A apresentar mensagens correspondentes à consulta futebol ordenadas por relevância. Ordenar por data Mostrar todas as mensagens
A apresentar mensagens correspondentes à consulta futebol ordenadas por relevância. Ordenar por data Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 26 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9666: O PIFAS, de saudosa memória (11): Também havia relatos da bola, em março de 1970... (Arménio Estorninho)


Guiné > Bissau > Março de 1970 > Estádio Sarmento Rodrigues (hoje, Estádio Lino Correia) > Jogo de futebol entre o Sporting de Bissau e a UDIB, com transmissão radiofónica. Se a memória não me falha, quem fazia o relato era o Carlos Soares (está numa mesa). Vemos à esquerda, a zona onde se localizava a Verbena e o Cinema UDIB.

Foto: © Arménio Estorninho (2010). Todos os direitos reservados.


1. Comentário  ao poste P9663 (*),  aposto por  de Arménio Estorninho (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Os Maiorais, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70) [ foto atual, à esquerda]

Mais uma fotografia para juntar à pretensão de agregar material sobre as emissões da Rádio do PIFAS.

Encontra-se no meu Poste P6373, em Foto-10, a imagem de um Jogo de Futebol entre o Sporting de Bissau contra o  UDIB, e que efectuara-se em Março de 1970;

Numa mesa apresenta-se instalado o Sargento Carlos Soares, com o fim de efectuar o relato radiofónico do jogo de futebol que estava ali a decorrer.

Saudações Tabanquenhas (**)

Arménio Estorninho

2. Comentário de L.G.:


2.1. Recorde-se que havia dois clubes de futebol rivais em Bissau, o Sport Bissau e Benfica, e o UDIB (União Desportiva Internacional de Bissau). Os seus jogadores formavam, no incío dos anos 60,  a base ou a quase totalidade da seleção de futebol da província da Guiné. Um terceiro clube era o Sporting Club de Bissau. E, fora de Bissau, destacava-se o Clube de Futebol Os Balantas de Mansoa, e ainda o Sporting Clube de Bafatá (já aqui referido várias vezes no nosso blogue, e que já existia pelo menos desde o tempo do Governador Sarmento Rodrigues).

O nosso amigo Nelson Herbert foi júnior no Sporting, embora a sua paixão clubística fosse o UDIB, o clube da elite de Bissau (onde o seu pai, Armando Lopes, Búfalo Bill, foi craque na segunda metade da década de 1940 e depois nos anos 50, ainda antes de se mudar para o Sport Bissau e Benfica).

Aliás, o Nelson Herbert já nos prometou publicar aqui mais informação sobre a história do futebol na Guiné-Bissau, até porque o futebol  forneceu ao PAIGC alguns dos seus destacados dirigentes e militantes  (por ex.,  Júlio Almeida, Júlio Semedo, Bobo Keita, Lino Correia). Parece que o 'Nino' Vieira também chegou a jogar na UDIB. Mas os futebolistas mais antigos, de origem caboverdiana, como Armando Lopes e Joãozinho Burgo, nunca enveredaram pela via do nacionalismo independentista, pelo contrário consideraram-se sempre portugueses... De qualquer modo, tanto a PIDE como o PAIGC tinham "olheiros"  na seleção nacional guineense... Infelizmente, a guerra e a independência terão matado o futebol guineense (**)...



Guiné > Região do Oio > Mansoa >  Sede do Clube de Futebol Os Balantas > Foto do nosso camarada, membro do nosso blopue, Henrique Cabral,  ex-Fur Mil da CCAÇ 1420 (1965/67), autor do blogue Rumo a Fulacunda.


Foto: © Henrique Cabral  (2010). Todos os direitos reservados.




Apesar disso, o futebol continua a ser ronco, na Guiné-Bissau. Aliás, como em outros lados em África, parece ser o desporo dos pobres... Hoje há clubes novos, mesmo fora de Bissau, o que não deixa de ser interesssante. Por exemplo, o Campeonato de Futebol da Guiné-Bissau,  1ª Divisão, foi  criado em 1975, e na época de 2011/12, está a ser disputado pelos 10 clubes, sendo 6 de Bissau:


Académica de Ingoré (Ingoré) [ Região do Cacheu]
Atlético Clube de Bissorã (Bissorã) (Região do Oio)
Clube de Futebol Os Balantas de Mansoa (Mansoa) [Região do Oio]
Futebol Clube de Cuntum (Bissau)
Mavegro Futebol Clube (Bissau)
Sport Bissau e Benfica (Bissau)
Sport Clube dos Portos de Bissau (Bissau)
Sporting Clube de Bafatá (Bafatá) [Região de Bafatá]
Sporting Clube da Guiné-Bissau (Bissau)
União Desportiva Internacional Bissau  (Bissau)

Mas também há outros clubes de futebol, da II e III Divisões, representando localidades por onde pássamos ou onde estivemso (Binar, Bolama, Canchungo, Farim, Gabu, Mansabá, Nhacra, São Domingos e outros).

Já agora, e como mera curiosidade, aqui ficam mais alguns dados sobre o futebol de hoje, na Guiné-Bissau:

(i) O clube com mais títulos de Campeão Nacional, 14,  é o Sporting Clube de Bissau [, ou Sporting de Bissau];


(ii) Vem a seguir o Sport Bissau e Benfica [ou Benfica de Bissau], com 8 títulos;
(iii) Em terceiro lugar, ex-aequo,  vem a  UDIB (Bissau) e Os Balantas de Mansoa, com 3 títulos cada.


2.2. Voltando ao PIFAS, e aos nossos tempos... Não nos parece, entretanto,  que o PIFAS fizesse relatos de futebol em direto, até pelo seu  horário de emissão (3 horas diárias, em 3 segmentos de hora: ). Em todo o caso, é natural que noticiasse os resultados e desse até  resumos das partidas mais importantes, a partir de relatos pré-gravados.  Presumimos que o srgt Carlos Santos fosse, na época, locutor do PIFAS.

O futebol guineense, praticamente confinado a Bissau,  era desconhecido da maior parte da malta que estava no mato. Os resultados dos jogos poderiam apenas interessar alguma população civil, concentrada em Bissau. É possível que alguns militares metropolitanos jogassem, na época, em alguns clubes locais. É natural, por outro lado,  que a emissora oficial da província fizesse relatos em direto, até porque os relatos da bola eram populares na época. Conviria, entretanto,  esclarecer se o srgt Carlos Santos está aqui a representar o PIFAS ou a emissora oficial, um e outra com  estúdios próprios.
_____________

Notas do editor:

(*) 24 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9653: O nosso Blogue na Antena 1 pela voz de Luís Graça, no programa Emoções de João Paulo Diniz (Carlos Filipe Coelho)

(**) Vd. Ludopedio >   Futebol e guerra - Bissau, Guiné-Bissau, por Tiago Carrasco, João Henriques e João Fontes, 3.03.2010

(**) Último poste da série >  23 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9645: O PIFAS, de saudosa memória (10): A mascote, um caso sério de popularidade (José Romão)... E até o 'Nino' Vieira ouvia o programa! (João Paulo Diniz)

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Guiné 61/74 - P20160: 15 anos a blogar, desde 23/4/2004 (14): continuando a falar de..."futebol, elites e nacionalismo"


Gâmbia > Bathurst > 1953 > Comemorações da entronização da Rainha Isabel II, de Inglaterra (n. 1926) > Foto da seleção de futebol da Província Portuguesa da Guiné > De pé, da esquerda para a direita, Antero Bubu (Sport Bissau e Benfica; capitão), Douglas (Sport Bissau e Benfica), Armando Lopes (, pai do nosso amigo Nelson Herbert) (UDIB), Theca (Sport Bissau e Benfica), Epifânio (UDIB) e Nanduco (UDIB); de joelhos, também da esquerda para a direita: Mário Silva (Sport Bissau e Benfica), Miguel Pérola (Sporting Club de Bissau), Júlio Almeida (UDIB), Emílio Sinais (Sport Bissau e Benfica, Joãozinho Burgo ( Sport Bissau e Benfica) e João Coronel (Sport Bissau e Benfica).

No 1º jogo, a seleção da Guiné ganhou à seleção da Gâmbia por 2-0, com golos de Joãozinho Burgo (, falecido recentemente em Portugal 22/1/2019); no 2º jogo, as duas seleções empataram 2-2 (com golos, pela Guiné, de Mário Silva e Joãozinho Burgo). Antiga colónia inglesa, a Gâmbia acederá à independência em 1965.

Legenda de João Burgo Correia Tavares: vd. livro Norberto Tavares de Carvalho - "De campo a campo: conversas com o comandante Bobo Keita", Porto, edição de autor, 2011, p. 41.

Foto: © Armando Lopes / Nelson Herbert (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Quer queiramos quer não, não conseguimos deixar de falar... de futebol. Temos mais de seis dezenas de referências no nosso blogue... Hoje retomamos o tema "futebol e nacionalismo" (*)...  E continuamos a celebrar os nossos 15 de existência, enquanto blogue e enquanto grupo de amigos e camaradas da Guiné que se reune à sombra do simbólico poilão daTabanca Grande (**)

Fomos encontrar, no livro do Norberto Tavares de Carvalho, a foto acima, já nossa conhecida, da seleção de futebol da província portuguesa da Guiné, onde figura o Armando Lopes (jogador da UDIB, pai do nosso amigo Nelson Herbert, e que também era conhecido como Búfalo Bill).

Recorde-se que ele fez o seu serviço militar no Mindelo, São Vicente, Cabo Verde, em 1943, na altura em que também lá estava, como expedicionário, o meu pai, meu velho e meu camarada, Luís Henriques; ambos nasceram em 1920 e, infelizmente, já faleceram od dois, o meu, em 2012, o pai do Nelson Herbert, mais recentemente, em 2018. Ambos tinham igualmente uma paixão pelo futebol...

A foto que publicamos acima,  é do arquivo pessoal do João Nascimento Burgo Correia (ou Corrêa) Tavares, o Joãozinho Burgo, do Sport Bissau e Benfica... Mas o nosso blogue já tinha publicada uma igual, em 15 de agosto de 2010, do arquivo do Armando Lopes / Nelson Herbert.

Cabo-verdiano, da ilha do Fogo, onde nasceu em 1929, Joãozinho Burgo era mais novo do que o Armando Lopes (1920-2018),  mas mais velho que o Bobo Keita (1939-2009). O auge da sua carreira é em 1960, com o apuramento da seleção de futebol da Guiné para a fase de qualificação para a disputa da taça Kwame Nkrumah.

Vencedora da Série D, a seleção guineense foi disputar a final em Acra, capital do Gana: além de Joãozinho Burgo, fizeram parte dessa equipa Bobo Keita, Júlio Semedo (Swift, guarda-redes), Antero 'Bubu', Vitor Mendes (Penicilina), 'Djinha', João de Deus, 'Chito', Luís 'Djató', 'Nhartanga' (que jogará depois em Portugal), entre outros...

O Joãozinho Burgo deixou de jogar já época, distante,  de 1966/67, para de seguida ir tirar o curso de treinador, ainda em 1967, em Setúbal (onde teve como colegas de curso o José Augusto, o Coluna e o Cavém) (p. 36).

O Bobo Keita, mais novo (1939-2009), embora sportinguista de coração, assinou e jogou pelo Sport Bissau e Benfica, clube do seu pai, alfaiate... O mais interessante era verificar a grande popularidade que tinha o futebol nessa época, nomeadamente em Bissau, mas também no interior (primeiro em Bolama, depois Bissau, Mansoa, Bafatá...).

O futebol também foi um viveiro de militantes, combatentes e dirigentes do PAIGC (Júlio Almeida, Júlio Semedo, Bobo Keita, Lino Correia...). Era interessante aprofundar as razões deste fenómenos...


Guiné > Bissau > Março de 1970 > Estádio Sarmento Rodrigues (hoje, Estádio Lino Correia) > Jogo de futebol entre o Sporting de Bissau e a UDIB, com transmissão radiofónica. Se a memória não me falha, quem fazia o relato era o Carlos Soares (está numa mesa). Vemos à esquerda, a zona onde se localizava a Verbena e o Cinema UDIB.  O estádio foi construído em 1947 e electrificado, já no tempo de Spínola, em 1971. O Lino Correio, antigo jogador da UDIB, morreu precocemente, em 25/11/1962, em Conacri, de acidente, numa sessão de preparação física. 

Foto do nosso grã-tabanqueiro, Arménio Estorninho (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Os Maiorais, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70).

Foto (e legenda): © Arménio Estorninho (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Recorde-se que o Júlio Almeida, antigo funcionário da granja de Pessubé, que trabalhou com Amilcar Cabral, é referenciado como um dos fundadores, em 1956, do PAIGC, ou melhor do PAI, mais tarde PAIGC. Segundo informação do Nelson Herbert, a indicação e a consequente transferência de Júlio Almeida do futebol mindelense (São Vicente, Cabo Verde) para a UDIB de Bissau foi iniciada, a pedido do clube guineense, no ínício dos anos 50, pelo seu pai, Armadndo Lopes, que na altura estaava a passar férias em S. Vicente, a ilha de natal de ambos.

Bobo Keita, que nasceu no Cupelom [ ou Pilão] de Baixo, em Bissau, jogava na equipa do bairro, o Estrela Negra... Dela faziam parte futuros militantes nacionalistas como o Umaro Djaló, Julião Lopes, Corona, Ansumane Mané (outro que não o brigadeiro), Lino Correia (que era de Mansoa)... Keita, miúdo de rua, não tinha botas. As primeiras que teve foram-lhe emprestadas (e depois dadas) pelo Sport Bissau e  Benfica. Jogou com elas em Mansoa. Jogará depois nos juniores do Benfica e, dada o seu talento, chega rapidamente à seleção provincial.

Tinha então 17 anos. Como a idade mínima legal eram os 18, à face das normas internacionais do futebol, tiveram que lhe fazer uma "nova" certidão de nascimento (sic)... "A partir daí, segundo as circunstâncias, passei a exibir dois bilhetes de identidade, um com dezassete anos e outro com dezoito anos", confidencia o Bobo keita ao seu biógrafo (p. 31).

Acabou por jogar a defesa direito no Benfica. Dos juniores passa às reservas e depois à equipa principal. Para além de ser o orgulho do seu pai, tornou-se muito popular entre os adeptos. O grande dérbi, em Bissau, eram o jogo Benfica-Sporting. Na época, o Benfica era de longe a melhor equipa de futebol da província, recheada de estrelas (que integravam por sua vez a seleção da província).

Foi o Victor Mendes, um treinador português, que levou Bobo Keita para a seleção e que o pôs a jogar como defesa lateral esquerdo, depois de muito trabalho... Outro clube cotado localmente era o UDIB - União Desportiva e Internacional de Bissau, onde jogava o seu primo João de Deus.

Nas conversas com Noberto Tavares de Carvalho, Bobo Keita recorda o Torneio da África Ocidental, que começou na Ilha de São Vicente, Cabo Verde, em 1958, e que juntou outras  seleções (Cabo Verde, Senegal, Gâmbia e Guiné-Conacri) (pp. 39-40). Também, jogou na Gâmbia, onde a seleção guineense era, de há muito, temida, desde o tempo do Armando Lopes.

E acrescenta o Nelson Herbert: "Convém não perder de vista que ante a então apertada vigilância da PIDE, a 'bola' foi por sinal a via encontrada por Amílcar Cabral para a conglomeração, na periferia de Bissau, de guineenses e cabo-verdianos em redor de ideais nacionalistas.

"E falando ainda de futebol, recordo ter lido em tempos no blogue um poste que fazia referência ao papel dos soldados portugueses na Guiné, na 'massificação'  do futebol naquela antiga província ultramarina."

2. Mas voltando ao Bobo Keita e à selecção de futebol da Guiné, que foi apurada para a final da taça Kwame Nkrumah, jogada em  Acra, capital do Gana, em 1959. 

O encontro com o presidente Kwame Nkrumah terá sido decisivo na vida de Bobo Keita. Recorde-se que a antiga colónia inglesa, Golden Coast, a Costa do Ouro, proclama oficialmente a sua independência em 6 de Março de 1957. Nkrumah, num cerimónia de receção nos jardins do seu palácio, incentivou então os jovens futebolistas a lutarem pela independência dos seus países. 

Em 1 de outubro de 1960, Keita está em Lagos, capital da Nigéria, outra vez num torneio de futebol, por ocasião das festas da independência de mais um grande país africano (p. 44-46). Que memórias guarda desse tempo ?

"Como acontecera com o discurso do Nkrumah, fui de novo sacudido por um mar de interrogações, sempre falando com os meus botões e acabando por concluir que tudo aquilo era bonito, mas completamente impensável na Guiné. No entanto, pela segunda vez, o acaso punha-me de caras com os pensamentos revolucionários daquele tempo. Só que desta vez senti algo a despertar em mim" (p. 45)...

E mais à frente acrescenta, na entrevista com Norberto Tavares de Carvalho, publicada em livro, que temos vindo a citar:

"Fiquei com aquela imagem de um povo confiante, independente e livre. Esse quadro ficou gravado em mim como o segundo factor de formação da minha consciência nacionalista" (p. 46).

Três meses depois, em 26 de dezembro desse ano, Bobo Keita, que tinha apenas a 4ª classe da instrução primária, "vai no mato", isto é, entra na clandestinidade, mais exatamente segue em viagem para o sul, disfarçado de alfaiate, mas com destino certo: Conacri. Em 12 de janeiro de 1961 tem à sua frente Amílcar Cabral, o homem que lhe tinha dado um bola, quando "djubi" do Cupelom, seu bairro natal...

Como é que um jovem e promissor jogador de futebol chega até aqui, ou seja, entra em ruptura com a sociedade onde, mal ou bem, está integrado ? Antes de mais, é de referir o sentimento de injustiça e de revolta que começa a apoderar-se dos jovens jogadores da seleção da Guiné. Na Nigéria não recebem os prometidos e ansiados prémios de jogos. Sentem-se explorados e inferiorizados quando comparados com os jogadores das outras seleções africanas, em particular os nigerianos. Na capital da Gâmbia, Bathurst, o conflito, latente, estala, passando a conflito aberto, manifesto... Recusam-se a jogar... Acabam por ceder para "não ficarmos mal vistos" (p. 48), mas recebem no final o dinheiro prometido...

Os dirigentes da seleção estranharam o comportamento jogadores e não gostaram... No regresso a Bissau, entra a PIDE em ação. O ambiente é de crispação, dentro e fora do balneário. Chegou-se a pensar prender toda a selecção, mas acabou por imperar o bom senso... Os jogadores, incluindo Bobo Keita, foram discretamente interrogados, um a um, pela PIDE nas instalações dos Bombeiros Voluntários de Bissau (pp. 52 e ss.). Dada a sua popularidade, os jogadores da seleção, envolvidos no conflito passado na Gâmbia, acabaram por se safar... Acrescenta o Bobo Keita, que até o próprio Governador, na altura o Peixoto Correia [1913-1988; governador entre 1958 e 1962], "uma ardente adepto do futebol", não terá apreciado a ação da PIDE (p. 53)...



Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > A valorosa equipa de futebol da CCAÇ 12, que disputou campeonatos em Bafatá...  Supremacia branca, discriminação racial, elitismo ?... Nada disso, os graduados e especialistas metropolitanos da companhia eram apenas um terço; o resto da companhia era do recrutamento local, de etnia fula... Os fulas, pastores, místicos  e guerreiros,  não jogavam à bola, ou   não tinham especial apetência pela prática do futebolmuitos deles numa tinham visto uma bola de futebol, ou um equipamento desportivo, lá nas suas tabancas dos regulados de Badora e de Cossé...

Mas é bom lembrar que, na Guiné do nosso tempo, e devido à guerra o futebol estava praticamente confinado a Bissau... se bem, que houvesse também equipas de futebol no interior (Bafatá, Mansoa)... Do Clube de Futebol Os Balantas de Mansoa (Mansoa) [Região do Oio], era, ao que parece o Corca Só, lendário comandante do PAIGC que um dia terá prometido "limpar o sebo" ao "Tigre de Missirá", o nosso amigo e camarada Mário Beja Santos...

Enfim, o futebol continuava a ser  o desporto, por eleição, dos "tugas", no final dos anos 60...mas também fora um viveiro de dirigentes e militantes do PAIGC no início da década...

Os "tugas" da CXAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71=, aqui fotografados,  da esquerda para a direita, são, na primeira fila:

(i) Gabriel Çonçalves, o "GG" (1º cabo cripto, vive em Lisboa),

(ii) Francisco Moreira (alf mil op esp, cmdt do 1º Gr Comb, vive em Santo Tirso);

(iii) Arlindo Roda (fur mil at inf,. do 3º Gr Comb, vive em Setúbal);

(iv) Arménio Fonseca, o "Campanhã" (sold at inf, 1º Gr Comb, vive no Porto);
(v) e o guarda-redes, João Rito Marques (o 1º cabo quarteleiro, vive no Souto, Sabugal);

e na segunda fila:

(vi) Fernando Sousa (1º cabo aux enf, vive na Trofa),

(vii) Luciano Pereira de Silva (1º cabo at inf, 4º Gr Comb, natural de São Mamede do Coronado, Trofa, emigrado em França);

(viii) Fernando B. Gonçalves (1º cabo aux enf, que veio substituir o 1º cabo aux José M. Sousa Faleiro, evacuado logo no início para o Hospital Militar de Doenças Infecto-Contagiosas; morada atual desconhecida)

(ix) Alcino Carvalho Braga (sold cond auto; vive em Lisboa)

(xi) Manuel Alberto Faria Branco (1º cabo at inf, 2º Gr Comb; vive na Póvoa do Varzim)

(xi) e o António Manuel Martins Branquinho (fur mil at inf, 1º Gr Comb; falecido, vivia em Évora).

Foto: © Arlindo Roda (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

__________

Notas de leitura:

(*) Vd. postes de:



(**) Último poste da série > 24 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20091: 15 anos a blogar, desde 23/4/2004 (13): Hoje faz anos, 73, o António Fernando Marques... Porque recordar é viver duas vezes, e blogar é três... Relembramos o fatídico dia, 13/1/1971, em que o PAIGC nos quis mandar para os anjinhos... O meu querido Marquês, sem acento circunflexo, tem filhos, netos, amigos e camaradas que o adoram... E o Mário Mendes, morto de morte matada 16 meses depois... será que alguém ainda o recorda na sua terra natal? (Luís Graça)

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8947: Notas de leitura (292): De campo em campo: conversas com o comandante Bobo Keita, de Norberto Tavares de Carvalho (Parte II): Futebol e Nacionalismo (Nelson Herbert / Luís Graça)





Gâmbia > Bathurst > 1953  > Comemorações da entronização da Rainha Isabel II, de Inglaterra >  Foto da seleção de futebol da Província Portuguesa da Guiné > De pé, da esquerda para a direita,  Antero Bubu (Sport Bissau e Benfica; capitão), Douglas (SB Benfica), Armando Lopes (UDIB),  Theca (SB Benfica), Epifânio (UDIB) e Nanduco (UDIB);  de joelhos, também da esquerda para a direita:  Mário Silva (SB Benfica),  Miguel Pérola (Sporting Club de Bissau), Júlio Almeida (UDIB),  Emílio Sinais (SB Benfica), Joãozinho Burgo (SB Benfica) e João Coronel (SB Benfica)...

No 1º jogo, a seleção da Guiné ganhou à seleção da Gâmbia por 2-0, com golos de Joãozinho Burgo; no 2º jogo,  as duas seleções empataram 2-2 (com golos,  pela Guiné, de Mário Silva e Joãozinho Burgo). Antiga colónia inglesa, a Gâmbia acedeu à independência em 1965.

Foto: ©  Armando Lopes / Nelson Herbert  (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


Legenda de João Burgo Correia Tavares (vd. De campo a campo: conversas com o comandante Bobo Keita, 2011, p. 41).


1.  E a propósito (e na continuação da leitura do livro) das memórias do Bobo Keita (*)... Fomos encontrar, no livro do Norberto Tavares de Carvalho, uma foto já nossa conhecida, da seleção de futebol da província portuguesa da Guiné, onde figura o  Armando Lopes (jogador da UDIB, pai do nosso amigo Nelson Herbert, e que também era conhecido como Búfalo Bill; fez o seu serviço militar no Mindelo, em 1943, na altura em que também lá estava, como expedicionário, o meu pai, meu velho e meu camarada, Luís Henriques; ambos nasceram em 1920 e, felizmente, continuam vivos; ambos tinham igualmente uma paixão pelo futebol).

A foto, que vem na página 41,  é do arquivo pessoal do João Nascimento Burgo Correia Tavares, o Joãozinho Burgo, do Sport Bissau e Benfica... (Mas o nosso blogue já tinha publicada uma igual, em 15 de Agosto de 2010, do arquivo do Armando Lopes) (***).

Caboverdiano, da Ilha do Fogo, onde nasceu em 1929,  Joãozinho Burgo era mais novo do que o Armando Lopes (n. 1929) mas mais velho que o Bobo Keita (n. 1939). O auge da sua carreira é em 1960,  com o apuramento da seleção de futebol da Guiné para a fase de qualificação para a disputa da taça Kwame  Nkrumah.


Vencedora da Série D, a seleção guineense foi disputar a final em Acra, capital do Gana: além de Joãozinho Burgo, fizeram parte dessa equipa Bobo Keita,  Júlio Semedo (Swift, guarda-redes), Antero 'Bubu', Vitor Mendes ('Penicilina'),  'Djinha', João de Deus,  'Chito', Luís 'Djató', 'Nhartanga' (que jogará depois em Portugal), entre outros...

O Joãozinho Burgo deixou de jogar na época de 1966/67, para de seguida ir tirar o curso de treinador, ainda em 1967, em Setúbal (onde teve como colegas de curso o José Augusto, o Coluna e o Cavém) (p. 36).

O Bobo Keita, mais novo (1939-2009), embora sportinguista de coração, assinou e jogou pelo Sport Bissau e Benfica (**),  clube do seu pai, alfaiate... O mais interessante era verificar a grande popularidade que tinha o futebol nessa época, nomeadamente em Bissau, mas também no interior (Mansoa e Bafatá, por ex.).


O futebol também foi um viveiro de   militantes, combatentes e dirigentes ao PAIGC (Júlio Almeida, Júlio Semedo, Bobo Keita, Lino Correia...). Era interessante saber porquê... 

Recorde-se que o Júlio Almeida, antigo funcionário da granja de Pessubé que trabalhou com Amilcar Cabral, é referenciado como um dos fundadores, em 1956,  do PAIGC, ou melhor do PAI, mais tarde  PAIGC (**).

Bobo Keita, que nasceu no Cupelom [ ou Pilão] de Baixo, em Bissau, jogava na equipa do bairro, o Estrela Negra'... Dela faziam parte futuros militantes nacionalistas como o Umaro Djaló, Julião Lopes, Coronoa, Ansumane Mané (outro que não o brigadeiro), Lino Correia (que era de Mansoa)... Keita, miúdo de rua, não tinha botas. As primeiras que teve foram-lhe emprestadas (e depois dadas) pelo SB Benfica. Jogou com elas em Mansoa. Jogará depois nos júniores do Benfica e, dada o seu talento, chega rapidamente à seleção provincial.


Tinha então 17 anos. Como a idade mínima legal eram os 18, à face das normas internacionais do futebol, tiveram que lhe fazer uma "nova" certidão de nascimento (sic)... "A partir daí, segundo as circunstâncias, passei a exibir dois bilhetes de identidade, um com dezasste anos e outro comn dezoito anos", confidencia o Bobo keita ao seu biógrafo (p. 31).


Acabou por jogar a defesa direito no Benfica. Dos júniores passa às reservas e depois à equipa principal. Para além de ser o orgulho do seu pai, tornou-se muito popular entre os adeptos. O grande dérbi, em Bissau, eram o jogo Benfica-Sporting. Na época, o Benfica era de longe a melhor equipa de futebol da província, recheada de estrelas (que integravam por sua vez a seleção da província)


Foi o Victor Mendes, um treinador português, que levou Bobo Keita para a seleção e que o pôs a jogar como defesa lateral esquerdo, depois de muito trabalho... Ao que parece, ainda estará vivo. Outro clube cotado localmente era o UDIB - União Desportiva e Internacional de Bissau, onde jogava o seu primo João de Deus.


Nas conversas com Noberto Tavares de Carvalho (*), Bobo keita recorda o Torneio da África Ocidental, que começou na Ilha de São Vicente, Cabo Verde, em 1958, e que juntou outras as seleções (Cabo Verde, Senegal, Gâmbia e Guiné-Conacri) (pp. 39-40). Também, jogou na Gâmbia, onde a seleção guineense era, de há muito, temida, desde o tempo do Armando Lopes.


Na fase final, foram jogar a Acra, capital do Gana, em 1959. O encontro com o presidente Kwame Nkrumah terá sido decisivo na vida de Bobo Keita. Recorde-se que a antiga colónia inglesa, Golden Coast, a Costa do Ouro, proclama oficialmente a sua independência em 6 de Março de 1957. Nkrumah, num cerimónia de receção nos jardins do seu palácio,  incentivou então os jovens futebolistas a lutarem pela independência dos seus países. 


Em 1 de Outubro de 1960, Keita está em Lagos, capital da Nigéria, outra vez num torneio de futebol, por ocasião das festas da independência de mais um grande país africano (p. 44-46). Que memórias guarda desse tempo ?


 "Como acontecera com o discurso do Nkrumah, fui de novo sacudido por um mar de interrogações, sempre falando com os meus botões e acabando por concluir que tudo aquilo era bonito, mas completamente impensável na Guiné.  No entanto, pela segunda vez,  o acaso punha-me de caras  com os pensamentos  revolucionários daquele tempo. Só que desta vez senti algo a despertar em mim" (p. 45)...


E mais à frente acrescenta, na entrevista com Norberto Tavares de Carvalho (*): 


"Fiquei com aquela imagem de um  povo confiante, independente e livre. Esse quadro ficou gravado em mim como o segundo factor de formação da minha consciência nacionalista" (p. 46).


Três meses depois, em 26 de Dezembro desse ano, Bobo Keita, que tinha apenas a 4ª classe da instrução primária,  "vai no mato", isto é, entra na clandestinidade, mais exatamente segue em viagem para o sul, disfarçado de alfaiate, mas com destino certo: Conacri. Em 12 de Janeiro de 1961 tem à sua frente Amílcar Cabral, o homem que lhe tinha dado um bola, quando "djubi" do Cupelom, seu bairro natal...


Como é que um jovem e promissor jogador de futebol chega até aqui, ou seja, entra em ruptura com a sociedade onde, mal ou bem, está integrado ? Antes de mais, é de referir o sentimento de  injustiça e de revolta que começa a apoderar-se dos jovens jogadores da seleção da Guiné. Na Nigéria não recebem os prometidos e ansiados prémios de jogos. Sentem-se explorados e inferiorizados quando comparados com os jogadores das outras seleções africanas, em particular os nigerianos. Na capital da Gâmbia, Bathurst, o conflito, latente, estala, passando a conflito aberto, manifesto... Recusam-se a jogar... Acabam por ceder para "não ficarmos mal vistos" (p. 48), mas recebem no final o dinheiro prometido...

Os dirigentes da seleção estranharam o comportamento jogadores e não gostaram... No regresso a Bissau, entra a PIDE em ação. O ambiente é de crispação, dentro e fora do balneário. Chegou-se a pensar prender toda a selecção, mas acabou por imperar o bom senso... Os jogadores, incluindo Bobo Keita, foram discretamente interrogados, um a um, pela PIDE nas instalações dos Bombeiros Voluntários de Bissau (pp. 52 e ss.). Dada a sua popularidade, os jogadores da seleção, envolvidos no conflito passado na Gâmbia, acabaram por se safar... Acrescenta o Bobo Keita, que até o próprio Governador, na altura o Peixoto Correia, "uma ardente adepto do futebol", não terá apreciado a ação da PIDE (p. 53)...

Iremos continuar a respigar e comentar algumas notas de leitura (****) da 'longa conversa' que o Bobo Keita teve como Norberto Tavares de Carvalho, antes de morrer, em Portugal, em 2009. Era senhor de uma notável memória, era uma homem frontal, mas também de grande cordialiade.  Por sua vez, o autor do livro, com formação em ciências sociais, dá provas de honestidade intelectual e de preocupações com o rigor metodológico.

Leia-se o que diz o próprio Norberto Tavares de Carvalho:


"O trabalho de recolha, de entrevista e de releitura, durou mais de dois anos. Até que  no dia 19 de Dezembro de 2008 me desloquei a Lisboa para tratar com o comandante Bobo Keita os últimos trechos do livro. Fui visitá-lo ao hospital [, presume-se que o Amadora-Sintra,] onde estava internado. Ao ouvir a voz que o saudava, perguntou imediatamente: 'Quando é que chegaste ?'. Fiquei perplexo pois os rumores diziam que o velho combatente tinha perdido a memória. Animei-me de esperança. Tinha ainda mais perguntas a fazer-lhe para o aprofundamento de certos dados importantes. E devia ler-lhe a última parte do manuscrito" (p. 16).

O livro (brochado, 303 pp.,  incluindo fotos), edição de autor, está à venda no Porto, na UNICEPE - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, CRL, sita na Praça Carlos Alberto, 128-A, 4050-159 PORTO >  Email: Unicepe@net.novis.pt; Telefone: + 351 222 056 660. Preço: 15 € (12 €, para associados da Unicepe).


2. Sobre este tema reproduzimos aqui uma mensagem recente do Nelson Herbert, que vive em Washington onde é editor da Voz da América:

Data: 20 de Outubro de 2011 21:05
Assunto: Futebol e Nacionalismo


Caro Luis


"As equipas de futebol deram bastantes militantes ao PAIGC... Era interessante saber porquê...No caso do Bobo Keita, foram decisivas as viagens ao estrangeiro (Ghana, Nigéria...) com a seleção nacional, até 1960, ano em que ele passou à clandestinidade"...
E eis (mais) um capítulo da história da Guiné ainda por aprofundar !!!


Repare que a seleção de que Bobo Keita fazia parte, contava igualmente com um dos elementos fundadores do PAIGC, refiro-me pois ao caboverdiano Júlio Almeida (guarda redes, que deduzo estar na foto a que fez referência) , então técnico agrário da Granja de Pessubé, [onde trabalhou com] Amílcar Cabral !!!


A indicação e a consequente  transferência  de Júlio Almeida do futebol mindelense para a UDIB de Bissau foi iniciada, a pedido do clube guineense - creio que [no ínício dos] anos 50-   pelo meu pai [ Armadndo Lopes],  na altura de férias em S. Vicente, a ilha de natal de ambos.


Convém não perder de vista que ante a então apertada vigilância da PIDE, a "bola" foi  por sinal a via encontrada por Amílcar Cabral para a conglomeração, na periferia de Bissau, de guineenses e caboverdianos  em redor de ideais nacionalistas.

E falando ainda de futebol, recordo ter lido em tempos no blogue um poste que fazia referência ao papel dos soldados portugueses na Guiné, na "massificação" do futebol naquela antiga província ultramarina.


Obrigado por partilhar !

Mantenhas
Nelson Herbert



______________




Notas do editor:

(*) Vd. poste de 24 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8941: Notas de leitura (290): De campo em campo: conversas com o comandante Bobo Keita, de Norberto Tavares de Carvalho

(**) Comentário de Nelson Herbert ao poste de 2 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6815: Memórias de um Combatente da Liberdade da Pátria, Carlos Domingos Gomes, Cadogo Pai (2): A elite guineense, nos anos 50


(...) "Apareceram também clubes de futebol como o Sport Lisboa e Benfica, 'por iniciativa de alguns nomes conhecidos da sociedade portuguesa, Gama das Construções [Gama] Lda, Pimenta do Cadastro, Casqueiro, etc.', e o Sporting Club de Bissau, 'sob a égide de Eugénio Paralta, irmão Zé Paralta, Chico Correia'...

"A UDIB já existia, diz-nos Cadogo Pai. No entanto, o desenvolvimento do futebol, 'trouxe mais um bafo de rivalidades, olhando a situação dos jogadores cabo-verdianos, importados pelo Benfica, que, para os atrair, os adeptos bem colocados, tinham que lhes oferecer bons empregos. Bons rapazes, no fundo, Antero, os sinais [?] Tcheca, Marcelino Ferreira (Tchalino), etc." (1ª Parte, p. 6).

(...) A origem das equipas de futebol da Guiné é, por sinal, uma das temáticas que há meses vinha eu já ensaiando propor a 'debate' a (e como contribuição para) o blogue ...Sobre esta temática tenho eu recolhido alguns testemunhos, por incentivo do meu próprio progenitor...por sinal, da leva dos futebolistas cabo-verdianos que povoaram o meio desportivo guineense da época. Aliás, modalidade-rei, com a qual os cabo-verdianos estavam em certa medida familiarizados, através dos ingleses que, pelas passagens pelo Porto Grande da Ilha de São Vicente, introduziram o futebol e o 'cricket'...Quanto a este último. facto curioso, nos demais territórios 'ultramarinos' de Portugal, foi o único onde a modalidade pegou e conserva ainda alguns resquícios da sua prática.

Dessa 'hegemonia' de futebolistas cabo-verdianos...Antero, Marcelino (Gazela), Armando Lopes (Búfalo Bill , meu pai), Tcheca, Júlio Almeida (referenciado como um dos fundadores do PAIGC), na sua maioria atletas do Sport Bissau e Benfica e da UDIB (caso do meu pai que, 'importado' de Cabo Verde, inicia a sua carreira na UDIB,transferindo-se anos mais tarde para o Benfica de Bissau), houve na época a necessidade de se contrabalançar essa então 'primazia' de futebolistas das ilhas, pelas razões já expostas acima...

E seria pois com base nesse pressuposto que nasceria o Sporting Club de Bissau (clube de que fui futebolista júnior, apesar da minha paixão clubística pela UDIB), outrora Império, e no qual militaram numa primeira fase da sua fundação, e na sua quase totalidade , futebolistas originários da Guiné. 'Cabo-verdianos' do Sporting viriam depois... e entre os nomes sonantes dessa época, cito aqui o nome de 'Djinha.'" Almeida...

Por iniciativa dos irmãos Paralta, e de mais um lote de futebolistas, de novo, na sua maioria cabo-verdianos que, na época do defeso do campeonato provincial, praticavam o ténis nos adstritos 'courts' do então estádio Sarmento Rodrigues, nasceria a ideia de fundação do Tenis Club de Bissau...

Eis pois aqui uma proposta de 'debate' e de recolha de testemunhos de que o Blogue tem sido profícuo...

Por exemplo, que papel teve a 'tropa'.  na sustentabilidade do futebol na Guiné, pelo menos a nível das equipas do interior do país, alguns, que com início da guerra deixaram de ser parte do campeonato provincial da Guiné.

Entretanto, relativamente à participação das equipas do futebol guineense, incluindo a própria seleção provincial, nas competições regionais africanas da época...Bobo Keita, um histórico comandante da guerrilha e talentoso futebolista guineense, entretanto já falecido, recordou em tempos, em entrevista por mim conduzida, o seu primeiro contacto com a ideia da necessidade da emancipação do homem africano...Aconteceu pois aquando de uma digressão da seleção provincial da Guiné ao Gana de Kwame Nkrumah (...)

(***) Vd. poste de 15 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6853: Futebol e nacionalismo na década de 1950 (Nelson Herbert, filho do jogador da selecção da província, Armando Lopes ou Búfalo Bill)

(****) Último poste da série > 24 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8942: Notas de leitura (291): Arquitectura Tradicional da Guiné-Bissau (Mário Beja Santos)

domingo, 30 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19345: In Memoriam (332): Armando Duarte Lopes (1920-2018): antiga glória do futebol guineense, morreu no passado dia 18 o "Búfalo Bill"; foi a enterrar na sua terra natal, o Mindelo, ilha de São Vicente, Cabo Verde (Nelson Herbert Lopes, EUA)



Gâmbia > Bathurst > 1953 > Comemorações da entronização da Rainha Isabel II, de Inglaterra > Foto da seleção de futebol da Província Portuguesa da Guiné > De pé, da esquerda para a direita, Antero Bubu (Sport Bissau e Benfica; capitão), Douglas (Sport Bissau e Benfica), Armando Lopes (UDIB), Theca (Sport Bissau e Benfica), Epifânio (UDIB) e Nanduco (UDIB); de joelhos, também da esquerda para a direita: Mário Silva (Sport Bissau e Benfica), Miguel Pérola (Sporting Club de Bissau), Júlio Almeida (UDIB), Emílio Sinais (Sport Bissau e Benfica, Joãozinho Burgo ( Sport Bissau e Benfica) e João Coronel (Sport Bissau e Benfica).

No 1º jogo, a seleção da Guiné ganhou à seleção da Gâmbia por 2-0, com golos de Joãozinho Burgo; no 2º jogo, as duas seleções empataram 2-2 (com golos, pela Guiné, de Mário Silva e Joãozinho Burgo). Antiga colónia inglesa, a Gâmbia acedeu à independência em 1965.

Legenda de João Burgo Correia Tavares: vd. livro Noberto Tavares de Carvalho -  "De campo a campo: conversas com o comandante Bobo Keita", Porto, edição de autor,  2011, p. 41.

Caboverdiano, da Ilha do Fogo, onde nasceu em 1929, Joãozinho Burgo era mais novo do que o Armando Lopes (n. 1920) mas dez anos  mais velho que o Bobo Keita (n. 1939). O auge da sua carreira é em 1960, com o apuramento da seleção de futebol da Guiné para a fase de qualificação para a disputa da taça Kwame Nkrumah.

Vencedora da Série D, a seleção guineense foi disputar a final em Acra, capital do Gana: além de Joãozinho Burgo, fizeram parte dessa equipa Bobo Keita, Júlio Semedo (Swift, guarda-redes), Antero 'Bubu', Vitor Mendes ('Penicilina'), 'Djinha', João de Deus, 'Chito', Luís 'Djató', 'Nhartanga' (que jogará depois em Portugal), entre outros...

O Joãozinho Burgo deixou de jogar na época de 1966/67, para de seguida ir tirar o curso de treinador, ainda em 1967, em Setúbal (onde teve como colegas de curso o José Augusto, o Coluna e o Cavém)

O Bobo Keita  (1939-2009), embora sportinguista de coração, assinou e jogou pelo Sport Bissau e Benfica, clube do seu pai, alfaiate... O mais interessante era verificar a grande popularidade que tinha o futebol nessa época, nomeadamente em Bissau, mas também no interior (Mansoa e Bafatá, por ex.).

O futebol, tal como o exército,  também foi um viveiro de militantes, combatentes e dirigentes ao PAIGC (Júlio Almeida, Júlio Semedo, Bobo Keita, Lino Correia...). Era interessante saber porquê...

O pai do nosso amigo e grã-tabanqueiro Nelson Lopes Herbert, de seu nome Armando Duarte Lopes, foi também, pois, uma antiga glória do futebol cabo-verdiano e guineense ("Armando Bufallo Bill, seu nome de guerra, o melhor futebolista da UDIB - União Desportiva e Internacional de Bissau. Também jogou no Sport Bissau e Benfica, de longe a melhor equipa de futebol da província,  e foi internacional pela selecção guineense.

Trabalhou depois na administração de portos da Guiné, e inclusive na   porto fluvial de Bambadinca, entre 1969 e 1971, na altura em que eu estive em Bambadinca, na CCAÇ 12 (julho de 1969/março de 1971). Tenho pena de o não ter conhecido pessoalmente, mas seguramente que nos cruzámos algumas vezes....


Foto: © Armando Lopes / Nelson Herbert (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].





Armando Duarte Lopes (Mindelo, 1920 - Mindelo, 2018),antiga glória do futebol de Cabo Verde e da Guiné


Fotos: © Nelson Herbert Lopes  (2018. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



Monte Cara, Mindelo, S Vicente, Cabo Verde  >  Monte Cara é uma montanha na parte ocidental da ilha de São Vicente, Cabo Verde. Assemelha-se a um rosto humano olhando para o céu, daí o seu nome, o que significa 'Montanha do rosto'. Foto (e legenda) de cronologia da página do Facebook do nosso amigo Nelson Herbert. (Reproduzida aqui com a devida vénia).


1. Mensagem, com data de 26 do corrente, nosso amigo e grã-tabanqueiro Nelson Herbert Lopes [jornalista, nascido em Bissau, filho da antiga glória do futebol cabo-verdiano e  guineense, Armando Duarte Lopes, o "Búfalo Bill; vive nos EUA, onde trabalha ou trabalhou na VOA - Voice of America):

Meu Caro Luis

Espero que tenha tido um bom Natal cheio de surpresas agradaveis.

Estas linhas apenas para lhe deixar saber que infelizmente o meu “Velho” Armando Duarte Lopes faleceu no passado dia 18 de Dezembro com 98 anos de idade... e foi a enterrar na última sexta feira no seu Mindelo natal. Não resistiu a uma paragem cardíaca...

Um abrço e um Feliz Ano Novo.

Nelson Herbert

2. Comentário do nosso editor Luís Graça:

Tínhamos até agora uma meia dúzia de referências ao pai do nosso amigo Nelson Herbert Lopes (*). Chega agora ao fim da sua viagem terrena. 

Cabo-verdiano do Mindelo, nasceu em 1920 (ou em 1922 ?)  fez o serviço militar na sua terra natal, no RI 23. em 1943, na altura em que também lá estava, como expedicionário, o meu pai, meu velho e meu camarada, Luís Henriques (1920-2012):  ambos tinham uma paixão pelo futebol, e ainda é possível que se tenham conhecido...(**)

O RI 23 foi também a unidade onde prestaram serviço, como expedicionários durante a II Guerra Mundial,  o Ângelo Ferreira de Sousa (1921-2001), pai do nosso camarada Hélder Sousa, e o Porfírio Dias (1919-1988), pai do nosso  camarada Luís Dias. (*)

Ao filho Nelson Herbert e demais família e amigos, ficam aqui registadas as condolências dos amigos e camaradas da Guiné que se sentam sob o poilão da Tabanca Grande. (***)

3. Mensagem de Nelson Herbert, de 20 de outubro de 2011,  21:05 (***)

Assunto: Futebol e Nacionalismo

Caro Luis

"As equipas de futebol deram bastantes militantes ao PAIGC... Era interessante saber porquê...No caso do Bobo Keita, foram decisivas as viagens ao estrangeiro (Ghana, Nigéria...) com a seleção nacional, até 1960, ano em que ele passou à clandestinidade"... E eis (mais) um capítulo da história da Guiné ainda por aprofundar !!!

Repare que a seleção de que Bobo Keita fazia parte, contava igualmente com um dos elementos fundadores do PAIGC, refiro-me pois ao cabo-verdiano Júlio Almeida (guarda redes, que deduzo estar na foto a que fez referência) , então técnico agrário da Granja de Pessubé, [onde trabalhou com] Amílcar Cabral !!!

A indicação e a consequente transferência de Júlio Almeida do futebol mindelense para a UDIB de Bissau foi iniciada, a pedido do clube guineense - creio que [no ínício dos] anos 50- pelo meu pai [ Armadndo Lopes], na altura de férias em S. Vicente, a ilha de natal de ambos.

Convém não perder de vista que, ante a então apertada vigilância da PIDE, a "bola" foi por sinal a via encontrada por Amílcar Cabral para a conglomeração, na periferia de Bissau, de guineenses e cabo-verdianos em redor de ideais nacionalistas.

E falando ainda de futebol, recordo ter lido em tempos no blogue um poste que fazia referência ao papel dos soldados portugueses na Guiné, na "massificação" do futebol naquela antiga província ultramarina.

Obrigado por partilhar!

Mantenhas

Nelson Herbert
_______________

Notas do editor:

(*) Vd. por exemplo postes de;



sábado, 11 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25510: Facebook...ando (55): A nossa tabanqueira Inês Allen inaugurou, em 23 de março último, em Empada, o Estádio de Futebol Xico Allen, dos Metralhas de Empada FC

 










Guiné-Bissau > Região de Quínara >  Empada > Março de 2024 >  A Inês Allen foi inauguar o estádio do Empalhas Metralhas FC, que tem o nome de seu pai, Xico Allen (que foi 1º cabo at inf, CCAÇ 3566, "Os Metralhas", Empada, 1 972/74)  Um sonho tornado realidade. Um sonho lindo. 

Fotos: © Inês Allen / Metralhas de Empada FC  (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. A notícia já tinha sido dada aquii pelo nosso "histórico" (e grande amigo da Guiné-Bissau) Zé Teixeira (*):


(...) Um grupo de 19 pessoas, entre os quais, doze ex-combatentes, na sua maioria companheiros do Xico Allen dos tempos da guerra colonial, acompanham a Inês Allen, nesta sua viagem à Guiné-Bissau, mais propriamente a Empada, para participarem na inauguração do campo de futebol Francisco Allen.

Tudo começou em 2005, quando o Xico Allen descobriu que a placa em cimento com o totem da sua Companhia militar servia de tapete de entrada, numa casa de um importante cidadão local. Revoltado com o que viu, pegou na pesada pedra e trouxe-a para Portugal.

Na sua última visita àquela tabanca, onde esteve cerca de dois anos, ente 1972 e 1974, apercebeu-se de que o clube de futebol local, adotara o nome da sua Companhia operacional – Os Metralhas de Empada, e decidiu devolver a placa com o símbolo da Companhia, ao Clube de Futebol.

Infelizmente a morte montou-lhe uma emboscada antes de ele conseguir voltar a Empada, mas a sua filha Inês tomou a peito a sua decisão, cumpriu a promessa do pai, e foi, no ano passado, a Empada levar o símbolo.

Foi recebida em festa, tal como o pai era recebido. Ele era um filho da terra, muito querido.

Guião da CCAÇ 3566.
Cortesia de Carlos Coutinho (2009)
Não havia campo de futebol, apenas um espaço de terreno, onde se jogava a bola. A Inês, generosa e ativa, avançou com um projeto de angariação de fundos e o campo de futebol, o sonho dos jovens de Empada, ganhou forma. Hoje, é uma realidade, graças ao empenho solidário da Inês, do Ricardo Abreu, do Silvério Lobo, dos Metralhas e de outros camaradas que se uniram e deram forma ao sonho, tornando-o realidade.


O campo de futebol Francisco Allen vai ser 
inaugurado no próximo dia 23 de março 
com a presença da Inês Allen e dos amigos que já se encontram na Guiné-Bissau.

O Ricardo Abreu, grande amigo do Xico Allen e companheiro  
de várias viagens à Guiné-Bissau, nunca vai só. Procura levar na bagagem coisas de primeira necessidade para o povo guineense, nomeadamente medicamentos. Desta vez, levam cerca de 250 quilos em doações de farmácias, nomeadamente comida para bebé, biberões, seringas que vai deixar pelas tabancas por onde vão passar.

Partiram no sábado passado e logo à chegada fizeram uma romagem ao cemitério de Bissau, onde estão sepultados muitos soldados que tombaram ao serviço de Portugal. Vão de seguida dar uma volta pela Guiné-Bissau profunda, passando por, entre outras tabancas, Tite, Nova Sintra e Fulacunda.

No dia vinte e três, vão participar na festa de inauguração do campo de Futebol de Empada -Francisco Allen, com a presença da Inês Allen, a grande impulsionadora e financiadora do projeto da sua construção.

Nessa data será também inaugurada a descascadora de arroz, um projeto inovador que permite libertar as mulheres e sobretudo 
as crianças da tarefa do descasque manual no famoso pilão, 
o que permite libertar tempo às jovens para se dedicarem à sua valorização escolar. 

Zé Teixeira

2.  As fotos que publicamos, retiradas com a devia vénia da página do Facebook da Inês Allen e da dos Metralhas de Empada FC,  falam por si. (***)

Foram editadas por nós. A Inês herdou o amor pela Guiné, por via do pai e da mãe, dois dos primeiros "tugas" a irem à Guiné-Bissau em turismo de saudade (primeiro em 1992, depois, 1994, 1996 e 1998, e por aí fora). Ambos são dois históricos do nosso blogue. Infelizmente já faleceram. Mas a sua memória,  e em especial a do "metralha" Xico Allen, foi devidamemnte homenageada pelos homens, mulheres e crianças de Empada e as suas equipas de futebol (incluindo a equipa feminina), no passado dia 23 de matço.

 É espantoso como o futebol pode também gerar cadeias de solidariedade, emoção e amizade. Bem hajas, Inês. Os teus pais bem se podem orgulhar de ti, lá na estrelinha do céu donde irradiam amor,  sabedoria e inspiração.

____________


(**) Vd. poste de 30 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24269: E as nossas palmas vão para ... (23): Inês Allen, hoje nossa tabanqueira nº 875: Devolveu a Empada, em fevereiro de 2023, a efígie de "Os Metralhas", divisa da CCAÇ 3566 (1972/74), e nome do clube de futebol local, dando cumprimento à última vontade do pai, Xico Allen (1950-2022)

(***) Último poste da série > 10 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25501: Facebook..ando (54): as lindas e gentis mulheres Tandas, de Imberém, Cantanhez: foto da semana de 20 de junho de 2011, da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento

terça-feira, 19 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25289: Ser solidário (266): Deslocação à Guiné-Bissau de um grupo de antigos combatentes acompanhando a Inês Allen, para assistirem à inauguração do Campo de Futebol Francisco Allen, de Empada. Nas malas coisas de primeira necessidade para entregar em diversas tabancas (José Teixeira)

1. Mensagem do nosso camarada José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381 (Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70) com data de 17 de Março de 2024 com a notícia da ida à Guiné-Bissau de um grupo de antigos combatentes mais a Inês Allen, para assistirem à inauguração  do Campo de Futebol Francisco Allen em Empada:

Meus caros amigos: 

A Inês Allen partiu para a Guiné-Bissau com o objetivo de inaugurar o campo de Futebol dos Metralhas de Empada. Junto um pequeno texto, que gostava de ver publicado no nosso blogue.

Um forte abraço de amizade.
Jose Teixeira



A Inês Allen dá cumprimento à vontade do Pai – O saudoso Xico Allen

Um grupo de 19 pessoas, entre os quais, doze ex-combatentes, na sua maioria companheiros do Xico Allen dos tempos da guerra colonial, acompanham a Inês Allen, nesta sua viagem à Guiné-Bissau, mais propriamente a Empada, para participarem na inauguração do campo de futebol Francisco Allen.

Tudo começou em 2005, quando o Xico Allen descobriu que a placa em cimento com o totem da sua Companhia militar servia de tapete de entrada, numa casa de um importante cidadão local. Revoltado com o que viu, pegou na pesada pedra e trouxe-a para Portugal.

Na sua última visita àquela tabanca, onde esteve cerca de dois anos, ente 1972 e 1974, apercebeu-se de que o clube de futebol local, adotara o nome da sua Companhia operacional – Os Metralhas de Empada, e decidiu devolver a placa com o símbolo da Companhia, ao Clube de Futebol.

Infelizmente a morte montou-lhe uma emboscada antes de ele conseguir voltar a Empada, mas a sua filha Inês tomou a peito a sua decisão, cumpriu a promessa do pai, e foi, no ano passado, a Empada levar o símbolo.

Foi recebida em festa, tal como o pai era recebido. Ele era um filho da terra, muito querido.

Não havia campo de futebol, apenas um espaço de terreno, onde se jogava a bola. A Inês, generosa e ativa, avançou com um projeto de angariação de fundos e o campo de futebol, o sonho dos jovens de Empada, ganhou forma. Hoje, é uma realidade, graças ao empenho solidário da Inês, do Ricardo Abreu, do Silvério Lobo, dos Metralhas e de outros camaradas que se uniram e deram forma ao sonho, tornando-o realidade.

O campo de futebol Francisco Allen vai ser inaugurado no próximo dia 23 de março com a presença da Inês Allen e dos amigos que já se encontram na Guiné-Bissau.

O Ricardo Abreu, grande amigo do Xico Allen e companheiro de várias viagens à Guiné-Bissau, nunca vai só. Procura levar na bagagem coisas de primeira necessidade para o povo guineense, nomeadamente medicamentos. Desta vez, levam cerca de 250 quilos em doações de farmácias, nomeadamente comida para bebé, biberões, seringas que vai deixar pelas tabancas por onde vão passar.

Partiram no sábado passado e logo à chegada fizeram uma romagem ao cemitério de Bissau, onde estão sepultados muitos soldados que tombaram ao serviço de Portugal. Vão de seguida dar uma volta pela Guiné-Bissau profunda, passando por, entre outras tabancas, Tite, Nova Sintra e Fulacunda.

No dia vinte e três, vão participar na festa de inauguração do campo de Futebol de Empada -Francisco Allen, com a presença da Inês Allen, a grande impulsionadora e financiadora do projeto da sua construção.

Nessa data será também inaugurada a descascadora de arroz, um projeto inovador que permite libertar as mulheres e sobretudo as crianças da tarefa do descasque manual no famoso pilão, o que permite libertar tempo às jovens para se dedicarem à sua valorização escolar.

Juntamos algumas fotografias da partida.

____________

Nota do editor

Último post da série de 14 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25271: Ser solidário (265): Bilhete-postal que vai dando notícias sobre a "viagem" da campanha de recolha de fundos para construir uma escola na aldeia de Sincha Alfa - Guiné-Bissau (Renato Brito)