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quarta-feira, 10 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25366: Trabalho sobre a formação dos Comandos na Guiné, publicado na Revista da Associação de Comandos, MAMA SUME - Parte II (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando)



"Os Comandos na Guiné", artigo da autoria do nosso camarada Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando, publicado na Revista MAMA SUME, da Associação de Comandos, e enviado ao Blog no dia 22 de Março de 2024:

“Comandos” do CTIG - Parte II

Resumo sobre a História dos Cmds do CTIG[4]

I. Cronologia

˗ Partida, em 29 de Outubro de 1963, para Angola dos Oficiais, Sargento e Praças, do CTIG, a fim de frequentarem um curso de Comandos, no C.l.16 na Quibala - Norte:
˗ Maj. Inf.ª Correia Diniz
˗ Alf. Mil. Maurício Saraiva
˗ Alf. Mil. Justino Godinho
˗ 2º Sarg. Inf.ª Gil Roseira Dias
˗ Fur. Inf.ª Mário Roseira Dias
˗ Fur. Milf. Cav. Artur Pereira Pires
˗ Fur. Milf. Cav. António Vassalo Miranda
˗ 1º Cb. At. Inf.ª Abdulai Queta Jamanca
˗ Sold. At. Inf.ª Adulai Jaló
˗ Regressaram a Bissau em 6 de Dezembro de 1963, e, formaram um grupo que participou na Operação "Tridente" (Ilha do Como), de 15Jan. a 22 Mar. 1964.
˗ Em 3 de Agosto de 1964, início das actividades do CIC/Brá, com a Escola de Quadros para dar instrução ao 1.°Curso de Comandos da Guiné, que decorreu entre 24 de Agosto e 17 de Outubro de 1964.
Deste curso saíram os três primeiros grupos de Comandos, que desenvolveram actividade operacional na Guiné até Julho de 1965:
˗ "Camaleões": Alf. Mil. Cmd Justino Godinho (Cmdt)
˗ "Fantasmas": Alf. Mil. Cmd Maurício Saraiva (Cmdt)
˗ "Panteras": Alf. Mil. Cmd Pombo dos Santos (Cmdt)

Militares seleccionados para o GrCmds na op. Tridente:

˗ Alf Mil Pombo dos Santos, do PelAA 943 (juntou-se ao GrCmds no Como, já depois do início da op "Tridente")
˗ 1º Cabo Marcelino da Mata, da 1ª CCaç (idem)
˗ Soldado 1/63 António Paulista Solda
˗ Soldado 75/63 J. Ramalho Godinho, da CCav 487
˗ Soldado 235/63 S. Conceição Veiga, da CCav 488
˗ Soldado 749/83 J. Firmino Martins Correia, da CCav 487
˗ Soldado 674/63 António Gomes, da CCaç 510
˗ Soldado 338/63 Francisco da S. Duarte, da CCaç 510
˗ Soldado 194/63 Joel António Pereira, da CCaç 487 (regressou à Cª, após o final da op. “Tridente”)
˗ Soldado 225/63 Maurício Romão Conceição, da CCav 488 (idem)
˗ Soldado 221/63 J. Trindade Cavaco, da CCav 487
˗ Soldado 598/63 Manuel Martins da Cunha, da CArt 494
˗ 1º Cabo foto-cine Celestino Raimundo, da CCS/QG/CTIG (evacuado Mai64 devido a acidente em serviço, para o H.Militar de Belém. Foto-cine ao serviço da 3ª Rep/QG, encarregado da cobertura da operação, juntou-se ao GrCmds e a ele se devem as poucas imagens da referida operação).

II. Comandos do C.T.I.Guiné: efemérides

˗ 23/7/64: início das actividades do Centro de Instrução Comandos em Brá.
˗ O CIC/Brá, sob o comando do Maj. Inf.ª Cmd Correia Diniz, recebeu do CIC de Angola, para a formação de quadros, os seguintes militares:
Ten. Mil. Cmd Abreu Cardoso
Alf. Mil. Cmd Luís Câmara Pina
2.º Sarg. Infª. Cmd Ferreira Gaspar
Fur. Mil. Cmd Pompílio Gato
1.º Cb. Cmd Pires Júnior (Pegacho)
1.º Gr. Cmds "GATOS" / BART 400, comandado pelo Alf. Mil. Cmd Martins Valente
Estes elementos participaram nas primeiras acções conjuntas com os grupos acima referidos.
˗ 3/8/64: início da Escola Preparatória de Quadros.
˗ 24/8 a 17/10/64: Iº Curso de formação dos GrsCmds (Camaleões, Fantasmas e Panteras
˗ 20/10/64 a Junho de 1965: actividade operacional dos GrsCmds.
˗ 1/7/65: extinção do CIC de Brá.
˗ Para dar continuidade à formação de Grupos de Comandos, foi criada a Companhia de Comandos do CTIG (CCmds/CTIG), tendo sido nomeado seu comandante o Cap. Art.ª Nuno Rubim, substituído em 20 de Fevereiro de 1966 pelo Cap. Art. Garcia Leandro.
˗ 24/05/65 a 22/06/65 : IIº Curso da Escola de Quadros do C. I. Comandos.
˗ O 2º.Curso de Comandos teve início em 07 de Julho de 1965, terminando em 04 de Setembro, com a formação de 4 Grupos de Comandos, que tomaram os nomes:
"Apaches": Alf. Mil. Cmd Neves da Silva (Cmdt)[5]
"Centuriões": Alf. Mil. Cmd Almeida Rainha (Cmdt)
"Diabólicos": Alf. Mil. Cmd Silva Briote (Cmdt)
"Vampiros": Alf. Mil. Cmd Pereira Vilaça (Cmdt)[6]
˗ Set. 65 a 30/6/66 : actividade operacional dos grupos.
˗ 20/2/66: nomeado o capitão Artª Garcia Leandro para Comandante da CCmds.
˗ O 3.º Curso de Comandos, realizado pela CCmds/CTIG, aquartelada em Brá, decorreu de 09 de Março de 1966 a 28 de Abril de 1966, e foi constituído por militares voluntários pertencentes a Unidades sediadas na Guiné e que se destinaram a recompletamento dos Grupos de Comandos. O alf. Mil. V. Briote foi o responsável pelo curso tendo sido aprovados 2 sargentos e 18 praças, englobados no GrCmds "Diabólicos, cerca de um mês depois.
˗ Com a chegada à Guiné da 3.ª Companhia de Comandos, vinda do CIOE - Lamego, a CCmds/CTIG foi extinta em 30 de Junho de 1966, mantendo-se em actividade o Grupo de Comandos "Diabólicos", até finais de Setembro de 1966, data em que a maioria dos militares que o integravam terminaram a sua comissão de serviço.
Partida para zona de Mansoa – Diabólicos.
Heliembarque de GrCmds.
Operação Atraca, heliassalto – Grupo Diabólicos.
Operação Atraca – recolha.

III. Militares naturais da Guiné que fizeram parte dos Grupos de Comandos iniciais (1964/1966)

1.º Cabo Braima Seidi, da BAC
1.º Cabo Tomaz Camará, da CCS/QG
1.º Cabo Marcelino da Mata, da CCS/QG
Sold. Momo Camará
Sold. Lifna Cumba
Sold. Bacar Jassi
Sold. Gouveia Yalá
Sold. Mamadu Jaló
Sold. Justo Orlando Nascimento
Sold. Pedro Costa Malan Sani
Sold. Raul Manuel Gomes
Sold. Bacar Mané
Sold. Mamadu Bari
Sold. António Mamadu Saboli Camará
Sold. Augusto Alfredo de Sá
Sold. Braima Bá
Sold. Adriano Sisseco
Material capturado pelo Grupo de Comandos Apaches, em Bigene.

IV. Resultados da Cª Cmds da Guiné (23/08/64 a 31/08/66)

˗ Efectivos envolvidos: 211
˗ Mortos em combate: 12
˗ Feridos em combate: 19
˗ Acções realizadas: 113[7]
 Gr. “Fantasmas”: 21 operações
 Gr. “Camaleões”: 9
 Gr. “Panteras”: 11
 Gr. “Apaches”: 14
 Gr. "Centuriões": 12
 Gr. “Diabólicos”: 24
 Gr. “Vampiros”: 14
˗ Armas apreendidas: 71

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Notas de VB:

[4] - In Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961/1974); 14º Vol. “COMANDOS”

[5] - Razões familiares obrigaram o alf. Neves da Silva a deixar o comando do grupo, sendo substituído pelo Sarg. Mil. Mário Dias

[6] - Inoperacional por motivos de saúde após 7Set1965, sendo substituído pelo Furriel Mil. Moura dos Santos e mais tarde pelo alf. Mil. Vítor Caldeira

[7] - Total de operações, incluindo acções executadas apenas por oficiais e sargentos.


********************

A opinião do Comandante John MacCain, oficial norte-americano, sobre os Comandos do CTIG

O comando militar da Guiné lançou a operação Tridente. Uma operação com o objectivo de limpar as ilhas de Caiar, Como e Catunco, que ficavam no sul, entre os rios Cumbijã e Tombali. A acção durou setenta e um dias entre Janeiro e Marco de 1964 e nela foram utilizados praticamente todos os recursos militares, na altura, disponíveis na Guiné.

A força de “Comandos”, ainda a nascer não foi poupada, e um grupo foi formado com oito dos nove que tinham sido treinados em Angola a que se juntaram mais treze militares que ainda não tinham recebido instrução de “Comandos”. O grupo de “Comandos” foi integrado na força terrestre para a operação, que incluiu três destacamentos de fuzileiros, um pelotão de para- quedistas, um pelotão de artilharia, três companhias de cavalaria e um pelotão de infantaria africana, sob o comando de um oficial de cavalaria, o tenente- coronel Fernando Cavaleiro. Durante a operação, o grupo de “comandos” teve um desempenho que mereceu destaque, sem sofrerem baixas.

Depois da op. Tridente, o comando militar autorizou a abertura de um Centro de Instrução de Comandos, num aquartelamento em Brá, , uma aldeia localizada a meio caminho entre Bissau e o aeródromo principal em Bissalanca ao norte, que foi oficialmente inaugurado em Julho de 1964 sob o comando do major Correia Dinis, um dos militares que tinham recebido instrução em Angola. O CIC da Guiné teve muitas dificuldades para obter o apoio necessário e não pôde dar a formação requerida. Em Dezembro desse ano, um frustrado Correia Dinis levantou a questão ao Comandante-em-Chefe, pois não havia livros, maquetes de instrução, ou qualquer outro material de apoio. Não havia veículos, nem armas para praticar pontaria, não havia munições, granadas de mão nem explosivos, e assim por diante. Também era importante ter armas capturadas para instrução. Eventualmente, alguns desses problemas foram sendo resolvidos, mas tudo à custa de um tempo precioso e de enorme esforço.

A instrução e a administração no CICmdss acompanharam o CIC em Angola e seguiram o que agora se tornou uma rotina padronizada. A preparação dos instrutores do CIC levou treze semanas e começou em Junho de 1964, após a conclusão da Tridente. No final do curso de instrutores em Agosto, participaram na operação Alfinete em que o grupo executou um ataque a um acampamento PAIGC de oito barracas no mato da floresta Oio da aldeia de Santambato. Isso completou a formação e o primeiro curso de comandos formal teve início rapidamente no mesmo mês. Sairam deste curso três grupos de “Comandos” depois de oito semanas de instrução, e como era agora tradição cada grupo adoptou um nome: Fantasmas, Camaleões e Panteras.

Após o primeiro curso, o número de instrutores do CIC foi aumentado em cinco, dois da metrópole e três de Angola, em preparação para o segundo curso. O aumento adicional foi solicitado e recebido de Angola sob a forma de um grupo, os Gatos, que tinha sido treinado um ano antes e tinha já uma considerável experiência de combate. Este grupo realizou uma série de operações com instrutores para os orientar em operações de “comandos”.

O segundo curso começou em Junho de 1965 e durou oito semanas e dele saíram quatro grupos: Apaches Centuriões, Diabólicos e Vampiros.

Na conclusão deste segundo curso, houve uma reavaliação da organização dos “comandos” na Guiné, e o comando militar decidiu criar uma Companhia de “comandos” autónoma. Devido aos requisitos específicos para os “comandos”, pensou-se que seriam mais eficazes em vez de fazerem parte de uma estrutura regular de tropas. A instrução avançada, o ethos (hábitos ou crenças que definem um grupo), o trabalho em equipa e a moral eram muito diferentes do “mainstream”, e a separação era indispensável para preservar a diferença que os “comandos” tinham.

Assim, a partir de Novembro de 1965, Brá passou a ser o aquartelamento da Companhia de Comandos, que foi formada pelos grupos existentes. Houve resistência a este movimento por parte dos comandantes de batalhão que anteriormente tinham fornecido os militares e agora se viam obrigados a renunciar à valiosa capacidade dos grupos. No entanto, no início de 1966 começaram os preparativos para o terceiro curso em Brá e deu-se início ao recrutamento. O curso começou em Março e, como os anteriores, durou o período de oito semanas.

Alguns dos grupos estavam então fortemente engajados e sofreram baixas significativas. O preço do combate foi reduzindo o seu número, uns por doença e outros por baixas em combate, e enquanto o terceiro curso iria aliviar um pouco a situação, a integridade dos grupos foi ameaçada. Os Apaches, Centuriões e Vampiros acabaram por ser dissolvidos, e os seus sobreviventes juntaram-se num grupo, os Diabólicos. Estes estiveram fortemente envolvidos em torno de Mansoa e Jugudul e acabaram por sofrer o mesmo destino em finais de Agosto.

Os vários grupos estiveram na vanguarda da acção de combate desde a sua organização, sempre sob as circunstâncias mais desafiadoras e perigosas, e demonstraram grande coragem. Com a sua dissolução, terminou a primeira fase da história dos Comandos na Guiné. Em fins de Junho de 1966, a 3.ª CCmds, formada em Lamego, desembarcou em Bissau. Esse desdobramento de “Comandos” iria abrir uma nova fase da guerra e, como se quisesse assinalar isso, os seus homens usavam uma boina camuflada. Os Comandos na Guiné acabariam por se estender a doze companhias, três das quais africanas.

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Nota do editor

Vd. post anterior de 9 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25362: Trabalho sobre a formação dos Comandos na Guiné, publicado na Revista da Associação de Comandos, MAMA SUME - Parte I (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando)

terça-feira, 19 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25286: Facebook...ando (52): António Pina, ex-sold, CCAÇ 3399 / BCAÇ 2892 (Aldeia Formosa, 1971/73); natural de Loriga, Seia, vive em São João da Talha, Loures, e é membro da Tabanca da Linha



 
"Eu também estive no mato 26 meses e 8 dias...foram tempos muito dificeis que nunca foram ultrapassados e jamais o serão... 71/73"


"Esta foto foi tirada junto ao 'Hotel'... a chamada caserna, onde dormíamos"


"Foto tirada no meio do capim, passados uns dias depois de saber que a minha querida mãe tinha falecido... quando eu mais precisava dela."


"Foto tirada, com o dilagrama, junto ao arame farpado, em Aldeia Formosa"


"Esta foto foi tirada em cima de um 'bunker' onde era guardado o materal de guerra (paiol)" (...) "Esta era a minha arma de defesa nas matas da Guiné... Tinha que ter um grande sentido de responsabilidade porque era uma arma eficaz em clareiras mas imensamente perigosa em matas muito densas  porque havia perigo de embater em qualquer vegetação e ferir os nossos irmãos de guerra quando caímos numa emboscada" (...)


Em dia de ir à lenha, numa velha GMC


Junto  ao obus 14, em Aldeia Formosa


Patrulha por Mampatá


"Como se pode ver na foto, eu e os meus irmãos de guerra estamos no restaurante, ao mais alto nivel, em Aldeia Formosa."... Um dos companheiros é o António Alberto Salgado Raposo, que era soldado condutor.  

Não sabemos qual foi o petisco, mas  foi bem regado, não faltando o vinho português, incluindo um Dão... A mesa é feita com tábuas de restos de caixas que acondicionavam géneros alimentícios, num delas pode ler-se: "Massa superior. Esparguete. Pacoteas"... O famoso "esparguete" que foi a tábua de salvação dos nossos vagomestres, juntamente com as conservas peixe (atum,  cavala...).


"Esta foto foi tirada em março de 1973, estava eu aqui com meus irmãos de guerra todos felizes...pois estávamos á porta de armas esperando a companhia que nos vinha render"...

Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa >: CCAÇ 3399 (1971/73) >  Seleção de fotos do álbum do António Pina

 Fotos (e legendas): © António Pina (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Oeiras > Algés > Restaurante Ca4ravelaq de Ouro > 55º almoço-conmvívio da Magnífica Tabanjca da Linha > 14 de marçlo de 2024 > O João Crisóstomo (Nova Iorque), o José Colaço e o António Pina, ambos de  São João da Talha (Loures).

Foto: © Manuel Resende (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. O Alberto Bastos (1948-2022), ex-alf mil op esp, é até à data o único representante da CCAÇ 3399 / BCAÇ 3852 (Aldeia Formosa, 1971/73), na nossa Tabanca Grande (embora tenha entrado a título póstumo, e "por mão" do Joaquim Pinto Carvalho) há dois anos atrás (*).

Gostaríamos que outros seus camaradas, da CCAÇ 3399 / BCAÇ 3852 , pudessem vir a preencher o vazio deixado pela sua morte. Descobrimos há dias que o António Pina (ou António Santos Pina) foi também desta subunidade, tendo estado a maior parte da sua comissão em Aldeia Formosa. 

É membro da Magnífica Tabanca da Linha (**), que frequenta com regularidade, e gostavámos de o convidar a integrar o nosso blogue. Já participou, em 15 de abril de 2015, no X Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real, juntamente com o seu amigo e vizinho José Botelho Colaço. 

Peço ao Colaço, que é um histórico do nosso blogue, que "apadrinhe" a sua entrada, no ano em  que comemoramos os 20 anos da Tabanca Grande (e estamos a fazer uma campanha para chegar aos 900...).  

O Pina é também amigo da página do Facebook da Tabanca Grande  (temos mais de uma centena de amigos comuns).  

Sabemos que é natural de Loriga, Seia, e vive em São da Talha, tal como seu  amigo José Botelho Colaço. Profissionalmente foi mecânico de apoio de avião na TAP Air Portugal.  

Da sua página no Facebook selecionámos algumas das fotos do seu álbum, para partilhar com os nossos leitores. (***)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 11 de janeiro de  2022 > Guiné 61/74 - P22897: Tabanca Grande (529): Alberto Bastos (1948-2022), ex-alf mil op esp, CCAÇ 3399 / BCAÇ 3852 (Aldeia Formosa, 1971/73), natural de Vale Cambra, o primeiro grã-tabanqueiro do ano, o nº 856, embora infelizmente a título póstumo

(**) Vd. poste de 16 de março de 2024 >  Guiné 61/74 - P25277: Convívios (984): 55.º Almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, Algés, 14 de março de 2024 - Parte I

(***) 16 de fevereiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25175: Faceboook...ando (51): seleção do álbum fotográfico de Nicolau Esteves, o "brasileiro de Cinfães", ex-1º cabo radiotelegrafista, CCAÇ 797 (Tite, São João e Nhacra, 1965/67) - II (e última)

sábado, 16 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25277: Convívios (984): 55.º Almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, Algés, 14 de março de 2024 - Parte I


Lisboa > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 14 de março de 2024 > 55.º convívio da Magnífica Tabanca da Linha > O João Crisóstomo (Nova Iorque) e filha Cristina (que presentemente vive e trabalha em Lisboa)


Lisboa > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 14 de março de 2024 > 55.º convívio da Magnífica Tabanca da Linha > Lado direito da mesa em U: logo em primeiro plano, três "magníficos" e "históricos" da Tabanca da Linha: o António Fernandes Marques (Cascais)  o Luís Moreira e a Irene (Mem-Martins)


Lisboa > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 14 de março de 2024 > 55.º convívio da Magnífica Tabanca da Linha > O lado esquerdo da mesa em U:  logo em primeiro plano, o Carlos Silvério (Lourinhã).


Luís Cardoso Moreira e Irene (Mem-Martins)


Virgínio Briote e Irene (Lisboa)


Luís Graça e Alice (Lourinhã)


O João Crisóstomo (Nova Iorque), o José Colaço e o António Pina, ambos de  São João da Talha. 


António Graça de Abreu (São Pedro do Estoril), outro "histórico" e "magnífico" da Tabanca da Linha


Hélder Valério Sousa (Setúbal)


João Pereira da Costa (Lisboa): foi recentemente operado às cataratas...


Fernando Serrano (Linda-A-Velha)


Victor Carvalho (Linda-A-Velha)


Constantino Ferreira d'Alva (Linda-A-Velha)


António F. Marques (Cascais)


António Casquilho Alves (Lisboa)


Daniel Gonçalves (Carcavelos)


João Crisóstomo (Nova Iorque)


Fotos: © Manuel Resende (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Quinta feira, 14 de março de 2024, às 21;44. o régulo (e administrador da página do Facebook) da Magnífica Tabanca da Linha, Manuel Resende, já estava a postar as fotos que tinha tirado à tarde, e comentado,  com bom humor,  que os "magníficos" desta vez foram 36 (três dúzias), alguns outros não puderam vir por esta ou aquela razão... Voltaremos a encontrarmo-nos em 23 de maio, no 56.º almoço-convívio:

(...) Caros Magníficos, como estava previsto, realizou-se hoje mais um convívio do nosso grupo "A Magnífica Tabanca da Linha",  com a presença de 36 valentes que apostam sempre na linha da frente. 

Podia ter sido um pouco mais concorrido, mas as famigeradas maleitas atacaram alguns. Vamos em frente, porque estes convívios dão força ao nosso espírito. 

O nosso "homenageado" João Crisóstomo ficou feliz com as presenças de muitos conhecidos de há quase 60 anos.

Bom, o próximo será a 23 de Maio, já reservei a sala do 2.º piso no restaurante para nós.

Para ver as fotos de hoje, clicar no link. (...)


2. Desta vez o nosso almoço foi servido na sala de jantar do r/c do restaurante Caravela de Ouro. Costuma ser no 2.º andar, em salão amplo, privativo, com vista magnífica para o Tejo... quando o número o justifica.

Não vamos repetir aqui as fotos do Manuel Resende, disponíveis na página do Facebook da Tabanca da Linha. Sabemos que ele teve  seis "piras" (caras novas) mas não listou os seus nomes... 

Para já deixamos aqui algumas caras mais conhecidas, de camaradas que são membros também da Tabanca Grande, a mãe de todas as tabancas. As fotos foram editadas por nós, eliminando o fundo... Esperamos que o fotógrafo, e os próprios, não levem a mal esta "brincadeitra"... Num segundo poste publicaremos mais "caras", umas mais conhecidas do que outras... Nestas fotos, tiradas à mesa há sempre "poluição estética" a mais: copos, garrafas, talheres, guardanapos, pratos com comida...

O João Crisóstomo, à despedida, manifestou a sua alegria por este convívio entre camaradas e "irmãos"... "Ganhei o dia!", disse-nos ele. E para mais tinha a companhia da sua querida filha Cristina que tirou pelo menos duas horas à sua agenda sobrecarregada para estar com o pai e os seus velhos camaradas... 

A Cristina, filha de mãe minhota, nasceu no Brasil, veio novinha para Portugal e só depois foi viver para Nova Iorque em meados dos anos 70, se não erro... Fala impecavelmente o português, o que é um motivo de orgulho para todos nós... (Vive no Chiado, queixa-se de estar ainda um bocado  isolada...).
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Nota do editor:

Último poste da série > 14  de março 2024 > Guiné 61/74 - P25273: Convívios (983): XXXI Convívio do pessoal da CCAÇ 2381 - "Os Maiorais" - a levar a efeito no próximo dia 13 de Abril de 2024, em Fátima, com concentração na Rotunda dos Peregrinos (José Teixeira / Eduardo Moutinho Santos)

segunda-feira, 20 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24155: Manuscrito(s) (Luís Graça) (217): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles ? - Parte IIA: 'Deus Cura os Doentes e o Médico Recebe o Dinheiro"


A velha Universidade de Coimbra, uma das dez mais antigas do mundo. Mas há um provérbio que diz(ia): "Mais vale um ano de tarimba do que dez de Coimbra". E um outro que avisa: Salamanca a uns cura e a outros manca". Mais cáustico, o terceiro denuncia: "Em Valência muitas fraldas,  pouca ciência". 



1. Continuação da publicação de uma série de textos, da autoria do nosso editor Luís Graça, sobre as lições que podemos tirar dos provérbios populares portugueses, nomeadamente sobre a saúde, a doença e os prestadores de cuidados de saúde, mas também a sobre a proteção e a promoção da saúde,  incluindo a vida, o trabalho, o envelhecimento ativo e a "arte de bem morrer"...

Por razões de força maior, ele está temporariamente com menos disponibilidade (física e mental) para editar o blogue, encontrando-se no Norte (Madalena, Vila Nova de Gaia). Conta com os outros coeditores, e nomeamente com o sempre fiel e incansável Carlos Vinhal, para ir mantendo  todos os dias a "montra do blogue"  atualizada e renovada. 

São textos que foi buscar ao seu "baú", a sua antiga página na ENSP/NOVA onde ensinou e investigou, durante quase quatro décadas, ajudando a formar médicos de saúde pública, médicos do trabalho, medicos de  clinica geral e famiiar,  administradores hospitalares, gestores de serviços de saúde, enfermeiros, técnicos de diagnóstico e terapêutica, técnicos de higiene e segurança,  educadores e promotores de saúde, engenheiros, mestres, doutores, etc.... A págima foi recuperada pelo Arquivo.pt: Saúde e Trabalho - Luís Graça, (página pessoal e profissional cuja criação remonta a 1999).

Espera-se,  ao menos, que a  leitura destes textos desperte algum interesse e tenha algum  proveito para os nossos leitores, lusófonos... Incluindo os medicos: afinal, e parafraseando um deles, o Abel Salazar (perseguido pelo  Estado Novo) mal vai o médíco que só sabe de medicina...
 LG.


Graça, L. (2000) - Representações Sociais da Saúde, da Doença e dos Praticantes da Arte Médica nos Provérbios em Língua Portuguesa. Parte II : 'Deus Cura os Doentes e o Médico Recebe o Dinheiro'

(Continuação) (*)

3. Estereótipos em Relação aos Médicos e à Medicina

3.1. O "mata-são"

A descrença em relação aos médicos e aos seus meios de diagnóstico e de terapêutica traduz-se em ditos mais ou menos jocosos como "Deus cura os doentes e o médico recebe o dinheiro" (Quadro VI) ou, noutra variante (tendo porventura como objeto o cirurgião), "Deus é que sara e o mestre é que leva a prata".

Aos olhos do homem comum, a razão de ser e de existir dos médicos é a doença que, por seu turno, representa, para eles, um verdadeiro "celeiro" ou um "bornal" (ou ainda "gamela", uma imagem típica do mundo rural, significando, neste contexto, fonte de rendimento, de enriquecimento - muitas vezes ilícito - e de saciedade).

O vil metal intromete-se subrepticiamente na relação terapêutica, ao insinuar-se que:
  • "A desgraça de uns é a fortuna de outros";
  • "De São Martinho ao Natal, o médico e o boticário enchem o bornal";
  • "Mostarda na horta, médico à porta";
  • "Quando o doente escapa, foi Deus que o salvou; e quando morre, foi o médico que o matou";
  • "Quando os doentes bradam os médicos ganham".

Daí o aviso aos incautos, para que não se metam nem com o homem de leis (o advogado) nem com o praticante da arte médica (o "mata-são#):
  • "Deus te guarde do parrafo de legista, do infra de canonista, et-caetera de escrivão e de recipe de mata-são".
A incerteza quanto ao diagnóstico e ao prognóstico dos médicos (e, portanto, a falta de confiança na medicina, no passado) está ilustrada em ditos como "Emenda de jogador e prognóstico de médico serão o que for" ou "Hipócrates diz que sim, Galeno diz que não" (Quadro VI), muito embora se trate de dois provérbios de raiz mais erudita do que popular.
Hipócrates  (460-377 a.C.) como Galeno (129-199 d.C.)
f oram, praticamente até ao Século XVIII, o alfa e o omega da arte de curar.

A propósito, refira-se que tanto Hipócrates como Galeno foram as duas grandes autoridades do conhecimento médico que herdámos da Antiguidade Clássica e para cuja preservação e divulgação até à Renascença muito contribuíram os arabistas (judeus, árabes e persas que traduziram os originais gregos para árabe e para latim).

Daí a referência, por ex., a Avicena (980-1037): "Avicena e Galeno trazem a minha casa o bem alheio". Recorde-se que o seu Cânone da medicina (ou inventário geral das doenças do ser humano) foi um dos tratados que marcaram o ensino e a prática médicas até muito para lá da Renascença.

A experiência da negligência médica e do erro clínico ('efeitos adversos', como se diz hoje), por seu turno, é documentada através de ditos,  espirituosos uns, sarcásticos outros, que ainda hoje nos chocam pela sua crueza (Quadro VI):
  • "Com o que sara o fígado, enferma o braço";
  • "Erros médicos a terra os cobre" ou, noutra versão, "O médico e o calceteiro cobrem os erros com terra";
  • "Guarde-nos Deus do físico esperimentador (sic) e de asno ornejador";
  • "O bom médico é o do terceiro dia";
  • "O melhor médico é o que se procura e se não encontra";
  • "Pior é ter mau médico que estar enfermo";
  • "Salamanca a uns sara e a outros manca";
  • "Se tens físico teu amigo manda-o a casa do teu inimigo".
Salamanca era famosa, no Século XVI, pela sua escola médica, sendo muito procurada por estudantes portugueses (Lemos, 1991; Mira, 1947). Nela se formaram (ou doutoraram) nada menos do que dois dos nossos três maiores médicos até ao Século XVIII, todos aliás de origem hebraica e obrigados a refugiarem-se no estrangeiro por causa da Inquisição: referimo-nos a Amato Lusitano (1511-1568) e a Ribeiro Sanches (1699-1782).

Em todo o caso, era fraca a reputação da universidade, aos olhos da gente comum (Quadro VI):
  • "Mais vale experiência que ciência";
  • "Mais vale um ano de tarimba do que dez de Coimbra";
  • "Mais vale um burro vivo do que um doutor morto";
  • "Médicos de Valência: grandes fraldas, pouca ciência".
O médico (ou físico, mais tarde facultativo) faz parte, de resto, da vasta galeria das figuras vicentinas. Gil Vicente devia conhecer bem o meio profissional da medicina a ponto de escrever um Auto dos Físicos (1524) onde caustica a classe médica da época por causa da sua linguagem esotérica e da sua crença na astrologia. Como também conhecia o Hospital Real de Todos os Santos onde seria representado, pela primeira vez, o Auto da Barca do Inferno (1517), perante a Rainha Dona Leonor, sua protectora.

A sátira à medicina é, aliás, um tema recorrente na literatura europeia da época (por ex., Molière e Boileau, em França) como até na própria pintura. Na cidade holandesa de Leiden, no museu de Boerhaave (o professor de quem o nosso Ribeiro Sanches foi um dilecto discípulo), o visitante tem a oportunidade de observar um espantoso painel dum pintor holandês anónimo do Séc. XVII, The four guises of the physician (Os quatro rostos  do médicos). 

Visto pelos olhos do doente (um burguês rico) e da sua família, o médico vai assumindo a forma de diferentes personagens (ou rostos):
  • No momento de aflição, ele é o salvador, representado pela figura de Cristo (1) , enquanto examina um boião com as águas (urina), rodeado pelos seus assistentes e tendo aos pés uma panóplia de instrumentos cirúrgicos;
  • Após a recuperação do doente, o médico transforma-se primeiro em anjo (2) para surgir depois sob a forma de um vulgar ser humano (3);
  • Por fim, no último quadro, o doente acaba por morrer: enquanto a sua alma se liberta do corpo, o médico, em primeiro plano, regressa para reclamar os seus honorários, desta vez vestido de diabo (4) (Graça, 1996)


Quadro VI — Provérbios e outros lugares comuns da língua portuguesa sobre o médico, a medicina e a ciência

Objeto

Provérbio

Anato-mia/ Corpo

  • "Anda em capa de letrado muito asno disfarçado"

  • "Antes burro vivo que doutor morto" (Séc. XVIII)

  • "Com dinheiro, língua e latim, vai-se do mundo até ao fim"

  • "Com latim, rocim e florim andarás mandarim"

  • "De livro fechado não sai letrado"

  • "Discípulo, com cuidado, e mestre, bem pago"

  • "Doutor da mula ruça"

  • "Em casa do letrado tanto se paga de pé como sentado"

  • "Mais vale experiência que ciência"

  • "Mais vale um ano de tarimba que dez de Coimbra"

  • "Mais vale um burro vivo do que um doutor morto"

  • "Mascarado de doutor anda por aí muito burro zurrador"

  • "Moça que casa com bacharel não tem quartel"

  • "Não provam bem as senhoras que se metem a doutoras"

  • "O saber não ocupa lugar"

  • "Quem ler leia para saber; quem souber saiba para obrar"

  • "Um burro carregados de livros é doutor"

Físico/ Médico

  • "A crença dos médicos que falta nos sãos sobeja nos doentes"

  • "A desgraça de uns é a fortuna de outros"

  • "A despeito dos médicos viveremos até morrer"

  • "A doença é o celeiro do médico"

  • "À falta de médico não morre o doente"

  • "Ao médico, ao letrado e ao abade falar verdade" (Séc. XVII)

  • "A médico, confessor e letrado nunca enganes"

  • "Aos trinta anos quem não é tolo é médico"

  • "De médico e de louco todo mundo tem um pouco"

  • "De médico, engenheiro e louco todos temos um pouco"

  • "De poeta, médico e louco cada um tem um pouco"

  • "Deus, assim como dá a doença, dá o médico"

  • "Deus cura os doentes e o médico recebe o dinheiro"

  • "Deus é que cura e o médico leva o dinheiro"

  • "Deus te guarde do parrafo de legista, do infra de canonista, et-caetera de escrivão e de recipe de mata-são"

  • "Do São Martinho ao Natal, o médico e o boticário enchem o bornal"

  • "É médico ou pregador de dúzias"

  • "Emenda de jogador e prognóstico de médico serão o que for"

  • "Enfermo paciente faz o médico cruel"

  • "Erros de físicos a terra os cobre"

  • "Erros de médicos a terra os cobre"

  • "Guarde-nos Deus do físico esperimentador e de asno ornejador" (Séc. XVI)

  • "Médico novo e puta velha, todos gostam de experimentar"

  • "Médico velho, advogado novo"

  • "Médico velho, cirurgião novo, boticário coxo"

  • "Médicos de Valência: grandes fraldas, pouca ciência"

  • "Mostarda na horta, médico à porta"

  • "Não há melhor médico do que o fiel amigo"

  • "Nem com cada mal ao médico, nem com cada trampa ao letrado"

  • "O bom médico é o do terceiro dia"

  • "O médico deve ser prudente, o enfermo paciente e o criado diligente"

  • "O médico e o calceteiro cobrem os erros com terra"

  • "O médico é o pai da crença"

  • "O médico quando é pago por ricos é considerado criado; quando recebe dos pobres, é ladrão"

  • "O melhor médico é o que menos fala e mais observa"

  • "O melhor médico é o que se procura e se não encontra"

  • "O melhor médico é, por vezes, o pior doente"

  • "Pior é ter mau médico que estar enfermo"

  • "Por causa do fedor ninguém vai ao doutor"

  • "Quando é de morte o mal, não há médico para curar tal"

  • "Quando o doente diz ai, o físico diz dai"

  • "Quando o doente diz ai, o médico diz dai"

  • "Quando o doente escapa, foi Deus que o salvou;  e quando morre, foi o médico que o matou"

  • "Quando o médico é piedoso é o doente perigoso"

  • "Quando os doentes bradam os médicos ganham"

  • "Quanto mais médicos, mais moléstias"

  • "Quem sempre traz má cor não é médico nem doutor"

  • "Se tens físico teu amigo, manda-o a casa do teu inimigo"

  • "Serigaita sã não precisa médico"

  • "Tratem-nos à moderna, que eles morrem à antiga"

  • "Um médico cura, dois empatam, três matam"

Medi-

cina

  • "A vida é curta e a arte é longa" (1);

  • "Avicena e Galeno trazem a minha casa o bem alheio" (Séc. XVII)

  • "Com o que cura o fígado adoece a bolsa"

  • "Com o que Pedro sara Sancho adoece"

  • "Com o que sara o fígado, enferma o braço" (Séc. XVII)

  • "Doença bem tratada poucas vezes é demorada"

  • "Hipócrates diz que sim, Galeno diz que não"

  • "Mais matou a ceia que sarou Avicena"

  • "Mais matou o céu que sarou Avicena"

  • "Mal com mal se cura"

  • "Mastigar marmelada para os tísicos"

  • "O bom remédio amarga na boca"

  • "Quem tem doença abra a bolsa e tenha paciência"

  • "Salamanca a uns sara a outros manca"

  • "Saúde o come que não boca grande"


(1) Aforismo hipocrático: referência à arte de curar arte de curar


Os próprios médicos satirizavam certas práticas e crenças dominantes , como por exemplo o uso e o abuso da uroscopia (exame das águas ou urina), ainda largamente difundida entre nós em meados do Séc. XVII a avaliar por este trecho, em verso e em castelhano, de Domingos Pereira Bracamonte (1606-1658), médico de Amarante, que acusa os "medicastros [ médicos charlatães ] urináuticos" (sic) de enganar os pobres doentes:

(...) porque desenganara

Tanta rustica gente que enganada

Piensa que en la urina está cifrada

De Esculápio la sciencia

Y en un canuto solo


Oraculos de Apolo

Y sin mas relacion de su dolencia

Por bien poco dinero

Quiere que sea el medico echicero

Culpa de medicastros urinauticos

Que hipocritas seran, mas no hippocraticos

Bracamonte (1642)
 



3.2. "Médico velho, cirurgião novo, boticário coxo

Em traços físicos e simbólicos, o médico é descrito como "velho", enquanto o cirurgião é "novo" e o boticário, "coxo". Mas mesmo que a medicina seja inútil ("Ciência é loucura se o bom siso a não cura"), o médico sempre é um letrado, o único aliás com formação universitária (...e "ao letrado não o tenhas enganado").

É claro que o prestígio do médico está mais relacionado com a idade e os longos anos de estudo ("Aos trinta anos quem não é tolo é médico") do que com o saber livresco ("Quem ler leia para saber; quem souber saiba para obrar") e com a frequência da universidade ( "Mais vale um ano de tarimba que dez de Coimbra" ) (Quadro VI).

No Séc. XIV bastava saber ler e escrever e pouco mais para se ter acesso à Universidade:

Com três anos de aproveitamento, era-se bacharel; o bacharelato (do latim bacalaureatus, "coroado de louros com bago") era, pois, o primeiro grau académico;

Com mais dois ou quatro, conforme os cursos, era-se licenciado, detentor de licentia docendi ubique, ou seja, licenciatura reconhecida em toda a cristandade;

Só ao fim de muitos anos - já na casa dos trinta, no caso da Teologia -, é que se atingia o cume da pirâmide do saber, o grau de doutor ou mestre, não sendo muito clara a distinção entre um e outro título académico (O termo original magister dá lugar a doutor).

No limiar do Séc. XVIII, a um médico, "para chegar a curar" - no dizer do Doutor Frei Manuel de Azevedo (c. 1600-1672) (cit. por Pina, 1938.21) - seriam necessários "treze anos de estudo, com três ou mais exames muy apertados", assim discriminados:
  • "Quatro anos para bem saber o Latim, delle o examinam para depois entrar na Filosofia, nesta gasta ao menos tres annos, fazendo no discurso delles diversos actos de Conclusões";
  • "No fim o examinarão com todo o aperto, & achando-o habil, lhe dão grau de bacharel em Filosofia" (No total, sete anos de ensino preparatório, dando acesso à Faculdade de Medcina);
  • Com este [ bacharelato ] entra a aprender medicina, nella cursa quatro anos, & nelles com diversos actos de Conclusões, que defende";
  • "No fim de todo este tempo o examinarão apertadissimamente todos os Medicos Doutores da Universidade";
  • Uma vez aprovado, fazia o equivalente ao actual internato geral hospitalar, "onde aprenderia as enfermidades e os pulsos durante dois anos" (Ou sejam, seis anos de ensino pré e pós-graduado de medicina) (Itálicos meus).
Em resumo, aos 23 ou 24 anos era-se médico, o que para a época era já uma idade provecta (se consideramos a baixa esperança média de vida, à nascença, dos portugueses).. Daí também o natural despeito dos físicos em relação aos cirurgiões:

"Como poderà hum Cyrurgião, que mal sabe ler, & escrever, com hum ano, ou pouco mais, que assistio no hospital, aprendendo só a curar feridas e chagas, como poderá curar enfermidade alguma" ?, pergunta Manuel de Azevedo (Itálicos meus).

Já na altura, o diagnóstico do doente (o "conhecimento do pulso") era um acto médico por excelência:

"Em toda a medicina não ha cousa mais dificultosa, que o conhecimento do pulso. E ha tanta ignorância popular, que aos barbeiros, & cristaleiras se dão os pulsos, para lhos tomarem & lhes dizerem se tem febre grande, ou pequena", comenta Azevedo (cit. por Pina, 1938. 22).

"E peyor he, que se dous Medicos disserem ao enfermo, que não tem febre, & vier o barbeiro, ou a crystaleira [ que ministrava clisteres ] a dizer que a tem, lhe dão mãyor credito, que aos ditos Medicos".

De qualquer modo, qual era o sentido de provérbios como "Aos trinta anos quem não é tolo é médico" ou "Médico velho, cirurgião novo, boticário coxo"?

Numa amostra de 15 médicos portugueses que viveram entre 1501 e 1859, e para os quais dispomos de informação biográfica, apurámos os seguintes dados que, no mínimo, são curiosos e podem revelar algumas tendências sobre o desenvolvimento histórico do ensino e do exercício da medicina em Portugal (Quadro VII):

Neste período os médicos viviam em média 66,3 anos (Mínimo: 50; máximo: 83), seguramente mais tempo do que a esperança média de vida da população portuguesa;

Acabavam o curso de medicina aos 24,3 anos (Mínimo: 18; máximo: 29);

No período compreendido entre 1523 e 1717, antes portanto da reforma pombalina da Universidade de Coimbra (1772), a idade média de conclusão do curso de medicina seria mais baixa , andando nos 22,7 anos (Mínimo: 18; máximo:26) (n=8);
  • Depois da reforma pombalina, e no período entre 1787 e 1814, a formação dos médicos terminava por volta dos 26 anos (em média) (n=7);
  • Um terço, pelo menos, dos médicos da amostra era de origem cristã-nova e teve problemas com a inquisição (entre eles, estão os nossos médicos mais notáveis do Ancien Régime como, por exemplo, Zacuto Lusitano, Jacob Castro Sarmento ou Sanches Ribeiro);
  • Quatro dos 15 médicos estudaram em Espanha (nomeadamente em Salamanca).
  • Pelo menos até à Renascença, os físicos eram classificados no grupo social, especificamente urbano, dos que "usa(va)m dalgumas artes aprovadas e mesteres" (D.Duarte, O Leal Conselheiro).
  • Os mesteres ou artesãos também eram conhecidos como oficiais mecânicos, distintos todavia dos homens de artes aprovadas que já exerciam claramente uma actividade liberal (caso do jurista e do médico).
Uns e outros pertenciam ao terceiro estado (o povo), donde pouco a pouco se começam a destacar, com a criação e a expansão da universidade, os letrados, bacharéis ou doutores:
  • "Ao médico, ao letrado e ao abade falar verdade";
  • "Com dinheiro, língua e latim, vai-se do mundo até ao fim"
  • "De livro fechado não sai letrado";
  • "Discípulo, com cuidado, e mestre, bem pago";
  • "Em casa do letrado tanto se paga de pé como sentado";
O termo físico, por que eram conhecidos os médicos na Idade Média (em inglês physician, que aparece entre 1175 e 1225), tem, a ver com o facto da medicina, a partir do Séc. IX, ter passado a ser considerada pelas escolas monásticas uma arte liberal (a oitava), a seguir à gramática, a retórica e a dialéctica (que formavam o trivium) e da aritmética, da geometria, da música e da astronomia (que constituíam o quadrivium).

A medicina, integrada na Física, passou a ser ensinada no âmbito do quadrivium.

O papel da universidade, depois da reforma joanina de 1537, era sobretudo o de formar gente que iria depois engrossar as fileiras da burocracia régia, e gerir os negócios do reino e do império. Por outro lado, começava a tornar-se evidente a importância que já era então atribuída à instituição universitária como forma de ascensão social. Daí a maior procura do direito:
  • Mais de 87 % do total das matrículas, neste período de 1573 a 1771 respeitam aos cursos jurídicos (cânones e leis);
  • Contra apenas 6,8% de medicina e 5,3% de teologia (Graça, 1996).
D. Francisco de Lemos que teve um papel importante na reforma da universidade de Coimbra e foi seu reitor, antes e depois de 1772, dava aliás conta do pouco prestígio social que ainda então tinha a Faculdade de Medicina, ao escrever, em 1777, que era "pouco frequentada por quem tem meios de preparar-se para outros destinos mais bem reputados no conceito dos Povos, e pela maior parte abandonada a estudantes mizeraveis e pobres" (Lemos, 1777, cit. por Pina, 1937.7, itálicos meus).

Na época, o estatuto social do estudante de Coimbra media-se pelo número de criados e de cavalos (ou mulas) ao seu serviço. O estatuto social e económico do médico estava ainda longe de ser elevado, o que é bem patente no ditado que diz :

"O médico quando é pago por ricos é considerado criado; quando recebe dos pobres, é ladrão".

Por fim, o médico é homem: com uma nuance mais burguesa do que fradesca, é conveniente lembrar que "não provam bem as senhoras que se metem a doutoras".

De facto, a universidade (criada entre nós em 1289) era interdita às mulheres, de tal modo que será preciso esperar mais de 600 anos (!) até que apareça a primeira mulher portuguesa diplomada em medicina (Amélia Cardia dos Santos Costa, em 1891, não ainda pela Universidade mas pela Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, que fora criada em 1836).

A arte de curar era, pois, predominantemente masculina, pelo menos nas principais cidades do reino. Quanto aos médicos, letrados e aprovados, esses eram exclusivamente homens. O mesmo se passava com os cirurgiões (Quadro VIII, próximo poste) e os barbeiros-sangradores.

Sabe-se, entretanto, muito pouco sobre a assistência prestada às populações dos campos (e, em particular, às mulheres camponesas). Nos sítios mais recônditos, elas não tinham outra alternativa senão recorrer a bruxas, curandeiras, mezinheiras, parteiras ou aparadeiras, comadres ou simples curiosas, da aldeia ou das redondezas (Joaquim, 1983).

Há toda uma medicina tradicional, de raiz popular, de que as mulheres se tornaram as fiéis depositárias e que exerceram, com algum proveito mas não sem riscos, já que na época era bem pesada a mão da justiça do rei e da Igreja.

Nos arquivos das chancelarias régias, de D. Manuel I a D. Filipe III, há curiosos documentos sobre a prática da arte de curar por parte de mulheres. Reis (1996) identificou uma dúzia de mulheres que exerciam, para todos os efeitos, a medicina, embora sem autorização legal.

O conteúdo dessas cartas régias é muito interessante, para quem quiser conhecer a terminologia nosológica da época, e sobretudo perceber melhor a jurisprudência relativa ao exercício das "artes médicas" e ao seu controlo por parte do poder régio e da própria corporação médica.

Na maior parte dos casos (12) trata-se de concessão de licenças para praticar a cirurgia (5) ou para tratar do mal das boubas (sífilis) (2), do mal da raiva (1), da doidice (1) e de outras enfermidades (2).

Numa dessas cartas, com data de 18 de Setembro de 1611, o rei Filipe II concede licença a Ana Marques, residente em Ceira, no termo de Coimbra, para "no dito concelho de Seira e seus arredores, não sendo para a parte de Coimbra nem onde haja fisico letrado ou examinado" [ poder ] tratar de certas enfermidades com alguns remédios que ela aprendera e sabia", depois de tais remédios bem como a requerente terem sido examinados pelo físico-mor, Doutor Baltasar de Azeredo, catedrático de prima jubilado na Universidade de Coimbra". Além da restrição territorial, a requerente não podia "entermeter-se em mais coisa alguma nem ordenar de beberagens nem outras mezinhas sob pena de se proceder contra ela" (cit. por Reis, 1996).



Quadro VII - Idade de conclusão do curso de medicina, segundo uma amostra dos médicos portugueses do Séc. XVI ao Séc. XIX (n=15)


Nome do médico

Período de vida

Idade em que se formou

Antes da Reforma Pombalina  da Universidade  (entre 1523 e 1717)

Abraão Zacuto Lusitano1575-1642De origem hebraica, fez estudos de filosofia no Colégio das Artes, em Coimbra, e medicina em Espanha, onde se doutorou aos 21 anos pela Universidade de Siguenza. Morreu em Amsterdão. Era neto do grande Abraão Zacuto (1450-1525), médico e astrónomo no tempo de D. João II e D. Manuel II.
Amato Lusitano1511-1568João Rodrigues Castelo Branco, mais conhecido por Amatus Lusitanus, licenciou-se em Salamanca por volta de 1529 (com 18 anos). De origem hebraica, refugiou-se em Antuérpia  em 1533 ou 1534. Terá morrido de peste.
Ambrósio Nunes1529-1611Filho de um físico-mor do Reino, terminou o curso em Coimbra em 1555 (portanto, com 26 anos). Foi professor em Salamanca. Lente de "vacações" (1555), é autor de Enarrationum in priores Aphorismorum Hippocratis cum paraphrasi in Comentaria Galeni tomus prior (Coimbra,  1601).
António Ribeiro Sanches1699-1782Oriundo de família de cristãos-novos, de Penamacor, estudou filosofia e medicina em Coimbra, entre 1716 e 1719. Aos 25 anos obtinha o grau de doutor em medicina por Salamanca. Em 1726 saiu definitivamente do país.
Francisco da Fonseca Henriques1665-1731Também conhecido pelo Dr. Mirandela, terminou o curso de medicina em Coimbra, com 19 anos  (1684), depois de estudar as primeiras letras na sua terra natal (Mirandela). É autor do Aquilógio Medicinal (1726), considerado o primeiro trabalho sistemático sobre a riqueza hidrológico do Reino.
Garcia de Ortac.1501-1568Filho de cristão-novo, natural de Castelo de Vide, frequentou as universidades de Salamanca e de Alcalá de Henares, por volta de 1515-1523 (Ter-se-á, portanto, licenciado em medicina aos 22 ou 23 anos). Só em 1526 obteve autorização do físico-mor para exercer medicina.
João Marques Correia1671-1745Estudou Humanidades e Filosofia em Évora e Medicina em Coimbra onde recebeu o grau de mestre em Artes (1692) e se formou-se em 1696 (com 25 anos).É autor do Tratado Physiologico médico-physico e anatómico da circulação do sangue.
Jacob de Castro Sarmento1691-1762Depois de obter o grau de mestre em Artes na Universidade de Évora (1710), estudou medicina em Coimbra. Conclui o curso em 1717 (com 26 anos). Cristão-novo, fixou residência em Londres em 1721 e aí morreu.

Depois da Reforma Pombalina da Universidade (entre 1787 e 1814)

António de Almeida1767-1839Nascido em Coimbra, matriculou-se no curso de medicina em 1787, que conclui com 24 anos (1791). Foi médico do partido da Câmara de Penafiel.
Francisco Inácio dos Santos Cruz1787-1859Matriculou-se em 1804 em Filosofia e no 1º ano de Matemática, da Universidade de Coimbra, como preparatório do curso de Medicina que terminou em 1814 (com 26 anos).
Francisco Xavier de Almeida Pimenta1775-1839Terminou o curso de medicina de Coimbra em 1799 (com 24 anos).Foi deputado às cortes em 1820 e zeloso propagandista da vacina.
Joaquim Xavier da Silva1778-1835Estudou medicina em Coimbra, onde se doutorou com 26 anos (1804). Publicou um tratado de higiene militar.
Jorge Gaspar de Oliveira Roldão1783-1833Estudou em Coimbra. Recebeu o grau de bacharel em 1808 e formou-se no ano seguinte (com 26 anos). Médico de província.
José Lino dos Santos Coutinho1784-1836Nascido no Brasil, concluiu o curso de Medicina de Coimbra em 1813 (com 29 anos). Foi político e professor na Escola de Medicina da Baía.
José Pinheiro de Freitas Soares1769-1831Frequentou, em Coimbra, as Faculdades de Filosofia e de Medicina. Formou-se na primeira em 1793  (com  24 anos) e na segunda em 1797 (com 28 anos). Autor do Tratado de Polícia Médica.

Fonte: Adapt. de Lemos (1991) e Mira (1947) (entre outros)

Bibliografia a publicar no fim desta série temática

(Continua)
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Nota do editor: