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quarta-feira, 28 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13203: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (9): Um exemplo a aplaudir e a seguir: Jorge Pinto, "régulo" de Fulacunda, traz mais dois camaradas com ele, até Monte Real, no dia 14 de junho: José Miguel Louro e António Rebelo, da 3ª CCART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74)


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Foto nº 1 > Lavadeira. Fonte antiga. Todos os soldados tinham a sua lavadeira. A lavagem da roupa era feita na tabanca com água retirada através do único furo, feito por uma companhia de caçadores estacionada em Fulacunda em 68/69 [ou melhor, 69/70], e que penso chamar-se “Boinas Negras” [ CCAV 2482, "Boinas Negras", subunidade que esteve em Fulacunda entre 30 de Junho de 1969 e 14 de Dezembro de 1970, data em que foi rendida e partiu para Bissau]. Contudo, quando havia muita roupa para lavar, as lavadeiras deslocavam-se à fonte antiga (foto), que se localizava na parte exterior do aquartelamento e portanto sujeita a “surpresas” [, acções do IN].
Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2014). Todos os direitos reservados.[Edição: L.G.]

1. Mensagem do nosso leitor e camarada António Rebelo [, 3ª CART/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/1974]:


Data: 27 de Maio de 2014 às 16:08

Assunto: Pedido de inscrição no almoço de 14 de Junho p.f.


Boa tarde, Luís Graça:

Julgo que não nos conhecemos pessoalmemte.

No entanto, temos amigos comuns: Jorge Pinto, José Miguel Louro,  etc... e foi o José Miguel Louro, primeiro, e o Jorge Pinto, depois, quem hoje me deu a boa nova: Vai-se realizar um almoço dos ex-combatentes da Guiné. Queres vir?

Foram-me facultadas as coordenadas e os elementos mais que suficientes para chegar a Monte Real [,por lapso, escreveu Vila Real].

Depois, no contacto telefónico foi-me facultado o nome do blog e aqui estou eu a tentar marcar presença no próximo evento.

Um abraço.

António Rebelo
Massamá

Fulacunda:
3ª CART/BART 6520/72 (1972/1974).

2. Resposta, de imediato,  de L.G. :

António:

Temos todo o gosto em que apareças em Monte Real, no dia 14 de junho... E podes trazer mais gente, familiares, camaradas, amigos... Desculpa o tratamento por tu, mas os camaradas da Guiné, tratam-se por tu.

E, mais do que isso, ficas desde convidado a integrar o nosso blogue (que é coletivo: cada um colabora no mínimo com 2 fotos pessoais, uma atual e outra do século passado, + 1 história, passada no TO da Guiné, 10 linhas, 20 linhas, 1 página...).

Mas - que fique claro! - não tens que te increver no blogue para ires ao nosso convívio que é aberto a todos os nossos leitores, a maioria deles combatentes...

Se depois gostares do ambiente, da nossa camaradagem, tens sempre as portas aberta do blogue... O mesmo é dizer da nossa Tabanca Grande onde cabemos todos com tudo o que nos une e até com aquilo que nos separa... (Se reparares, o blogue tem algumas regras, simples, de convívio...).

Somos quase 660 membros, mas infelizmente 5% já morreu... Em média, entram 5 a 6 novos membros por mês.  E publicamos uma média de cinco textos (postes) por dia. Existimos há 10 anos: o blogue vem do ano de 2004...

Vou dar conhecimento do teu pedido, à comissão organizadora do IX Encontro Nacional da Tabanca Grande, o Carlos Vinhal e o Miguel Pessoa...

Um alfabravo (ABraço), sê bem vindo a bordo, António!

Luís Graça

PS - O Jorge Pinto, nosso comum amigo e camarada, tem aqui uma série de belíssimos textos e fotos sobre a tua/vossa Fulacunda... Clica aqui,.


3.  Mensagens, de ontem,  de Jorge Pinto [, ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74,]  respondendo a perguntas do editor;:


[, foto á esquerda: Jorge Pinto, hoje professor de história do ensino secundário, reformado; natural de Alcobaça, vive em Sintra]



(i) Luís, meu amigo: Fico muito satisfeito por o António Rebelo (Rebelo na gíria), ter decidido ir ao nosso encontro em Monte Real. Sei que vai gostar de estar connosco e nós com ele, também. Há muito que o andava a "tanguear"... Fica descansado que ele não vai parar a Vila Real...!!!, pois irá comigo e com José Miguel Louro. É um belíssimo amigo da área das Ciências Humanas.... (Sociologia, curso tirado depois de vir da Guiné)(...)

(ii) (...) Respondendo informo que o José Miguel Louro era o Furriel vago-mestre da nossa companhia. Depois de vir da Guiné voltou para a repartição de finanças de Sintra e Cascais e por aqui andou até se reformar.

Informo também que tenho várias fotos de Fulacunda tiradas em Maio, Junho e Julho de 1974. Tenho também algumas de Lisboa tiradas na última semana de Abril de 1974, pois estava cá de férias nessa data. Está prometido que as enviarei para o Blog.

Recebe o meu "forte Abraço" (...)

Jorge Pinto

______________

Nota do editor:

Último poste da série >  26 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13195: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (8): Continuam abertas as inscrições (n=78) e continuam a chegar as votações (n=55) para a escolha das "cinco frases ou slogans que melhor caraterizam o espírito da Tabanca Grande"... Ao mesmo tempo, amigos e camaradas vão fazendo a "prova de vida"...

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2508: Guileje: Simpósio Internacional (1 a 7 de Março de 2008) (16): Dicas para o viajante (Vitor Junqueira)

Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2006 > Um rua, esburacada, da capital... Foto do nosso querido amigo Hugo Costa, filho do Albano Costa, de Guifões, Matosinhos. O Hugo já foi duas vezes à Guiné-Bissau, em Novembro de 2000, com o pai e outros camaradas nossos, e em Abril de 2006, com um grupo onde se incluía o A. Marques, o Xico Allen e a Inês Allen (1).

Foto: © Hugo Costa (2006). Direitos reservados.

1. Penso que será útil voltar a reproduzir aqui um poste em que o nosso querido amigo e camarada Vitor Junqueira nos deixou as suas dicas de viajante que conhece a África e a Guiné-Bissau onde tem ido com alguma frequência. Além da sua experiência de andarilho do mundo (o Vitor foi, em tempos, oficial da marinha mercante), o Vitor é um homem de bom senso e de grande sensibilidade humana, generosidade e camaradagem.

O Vitor, que vive em Pombal e que é médico, tem estado afastado do nosso convívio por razões técnicas: está há meses sem computador pessoal e, portanto, com mais dificuldades em visitar o nosso blogue e ver os nossos mails. Todos temos sentido a sua falta. Mas eu respeito o seu silêncio, embora esperando que seja transitório. Recorde-se que o Vitor foi o entusíastico e generoso organziador do 2º encontro da nossa Tertúlia, em Abril de 2007 (2)

Em jeito de pequena homenagem ao nosso Vitor - de cujos poestes temos saudades (3) - , aqui ficam as dicas que ele escreveu, em tempos, em resposta a um pedido de ajuda , feito à nossa tertúlia por um ex-combatente, António Osório, de Vila Nova de Gaia, que estava a pensar em ir voltar à Guiné, em viagem organizada (que eu não cheguei a saber se concretizou)...

É de ter em conta que o texto, embora datando de há um ano e picos, não perdeu actualidade, frescura e pertinência... E só podia ter sido escrito por ele, que é dos nossos tertulianos mais talentosos em matéria literária... Outros achegas, de camaradas e amigos da Guiné-Bissau que lá tenham ido recentemente, também serão bem vindas para publicação aqui no nosso blogue... Ver também o portal do nosso amigo e camarada Carlos Fortunato> Guiné-Bissau > Viagens (actualizado em 31/08/2007). (LG).


2. Poste de 7 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1255: Dicas para o viajante e o turista (1): A experiência e o saber do Vitor Junqueira

(...) Prezado Osório,

Eu sou o Vitor Junqueira de Pombal e estou a responder ao pedido de esclarecimento acerca da eventual programação de uma viagem que pretende fazer à Guiné Bissau, na companhia de sua esposa.

De facto já viajei por diversas vezes para a Guiné, mas não vou fazê-lo no próximo dia 17 Novembro de 2006 (e como eu gostaria!). Posso no entanto dar-lhe algumas indicações baseadas na minha experiência pessoal. Assim

1- Viagem:

Vai a qualquer agência de viagens e compra as passagens na TAP, que é actualmente o único operador. Os preços subiram muito nos últimos tempos devendo rondar os 700 euros + taxas [Actualmente andará pelos mil euros, tudo incluído].

2- Vistos:

A própria agência que vender as passagens, deverá encarregar-se desse assunto. O preço anda à volta de 40 euros por pessoa + o trabalho da agência. Deverá entregar os passaportes + duas fotografias de cada passageiro com uma semanita de antecedência, que é para não haver surpresas.

3 - Hotel:

Recomendo o Hotel 24 de Setembro (4). Fica localizado na zona de Sta. Luzia sendo as suas instalações resultantes do aproveitamento, para esse fim, do antigo clube de oficiais. A baixa fica à distância de um agradável passeio a pé. A zona é calma e segura, mas os cuidados habituais não podem ser descurados.

Note que pelos padrões europeus, os hotéis são maus e caros. Lençóis limpos, ar condicionado ainda que barulhento e água para o banho (quantas vezes despejando o caneco por cima da cabeça!), é tudo quanto podemos exigir. No hotel que referi, se optar por ele, vão pedir-lhe por um quarto duplo cerca de 50.000 CFA, equivalente a 16 contos, com pequeno almoço. Mas se negociar um pouco e disser que é amigo do Sr. Manuel Neves, um empresário meu amigo com bons contactos junto da gerência, talvez lho deixem por 35.000 (11 contos). Para fazer a reserva, contacte o sr. Moisés que é uma espécie de subdirector através do telef. 00.245.7237570.

Em Bissau, existem vários restaurantes, aceitáveis, com preços que não sendo baratos também não são exorbitantes. Quando forem para o interior, previnam-se com água, fruta e conservas. Até podem (e devem) levar umas latitas de cá.

4 - Bagagem:

A roupa deve ser apenas a estritamente necessária para a estadia, transportada em sacos que caibam nos porta-bagagens da cabine (evitar as malas de porão), e adequada ao clima: dias quentes e relativamente húmidos sem chuva durante o dia, mas frescos à noite durante o mês de Janeiro.

Não esquecer de meter no saco uma pequena quantidade de sabão rosa ou azul. Uma T shirt, umas cuecas ou um par de meias, lavam-se à noite e deixam-se a secar frente ao ar condicionado. No dia seguinte ... é só vestir. E na falta de sabonete, champô ou creme de barbear, entra o sabãozito. De resto, quanto menos tralha, melhor.

5 - Segurança:

Na Guiné não há registo de criminalidade violenta exercida contra os turistas. Eu nunca tive qualquer problema, e posso garantir que se pode viajar tranquilamente por todo o território sem qualquer receio. No entanto, água benta e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém.

Como é sabido, a pequena delinquência existe em todo o mundo. Vamos então tomar algumas precauções. Em primeiro lugar, é fundamental não dar nas vistas. Para tanto, comecemos pelas roupas, que devem ser tanto quanto possível idênticas às das pessoas que lá vivem e trabalham. São de excluir os calções, roupas ou calçado de marca, objectos de ouro, relógios caros (ou de estimação!), máquinas de filmar ou fotogáficas a tiracolo (sempre no bolso, excepto quando estão a ser utilizadas ...). O mesmo para o telemóvel.

Relativamente aos documentos, eu costumo levar apenas o passaporte e uma fotocópia do BI para trazer no bolso no país de destino, para além dos meios de pagamento que tenciono utilizar. Note que isto é válido para os países pouco desenvolvidos, como para os ditos civilizados. Toda aquela carteirada de documentos que habitualmente nos acompanha para todo o lado, fica de férias em Portugal. E no cofre do hotel (quando existe), ficarão guardados, o passaporte, os valores em dinheiro, o cartão de crédito e os objectos valiosos. Nunca deixe quaisquer valores à vista no quarto. As malas devem ter fecho de segurança ou um bom cadeado.

O regresso ao hotel ser feito a pé, deve ocorrer antes do anoitecer. Na rua, as conversas ou qualquer comentário entre si e a esposa devem ser feitos de modo a que outras pessoas não se apercebam do seu conteúdo ou da razão da vossa presença no país (turismo, visita a familiar, trabalho etc.), nem mesmo da nacionalidade. Para qualquer digressão nocturna, chamem não o António (!) mas o táxi.

6 - Saúde (5):

Não recomendo a profilaxia anti-palúdica. É preferível fazer a prevenção através da observação de algumas regras e comportamentos. Durante o dia pas de problème! Mas se a zona a visitar for particularmente húmida (pantanosa), pode usar-se um bom repelente, comprado em Portugal. Existem à venda de diversas marcas, com excelentes características cosméticas.

À noite, no restaurante, discoteca ou simples passeio, usar sempre roupa com mangas compridas e calças, cobrindo as partes expostas (mãos e face) com o repelente (spray ou stick).

As meias de desporto (Sportzone, por ex.) são também uma boa opção, pois oferecem algum conforto aos pés durante as caminhadas e à noite, dada a sua espessura, impedem que o ferrão dos mosquitos nos atinja a pele dos tornozelos. Até podemos meter as calças por dentro delas.

Para aquelas pessoas que se sentem mais seguras se tomarem o comprimido contra a malária (ou paludismo, é a mesma coisa), o medicamento que recomendo é o MEPHAQUIN. Toma-se um comprimido uma semana antes do embarque, outro na véspera da partida e daí para a frente, um por semana sempre no mesmo dia. Mínimo: 4 semanas de tratamento.

Do estojo de primeiros socorros deve constar também o paracetamol como analgésico e antipirético, um anti-inflamatório - por ex., Donulide, ou Voltaren para quem não sofre do estômago - , um anti-diarreico que pode ser o Imodium, um antibiótico multi-usos de que uma boa referência continua a ser o Clavamox, Augmentim, etc. Um ligadura de 7 cm (largura) e alguns pensos rápidos podem ser úteis.

Mas tão importante quanto isto tudo, é fazer um bom seguro de viagem, que garanta a evacuação aérea de urgência e/ou repatriamento em caso de doença súbita ou acidente.

7 - Meios de pagamento:

EURINHOS, muitos! Notas de 5, 10, 20 e 50. E algumas moedas para dar, muito parcimoniosamente, aos putos que constituem a comissão de boas vindas, logo à chegada ao aeroporto e que não deixarão de ser bastante persuasivos em algumas ruas de Bissau, mas não no mato.

Os câmbios fazem-se na rua em Bissau, onde aparecem os angariadores. Eu prefiro as Casas de Câmbio que se encontram praticamente todas concentradas numa rua da cidade. Cada euro vale à roda de 650 francos CFA (Communauté Francofone Africaine). [Actualmente, 1 Euro = 655,597 CFA].

Para as crianças das aldeias a visitar, é conveniente levar alguns rebuçados, que não derretam com o calor. Esferográficas e outro material escolar assim como roupas são muito apreciados mas muito difíceis de distribuir visto que é impossível levar quantidades que contemplem mais do que uma dezena ou duas de crianças, e elas caem-nos em cima como um enxame. Fica ao critério de cada um, mas se optarem por levar, então entreguem a alguém da tabanca e essa pessoa é que fará a distribuição.

[Vd. também, nas Informações Úteis, a informação sobre Bancos, em Bissau, no sítio oficial do Simpósio Internacional de Guiledje (6)].

8 - Deslocações:

Táxi ou Toca-Toca (transporte colectivo). O táxi, bem negociado, pode ser uma boa solução e vai a todo o lado. Em Bissau, numa papelaria próxima dos Correios vendem-se óptimos mapas rodoviários da Guiné de que convém adquirir um exemplar logo à chegada, a fim de planear as viagens.

Uma boa norma consiste em viajar sempre na companhia de um guineense da sua confiança que lhe poderá ser recomendado por um amigo, alguém do hotel, um comerciante ...

9 - Nota final:

Os tempos mudaram, e a nossa relação com os guineenses não pode ser a mesma que se verificava quando por lá passámos há trinta e tal anos, com uma guerra então em curso. Eles estimam-nos, mas apreciam muito o tratamento de igual para igual.

Nunca se descuide com qualquer atitude de sobranceria ou arrogância tão frequente em pessoas que visitam África pela primeira vez. Evite o tratamento por TU, mesmo tratando-se de jovens ou crianças.

Nunca desdenhe dos produtos ou das intenções dos vendedores de rua. Sorria, converse com eles sem lhes transmitir a falsa ilusão de que está interessado se não for esse o caso, mas nunca lhes vire as costas. Nem os ignore baixando a cabeça e seguindo em frente. Uma moedita, nem que seja apenas de 20 cêntimos, que se dá a um garoto por aqui, a outro por ali, pode operar milagres no campo da comunicação.

Corresponda sempre a uma saudação e tome a iniciativa de cumprimentar quando achar que a bola está do seu lado. Para isso basta levantar o braço e fazer um ligeiro aceno de cabeça. Por outro lado, são proscritos os salamaleques bem como as atitudes de subserviência. Mostre compreensão pelas manifestações de pobreza ou mesmo miséria, material e humana, que vai sem dúvida encontrar. Não escarneça delas através do riso ou do gesto.

Do mesmo modo, situações ou atitudes que para nós podem parecer caricatas ou mesmo condenáveis, como por exemplo a abordagem por uma autoridade maltrapilha e ignorante, devem ser tratadas com pézinhos de lã. E muita compreensão.

Não se esqueça que estas pessoas podem não ter recebido um único salário desde há meses encontrando-se em situação desesperada. O lado positivo da coisa é que um qualquer berbicacho se pode resolver-se com uma discreta gratificação de 500 ou 1000 CFA. A melhor forma de lidar com esta gente é nós próprios deixarmos a cabeça de europeu aqui em Portugal e no seu lugar atarrachar uma de africano à chegada.

Durante a viagem é que não sei como vai ser! Em qualquer lado, cidade ou interior, não deixe de manifestar um particular respeito pelos idosos a quem tratará por Tio ou Tia. Sendo a população maioritariamente muçulmanna (2/3), a família tem para eles um valor que entre nós já lá vai. Por isso leve fotografias dos filhos e netos que mostrará quando achar oportuno. Vai ver quanto sobe no patamar da consideração desta gente simples. Se a sua máquina fotográfica ou de filmar é digital, mostre-lhes no display algumas das fotos que tirou e recolha um endereço para mais tarde enviar as cópias. Nunca prometa nada se não tenciona cumprir. Um africano nunca esquece o bem ou mal que lhe fizerem.

Dito isto, resta-me desejar-lhe boa viagem e uma óptima estadia.

Cumprimentos

Vitor Junqueira,
ex-Alf Mil da CCAÇ 2753 - Os Barões

(Madina Fula, Bironque, Saliquinhedim/K3, Mansabá , 1970/72).

________

Notas de L.G.:

(1) Vd. postes de:

28 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCVIII: A tertúlia do Porto (Albano Costa)

4 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXXI: Do Porto a Bissau (1): o jipe está de saída (Albano Costa)

(2) Vd. poste de:

9 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1649: 2º Encontro da nossa tertúlia: Pombal, Restaurante Manjar do Marquês, 28 de Abril de 2007 (Vitor Junqueira / Luís Graça)

29 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1709: Tertúlia: Encontro em Pombal (1): Malta de cinco estrelas (José Martins)

(3) Vd. postes do Vitor Junqueira:

18 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1084: O guerrilheiro desconhecido que foi 'capturado' no K3 por um básico da CCAÇ 2753 (Vitor Junqueira)

23 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1110: Do Bironque ao K3 ou as andanças da açoreana CCAÇ 2753 pela região de Farim (Vitor Junqueira)

30 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1133: Origem da expressão 'Siga a Marinha" (Vitor Junqueira)

31 de Outubro de 2006> Guiné 63/74 - P1224: Blogue: não ao politicamente correcto (Vitor Junqueira)

11 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1266: Estórias de Bissau (1): Cabrito pé de rocha, manga di sabe (Vitor Junqueira)

31 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1475: A chacun, sa putain... Ou Fanta Baldé, a minha puta de estimação (Vitor Junqueira)

10 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1581: O elogio dos pára-quedistas das 121ª e 122ª CCP (Nuno Mira Vaz / Vitor Junqueira)

30 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1716: Tertúlia: Encontro em Pombal (7): Camaradas radicais (Paulo Santiago / Vitor Junqueira)

3 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1725: Tertúlia: Encontro em Pombal (10): O nosso bom gigante J. Mexia Alves (Vitor Junqueira)

3 de Maio de 2007 > Guine 63/74 - P1728: Tertúlia: Encontro em Pombal (11): A parábola do porco e da tesoura de barbeiro (David Guimarães / Vitor Junqueira)

(4) Vd. poste de 4 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2503: Guileje: Simpósio Internacional (1 a 7 de Março de 2008) (15): Chegada a Bissau, 29 de Fevereiro, formalidades, recepção, hotéis

(5) Sítios sobre Consulta do viajante / Medicina tropical

(i) UCS - Unidade de Cuidados Integrados, SA (Grupo TAP) > Consulta do viajante

Vd. folhetos da UCS sobre:

Quando Viaja de Avião,

Doenças Tropicais - Malária

Diarreia do Viajante.


(ii) Instituto de Higiene e Medicina Tropical > Consulta do viajante / medicina tropical

Rua da Junqueira, 96,
1349-008 Lisboa
Telefones: 213652600 geral - 213627553 directo

(iii) Outros sítios (em inglês):

http://www.who.int/ith/en/

http://www.cdc.gov/travel/

http://www.istm.org/

http://www.safetravel.ch/safetravel/

http://www.astrium.com/


(6) Lista dos bancos existenets em Bissau:

Banco da África Ocidental (BAO)Rua Guerra Mendes, 18A/18C, C.P. 1360 – Bissau;
Tel: (245) 20 34 18 / 19 Fax: (245) 20 34 12

Banco Regional de Solidariedade (BRS)
Rua Justino Lopes
Tel: +245 20 71 12 /3

Banco da União (BDU)
Av. Domingos Ramos
Tel: +245 20 71 60

Ecobank Guiné-Bissau
Avenida Amílcar Cabral
Tel: +245 20 73 60 / 1

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Guiné 61/74 - P20126: Jorge Araújo: ensaio sobre as mortes de militares do Exército no CTIG (1963/74), Condutores Auto-Rodas, devidas a combate, acidente ou doença - Parte I


Foto 1 – Nuvem de fumo provocada pela explosão de mina anticarro, provavelmente accionada por viatura militar no decurso de uma coluna auto. Como sabemos, estas minas (A/C), bem como as anti-pessoais (A/P), constituíam, de facto, um enorme obstáculo ao desenvolvimento das acções militares e um permanente perigo para a vida de cada um dos combatentes das forças terrestres, como provam as imagens e os relatos que seleccionámos para a elaboração deste trabalho.

Fonte: Centro de Documentação da Universidade de Coimbra (arquivo electrónico), com a devida vénia.





O nosso coeditor Jorge Alves Araújo

ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494 

(Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior,

indigitado régulo da Tabanca de Almada; tem c. 225 registos no nosso blogue.



ENSAIO SOBRE AS MORTES DE MILITARES DO EXÉRCITO, NO CTIG (1963-1974), DA ESPECIALIDADE DE "CONDUTOR AUTO RODAS": COMBATE, ACIDENTE, DOENÇA (PARTE I)


1. INTRODUÇÃO


Continuando mobilizado para as acções incluídas nos trilhos da investigação, nomeadamente no estudo da temática das "baixas em campanha", por permitir não só a sua organização quantitativa e qualitativa como a consequente análise demográfica, levo hoje ao conhecimento do fórum a abertura de mais um dossier "Ensaio", este abordando os casos de mortes de militares do Exército durante a guerra no CTIG (1963-1974), da especialidade de "condutor auto rodas", identificados na literatura "oficial" publicada pelo Estado-Maior do Exército.

Para além do processo de colecta e organização dos dados, foi possível cruzá-los com algumas narrativas históricas específicas, produzidas por cada um dos sujeitos nelas envolvidas, com recurso às memórias que constam do importante espólio da «Tabanca Grande» e a outras que, por via do seu aprofundamento, encontrámos em diferentes lugares. Estes casos serão apresentados ao longo dos diferentes fragmentos.

Importa referir, neste contexto, que a opção por esta "especialidade" da organização militar foi influenciada pelo facto da primeira morte em combate, ocorrida no dia 23 de Janeiro de 1963, em Tite, ter sido  a de um "condutor auto rodas", o camarada Veríssimo Godinho Ramos, natural de Vale de Cavalos, Chamusca.

Porque se trata, como referido, de um "ensaio", este apuramento pode vir a ser alterado em função de outras colaborações e/ou informações complementares que, por estarem dispersas, possam surgir após a avaliação realizada por cada um de vós. A esta situação acresce o facto de existirem registados, nos dados oficiais, óbitos onde consta somente o posto do militar falecido.

Por razões metodológicas e estruturais do presente trabalho, nesta primeira parte não se referem os nomes dos sujeitos em cada uma das diferentes ocorrências, opção que será alterada a partir da segunda narrativa.

2. ANÁLISE DEMOGRÁFICA DAS MORTES DE MILITARES DO EXÉRCITO, NO CTIG (1963-19
74), DA ESPECIALIDADE DE "CONDUTOR AUTO RODAS": COMBATE, ACIDENTE, DOENÇA (n=191)

A análise demográfica que comporta esta investigação, e as variáveis com ela relacionada, incidiu, como referido na introdução, sobre os casos de mortes de militares do Exército durante a guerra no CTIG (1963-1974), da especialidade de "condutor auto rodas", identificados nos "dados oficiais" publicados pelo Estado-Maior do Exército, elaborados pela Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974), 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II, Guiné; Livros 1 e 2; 1.ª Edição, Lisboa (2001).

O tratamento estatístico que seguidamente se dá conta está representado por gráficos e quadros de distribuição de frequências, simples e acumuladas, conforme se indica em cada um dos títulos. Cada gráfico e respectivo quadro relata os valores quantitativos de cada um dos elementos das variáveis categóricas ou quantitativas relacionadas, tendo em consideração os objectivos que cada contexto encerra.


Gráfico 1 – Distribuição de frequências segundo a variável número de mortes de condutores auto rodas do Exército, por posto (1963-1974) – (n=191)

O estudo mostra que dos indivíduos que constituíram a população deste estudo (n=191), 93.2% (n=178) dos casos de mortes de condutores auto rodas do Exército eram soldados, enquanto 13 (6.8%) casos eram 1ºs. Cabos.



Gráfico 2 – Distribuição de frequências segundo a variável número de mortes de condutores auto rodas do Exército, por ano (1963-1974) (n=191)

O estudo mostra que durante o período em análise (1963-1974) em todos os anos ocorreram mortes de condutores auto rodas. Os valores mais baixos foram verificados em 1963 (n=7) e 1970 (n=10). Durante os doze anos em que decorreu o conflito, por três vezes o número de mortes ultrapassou as duas dezenas de casos: em 1966 (n=21), em 1967 e 1968 (n=24) cada.



Quadro 1 – Quadro das mortes de condutores auto rodas do Exército por ano e território de recrutamento (1963-1974)(n=191)



Da análise ao quadro supra (Quadro 1), verifica-se que o número total de condutores auto rodas do Exército que morreram no CTIG (1963-1974), e que constituíram a população deste estudo, é de 191. Verifica-se, também, que desse total, 171 (89.5%) eram militares do continente, enquanto 20 (10.5%) eram do recrutamento local. 

Quanto ao número de continentais, 162 (94.7%) casos eram soldados e 9 (5.3%) casos eram 1.ºs cabos. No âmbito do recrutamento local, 16 (80%) casos eram soldados, enquanto 4 (20%) casos eram 1.ºs cabos.



Gráfico 3 – Distribuição de frequências segundo as causas de morte de condutores auto rodas do Exército, por ano e por categorias (combate, acidente, doença) (1963-1974)(n=191)


O estudo mostra que durante o período em análise (1963-1974) em todos os anos ocorreram mortes de condutores auto rodas do Exército em todas as categorias em que foram divididas as suas causas, com excepção do ano de 1963, em que não se observaram mortes "por doença" (Gráfico 3).


Os valores mais altos foram verificados em 1966 e 1967 (n=15 casos cada) e em 1968 (n=14 casos),  na variável "em combate". 




Quadro 2 – Quadro das causas de morte de condutores auto rodas do Exército por ano e por categorias (1963-1974) (n=191)


Da análise ao quadro supra (Quadro 2), verifica-se que as causas de morte de condutores auto rodas do Exército, no CTIG (1963-1974), ocorreram, em primeiro lugar na variável "combate", com 112 (58.6%) casos, seguida pela variável "acidente", com 57 (29.9%) casos e, finalmente, a variável "doença", com 22 (11.5%) casos.




Gráfico 4 – Distribuição de frequências segundo as causas de morte "em combate" de condutores auto rodas do Exército, por ano e por categorias (1963-1974)(n=112)


O estudo mostra que durante o período em análise (1963-1974) o número total de condutores auto rodas do Exército que morreram em "combate" é de 112. Na categoria de "contacto", o valor mais alto foi verificado em 1964 (n=12) casos, seguido dos anos de 1966 e 1967 (n=10) casos cada (Gráfico 4). 


Na categoria de "minas", o ano que registou maior score foi o de 1968 (n=7) casos. Na categoria de "ataque ao quartel", os anos de 1965, 1969, 1970 e 1972, tiveram dois casos cada.



Quadro 3 – Quadro das causas de morte em "combate" de condutores auto rodas do Exército por ano e por categorias (1963-1974) (n=112)


Da análise ao quadro supra (Quadro 3), verifica-se que as causas de morte "em combate" de condutores auto rodas do Exército, no CTIG (1963-1974), ocorreram, em primeiro lugar na variável "contacto", com 70 (62.5%) casos, seguida pela variável "minas", com 30 (26.8%) casos e, finalmente, a variável "ataque ao aquartelamento", com 12 (10.7%) casos.




Quadro 4 – Quadro das causas de morte "por acidente" de condutores auto rodas do Exército por ano e por categorias (1963-1974)(n=57)

Da análise ao quadro supra (Quadro 4).  verifica-se que as causas de morte "por acidente" de condutores auto rodas do Exército, no CTIG (1963-1974), ocorreram, em primeiro lugar na variável "acidente de viação", com 24 (42.1%) casos, seguida pela variável "acidente com arma de fogo", com 16 (28.1%) casos, em terceiro "por outros motivos" com 10 (17.5%) casos, e, finalmente, "por afogamento", com 7 (12.3%) casos.



Quadro 5 – Quadro das causas de morte "por doença" de condutores auto rodas do Exército por ano e por categorias (1963-1974)(n=22)

Da análise ao quadro supra (Quadro 5), verifica-se que as causas de morte "por doença" de condutores auto rodas do Exército, no CTIG (1963-1974), ocorreram, em primeiro lugar na variável "Hospital Militar 241 - Bissau", com 10 (45.5%) casos, seguida pela variável "Metrópole", com 7 (31.8%) casos, e, por último, "Unidade Militar", com 5 (22.7%) casos



3.QUARTEL DE TITE - 23 DE JANEIRO DE 1963: A PRIMEIRA BAIXA - O CASO DO SOLDADO 'CAR' VERÍSSIMO GODINHO RAMOS



Foto 2 (Quartel de Tite em 1964) – Do álbum do camarada Santos Oliveira (2.º Sarg Mil PMort 912; Como, Cufar e Tite (1964/1966) – P16812 «O início da guerra colonial no CTIG, contada pelo outro lado: entrevista, de 2001, como o homem que liderou o ataque a Tite, Arafam 'N'Djamba' Mané (1945-2004) - Parte II (José Teixeira)». Ou, do mesmo autor da foto, «A Guiné no meu tempo… Da mobilização ao regresso», p38, com a devida vénia.

Foi pelo acesso assinalado acima (foto 2) (porta de armas do quartel de Tite) que em 23 de Janeiro de 1963, 4.ª feira, um numeroso grupo de autóctones levou à prática o primeiro ataque a uma unidade militar do Exército Português presente no território, ficando este na historiografia da Guerra do Ultramar como sendo o prenúncio do conflito armado, no CTIG, e que serviu de ponto de partida para a perenização das acções da guerrilha.

Nas diferentes narrativas sobre este episódio, que ao longo dos anos foram sendo publicadas, encontramos pormenores divergentes que o transformam em objecto histórico onde será difícil encontrar uma unanimidade factual.

Aceita-se que assim continue a ser, na medida em que um pequeno detalhe pode alterar a percepção sobre a "verdade dos factos", particularmente porque ocorreram durante a noite e onde o desenrolar das acções teve por base o recurso ao efeito surpresa. Por outro lado, esse efeito surpresa acabou por influenciar todas as narrativas (escritas e orais), uma vez que os protagonistas, de um lado e do outro, agiram certamente por impulso, ainda que cada qual soubesse do seu papel.


Foto 3
Porém, existem detalhes de grande unanimidade como sejam a hora do início do ataque (01h45) e a morte de um soldado [condutor auto rodas, Veríssimo Godinho Ramos, foto 3 ao lado].

Recuperamos, agora, alguns detalhes divergentes entre si retirados das fontes consultadas.

O primeiro dá conta das informações remetidas para Lisboa pelo gerente do BNU, em Bissau, citadas no P19291 «Notas de leitura: Os cronistas Desconhecidos do Canal do Geba» pelo camarada Mário Beja Santos, do seguinte teor:

"Em complemento à nossa carta-extra de 21 do corrente, cumpre-me informar V. Exas. que, segundo nos acaba de ser revelado [não são citadas as fontes], à 01h45 horas de hoje [23.Jan.1963], um grupo de terroristas munidos de pistolas-metralhadoras, atacaram o Quartel de Tite, sede do Batalhão [BCAÇ 237] que faz a cobertura da área de Fulacunda. Uma bomba de regular potência [?] foi lançada, causando a morte de um soldado [condutor auto rodas], e ferindo outros sem gravidade. A tropa prontamente respondeu ao ataque, fazendo numerosas baixas entre os terroristas."

Neste contexto, aproveitamos agora para citar algumas das memórias escritas na brochura de 2002 - «Tite: 1961/1962/1963, Paz e Guerra» - de que é autor o camarada Gabriel Moura, do Pel Mort 19, na medida em que era um dos três militares de serviço, acordados, naquela ocasião e, por isso, considerado como testemunha privilegiada.

Conta que o seu serviço de vigia ao aquartelamento de Tite, naquele início do dia 23 de Janeiro de 1963 era da meia-noite até às duas horas. Tinha por missão percorrer o caminho, pelo lado de fora do arame farpado, com as luzes de iluminação colocadas dentro do aquartelamento e projectando o seu foco para o caminho que teria de percorrer, desde a messe de sargentos (parte de baixo, fora do aquartelamento) até à messe dos oficiais (parte de cima e fora do aquartelamento) na estrada que passava por Tite e seguia para Nova Sintra, Fulacunda e Buba (foto 2).

Desde o primeiro minuto da sua vigia, sentiu, como é comum dizer-se "um arrepio pelas costas abaixo" que lhe causou uma desagradável sensação e um pressentimento deveras esquisito, face ao aparentemente, e de acordo com o zero de informação de que os responsáveis davam às tropas, nada que havia a recear!

Como de costume, naquela noite, eram três os militares em vigia. Ele na frente do aquartelamento, percorrendo para baixo e para cima com as luzes a "bater-lhe nas costas" e o lado do mato negro como carvão. Outro camarada fazia a vigia na porta da prisão (dentro do aquartelamento), onde estavam mais de cem presos. O terceiro fazia a vigia do lado do "Calino" mas pela parte de dentro do arame farpado.

Quando chegou, na sua primeira passagem, 

junto do "Cavalo de Frisa", que dava entrada aos veículos pesados e ligeiros no aquartelamento, pela parte da frente, pensou que aquela noite iria ser como tantas outras: um combate sem tréguas aos milhões de "sanguinários inimigos" que em sua volta tentavam sugar-lhe o sangue e os pensamentos (os mosquitos). (…) Todos dormiam, apenas os três militares de serviço estavam acordados (pelo menos não estavam deitados). [op.cit. pp79-80 – P17640]

Passado algum tempo viu os dois primeiros pretos a surgir, ao fundo, vindos do mato, correndo em direcção ao cavalo de frisa, logo seguidos de muitos mais, tendo apenas tempo para gritar em crioulo: "Jube onde bó vai"? (Tu, onde vais?). No mesmo instante, atirou-se para o chão, quando do mato foram disparadas rajadas de metralhadora, em sua direcção, fazendo ricochete em vários pontos do caminho, levantando poeira, sem que nenhuma das balas das rajadas das metralhadoras o acertasse, talvez porque o ângulo do seu corpo, no chão, não fosse fácil para os atiradores e fizesse que os seus disparos errassem o alvo.

Apertou o gatilho da metralhadora G3 e começou a disparar em direcção a uma pequena multidão de pretos que começou a rastejar no caminho para entrar no aquartelamento. Outros, os da frente, os que mais se aproximaram do cavalo de frisa, ainda conseguiram movê-lo e entrar no aquartelamento, indo pela parada numa grande confusão, pelo medo que as rajadas da sua metralhadora estavam a causar juntamente com as dos outros para si. (…)

Nos minutos iniciais, todas as reacções do interior do aquartelamento, perante os atacantes que conseguiram entrar no aquartelamento, foram lentas e há medida que cada um dos militares ia acordando e saltava da "tarimba" (cama), em cuecas, para ver o que se passava.

A cada minuto que se passava, a confusão era maior. Os camaradas, naquela grande confusão, de uns a sair pelos estreitos corredores entre as camas, umas por cima das outras, onde só cabia uma pessoa, se o de cima descia sem reparar no de baixo, caía em cima dele, ainda mais com as luzes apagadas, lá conseguiram ir buscar as suas armas às casernas, descarregadas, por vezes, por ordem "superior", sem algumas peças para evitar o roubo ou apropriação do "inimigo" e a sua utilização. Deu, como era de esperar uma grande "barraca", pondo os militares uns contra outros, com as casernas às escuras, uns com armas junto das camas ou nos armeiros. O nervosismo 'aos montes', o medo, a falta de experiência e alguns camaradas a berrar feridos com estilhaços de granadas e furos de balas, eis o cenário que se instalou na madrugada daquele dia 23 de Janeiro de 1963 [op cit. pp-88-89 – P17649], que teve como consequência a morte do camarada soldado condutor auto rodas Veríssimo Godinho Ramos, natural de Vale de Cavalos, Chamusca, conforme se prova na ficha de óbito abaixo.




Ficou na historiografia da guerra como sendo o primeiro militar morto em "combate", o primeiro "condutor auto rodas" a tombar no CTIG, o primeiro soldado a morrer em "ataque ao quartel", e, por tudo isto, o primeiro a constar na relação do livro do Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 1; 1.ª edição, Lisboa (2001); p23.


Foto 4 (Tite, em 2015) - Ruínas do antigo quartel. Foto de Alfredo Cunha, in «Expresso» de 16.09.2015, com a devida vénia. 

Cinquenta e dois anos depois do "Ataque a Tite", o jornal «Expresso», na sequência do trabalho realizado pelos seus colaboradores – Luís Pedro Nunes e Alfredo Cunha – publica, na sua edição de 16.09.2
015, uma reportagem sobre este acontecimento.
Sobre a pergunta do jornalista: "E o tal primeiro tiro, como Foi?" A resposta foi que "o homem que o deu morreu há poucos meses."

Porém, entre os antigos combatentes do PAIGC, que constam na imagem abaixo, encontra-se Pape Dabo, de 89 anos (o quinto da esquerda). Esteve presente no ataque de 23 de Janeiro de 1963 e participou nas reuniões que decidiram a operação ao Quartel de Tite.


Foto 5 (Tite, em 2015). Antigos combatentes do PAIGC à sombra do poilão. Foto de Alfredo Cunha, in «Expresso» de 16.09.2015, com a devida vénia.

Quanto ao Tiro? Diz que não foi tiro, explicando: "Só́ tínhamos dez armas e a sentinela [de serviço] estava a dormir e, quando avançamos pela porta do quartel [cavalo de frisa], matámos o homem com um "Canhaco", que é uma lança que se põe num arco. Mas foi com a mão. Perfurou-lhe o pescoço.

Voltando um pouco atrás, Pape Dabo [que na data deste episódio tinha trinta e sete anos] conta a história [a sua versão] do ataque. Este começa com ele e o irmão no quartel, a trabalharem como padeiros dos portugueses, e termina depois do ataque com ele a voltar a ser reconhecido pelos militares portugueses como um "dos bons" e, assim, a poder espiar. Pelo meio, o ataque: [os atacantes] estavam divididos em quatro grupos, só́ o primeiro entra no quartel; os portugueses acordam; os tiros; as mortes do lado dos 'tugas' [só foi um!]. Depois, teve que voltar no outro dia, foi obrigado a ver os cadáveres dos companheiros mortos e ter de fingir que não os conhecia. E recorda ainda quando o comandante [do BCAÇ 237; Major Inf António Tavares de Pina] alinhou a população na praça em frente ao quartel e disse: "A guerra começou."

[Continua]

Fontes Consultadas:

Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 1; 1.ª edição, Lisboa (2001); pp 23-569.

Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 2; 1.ª edição, Lisboa (2001); pp 23-304.

Outras: as referidas em cada caso.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

16Ago2019

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terça-feira, 7 de novembro de 2006

Guiné 63/74 - P1255: Dicas para o viajante e o turista (1): A experiência e o saber do Vitor Junqueira




Guiné-Bissau > Região de Báfatá > Cidade de Bafatá > 16 de Fevereiro de 2005 > José Couto (ex-furriel milicano de transmissões, CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego), um turista (o)(a)cidental, nas ruas desertas da bela Bafatá...

Fotos: © José Couto / Tino Neves (2006). Direitos reservados.



1. Há dias (29 de Outubro de 2006) recebemos uma mensagem de António Osório, de Vila Nova de Gaia, do seguinte teor:

Caríssimos:

Não tenho o prazer de os conhecer mas vi algumas coisas vossas na Internet sobre a Guiné-Bissau, daí recorrer à vossa ajuda.

Vai para dois ou três meses li uma reportagem no Jornal de Notícias sobre uma viagem à Guiné para ex-combatentes organizada por um indivíduo de nome José Arruda, que não conheço, cujo preço é de 1450,00 Euros/pessoa.

Recebi ontem um e-mail do Sr Arruda, morador na Amadora que me pede a entrega imediata de 1.450,00 Euros x 2( para mim e para a minha mulher) de modo a garantir-me a viagem à Guiné com partida a 3 de Janeiro de 2007, 8 dias de estadia no Hotel Residencial Coimbra, em Bissau, em regime de alojamento e pequeno almoço e visita a todos os locais onde estivemos(eu pessoalmente estive em Gadamael Porto e Cacine entre Novembro de 1970 e Dezembro de 1972).

Diz o Sr Arruda que esta viagem tem o apoio da Embaixada da Guiné-Bissau em Portugal. Todavia eu através de consulta ao 118 da PT não consegui obter a morada ou telefone da referida embaixada. Será que conhecem a morada e telefone da embaixa da Guiné-Bissau em Portugal?

Agradecia muito a vossa ajuda já que eu tenho uma vontade enorme de visitar a Guiné, mas como compreendem o dinheiro custa muito a ganhar e eu queria confirmar a idoneidade dos dados que então me foram forneceidos pelo Sr Arruda.

Grato pela atenção, recebam um abraço do António Osório.

Telm: 918817443
Casa: 227114936 (V.N.Gaia)


2. Através do e-mail de José Costa (ou José Arruda ?), já tinha recebido em recebido em 28 de Julho de 2006 a seguinte mensagem:

Prezados colegas ex-combatentes:

Junto em anexo programa para uma viagem á Guiné. Vamos realizar o sonho da nossa vida, voltarmos aos locais onde nos anos 60/70 andámos.

Para qualquer informação adicional, por favor contactem comigo

José Arruda

Telef/Fax. 214974410 - Telem. 939594546
e-mail: aguiareal46@hotmail.com

Cumprimentos

José Arruda

3. Reproduzo aqui, a título meramente informativo, o Programa nº 166/06 - Guiné > Viagem à Guiné para ex-combatentes e familiares, a realizar no mês de Outubrod e 2006

Organizador: José António Arruda
Av.Padre Himalaia, 7-1º.Dtº.
2720-435 Damaia/Amadora

Telef/Fax. 214974410
Telemóvel 939594546
email: aguiareal46@hotmail.com

1º Dia 6ª.Feira- Concentração de todos os participantes no Aeroporto de Lisboa, pelas 7,15 h, para as formalidades de embarque e ás 9,30 h, em voo TAP, seguimos para Bissau, chegada prevista para as 12,40 h,transfert para o Hotel Residencial Coimbra e resto dia livre.

Do 2º ao 7º Dia. ( De Sábado a 5ª.Feira) Dias destinados às diversas visitas em carro privado a toda a Guiné, indo aos locais onde todos os participantes estiveram.

8º Dia. 6ª.Feira- Saída de Bissau ás 14,35 h, em voo TAP com destino a Lisboa, chegada prevista para as 19,40 h.

Observações - Esta viagem tem o apoio da Embaixada da Guiné em Portugal.

Documentos Necessários: Passaporte válido, 2 fotos e 60 € para o visto

Cuidados Médicos: Todos os participantes devem consultar o seu médico/ou Instituto de Medicina Tropical, para efeitos de vacinas e medicação.

Preço da Viagem: O preço é de 1.450, € por pessoa e inclui: Todos os voos de avião a partir de Lisboa, Taxa de Aeroporto Lisboa/Bissau, Transferts, Carro privado para as diversas deslocações e visitas, Hoteis quarto duplo em regime de alojamento e pequeno almoço.

3. Já vários camaradas já deram dicas ao António Osório, procurando responder ao seu pedido. De todos os e-mails que passaram por mil destaco o do nosso camarada Vitor Junqueira, que tem uma larga experiência de viagens: é um andarilho do mundo, incluindo à Guiné-Bissau. A experiência e o saber do Vitor nesta matéria podem ser muito úteis a muitos de nós. Aqui ficam pois as primeiras dicas para turistas e viajantes na Guiné-Bissau. (LG).

Prezado Osório,

Eu sou o Vitor Junqueira de Pombal e estou a responder ao pedido de esclarecimento acerca da eventual programação de uma viagem que pretende fazer à Guiné Bissau, na companhia de sua esposa.

De facto já viajei por diversas vezes para a Guiné, mas não vou fazê-lo no próximo dia 17 Novembro de 2006 (e como eu gostaria!). Posso no entanto dar-lhe algumas indicações baseadas na minha experiência pessoal. Assim:

1 - Quanto à viagem: vai a qualquer agência de viagens e compra as passagens na TAP, que é actualmente o único operador. Os preços subiram muito nos últimos tempos devendo rondar os 700euros + taxas.

2 - Quanto aos vistos: a própria agência que vender as passagens, deverá encarregar-se desse assunto. O preço anda à volta de 40 euros por pessoa + o trabalho da agência. Deverá entregar os passaportes + duas fotografias de cada passageiro com uma semanita de antecedência, que é para não haver surpresas.

3 - Quanto ao hotel: recomendo o Hotel 24 de Setembro. Fica localizado na zona de Sta. Luzia sendo as suas instalações resultantes do aproveitamento, para esse fim, do antigo clube de oficiais. A baixa fica à distância de um agradável passeio a pé. A zona é calma e segura, mas os cuidados habituais não podem ser descurados.

Note que pelos padrões europeus, os hotéis são maus e caros. Lençóis limpos, ar condicionado ainda que barulhento e água para o banho (quantas vezes despejando o caneco por cima da cabeça!), é tudo quanto podemos exigir. No hotel que referi, se optar por ele, vão pedir-lhe por um quarto duplo cerca de 50.000 CFA, equivalente a 16 contos, com pequeno almoço. Mas se negociar um pouco e disser que é amigo do Sr. Manuel Neves, um empresário meu amigo com bons contactos junto da gerência, talvez lho deixem por 35.000 (11 contos). Para fazer a reserva, contacte o sr. Moisés que é uma espécie de subdirector através do telef. 00.245.7237570.

Em Bissau, existem vários restaurantes, aceitáveis, com preços que não sendo baratos também não são exorbitantes. Quando forem para o interior, previnam-se com água, fruta e conservas. Até podem (e devem) levar umas latitas de cá.

4 - Quanto à bagagem: a roupa deve ser apenas a estritamente necessária para a estadia, transportada em sacos que caibam nos porta-bagagens da cabine (evitar as malas de porão), e adequada ao clima: dias quentes e relativamente húmidos sem chuva durante o dia, mas frescos à noite durante o mês de Janeiro.

Não esquecer de meter no saco uma pequena quantidade de sabão rosa ou azul. Uma T shirt, umas cuecas ou um par de meias, lavam-se à noite e deixam-se a secar frente ao ar condicionado. No dia seguinte ... é só vestir. E na falta de sabonete, shampoo ou creme de barbear, entra o sabãozito. De resto, quanto menos tralha, melhor.

5 - Quanto à segurança: na Guiné não há registo de criminalidade violenta exercida contra os turistas. Eu nunca tive qualquer problema, e posso garantir que se pode viajar tranquilamente por todo o território sem qualquer receio. No entanto, água benta e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém.

Como é sabido, a pequena delinquência existe em todo o mundo. Vamos então tomar algumas precauções. Em primeiro lugar, é fundamental não dar nas vistas. Para tanto, comecemos pelas roupas, que devem ser tanto quanto possível idênticas às das pessoas que lá vivem e trabalham. São de excluir os calções, roupas ou calçado de marca, objectos de ouro, relógios caros (ou de estimação!), máquinas de filmar ou fotogáficas a tiracolo (sempre no bolso, excepto quando estão a ser utilizadas ...). O mesmo para o telemóvel.

Relativamente aos documentos, eu costumo levar apenas o passaporte e uma fotocópia do BI para trazer no bolso no país de destino, para além dos meios de pagamento que tenciono utilizar. Note que isto é válido para os países pouco desenvolvidos, como para os ditos civilizados. Toda aquela carteirada de documentos que habitualmente nos acompanha para todo o lado, fica de férias em Portugal. E no cofre do hotel (quando existe), ficarão guardados, o passaporte, os valores em dinheiro, o cartão de crédito e os objectos valiosos. Nunca deixe quaisquer valores à vista no quarto. As malas devem ter fecho de segurança ou um bom cadeado.

O regresso ao hotel ser feito a pé, deve ocorrer antes do anoitecer. Na rua, as conversas ou qualquer comentário entre si e a esposa devem ser feitos de modo a que outras pessoas não se apercebam do seu conteúdo ou da razão da vossa presença no país (turismo, visita a familiar, trabalho etc.), nem mesmo da nacionalidade. Para qualquer digressão nocturna, chamem não o António (!) mas o táxi.

6 - Saúde: não recomendo a profilaxia anti-palúdica. É preferível fazer a prevenção através da observação de algumas regras e comportamentos. Durante o dia pas de problème! Mas se a zona a visitar for particularmente húmida (pantanosa), pode usar-se um bom repelente, comprado em Portugal. Existem à venda de diversas marcas, com excelentes características cosméticas.

À noite, no restaurante, discoteca ou simples passeio, usar sempre roupa com mangas compridas e calças, cobrindo as partes expostas (mãos e face) com o repelente (spray ou stick). As meias de desporto (Sportzone, por ex.) são também uma boa opção, pois oferecem algum conforto aos pés durante as caminhadas e à noite, dada a sua espessura, impedem que o ferrão dos mosquitos nos atinja a pele dos tornozelos. Até podemos meter as calças por dentro delas.

Para aquelas pessoas que se sentem mais seguras se tomarem o comprimido contra a malária (ou paludismo, é a mesma coisa), o medicamento que recomendo é o MEPHAQUIN. Toma-se um comprimido uma semana antes do embarque, outro na véspera da partida e daí para a frente, um por semana sempre no mesmo dia. Mínimo: 4 semanas de tratamento.

Do estojo de primeiros socorros deve constar também o paracetamol como analgésico e antipirético, um anti-inflamatório - por ex., Donulide, ou Voltaren para quem não sofre do estômago - , um anti-diarreico que pode ser o Imodium, um antibiótico multi-usos de que uma boa referência continua a ser o Clavamox, Augmentim, etc. Um ligadura de 7 cm (largura) e alguns pensos rápidos podem ser úteis.

Mas tão importante quanto isto tudo, é fazer um bom seguro de viagem, que garanta a evacuação aérea de urgência e/ou repatriamento em caso de doença súbita ou acidente.

7 - Meios de pagamento: EURINHOS, muitos! Notas de 5, 10, 20 e 50. E algumas moedas para dar, muito parcimoniosamente, aos putos que constituem a comissão de boas vindas, logo à chegada ao aeroporto e que não deixarão de ser bastante persuasivos em algumas ruas de Bissau, mas não no mato. Os câmbios fazem-se na rua em Bissau, onde aparecem os angariadores. Eu prefiro as Casas de Câmbio que se encontram praticamente todas concentradas numa rua da cidade. Cada euro vale à roda de 650 francos CFA (Communauté Francofone Africaine).

Para as crianças das aldeias a visitar, é conveniente levar alguns rebuçados, que não derretam com o calor. Esferográficas e outro material escolar assim como roupas, são muito apreciados mas muito difíceis de distribuir visto que é impossível levar quantidades que contemplem mais do que uma dezena ou duas de crianças, e elas caem-nos em cima como um enxame. Fica ao critério de cada um, mas se optarem por levar, então entreguem a alguém da tabanca e essa pessoa é que fará a distribuição.

8 - Deslocações: Taxi ou Toca-Toca (transporte colectivo). O táxi, bem negociado, pode ser uma boa solução e vai a todo o lado. Em Bissau, numa papelaria próxima dos Correios vendem-se óptimos mapas rodoviários da Guiné de que convém adquirir um exemplar logo à chegada, a fim de planear as viagens.

Uma boa norma consiste em viajar sempre na companhia de um guineense da sua confiança que lhe poderá ser recomendado por um amigo, alguém do hotel, um comerciante ...


9 - Nota final:

Os tempos mudaram, e a nossa relação com os guineenses não pode ser a mesma que se verificava quando por lá passámos há trinta e tal anos, com uma guerra então em curso. Eles estimam-nos, mas apreciam muito o tratamento de igual para igual.

Nunca se descuide com qualquer atitude de sobranceria ou arrogância tão frequente em pessoas que visitam África pela primeira vez. Evite o tratamento por TU, mesmo tratando-se de jovens ou crianças.

Nunca desdenhe dos produtos ou das intenções dos vendedores de rua. Sorria, converse com eles sem lhes transmitir a falsa ilusão de que está interessado se não for esse o caso, mas nunca lhes vire as costas. Nem os ignore baixando a cabeça e seguindo em frente. Uma moedita, nem que seja apenas de 20 cêntimos, que se dá a um garoto por aqui, a outro por ali, pode operar milagres no campo da comunicação.

Corresponda sempre a uma saudação e tome a iniciativa de cumprimentar quando achar que a bola está do seu lado. Para isso basta levantar o braço e fazer um ligeiro aceno de cabeça. Por outro lado, são proscritos os salamaleques bem como as atitudes de subserviência. Mostre compreensão pelas manifestações de pobreza ou mesmo miséria, material e humana, que vai sem dúvida encontrar. Não escarneça delas através do riso ou do gesto.

Do mesmo modo, situações ou atitudes que para nós podem parecer caricatas ou mesmo condenáveis, como por exemplo a abordagem por uma autoridade maltrapilha e ignorante, devem ser tratadas com pézinhos de lã. E muita compreensão.

Não se esqueça que estas pessoas podem não ter recebido um único salário desde há meses encontrando-se em situação desesperada. O lado positivo da coisa é que um qualquer berbicacho se pode resolver-se com uma discreta gratificação de 500 ou 1000 CFA. A melhor forma de lidar com esta gente é nós próprios deixarmos a cabeça de europeu aqui em Portugal e no seu lugar atarrachar uma de africano à chegada.

Durante a viagem é que não sei como vai ser! Em qualquer lado, cidade ou interior, não deixe de manifestar um particular respeito pelos idosos a quem tratará por Tio ou Tia. Sendo a população maioritariamente muçulmanna (2/3), a família tem para eles um valor que entre nós já lá vai. Por isso leve fotografias dos filhos e netos que mostrará quando achar oportuno. Vai ver quanto sobe no patamar da consideração desta gente simples. Se a sua máquina fotográfica ou de filmar é digital, mostre-lhes no display algumas das fotos que tirou e recolha um endereço para mais tarde enviar as cópias. Nunca prometa nada se não tenciona cumprir. Um africano nunca esquece o bem ou mal que lhe fizerem.

Dito isto, resta-me desejar-lhe boa viagem e uma óptima estadia.

Cumprimentos

Vitor Junqueira,
ex-alf mil da CCAÇ 2753 - Os Barões

(Madina Fula, Bironque, Saliquinhedim/K3, Mansabá , 1970/72) (1) .

Hoje é médico e vive em Pombal.

___________

Nota de L. G.:

(1) Vd. post de 23 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1110: Do Bironque ao K3 ou as andanças da açoreana CCAÇ 2753 pela região de Farim (Vitor Junqueira)

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14885: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (6): Convívio da Tabanca de Porto Dinheiro, 12 de julho de 2015 (Parte III): Álvaro e Helena do Enxalé, sejam bem-vindos à Tabanca Grande!...Oxálá / inshallah / enxalé nos possamos voltar a reunir mais vezes para partilhar memórias (e afetos)... Vocês passam a ser os grã-tabanqueiros nºs 695 e 696



Foto nº 1  - O grupo dos tabanqueiros de porto Dinheiro... Falta o fotógrafo, o Álvaro Carvalho


Foto nº 2  > De pé o Álvaro Carvalho... Sentados, Luís Graça, João Crisóstomo e o António Nunes Lopes (está convidado para integrar a nossa Tabanca Grande, mas não tem endereço de email, aguardo o da esposa)


Foto nº 3 >   João, Luís e António Lopes,  falando do Xime


Foto nº 4 > A Alice a Helena


Foto nº 5 > Luís, Helena e Eduardo: folheando um livro sobre a Guiné-Bissau, editado a seguir à independência, e que a Helena trouxe consigo



Foto nº 5 > Alice, Helena, Luís, Eduardo e Vilma (que ainda não fala português: entendemo-nos em inglês e francês)


Foto nº 6 > Três grandes amigos: João, Horácio e Milita


Foto nº 7 > Luís e João... Raramente o nosso editor aparrece aqui nas fotos de convívios, descontraído, sem máquina fotográfica... Nada como ter um fotógrafo de serviço... E que fotógrafo!


Foto nº 8 > A Dina e o Jaime



Foto nº 9 > Restauarante O Viveiro

Lourinhã > Ribamar > Tabanca de Porto Dinheiro > 12 de julho de 2015 > Restaurante O Viveiro > Convívio anual da Tabanca de Porto Dinheiro. Régulo:  Euardo Jorge Ferreira, (*)

Fotos: © Álvaro Carvalho (2015)  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]


1. Seleção de um lote de 100 fotos [, além de vídeos...] que o Álvaro e a Helena Carvalho, nos enviaram com a seguinte mensagem simpatiquíssima:

Tabanca do Porto Dinheiro, passaremos a chamar-lhe ponto de reencontro, dos sentimentos sinceros da Amizade.

A Helena do Enxalé e o Álvaro partilharam com excelentes seres humanos uma tarde onde os temas foram variados. À Vilma e ao João Crisóstomo pediuos-lhes o favor de serem sempre felizes... extensivo a todos.
Enfim recordar também é viver.

Um Abraço ao Grande Régulo Eduardo que se portou à altura, bem escolhido pelo Luís Graça.

Um Fraterno Abraço a toda a "equipa" presente que vamos  citar pela ordem da foto de grupo, acima publicada: da esquerda para a direita, António Nunes Lopes, João Crisóstomo, Helena do Enxalé, Vilma Crisóstomo, Dina, Milita (primeiria fila); Eduardo Jorge Ferreira, Maria Alice Carneiro, Alexander Rato ], presidente da junta de freguesia de Ribamar,], Horácio Fernandes e Jaime Bonifácio Marques da Silva (segunda fila).

Álvaro e Maria Helena
 


2. Comentário de LG:

Obrigado, Álvaro e Helena, pela completíssima e competentíssima cobertura fotográfica da reunião da Tabanca do Porto Dinheiro. Oxala/inshallah/enxalé nos possamos voltar a reunir, mais vezes, nesta ou noutras tabancas. O que vai acontecer seguramente a avaliar pela composição da nossa mesa.. Mais uma vez se comprova que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca...é Grande. (Tabanca Grande é o nome da nossa comunidade virtual e real, de amigos e camaradas da Guiné, espalhados pelos quatros  do mundo, Portugal, a Gun+e.Bissau e a diáspora lusófona).

Tiro o quico, à boa maneira da tropa, à espantosa naturalidade e grande generosidade com que vocês, Álvaro e Helena, se juntaram a nós, como se nos conhecêssemos há décadas e fôssemos velhos e bons amigos de há muito... É fruto deste sortilégio, desta magia, que é a "nossa" Guiné, essa terra verde e vermelha (e por extensão a Africa lusófona), que nos marcou a todos/as, nos tocou a todos/as, de diferentes maneiras, e cujo espírito procuramos reviver, preservar e promover, sentando-nos à sombra de um secular, protetor, fraterno, simbólico poilão, o poilão da nossa Tabanca Grande...

O Álvaro e a Helena passam, a partir de hoje, a constar na lista alfabética dos membros da nossaTabanca Grande, cujo nº se aproxima já dos 700 (mais do que um batalhão!) e donde já constam, além do meu nome, os nomes do Eduardo, do João, do Jaime, do Horácio, e da Alice... (Vd. fiolha de  rosto do blogue, coluna do lado esquerdo).

Não é preciso "curriculum vitae", civil ou militar, bastam os dois amarem aquela terra e já terem bebido a água do Geba.. Eu mesmo faço questão de os apresentar, formalmente...

Como eu gosto de dizer, não é (felizmente!|) o Panteão Nacional, é melhor... é a nossa Tabanca Grande. O nosso objetivo é muito simples, é o de partilhar memórias (e afetos). E, por outro lado, muito sinceramente, penso que vale muito mais um camarada vivo (e quem diz camarada diz amigo), do que um herói morto...

Nenhum deles é camarada, mas são amigos da Guiné. Os camaradas tratamo-los por tu, o Álvaro e Helena, sem terem sido "tropa", merecem o mesmo tratamento: do general ao soldado, do almirante ao marinheiro, tratamo-nos todos por tu, porque é mais prático e desinibidor... Aqui não há títulos, académicos, sociais, profissionais, tirando os velhos postos do tempo da tropa (que nos ajudam a identificar a malta9... Trato, de resto, a maioria dos amigos da Guiné por tu como sinal de distinção e porque faço questão também que me tratem por tu...

Álvaro e Helena, sejam bem vindos, a esta e às demais tabancas sob a "jurisdição" da Tabanca Grande...

Que Deus, Alá e os bons irãs vos/nos protejam, a todos/as!... Luis



Guiné-Bissau > O Enxalé... In šāʾ Allāh (em árabe: إن شاء الله, [in ʃæʔ ʔɑlˤˈlˤɑːh]),  romanizado como Insha'Allah ou Inshallah ou Inshalá, é uma expressão árabe que quer dizer  "se Deus quiser" ou "se Alá quiser". Deu "oxalá" (em português) e "ojalá" em castelhano.(Fonte: Wikipedia). Parte do coração da Maria Helena ficou lá, no Enxalé...

Infografia; Blogue Lu+is Graça & Camaradas da Guiné (2015)


PS - A Maria Helena Carvalho, mais conhecida por Helena do Enxalé, nasceu na Guiné, em 1951 (**). O pai, natural de Seia, o "Pereira do Enxalé",  Amadeu Abrantes Pereira era uma figura muito conhecida e respeitada no território. Instalou-se estrategicamente no Enxalé, na margem norte do Rio Geba, frente ao Xime. Lá tinha uma destilaria de aguardente de cana. Fez uma escola e construiu uma pequena capela. Amílcar Cabral foi visita da casa. bem como o poderoso régulo do Enxalé, Abna Na Onça. capitão de 2ª linha.  E alguns futuros guerrilheiros do PAIGC tiveram o Pereira como patrão. 

Em 1962, e com o início da guerrilha, o Pereira mudou-se para Brá. No Enxalé, a dificuldade maior era a livre circulação e o abastecimento da matéria.priama, a cana de acúcar. Em 1958, se não erro, a Helena vem para Bissau e depois segue para a metrópole para poder estudar. Voltava à Guiné nas férias grandes. Foi educada por uma madrinha. Em 1974, com 23 anos, e já casada com o Álvaro, assiste ás festas da independência, sentindo-se perfeitamente em casa... 

Entretanto, a mºae já tinha morrido e o pai acabava de falecer, algumas semanas antes, em agosto de 1974....Voltaria mais tarde à Guiné-.Bissau, creio que em 1989,  para tratar de assuntos da família, incluindo o património edificado no Enxalé e em Bissau. Das coisas mais bonitas que lhe aconteceram  e que ainda hoje recorda com orgulho e emoção foi verificar como o nome da  sua família era respeitada pelas gentes do Enxalé: (i) o régulo veio com uma petição escrita para ela dar autorização aos habitantes locais para poderem  continuar a colher os  citrinos que continuavam a nascer na ponta; (ii) uma bajuda veio-lhe entregar as chaves de casa...

O casal vive e trabalha nas Caldas da Raínha. O pai do Álvaro era ourives. Ele mantém o negócio, que agora já passou para a terceira geração. Adora cicloturismo (apesar de um grave acidente que teve há anos) e fotografia. Tem "slides" da independência da Guiné-Bissau que me prometeu mostrar  um dia quando passar lá por casa... Entretanto a Helena foi adoptada  pela "rapaziada" que passou pelo Enxalé, nomeadamente a CCAÇ 1439 (1965/67) (*). Foi ela que organizou,, este ano, o convívio anual da companhia. É uma mulher de armas!...


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Notas do editor;: