quinta-feira, 9 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4165: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (13): As afirmações de Almeida Bruno em A Guerra (idálio Reis)

1. Mensagem de Idálio Reis (*), ex-Alf Mil da CCAÇ 2317/BCAÇ 2835, Gandembel e Ponte Balana, 1968/69, com data de 2 de Abril de 2009:

Assunto: O documentário de Joaquim Furtado «A Guerra». As afirmações de Almeida Bruno (**)

Meus caros Luís, Carlos, Virgínio e demais companheiros Tertulianos.

O visionamento do episódio difundido no pretérito dia 25, da importante e valiosa série documental que a RTP1 por via de Joaquim Furtado nos vem presenteando, manteve-me em suspenso até à divulgação do de ontem.

Sobre este último, houve uma criteriosa revelação quanto à figura de Eduardo Mondlane e o seu assassinato.

Quanto ao penúltimo programa, pudemos constatar de forma ampla e elucidativa, o que foi a evacuação do aquartelamento de Madina do Boé, a 6 de Fevereiro de 1969, e a retirada da CÇaç 1790, aí sediada desde Janeiro de 1968.

A mesma, é levada a efeito no contexto da Operação Mabecos Bravios, sob a coordenação do ex-Ten Cor Hélio Felgas, no que significa que houve uma prática cuidada com o intuito de resguardo de eventuais conflitos a desencadear pelo PAIGC, onde parecia actuar com alguma liberdade de movimentação.
E tudo veio a decorrer normalmente até ao rio Corubal, da saída final de Madina e do longo percurso que a imensa coluna de viaturas teria de calcorrear até ao aquartelamento de Che-Che, sito na outra margem.

O derradeiro atravessamento deste rio, causa o horror mais confrangedor e dilacerante, o acontecimento mais funesto de toda a guerra da Guiné, a perdurar como a pesarosa tragédia do Che-Che, com uma brutal perda de 46 homens.

Uma semana antes – a 28 de Janeiro -, a Gandembel/Ponte Balana foi-lhe traçado idêntico destino. E sobre esta retirada, não há qualquer apontamento ou testemunho no documentário referido.

Dada a proximidade temporal destes 2 episódios, que pretendeu Spínola demonstrar? Qual o grau de conexão destes factos?

António de Spínola, ao chegar à Província, vinha aureolado como um valoroso cabo-de-guerra, que efectivamente demonstrou ser. E logo que chega a Bissau, deseja tomar súbito conhecimento da situação político-militar da Província.
E ao tempo, a região do Boé era particularmente visada, pelas piores das razões: inóspita, pobre, sem população civil, fronteiriça com a Guiné-Conacri, com meios militares manifestamente insuficientes e de dificultado apoio logístico.
Também, o local de Gandembel/Ponte Balana, estava apontado a círculo vermelho, por um conjunto de circunstâncias adversas, no que revelava ter sido objecto de uma hedionda manobra militar, leviana e irresponsável, com as tropas aí envolvidas a serem constantemente assoladas pelo PAIGC.

Curiosamente, a 1.ª Directiva do Comandante-Chefe, em Junho de 1968, toma como assunto a remodelação do dispositivo militar da região do Boé, em que aponta a transferência de Madina para localização em área-chave da região do Che-Che e faz abandonar o destacamento de Béli.
Tal manifesto, faz fenecer de forma drástica, qualquer estratégia quanto à região, e toda uma vasta zona entre a fronteira e o Corubal torna-se num dilacerante espinho que se acera inclementemente sobre a isolada Companhia de Madina do Boé, e o PAIGC soube argutamente terçar as suas armas, para vir a reclamar o domínio total sobre esse território.

Em face do ocorrido, julgo que Spínola teve um forte receio na construção do aquartelamento que previra, onde se tornava imprescindível um enorme apoio logístico geral, que a Província não detinha. Optará tão-só pela retirada, com as consequências supra referidas, procurando a melhor época para o fazer.

Quanto a Gandembel/Ponte Balana, aonde se desloca pela 1.ª vez a 28 de Maio, facilmente reconhece que está ante um colossal erro estratégico, mas não quer tomar qualquer decisão, ficando na expectativa de melhores e promissores dias.
Todavia, a situação cada vez é mais gravosa, com o local a continuar a ser um abismal palco de guerra, sempre na lista negra das más notícias.

Os objectivos da Operação que determinaram à construção daquele aquartelamento, foram inteiramente envilecidos. Não se conseguiu travar ou mesmo minimizar as acções que o PAIGC mantinha no interior da Província; e inclusive, contribuiu para acirrar ódios nas zonas envolventes a Aldeia Formosa, levando o PAIGC a agir de forma violenta e brutal, semeando o pavor na densa população indígena que povoava esses vastos chãos.
Para colmatar esta enorme brecha, a fim de tornar estas áreas mais sossegadas, é obrigado a fazer uso de tropa de elite (cerca de 1/3 dos efectivos dos pára-quedistas, em constante permanência, um bem demasiado escasso e tão necessário em outras frentes).
Sem nada referir, aproveita então a circunstância, há muito tempo definida, da evacuação de Madina do Boé, para também resolver arquivar em definitivo o dossier de Gandembel/Ponte Balana.
Foi definido um espaço muito curto para se proceder à retirada, e a Companhia aí sediada – a minha CCaç 2317 -, sai como que a trouxe-mouxe e debanda rumo a Aldeia Formosa. O PAIGC nem deu pela nossa saída, pois que o local de Gandembel viria a ser violentamente flagelado nessa noite.
E assim faria esvanecer o que, logo que chegou à Província, tivera assumido. A região do Boé, que teve forças militares desde 1961 e que foram paulatinamente minguando; Gandembel/Ponte Balana, junto ao corredor de Guileje, com apenas 11 efémeros meses.

Esta última evacuação, realizada de forma muito secreta, aporta consigo o estigma de um agravante esquecimento. Julgo hoje, que o Exército procurou propositadamente intentar branquear este imenso malogro militar, e no seu arbítrio, conseguiu-o de algum modo. Os factos bélicos que atravessaram as vivências desse local, estão praticamente omissos nos arquivos histórico-militares, pelo que acabarão fatalmente por se apagarem.

Mas tais decisões, foram convenientemente acertadas?
Tento entrevê-las, ler-lhes o significado para poder emitir o meu juízo, obviamente muito subjectivo.

Spínola foi, porventura, um dos maiores estrategos da guerra colonial, mas numa vertente meramente militar. Era um homem frontal, denotando alguma obstinação quanto às directrizes que tomava, em que muitas delas, seguramente, o foram de resolução própria. Porém a guerra de guerrilhas, travada na Guiné, era exercida num mosaico labiríntico de díspares contrastes, tantas vezes complexo e perigoso, que o ardil, a sageza e a perfídia de alguns brilhantes guerrilheiros do PAIGC sabiam tão bem urdir.
À medida que vai tomando conhecimento da situação global das suas próprias forças armadas (NT), bem como do poder bélico que o PAIGC detinha, Spínola procura sempre jogar a última cartada que tinha ao seu alcance. Mas nem sempre o fiel da balança pende para o seu lado, e muito mais tarde após o meu regresso (Dezembro de 1969), com o Senegal a permitir a movimentação do PAIGC, julgo que compreende que a situação militar se tumultua, e que ter-se-á de empreender um outro rumo, muito para além do estritamente militar.

Da retirada da região do Boé, a ilação que retiro, é que tal facto não trouxe grandes vicissitudes às zonas envolventes do sector de Nova Lamego, onde a minha Companhia viria findar a sua comissão, numa estada de cerca de 6 meses; o aquartelamento de Nova Lamego era bastante sereno, e os itinerários que se encruzilhavam para oeste (Bafatá) e para norte (Pirada), não ofereciam quaisquer dificuldades, o que leva a depreender que o efectivo bélico do PAIGC, que se acoitava na Guiné-Conacri, não era numeroso.

Já o mesmo não se pode afirmar sobre os efectivos do PAIGC que actuavam sobre Gandembel/Ponte Balana, que ficando livres, se dispersam pela imensa região do Tombali e Forreá, no arco Buba, Aldeia Formosa e Guileje, onde no imediato, uma grande parte vem actuar na obstrução à construção da estrada de Buba – Aldeia Formosa, que se converte numa pungente odisseia. E Guileje, que já assistira à retirada de Mejo, também tem de aumentar a sua vigilância, e está-se a uma distância enorme do ano de 1973.

Spínola, não teve grandes dúvidas em se aperceber da situação de desastre a que a Companhia estava votada, do forte poder bélico que o PAIGC demonstrava. Procurou a sua ocasião, que em seu entendimento, deveria procurar coincidir com a de Madina do Boé.
Teria sido mais ousado na antecipação da retirada, evitando as perdas sofridas de muitos militares. De todo o modo, reconheço que a vinda permanente dos pára-quedistas, quase estancou a hemorragia, pois a estes abnegados homens, a grande generalidade de nós deve-lhes a vida.
Spínola tomava atitudes desconcertantes para o mais humilde dos militares. O que fez pela minha Companhia, merece a maior das considerações.
Mas o abandono não foi da nossa laia. E hoje, ao sabor do premir das teclas alinhavando estas linhas, perpassa um frémito abalo de emoção contida, porquanto os momentos dramáticos foram tantos e tão intensos, quanto as marcas profundas de sofrimento ou as incontornáveis mazelas taciturnas e dolentes. As violências pessoais, só parecem contar para o inventário de nós mesmos.

Quanto a alguns depoimentos expressos, obviamente que não fiquei indiferente à prosápia insolente do ex-capitão Almeida Bruno, que tive o ensejo de conhecer na qualidade de ajudante-de-campo de António de Spínola, e que sempre o acompanhou nas deslocações a Gandembel.
Em meu entendimento, do início das campanhas de África, o Estado Novo não fez surgir unicamente o “Angola é nossa”, como também fez criar muitos heróis, agraciando-os pelas suas raras qualidades de valor, lealdade e mérito. Alguns destes, convenceram-se que tinham sido fadados para sobressaírem como guerreiros de elevado quilate, e Almeida Bruno foi um deles.

Tive a oportunidade de contactar com militares de alta estirpe, caso dos pára-quedistas, ou de Fabião, Corvacho, Azeredo e poucos mais.

Dentre estes, Carlos Fabião foi um referencial que muito prezo. De uma enorme dimensão humana, a um militar de craveira superior, pareciam sobrar-lhes valores de probidade e estatura.

O Almeida Bruno, pela condição que detinha, era um militar onde ressaía uma certa presunção, procurando distinguir-se entre os demais.
E como nunca conheceu o que foi pernoitar noite após noite em abrigos desabrigados; como jamais ouviu a metralha mais ou menos continuada, por vezes de tempo infindo, de um ataque ao local de vivência; como nunca procurou quotidianamente água para beber nos charcos do Balana; como nunca se confrontou com comida quase intragável, onde o arroz se toldava com a marmelada; como nunca necessitou de estar de atalaia permanente para reconhecer nas noites medonhas, os sons estrídulos que entonteciam; como nunca supôs o que foi um trabalho insano de pá e picareta, com a G-3 pousada ao lado; permite-se afirmar que tais acções eram próprias de bandos acoitados dentro do arame farpado.

Má figura para tão nobre gente!

Almeida Bruno, como homem da guerrilha, alcandorava-se entre os primeiros. Porém as suas acções eram devidamente planeadas, intervindo em zonas antecipadamente identificadas por via aérea, e os resultados forçosamente teriam que surgir (os célebres roncos dos comandos africanos).
As afirmações que Almeida Bruno proferiu para o documentário, foram feitas num período em que a guerra colonial tinha acabado há muito, e se já não estava na reserva com a patente mais elevada do Exército, estaria imbuído de um alto cargo militar, e portanto competia-lhe ser bastante mais cuidadoso.
Ousou a forma mais soez, a de vilipendiar milhares de homens, em que teve ocasião de conhecer como muito poucos, as condições em que sobrevivia naqueles aquartelamentos e destacamentos.

Não me esquivo de comentar um caso que se passou em Gandembel, numa das visitas de Spínola.

As casernas-abrigo tinham umas frecheiras frontais de formato rectangular. Em uma delas, pendurava-se a metralhadora MG-42, que permitia a sua utilização em caso de risco de aproximação inimiga. E o local mais adequado para estar, só podia ser aquele.
Almeida Bruno, ao sair de uma das casernas, questiona-me quanto à utilidade daquela mangueira, no que me fiz desentendido, perguntando-lhe a que se referia.
Apontou-me para a metralhadora e disse-me que aquilo não servia para nada. Não podia ficar mudo, e respondi-lhe mais ou menos com as seguintes palavras:
- Desculpe-me meu capitão, o Senhor de guerra de guerrilha deve perceber muito mais do que eu, agora de ataques a um aquartelamento, estamos a uma distância enorme.

Não fez mais qualquer afirmação, porquanto o helicóptero já poisara para levar os 2 homens a outro destino.

Um depoimento para a posterioridade. E o Blogue virou mais uma página à indiferença, ao afirmar o seu direito à indignação, com a Tabanca Grande a não querer pactuar com a insensatez ou o desmando, qualquer que seja o seu remetente.

Um cordial abraço do Idálio Reis, a toda a Tertúlia, com boas mas poucas amêndoas de Páscoa.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 5 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3984: Nuvens sobre Bissau (17): Curvo-me à memória do Nino, o homem que nos fez a vida negra em Gandembel/Balana (Idálio Reis)

(**) Vd. último poste da série de 6 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4151: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (12): As origens dos bandos da Guiné (Magalhães Ribeiro)

Guiné 63/74 - P4164: (Ex)citações (22): O Gen A. Bruno gostava de fardas e do que elas representavam em tempo de paz (Santos Oliveira)

1. Comentário de Santos Oliveira, ex-2.º Srgt Mil Armas Pesadas, Pel Mort 912, Como, Cufar e Tite, 1964/66, com data de 28 de Março no poste 4089 (*):

Caros Camaradas e ao Povo
O Gen Almeida Bruno. Quando se decidiu inscrever na Escola do Exército deveria ter sido por uma de três razões:

1 ) – Gostava de Fardas e do que elas representavam enquanto havia Paz, logo
2 ) – Pensaria estar preparado para a Guerra (coisa distante e improvável na época), se, teoricamente soubesse os conceitos elementares de tal Arte.
3 ) – Não sentia apetência para fazer um Trabalho Dependente (ou independente), onde teria que o executar.

Na verdade, a Corporação Castrense, sempre humilhou e espezinhou os pobres civis que por via da Lei se tornavam subordinados e profissionais para o Estado de Guerra que um dia, infelizmente, chegou.

Aí, a Corporação funcionava a dois níveis:
- o das Promoções a qualquer custo, mesmo que implicasse ultrapassar os próprios Camaradas de Armas;
- o da coesão absoluta sempre que o tema fossem os Milicianos;
- o de se inventarem todos os meios para a não participação nas Acções. Isto até ao grau de Capitão.

Para graduações superiores, sabe-se bem a luta pelas mordomias e quais os lugares mais ambicionados (carros com motorista às ordens, empregados domésticos, casa, etc.)

Perante o exposto, como o Senhor General afirma, o Governo de então, ter-se-ia defrontado com uma questão grave: os Oficiais do QP não se recusando a ir para o Mato, mas argumentando e inventando esquemas, tudo para o não fazer, decidiram dar acesso e facilidades para que os lugares de Combate pudessem vir a ser preenchidos por GENTE com mais PRÁCTICA e menos TEORIA. Gerou-se uma UNIÃO inesperada na Corporação Castrense. Que não podia ser, etc.

Ora, os BANDOS referidos pelo Senhor General, eram superiormente dirigidos por estes Teóricos que de Mato ou Bolanha, não sabiam nada, como se veio a verificar. A verdade é que eram eles (QP) quem decidia quando e quem saía ou ficava no arame farpado. Eles eram os VERDADEIROS RESPONSÁVEIS pelo planeamento das Acções.

Como as Bases de Fusos e Páras se situavam, sempre, nos lugares estrategicamente mais seguros, só faltava pedir, por favor, ao inimigo que fizesse qualquer coisinha. Mas aí, Senhor General, existia INICIATIVA com ou sem o consentimento das Instâncias em que o Exército se escudava.

Na verdade, só me resta citar e HONRAR as EXCEPÇÕES, (Infelizmente foram imensas) aqueles que trabalharam no, terreno, com os Milicianos, NÃO LHES FOI PERMITIDO ACESSO NA CARREIRA, A POSTOS SUPERIORES: NÃO PASSARAM DE CORONEL!...

Ao fim de tantos anos, Senhor General, entendo e fico-me com a certeza de que as Forças Armadas (QP) ainda não aprenderam com os erros. Perderam, de todo, o rumo.

Quando, há dias, um jornalista levantou uma pequena casca de ferimentos em Combate, começo a crer que tenha visto SANGUE APODRECIDO E PUS. O Senhor General, levantou o cascão e acaba por se verificar que já aparece gangrena. É que com visões desta envergadura e com esta autoridade, o homem não pode deixar de acreditar no que nem vê.

Santos Oliveira
Sarg.Mil.A.Pes./Rânger
do extinto P.Mort. 912
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 28 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4089: Bandos... A frase, no mínino infeliz, de um general (1): O nosso direito à indignação (Luís Graça / Mário Pinto / Jorge Canhão)

Vd. último poste da série de 6 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4148: Comentários que merecem ser Postes (2): Sinto um enorme orgulho em fazer parte desta enorme família (Cátia Félix)

Guiné 63/74 - P4163: Tabanca Grande (132): Fernando Gouveia, ex-Alf Mil de Rec e Inf (Bafatá, 1968/70)

1. Mensagem de Fernando Gouveia, ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70, nosso novo camarada, com data de 5 de Abril de 2009:

Camarada Luís Graça:

Só agora me é possível mandar os elementos para a inscrição na TG bem com a 1.ª estória.

A somar a todas as peripécias tive o PC avariado com a consequente reinstalação dos programas, etc.

Não vou prometer regularidade no envio das estórias mas vou fazer um esforço para, se não for semanal, será pelo menos quinzenal.

Esta 1ª estória considero-a grande e a 2ª é um pouco maior mas depois serão sempre bastante mais pequenas. Gostava de um feed-back sobre o tamanho (e não só) desta 1.ª.

O CVM vai incluído na 1.ª estória. Não sei se seria mais correcto enviá-lo à parte ou não.

Lamento, mas sobre Contuboel não tenho nada.

Mando em anexo todos os elementos

Um abraço
Fernando Gouveia


2. Comentário de CV:

Caro camarada Fernando Gouveia, bem-vindo à nossa Tabanca, onde te vais sentir bem.

De acordo com as normas de admissão na Tertúlia, pagaste já a jóia, enviando as fotos da praxe e uma história. Considera-te um membro de plenas obrigações, já que direitos não temos. Entre outras, a nossa maior obrigação resulta da responsabilidade que assumimos em contar as nossas experiências enquanto combatentes, para que outros, mais tarde, face aos elementos por nós deixados, possam fazer a história tão verdadeira quanto possível, da guerra da Guiné.

Elementos mais técnicos, comentários mais ou menos avalisados, histórias das Unidades, das Operações e estórias contadas na primeira pessoa, tudo contribuirá para um espólio que queremos deixar para memória futura. Não é por acaso que este Blogue é utilizado por alunos universitários como fonte de informação para os seus trabalhos de investigação.

Deixo-te um abraço colectivo em nome de toda a tertúlia e em especial dos editores que esperam que lhes dês muito trabalho.

CV
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 6 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4145: Tabanca Grande (131): José Cortes, ex-Fur Mil At Inf da CCAÇ 3549/BCAÇ 3884, Fajonquito (1972/74)

Guiné 63/74 - P4162: Convívios (108): Almoço convívio do pessoal do BCAÇ 3832 em Monte Real, 9 de Maio de 2009 (Belarmino Sardinha)

1. Mensagem de Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM, 1972/74, Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau, com data de 6 de Abril de 2009:

Caros Editores,

Envio a informação do Almoço Convívio do BCaç 3832, com quem convivi durante 6 meses e que têm a gentileza de me convidar sempre a juntar a eles e festejar o reencontro.

Não fazendo parte da comissão organizadora mas podendo dar o contributo ao digitalizar o documento e enviá-lo para divulgação no Blogue, se assim o entenderem, na expectativa de que possa chegar aqueles que por dificuldade ou alteração de morada ou outra não receberam esta informação.

Com um abraço para todos,
BSardinha

BCAÇ 3832 - Divisa: Excelente e Valoroso - Mansoa 1970/73


OBS:-Para aceder aos pormenores, clicar nas imagens
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 8 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4156: Convívios (106): Pessoal da CCAV 8351 - Tigres de Cumbijã, dia 9 de Maio de 2009 em Meadela, Viana do Castelo (João Melo)

Guiné 63/74 - P4161: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca... é grande (5): Canto lírico na Tabanca de Matosinhos (Luís Graça)

Vídeo: Um momento lírico no final do último almoço da Tabanca de Matosinhos, dia 8 de Abril de 2009: da direita para a esquerda, o Ferreira Neto, o Carlos Costa, o A. Marques Lopes, o Silvério Lobo, o Domingos Maçarico e o Abílio Machado.

Vídeo e legenda: © Luís Graça (2009). Direitos reservados

Matosinhos > Restaurante Milho Rei > 8 de Abril de 2009 > O almoço das 4ªas feiras, que reune à volta da mesa a malta da Tabanca de Matosinhos, é já um verdadeiro acontecimento social (*)... E há sempre gente nova, das várias frentes da guerra do ultramar (ou guerra colonial, se quisermos ser mais politicamente correctos...), a chegar, periquitos, maçaricos, checas...

Além do Domingos Maçarico (apelido de família), que veio de Mira, trazido pela mão do seu antigo camarada de armas, o A. Marques Lopes, (e meu parente, a quem eu pude dar finalmente um grande Alfa Bravo...), também esteve presente, pela primeira vez, o meu querido amigo e camarada de Bambadinca (1970/71), o Abílio Machado (o Bilocas, de Riba D'Ave, que está desejoso de poder abraçar outros grandes amigos desse tempo, o Tony Levezinho e o Humberto Reis, vamos lá a ver se é desta vez que a gente se encontra, os quatro, em Castro Daire, no dia 30 de Maio de 2009)... Foi um gesto bonito, e solidário, o do Abílio Machado, que acabava de chegar de Manchester, aonde foi em voo charter para acompanhar o Dragão...

Também conheci, entre outros camaradas, o Carlos Costa, antigo soldado na Índia: estava lá, num dos territórios (Goa, Damão ou Dio) aquando da invasão das tropas indianas... Esteve 6 meses prisioneiros... É um homem cheio de bom humor e, para surpresa geral, um cantor lírico de primeira água... Faz parte, tal como o nosso querido amigo e camarada David Guimarães, do grupo de fados de Coimbra, Do Choupal Até à Lapa.
Aqui fica uma amostra, no vídeo que reproduzimos, de mais um dos momentos da camaradagem e de boa disposição que animam estas quartas-feiras da Tabanca de Matosinhos... O Abílio Machado também aparece no vídeo, a fazer o gosto à voz, no lado esquerdo (ao lado Marques Lopes e do Carlos Costa). Recorde-se que ele é um dos fundadores e animadores do grupo musical Toque de Caixa.

Correndo o risco de esquecer muitos outros, tive também prazer de conhecer pessoalmente outros camaradas nossos (membros da Tabanca Grande), que são presença habitual na Tabanca de Matosinhos: o Jorge Teixeira, o António Carvalho (e o irmão), o Jorge Félix...

Ao Jorge Picado, de Ílhavo, que veio expressamente de comboio, e nos trouxe, para mim e para o Carlos Vinhal, umas caixinhas de deliciosos ovos moles de Aveiro, daqui vai um Abraço Bravo especial.
Amanhã irei transpor o Marão a caminho de Macedo de Cavaleiros, aonde vou cantar os parabéns a uma amiga especial, transmontana, do Porto, a Teresa Salselas, agora no quilometro 60 da viagem da sua vida.

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Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste desta série > 9 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4159: O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande (4): Mais fotos do ronco da Tabanca de Matosinhos (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P4160: Parabéns a você (4): No dia 9 de Abril de 2009, ao camarada Miguel Pessoa, Cor Pilav Ref (Editores)

Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, hoje Coronel Reformado.

Hoje, 9 de Abril de 2009, está de parabéns o nosso camarada Miguel Pessoa.

Ao nosso tertuliano Miguel Pessoa desejamos muitos anos de vida, na companhia de sua esposa, Giselda Pessoa, filhos, netos e demais familiares e amigos.

O Miguel faz parte da nossa Tabanca Grande há relativamente pouco tempo, mas a sua colaboração no Blogue tem sido intensa, e como elemento da Força Aérea, tem trazido até nós outras histórias e outra forma de ver e viver a guerra da Guiné (*).

Tem a particularidade de ser uma das poucas pessoas no mundo sobreviventes após impacto directo de um míssel terra-ar SAM-7 Strella na sua aeronave.

Foi uma sorte excepcional o míssil não ter atingido o avião de modo a impossibilitar tempo a sua ejecção. O de ter sido encontrado e recuperado no solo, são e salvo, antes do aparecimento do IN, após uma noite passada em vigília ao relento, em que os minutos terão parecido horas foi um facto invulgar.
Uma perna fracturada na chegada ao chão, obrigou-o a uma imobilidade forçada e a uma espera de evacuação assistida pelo Serviço de Saúde das Forças Armadas. Quis o destino que uma das pessoas intervenientes na sua recuperação fosse a que hoje, e desde há décadas, é a sua companheira de vida. Dizem os crentes que Deus escreve direito por linhas tortas. Ao Miguel e à Giselda desejamos as maiores felicidades.

Casal Giselda e Miguel Pessoa. Muito nos honra tê-los como camaradas e tertulianos no nosso Blogue.

Nunca é demais falar do trabalho destes nobres e valentes camaradas da FA que abnegadamente voaram nos céus da Guiné em prol da nossa segurança. Aos Pilotos, Especialistas no ar e em terra e às nossas queridas Enfermeiras Pára-quedistas, a nossa eterna gratidão.

Atentemos agora às suas palavras, quando pela primeira vez se nos dirigiu:

Para começar, apresento as minhas credenciais: Miguel Pessoa, à data Tenente-Piloto-Aviador do Quadro Permanente da Força Aérea. Cumpri a comissão na Guiné no período de 18NOV72 a 14AGO74, com um intervalo passado em Lisboa (entre 7ABR73 e início de AGO73) para recuperar das mazelas sofridas quando da minha ejecção de Fiat G91, depois de atingido por um SAM-7 Strella durante um apoio de fogo ao aquartelamento do Guileje.

À chegada ao Teatro de Operações estava apenas qualificado para voar o Fiat G-91 mas rapidamente o saudoso Ten Cor Almeida Brito ministrou-me um curso intensivo de DO-27 que me habilitou a operar este avião por todas as pistas ali existentes (64, se bem me lembro, que as contei na minha carta de voo). Assim, até Abril de 1973 dividi a minha actividade de voo entre o Fiat G-91 (1/3 das horas) e o Do-27 (os restantes 2/3).

A partir daí e até ao fim da comissão a minha actividade de voo foi essencialmente feita no Fiat G-91.
[...]

A melhor maneira de conhecermos e reconhecermos o trabalho meritório do Miguel como Piloto da FA, na Guerra da Guiné, é reler os seus postes abaixo identificados.

Deixamos também algumas das suas fotos e respectivas legendas que representarão alguns dos momentos mais importantes e mais dramáticos da sua passagem pelos céus e pistas de aviação de toda a Guiné.









Sequência fotográfica, mostrando a recuperação do Pilav Ten Miguel Pessoa, ejectado sob os céus de Guileje, depois do seu Fiat G-91 ter sido abatido por um Strela

Lisboa > AFAP - Associação da Força Aérea Portuguesa > 18 de Dezembro de 1995 > O reencontro de dois Mata: Marcelino da Mata (hoje, Ten Cor Ref) e Kurika da Mata (nome de guerra por que também era conhecido o Miguel Pessoa, na BA 12, Bissalanca, Guiné, 1972/74)

Guiné > Bissalanca > BA12 > O Ten Pilav Miguel Pessoa (1972/74). O Miguel foi o primeiro piloto de Fiat G-91 a ser abatido por um Strela (em 25 de Março de 1973, sob os céus de Guileje) (1). Efectuou mais de 400 missões no TO da Guiné. Esteve 4 meses em Lisboa, hospitalizado, a seguir à queda do seu Fiat.

Guiné > Bissalanca > BA12 > 1974 > O então Ten Pilav Miguel Pessoa... Uns meses antes, em 25 de Março de 1973, num domingo e em pleno dia, o aquartelamento de Guileje fora duramente atacado durante cerca de hora e meia. Foram usados foguetões 122 mm. A parelha de Fiat G-91 que estava de alerta em Bissalanca, nesse dia e hora, veio em apoio de fogo. A aeronave do Miguel Pessoa, que vinha à frente, foi atingida por um Strella, sob os céus de Guileje... Foi o primeiro Fiat G-91, na história da guerra da Guiné, a ser abatido pela nova arma, fornecida pelos soviéticos ao PAIGC, o míssil terra-ar SAM-7 Strella (de resto, já usada e testada na guerra do Vietname)... O Ten Pil Miguel Pessoa conseguiu, felizmente, ejectar-se. Vinte quatro horas depois, era resgatado, são e salvo, pelo grupo de operações especiais do Marcelino da Mata, conforme se pode ler numa das cartas do nosso amigo e camarada J. Casimiro Carvalho, já aqui publicadas na série Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) ... (1)
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Notas de CV:

(*) Vd. postes de:

29 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3816: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (5): Strellado nos céus de Guileje, em 25 de Março de 1973 (Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav)

4 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3839: FAP (4): Drama, humor e... propaganda sob os céus de Tombali (Miguel Pessoa, Cor Pilav Ref)

9 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3859: FAP (6): A introdução do míssil russo SAM-7 Strela no CTIG ( J. Pinto Ferreira / Miguel Pessoa)

14 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3892: FAP (12): O Fur Mil Pil Mota, e as Enf páras Giselda e Natália, caídos no Como em 1973 e salvos pelos fuzos (Miguel Pessoa)

18 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3911: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (1): Em 1995, confirmaram-me que o local da cerimónia foi mais a sul (Miguel Pessoa)

27 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3948: FAP (14): Um dia rotineiro na Base Aérea nº 12, em Bissalanca (Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav, 1972/74)

8 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3999: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (5): Justamente recordadas no Dia Internacional da Mulher (Miguel Pessoa)

13 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4024: FAP (16): O reencontro, 22 anos depois, de Kurika da Mata com o Marcelino da Mata (Miguel Pessoa)

19 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4051: FAP (18): Kurika da Mata (Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74)

21 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4065: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-Quedistas (7): Os tomates do Capelão da BA 12, Bissalanca... e outras frutas (Miguel Pessoa)

28 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4088: FAP (20): Efemérides: 36 anos após a morte do Ten Cor Pilav Almeida Brito, abatido por um Strela em Madina do Boé (Miguel Pessoa)

1 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4119: FAP (21): Os meus sentimentos contraditórios no 'verão quente' de 1973 ... (Miguel Pessoa)


Vd. último poste da série de 6 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4146: Parabéns a você (3): No dia 6 de Abril de 2009, ao camarigo Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp, Guiné 1971/73 (Editores)

Guiné 63/74 - P4159: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca... é grande (4): Mais fotos do ronco da Tabanca de Matosinhos (Luís Graça)

Matosinhos > Restaurante Milho Rei > Tabanca de Matosinhos > 8 de Abril de 2009 > De costas, o Zé Manel, que veio da Régua; em frente, da esquerda para a direita, a Alice, de férias no Norte , a Dina e o marido Carlos Vinhal, o nosso actual editor em chefe...

Matosinhos > Restaurante Milho Rei > 8 de Abril de 2009 > O tradicional almoço das 4ªas feiras da Tabanca de Matosinhos > Em primeiro plano , o A. Marques Lopes que me fez uma surpresa: trouxe-me o Domingos Maçarico, que pertence ao ramo de Mira da família Maçarico, cujo núcleo duro, de origem, é Ribamar, concelho de Lourinhã... Fiquei a conhecer, pessoalmente, mais um parente... Engenheiro agrónomo, o Domingos vive em Lisboa. Apesar de ser um homem muito ocupado pelas funções profissionais que exerce num grande grupo económico português, jurámos encontrarmo-nos lá para as nossas bandas, na altura do Verão.

Matosinhos > Restaurante Milho Rei > Almoço das 4ªs feiras da Tabanca de Matosinhos > 8 de Abril de 2009 > Mais um aspecto da mesa, em U, à volta da qual se reuniu mais de 40 convivas...

Matosinhos > Restaurante Milho Rei > 8 de Abril de 2009 > Tabanca d Matosinhos > Esta semana houve rancho melhorado... O Xico Allen, um dos organizadores do almoço-convívio, juntamente com a cozinheira Isilda Maria do Rosário Gomes de Sousa, que foi contratada para o efeito.

Matosinhos > Restaurante Milho Rei > 8 de Abril de 2009> O chabéu de frango de arroz... Os sabores da Guiné...

Matosinhos > Restaurante Milho Rei > 8 de Abril de 2009 > O José Casimiro Carvalho e o cunhado Eduardo Campos (que foi 1º Cabo Trms, em Bijene, Cufar e Nhacra)...

Matosinhos > Restaurante Milho Rei > 8 de Abril de 2009 > O Álvaro Basto é outras almas que animam a Tabanca de Matosinhos (e o seu blogue)... Desta vez era o tesoureiro.

Dois amigos da Figueira, do tempo do liceu: O Domingos Maçarico e o António Pimentel... O Domingos é de Mira... Reconheceu neste encontro o seu velho condiscípulo, figueirense (que hoje vive no Porto)...

O Domingos Maçarico e o António Batista, o nosso camarada a quem chamamos carinhosamente o morto-vivo do Quirafo (no dia 17 de Abril próximo fará 37 anos a tragédia do Quirafo, em que o Batista foi um apanhado à unha pelos tipos do PAIGC e levado para a Conacri, como prisioneiro; em contrapartida, foi dado como morto pelo seu comandante e a tropa mandou enterrá-lo no cemitério da sua terra)...

Fotos e legendas: © Luís Graça (2009). Direitos reservados

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Nota de L.G. (em férias):

(*) Vd. poste de 8 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4158: O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande (3): Hoje houve ronco na Tabanca de Matosinhos (Luís Graça)

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4158: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca... é grande (3): Hoje houve ronco na Tabanca de Matosinhos (Luís Graça)

Matosinhos > 8 de Abril de 2009 > Tínhamos marcado encontro, hoje, no Restaurante Milho Rei, sito na esquina da Rua Heróis de França, 721, com a Av da República, e que é às quartas-feiras a sede da Tabanca de Matosinhos. Estavam lá todos ou quase todos os nossos camaradas de Matosinhos & arredores, os do costume, mais uns tantos, periquitos ou sulistas... Fica aqui uma foto (incompleta) de família... O resto da narrativa tem continuação, mais logo, se houver uma aberta na blogosfera...



Matosinhos > Restaurante Milho Rei > 8 de Abril de 2009 > A cozinheira, guineense, Isilda Maria do Rosário Gomes de Sousa, há 15 anos em Portugal. Filha de Salvador, irmão do Carlos Domingos Gomes, o velho Cadogo - comerciante de Bissau, nacionalista, e que eu tive o prazer de conhecer pessooalmente no Simpósio Internacional de Guileje (Bissau, 1-7 de Março de 2008), pai do actual primeiro ministro, Carlos Gomes Júnior ... (Aproveito para publicamente dizer, a todo o pessoal interessado, que ele Cadogo, teve a gentileza de me oferecer um exemplar, autografado, das suas memórias, e de me autorizar a sua publicação no nosso blogue, o que fareo em próxima oportunidade)...

Foi a simpatiquíssima Isilda que nos fez o panelão de chabéu, servido à mesa para mais de 4 dezenas de convivas... O petisco estava cinco estrelas, e mereceu os aplausos gerais. No início, o Xico Allen estava preocupado com o número (imprevisto) de comilões que foram chegando à mesa... Mas o chabéu chegou para todos....

A nossa amiga fez uma curta declaração para o blogue e fez votos de paz para o seu país... "Que deixem de se matar uns os outros!" - foi o seu grito de guerra...




Matosinhos > Restaurante Milho Rei > 8 de Abril de 2009 > A organizaçã estava a cargo do Xico Allen, do Silvério Lobo (aqui na foto) e do Álvaro Basto. O Zé Teixeira, desta vez, não compareceu, porque estava em viagem de turismo pelo Reino de Marrocos... O ambiente geral foi de grande alegria, confraternização, camaradagem, partilha... No vídeo, a nossa amiga Isilda cantou o Adeus, Guiné! com aquela energia e garra que nos habituámos a ver e a admirar nas mulheres guineenses.

Foto e vídeos: © Luís Graça (2009). Direitos reservados

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Notas de L.G.:

(*) 5 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4144: O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande (2): Partiu vivo jovem forte/Voltou bem grave e calado... (Sophia) (Vasco da Gama)

Guiné 63/74 - P4157: Não sei o tamanho do meu coração, mas todos cabeis nele, não tenho dúvida (J. Mexia Alves)

1. Mensagem de J. Mexia Alves, com data de 7 de Abril de 2009

Meu caro Carlos Vinhal

Para ti um abraço maior que o mundo pela tua amizade. Obrigado, bem hajas.

Meus caros editores

Deixo à vossa consideraçãoa publicação do texto que vos anexo e que foi a melhor forma que encontrei para agradecer a todos a amizade com que envolveram os meus 60 anos.

Calculo que poderá não ter a ver com a normal linha de textos da Tabanca, mas deixo isso à vossa consideração.

Agradeço apenas que me informem da vossa decisão para que se o dito cujo não for publicado, eu possa agradecer a todos em particular.

Junto também as fotografias de que falo e penso já fazem parte do arquivo da Tabanca.

Mais uma vez, obrigado, porque não tenho mais palavras.

Abraço camarigo da Guiné a Portugal do
Joaquim Mexia Alves


2. Caros Camarigos

Quando na noite de 5 para 6 de Abril, antes de me deitar, decidi ir despedir-me do pessoal da Tabanca, sentados à volta da fogueira, porque na Guiné faz frio como o caraças, sou surpreendido com a minha tromba esparramada pelas paredes da Tabanca.

Pensei logo o que é que teria feito para me ver ali tão retratado!

Percebi então que era por causa dos meus 60 anos, (já cá cantam), e comecei a ler o texto que lá estava publicado.

Qual não é o meu espanto quando me apercebo que tinha um sósia na Tabanca, pois os elogios e os encómios eram tantos, que só poderiam ser para um gajo muita parecido comigo, e que ainda por cima tinha uma fronha igual à minha!

Continuei a ler e tive de me render à evidência, o tal gajo afinal era eu, ou seja, afinal não havia outra!!!

Claro pensei logo em marcar consulta para o oftalmologista do Carlos Vinhal, porque o rapaz está nitidamente a precisar de umas novas lentes, porque as que tem dá-lhe para ver coisas que não existem!!!

Visões de qualidades e virtudes e coisas assim, que só existem na sua amizade!!!

À medida que ia lendo os comentários que iam surgindo a minha mulher ia-me chegando lenços de papel para conter a baba que me escorria queixo abaixo, não só por ter a boca aberta de espanto, mas porque salivava de tanta vaidade que me ia no pensamento.

Foi aí que tudo se esfumou, quando ela me perguntou com um ar incrédulo:

- Mas este és tu?

E largou a rir, com um riso contagiante, de quem tinha ouvido a melhor anedota do ano!

Confesso que fiquei um pouco chateado, porque, raios parta, não sou assim como me pintaram, mas que raio, hei-de ter alguma coisa de bom!

De qualquer maneira isto não se faz a um homem de 60 anos!!!

Não se põe assim um homem a chorar sem mais nem menos, sabendo que o desgraçado tem a lágrima fácil!

Até fez lembrar aquele filme do antigamente, (não me lembro qual), em que o Vasco Santana dizia qualquer coisa como: - Então bebeste vinho e estás a deitar água pelos olhos?

Não sei o que vos dizer a todos e muito particularmente ao Carlos Vinhal.

Obrigado parece-me pouco, mas é uma palavra que vinda do coração significa muito.

Talvez um muito português Bem Hajam, fique melhor e seja mais sentido.

Gostava de responder a cada um particularmente, mas a minha vivência da Semana Santa toma-me, graças a Deus, muito tempo, do qual não me quero desviar.

Mas uma coisa vos garanto:

Não sei o tamanho do meu coração, mas que todos cabeis nele não tenho dúvida nenhuma.

E, meus camarigos, se estais no meu coração, estais nas minhas orações que é o melhor que tenho para vos dar.

A todos e a cada um em particular o meu maior ABRAÇO CAMARIGO
Joaquim Mexia Alves

Para que este texto tenha a ver mais com a Guiné, mando duas fotografias: uma dos festejos dos meus 24 anos no Mato Cão, outra do meu estado após os festejos dos meus 23 anos no Xitole.

Xitole, 1972 > Fazer 23 anos é mesmo uma tragédia. Há até quem beba para esquecer

Mato Cão, 1973 > O ambiente ainda é sereno

Fotos: © J. Mexia Alves (2009). Direitos reservados
Legendas: CV



3. Comentário de CV:

Esta foi a forma que o nosso camarigo Joaquim encontrou para agradecer os elogios recebidos, que não merecia, enviados por uns quantos marmelos, que cegos pela amizade, lhe dirigiram injustamente.

4. Já agora aproveito a boleia para deixar aqui o comentário que o J. Mexia Alves fez no Poste 4155 do Jorge Cabral. Sem comentários.

Ó Jorge Cabral, só tu para nos dares esta história magnifica.
Deixo aqui a minha modesta contribuição, numa parceria com um tal Luís de Camões.

As armas e os Bandos assinalados,
Que do arame farpado de origem Lusitana,
Por matos nunca de antes espezinhados,
Não se atreveram a sair da sua cabana.
Em brincadeiras e jogos esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
Bebendo umas cervejas edificaram
Vários Quartéis que nunca abandonaram;

Cessem do pobre Almeida e do Troiano
As operações grandes que fizeram;
Cale-se do Bruno e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o Bando ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram:
Cesse tudo o que o Bruno antigo canta,
Que outro Bando mais alto se alevanta.

Abraço camarigo
JMA

__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4146: Parabéns a você (3): No dia 6 de Abril de 2009, ao camarigo Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp, Guiné 1971/73 (Editores)

(**) Vd. poste de 8 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4155: Estórias cabralianas (48): A Bandolândia ou uma aula de história em... 2092 (Jorge Cabral)

Guiné 63/74 - P4156: Convívios (107): Pessoal da CCAV 8351 - Tigres de Cumbijã, dia 9 de Maio de 2009 em Meadela, Viana do Castelo (João Melo)

Os Tigres de Cumbijã, 1972/74

Os TIGRES do Cumbijã vão reunir-se no próximo dia 9 de Maio em Viana do Castelo.

Encontro pelas 10 horas no Monte de Santa Luzia, junto ao Templo do Sagrado Coração de Jesus, onde pelas 11 horas será celebrada uma Missa.

Almoço na Quinta da Presa, freguesia de Meadela, a poucos minutos do Monte de Santa Luzia.

Agraddeço a confirmação, com indicação do número de pessoas, até ao dia 13 de Abril, por carta para:

Joaquim da Silva Costa
Tv. Almirante Pinheiro de Azevedo, 20
4435-092 Rio Tinto

Telf/Telem 224 896 133 / 962 659 543
email - joaquimsilvacosta@portugalmail.pt

Joaquim Costa
ex-Fur Mil
1.º e 2.º Pelotões

OBS:-Para obter mais pormenores, ampliar a imagem__________

Nota de CV.

Vd. último poste da série de 7 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4152: Convívios (105): 20.º Convívio da CCS/BART 1914, CART 1743, Pel Mort 1208 e Pel Daimler, Tite - 1967/69 (José Costa)

Guiné 63/74 - P4155: Estórias cabralianas (48): A Bandolândia ou uma aula de história em... 2092 (Jorge Cabral)

1. Mensagem de Jorge Cabral, enviada em 1 de corrente:

Amigos! A propósito de Bandos, uma viagem ao Futuro...
Grande Abraço

Jorge



2. Histórias cabralianas (*) > AULA DE HISTÓRIA – ANO 2092

O Cidadão – Aluno XI7 frequenta a décima semana do Curso Unificado – Primário, Secundário, Universitário, o qual segundo as normas da Declaração de Cacilhas, lher irá conferir o Diploma da Sabedoria.

Claro que, quando entrou na escola, já dominava muitas das matérias que antigamente demoravam anos a aprender, pois logo em criança lhe implantaram um chip com todos os conhecimentos básicos. Porém XI7, hoje chegou à aula cheio de dúvidas. É que encontrou uma fotografia do seu trisavô, vestido com uma farda e empunhando um instrumento, talvez uma arma.

Pediu esclarecimentos no lar comunitário onde reside, mas nem os pais, nem as mães o ajudaram. Levou a fotografia para mostrar ao Cidadão – Professor PY4, que naquele dia, ao contrário da semana anterior, parecia uma mulher.

Há mais de vinte anos que a identificação por género foi proibida e existem grandes progressos na criação do Ser hemafrodita. O PY4 mirou o retrato atentamente, dizendo que a paisagem por detrás da figura era certamente africana. Quanto ao homem fotografado representava sem dúvida um militar.
- Se calhar houve uma Guerra em África - concluiu, prometendo averiguar.

Na semana seguinte, após aturado estudo pode informar o Aluno:
- Sim, existiu uma espécie de Guerra, mas muito peculiar. Tratou-se principalmente de uma experiência para a recuperação de desiludidos e preguiçosos, que foram enviados para interagir entre eles, com a natureza e também com outros que se fingiam inimigos.
- E alguém morreu ou foi ferido? - interrogou XI7.
- Ah! Sim! Alguns. Divertiam-se muito a brincar dentro dos Quartéis. Jogavam futebol com granadas. Até colocavam minas junto das camas para serem pisadas logo ao levantar. E aos Domingos organizavam torneios nas paradas. Os ditos inimigos vinham logo de manhã e passavam o dia inteiro a guerrear. Uma verdadeira paródia!...

XI7, ficou a saber que teve um trisavô desiludido, preguiçoso, mas muito brincalhão e ainda perguntou:
- E nunca saíam dos Quartéis?
- Não, nunca os podiam abandonar. Eram os Bandos e povoavam todo o Território. Aliás, na altura pensou-se mesmo em mudar o nome do País. Quiseram chamar-lhe ... BANDOLÂNDIA.

Jorge Cabral

______

Nota de L.G.:

(*) Vd, último poste da série > 2 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4129: Estórias cabralianas (47): A minha mobilização: o galo dos Cabrais... (Jorge Cabral)

terça-feira, 7 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4154: Destas não reza a História (Manuel Maia) (1): Estou na Guiné há treze meses e a minha mulher está grávida

1. Mensagem de Manuel Maia, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine (1972/74), com data de 4 de Abril de 2009:

Agora é uma história verídica que teve como protagonista um indivíduo algo ingénio de Trás-os-Montes (profundo) que evidenciava claramente um coeficiente de inteligência baixíssimo e que por isso mesmo nunca deveria ter sido sujeito a situações com as da vivência de uma guerra.

Teríamos uns treze meses e picos de presença sofrida mas também pejada de situações engraçadas, por vezes roçando mesmo o estatuto de hilariantes, quando me foi contada esta que ora vos transmito.

Determinado soldado, casado, recebeu carta da família informando-o de que iria ser pai.

Irradiando uma satisfação do tamanho do mundo, o soldado em questão, sorriso rasgado de orelha a orelha, mostrou a missiva a um dos seus camaradas, amigo mais chegado:

- Vês pá, vou ser pai. Só peço a Deus que me deixe chegar são e salvo à terra para conhecer o meu filho que está p´ra chegar.
- Olha lá pá, retorquiu-lhe o amigo, com quantos meses de gravidez está a tua mulher?
- Sei lá!!!

Falando para os seus botões, o amigo murmurava:

- Como hei-de dizer a este gajo, a este caramelo, que o filho não é dele?

- Tu sabes há quantos meses estamos na Guiné?
- Isso sei! Nós viemos no dia de S. António e estamos em Julho... são, deixa cá ver...
- São treze meses, pá, treze longos meses feitos semana passada, na Terça-feira...
Então como é que é possível a tua mulher estar grávida de ti? Com quantos meses está de barriga? Tu não vês que a gravidez demora nove meses?
- Sei lá? Disso não percebo nada.
- Olha que essa mulher não serve p'ra ti, pá.
- Não serve proquê?
- Se ela gostasse de ti não te tinha feito o que fez.
- Que é que ele fez?
- Ela fez, ela fez, quem fez foi a irmã dela.
- A irmã dela, tua cunhada? Já não estou a perceber nada.
- Foi assim, eu andava enrabiscado com a irmã dela, mas a gaja um dia meteu-se cum tipo lá da terra dela. Quando fui no Domingo de Páscoa p'ra mor de namorar, ela tinha fugido com um gajo lá da terra.
- E quem foi que te contou?
- Foi a que agora é minha mulher. Disse-me, olha Tone, a minha irmã pôs-tos.
- Ela quê?
- Deixa lá rapaz, deixa lá, ela foi-se embora.
- Se tu quiseres posso ficar nas vezes da minha irmã.
- Se ela quis ir embora pois atão boa viaje.

- Começamos a namoriscar os dois e eu de vingança contra a primeira, casei-me co'a mais velha.
- Que idade tem ela?
- É mais velha do que eu p'rá aí uns sete ou oito anos. Deve ter trinta ou trinta e um, mas não fiquei a perder porque ela tem carta de tractor.
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4147: Blogpoesia (38): A Criatura e Rambo Guinéu (Manuel Maia)

Guiné 63/74 - P4153: Bur...akos em que vivemos (3): Acampamentos de apoio à construção da estrada T.Pinto/Cacheu (Jorge Picado/José Câmara)

1. Mensagem de Jorge Picado (*), ex-Cap Mil da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, CART 2732, Mansabá e CAOP 1, Teixeira Pinto, (1970/72), com data de 4 de Abril de 2009: Caro Carlos Como ouvi ou li? que estavas à beira do desemprego por falta de matéria prima, envio-te mais um pequeno (?) escrito para te entreteres e ires aguentando o lugar, que não é nenhum tacho... não me batas se nos encontrarmos na quarta-feira. Tive uma troca de mails com o camarada José Câmara (**) e perante o que ele escreveu achei por bem dar a conhecer esse conteúdo, pela parte que lhe toca. Apenas eliminei certas gralhas próprias da escrita por vezes mais apressada dos mails, aumentei os intervalos e acrescentei os sub-títulos, mas o sumo afinal é do J. Câmara. Também envio as minhas 2 fotos e as que ele me mandou e representam as magníficas instalações hoteleiras de *******estrelas em que ele esteve instalado naquele seu período de férias pago pelo Estado, com refeições dignas de qualquer Gran Chefe do famoso Guia Michelan. Abraço do Mansoa ao Cacheu Jorge Picado 2. Em 9 de Março p.p. recebi o mail que passo a transcrever, do camarada José Câmara. Senhor Capitão Picado. Prefiro tratá-lo assim. Aprendi, desde os meus tempos de berço, a respeitar tudo e todos. Tenho lido com muita atenção tudo o que tem escrito, sobretudo no que diz respeito à zona de Teixeira Pinto. Por lá andei. Fiz parte da CCaç 3327, uma Companhia do BII17 com sede em Angra do Heroísmo. A 3327 era comandada pelo Cap Mil Rogério Rebocho Alves que, infelizmente, nunca mais soube dele. Encontro-me emigrado desde 1973. Primeiramente estivemos na protecção à construção da estrada Teixeira Pinto/Cacheu. A minha Companhia ocupou os dois primeiros acampamentos à esquerda da estrada, uns quilómetros acima do Bachile. De lá, por altura do começo das chuvas (Junho de 1971) fomos para Bassarel. Em Novembro a Companhia seguiu para Tite e Bissássema, tendo eu seguido para as tropas africanas... No seu escrito sobre as consoadas, você demonstra dúvida se existia alguma Unidade Africana no Bachile. De facto, o Bachile era, nessa altura, a sede da CCaç 16 uma Companhia de Nativos. Essa Companhia, como todas as outras nativas tinha, por base, os soldados atiradores nativos. Os graduados e especialistas eram quase todos metropolitanos, açorianos e madeirenses. Espero que este esclarecimento lhe possa servir em próximos escritos. Como se diz na minha terra, e com todo o respeito, haja saúde. Cumprimentos José Câmara Ex.Fur Mil 3. Em 12 de Março p.p. respondi-lhe deste modo: Caro camarada de armas da Guiné, José Câmara. Primeiramente quero pedir desculpa por só agora responder ao seu mail, cujas informações muito agradeço. Creia que não o fiz por desconsideração, mas apenas pelo simples facto de que tomei conhecimento dele fugidiamente, isto é, sem tempo para o apreciar já na noite do dia 10 e, afazeres diversos, só agora me permitiram lê-lo com calma. Tenho quase a certeza que na estrada em construção, não cheguei aos locais onde estavam instalados, pois creio que o mais longe que atingi foi Bachile. Tenho porém duas fotografias, obtidas de meio aéreo que são duma parte dessa estrada, que admito terem sido obtidas em 12 de Outubro de 1971, porque nesse dia desloquei-me a Jolmete, que fica perto do Rio Cacheu mas na direcção norte de Có, e ao Cacheu, localidades muito distantes uma da outra e nessa época sem ligação terrestre. Entre elas ficava a Coboiana, zona ocupada pelos guerrilheiros. Portanto eu fui de DO ou mais provavelmente de Héli e ao sobrevoarmos a estrada em construção, tirei essas fotografias. Envio-lhas para ver se consegue identificar algo, porque no cimo duma delas nota-se uma área quadrada ou rectangular que parece um acampamento. Porém, tivemos com toda a certeza, momentos de encontro em Bassarel, uma vez que afirma terem-se deslocado para esta aldeia em Junho e saído de lá em Novembro. Ora, tenho um apontamento no dia 25MAI71, "caíram primeiras chuvas (muito pouca coisa) à noite" e logo no dia 5JUN71, tenho apontado, Bassarel, Calequisse. Segue-se: 15JUN Bassarel, Chulame (Granja e Veterinária); 28JUN Bajobe, Bassarel (almoço), provas passagem, dos alunos das escola subentenda-se; 3JUL almoço no Bachile com Cor., Ten Cor., visita Chulame, Bassarel, Calequisse. Depois das férias ou seja depois de 16AGO e até ao fim de Novembro, Bassarel aparece uma só vez, no dia 13OUT, englobada entre Bajope, Blequisse, Cajinjassá, Chulame, Calequisse e Cati. Para já é tudo que consigo descortinar nos meus poucos apontamentos. Já agora agradecia-lhe que não me tratasse por Capitão. Isso, como já deve ter percebido dos meus escritos, foi um acidente de percurso na minha vida profissional que muito me traumatizou. Trate-me simplesmente por Jorge Picado e proponho-lhe mais, como camaradas e da Tabanca use o tratamento por tu. Creia que para mim isso não significa falta de respeito. Aprendi com o meu Pai, que foi emigrante nos USA desde cerca de 1920(?) até à década de 60, que lá todos se tratava por tu. Já vê. Não sei em que País está a viver, nem tão pouco se é Metropolitano ou Açoriano. Se é Açoriano, entre outros tive um colega de Curso, sou Engenheiro Agrónomo, e igualmente colega do Curso de Capitão que também foi para a Guiné no mesmo período (1970-1972), chamado António da Costa Santos, duma Família muito abastada desse arquipélago. Um abraço Jorge Picado 4. Ora em 29 de Março p.p. chegou a seguinte resposta: Caro camarada de armas Jorge Picado. Obrigado pela sua resposta, pelas fotografias e pela cortesia demonstrada. Continuação de boa saúde para si e todos os que o rodeiam. Estrada Teixeira Pinto – Cacheu Nunca tinha visto a estrada do ar. Traz lágrimas aos olhos, e recordações que aos poucos se vão desvanecendo na memória. Se bem me lembro, a estrada tinha apenas duas grandes curvas à esquerda: a primeira logo a seguir ao Bachile e a outra à entrada do Cacheu. É pena que uma das fotografias não mostre a curva, para em seguida mostrar aquilo que parece ser um descampado que serviu de acampamento, ou um aterro do qual se tirava brita-massame para servir de base à estrada. Se a referida fotografia é, como eu penso ser, da curva a seguir ao Bachile, e se é de facto o local de um dos destacamentos, só poderia pertencer aos dois grupos da Companhia do Fontinha (CCaç 2791). A minha Companhia esteve nos dois acampamentos à esquerda, quem vai na direcção Teixeira Pinto-Cacheu, a cerca de 10Km do Bachile. Os BU…RAKOS em que vivemos (***) O Jorge diz que não conheceu nenhum dos acampamentos. Foi pena que não os tenha conhecido, mas foi muito bom que não tenha acampado em nenhum deles. Pode ter a certeza que o inferno não podia ser pior, e que as vacas do meu pai tinham melhores condições que nós. As condições de vivência eram pura e simplesmente desumanas, e o trabalho a que estávamos submetidos era infernal. Para ter uma ideia, aqui vai: 1 - Actividade militar - Dois GC saíam para o mato, pelo período de 24 horas, patrulhando e emboscando, e fazendo protecção afastada do acampamento. Dos dois Grupos que ficavam (que afinal eram os dois Grupos acabados de regressar do mato), um saía de imediato - ao regresso do mato - para a picagem da zona onde a estrada ía passar e cujo traçado já estava feito, e ficando por lá até às 6 da tarde para fazer a protecção próxima das máquinas e dos capinadores. O outro GComb ficava com os serviços de sentinelas, ida ao Bachile para água, correio, pão, etc, e arranjo da lenha para a cozinha. Durante a noite, esses dois grupos faziam de vigilância nos dez postos de sentinela (3 soldados por cada posto). Depois de 24 horas tudo se trocava... e continuava a mesma música. De treze em treze dias, uma secção descansava entre as 6 da tarde e as 6 da manhã, desde que não acontecesse embrulhanço. Felizmente que nunca aconteceu! 2 - Alimentação: ração de combate dia sim dia não, sendo que o grupo que seguia para a picada da estrada tinha apenas uma lata de fruta para o meio dia. 3 - Dormir - Três meses e meio a dormir em cima de um pano de tenda de campanha. 4 - Condições de higiene - Latrinas a céu aberto, com todas as consequências adversas que isso acarretava, água para banho ao mínimo, um frigorífico para bebidas e produtos alimentares, etc, etc... De tudo isso poderá observar alguns aspectos do que foi essa vivência nas fotografias que junto. São bem visíveis as coberturas de palmeira, a vala feita a buldozer, e a imagem de N.ª Sr.ª do Coração de Jesus (não fosse a Companhia de açorianos bem enraizados na fé cristã). Mas afinal o porquê de lhe chamarmos Mata dos Madeiros? Julgo que, oficialmente, não existe esse nome em qualquer mapa que eu tenha consultado. Portanto é de admitir que esse nome é de gira popular, e se referisse a uma faixa de terreno que existe entre a estrada velha e a estrada nova que se estava a construir. Antes da guerra começar naquela ex-província, uma companhia de madeiras deixou, por lá, alguns troncos de árvores enormes, junto da estrada velha que ligava Teixeira Pinto e o Cacheu. Tive a oportunidade de contemplar esses lindos troncos de árvores. Julgo que essa deve ser a explicação para o nome Mata dos Madeiros. Adiante... Direito há Indignação de mais um elemento dos BANDOS Sem me querer desviar do assunto, e porque mais uma vez estalou controvérsia (segundo li no blogue do Luís Graça) tenho a certeza que o general Almeida Bruno teria tido imenso prazer em fazer parte do bando que era a CCaç 3327, no período em que essa Companhia esteve naquela Mata. Ou nos cerca dos 10 000 blocos que já deixou feitos em Bassarel. Se isso não for o suficiente, posso acrescentar as 100 (cem) casas e as 7 (sete) escolas que construiu em Bissássema (zona de Tite), os dois furos artesianos e correspondentes fontanários, e ainda a sua actividade militar com as consequentes baixas. Pessoalmente, sou natural da ilha das Flores, Açores, e emigrei para os EUA em Julho de 1973. Profissionalmente estou ligado ao ramo de seguro automóvel. Resido com a minha esposa e um filho em Stoughton, MA., e ainda tenho duas filhas já casadas e cinco netas. Nada mau! Sou, no meio das minhas recordações, um homem em paz consigo mesmo, e com a consciência tranquila de que cumpri o meu dever para com o País. A guerra era impopular. Disso não tivemos culpa. Choro de raiva quando me chamam soldado colonialista. Nenhum de nós, obrigados que fomos ao serviço militar, o foi. E desconheço a guerra em que fomos derrotados militarmente, e nunca estive em zonas libertadas. Porque, pura e simplesmente, nunca fui impedido de ir a qualquer lugar na Guiné. Zonas difíceis sim. Inexpugnáveis não. A estrada de que temos vindo a falar é prova disso mesmo. Pode utilizar tudo o que ficou escrito, bem assim como as fotografias, em tudo o que lhe for útil para os seus escritos. No meio de tudo isto apenas peço desculpa por um outro erro cometido. Sempre são trinta e seis anos fora do País. Com os meus melhores cumprimentos, e um abraço que só nós, os que combatemos na Guiné, compreendem José Câmara Fur Mil CCaç 3327 Imagem de N.ª Sr.ª do Coração de Jesus PS:- As minhas fotos são do mesmo local mas de ângulos diferentes e não apanham qualquer zona asfaltada. Há sim, uma larga área desmatada, onde são visíveis vários caminhos, além da fita mais larga, que se cruzam. Quando as examinei com grande ampliação verifiquei numerosos traços representativos de árvores e palmeiras deitadas no solo. Por sua vez na Dig0016, na parte superior apercebe-se uma mancha clara, que em grande ampliação dá aideia de ter um acampamento. Com as fotos do camarada quase me convenço que seja do antigo acampamento. Jorge Picado __________ Notas de CV: (*) Vd. poste de 17 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4041: O Spínola que eu conheci (4): Mansoa, 17 de Março de 1970, com o Ministro do Ultramar (Jorge Picado) (**) Vd. poste de 22 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3777: O Nosso Livro de Visitas (54): Um camarada da diáspora, José Câmara, da açoriana CCAÇ 3327 (1971/73) (***) Vd. poste da série de 5 de Abril de 2009 Guiné 63/74 - P4141: Os Bu... rakos em que vivemos (2): Bula, CCCAÇ 2790 (António Matos)

Guiné 63/74 - P4152: Convívios (106): 20.º Convívio da CCS/BART 1914, CART 1743, Pel Mort 1208 e Pel Daimler, Tite - 1967/69 (José Costa)

1. Mensagem de José Costa (*), ex-1.º Cabo Op de Mensagens da CCS/BART 1914, Tite, 1967/69, com data de 4 de Abril de 2009:

Assunto: 20.º CONVÍVIO DA CCS BART1914

Amigos,
gostaria que repassassem através dos vossos contactos, a notícia do 20.º Convívio da CCS do BART 1914 e da CART 1743, PELOTÃO DE MORTEIROS 1208 E PELOTÃO DAIMLER que estiveram sediados em TITE - GUINÉ de 1967 a 1969.

O convívio realiza-se em OVAR a 23 de Maio p.f. e o organizador:
JOSÉ COSTA
telem. 964 013 329


Quem estiver interessado em participar, só tem de confirmar até 17 de Maio p.f.

Um abraço
José Costa

MOBILIZAÇÃO GERAL

O Comando da CCS do BART 1914 sediado provisoriamente em OVAR, comunica a todos os ex-militares deste Batalhão, bem como a todos os camaradas que estiveram em TITE, GUINÉ-BISSAU de 1967 a 1969 a comparecerem no dia 23 de Maio próximo, para um fraterno e são convívio, que terá lugar num Restaurante desta cidade de Ovar. Convite extensivo a toda a família e amigos.

Ordem dos trabalhos:

20º CONVÍVIO EM OVAR
40º ANIVERSÁRIO DO NOSSO REGRESSO
RENOVAR OS LAÇOS DE AMIZADE QUE CONTA MAIS DE 40 ANOS!
RECEBER E ACARINHAR AQUELES QUE POR VÁRIOS MOTIVOS NUNCA PODERAM ESTAR PRESENTES
TRAGAM AS VOSSAS FOTOS TIRADAS EM TITE

Recepção e local de concentração:

Pelas: 10;30 JARDIM DOS CAMPOS (Junto ao busto do escritor JÚLIO DINIS)

13;00 RESTAURANTE “A GARRAFEIRA”

Ficas desde já mobilizado para confirmares a tua presença e de quantas pessoas te acompanham impreterivelmente até ao dia; 17 de Maio.

Contacto:

José Pinho da Costa
Rua Tenente-Coronel Camossa, 177
3880-100 OVAR
Telefones Móbil: 964 013 329 ou 256 572 053 ou 256 572 881
e-Mail: jpcovr@sapo.pt

Obs: A fim de facilitar e evitar fila na hora do almoço, podem pagar antecipadamente 18,50 Euros por cada pessoa. Enviar cheque ou vale de correio, para morada acima.


OVAR
CHEGAR E FICAR


Ovar, situa-se a cerca de 35Km das cidades do Porto e de Aveiro, no extremo norte da Ria de Aveiro.

Para chegar até Ovar, poderás fazê-lo através de uma das inúmeras circulações dos Caminhos de Ferro (consulta as tabela dos horários) com paragem em: OVAR. Aqui chegados, podes fazer o percurso até ao Jardim dos Campos, +- 10 minutos a pé.

Caso venhas de carro do Sul pela A1, sai para ESTARREJA e entra na A29 e sai em: OVAR SUL. Segue sempre em frente para Ovar/Furadouro/Hospital até aos Bombeiros V. de Ovar, vira à direita (Centro) até ao JARDIM dos CAMPOS ou JARDIM as ROSAS +- 200 mts.

Caso venhas do Norte, pela A29, sai em OVAR NORTE. Segue as rotundas. Na 4 Rotunda (estátuas em mármore) Contorna e segue para Ovar Centro. Vira à direita no semáforo. Procura seguir a pista do Hospital, segue em frente até aparecer outro semáforo (em frente fica os Bombeiros) Vira à esquerda, (Centro) o Jardim dos Campos ou Jardim das Rosas fica +- a 200 mtos.

Ainda podes chegar aqui através da EN109 e seguindo as indicações já descritas em cima.

Podes estacionar a viatura no parque do restaurante e seguir a pé até ao jardim logo abaixo uns 200 mts.


ONDE PERNOITAR

AQUA HOTEL Telf. 256 575 106 em OVAR
HOTEL MEIA-LUA Telf. 256 581 060 em OVAR
POUSADA DA JUVENTUDE Telf. 256 591 832 em OVAR
ESTALAGEM RIABELA Telf. 234 838 137 em TORREIRA estrada da Ria
INATEL telf. 256 372 048/9 em STA. MARIA DA FEIRA
PENSÃO RESIDENCIAL LOIOS Telf. 256 379 570 em STA. MARIA DA FEIRA
NOVA CRUZ HOTEL Telf. 256 371 400 em STA.MARIA FEIRA (100 m portagem AE1 saída para S.M. da FEIRA)


ALMOÇO CONVÍVIO - OVAR 23 DE MAIO DE 2009
BATALHÃO DE ARTILHARIA 1914
TITE - GUINÉ 1967/67

EMENTA


Entradas - Rissóis, Croquetes e Bolinhos de Bacalhau
Sopa de Legumes
Cozido à Portuguesa
Vinho Verde e Maduro da Casa, Cerveja, Sumos e Águas
Salada de Frutas, Pudim Molotof e Bolo do Batalhão
Café, Digestivos e Espumante

Preço por pessoa... 18,50 Euros
Crianças até 10 anos pagam 50%

RESTAURANTE GARRAFEIRA
Telef 256 574 118
Fax 256 574 400
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 23 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3348: Tabanca Grande (93): José Pinho da Costa, ex-1.º Cabo Op Mensagens da CCS/BART 1914, Guiné, 1967/69

Vd. último poste da série de 1 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4120: Convívios (104): Pessoal de Bambadinca 1969/71: BCAÇ 2852, CCAÇ 12, Pel Caç Nat 52, 54 e 63... Castro Daire, 30/5/2009

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4151: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (12): As origens dos bandos da Guiné (Magalhães Ribeiro)

1. Mensagem de Magalhães Ribeiro, ex-Fur Mil de Operações Especiais, CCS do BCAÇ 4612/74, Cumuré, Mansoa e Brá (1974), com data de 4 de Abril de 2009:

Boa tarde Amigos bloguistas,
Quem não viu/ouviu o programa do Joaquim Furtado, tem que ouvi-lo na totalidade para analisar o contexto em que as palavras foram proferidas pelo Sr. General Almeida Bruno.

Eu penso que vi/ouvi bem o dito programa, embora na altura tivesse junto de mim o meu filho e a minha mulher a conversar e posso ter deturpado o sentido da tão discutida frase. Reparem que nadíssima me move contra o general A.B., pois eu considero-me seu amigo pessoal há uns anos a esta parte, tendo até várias fotos (uma delas podem vê-la no meu blogue) e o seu cartão de visita.

No entanto, o silêncio do general (que eu saiba o mesmo ainda não disse nada acerca da sua entrevista), sobre esta gravíssima matéria é comprometedor, pelo que ele duplamente simboliza: quer como oficial superior do Exército Português, quer como militar prestigiado e condecorado aos mais elevado níveis, como ex-Combatente do Ultramar.
Excerto do programa da RTP, A Guerra, II Série, 3º Episódio, com as declarações do Gen Almeida Bruno (Cortesia do Magalhães Ribeiro)

Quem não se sente não é filho de boa gente, e estou à espera que ele a qualquer momento, face à grande contestação da malta (nomeadamente junto da Liga dos Combatentes), se pronuncie sobre a verdade dos factos, isto é sobre o que realmente nos quis transmitir com aquelas palavras. Na quase certeza absoluta que ouvi bem o que ele disse, e face à ira dos ex-Combatentes e à surpresa gerada entre os esforçados e sacrificados COMANDOS (em especial aquela que eu melhor conheci a 38ª Cia.), que o general omitiu na entrevista vá-se lá saber porquê, aguardemos pelos próximos episódios.

Hoje anexo o restante texto que completa o post 4126, e a que dei o título de: As origens dos bandos da Guiné.

No fundo do anexo podem ler uma primeira reacção do nosso camarada bloguista John Bonifácio (João).

Um grande abraço amigo do MR


2. Guiné: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general & O nosso direito à indignação.

As origens dos bandos da Guiné

Enquanto a memória não me atraiçoa, já que, com o implacável e irreversível avançar do tempo, vou sentindo que a senilidade se vai apoderando lentamente de mim, quero completar a minha divagação apresentada no post 4126 (*).

Já pensaram bem qual era, afinal, as origens dos bandos a que o Sr. General Almeida Bruno se refere na entrevista inserida no célebre episódio televisivo e que arribavam à Guiné em navios e aviões.

Em navios onde os bandos de praças viajavam cinco horríveis dias apinhados nos porões, no meio de um agoniante e enjoativo cheiro a vomitado, proveniente daqueles que enjoavam. No Uíge, onde regressámos, não posso dizer-vos como era a comida dos soldados, porque felizmente nunca a provei.

Pois os bandos surgiam chamados, obrigatoriamente, pelas Forças Armadas às fileiras 4 ou 5 dos seus mais belos anos, na flor da idade, períodos estes roubados à convivência com os amigos, namoradas, esposas e famílias, aos jogos de bola e outro desportos, aos estudos, aos dias de sol nas praias, etc.

Uns tantos estudavam, enquanto outros desde tenra idade laboravam em escritórios, fábricas, oficinas, outros já amargavam na rude vida dos campos com os seus pais, etc.

Havia os que pediam, por motivo óbvio, o amparo de mãe e algumas vezes lá o conseguiam, e os que estudavam e viam aprovados os pedidos de adiamento de incorporação, para poderem concluir os seus bacharelatos e licenciaturas.

Repare-se que em número de anos dedicado aos livros, tal perfazia uns 15 anos (4 primários + 7 liceus + 4, no mínimo, universitários).

A grande maioria de nós era quase imberbe, jamais tinha sequer viajado para fora da sua aldeia, vila ou cidade, alguns completamente desprovidos de qualquer grau de agressividade e, a quase totalidade, nunca tinha visto e muito menos pegado numa arma, nem sequer numa simples fisga.

Não vou falar aqui nos que fugiram, nem naqueles que por vários motivos, em que o medo/terror a uma eventual ida para a tropa/Ultramar era factor comum, se auto mutilavam ou arranjavam quem os mutilasse (lembro-me de um rapaz que pediu a outro que lhe cortasse o indicador direito), ou daqueles que arranjavam uma boa cunha para se safarem, ou da tropa toda, ou, pelo menos, da ida para o Ultramar.

Também não vou escrever mais nada da deficiente e quase ineficaz instrução dos bandos (já o fiz no post 4126), e que muitos só através da experiência (por vezes misturada de sangue e morte), que iam adquirindo aos longo do passar do tempo, mas um pouco daquilo que mais os revoltava, enfraquecia e desmotivava que eram as doenças, a qualidade da alimentação e as instalações.

Não é preciso ser médico para sabermos que as mazelas físicas (mais evidentes) e psíquicas (não menos mutilantes e desgastantes por invisíveis que sejam), reflectidas nas diversas doenças que contribuíram, e vêm contribuindo, para nos ajudar a matar. As maleitas venéreas, as disenterias, os paludismos, etc. a que se juntaram os efeitos da angústia das esperas de ataques do IN e, ou, dos que estiveram submetidos a ferro e fogo, de sermos feridos os mortos e de vermos serem feridos e mortos, ao nosso lado, os nossos irmãos de armas.

Excluindo qualquer crítica aos vagomestres, no mínimo, incompetentes, que não dignificavam os seus pares, queria apenas falar-vos dos alimentos de que me lembro, e que seria bom que um dos homens especialista neste assunto, nos descrevesse aquilo de que se lembra e que lá, nos confins da Guiné, onde os reabastecimentos eram obra maquiavélica, nos fazia sobreviver.

A verdade seja dita eu na minha estadia na Guiné, fui um privilegiado já que fome, propriamente dita, nunca passei. A ração de combate sempre dava para desenrascar e lembro-me do vinho nos chegar em bidões de 215 litros (salvo erro) fervidos e refervidos ao sol, da cerveja em lata, do bacalhau liofilizado, do leite em pó da Arábia Saudita e do pêssego em calda que constituía, invariavelmente, as nossa sobremesas.

Lembro-me da odiada comida de puta: arroz, com 1 ovo estrelado 2 salsichas e uma tira de fiambre, que era uma ementa muito utilizada.

Quanto a instalações fora de Bissau, os pré-fabricados eram um luxo, mas alguns destacamentos e secções, estrategicamente colocados em posições mais interiores e, ou, avançadas, viviam em autênticos buracos escavados no solo, cobertos com troncos de árvores e, ou, chapas de bidões cortados e alisados para o efeito.

Era então no seio destes potenciais mancebos, com 21/22 anos, que os bandos se iam treinando e formando, no Exército, na Marinha e na Aviação, recrutados em nome de Portugal, e que, doa a quem doer, com maior ou menor dificuldade, pesem-se na generalidade todos os inconvenientes, contrariedades sofrimentos, deficiente instrução, péssima alimentação, ferimentos e mortes, estóica e bravamente aguentaram inigualavelmente 36 anos de guerrilha na mata (13 em Angola, 12 em Moçambique e 11 na Guiné), ainda hoje considerado por grandes estrategas e estudiosos da matéria guerra, como um feito incomparável e prodigioso, ao nível mundial, até aos dias de hoje.

Resta-me acrescentar que, ninguém pense que eu sou apologista de qualquer resquício anti-militar, já que eu sou defensor, para muitos fins e efeitos que também não vou agora descrever, que todos os nossos jovens, mesmo em tempo da paz podre em que vivemos, deviam ser chamados aos quartéis uns 6 meses, afim de receberem instrução de recruta e uma especialidade.

Para concluir, lembro apenas aos mais distraídos, que os monumentos construídos em memória dos Combatentes do Ultramar, são erigidos em homenagem não ao fuzileiro xis ou ao pára-quedista y, mas em homenagem ao esforço global de todos os ex-Combatentes.

Já foi publicado no blogue - post 3490 -, um poema que em tempos escrevi a propósito, e aqui repito:

3. Sombras desta pseudo-democracia!

Éramos uns putos... feitos Homens!
Arrancados aos bancos dos liceus
Largando mães, namoradas, esposas...
Enfiados em quartéis... longe dos seus

Éramos uns putos... mas tesos!
Sabíamos que o destino era a guerra
Lá... muito longe... em meio hostil...
Pleno de mata, trilho, rio e serra

Éramos uns putos... com vinte anos!
Que crescemos mais rapidamente
Cientes que a coisa era… séria
Cheia de riscos... perigosamente!

Éramos uns putos... mas solidários!
Soubemos ultrapassar as dificuldades
À custa de vasto suor e muito sangue...
Algumas cicatrizes e enfermidades

Éramos uns putos... quase imberbes!
Instruídos p'ra matar... custa a crer!
Imbuídos duma obsessão suprema;
Acima de tudo... sobreviver!

Éramos uns putos... uma geração!
Lidamos com as privações e a morte
Cada um teve a sua missão
Com maior ou menor dose de sorte

Éramos uns putos... temperados!
Quantas vezes superamos as fraquezas
Para dar uma ilusão de sermos fortes
De modo a derrotar dores e tristezas!

Éramos uns putos... Grandes… enfim!
Fomos lá... cumprir... melhor ou pior!
Cada um com seus receios... medos!
Em nome dum Império duro e opressor

Hoje estes putos... já são avós!
E uma coisa estranham... revoltados!
O repugnante ostracismo político
A que, como ex-combatentes, são votados!

Quando pensaram: Cumpri com a PÁTRIA!
Descobriram, digamos que... espantados!
Somos sombras desta pseudo-democracia!
Pura e simplesmente... ignorados!


Cientes que os voluntários foram poucos
E os que não fugiram foram bastantes
A indignação é tanto mais e revoltante…
Quanto os sentimentos são frustrantes

Rezando pelos que entretanto vão partindo
Vão dando continuidade à vida… desgostosos
Desta imensa e repulsiva ingratidão
Por parte de políticos velhacos e rancorosos

Mantendo porém… firmes a sua esperança
Que neste país após a abrilada
Políticos com sentido e Amor Pátrio
Lhes prestem justiça e… mais nada

Porque tudo deram… do seu melhor!
Por vezes… sabe Deus com que sacrifícios
Dez mil morreram na flor da idade, e…
Milhares ainda sofrem mil malefícios!

Trocando experiências e memórias
Estes homens convivem entre si… alegremente
Tornam-se amigos, camaradas... irmãos…
Entre palavras, risos e choros... intestinamente!

Um abraço amigo do Pira de Mansoa
M.R.


4. Respostas do João Gomes Bonifácio

Magalhães, recebi o teu e-mail em relação às palavras proferidas por um oficial que todos conhecemos e que agora tanto nos desiludiu e entristeceu. Já tive a oportunidade de me referir a este caso há uns dias com outro nosso amigo e, do mesmo modo, fiz sentir, que o então Capitão Bruno, Ajudante de Campo do Gen. Spínola, não passou por ser mais do que isso, um militar sem mais que fazer do que: "toma nota Bruno". Depois da sua passagem pela Guiné, sem nunca ter sofrido o que outros de igual patente sofreram.

No mínimo considero uma afronta a inteligência dos seus camaradas com a mesma patente, e para com os militares em geral.

Um dos motivos que eu gostaria de focar relaciona-se com as tuas observações no que concerne à alimentação das nossas tropas.

Depois da minha recruta na Escola Prática de Cavalaria em Santarém, segui para a Póvoa de Varzim, onde fui tirar a especialidade de alimentação.

Também eu, e como referenciaste, tive a sorte de ter um rancho de primeira qualidade, porque também se formavam cozinheiros naquela escola.

Uma das promessas que eu fiz logo no início, foi de estudar bastante para conseguir a melhor classificação, que me permitisse poder escolher a unidade perto da minha família e, do mesmo modo, poder continuar a aprender a administração da alimentação, que no papel parecia muito simples, mas que se provaria mais tarde, que afinal o curso de pouco valeu.

Eu tive a sorte de logo após a chegada ao R.I.3 de Beja, ser logo nomeado para gerente da messe de Sargentos e Cabos Milicianos. Duas Messes, as mesmas refeições, apenas salas diferentes. Como podes imaginar e sendo uma unidade de recrutamento e instrução, eu tinha sempre uma enorme família às refeições.

Foi muito positiva toda a experiência que adquiri em Beja, pois serviu para na Guiné, minimizar todas as frustrações passadas, pelas constantes faltas de géneros e condições de trabalho e higiene, de modo a que a situação dos militares não se ressentisse.

É evidente e estou de acordo contigo, em dizer que a comida dos ranchos era uma lástima e às vezes até poderíamos de chamar imprópria para humanos, muito pior por se tratarem de soldados que sofriam um grande desgaste para cumprir as ordens e os caprichos que chegavam com frequência do poderoso Cmdt de Cia.

Contudo, tudo isto poderia ser tolerado se na altura não houvessem a tais liberdades, que de um modo geral, classificavam os tais vagomestres e eu era no fundo um deles.

Uma diferença existia. Eu procurei sempre, mas sempre, olhar pelo bem estar físico e até psicológico do soldado, tentando dentro das condições que tinha, de lhes proporcionar uma alimentação com os requisitos desejados e que eu tinha aprendido, tendo em conta as linhas de reabastecimento, o clima e o meio ambiente. A selecção de ementas foi feita e alterada sempre que tal se justificava, mais por falta de géneros do que pelo próprio desejo de mudar.

Tivemos que ser flexíveis e nisto estou a falar na quantidade de peixe, carne, vegetais e frutas.

Estivemos em CO onde havia muito e bom peixe e fruta local que foi sendo alterada com a da Militar. A Carne era pouca, porque a Companhia anterior fez por garantir que os que viessem a seguir não tinham vacas para comprar.

No Olossato, não havia peixe, mas muita carne. Como era costume eu mandava os Balantas irem a mata e roubar aos turras.

Na qualidade da comida, existem diferenças em se cozinhar para 150 soldados numa panela grande, e neste caso duas de 100, ou separar e cozinhar em panelas de 50 ou sejam quatro mais pequenas.

Os resultados são iguais, mas a qualidade é muito mais elevada e por razões que tem que ver com a atenção ao detalhe que eu exigia dos cozinheiros do rancho.

Nas messes por onde andei nunca tive problemas pois tive a sorte de ter tido profissionais da indústria hoteleira. O mesmo se pode dizer do pão. Nós tínhamos pão de Lisboa, onde através de uma mistura de farinhas americana e francesa, o meu padeiro, também profissional (condutor da tropa), nos prendou com o que se constava nessa altura como o melhor pão da Guiné.

Todos nós sabemos das diferenças entre os vários escalões das FA, dos graus de educação, das personalidades individuais, mas todos estamos de acordo, que muitos casos lamentáveis de má qualidade e até de fome, tenham sido originados e aqui dói-me dizê-lo, pela incompetência e desinteresse de colegas meus, e também pelas dificuldades de reabastecimento.

Para tudo era preciso uma cunha e boa. Eu tive sorte. O Camarão e a Ostra de Co ajudaram a derrubar muitas barreiras, e eu não tive nunca esse problema. Tive a coluna de reabastecimento a tempo e horas e o avião sempre disponível para me levar o carapau, sardinha, peixe-espada, pescada e fruta do continente.

No fim disto, e tal como todos os que sabem dos comentários do Gen. Bruno, e da falta de sentimentos por ele demonstrado, é de um desnível educacional ao mais alto ponto.

A tropa de macaca ou outro nome que indicaste, não teve culpa da má preparação. Nesse tempo era assim. Os PÁRAS, FUSOS E COMANDOS é que eram a elite. Mas eram eles, que tendo a boa vida que eu sabia em Bissau, eram os primeiros a ser mandados para os chamados pontos quentes. Depois a tal tropa ia fazer o rescaldo do que sobrasse.

Achei sempre que era injusto, mas tudo era diferente. Tão diferente que até eu me sentia Elite por saber que estava preparado para tomar conta da Alimentação dos militares sob a minha responsabilidade, mas também de todos os serviços administrativos da Companhia de Caçadores de que fazia parte.

Muito Obrigado pelo teu texto. Gostei de ler, mas também queria que soubesses, que na maioria dos casos, a incompetência, o interesse, a dedicação, e até a corrupção, estiveram para além de tudo, muito embora os reabastecimentos para o mato fossem muito complicados.

Um Grande Abraço,
João Gomes Bonifácio
Ex-Fur. Milº do Serv. de Admn. Militar
CCaç. 2402/Bat. 2851
Guiné 68/70
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 2 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4126: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (7): Os Bravos da Tropa Macaca (Eduardo Magalhães Ribeiro)

Vd. último poste da série de 6 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4149: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (11): Meditei sobre as palavras do sr. gen. Almeida Bruno (Mário Fitas)