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quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2309: Blogoterapia (36): Parabéns, Mário Vicente, pelo teu talento, coragem e sensibilidade (Santos Oliveira)

1. Mensagem do nosso novo tertuliano, Santos Oliveira ( 2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf, Como, Cufar e Tite, 1964/66) (1):

Honorável Chefe da Tabanca Grande:

Não quero quebrar a expectativa que está a ser criada pela publicação, em Capítulos, da PAMI NA DONDO (2). Antes transcrevo o Mail que enviei ao meu querido amigo e camarada, Mário Vicente, após a sua leitura. Não faço outros comentários, porque o que sinto e senti, ainda não está totalmente digerido. Está em movimento dentro de mim, crê.
______________

Para: Mário Fitas
Data: 12/08/2007

Assunto: PAMI NA DONDO – A GUERRILHEIRA

Caríssimo amigo Vicente

Conforme o prometido, depois de digerir e ver com o olho crítico, cá vai, sinteticamente, o meu comentário:

1) - Não sou especialista literário, pelo que acerca disso vou abster-me de fazer comentários.

2) - No que respeita ao Tema e à Narração, procurei 'entrar', seriamente, em ambos os lados e 'vivê-los' como se estivesse dentro de cada personagem. Como te referi anteriormente, revelaste um espírito de observação fora do comum, raro, mesmo, porque a profundidade e personalidade de cada um dos 'lados' está tão marcada que bem poderia ser um Relatório Real e pormenorizado da situação vivida.

Por outras palavras, posso garantir-te que não se descobre bem o que distingue a Realidade da Ficção (que me parece ter sido diminuta [, desculpa-me]).

Quero dar-te os Merecidos Parabéns pelo contributo histórico. Não há muitos Documentos que possam atestar quanto se passou realmente. Existe muita Ordem Verbal, que não consta dos Arquivos Oficiais (porque não pode constar).

Felicito-te pela coragem de mostrares o que foi e vai dentro de ti. Admiro-te.

Um sincero e fraterno abraço, do

Santos Oliveira


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As melhores e fraternais saudações para toda a Aldeia, do

Santos Oliveira

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Notas dos editores:

(1) Vd. posts de:

24 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2301: Tabanca Grande (41): Santos Oliveira, 2.º Sarg Mil de Armas Pesadas Inf.ª (Como, Cufar e Tite, 1964/66)

(2) Vd. posts de:




sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2298: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (2) - Parte I: O balanta Pan Na Ufna e a sua filha (Mário Fitas)

Guiné > Região de Tombali > Catió > Álbum fotográfico de Vitor Condeço (ex-Furriel Mil, CCS do BART 1913, Catió 1967/69) > Catió, Vila > 1968> Foto 26: A praça do mercado, vista de quem vinha da pista [tirada à porta da casa do sr. Barros Correias]. À direita o Mercado, ao fundo à esquerda a casa do Sr. Brandão e à direita debaixo da mangueira o Bar Catió e bem ao fundo o quartel.



Foto 4: Igreja Paroquial de N. Sª. de Catió

Foto 24: Interior da Igreja de Catió, altar-mor de Nossa Senhora.


Foto 25 : Interior da Igreja de Catió, altar lateral direito do Sagrado Coração.

Foto 31: Habitantes e militares convivem na rua fronteira ao Bar Catió.

Fotos e legendas: © Vítor Condeço (2007). Direitos reservados


1. Ficha Técnica

Título: Pami na Dondo – A Guerrilheira (1)
Autor: Mário Vicente
Prefácio: Carlos da Costa Campos (Coronel)
Capa: Filipa Barradas
Coordenação gráfica: Cercica
Edição: Do autor patrocinada pela junta de Freguesia do Estoril
Distribuição: Junta de Freguesia do Estoril
Execução gráfica: Cercica – Cooperativa para Educação e Reabilitação de Cidadãos de Cascais, CRL
Rua Principal, 320 – 320 A – Livramento
2765-383 Estoril
Depósito legal nº: 228120/05
1ª Edição: Julho 2005


A meu neto: Guilherme Figueiredo
A todos os Veteranos de Guerra
A todas as mulheres: Mães, companheiras, amantes e amigas que tiveram a angústia da partida, e sofreram a dor de não os ver chegar

À memória dos meus amigos e companheiros António Pedro Lema, Gonçalves Vaz, Vieira Barcelos e Jorge Martinho

O meu reconhecido agradecimento pela colaboração prestada:
Sra. Dra. Amélia Casaleiro
Sra. Dra. Maria da Graça Fernandes
Sra. Dra. Sofia Fitas
Sra. Dra. Manuela Gil, Vereadora da Cultura
Sr. Coronel Carlos da Costa Campos
Sr. Luciano Mourão

PREFÁCIO, por Carlos da Costa Campos, Coronel (2)

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PAMI NA DONDO, A GUERRILHEIRA
por Mário Vicente

Revisão do texto e subtítulos: Luís Graça.


Parte I - O balanta Pan Na Ufna e a sua filha Pami Na Dondo


Pan Na Ufna já tinha perdido a conta aos balaios de arroz que colocara na basculante, carregados pelo humano formigueiro. Não tinha interesse: bastava gritar o nome da entregadora ou entregador e o peso acusado na balança. Atento, Sr. Luís Ramos apontaria no papel borrão. Posteriormente, por permuta com outros bens ou por dinheiro verdadeiro, limpinho ali na mão - notas sujas amarfanhadas -, fazer o encontro e quitação de contas.

Esperto, o senhor Luís pagava mais um peso (escudo) por cada dez quilos de arroz que a concorrência. Certo era que o formigueiro não findava: longos e sinuosos seus caminhos, desconhecidos os princípios e fins dos seus carreiros. Desde manhã - sol a despontar por sobre o ilhéu de Cantone até cair sobre a foz do Tombali - ao escurecer. Das mais longínquas Tabancas, balaio à cabeça ou de canoa pelos rios, aproveitando as marés. Assim, no fim das colheitas, era passado o dia e parte da noite a caminho dos armazéns do Sr. Ramos, representante da Casa Brandoa, pertença da União Fabricante.

Trabalho de alto risco. Havia por vezes vingança da concorrência sobre a pobre formiga, desfazendo com pata de elefante - bota cardada - o seu carreiro. Chegou haver mesmo situações de confiscação e cremação dos pequenos e parcos celeiros, por tão alvitrante atrevimento.

Mas, naquele dia, Pan Na Ufna não comentava nem queria saber dessas situações; desinteressado mesmo, a sua cabeça mantinha longe o carreiro.

Que quereria o padre Francelino, para o chamar à igreja? Fervilhante, a sua mente ia formulando todas as especulações plausíveis e impossíveis. A sua massa cinzenta já tinha trabalhado mais naquele dia que num mês de grande movimento:

Não!... Não podia!... Ou seria? as conversas com o Sr. Ramos sobre ter uma Pátria... Seria?... Ter uma Pátria só Nossa? Bonito! Mas todos juntos também não era mal. Só que todos deviam ter Lei igual! Não! Não!... não seria essa a razão da chamada! Que é que padre tem com isso? Espera?! Seria por ter batido na mulher mais nova? - conjecturava.

Ele não queria!... Verdade!, mas... quando bebia mais um golo de aguardente de cana, ou vinho de palma, lembrava sempre aquela malvada que não lhe dava filho fêmea, só filho macho, meio tonto como a mãe. Sanhá sim, que tinha dado filho menina. Esperta a aprender e na escola, - graças a Sr. Luís Ramos e padre Francelino - ser sempre a primeira.

O musculado corpo, a escorrer suor gorduroso do esforço baixa-levanta balaio, estava insensível. A cabeça de Pan continuava sem descobrir a indecifrável chamada do padre Francelino.

O melhor seria beber um golo de cana, para esquecer a cabeça!? Não!... Isso também não! Se o padre lhe cheirasse à cana tinha logo conversa dura de certeza. Não aguentava mais! Fez uma pausa e foi falar com o senhor Ramos.

O responsável da Casa Brandoa ouviu o seu auxiliar com atenção e, sorrindo, respondeu-lhe brincalhão:
- Não tenhas problema! Vais ver que o padre quer que tu abandones o teu IRÃ, e que vás adorar o CRISTO dele.
- Um milagre!... Converter um Balanta!

Assim brincando mandou Ramos sossegar o aflito ajudante. Mas as horas não passavam e os minutos eram eternidade. Luís Ramos, atendo à desorientação em que se encontrava o seu empregado, mandou-o ir embora falar com o Padre, meia-hora antes do encerramento do estabelecimento.


O missionário italiano Francelino e o patrão Luís Ramos


Subindo a desnivelada rua de terra vermelha batida que dava acesso à Igreja de Catió - caminho fustigado por enxurradas de tornados em época de chuvas, ressequido e escaldante em tempos de seca -, Pan Na Ufna, na sua suada caminhada, regrediu nos tempos, e a sua mente tresmalhou-se no passado: relembrou seus falecidos progenitores quando ainda menino e depois blufo, lá para os lados do Xuguê; seu pai fora Homem Grande e chefe de Tabanca de muito saber, de idade e vida feito.

Pan sentiu saudades... teve vontade de ser menino. E sentiu a atracção da terra mãe, embrenhando-se por matas e capinzais, nas suas brincadeiras de criança e caçadas de adolescente. O seu coração transmitiu aos olhos o humedecimento da saudade.

Chegou à Igreja e entrou sem efectuar qualquer preceito, pois até a sua convicção animista, atribuindo às coisas alma análoga à pessoa humana, consubstanciada na crença politeísta, pouco ou quase nada lhe dizia. É assim a evolução do homem, o contacto com a cultura é irreversível.

Não encontrou ninguém. Saiu e, contornando o Cristão edifício, aproximou-se da casa de habitação do padre Francelino, Italiano de nascença, - alto, esguio, barbas e cabelos brancos-, há longos anos missionário por terras de África.

Abeirou-se do muro do jardim e também não vislumbrou ninguém. Hesitante, bateu as palmas e gritou:
- Padre Francelino!?...

De imediato, numa pronúncia italo-portuguesa, ouviu-se a voz do padre.
- Per Cristo!... Aqui estou!

Lançando o olhar no sentido auditivo da voz, Pan teve uma aparição Bíblico-Guerreira: sotaina branca, cofió preto enterrado na alva cabeça, na mão direita empunhando ao alto uma velha catana, apareceu-lhe o padre que lhe gritou:
- Olha, fratelo Pan! Corpo de bó está bom? Como vais tu, irmão em Cristo? Biene!... E Sr. Ramos, saúde boa? Desculpa, amigo mio... estava capinando no outro lado! Entra!... temos muito conversa.

Pousando a catana sobre uma velha e já meio desfeita mesa de madeira, abriu o ferrugento portal do pseudo-jardim, para acesso do requisitado visitante. Descobriu a branca cabeleira, retirando o enterrado cofió. Do bolso direito da sotaina, retirou um amarfanhado lenço - cujo branco tinha virado cinzento-, com o qual foi limpando as gotas de suor da testa e rosto, e continuou a falar:
- Amigo meu! Sou muito contente, teu filha Pami é uma inteligência. Temos de falar muito. Muito mismo!

A forma como o padre Francelino falava com Pan, transmitiu-lhe um certo alívio, deixando-o mais calmo. A tempestade gerada em sua cabeça foi-se aos poucos esfumando, até terminar quando uma hora mais tarde saiu da casa do padre.

Já na rua, agora completamente descomprimido, pensou que valia a pena uma pinga de cana, para festejar o alívio da cabeça e não só, mas também as palavras bonitas e os louvores que ouvira, referentes a sua menina Pami Na Dondo. Pelo que, em vez de rumar a casa, se dirigiu ao Zé Libanês, onde bebeu um copo de cana de festejo, outro de alegria e outro mais por lhe saber bem.

Saiu, e na rua sentiu já um pouco o efeito do álcool. Rumando a Catió Balanta, tomou o caminho de casa, completamente absorto na conversa que tinha tido com o padre. Consigo mesmo ia falando quando em voz alta lhe saiu:
- Um Pátria Nosso!

Passou pelo cipaio Jaló e ficou temeroso, não tivesse aquele ouvido a escapadela. Mas esqueceu! Estava contente. Padre Francelino sabia tanto ou mais que sr. Ramos e ambos estavam do mesmo lado.


Pami Na Dondo não será freira


Em casa a bianda estava pronta, arroz e galinha pilada com mancarra. Comeu. Pensamento vagueante, três vezes passou com carinho a mão sobre a cabeça de sua filha Pami. O álcool ajudou e os olhos tiveram pérolas. Dormiu com Sanhá, e com ela fez conversa giro.

Manhã cedo, compareceu nos Armazéns Brandoa muito antes da sua abertura.
- Então, que queria Dom Francelino? - perguntou Luís Ramos em tom jocoso, estranhando o madrugar do seu auxiliar.
- Assunto importante! Coisa mesmo séria, sr. Ramos!...

E Pan relatou ao seu patrão toda a conversa que tivera com o padre: o pedido que aquele lhe fizera para pôr nome Cristão, e baptizar segundo as leis da Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana sua filha Pami, autorizando a sua saída para um colégio de freiras em Itália; a entrada em outros temas, após a conversa sobre a sua filha, descrevendo como o padre enveredara por caminhos da política, e, dissertara sobre o problema da revolta dos Papéis; a criação da União Nacional dos Trabalhadores da Guiné, e finalmente, a história da recente matança de Pidjiguiti, quando os estivadores reivindicavam melhores salários; terminando na análise em que o Povo da Guiné se encontrava.

E, como o padre lhe dissera a ele, reproduziu para Luís Ramos:
- Não tem demora! Revolução está aí!

O patrão ouviu tudo em silêncio e no final sorriu. Colocando o braço sobre o forte tronco do seu funcionário, deu-lhe duas palmadas de amizade e segredou-lhe:
- Estás a ver! Não conseguiu pôr o pai no altar, mas quer pôr lá a filha!

Luís Ramos sorriu. No entanto, a sua cara foi-se transformando, até ficar com ar completamente sério e apreensivo. Com a mão direita pegou no braço esquerdo de Pan, e fez pressão, até ficarem os dois frente a frente. Olhando olhos nos olhos o auxiliar, disse-lhe em tom sério:
- Pan! Numa revolução é sempre natural a morte. Seja de que lado se estiver!
- Queres aderir ao PAIGC? Queres fazer a guerrilha? Queres ter uma Pátria Nossa?

Os homens firmaram bem o olhar um no outro. Pan, emocionado com as palavras de Luís Ramos, olhos humedecidos, retorquiu com firmeza:
- Quero,sim!... Quero uma Pátria Nossa!

Patrão e empregado ficaram cúmplices a partir daquele momento. A meio da manhã, o cipaio Jaló apareceu nos armazéns. Pan estremeceu e sentiu medo, mas o cipaio apenas falou com o patrão. Nada de anormal, coisa de rotina. Queria informações sobre o pessoal que se abastecia nos armazéns. O contacto já tinha começado.

As conversas entre Luís Ramos e Pan Na Ufna começam a girar sempre em torno do mesmo tema. Os contactos e interpelações junto do formigueiro começam a dar os seus frutos, e novos carreiros são abertos.

Composta de mudança a vida, umas vezes andando em frente, outras retrocedendo, vai-se mutando. Por razões desconhecidas, mas perceptíveis e entendíveis, o padre Francelino é transferido, e abandona a Província Portuguesa da Guiné. Este involuntário abandono vai ter reflexos na família de Pan Na Ufna.

Pami na Dondo não será freira. Consegue a quarta classe de alfabetização e salva-se da excisão do clitóris (fanado). No entanto fica com algo precioso. Precisamente o saber ler, escrever e interpretar, no que se tornará útil para a família, principalmente para seu pai. Lê todo o pedaço de papel que encontra. O velho dicionário que lhe é deixado pelo padre Francelino na sua partida, transforma-se na Bíblia e enciclopédia da menina Balanta.

Aprende o feminino: adjectivo próprio da fêmea, seres não masculinos em género gramatical. Assim, percorreu desde a fêmea ao feminismo, a mística palavra mulher. O sofrimento o desconforto do Ser considerado menor, inferior. O segredo oculto, em patriarcal e feiticista sociedade que a rodeia, não a deixando evoluir na igualdade. A certeza apenas de ser fêmea reprodutora, e escrava da bolanha.

Compreende que Bajuda, em português, é o estádio da jovem que ainda mantém o hímen, portanto ainda não foi desflorada. Estado virgem, em que não houve a ligação, penetração com o parceiro macho. Mas consegue desmistificar a ligação amor da subordinação ao macho.

Muitos conhecimentos apreendeu sobre o seu próprio corpo. Pesquisando, ficou a saber que no dia que sentisse e ocorresse um corrimento sanguinolento entre as pernas, oriundo da vagina, seria menarca. Obra do desprendimento de óvulo não fertilizado. Pelo que estaria a partir dessa altura apta para ser fecundada. Disponível fruto maduro, para a apetência objecto - usufruto - do macho. Ignora ainda, a sublimação e o sentir da palavra mãe, companheira, amante e amiga. Não só o nome e funcionamento dos seus órgãos genitais aprendeu, mas do homem também.

Só... nos tórridos e húmidos dias do equador à sombra da mangueira, Pami vai percorrendo o seu mundo maravilhoso, através do velho dicionário. Nele, não foi só sobre o seu corpo que a menina aprendeu coisas maravilhosas. Em cada palavra aparecia um mistério, em cada mistério um mundo extraordinário de saber e alegria, através da leitura das velhas folhas fazia descobertas encantadoras.

Amor: Os nossos sentimentos e a sua força, que nos induzem e incitam para os objectos dos nossos desejos, afeição ou paixão!? Afectação, monopolizadora de algo para nós, possessivamente. O inverso! Doação total e incondicional. Aquilo que somos e valemos nós próprios. Palavra simples e pequena, mas que resume toda a grandiosidade do que deveria ser a relação humana.

Horizonte: Todo aquele vastíssimo espaço da superfície terrestre abrangido pela nossa vista. Linha de contacto aparente entre o céu e a terra. Natureza, pura imagem dos sonhos que criamos, realidade do que de bom ou mau nos rodeia. O infinito indefinido, que existe para além.

Instrução: Acto ou efeito de dar conhecimentos ou recebê-los. A experiência tornada em saber. Erudição, adestração, esclarecimento constante, do aprender até morrer. Preparação para a Cultura, o saber que nos sobra depois de tudo desaprendermos.

Lágrima: Líquido produzido pelas glândulas lacrimais, que em gota qual pérola, rola muitas vezes pela face, que consoante os sentimentos - efeitos de causa -, se tornam em sangue e dor de sabor a fel, ou de alegria e amor com sabor a mel.

Beijo: Acto de união da boca (lábios) com qualquer parte do corpo em toque sublime que define os sentimentos do momento. Junção íntima de acto de amor, ou veneração respeito de alguém. Asqueroso toque traidor de amigos, imitadores de Judas Escariotes.

Medo: Essa coisa invisível, mas intensamente sentida pela ideia inquietante perante o perigo real ou aparente. Apreensão, pavor, em que a mente se destrama na maior facilidade, trespassada pela lança da incerteza.

Sublimação: A transmutação de instintos e tendências egoístas e não espirituais, para o altruísmo, doação total.

Raça: O conjunto comum de caracteres hereditários que formam um agrupamento natural de homens, independentemente da cultura, costumes ou língua.

Etnia: Conjunto de indivíduos que podendo ser de países e ou raças diferentes, estão unificados por uma língua ou civilização comum.

Circuncisão: Ablação da membrana do perpúcio nos homens, pondo a glande a descoberto; corte nos lábios da vulva e clitóris - castração - na mulher.

Assim se encanta, deliciando-se com estas leituras. Assim vai a miúda balanta, enriquecendo o seu saber - conhecimento de toda a Natureza -, e a sua cultura, com o seu maravilhoso livrinho, grande legado do padre Italiano.

Entretanto, o cabo-verdiano Ramos recebe a notícia que seu filho, a estudar em Lisboa, vai ser incorporado num Centro de Instrução de Sargentos Milicianos do Exército Português. Luís Ramos, um pouco desorientado, abandona a Casa Brandoa, regressando a Bissau.

Pan Na Ufna vê-se a braços com grandes responsabilidades e toma a grande decisão de entrar na clandestinidade. Finalmente, chegou a hora! Prepara a fuga com sua família para o Cantanhês e ingressa na guerrilha. Pela calada da noite, a família ruma ao ilhéu de Infanda, onde as canoas esperam, para os transportar para lá do Cumbijã.

Uma nova vida começa!

Continua
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Notas de L.G.:

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2293: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (1): Os bastidores de um romance (Luís Graça / Mário Fitas)

1. Conheci o Mário Vicente, ou melhor, Mário Fitas (1), na estreia do filme de Diana Andringa e Flora Gomes (2). Ele teve a gentileza de me oferecer um exemplar de cada um dos seus dois livros, autografados.

Li-os, com prazer e entusiasmo, e passado algum tempo pedi-lhe para publicar, por partes, o seu romance Pami Na Dondo, a Guerrilheira. Embora alguns dos nossos amigos e camaradas já tenha tido o privilégio de ler a obra, a maior do pessoal da nossa Tabanca Grande e os demais internautas desconheçam-na por completa.

É uma edição de autor, com uma tiragem limitada (500 exemplares), e que não tem propósitos comerciais. O Mário não teve dúvidas em, de imediato, satisfazer o nosso pedido. Vamos começar a publicar a estória da nossa guerrilheira, a Pami Na Dondo, balanta, que um dia vai cair nas mãos dos Lassas, os tugas de Cufar...

Antes do 1º epísódio, vamos levantar um pouco o véu sobre o autor, a sua obra e os bastidores... através da troca de e-mails entre ele e o editor do blogue.


2. Mensagens de Luís Graça e de Mário Fitas:


21 de Outubro de 2007

Caro Luís,

Foi um prazer estar pessoalmente e falar contigo, principalmente pela coincidência de ser na estreia de As duas faces da Guerra. Filme que desde já te informo, gostei de ver, mas que terei de ver mais vezes (2).

Agradeço as tuas palavras sobre a minha pessoa, e pena é não haver mais tempo para podermos falar dos problemas dessa Guiné maravilhosa.

Já enviei uma mensagem sobre o filme, mas como referi, quero-o dissecar melhor.

Quanto à publicação, no Blogue, de Pami na Dondo, a Guerrilheira, não vejo inconviniente absolutamente nenhum, acho que a Guerrilheira já faz parte da Tabanca Grande. Aliás agora tenho a convicção que valeu a pena todo o esforço feito, pois estou a sentir o pulsar de quem continua a amar Àfrica e a gostar - apesar de todas as vicissitudes - daquela linda Guiné.

Só que há uns problemas: É que eu não sou grande coisa em termos de informática, e também estou limitado em termos de software e hardware. Se houver na Tertúlia algum expert em informática que se voluntarie para pôr o livro no Blogue, tudo bem, não há problemas nenhuns, o Chefe da Tabanca manda.

Luís, o livro foi escrito precisamente para divulgar a estupidez daquela e de todas as Guerras. Se achas que de facto a introdução do livro no Blogue tem interesse, vamos embora, liberdade total. Quem fica a ganhar com isso somos todos nós que fazemos parte dos Povos de Portugal e da Guiné-Bissau.

Sempre ao dispor!

Um Abraço

24 de Outubro de 2007

Caro Luis,

Quanto ao livro, acho que encontrei qualquer coisa nos meus documentos, só que faltam as fotos, que vou tentar resolver, e até a hipótese de incluir outras também sugestivas.

Quanto ao Brandão, era conhecido em Catió, só que no livro é apenas mencionada a casa Brandoa e a União Fabricante, para defesa do escritor... Sabes que é muito complicado incluir nomes verdadeiros que por vezes nos trazem problemas.

Já escrevi no Blogue sobre o conhecimento de um rapaz de nome Brandão em Cufar. À Gilda Brás (3), enviei o meu livro a seu pedido, mas até hoje não recebi qualquer informação.

Quanto à nossa Pami, há de facto Balantas que faziam a excisão ou clitoridectomia. Os Balantas têm ou tinham vários grupos e até por vezes falando o seu dialecto distinto, e até os que sofreram a infuência islâmica, designados por Balantas Manés. Quase todas as raças na Guiné a praticava, assim como a circuncisão [masculina].

Um Abraço


27 de Outubro de 2007:
Caro Luís,

Tenho tido o meu computador sem Internet, e com problemas pelo que só hoje posso entrar em contacto eficiente (julgo eu) à Tabanca Grande. Tinha no Word uma versão de Pami que julgo ser a última versão que foi para a tipografia. Não enviei as fotos dos aviões e do Niassa, porque queria a tua opinião, sobre se se poderão incluir mais fotos, que poderão enriquecer o livro. Pelo que aguardo uma opinião sobre o assunto.

Um abraço do tamanho do Cumbijã!

27 de Outubro de 2007:

Caros amigos envio A GUERRILHEIRA.

Um forte abraço.

Mário Fitas


27 de Outubro de 2007:

Mário:

Não queres dar uma pequena explicação aos nossos camaradas sobre o livro ? Como te surgiu a ideia ? Onde foste buscar a Pami ? ... A tua estória, que eu estou ainda a ler, levanta algumas questões interessantes mas também perturbantes, como os interrogatórios aos prisioneiros, feitos por milicianos...

Talvez valha a pena contextualizar a estória: já havia psico, nesse tempo ? Em 1965 ? Por outro lado, ainda não respondestes à questão que te levantei há dias: entre os balantas havia a festa do fanado, mas eles não praticavam (nem praticam) a circuncisão feminina (ou MGF - Mutilação Genital Feminina)... Mas eu só conheci os balantas da região de Bambadinca... Posso estar equivocado...

Luís

28 de Outubro de 2007:

Caro Luís,

Nada me impede, de dar todas as explicações sobre Pami na Dondo, a Guerrilheira. Só que por motivos vários não gostaria que determinados pormenores passassem dos editores do Blogue, pois para além de existirem ainda muitos intervenientes vivos, existe uma memória colectiva, com respeito pelos que já partiram.

Estou a tentar contactos directos com (personagens e familiares) e verificar até onde posso chegar. Para mim não há problemas, pois tenho a consciência que fiz uma guerra, independentemente do nome que se lhe queira dar. Para mim foi guerra! Não
tomo partido por nenhuma definição além desta. Tendo-a feito estudado e analisado, assumo as minhas responsabilidades, pelo que resolvi mostrar aquilo que vivi, senti e vi.

É nesse contexto que nasce a Guerrilheira, uma autenticidade ficcionada. Senti que deveria falar e contar a guerra, não como narração de actos e feitos, mas através de um romance, narrar a realidade da guerra.

Plenamente confiante em ti, e sem problemas para mim, ponho esta questão: Estivemos ou não estivemos em guerra? Ela é na realidade uma estupidez! Mas que pode fazer um (puto) de vinte e um anos, perante este drama, tendo sido preparado e estruturado para essa própria Guerra? Foi muito complexo! Só acordei, quando me encontrei chafurdando nas bolanhas, respirando vapor de água nas matas, e gatinhando sobre a lama dos rios de maré ou matando a secura no velho copo de bambu.

Já era muito tarde!...Tinha amigos tombado a meu lado,e outros, estropiados, tinham lançado aquele olhar de adeus... "Até Quando"? Morrer? Seria solução? Outros caminhos e opções eramos obrigados a ter. E aí, meu amigo, o homem torna-se animal!
Transforma-se em monstro. As minhas histórias fui contando. Geralmente a
resposta era a mesma:
- O gajo está a pintar!

Não queria ir embora, dar de comer aos bichinhos da minha querida planície, e egoisticamente levar estas verdades, e o meu ódio e repuúdio pela guerra, sem deixar algo que tentasse sensibilizar a condição humana.

Respondendo às tuas dúvidas:

(i) É certo que os balantas não praticavam a excisão, os politeístas, mas os que já estavam ligados ao islamismo, esses, faziam-no. Como tenho referido, há momentos de ficção no livro, esse pode ser um deles.

(ii) Da Miriam, podia dizer-te tudo! Da Pami, nesse aspecto felizmente não!( Agora estou a rir) já deste uma olhadela pelos Putos Gandulos e Guerra. Concerteza. Pois é, Chefe da Tabanca Grande, não foi fácil, não!

(iii) Quanto aos interrogatórios, não era feito pelos milícias, mas sim por graduados, eles serviam apenas de intérpretes, pois as únicas pessoas de etnia balanta que ouvi falar crioulo e português, foi a personagem Pami, e o ex-guerrilheiro Alfa nam Cabo.

(iv) De facto havia psico sobre as quatro tabancas a sul de Cufar, dávamos aulas e pequeno almoço a mais de cem miúdos, e tentava-se que os prisioneiros por nós efectuados, rejeitassem o PAIGC é verdade, nós também recebíamos correspondência do Alfero de Mato, colocada no cruzamento do Cabaceira.

(v) Também tinhamos agentes duplos! Olha um deles, o Bia, chefe da tabanca de Impunguedada, levava e trazia. Um dia soubemos que tinha sido morto no Cafal (Cantanhez), por tentativa de fuga (?). Nunca o soubemos. O Codufu, chefe da tabanca de Cantone, foi comprar caqui com dinheiro nosso, como sendo para o PAIGC.

(vi) A guerra era porca! A emboscada em que morreu o Gonçalo, foi montada pelo PAIGC, por informações fornecidas pelo Admnistrador de Posto de Catió, com quem o Comandante de Batalhão se tinha aberto. Por estas e por outras, levou a trancada na cabeça, e que já alguém contou no nosso Blogue.

(vii) Luís, fala-se do que as nossas tropas faziam. É verdade! Nós tinhamos problemas com isso, principalmente com os Heróis do arame farpado, que se borravam todos nas operações. Mas também havia problemas do outro lado [, do lado do PAIGC,] e talvez piores. Já alguma vez ouviste falar na limpeza étnica em que foram executados guerrilheiros de etnia balanta? O próprio Amilcar Cabral! Porquê? Foi tudo muito sujo e feio. O mal foi ter começado. Depois era de esperar: Porcaria!


Estou cansado e triste, ao recordar tudo isto, mas há que criar forças, pois há tanto para contar!

Aqui para nós, a nossa Menina existiu e viu muita coisa!

Um abraço do tamanho do Cumbijã.
Mário Fitas


29 de Outubro de 2007:

Mário:

O teu testemunho é desassombrado, lúcido e corajoso... Autorizas-me que o publique, antes, durante ou depois da publicação da Pami Na Dondo (em folhetim, em partes) ?

Devo dizer-te que adorei a estória da Miriam, do furriel Mamadu e do Homem Grande. Vou ter que a publicar, com retrato e tudo... Não me vais dizer que não! Até porque está em livro... E se ela, a tua Miriam, está viva e alguém lhe contar/ler a estória (o que é de todo improvável), ela vai ter de novo orgulho em ti, saudades de
ti...

É uma belíssima história de amor (por que não ? de ternura, de paixão, de atracção, de solidarieddae humana...) em tempo de guerra. A malta tem imenso pudor em falar disto, dos amores e desamores em tempo de guerra, da sexualidade, da descoberta dos outros/as.

Os meus parabéns, Mário.

29 de Outubro de 2007:
Luís,

Obrigado pelas tuas palavras. Do que está escrito nos meus livros, estás à vontade, podes publicares no Blogue tudo o que quiseres. Não são obras-primas de literatura, mas sei a força que têm.

Quanto à Pami, acho que não devo tocar, o livro foi escrito assim! Deve assim ficar, só com a inclusão de algumas fotos que são referência do que está escrito. Nesse aspecto, o Briote ofereceu-se, para me dar uma ajuda para tratar das fotos em termos informáticos, o que para mim é um grande favor. Agradecia também a inclusão do prefácio do Coronel Costa Campos, pois é um depoimento de grande valor (4).

Quanto ao que ontem escrevi, és livre de publicares o que quiseres. Não há problemas absolutamente nenhuns, eu o que não quero é que haja quem fique machucado, com o que eu escrevo.

Quanto a mim sou um homem livre e assumo os meus actos, tive a felicidade de ter dois homens extraordinários perto de mim. Meu avô materno João Fitas, monárquico e católico, que me tratava por companheiro, e meu pai António Vicente que me contou a chacina de Badajós - ainda eu era puto - à qual ele assistiu, e muita fome matou aos desgraçados que fugiam da morte.

Um Abraço do tamanho da minha Planície.

Mário Fitas

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Notas de L.G.:

(1) Mário Fitas foi Fur Mil Op Esp, da CCAÇ 763 (Cufar 1965/66); é autor dos dois romances sobre a guerra da Guiné

Vd. posts de:

12 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2043: Bibliografia de uma guerra (22): Putos, Gandulos e Guerra, de Mário Vicente, aliás Mário Fitas (CCAÇ 763, Cufar)

5 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1926: Bibliografia de uma guerra (21): Pami Na Dondo ajuda-nos à reconciliação com a guerrilha (Virgínio Briote / Carlos Vinhal)

2 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1911: Bibliografia de uma guerra (19): Pami Na Dondo, guerrilheira do PAIGC, o último livro de Mário Vicente (A. Marques Lopes)

27 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1893: Notícias de Cadique (Mário Fitas, CCAÇ 763, Cufar, 1965/66)

26 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1884: Tabanca Grande (16): Mário Fitas, ex-Fur Mil da CCAÇ 763 (Cufar, 1965/66)

(2) Vd. pots de:

20 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2197: A nossa Tabanca Grande e As Duas Faces da Guerra (4): Encontro tertuliano no hall da Culturgest na estreia do filme (Luís Graça)

(...) "(xvii) O Mário Fitas, que não conhecia pessoalmente e que a teve a gentileza de me oferecer um exemplar dos seus dois livros; no mais recente (Pami Na Doindo, a guerrilheira) escreveu a seguinte dedicatória:

"Silêncios parados, ressoar de passos do passado! Para o Dr. Luís Graça, agradecendo toda a disponibilidade para com todos os que fizeram o 'Vietname Português'. Um abraço sincero do Mário Vicente.

"Obrigado, Mário, o Doutor é que está mais, camarada! Fica o pedido de autorização para publicares no nosso blogue a belíssima narrativa da tua guerrilheira". (...)

22 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2202: A nossa Tabanca Grande e As Duas Faces da Guerra (8): Voltei a Cufar e a chafurdar nas bolanhas e rios de maré (Mário Fitas)

(3) Vd post de 4 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1919 - Tabanca Grande (22): Gilda Pinho Brandão, uma nova amiga

(4) Já foi aqui publicado: Vd. post de 2 de de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1911: Bibliografia de uma guerra (19): Pami Na Dondo, guerrilheira do PAIGC, o último livro de Mário Vicente (A. Marques Lopes)

(...) "É uma edição do autor, de Julho de 2005, patrocinada pela Junta de Freguesia do Estoril. O Prefácio é da autoria do Coronel Carlos da Costa Campos, e diz assim (Subtítulos da responsabilidade do editor do blogue)" (...)



(5) Episódio sangrento da guerra civil de Espanha, que foi presenciada pelo jornalista português Mário Neves, do Diário de Lisboa:


Sitografia (sumária):


Blogue de José Viale Moutinho > 19 de Março de 2006 > 129 livros sobre a guerra civil de Espanha (e depois)

Fundação Mário Soares > O repórter Mário Neves na Guerra Civil de Espanha > A chacina de Badajoz





Cópia da página da edição do Diário de Lisboa, de 15 de Agosto de 1936, 2ª tiragem, com a famosa reportagem de Mário Neves sobre a reconquista da cidade de Badajoz pelos franquistas e a chacina dos vencidos.

Fonte: Fundação Mário Soares (2007) (com a devida vénia...)

(...) "Quando Mário Neves, com apenas 24 anos, e ainda estudante de Direito, foi incumbido da sua primeira e derradeira prova como repórter do Diário de Lisboa, nunca iria imaginar as repercussões internacionais que iria ter o seu testemunho da tomada violenta de Badajoz por parte das tropas nacionalistas.

"A 'Matança de Badajoz' foi presenciada em primeira mão por três jornalistas: Reynolds Packard, da United Press, Jacques Berthet, do Temps, acompanhados por Mário Neves. Estes jornalistas, e mais tarde Jay Allen, correspondente do Chicago Tribune, foram os primeiros a denunciar a violência e a 'inflexível justiça militar' realizada pelo Exército de África, comandado pelo tenente-coronel Yagüe.

"Estes testemunhos directos e oculares iriam ter um impacto muito forte na imagem que os rebeldes nacionalistas queriam dar ao mundo, de libertadores da barbárie e da anarquia.
Para Mário Neves significou a última oportunidade de apresentar a verdade, já que depois do seu artigo de 16 de Agosto de 1936, a crónica do dia seguinte foi integralmente censurada e ele próprio envolvido numa polémica internacional sobre a veracidade dos relatos, que se arrasta até aos nossos dias.

"Se em Portugal a faceta violenta do Exército de África foi facilmente neutralizado pela censura, no estrangeiro as repercussões foram enormes, e o Governo Português foi associado e condenado pela colaboração com a facção nacionalista, num período em que ainda estava a ser delineada a política de 'neutralidade' assumida oficialmente por Salazar" (...)