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sábado, 24 de agosto de 2019

Guiné 61/74 - P20091: 15 anos a blogar, desde 23/4/2004 (13): Hoje faz anos, 73, o António Fernando Marques... Porque recordar é viver duas vezes, e blogar é três... Relembramos o fatídico dia, 13/1/1971, em que o PAIGC nos quis mandar para os anjinhos... O meu querido Marquês, sem acento circunflexo, tem filhos, netos, amigos e camaradas que o adoram... E o Mário Mendes, morto de morte matada 16 meses depois... será que alguém ainda o recorda na sua terra natal? (Luís Graça)


Guiné > Região de Bafatá  > Setor L1 > Bambadinca > CCS / BART 2917 (1970/72) > Janeiro de 1971 > Cemitério de viaturas de Bambadinca... O estado em que ficou o "burrinho", o Unimog 411, conduzido pelo sold cond auto, da CCAÇ 12, António Manuel Soares, que teve morte imediata.

Nhabijões era um grande aglomerado populacional, de maioria balanta, com parentes no "mato", e que era considerada sob "duplo controlo"... A dispersão das diversas tabancas (1 mandinga e 4 balantas: Cau, Bulobate, Dedinca e Imbumbe), sua proximidade ao Rio Geba, fazendo ponto de cambança para a margem direita (Mato Cão, Cuor...) e as duas grandes bolanhas (um delas a de Samba Silate, uma enorme tabanca destruída e abandonada no início da guerra), foram motivos invocados para começar a construir, a partir de novembro de 1969, um dos maiores reordenamentos da Guiné no tempo de Spínola. A aposta era também a conquista da população, fugida no mato e sob controlo do PAIGG, vivendo ao longo da margem direita do Rio Corubal (desde a Ponta do Inglês até Mina / Fiofioli).

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. (Editada e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. O António Fernando Marques, empresário, reformado, natural de Abrantes, residente em Cascais, nosso grã-tabanqueiro, faz hoje 73 anos... 

Foi meu camarada de infortúnio, era fur mil at inf, pertencia como eu à CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71). Vivemos no mesmo quarto, fizemos muitas operações juntos. É um amigo que muito prezo.Chamava-lhe, por brincadeira, o "Marquês sem acento circunflexo".

Esteve 17 dias em estado de coma, no HM 241, e 2 anos hospitalizado, em Bissau e em Lisboa, em 1971/72... Penitencio-me de nunca o ter ido ver ao Anexo do Hospital da Estrela, em Campolide, durante anos perdemos o contacto!... Voltei a revê-lo em 1994, no 1.º encontro do pessoal de Bambadinca, em Fão, Esposende. O nosso blogue ajudou-o a reconstituir esses 17 dias que passou no inferno, um presente envenenado do comandante do PAIGC, Mário Mendes (que morreria mais tarde de morte matada, em 1972, sem completar as 28 luas).  Trágica ironia: foi morto pelos mesmos homens, os do nosso 4.º Gr Comb / CCAÇ 12, a quem calhou uma das minas A/C mandadas pôr por ele, à porta do reordenamento de Nhabijões. Se fosse vivo, diria, em conversa connosco, em Bissau, com a voz de guineense: "Mas... guerra era guerra!"... "Pois é, Mário, sempre e em toda a parte, guerra é guerra!"...

Ele, Marques,  acha que me deve a vida, a mim, e eu, Henriques,  estou-lhe grato pelas mesmas razões. Afinal, se  estou vivo, é porque, suprema ironia,  eu ia no "lugar do morto"... Fui eu que o levei, num correria louca, até ao heliporto de Bambadinca... No lugar dele, não sei se teria sobrevivido... Além disso, ele teve um extraordinário anjo da guarda, de nome... Gina! (*)

Um minuto antes da fatídica mina A/C que nos ia mandando para os anjinhos, disputávamos amigavelmente o "lugar do morto", ou seja, discutíamos sobre quem ia à frente, na GMC, ao lado do condutor... Depois da habitual cantilena, "vais tu, vou eu, vais tu"... ele foi para trás, e eu sentei-me à frente... Azar o dele, sorte a minha: ele ia justamente por cima da dupla roda da GMC do lado direito, que fez accionar a maldita mina... Em 13 de janeiro de 1971, aos 20 meses de Guiné. Aqui fica, em sua homenagem, o filme dos acontecimentos (**).

Recordar é viver duas vezes, e blogar é três (***).

Recordo que foi o  comandante Mário Mendes, em pessoa,  e com o sapador do  seu bigrupo,  que nos pôs essas duas minas A/C, à saída do reordenamento de Nhabijões, acionadas por viaturas nossas em 13/1/1971...  Para o Marques a guerra iria durar mais 2 anos, no calvário dos hospitais... Por sorte, esse não foi o meu dia de azar: ia à frente, o Marques ia atrás, em cima da viatura com 2 secções... Eu estava na altura no 4.º Gr Combate, o mesmo que nos vingaria, matando o  Mário Mendes num duelo fatal, em pleno mato... Um ajuste de contas, a lembrar os filmes do faroeste da nossa infância... 16 meses depois, já eu estava há muito na metrópole!... O Marques está vivo, e tem filhos, netos e amigos que lhe dão hoje os parabéns por estar vivo e de boa saúde... O Mário Mendes, que lhe rouba 17 dias de hoje (em que o Marques esteve em coma), já não está entre os vivos... Será que tem alguém, na sua Guiné natal, que se recorde dele ? (****).


História da CCAÇ 12 (1969/71) > (19) Janeiro de 1971: 1 morto de 6 feridos graves aos 20 meses

O dia 13 seria uma data fatídica para as NT, e em especial para a CCAÇ 12 cujos quadros metropolitanos estavam prestes a terminar a sua comissão de serviço em terras da Guiné. Eis o filme dos acontecimentos:


Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Da esquerda para a direita, os ex-furriéis milicianos António F. Marques e Luís M. Graça Henriques, da CCAÇ 12 (1969/71), em amena conversa ou talvez disputando amigavelmente o "lugar do morto" (que era ao lado do condutor).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados. (Editada: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

(i) às 5.45h o 1º Gr Comb detectou, durante a batida à região de Ponta Coli [, subsetor do Xime,] vestígios dum grupo IN de 20 elementos vindos em acção de reconhecimento aos trabalhos da TECNIL na estrada Bambadinca-Xime e locais de instalação das NT;

(ii) às 11.25h, na estrada de Nhabijões-Bambadinca, uma viatura tipo Unimog 411, conduzida pelo sold comd auto Manuel da  Costa Soares, da CCAÇ 12, que ia buscar, a Bambadinca, a 2ª refeição para o pessoal daquele destacamento, accionou uma mina A/C;

(iii) o condutor teve morte instantânea: ficaram gravemente feridos um oficial (CCS / BART 2917), o alf mil Luís sapador Luís R. Moreira, um sargento,  o fur mil Joaquim Fernandes (CCAÇ 12) e uma praça (CCS / BART 2917);

(iv) imediatamente alertadas as NT em Bambadinca, o Gr Comb de intervenção (4º, CCAÇ 12) recebeu a missão de seguir para o local a fim de fazer o reconhecimento da zona, enquanto outras forças acorriam a socorrer os sinistrados.

Ao chegar junto da viatura minada, o cmdt do 4° Gr Comb, o alf mil cav José António G. Rodrigues, [, já falecido, depois do regresso a Portugal, era funcionário da Segurança Social, em Lisboa] deixou duas praças a fazer a deteção, na estrada e imediações, de outros possíveis engenhos explosivos, no que foram apoiados por alguns elementos do destacamento de Nhabijões, seguindo depois uma pista de peugadas recentes, detectadas nas proximidades, e que se dirigiam para a orla da mata.

Aqui, a 50 metros da estrada, atrás duma árvore incrustada num baga-baga, encontraram-se vestígios muito recentes. Seguindo os rastos através da mata, foi dar-se à antiga tabanca de Imbumbe, um dos cinco núcleos populacionais de Nhabijões, entretanto transferidos para o reordenamento, mas nas proximidades do reordenamento, em Bolubate, aqueles passaram a confundir-se com os do pessoal que trabalhava na bolanha.

Regressado ao local das viaturas, o Gr Comb pelas 13.30h recebeu ordens para recolher, tendo o pessoal tomado lugar no Unimog e na GMC em que tinha vindo. Esta última [onde vinham as secções, comandadas pelos fur mil António Fernando Marques e Luís M. Graça Henriques], entretanto, ao fazer inversão de marcha, e tendo saído fora da estrada com o rodado traseiro, accionaria uma outra mina A/C colocada na berma, a 10 metros da anterior, e que não havia sido detetada pelos picadores.

Em resultado de terem sido projectados, ficaram gravemente feridos o fur mil Marques e os sold Quecuta, Sherifo, Tenen e Ussumane, todos do 4º Gr Comb / CCAÇ 12.

Sofreram escoriações e traumatismos de menor grau o alf mil Rodrigues, o sold trms Pereira e os sold Cherno e Samba.
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Notas do editor:

segunda-feira, 8 de abril de 2019

Guiné 61/74 - P19656: (De)Caras (127): Capitão de Infantaria Francisco Meireles, cmdt da CCAÇ 508, morto em Ponta Varela, Xime, em 3/6/1965 - Parte IV (Jorge Araújo)


Foto 5 - Amedalai (Abr1965) – Da esquerda para a direita: Amândio César, Administrador Augusto Cabrita, Cmdt Cyrne de Castro, Cap Francisco Meirelles (ao volante) e Alf Ferreira

[Fonte: Amãndio César  - Guiné, 1965: Contra-ataque», Braga, Editora Pax, Colecção: Metrópole e Ultramar,  1965,  p.38, com a devida vénia].


Foto 6 - Amedalai (13Set73) - Aldeamento de A/D de Amedalai (oito anos depois da foto acima), onde estava instalado o PMil 241, na sequência de um ataque com RPG e armas automáticas. Para além do estado em que ficou a Daimler do PRecD 8681, nada mais houve a registar. Nessa ocasião encontrava-me com a minha secção (+) no Destacamento da Ponte do Rio Udunduma, pelo que ainda guardo na memória esta ocorrência.




Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494  (Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue desde março de 2018


A COMPANHIA DE CAÇADORES 508 [CCAÇ 508] - (1963-1965) E A MORTE DO SEU CMDT CAP INF FRANCISCO MEIRELLES EM 03JUN1965 NA PONTA VARELA: A ÚNICA BAIXA EM COMBATE DE UM CAPITÃO NO XIME (PARTE IV)

1. INTRODUÇÃO

A presente narrativa, a penúltima relacionada com tema em título, segue a mesma metodologia das anteriores – P19597, P19613 e P19640 – onde os diferentes elementos historiográficos, de hoje, se encontram divididos em dois pontos principais.(*)

No primeiro ponto, recuperaram-se mais algumas imagens da história colectiva da Companhia de Caçadores 508 [CCAÇ 508], com recurso ao álbum de Cândido Paredes, condutor auto rodas dessa Unidade, actualmente a residir em Ponte de Lima. No âmbito da actividade operacional, destacaremos, também, algumas missões desenvolvidas nos últimos cinco meses da sua presença no CTIG (1963-1965), na sequência da transferência, em Março de 1965, para o subsector de Bambadinca, para integrar o dispositivo e manobra do BCAÇ 697, então sediado em Fá Mandinga, sob o comando do Tenente-Coronel Mário Serra Dias da Costa Campos, região que passou a ser designada, a partir de 11 de Janeiro de 1965, por «Sector L1».

No segundo ponto, continuaremos a citar o que de mais relevante retirámos das páginas do livro elaborado em memória do capitão Francisco Xavier Pinheiro Torres Meirelles (1938-1965) pela sua família. Neste contexto, como alternativa às dificuldades (em entender a actual política de gestão do audiovisual da nossa "Estação Pública") no acesso às imagens captadas na Ponta Varela (Xime) pelos enviados especiais da RTP, Afonso Silva (operador) e Luís Miranda (realizador), naquela fatídica manhã de 03 de Junho de 1965, local da morte em combate do capitão Francisco Meirelles, e transmitidas por aquele canal televisivo em 16 de Setembro desse ano, optámos por recuperar uma entrevista radiofónica gravada umas semanas antes, em Bambadinca, pela Emissora Nacional, durante uma operação de patrulhamento sob o comando do Capitão Meirelles.


2. SUBSÍDIOS HISTÓRICOS DA COMPANHIA DE CAÇADORES 508 (BISSORÃ, BARRO, BIGENE, OLOSSATO, BISSAU, QUINHAMEL, BAMBADINCA, GALOMARO, PONTA DO INGLÊS E XIME, 1963-1965)



Foto 1 – Bissorã (1964) - Grupo de militares da CCAÇ 508. [Foto do álbum de Cândido Paredes, com a devida vénia]


2.1 – SÍNTESE DOS PRIMEIROS DEZOITO MESES

A CCAÇ 508 chegou a Bissau em 20 de Julho de 1963, sábado, a bordo do cargueiro "SOFALA", sob o comando, interino, do Alferes Augusto Teixeira Cardoso, onde se juntou o Cap Mil Inf João Henriques de Almeida (?-2007), aquele que seria o seu 1.º Cmdt.

Cinco meses após o início do conflito armado na região de Tite, a CCAÇ 508 assumiu a responsabilidade do subsector de Bissorã, então criado, com grupos de combate destacados em Barro, até 23Dez63, e Bigene, até 26Dez63, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 507, sob o comando do TCor Hélio Esteves Felgas, e, após remodelação daqueles sectores, no BCAÇ 512, sob o comando do TCor António Figueiredo Cardoso. Em 26Dez63, passou a ter um GrComb destacado em Olossato.

Em 11Ago63, dez dias após ter iniciado a sua actividade operacional, tem a sua primeira baixa, por acidente com arma de fogo. Em 12Fev64, com seis meses de comissão, a CCAÇ 508 regista mais duas baixas, estas em combate, em Maqué (Região do Óio), na sequência da sua intensa actividade operacional.

Entretanto, em Julho de 1964, chega a esta Unidade Independente, mobilizada pelo RI7, de Leiria, o Cap Francisco Xavier Pinheiro Torres de Meirelles [1938-02-21/1965-06-03], em rendição do anterior Cmdt, Cap João Almeida. Em 04Set64, já então na dependência do BART 645, sob o comando do TCor António Sobral. Depois da chegada da CART 566, a CCAÇ 508 foi substituída no subsector de Bissorã pela CART 643, do antecedente ali colocada em reforço, tendo seguido para o sector de Bissau, a fim de se integrar no dispositivo de segurança e protecção das instalações e das populações da área, com um GrComb destacado em Quinhamel, ficando na dependência do BCAÇ 600.


Foto 2 – Bissau (1964) - Grupo de militares da CCAÇ 508 junto ao monumento "esforço da raça". [Foto do álbum de Cândido Paredes, com a devida vénia]


Em 15Nov64, a CCAÇ 508 regista a quarta baixa, com a morte, por afogamento no Rio Geba, em Bafatá, de um soldado. Em 08Fev65, outra baixa, a quinta, desta vez provocada pelo levantamento de uma mina em Jabadá.

Porém, no início de Março de 1965, com dezoito meses já contabilizados na "fita do tempo" da sua comissão ultramarina, a Companhia do Capitão Meirelles é informada da sua transferência (a última) para uma zona operacional.


2.2. SÍNTESE OPERACIONAL DOS ÚLTIMOS CINCO MESES

Em 07 e 23Mar65, por troca com a CCAÇ 526, a CCAÇ 508 deslocou-se, por fracções para Bambadinca, onde ficou instalado o Comando da Companhia, assumindo a responsabilidade do respectivo subsector, com grupos de combate destacados em Xime e Galomaro e ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 697, sediado em Fá Mandinga, sob o comando do TCor Mário Serra Dias da Costa Campos.

Antes da sua chegada ao Leste, cujo sector passou a designar-se por «Sector L1» a partir de 11Jan65, o BCAÇ 697, para desenvolver a intensa actividade operacional, corolário da planificação, comando e controlo das diversas acções, como eram as missões de patrulhamento de reconhecimento e de recuperação das populações da região, recorria às subunidades do sector e a outras que lhe eram atribuídas como reforço, pois era constituída somente por Comando e CCS.

Uma das primeiras acções planeadas pelo BCAÇ 697, do início de 1965, tinha por objectivo a ocupação seguida da instalação de um aquartelamento na Ponta do Inglês (Mata do Fiofioli). Essa missão, baptizada de «Operação Farol», foi agendada para os dias 19 e 20Jan, envolvendo forças da CCAÇ 526, CCAV 678 e Pel AMetr "Daimler" 809, onde, depois, ficou instalada a Companhia de Cavalaria para, a partir de 16Abr65, data em que foi criado o subsector do Xime, ficar reduzida a nível de grupo de combate.

Durante o decorrer desta operação, as NT foram emboscadas, no primeiro dia, pelos guerrilheiros do PAIGC, tendo este sofrido algumas baixas não estimadas e onde foi capturado algum material e guerra, nomeadamente granadas de mão e de RPG. No dia seguinte, forças da CCAÇ 526 e CCAV 678, durante a sua actividade de segurança à distância e por efeito de um reconhecimento na área da Ponta do Inglês-Buruntoni, destruíram um acampamento IN com 15 casas a cerca de 600 mts a sul da antiga tabanca da Ponta do Inglês, tendo capturado mais munições diversas, onde foram encontrados alguns abrigos no lado sul da Ponta do Inglês-Xime, no local da emboscada do dia anterior, onde foram destruídas mais duas casas, a leste da Ponta do Inglês.

Com a criação do novo subsector do Xime, a CCAÇ 508 seria substituída em Bambadinca pela CCAV 678 (que se encontrava na Ponta do Inglês), deslocando-se, então, para o Xime, onde assumiu a responsabilidade deste subsector, com grupos de combate destacados em Ponta do Inglês e Galomaro.

Em 20Abr65, quatro dias após a instalação do GrComb da CCAÇ 508 na Ponta do Inglês, um GrComb de Paraquedistas (CCP 121), durante a «Operação Coelho» na zona de Galo Corubal, destruiu 12 casas, abateu um guerrilheiro e fez dois prisioneiros. Forças da CCAÇ 510, vindas do Xitole, destruíram várias casas na região de Silibalde e apreenderam granadas de mão ofensivas e defensivas.

Em 27Mai65, a CCAÇ 508 regista a sexta baixa, com a morte em combate, no Xime, de um soldado condutor.

Uma semana depois, em 03Jun65, na estrada Xime-Ponta do Inglês, na região da Ponta Varela, a CCAÇ 508 tem mais quatro baixas em combate, sendo uma a do seu Cmdt, o Capitão Francisco Meirelles, por efeito do rebentamento de uma mina "bailarina" [P-III]. (*)


Foto 3 – Ponta Varela (Xime), 03JUN1965. Momentos após a explosão que vitimou o Cap Francisco Meirelles, o 1.º Cb José Corbacho, o Sold Domingos Cardoso e o Caç Nat Braima Turé, todos da CCAÇ 508 [foto gentilmente cedida pelo Cor Morais da Silva].


Foto 4 – Ponta Varela (Xime), 03JUN1965. Momentos após a explosão que vitimou quatro camaradas da CCAÇ 508, entre eles o Cap. Francisco Meirelles [foto gentilmente cedida pelo Cor Morais da Silva].

Em 06Ago65, após a chegada da CCAÇ 1439 para treino operacional, a CCAÇ 508 foi rendida no subsector do Xime por forças da CCAV 678, recolhendo imediatamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso ao Continente, após dois anos de comissão, onde contabilizou uma dezena de baixas.

A viagem de regresso iniciou-se a 07Ago65, sábado, a bordo do vapor «Alfredo da Silva», com a chegada ao cais de Alcântara, Lisboa, a ter lugar sete dias depois.


3.  A ACTIVIDADE OPERACIONAL DO CAP FRANCISCO MEIRELLES E DA SUA UNIDADE ANTES DA SUA MORTE EM 03JUN1965

Fazendo parte do dispositivo e manobra do BCAÇ 697, estavam atribuídas à CCAÇ 508 todas as missões emanadas do comando do «Sector L1», nomeadamente: patrulhamentos de reconhecimento, contactos com as populações da região e o competente enquadramento dos grupos de milícias em regime de auto-defesa.

Neste âmbito, recupero um fragmento publicado no livro do Capitão Meirelles (pp 35-37), extraído de um artigo escrito por Amândio César (1921-1987), que fora lido, na íntegra, aos microfones da Emissora Nacional e que, posteriormente, foi publicado no «Diário do Norte» de 19 de Outubro de 1965.

Este texto está, ainda, plasmado no livro, «Guiné, 1965: Contra-ataque», Braga, Editora Pax, 1965, 229 pp., Colecção: Metrópole e Ultramar, de que é autor Amândio César, cuja capa se reproduz abaixo.

O texto tem por título: «Em Bambadinca – Uma tabanca em auto-defesa».

[…]

"Foi na companhia do Capitão Torres de Meirelles que visitei uma tabanca em auto-defesa, uma das muitas tabancas onde a população civil, devidamente preparada pela nossa tropa faz frente aos eventuais ataques dos salteadores, a soldo de potências estrangeiras inimigas. Segui no «jeep» do Capitão Torres de Meirelles e, desta nossa visita, ficou-me a recordação das fotografias que tirámos, uma das quais neste mesmo «jeep», exactamente quando saímos da Tabanca de Amedalai, a caminho de Bambadinca para o salto ao aeroporto [Bafatá].

A tabanca estava devidamente guardada e vigiada, sem que nós nos apercebêssemos do facto. Os seus moradores surgiam diante de nós, como por encanto, trazendo as suas espingardas, o seu armamento, nos seus trajos característicos. Era a autêntica guerra patriótica, sentida e vivida pela população pacífica que as eventualidades do destino tinham transformado em guerreiros valentes e intimoratos. Percorremos toda a tabanca, entrámos nas casas dos seus naturais, praticámos o seu viver do dia-a-dia. O Comandante Cyrne de Castro conseguiu uma bela tábua, onde, em marabu, se ministrava os ensinamentos do Corão. (…) As fotos chegaram-me às mãos, mandadas a 30 de Maio [de 1965], da Guiné. Dias depois o Capitão Torres de Meirelles encontrava a morte; foi a sua última recordação…".

Vd. Foto 5 e Foto 6 (acima reproduzidas]

Outro fragmento a merecer relevância neste contexto, reporta-se a uma entrevista dada em Bambadinca pelo Capitão Meirelles ao locutor Fernando Garcia (1926-2015) e transmitida pela Emissora Nacional, depois de ser pública a notícia da sua morte.

Assim, em 8 de Junho de 1965 [vai fazer cinquenta e quatro anos], a Emissora Nacional transmitiu essa reportagem radiofónica na qual se incluía a entrevista acima referida, obtida na Guiné com o Capitão Meirelles, onde aquele locutor [FG] a fez preceder de algumas palavras evocativas da sua memória.

Eis as primeiras palavras: "A Emissora Nacional vai transmitir hoje mais uma reportagem realizada na província ultramarina da Guiné, onde os soldados portugueses estão a levar a cabo uma obra a todos os títulos notável." (…)

Segue-se a transcrição da entrevista:

Introdução: - "De Bambadinca fala a reportagem da Emissora Nacional. Em Bambadinca está instalada uma unidade militar. Bambadinca quer dizer em mandinga – Cova do Lagarto – talvez até devido ao facto de neste lugar existirem bastantes lagartos. Neste momento vai partir uma operação de patrulha, operação de rotina que se regista frequentemente, cremos que diariamente, ou até mais do que uma vez por dia. Em qualquer caso nós vamos conversar com o Capitão Torres de Meirelles [CM], encarregado do comando desta coluna militar.

FG – Ora, quer falar-nos desta operação de patrulhamento e dizer-nos como é que ela se costuma processar?

CM – Esta operação de patrulhamento, como disse, é absolutamente de rotina. Executa-se várias vezes por dia, tanto com tropas de linha, caçadores europeus, como com tropa nativa, caçadores nativos. Todos os dias e várias vezes ao dia todo o terreno da nossa região é batido por patrulhamentos de reconhecimento, mantendo assim as populações debaixo de um estado de segurança e de alerta.

FG – Quer dizer, portanto, que para além do facto de procurar desfeitear o inimigo, onde quer que ele surja, compete também a esta unidade e a estas colunas de patrulhamento vigiar as populações e velar pela sua segurança?

CM – Exactamente, se bem que a população dentro desta área, que é muito grande, está em regime de auto-defesa. O pessoal das tabancas defende-se a si próprio, isto é, está armado e defende-se a si próprio.

FG – Quer dizer, portanto, que há muita confiança em toda a população?

CM – Absoluta, absoluta.

FG – Se assim não fosse não seriam entregues armas para eles se defenderem no caso de qualquer ataque inimigo.

CM – Exactamente.

FG – Agora, uma vez que vamos partir, agradecemos estes esclarecimentos e voltaremos a contactar consigo ou no meio desta operação ou até depois da missão terminada.

CM – De acordo.
……

FG - Terminou já esta operação de patrulha de uma coluna militar. De novo em Bambadinca vamos procurar registar agora a opinião final do Capitão Meirelles, que comandou esta coluna militar. Entretanto, nada de novo. Missão cumprida e nada de especial surgiu nesta operação de patrulha. Durante o caminho, conforme o Capitão Meirelles já nos havia confiado à partida, encontrámos vários elementos civis armados, pois eles próprios fazem a vigilância e patrulhamento desta região. Depois de termos visitado o lugar de Amedalai, saímos, tomámos de novo a estrada [de terra batida] e regressámos ao aquartelamento de Bambadinca. A coluna militar continua a entrar no aquartelamento. Mais alguns veículos dirigem-se para o local onde nos encontramos. Num desses veículos veio o Capitão Meirelles que comandou esta operação. Ele acaba de chegar. Vários outros carros seguem-no e nós vamos trocar impressões com ele.

FG – Capitão Meirelles: gostaríamos, agora, que depois de terminada esta operação de patrulha nos confiasse o que se passou, muito embora tivéssemos tomado parte dela.

CM – Ora bem, nós fomos daqui, como viram, a Amedalai. Esta estrada tem tabancas perto e portanto tem pessoal armado e está mais ou menos defendida. O único cuidado que há a ter é com o problema das minas que podem ser instaladas na estrada. Para isso levamos equipas de batedores bastante expeditos com aqueles utensílios que viram e que se parecem com os engaços da Metrópole. Vão picando a estrada toda e vão vendo se há alguma coisa. Aqui nesta zona já foram caçadas bastantes minas, bastantes, mesmo, e nunca rebentou nenhuma.

FG – Ah! Nunca rebentou nenhuma?

CM – Não. Nunca rebentou nenhuma. Foram todas detectadas.

FG – Hoje, porém, nesta operação não foi encontrada qualquer mina?

CM – Não. Não foi encontrada mina nenhuma. De resto é natural, pois logo de manhãzinha cedo veio um grupo de pesquisadores que percorreu estra estrada em que nós seguimos, em sentido inverso e fez a pesquisa das minas. Esse grupo é de nativos, caçadores nativos

FG – Quer dizer, portanto, que se tivesse havido minas já eles as tinham detectado?

CM – Sim, já as tinham detectado e nós íamos lá levantá-las.

FG – Não lhe parece que é um caso de certo modo singular o facto de haver várias minas espalhadas por uma estrada e todas elas serem detectadas até hoje?

CM – É. Revela uma eficácia bastante grande do grupo de pesquisadores e também bastante sorte, pois para isso nestes casos é preciso sorte. É preciso sorte para encontrar as minas, pois às vezes podem não se encontrar.

Também foram entrevistados na mesma reportagem: o Senhor Tenente-Coronel Mário Campos, Cmdt do BCAÇ 697; o regedor de Badorá, Mamadu Sanhá e o soldado fula Samba Valdé. (op.cit, pp. 27-29)

Termina, dizendo:

De Bambadinca falou a reportagem da Emissora Nacional em serviço na Província da Guiné com as Forças Armadas Portuguesas. Ouviram «Missão de Soberania», reportagem pelas Forças Armadas em serviço da Província Ultramarina da Guiné em colaboração com a Defesa Nacional – Serviço de Informação Pública".

Continua…
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Fontes consultadas:

Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro I; 1.ª edição, Lisboa (2014); p.195.

Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 7.º Volume; Fichas das Unidades; Tomo II; Guiné; 1.ª edição, Lisboa (2002); p.321.

Capitão Francisco Xavier Pinheiro Torres Meirelles (s/d). Braga. Editora Pax.

Outras: as referidas em cada caso.


Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

04ABR2019.
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Vd. postes anteriores:

23 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19613: (De)Caras (102): Capitão de Infantaria Francisco Meireles, cmdt da CCAÇ 508, morto em Ponta Varela, Xime, em 3/6/1965 - Parte II (Jorge Araújo)

18 de maro de 2019 > Guiné 61/74 - P19597: (De)Caras (101): Capitão de Infantaria Francisco Meireles, cmdt da CCAÇ 508, morto em Ponta Varela, Xime, em 3/6/1965 - Parte I (Jorge Araújo)

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Guiné 61/74 - P19196: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (58): os reordenamentos populacionais (Francesca Vita, doutoranda em arquitetura, Faculdade de Arquitetura, Universidade do Porto)


Guiné > Região de Bafatá >  Setor L1 (Bambadinca) > Nhabijões > CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) > Um grande aglomerado populacional, de maioria balanta, com parentes no "mato" (, isto é, nas fileiras do PAIGC; como guerrilheiros, ou elementos da população civil, sob a adinistração do PAIGC).

A dispersão das diversas tabancas (1 mandinga e 4 balantas: Cau, Bulobate, Dedinca e Imbumbe), sua proximidade ao Rio Geba, fazendo ponto de cambança para a margem direita (Mato Cão, Cuor...) e as duas grandes bolanhas (um delas a de Samba Silate, uma enorme tabanca destruída e abandonada no início da guerra), foram motivos invocados para começar a construir, a partir de novembro de 1969, um dos maiores reordenamentos da Guiné no tempo de Spínola. A aposta era também a conquista da população, fugida no mato e sob controlo do PAIGG, vivendo ao longo da margem direita do Rio Corubal (desde a Ponta do Inglês até Mina/Fiofioli)

Foto: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. [Edição  e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Bafatá >  Setor L1 (Bambadinca) > Nhabijões > CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) e CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) >  Uma pausa nos trabalhos do reordenamento de Nhabijões (1970). Foto gentilmente cedida por Luís R. Moreira, ex-slf mil sapador,  CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), e membro da equipa técnica de construção do reordenamento.

Foto )e legenda): © Luís R. Moreira (2005). Todos os direitos reservados. [Edição  e legendagem: complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Fotococópia da capa da brochura Os reordenamentos no desenvolvimento sócio-económico das populações. Província da Guiné, Bissau: Comando-Chefe das Forças Armadas da Guine. Quartel General. Repartição AC/AP. s/d.

Foto: © A. Marques Lopes / António Pimentel (2007). Todos os direitos reservados. [Edição  e legendagem: complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Capa do livro "A Engenharia Militar na Guiné - O Batalhão de Engenharia". Coord. Gabinete de Estudos Arqueológicos da Engenharia Militar. Lisboa : Direcção de Infraestruturas do Exército, 2014, 166 p. : il. ; 23 cm. PT 378364/14 ISBN 978-972-99877-8-6.  Cortesia de Nuno Nazareth Fernandes.


1. Mensagem da nossa leitora Francesca Vita, italiana, a fazer um doutorame em arquitetura (FAUP):

Data: terça, 30/10/2018 à(s) 10:28
Assunto: Guerra Colonial Guiné-Bissau | encontro conversa

Bom dia,  Sr. Prof. Luís Graça,

Chamo-me Francesca Vita, sou professora na Escola Superior de Artes e Design de Matosinhos e doutoranda em Arquitectura na FAUP do Porto com uma investigação sobre a transformação do espaço doméstico na Guiné-Bissau.

Venho com este meio contactá-lo de seguimento a um email que enviei ao sr, Eduardo Magalhães Ribeiro. Este último sugeriu-me que era melhor entrar em contacto consigo para algumas questões que estou a investigar.  

Estou a realizar uma pesquisa sobre os reordenamentos populacionais durante os últimos anos da Guerra Colonial na Guiné-Bissau: 

(i) quando começaram a ser construídos;

(ii) de que forma;

(iii) quais foram os aldeamentos prioritários;

(iv) como se chegou a sua construção no campo;

(v) eventuais problemas encontrados etc.

Tenho algum material encontrado no Arquivo Histórico Militar em Lisboa, nos Arquivos de Bissau e no Arquivo Histórico Ultramarino sobre o qual queria conversar: fotografias aéreas, plantas, relatórios, etc.. 

Se estaria disponível gostaria muito de conversar consigo sobre estes assuntos.

Agradeço desde já a sua disponibilidade e atenção,

Aguardando uma sua resposta

Os meus melhores cumprimentos

Francesca Vita
____________

Francesca Vita
PhD student in Architecture at FAUP
FCT PhD studentship
PT / IT
(Port) +351 915544599
(Ita) +39 3312831235

francesca.vita0@gmail.com


2. Uma primeira resposta do nosso editor LG;

Francesca, terei muito gosto em ajudá-la... Conheci o grande reordenamento de Nhabijões, no setor de Bambadinca, região de Bafatá.... Bem como o de Bambadincazinho, Posso pô-la em contacto com alguns camaradas meus que  trabalharam em Nhanijões. Eu caí numa mina A/C à saída do reordenamento. Não tenho por isso as melhores recordações do lugar... Tenho escritos sobre isso no blogue... Há 20 referências no blogue com o descritor "reordenamentos".

Já falámos, enretanto, ao telefone. Para além de uma entrevista comigo, a agendar para a semana, há para já dois contactos que lhe vou dar, de dois camaradas que são profundos conhecedores da temática dos reordenamentos, por terem trabalhado nas suas equipas técnicas:


Tem 31 referências no nosso blogue. Engenheiro Técnico de Construções Civis no Ministério das Obras Públicas, prestou serviço na Guiné como Capitão Miliciano de Artilharia, entre 1970 e 1972, no BENG 447, com sede em Bissau. É autor, entre outras obras, do   livro "Memórias da Guiné", Edições Polvo, Lda, 2005 [, vd. capa à direita,]  de que publicámos diversos excertos. (*)

No BENG 447, e dadas as qualificações da vida civil, chefiou os Serviços de Reordenamentos Populacionais.

(,,,) "Tratava-se de um serviço dirigido por militares que era essencialmente destinado às populações civis. Tinha em vista proceder ao agrupamento de diversas pequenas "tabancas" com o fim de constituir aldeamentos médios onde fosse rentável dotá-los com algumas infraestruturas tais como escolas, postos sanitários, fontanários, tanques de lavar, cercados para o gado, mesquitas ou capelas. Além disso tinha-se também em vista, com a execução dos reordenamentos, a defesa e o controle das populações." (...)

Nessa qualidade, a sua actividade não estava por isso circunscrita à cidade de Bissau;

(...) "Tinha por vezes que me deslocar ao interior do território para resolver localmente problemas que surgiam durante as obras dos reordenamentos populacionais. Fiz, por isso, algumas viagens para o interior da Guiné em helicóptero ou em avião militar (Dornier). Essas viagens tinham alguns riscos devido aos independentistas, a certa altura, se terem apetrechado com mísseis terra-ar [, s´a partir do 1º trimestre de 1973,] e devido aos tornados que por vezes se formavam e que eram perigosos principalmente para as pequenas aeronaves." (,,,(

(...) Comigo as deslocações ao interior da Guiné correram sempre sem perigo, mas para outros militares não foi sempre assim. O Batalhão de Engenharia 447 tinha como funções dar apoio às tropas aquarteladas na Guiné no âmbito de garantir o regular funcionamento dos quartéis, promover o fornecimento de geradores eléctricos, orientar e apoiar as obras de reordenamentos populacionais, fornecer material de manutenção, construir estradas, pontes e portos de atracagem, quartéis e abrigos subterrâneos, etc." (,..)

Há uma página no Facebook sobre o BENG 447, Brá, Guiné - Comunidade (sem movimento desde há um ano...). No nosso blogue há cerca de 7 dezenas de referências ao BENG 447. E temos vários camaradas da engenharia militar na nossa Tabanca Grande.


Tem 23 referência no nosso blogue. Foi alf mil sapador,  CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), e membro da equipa técnica de construção do reordenamento de Nhabijões (**). Foi gravemente ferido numa mina A/C, à saída do reordenamento.  Completará a sua comissão de serviço militar no BENG 447, depois de tratado e recuperado no Hospital Militar 241, em Bissau. É hoje DFA - Deficiente das Forças Armadas.

Vou pôr a Francesca em contacto com estes camaradas.

Leia também este documento: Os reordenamentos no desenvolvimento sócio-económico das populações. Província da Guiné, Bissau: Comando-Chefe das Forças Armadas da Guine. Quartel General. Repartição AC/AP. s/d.

O documento em causa foi reproduzido, julgo que na íntegra, no nosso blogue em 2007: aqui tens os dois postes (***) 

Boa saúde, bom, trabalho. Luís Graça (****)

PS - Veja também o livro "A Engenharia Militar na Guiné - O Batalhão de Engenharia".
Coord. Gabinete de Estudos Arqueológicos da Engenharia Militar. Lisboa : Direcção de Infraestruturas do Exército, 2014, 166 p. : il. ; 23 cm. PT 378364/14 ISBN 978-972-99877-8-6.
 _________________

Notas do editor;

(*) Vd. poste de 18 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12057: "Memórias da Guiné", por Fernando Valente (Magro) (9): Os reordenamentos populacionais

(**) Vd. poste de 21 de setembro de 2005 > Guiné 63/74 - P182: O reordenamento de Nhabijões (1969/70) (Luís Graça)

(***) Vd. psotes de:


 16 de setembro de  2007 > Guiné 63/74 - P2108: A Política da Guiné Melhor: os reordenamentos das populações (2) (A. Marques Lopes / António Pimentel)

Vd. também poste de 26 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14189: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte XXI: outubro de 1973: Flagelação, pela primeira vez, do reordenamento de Nhabijões, de maioria balanta, com parentes no mato...

(****) Último poste da série > 1 de novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19157: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (57): Contactos de fotocines precisam-se para documentário sobre o seu papel na guerra colonial (Hélder Sousa/ Marisa Marinho)

quinta-feira, 1 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18368: (Ex)citações (330) O "meu querido mês de julho de 1969"... e a "justum bellum", de Mamadu Indjai, contra os colonialistas e os "cães" dos colonialistas (Luís Graça)


Foto nº 1 >  No rescaldo do ataque a Candamã, na madrugada de 30/7/1969: granadas de canhão s/r, e de RGG, 1 granada de mão, munições, restos de fardamento, etc,


Foto n.º 2 > Em Mansambo, o Henrique Cardoso, alf mil, cmdt do 1.º Gr Comb, 2.ª cmdt da CART 2339 (1968/69)



Foto nº 3 > A tabanca de Candamã, transformada em "alvo militar" pelo Mamadu Injdai...

Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > CART 2339 (Mansambo, 1968/69) > Candamã


Fotos: © Henrique Cardoso  (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Em todas as guerras as grandes vítimas são sempre as criança, as mulheres e os velhos que não podem pegar em armas... E logo seguir os combatentes,  os que pegam as armas, convencidos de que lutam por uma causa justa ("justum bellum")... E depois ainda os combatentes que lutam contra a sua própria guerra, os combatentes sem causa, arrebanhados para a guerra, como eu e tantos outros, de um lado e do outro... Quantos dos que morreram nas guerras, sabiam por que lutavam e podiam morrer? 

Este foi "o meu querido mês de julho de 1969" em que tive o primeiro contacto, brutal, com a guerra e as suas insanáveis contradições... Foi aqui que comecei a perceber que não se pode fazer uma guerra sem tomar partido e sem odiar... É preciso "objetivar" o outro, o "inimigo"... Não há guerras justas, muito menos sem ódio... O resto é ideologia...

Amílcar Cabral falava, não poucas vezes, dos "cães dos colonialistas"... Amílcar Cabral usou, não poucas vezes, esta expressão racista, referindo-se aos guineenses que não tomaram partido pela sua causa, o seu partido... (É verdade que ele sabia fazer a distinção entre os portugueses e o "regime colonialista" português; mas também é verdade que, não poucas vezes,  se referia a nós, "tugas", em sentido depreciativo, se não mesmo racista...).

Para os comandantes e demais combatentes do PAIGC, seguindo esta ordem de pensamento (único), o termo "cães dos colonialistas"  tinham um sentido explicitamente racista e um alvo concreto: os fulas, os manjacos e outros grupos étnicos,  menos permeáveis ao apelo da  "guerra de libertação", da "justum bellum"...

O comandante biafada (ou mandinga, não sabemos ao certo...) Mamadu Indjai levava a peito a "justum bellum": um "cão" dos colonialistas bom, era um "cão" morto... Infelizmente, alguns dos meus soldados fulas também partilhavam a teoria inversa: um balanta bom era  um balanta morto... Cada um tinha a sua "justum bellum" e os seus ódios de estimação...

O meu papel, como graduado da CCAÇ 12, na minha esfera de ação muito limitada, foi  impedir que, em situações-limite,  os meus "mamadu indjai" fulas, fardados com a farda do exército do meu país, levassem a teoria à prática... O verdadeiro Mamdu Indjai, biafada ou mandinga, comandante do PAIGC; esse, nunca se coibiu de praticar a teoria...

Dizem os cronistas que terá sido ferido três vezes em combate. À quarta, sucumbiu sob o pelotão de fuzilamento dos triunfadores da "justum bellum"... Mas Amílcar Cabral já não estava lá para ver... Já estava no olimpo dos deuses e dos heróis... A história (ou uma certa historiografia...) encarregou-se  de o 'santificar'... Em boa verdade, ele teve, apesar de tudo, a sorte dos criadores que não sobrevivem às suas criaturas...


2. Confirmei a sequência dos acontecimentos na história do BCAÇ 2852 (1968/70), Cap. II, pag. 90, bem como na história da minha CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71).

As coisas andavam "feias e bravas"  lá para aqueles lados dos regulados a norte do Corubal, depois da retirada de Madina do Boé em 6/2/1969...  O "chão fula" ficou desguarnecido a sul e sudeste, incluindo o setor de Galomaro (vd. carta de Duas Fontes ou Bangácia, nome do sede do posto administrativo que, com a guerra, terá perdido importância, em detrimento de Galomaro):

Na madrugada de 30 de Julho de 1969, eu estava em Candamã, ainda as armas dos defensores da tabanca fumegavam ... O espetáculo dessa madrugada ficou-me na memória e inspirou-me um poema que vou sucessivamente revendo...

Eis o filme desse mês (só registo a actividade da guerrilha que, haveríamos de saber mais tarde, era comandada pelo Mamadu Indjai, na zona de acção da CART 2339, Mansambo, 1968/69):

(1) No dia 1 de julho, às 20h00, um Grupo IN, estimado em 30 elementos, flagelou à distância o destacamento de Dulombi, a sudeste de Galomaro / Duas Fontes... durante duas horas (!). Os camaradas do PAIGC utilizaram Mort 60, LGFog, Metralhadoras Ligeiras e armas automáticas. Causaram 1 morto e 7 feridos, todos civis. Retiraram na direcção Norte...

(2) Em 10, um outro grupo IN, em número não estimado, emboscou um grupo de 4 civis de Dulombi, a partir de uma árvore, em Paiai Numba [, a sul de Padada, vd. carta da Padada]. Só dois dos civis conseguiram regressar a Dulombi, para contar o sucedido...

(3) Quatro dias depois, a 14, por volta das 16h05, um bigrupo (equivalente a um Gr Comb nosso, reforçado, c. 40 homens) - que presumivelmente se dirigia a Dulombi - reagiu a uma emboscada nossa em (PADADA 2E4), com Mort 60, LGFog e armas automáticas durante cerca de 35 minutos... Antes de retirar para Sudoeste, o IN causa às NT 1 morto, 2 feridos graves (1 civil), 3 feridos ligeiros, além de danos materiais num rádio CHP (de mal o menos)...

(4) No dia seguinte, às 20h00, um grupo IN (estimado em cerca de 40 elementos) atacou as tabancas de Cansamba e Madina Alage, durante 60 minutos, com Mort 60, LFog e armas automáticas mas, desta vez, felizmente, sem consequências... O IN retirou na direcção da tabanca de Samba Arabe, levando consigo um elemento da população...

(5) A 20, pelas 20h00, tocou de novo a vez à tabanca de Cansamba, flagelada por um grupo de 30 guerrilheiros, durante 20 minutos, sem consequências... Retirou na mesma direcção (Samba Arabe)...

(6)A 24, às 00h45, é atacado o destacamento de Dulombi, da direcção SSW. O IN, estimado em 60 elementos, utiliza LGFog e armas automáticas.

(7) Nesse mesmo dia, às 17h20, o aquartelamento de Mansambo é flagelado, a grande distância, com Mort 82, a partir da direcção sudoeste. Sem consequências. Na outra ponta do Sector L1, o Xime é flagelado, às 19h45 por canhão s/r.

(8) Meia hora depois, a sul de Madina Xaquili, a cerca de 1 Km, um grupo IN não estimado reagiu a forças da CCAÇ 2445, causando 6 feridos ligeiros, entre os quais 2 milícias. Simultaneamente, este destacamento é flagelado à distância, com Mort 60 e LGFog. Há apenas danos numa viatura GMC. O IN retira na direcção de Padada. Três Grupos de Combate da CCAÇ 12 (na altura, ainda CCAÇ 2590) tiveram aqui, nesse dia, o seu baptismo de fogo... em farda nº 3 (!).

(9) No dia seguinte, à 1h20, é atacado o destacamento de  Quirafo, durante 3 horas (!), por um grupo estimado em mais de 100 elementos, que utilizam 3 Canhões s/r, 3 Mort 82, vários Mort 60, RPG 2 e 7, Metr Lig e outras armas automáticas... Felizmente, há apenas 1 ferido, mas as instalações do destacamento ficam praticamente destruídas, bem como os rádios DHS e AN/RC-9 e quatro G-3... O arame farpado fora cortado em vários pontos... Quirafo, na altura é guarnecido por um pelotão da CCAÇ 2406.

(10) A 26, há uma nova flagelação do Xime, às 17h45, da direcção Sul. Com Canhão s/r e Mort 82 durante 10 minutos. No Xime está a CART 2520, com menos dois pelotões (um destacado em Galomaro e outro - duas secções - na Ponte do Rio Udunduma).

(11) No dia seguinte, 27, às 16h50, Mansambo volta a ser flagelado, à distância, durante 10 minutos, com Mort 82. Sem consequências.

(12) Em 28, por volta das 22h30, o destacamento e tabanca de Madina Xaquili vai conhecer o inferno: durante 1 hora e meia, é atacado de todas as direcções, por um grupo de cerca de 60 elementos, com Mort 82, Mort 60, LGFog e armas automáticas. Há dois feridos. Na altura era defendido pelo Pel Mil 147.

(13) A 29, às 10 da manhã, um grupo IN reagiu, durante 10 minutos, a um patrulha nossa, a 200 metros a SW de Dulombi, que acabava de sair na sequência do rebentamento de uma mina A/C. O IN, que utilizou Mort 60, LGFog e armas automáticas, causou 2 feridos civis.

(14) A 30, às 18h00, Mansambo sofre nova flagelação à distância, da direcção SW, durante 20 minutos, com Canhão s/r e Mort 82. Sem consequências.

(15) A fechar o mês (quente) de julho de 1969, é a vez da tabanca em audodefesa de Candamã [, já no limite leste da ZA da unidade de quadrícula de Mansambo,] conhecer o inferno: a 30, às 3h40, um numeroso grupo IN (80 a 100 elementos) ataca a tabanca, até de madrugada, durante 2 horas e 20 minutos, utilizando 2 Canhões s/r, Mort 82, 3 Mort 60, LGFog, Metralhadora Pesada, Pistolas-Metralhadoras e Granadas de Mão Defensivas, causando um 1 ferido grave e 4 feridos feridos às NT e 2 mortos, 3 feridos graves e vários ligeiros à população civil... Valeu o comportamento heróico dos homens - menos de  pelotão - de Mansambo!...

Registe-se para a história: o 1.º pelotão da CART 2339, comandado pelo alf mil Henrique Cardoso foi quem, com a população civil, defendeu a bela tabanca de Candamã... Por feitos muito  menos heróicos, distribuíram-se a torto e a direito muitas cruzes de guerra durante a guerra colonial...
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de:

26 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18357: Efemérides (269): 30 de julho de 1969, quando o famigerado comandante Mamadu Indjai (, um dos carrascos de Amílcar Cabral), quis pôr Candamã, a última das duas tabancas do regulado do Corubal, a ferro e fogo... Recordando um raro e precioso vídeo sobre uma tabanca fula em autodefesa, da autoria de Henrique Cardoso, ex-alf mil da CART 2339 (Mansambo, 1968/69), que vive hoje na Senhora da Hora, Matosinhos

5 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16562: (De)Caras (47): Ainda o enigma dos ferimentos de Mamadu Indjai [N'Djai] e a missão do Bobo Keita na mata do Fiofioli (Jorge Araújo)

 4 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16444: Manuscrito(s) (Luís Graça) (95): Por aqui passou Mamadu Indjai, o terrível

(**) Último poste da série >  15 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18321: (Ex)citações (329): Da Restauração da Independência de 1640 à guerra na Guiné (1963/1974). Batalhas em campos e tempos desiguais (José Saúde)

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16562: (De)Caras (47): Ainda o enigma dos ferimentos de Mamadu Indjai [N'Djai] e a missão do Bobo Keita na mata do Fiofioli (Jorge Araújo)


Mamadu Indja (ou N'Djai), "herói e vilão", membro dos  serviços de segurança e chefe da guarda do secretariado do PAIGC, "ainda em convalescença", numa rara (e desfocada) foto, em Conacri, s/d, (c. 1973)... Recuperada de fotograma de vídeo da RTP, série "A Guerra", de Joaquim Furtado, 2007  (com a devida vénia...). Trata-se do episódio do assassinato do Amílcar Cabral e da prisão de Aristides Pereira.

[E, a propósito, diga-se que a série "A Guerra" é um trabalho ciclópico, sério e honesto de investigação, feito pelo Joaquim Furtado e a sua equipa, da RTP, que merece todo o nosso apreço e reconhecimento, independentemente de inevitáveis falhas, erros, omissões  e contradições. Isto,  sim, é verdadeiro  "serviço público". É pena que os vídeos não estejam disponíveis "on line", no sítio institucional da RTP, para o público lusófono em geral e os ex-combatentes em particular, e andem por aí pirateados... Vd. aqui a lista com resumo das 4 séries, em 42 episódios, transmitidos pela RTP, de 2007 a 2013, disponibilizada  por  http://www.macua1.org/guerrajf/aguerra.html ] (LG)




O nosso grã-tabanqueiro Jorge Araújo: 


(i) nasceu em 1950, em Lisboa; 
(ii) foi fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 
(Xime e Mansambo, 1972/1974); 
(iii) é doutorado pela Universidade de León (Espanha) (2009),  
 em Ciências da Actividade Física e do Desporto;
(iv) é professor universitário, no ISMAT (Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes), 
Portimão, Grupo Lusófona; 
(v) coordena o ramo de Educação Física e Desporto, 
da Licenciatura em Educação Física e Desporto.


Mensagem do Jorge Araújo com data de 3 do corrente:

Caro Camarada Luís,

Bom dia.

Na sequência da leitura da acta da reunião do Conselho de Guerra, realizado em Conacri, em maio de 1970, permitiu-me chegar a novos dados sobre o tema em epígrafe. (*)

Porque acrescentam mais alguma coisa ao já divulgado, tomei a iniciativa de os organizar em nova narrativa, que anexo. (**)

Boa semana.

Um abraço, Jorge Araújo.



GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE: AINDA O EMIGMA DOS FERIMENTOS DE MAMADU INDJAI [N’DJAI] E A MISSÃO DE BOBO KEITA NA MATA DO FIOFIOLI



1. INTRODUÇÃO

A presente narrativa tem por base fontes de informação «(d)o outro lado do combate» (título utilizado igualmente no projecto dos médicos cubanos, ainda não concluído), onde novos factos considerados fiáveis, nomeadamente no que concerne ao enigma relacionado com os ferimentos em combate do comandante Mamadu Indjai [N’Djai], nos permitem ficar mais próximo da verdade e que, pelo seu valor sócio-histórico, decidimos partilhá-los convosco.

Em simultâneo, e no desenvolvimento da investigação que continuamos a fazer, daremos conta também de outros acontecimentos relevantes tendo Bobo Keita (1939-2009) por protagonista, na medida em que entre ambos existem pontos em comum, de que um exemplo é o de terem sido nomeados comandantes da Frente da Mata do Fiofioli, no triângulo Xime-Bambadinca-Xitole, cada um em tempo diferente, no mínimo entre os anos de 1969 e 1970.



2. O CASO DE MAMADU INDJAI  


Como foi referido no P16506 (*), ficou provado que Mamadu Indjai era responsável pela segurança pessoal de Amílcar Cabral (1924-1973), não se sabendo desde quando foi tomada tal decisão, e que em 19/20 de janeiro de 1973 é acusado de ter estado envolvido no assassinato do secretário-geral do PAIGC, vindo a ser executado alguns dias depois por esse motivo.

Disso dá-nos conta Beja Santos no seu espaço «Notas de leitura: Fernando Baginha e o assassinato de Amílcar Cabral» onde cita:

[…] “Cabral avisou o então responsável pela sua segurança para que tomasse precauções. Ele era Mamadu N’Djai [Indjai], herói nacional, comandante da Frente Norte, três vezes ferido em combate e, de [naquele] momento, em Conacri, precisamente em convalescença do seu último ferimento” (P11001).

Valoriza-se nesta passagem o facto de Mamadu Indjai ter sido ferido três vezes ao longo da sua actividade de combatente na guerrilha. Não se sabe, porém, quando, como e onde terão acontecido as duas primeiras, bem como a dimensão de cada episódio, aceitando-se que a última vez [a terceira] seja a ocorrida durante o ano de 1972.

Entretanto, com a ajuda do nosso amigo Cherne Baldé, a quem agradecemos, ficámos a saber que Mamadu Indjai era um Guineense, do grupo etnolinguístico Biafada, natural do sector de Injassane (Ndajassane), ao norte de Buba, região de Quínara. Soube, através de um antigo combatente, que Mamadu Indjai foi um dos mais antigos elementos da guerrilha. As suas acções/tarefas/missões consistiam na sabotagem de telecomunicações e vias de comunicação através de abatizes, factos realizados num tempo anterior ao início da guerra [comentário ao P16519].

Pelo exposto conclui-se que Mamadu Indjai contabilizou uma experiência de guerra de mais de uma década. Durante esta fracção de tempo, sofreu ferimentos em combate no decurso da “Op Nada Consta”, em 18 de agosto de 1969. Porém, fica-se sem saber se esta foi a primeira ou a segunda vez.

Nesta data, o cmdt Mamadu Indjai foi gravemente ferido ao fim da tarde, depois da acção inicial de grupos de paraquedistas do BCP 12 que efectuaram um heli-assalto de surpresa a uma base IN de que resultou a sua destruição, a captura do roqueteiro Malan Mané e do seu RPG2 e de outras baixas (P23 + P2683).

De acordo com a última informação elaborada por Torcato Mendonça [que também lá estava], parte do grupo de Mamadu Indjai cairia numa emboscada montada pelo 3.º Gr Comb da CART 2339 (Carlos Marques dos Santos),  no itinerário Mansambo-Xitole, próximo da ponte sobre o Rio Bissari.

Durante essa noite ouviu-se no rádio, e de forma clara, os apelos do IN para tentarem ajudar a saída para Conacri [ou Boké, que ficava mais perto] do cmdt Mamadu Indjai.

Em função dos diferentes relatos acima, considera-se historicamente válido o nome da “Op Nada Consta”, enquanto a “Op Anda Cá”, referida no P9011, não faz o mínimo sentido naquele contexto, pois nunca existiu [Torcato Mendonça].

Aproximadamente nove meses depois destes ferimentos, Mamadu Indjai considerou-os, de facto, graves, referindo-se a eles na Reunião do Conselho de Guerra (alargado), realizada entre 11 e 13 de maio de 1970, em Conacri, na presença de altos dirigentes do PAIGC, incluindo o seu líder, Amílcar Cabral.

A propósito dessa ocorrência, no final da sessão da noite do primeiro dia dos trabalhos, Mamadu Indjai fez uma intervenção, a qual ficou exarada em acta, de cujo conteúdo dá-se conta abaixo [p 11], bem como a sua fonte.



Citação:
(1970-1970), "Acta informal das reuniões do Conselho de Guerra em Conakry", CasaComum.org, Disponível HTTP:http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_34125 (2016-10-01).


Transcrição da intervenção de Mamadu Indjai, manuscrita por Vasco Cabral (1926-2005), secretário da reunião do Conselho de Guerra

Mamadu N’Djai (Indjai) – Agradeceu à Direcção do Partido o grande apoio que lhe deu para salvar a sua vida. Está pronto para retomar o trabalho, em qualquer momento. Pede uma missão entretanto, para não estar mais parado.

Amílcar Cabral – Esclareceu que ele não esteve parado. Convalescença não é estar parado. Podemos mandá-lo, por exemplo a Koundara [território da Guiné-Conacri, conforme imagem abaixo], “onde pode dar uma ajuda aos camaradas”.

(interrompeu-se a reunião às 00h00. Continua amanhã (12 de maio) às 16h30 da tarde. Nota: Amílcar propõe que depois de amanhã toda a gente deve preparar-se e quinta-feira partir).








3. O CASO DE BOBO KEITA


Sobre o estado de saúde de Mamadu Indjai e da sua posterior e natural substituição pelo comandante Bobo Keita (1939-2009-01, em Lisboa), Luís Graça, no seu espaço «Manuscrito(s): Por aqui passou Mamadu Indjai, o terrível», cita:

 “Depois do ferimento grave de Mamadu Indjai, "operado de urgência na zona 7", o Amílcar Cabral não sabia quem o deveria substituir... O Bobo Keita ofereceu-se, em Boké, para substituir o Mamadu Indjai "por 15 dias", por sugestão de Amílcar Cabral... Acabou por lá ficar nove meses, ou seja, até ao fim do 1.º semestre de 1970... A "zona 7 (...) ficava nas regiões de Xime, Bambadinca e Xitole", diz o Bobo Keita, nas suas memórias "De campo em campo: conversas com o comandante Bobo Keita", de Norberto Tavares de Carvalho, edição de autor, 2011, 303 pp. (P16444).

Por outro lado, Beja Santos, em nova «Notas de leitura: De campo em Campo, de Norberto Tavares
de Carvalho»: refere:

[…] “Bobo Keita é um guerrilheiro da Frente Norte, anda por Binta e Guidage, a base era Sambuia. Em junho de 1968 é ferido e evacuado para Moscovo e depois regressa [quando?] à frente Norte. No ano seguinte (1969), frequentou seminários em Conacri e depois foi para a [ex] Jugoslávia. No regresso [agosto de 1969?], ofereceu-se para ficar nas regiões do Xime, Bambadinca e Xitole, aqui passou nove meses [provavelmente até finais de maio de 1970?], vinha substituir provisoriamente [?] Mamadu Indjai.

Sobre o Bobo Keita temos 15 referências
no nosso blogue (incluindo
 transcrições das suas memórias)
Reorganizou a quadrícula: “a primeira medida que tomei no Leste foi acabar com a base central [em Mina / Fiofioli ] onde se concentrava toda a guerrilha e que daí procedia a longas marchas para ir atacar os quartéis.

Além disso, na base central concentravam-se as milícias e havia uma certa confusão. Existia também o risco de que qualquer ataque do inimigo pudesse causar muitas baixas na base, devido a tamanha promiscuidade. Formei três destacamentos [?] e um comando móvel.

Da análise às informações divulgadas por Bobo Keita, Beja Santos acrescenta: trata-se de “um relato com muitos altos e baixos. (…) Há notoriamente silêncios, beliscadelas e sentimentos feridos. (…) Estes comandantes recebiam documentação, mas nunca a invocam e muito menos a exibem. O que nos leva permanentemente a questionar como é que se vão cozer todas estas peças constituídas por depoimentos que mais ninguém valida” (P9137).

Daí que a expressão: “acabou por lá ficar nove meses, ou seja, até ao fim do 1.º semestre de 1970” diz-nos pouco; é ambígua, pois não refere o(s) motivo(s) da sua saída: foi de sua iniciativa ou foi decidida superiormente… imposta?

As respostas a estas interrogações fomo-las encontrar na acta da Reunião do Conselho de Guerra acima referida, e que seguidamente se apresentam:




Transcrição da intervenção de Amílcar Cabral, manuscrita por Vasco Cabral (1926-2005), secretário da reunião do Conselho de Guerra, sobre Bobo Keita

[…] Quanto a Xitole-Bafatá há um problema a resolver com bastante urgência. Parece que Bobo [Keita] com António Fiaz [Gomes] a coisa não está bem. Informa-se que Bobo nunca está lá, faz daquela fronteira [Leste] como uma fronteira do Senegal. Diz que não pára lá. Vamos investigar. Pede a Osvaldo [Vieira] que se encarregue de saber da situação neste Sector, que é um Sector-Chave para nós. Sobre Bafatá-Gabú (Sul) fizemos algumas operações, passaram o rio. Pensa que Baro Seidá só é que deve ficar lá. […]




Transcrição das intervenções de Osvaldo Vieira, Pedro Pires e Amílcar Cabral, manuscritas por Vasco Cabral (1926-2005), secretário da reunião do Conselho de Guerra, sobre a situação no Sector 2 (Leste)

Osvaldo Vieira (1938-1974) – Informa sobre a situação no Sector 2. António Fiaz [Gomes] está aborrecido com Bobo [Keita]. Bobo criou uma situação incómoda, porque combinou um encontro com os camaradas mas ele, Bobo, não apareceu. Refere que Mamadu [Cassamá], na frente Leste [viria a morrer em Copá, em 07 de janeiro de 1974 - P16317], os outros camaradas não queriam lá a sua presença. Ele faz lá reuniões. Foi em três bigrupos. Os camaradas levados por José Sambú recusaram-se a seguir as indicações de Mamadu. […]

Pedro Pires (n. 1934) – Fala sobre a situação de Bafatá-Gabú (Sul). Humberto tem lá dois bigrupos mas confronta-se com dois problemas: as distâncias e o rio [Corubal]. Ele está um bocado em baixo. Sobre a questão dos bigrupos há um problema: é que os comandantes não estão à altura, querem só estar fora. Isso não pode ser. Refere o exemplo do Papa-Soares. Humberto lamenta-se que não foi ouvido e está abatido.

Amílcar Cabral (1924-1973) – Quanto ao Humberto, de facto põe-se o problema da distância. Há ou não há população. São os próprios combatentes que têm de transportar o material. Explica como proceder em relação ao Humberto. Humberto está abatido porque não queria sair da reinança de Quinara. Ele não tem razão para afirmar que houve acusações injustas. “Há que mudar os comandos dos bigrupos ou mesmo os bigrupos. Devem agir rápido para evitar encrencas entre António Fiaz [Gomes] e Bobo Keita”. Refere o caso de Luís Gomes.

Infere-se deste último parágrafo que Bobo Keita (1939-2009), enquanto comandante de um bigrupo instalado na região da Mata do Fiofioli foi substituído na sequência da decisão tomada na Reunião do Conselho de Guerra de 11 e 13 de maio de 1970, e por este omitido no seu livro de memórias.



Nota: Para a elaboração deste texto foram utilizadas como fontes bibliográficas o Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné [ou blogue da Tabanca Grande]  e portal «Casa Comum – Fundação Mário Soares», com a devida vénia, de acordo com as seguintes referências:




Instituição:
Fundação Mário Soares

Pasta: 07073.129.004

Título: Acta informal das reuniões do Conselho de Guerra em Conakry

Assunto: Acta informal das reuniões do Conselho de Guerra, de 11 a 13 de Maio de 1970, manuscrita por Vasco Cabral.

Membros Presentes: Amílcar Cabral, Aristides Pereira, Luís Cabral, João Bernardo Vieira (Nino), Osvaldo Vieira, Francisco Mendes, Pedro Pires, Paulo Correia, Mamadu N'Djai [Indjai], Osvaldo Silva, Suleimane N'Djai

Secretário: Vasco Cabral

Data: Segunda, 11 de Maio de 1970 - Quarta, 13 de Maio de 1970

Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Relatórios 1960-1970.

Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral

Tipo Documental: ACTAS
___________


(**) Último poste da série > 2 de outubro de  2016 > Guiné 63/74 - P16549: (De)caras (46): Ainda sobre a morte do alf mil Linhares de Almeida (1942-1967), nascido em Bissau e sepultado em Vila Nova da Barquinha (Domingos Gonçalves, ex-alf mil inf, CCAÇ 1546 / BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68)

domingo, 4 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16444: Manuscrito(s) (Luís Graça) (95): Por aqui passou Mamadu Indjai, o terrível


Por aqui passou
Mamadu Indjai, o terrível



por Luís Graça


E de repente
tudo te é estranho,
o muro que corta, rente,
a brisa da manhã,
a fonte onde ainda ontem
os djubis tomavam banho,
o portentoso poilão aonde ias rezar,
à tua maneira, ao teu irã,
a ponta onde colhias a manga e o abacaxi,
o macaco-cão que chora e que ri…

D
e repente
não sabes donde vens,
não sabes o que és,
aqui de camuflado e de G-3,
nem a verdadeira razão para matar e morrer,
não sabes o que fazes neste lugar,

muito longe da tua terra,
abaixo do Trópico de Câncer,
a 11 graus e tal de latitude norte.

M
al reconheces, pobre periquito,  

os sinais da guerra,
o combate em noite de luar,
o cavalo de frisa esventrado,
os pássaros de morte,
os jagudis no alto da árvore descarnada,
a terra revolta, ensanguentada,
o arame farpado, 

aqui e acolá cortado,
o colmo das moranças, 

carbonizado,
o medo que não se vê mas se pressente, 

num olhar de relance, breve,
sobre a tabanca que quiseram riscar do mapa, 
as cápsulas de 12.7 da metralhadora pesada Degtyarev,
um par de chinelos,
os caracteres chineses dos invólucros, amarelos,
das granadas de RPG…


Um triste cão, vadio e louco, ladra
ao cacimbo fumegante
e o seu latido lancinante
ecoa pela bolanha fora.
A seu lado, a única velha,
que não se foi embora,
com a sua máscara impassível
de séculos de dor,
de seu nome, Satu.

Mais tarde, saberás tu,
saberão de cor,
os jovens pioneiros,
os "blufos", do PAIGC,
que por aqui passou Mamadu Indjai, o terrível,
hoje valoroso,
amanhã insidioso,
combatente da liberdade da pátria,
hoje herói,
amanhã traidor,
que nunca conhecerá a glória nem a honra
do Forte da Amura,
transformado em Panteão Nacional.

Diz-me tu, Satu, mãe e pitonisa,
onde estão as mulheres da tua tabanca,

com os balaios à cabeça
e os seus filhos às costas ?
Onde estão as tuas gentis bajudas,
de mama firme, 

cujo sorriso nos climatizava os nossos pesadelos ?
Onde estão o régulo e os suas valentes milícias ?
Para que lado corre o Rio Corubal
e donde vêm aqueles sons, ambivalentes, de bombolon?


Diz-me tu, homem grande, 
onde fica o Futa Djalon ?
E de que ponto cardeal
sopram os ventos da história, afinal ?


Dizes-me onde fica Meca, meu irmão ?
E, no seu conciliábulo,
os nossos deuses, o meu e o teu,
o que sobre nós decidirão, cinicamente ?


Diz-me onde está o velho cego, 
mandinga,
a quem demos boleia,
que tocava kora
e nos contava a história
de velhos e altivos senhores
agora servos no seu chão ?

P
assei na madrugada
de um final de mês de julho de 1969,
pela tua tabanca, abandonada,
do triste regulado do Corubal,
de que já não guardo o nome,
na memória:

Sinchã qualquer coisa,
Sinchã-a-ferro-e-fogo, 
Afiá ou Candamã ?
Que importa, minha irmã,
o topónimo para a história?!...

V
enho apenas em teu socorro,
meu irmãozinho,
quando as cinzas ainda estão quentes
no forno da tua morança,
da morança que fora também minha…

R
aiva, sim, meu camarada,
Abibo Jau, meu bom gigante,
que serás mais tarde fuzilado em Madina Colhido
com o teu comandante Jamanca,
como eu te compreendo!…
Mas vingança, para quê ?
De guerra em guerra se chega ao nada!



A um espelho partido me estou vendo,
e a mim mesmo me pergunto 

quem sou eu,
triste tuga entre tristes fulas, ai!,
para te dar lições de história ?!


Saberei apenas, 
muito anos depois,
que, julgado e condenado em Conacri,
fuzilaram o Mamadu Indjai,
no Boé, 

que diziam ser região libertada da Guiné…

O
mesmo Mamadu Indjai 
(*),
acrescente-se, 
fero e bravo comandante,
que ferimos gravemente
no decurso da operação Nada Consta,
o mesmo Mamadu Indjai,
que, três anos e meio depois,

chefe das "secretas",
será o Judas de Amílcar Cabral.


Versão 10, Lourinhã, 11  agosto de  2016 (**)

___________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 2 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16441: Notas de leitura (874): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte IX: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (V): Finalmente o regresso a casa, depois do pesadelo do Fiofioli, na margem direita do Rio Corubal... Este homem, hoje professor universitário (?), tem histórias para
contar aos netos...

(...) Comentário de Tabanca Grande [LG]:

(...) Neste tempo /1968/70), no nosso setor L1 (Bambadinca), ao longo da margem direita do Rio Corubal, o PAIGC teria 5 bigrupos (Um bigrupo, eraconstituído por 40/50 guerrilheiros), em cinco zonas: Poidom/Ponta do Inglês/Baio Buruntoni, Ponta Luis Dias, Mina/Fiofioli (2), e Galo Corubal, ou seja entre 200 e 250 homens em armas, mais um 1 grupo de artilharia (morteiro 82, canhão s/r 75 e 82) + 1 grupo especial de bazuqueiros (RGP) (em Mangai). A principal "base" era Mina / Fiofioli, uma mata densa, de floresta-galeria... Não estava ao alcance da artilharia do Xime... Em 1969. o comandante era o Mamadu Indjai.

No meu tempo a mata do Fiofioli era vista como um "mito", infundindo muito respeito às NT... Nos últimos da guerra (e nomeadamente em 1973), o PAIGC retirou forças desta região...

Estranha-se que o médico cubano Amado Alfonso Delgado tenha omitido o importantre revés que foi para o PAIGC a baixa do comandante Mamadu Indjai, gravemente ferido pelas NT no decurso da Op Nada Consta, em agosto de 1969

Vd. poste de 7 de setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6948: A minha CCAÇ 12 (6): Agosto de 1969: As desventuras de Malan Mané e de Mamadu Indjai nas matas do Rio Biesse... (Luís Graça)

Este Mamadu Indjai é o mesmo que fez parte do complô contra Amílcar Cabral em 1973, em Conacri... Será julgado (?) e fuzilado... Era de etnia mandinga.

Temos dez referências no blogue sobre este homem...que pôs o lado meridional do chão fula a ferro e ferro.


(**) Último poste da série > 31 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16432: Manuscrito(s) (Luís Graça) (94): Salvé, minha safada, pequena, bela Helena, hiena, de Bafatá!