Domingos Gomes, Combatente da Liberdade da Pátria: Registos da História da Mobilização e Luta da Libertação Nacional. Recordar Guiledje, Simposium Internacional, Bissau, 1 a 7 de Março de 2008.

O texto, que foi entregue em Março de 2008, em Bissau, pelo próprio autor,está dividido em duas partes, com numeração autónoma: 1ª parte (9 pp.): Memórias de Carlos Domingos Gomes, Cadogo Pai, Galardoado com a Medalha de Combatente da Liberdade da Pátria: Registos da História da Luta de Libertação Nacional. Guiledje, Simpósium Internacional, Bissau, 1 a 7 de Março de 2008; a II parte (17 pp): Simpósium Internacional, História da Mobilização da Luta da Libertação Nacional: Memórias de Carlos Domingos Gomes, Cadogo Pai.

No poste anterior, vamos encontrá-lo em Bolama, em1951, como encarregado de uma empresa francesa, a SCOA, a mesma onde trabalharia, até 1956, Elisée Turpin, um dos históricos do PAIGC. Em Bolama, convive de muito perto com Aristides Pereira, outro histórico do PAIGC.




Na pág. 5, Parte I, o autor refere o nome de diversas personalidades que, ainda antes da chegada de Amílcar Cabral, foram influentes na vida pública, social, cívica e cultural, da cidade de Bissau, devendo ser tidas em conta no estudo da génese do nacionalismo guineense... Entre esses nomes (vd. recorte acima, ponto 13), o autor cita os dos pais do nosso amigo Pepito, o Dr. Artur Augusto Silva [, 1912-1983, ] "advogado, defensor dos arguidos políticos", e a Dra. Clara Schwarz da Silva, "esposa do Dr. Artur Silva, mãe dos estudantes", professora do Liceu Honório Barreto, e hoje membro da nossa Tabanca Grande, com a notável idade de... 95 anos, feitos em Fevereiro passado!

O autor justifica a menção destes e doutros nomes influentes, nestes termos: "Antes de se falar do camarada Amílcar Cabral [, que regressa à Guiné, em 1952, vinte anos depois de ter partido para Cabo Verde, terra de seus pais], surgiu o movimento da Associação Recreativa, Cultural e Desportiva, que encobria motivos políticos. Daí que tem de se falar das seguintes, não do movimento, que desempenharam um papel importante na viragem histórica dos pacíficos filhos da Guiné-Bissau" (p. 5, 1ª parte)... Foram homens (e mulheres) que, nas suas diferentes actividades, públicas e profissionais, "souberam incutir discretamente nos guineenses [...] a voz da revolta"...

Não sei exactamente a que associação Cadogo Pai se refere. Sabemos que, na 1ª metade da década de 1950, Amílcar Cabral  tinha redigido os estatutos de um clube recreativo, desportivo e cultural, aberto a todos os guineenses,, independentemenmte da sua condição . Ao que parece, os estatutos foram "chumbados" pelas as autoridades portugueses, sob o pretexto de que a maioria dos signatários não era portadora de bilhete de identidade. Em 1955, o governador Melo e Alvim obriga Cabral a deixar a Guiné, embora lhe permita voltar uma vez por ano, por razões familiares.

Cadogo Pai refere-s à importância que tiveram, no despertar da consciência nacionalista dos guineenses, os "torneios de futebol" que se realizavam nos países limítrofes (Senegal, Gânbia, Guiné-Conacri). "Apareciam médicos, advogados, jornalistas"... Os guineenses olhavam para a sua terra e apercebiam-se do atraso em que se vivia...

Foi no imediato após-guerra, sob o consulado de Sarmento Rodrigues, que Bissau conhece um certo progresso...Surgem "os primeiros agrupamentos sociais da elite guineense, o Club Cila, o Ciem [...], depois o agrupamento desportivo, recreativo e cutural"... Tudo isto "antes de Amílcar Cabral" (p. 6, 1ª Parte).

Apareceram também clubes de futebol como o Sport Lisboa e Benfica. "por iniciativa de alguns nomes conhecidos da sociedade portuguesa, Gama das Construções [Gama] Lda,  Pimenta do Cadastro, Casqueiro, etc." e o Sporting Club de Bissau, "sob a égide de Eugénio Paralta, irmão Zé Paralta, Chico Correia"... 

A UDIB já existia, diz-nos Cadogo Pai. No entanto, o desenvolvimento do futebol, "trouxe mais um bafo de rivalidades, olhando a situação dos jogadores cabo-verdianos , importados pelo Benfica, que, para os atrair,  os adeptos bem colocados, tinham que lhes oferecere bons empreegos. Bons rapazes, no fundo, Antero, os sinais [?] Tcheca, Marcelino Ferreira (Tchalino), etc." (1ª Parte, p. 6).

[ Revisão / fixação  de texto/ excertos / digitalizações / título: L.G.]

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Nota de L.G.:

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6807: Memórias de um Combatente da Liberdade da Pátria, Carlos Domingos Gomes, Cadogo Pai (1): Encarregado de uma empresa francesa, em Bissau e depois Bolama (1946-1951)









Conheci Carlos Domingos Gomes (nickname, Cadogo, Cadogo Pai ou Cadogo Velho), há mais de dois anos, em Bissau, no decurso do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de Março de 2008).

Estava ainda no poder o ‘Nino’ Veira. Era presidente do PAIGC Carlos Gomes Júnior (também conhecido na sua terra como Cadogo Júnior, ou apenas Cadogo), e que chegou a ser considerado como delfim do próprio ‘Nino’ Vieira até ao conflito de 1998.

Dez meses depois do Simpósio, o filho de Carlos Domingos Gomes, no final desse ano, seria indigitado para o cargo de Primeiro-Ministro, lugar que ainda hoje ocupa.

Carlos Gomes Júnior nasceu em Bolama em 1949. É filho de Carlos Domingos Gomes e de Maria Augusta. Sabemos que, antes de entrar na política, e chegar a dirigente máximo do PAIGC, o actual primeiro ministro foi um empresário e gestor de sucesso. Não participou na luta armada como combatente.

O Cadogo Pai, em contrapartida, reclama-se da condição de Combatente da Liberdade da Pátria, sem todavia nunca ter pertencido ao PAIGC, e muito menos combatido na guerrilha. Considera-se um nacionalista, embora tenha colaborado com o poder colonial, como autarca, o que lhe trouxe alguns alguns amargos de boca nos primeiros tempos, após a independência. Era amigo de Aristides Pereira. Em contrapartida, teve problemas com Luís Cabral que “tentou impedir a minha candidatura às primeiras eleições legislativas realizadas em Bissau, após a Independência” (1ª Parte, p. 2).

Hoje dou início à publicação da história de vida de Carlos Domingos Gomes, Cadogo Pai, a partir de um texto autobiográfico, policopiado, de que ele me ofereceu uma cópia em Bissau. Conheci-o por acaso, na sala de conferências do hotel onde estava a realizar-se o Simpósio. Na mesma altura conheci o Joseph Turpin (*), sobrinho do Élisee Turpin, esse sim um histórico do PAIGC (**).

Prometi, ao Cadogo Pai, publicar-lhe no nosso blogue as suas memórias, pelo menos alguns excertos ou um versão adaptada. Cumpro essa promessa ao fim de dois anos... Em Bissau, ele ofereceu-me um exemplar autografado. Deu-me inclusive o seu número de telefone de Bissau, onde reside. Daqui vão, para ele, os meus votos de boa saúde e longa vida.

O documento, de 26 páginas, tem por título: Memória de Carlos Domingos Gomes, Combatente da Liberdade da Pátria: Registos da História da Mobilização e Luta da Libertação Nacional. Recordar Guiledje, Simposium Internacional, Bissau, 1 a 7 de Março de 2008.

O texto está dividido em duas partes, com numeração autónoma: 1ª parte (9 pp.): Memórias de Carlos Domingos Gomes, Cadogo Pai, Galardoado com a Medalha de Combatente da Liberdade da Pátria: Registos da História da Luta de Libertação Nacional. Guiledje, Simpósium Internacional, Bissau, 1 a 7 de Março de 2008; a II parte (17 pp): Simpósium Internacional, História da Mobilização da Luta da Libertação Nacional: Memórias de Carlos Domingos Gomes, Cadogo Pai.

Cada uma das partes está estruturada por parágrafos, numerados de 1 a 23 (1ª Parte, pp. 1-9) e de 1 38 (2ª Parte, pp. 1-17). O autor assina o documento, no final como “Administrador” e como “Membro do Conselho de Estado” (sic). Não parece haver uma clara separação temática ou uma sequência lógica e cronológica entre as duas partes.

Devo acrescentar que ele não fazia parte dos oradores do Simpósio Internacional de Guiledje. Estava lá, ao que julgo, apenas como participante ou convidado.

Este evento terá sido um bom pretexto para o autor escrever, eventualmente retocar e sobretudo divulgar as suas memórias, quer como cidadão quer como empresário, balizadas entre os anos de 1946 e 1974:

“1. O evento [, o Simpósio,] galvaniza todo o meu pensamento, para tentar arrumar elementos da minha vida política, participativa, na luta pelo desmantelamento do sistema colonial em África” (Parte I, p. 1).

Em 1946, aos 17 anos (nasceu portanto em 1929), o autor era “paquete de escritório da família Barbosa, junto do Grande Hotel”. Ganhava 120 escudos de salário mensal. Essa família Barbosa incluía Antoninho Barbosa e César Barbosa, tios do Caló Capé.

Achando que não era lugar de (ou com) futuro, candidatou-se a (e ganhou) o lugar de auxiliar de escriturário numa firma francesa, SCOA – Sociedade Comercial do Oeste Africano (proprietária do edifício onde está hoje a Pensão Berta), com várias lojas pela Guiné (Bissau, Bolama, Bissorã…).

Estamos em Agosto de 1946. A escrituração das receitas da loja era feita em francês, língua que ele não dominava, mas iria contar com a ajuda (inesperada) do empregado que fora substituir, nada menos que o José Costa, colega de escola, entretanto transferido para Bissorã. Ele próprio, Cadogo,  será transferido, meses depois, a 24 de Dezembro de 1946, para Bolama. Em Bissau ganhava 250 escudos. Em Bolama, passou a ganhar 300, “quantia exígua para tomar conta da minha vida” (1ª Parte, p. 3).

Fica em Bolama três anos. Em 26 de Dezembro de 1949 é convidado “para vir ocupar o posto de chefia da loja nº 2 em Bissau”, enquanto o José Costa, regressado de Bissorã, chefia a loja nº 1. Tinha 20 anos, “ainda era menor”, só fazendo os 21 em Maio de 1950. É em Bolama que nasce o seu filho, hoje 1º ministro, em 19 de Dezembro de 1949 (conforme consta da biografia oficiosa de Carlos Gomes, no sítio do PAIGC).

Volta a Bolama, em Março de 1951, como chefe operacional da mesma empresa, a Sociedade Comercial Oeste Africana (onde trabalhou como contabilista, de 1942 a 1956, Elisée Turpin, um dos fundadores do PAIGC).

“Foi em Bolama que conheci o camarada Aristides Pereira, muito reservado. Fizemo-nos amigos. Em quase todas as tardes , entre um greupo de amigos, encon trávamo-nos na marginal” (1ª Parte, p. 4). Além de Artistides Pereira, são citados os nomes de Alcebíades Tolentino, Barcelos de Lima, Adelino Gomes e Afredo Fortes. Falava-se de tudo, “mas sobre a política africana nada”

A seguir, o autor conta-nos como foi “parar à política”, isto é, como se tornou um nacionalista, próximo do PAIGC…

“Com a posição do importante posto de emprego, encarregado da operação da SCOA, casa comercial importante na concorrência, fui empurrado muito novo para a política e manutenção [sic]de uma personalidade rija em luta com os encarregados da Gouveia, Ultramarina, Pinto Grande, Ernesto Gonçalves de Carvalho, etc., Europeus. Cabo Verdiano era o falecido Carolino Barbosa” (1ª Parte, p. 4). O “nacionalismo” de Cadogo Pai remontaria a esta época (reconhecido pelo próprio Aristides Pereira, no seu livro, a p. 79).

Terá sido através do Elisée Turpin, seu colega em Bissau, que lhe chegavam a Bolama as notícias das primeiras “movimentações”, de “cariz político”, que surgiam em Bissau. “Pode fazer-se ideia de como foi fácil a minha mobilização em confrontação com as empresas europeias que tentavam espezinhar-me e discriminar-me no importantre posto do meu emprego”. Ou seja, europeus [, leia-se: portugueses,] e caboverdianos  possivelmente não viam com bons olhos que um filho da Guiné fosse encarregado numa empresa francesa…

(Continua)

[ Revisão / fixação  de texto/ excertos / digitalizações / título: L.G.]

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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 27 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3246: Simpósio Internacional de Guileje: Joseph Turpin, um histórico do PAIGC, saúda António Lobato, ex-prisioneiro (Luís Graça)

(**) Vd. poste de 12 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXV: Antologia (24): Elisée Turpin, co-fundador do PAIGC (Élisée Turpin)

domingo, 26 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3359: Em busca de ... (46): Inácio Semedo, agricultor de Bambadinca, um histórico do nacionalismo guineense (Pepito)

Guiné-Bissau > Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da Semana > 19 de Outubro de 2008 > "Pegadas de hipopótamos neste campo de arroz na tabanca de Cubampor junto a um afluente do rio Cacheu, mostram o apetite destes animais pelas culturas agrícolas.

"Tem sido um verdadeiro problema, para o qual ainda não encontrámos resposta técnica eficaz, conciliar as necessidades alimentares dos hipopótamos que vivem no seu habitat natural, com os naturais anseios das populações ribeirinhas que procuram desesperadamente a sua própria segurança alimentar.

"Eis aqui um grande e clássico conflito entre o Ambiente e Desenvolvimento, cada um apresentando as suas legítimas razões".


Foto: © AD- Acção para o Desenvolvimento (2008). Direitos reservados

1. Mensagem, de hoje, do Pepito, membro da nossa Tabanca Grande, engenheiro agrónomo, co-fundador e actual director executivo da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento:

Luís:

Conheço muito bem o Inácio Semedo Jr.. É um bom amigo meu e pessoa por quem tenho muita consideração. Combatente da Libertação da Guiné-Bissau, sempre foi um Homem de Estado, com uma postura digna (*).

Nada de estranho quando se é filho do já falecido Inácio Semedo, agricultor que, com o meu pai[ Artur Augusto Silva,] (**), fez parte de um grupo que nos idos de 50 pugnou pelo desenvolvimento do associativismo rural na então Guiné Portuguesa.

Quase 40 anos depois, tive a honra de o convidar a presidir às primeiras jornadas sobre o Associativismo Agricola na Guiné-Bissau. Fui a casa dele em Bambadinca para o efeito. Não estava lá, mas antes na sua propriedade agrícola onde o fui encontrar já muito velhote, numa cadeira de rodas, a orientar os trabalhos. Uma verdadeira lição que nunca esquecerei.
Quando contactares o filho, ficarás rendido à sua simplicidade e maneira de ser.

abraço

Pepito (***)

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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 15 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3317: Em busca de ... (45): Inácio Semedo Jr, ex-guerrilheiro e quadro do PAIGC, de Bambadinca (Berry Lusher / L. Amado / L. Graça)

(**) Vd. I Série do blogue > Poste de 20 de Maio de 2006 >
Guiné 63/74 - DCCLXXV: Antologia (38): O cativeiro dos bichos (Artur Augusto Silva)


(***) Pepito: Pensei em ti e na Isabel. Vamos agora assitir à exibição do filme documental que acaba de ganhar o Grande Prémio da Cidade de Lisboa para a melhor longa metragem no âmbito da 6ª edição do Festival Internacional de Cinema Documental (Lisboa, 16 a 26 de Outubro de 2008).

O filme premiado passa-se aí na tua vizinha Guiné-Conacri, e tem muito a ver com o teu 'core business' que é o desenvolvimento sustentado e integrado. Obrigado pelo teu mail. Já falei, uma vez, ao telefone com o Doutor Inácio Semedo Jr. Prometemo-nos voltar a falar "depois das eleições"... Pareceu-me uma pessoa afável, com muito nível, cultura e sensilidade.

The execution, de Yue Minjun. Esta imagem, fortíssima, serviu de fundo ao logótipo do VI Festival Internacional de Cinema Documental. 175 filmes passaram por Lisboa em 10 dias. O cinema documental está conquistar cada vez mais adeptos entre o público português.


Grande Prémio Cidade de Lisboa para a melhor longa-metragem - 15.000€

End of the Rainbow, de Robert Nugent
83´ França 2007

Sinopse > "Uma grande companhia mineira multinacional transfere uma imponente unidade de prospecção de ouro da Indonésia para uma região remota da Guiné Conacry, em África. Nesta zona rural extremamente pobre, a presença da mina acaba por criar um clima de mudança e vários conflitos entre os habitantes locais. Quais as vantagens do proclamado progresso para uma aldeia africana? A transformação do mundo imposta pelo poder do dinheiro não garante necessariamente felicidade nem melhores condições de vida".

domingo, 12 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3300: Blogoterapia (63): Dicas temáticas: do heroísmo à religiosidade do soldado português (Paulo Raposo)


Guiné > Região do Oio > Mansoa > CCAÇ 2405 > 1968 > O Paulo Raposo (ex-Alf Mil Inf, com a especialidade de Minas e Armadilhas, da CCAÇ 2405, pertencente ao BCAÇ 2852, esteve cinco meses em Mansoa, antes de partir para a zona leste, o sub-sector de Gamolaro. Aí irá perder 17 homens no desastre do Cheche, no Rio Corubal, na sequência da retirada de Madina do Boé, em 6 de Fevereiro de 1969 (Op Mabecos Bravios).

Na foto, a placa toponímica indica que, por estrada, Mansoa distava 96 km de Bafatá, 52 km de Farim e 30 km de Mansabá...

Foto: © Paulo Raposo (2006). Direitos reservados .


1. O Paulo Raposo teve a gentileza de me mandar o seguinte comentário, na sequência da (re) publicação do poste com o relato do seu baptismo de fogo, em Mansoa (*) :

Caro Luís

Vi um apontamento de um relato meu no teu e nosso blogue. Te agradeço a lembrança e o afecto, bem hajas.

Tanto por cá como por África isto está tudo podre e vejo ainda muita gente a querer vender este regime como bom. A honra de um Homem foi substituída por leis. A palavra já não faz fé, apenas a prova.

Gostava de ver outros temas discutidos no blogue:

(i) O heroísmo do soldado português;

(ii) A confiança que os soldados depositavam em nós, os quadros;

(iii) A nosso passagem por África, que benefício social, económico trouxe para Portugal;

(iv) A nossa religiosidade, de então e actual, e porquê a diferença;

(v) As nossas famílias, que amarguras passaram por cá aquando da nossa ausência.

Isto dá pano para mangas...

Um abraço para ti deste teu amigo

Paulo

2. Comentário de L.G.:

Paulo: É tão bom saber que estás vivo da costa, embora desencantado... E como é importante, para a nossa saúde física, mental e espiritual, o encantamento... com a vida, com os outros, com o mundo que nos rodeia, com o país que é o nosso mas que não escolhemos... Ah! esta nossa relação de amor-ódio com este nosso Portugal!

Quanto às tuas sugestões temáticas, para o nosso blogue, serão bem acolhidas por todos nós... Oxalá haja mãos, entre nós, Tabanca Grande, para tocar o piano, quero eu dizer, o teclado do computador... Não vejo que sejam questões fracturantes... Já atingimos um patamar de sabedoria, de tolerância e de garantia de pluralismo que nos permite questionar tudo ou quase tudo, de falar de tudo ou quase tudo...

Admito que são questões difíceis, dificílimas de responder. In limine, impossíveis de responder. Não há investigação científica, historiográfica, sociológica, antropológica, etc., sobre estes temas... Podes dar a tua opinião, defender o teu ponto de vista, usar os teus argumentos, e sobretudo dar o teu testemunho, mostrar o teu exemplo e o exemplo dos teus homens, dos homens do teu grupo de combate, da tua companhia... Como aliás já o fizeste em tempos, de maneira tão sincera, tão humana: aí está justamente o teu testemunho, publicado na I e II Séries do nosso Blogue, e que muitos camaradas, recém chegados ao blogue, provavelmente nunca leram (**).

Um Alfa Bravo. Até um dia destes, até Montemor!

Luís

PS - Paulo Raposo: Transcrevo aqui as últimas palavras da primeira parte do teu testemunho, justamente a propósito do fim da comissão e do fim (?) do pesadelo, com o teu regresso a casa (onde já não morava o teu pai, falecido entretanto)...

"Estavam lá todos, a família e os amigos, mas o meu pai não estava. Desembarcámos. Mais um desfile e vá de ir para casa. Tudo era diferente. Não só eu me tinha transformado, como cá também tudo tinha evoluído.

"Se me custara passar de civil a militar, o inverso depois de 37 meses de tropa foi também muito complicado. A ansiedade que adquiri no fim da comissão nunca mais me largou. Diminui ou aumenta conforme o cansaço. Está sempre dentro de mim.

"Quanto a terrores nocturnos, tive-os durante muitos anos. Por causa de ter adormecido profundamente no mato e não ter ouvido os tiros do inimigo, tive pesadelos pela eventualidade de a companhia avançar e me deixar para trás, só e isolado no mato. Outra situação que me apavorava era a possibilidade de ser novamente chamado para nova comissão como capitão.

"Odeio as guerras".


______________

Nota de L.G.:

(*) 8 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3282: O meu baptismo de fogo (5): Mansoa, 1968, ouvindo a irritante costureirinha (Paulo Raposo)

(**)Vd. os postes publicados no âmbito da série O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70):

12 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCXCVI: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (1): Mafra

18 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXII: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (2): Aspirante em Elvas, Tancos e Abrantes

19 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXV: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (3): De Santa Margarida ao Uíge

5 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXVIII: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (4): Em Bissau com Spínola

7 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXXI: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (5): Periquito em Mansoa

8 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXXIII: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (6); Mansoa, baptismo de fogo

11 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXLIV: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (7): A ida ao Morés: atenção, heli, aqui tropa à rasca

19 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXIV: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (8): A ida para o leste

22 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXVIII: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (9): Fome em Campatá e Natal em Bafatá

7 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P853: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (10): A retirada de Madina do Boé

21 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P889: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (11): Férias em Portugal

26 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P912: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (12): A morte de um pai

6 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P941: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (13): Operação ao Fiofioli

10 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P949: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (14): regresso às tabancas em autodefesa

31 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1007: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (15): as colunas logísticas de Galomaro a Bafatá e a Bambadinca

3 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1022: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (16): De novo em Bissau, a caminho de... Dulombi

7 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1029: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (17): Dulombi

16 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1034: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (18): O fim da comissão

10 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1060: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (19): regresso a Lisboa e à vida civil (fim)

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2966: A guerra estava militarmente perdida? (22): Comentário de um Quadro Guineense no Exterior (Anónimo)

A Guerra estava militarmente perdida?
Revisão e fixação de texto: vb


Um Guineense no exterior

Comentário ao Guiné 63/74 - P2962: A guerra estava militarmente perdida? (20):Um Fraco Rei Faz Fraca a Forte Gente (António Graça de Abreu)


Meu caro, nesse vosso debate estéril, a da definição do sexo dos anjos, se a guerra estava ou não militarmente ganha, se quem falhou foram os políticos ou os militares, na vã gloria de se preservar um dito império (que ideia megalómana)... como guineense que ganhou direito a uma pátria lusófona na sua expressão oficial, não podia de forma alguma concordar consigo.

Se o propósito da presença colonial, decorrente do dito Descobrimento era perpetuar o domínio de um povo e de uma cultura sobre uma outra em detrimento da equidade, cultura essa tida por inconsistente e primitiva, neste caso a do meu povo, tarefa para a qual a tropa colonial estava talhada, contando com a dedicação inicial do missionarismo católico, então, como guineense... e desse debate resta-me concluir que os nacionalistas guineenses ganharam a guerra, já que guineense que sou de uma nova geração, dela acabei por ter direito a uma pátria, uma bandeira, um hino e quiçá outra dignidade, até que soberana, que permite sem mágoas, eleger Portugal de hoje como nação um amigo fraterno, conquistas com as quais me orgulho.

E já agora porque não concordar com o argentino Jorge Luís Borges: "O passado é argila que o presente molda à vontade”.

Se esteve em África como militar, ainda que se tente refugiar nesse cumprimento de um dever, Pela Pátria, eu que ingenuamente pensava que as fronteiras de Portugal se estendiam do norte ao Algarve, então foi enganado, pois a sua missão na Guiné, como militar e não escamoteemos aqui a verdade cristalina, foi igualmente a de opressão e tentativa de submissão de um povo, neste caso o meu, a toda uma super-estrutura ideológica e cultural que, tendo também os seus atributos, nos era entretanto estranho.

Portanto, como deve calcular, a verdade por vezes é também acutilante. Vamos pois salvaguardar o que de mais positivo resistiu à colonização ou seja a fraternidade entre os nossos dois povos e deixar a catarse falar pelo futuro dessa nossa convivência...

Quadro guineense no exterior, orgulhosamente guineense!

(Não assinado)

2. Caro Guineense Anónimo no exterior:

Registamos o seu artigo, escrito sem complexos, e é sem complexos que o publicamos. E aceitamos o seu desafio: preservar a fraternidade entre os dois Povos. Escreva sempre. Mas, de preferência, dê a cara e identifique-se. Presumo que não esteve registado no Google, razão por que o neu nome não aparece no comentário. Vejo, por outro lado, que é mais jovem do que os homens e as mulheres que outrora lutaram, uns contra os outros, e que hoje se respeitam e são capazes até de abraçar.

Por norma, não publicamos postes anónimos. Recuperámos o seu comentário, na esperança de que mais guineenses, da terra ou da diáspora, da sua geração e da geração dos seus pais, participem, com serenidade e fraternidade, neste desejável e necessário diálogo sobre o passado, o presente e o futuro dos nossos povos.

Caro amigo guineense da diáspora: Não sei onde vive. Há muito que enterrámos as lanças de combate. Não vamos agora abrir feridas cicatrizadas. Respeitemos a memória daqueles de nós, de um lado e de outro, que morreram na guerra do ultramar/guerra colonial/luta de libertação. Mesmo entre, portugueses, há ainda questões que nos fracturam e dividem. Não é fácil nem confortável fazer o balanço das nossas relações históricas. Por nós, como sabe, recusamos o princípio (monstruoso) da responsabilidade colectiva dos povos... Aplicado à Guiné-Bissau isso iria novamente lançar povos contra outros povos: os mandingas contra os fulas, os fulas contra os balantas, os guineenses que colaboram com o esclavagismo e o colonialismo contra as suas vítimas, e por aí fora... Aprendamos a ler a história, aprendamos com a história, não cometamos os mesmos erros das nossas elites do passado...

Mantenhas. O editor Virgínio Briote.
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Nota do co-editor vb:

1. Artigos relacionados em:

19 de Junho de 2008> Guiné 63/74 - P2964: A guerra estava militarmente perdida? (21): A Guerra estava militarmente perdida. Por mim, final da polémica. Mário Beja Santos.

19 de Junho de 2008> Guiné 63/74 - P2962: A guerra estava militarmente perdida? (20):Um Fraco Rei Faz Fraca a Forte Gente (António Graça de Abreu)

18 de Junho de 2008> Guiné 63/74 - P2959: A guerra estava militarmente perdida? (19): MIGS e Aliados. Juvenal Amado. M. Beja Santos.

17 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2954: A guerra estava militarmente perdida? (18): José Belo.

14 de Junho de 2008> Guiné 63/74 - P2941: A guerra estava militarmente perdida? (17): E. Magalhães Ribeiro.

13 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2937: A guerra estava militarmente perdida? (16): António Santos,Torcato Mendonça,Mexia Alves,Paulo Santiago.

12 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2932: A guerra estava militarmente perdida? (15): Uma polémica que, por mim, se aproxima do fim (Beja Santos)

12 de Junho de 2008> Guiné 63/74 - P2929: A guerra estava militarmente perdida? (14): Estávamos fartos da guerra e a moral nã era muito elevada. A. Graça de Abreu.

3 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2913: A guerra estava militarmente perdida? (13): Henrique Cerqueira.

31 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2907: A guerra estava militarmente perdida? (12): Vítor Junqueira.

29 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2899: A guerra estava militarmente perdida? (11): Correspondência entre Mexia Alves e Beja Santos.

28 de Maio de 2008 >Guiné 63/74 - P2893: A guerra estava militarmente perdida? (10): Que arma era aquela? Órgãos de Estaline? (Paulo Santiago)

27 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2890: A guerra estava militarmente perdida? (9): Esclarecimentos sobre estradas e pistas asfaltadas (Antero Santos, 1972/74)

25 de Maio > Guiné 63/74 - P2883: A guerra estava militarmente perdida ? (8): Polémica: Colapso militar ou colapso político? (Beja Santos)

[Por lapso, houve um salto na numeração, não existindo os postes nº 7 e 6 desta série ]

22 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2872: A guerra estava militarmente perdida ? (5): Uma boa polémica: Beja Santos e Graça de Abreu

15 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2845: A guerra estava militarmente perdida ? (4): Faço jus ao esforço extraordinário dos combatentes portugueses (Joaquim Mexia Alves)

13 de Maio de 2008 > Guiné 73/74 - P2838: A guerra estava militarmente perdida ? (3): Sabia-se em Lisboa o que representaria a entrada em cena dos MiG (Beja Santos)

30 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2803: A guerra estava militarmente perdida ? (2): Não, não estava, nós é que estávamos fartos da guerra (António Graça de Abreu)

17 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2767: A guerra estava militarmente perdida ? (1): Sobre este tema o António Graça de Abreu pode falar de cátedra (Vitor Junqueira)