quinta-feira, 14 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4345: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (16): Emboscada nocturna no Olossato

1. Mensagem de Raul Albino, ex-Alf Mil da CCAÇ 2402/BCAÇ 2851, (, Mansabá e Olossato, 1968/70), com data de 17 de Abril de 2009:

Amigo Carlos,
Aqui vai mais um artigo da CCaç 2402.

Um abraço para ti e para os outros editores "desenfiados".
Um bom trabalho para todos e até ao convívio.
Raul Albino


Emboscada Nocturna no Olossato

A 21 de Agosto de 1969, o 3.º pelotão foi incumbido de fazer a protecção nocturna do aquartelamento. Todos os dias era escalonado um grupo de combate para fazer o patrulhamento nocturno aos arredores do quartel, com a conjugação de emboscadas nos locais de possível infiltração do inimigo com intuito de desencadearem ataques às nossas instalações.

Neste dia coube-me a mim e ao meu grupo essa missão. O patrulhamento nocturno não era propriamente uma pêra doce. Especialmente em dias sem lua, não se via um palmo diante do nariz, os mosquitos atacavam de noite sem que pudéssemos utilizar os habituais repelentes pelo seu intenso cheiro que poderia ser detectado, isto sem contar com o vício dos fumadores que desesperavam por não poder acender os cigarros, pela luminosidade e cheiro que produziam, denunciando a nossa posição ao inimigo.

A experiência que já possuíamos nesta altura tinha demonstrado que, nas deslocações diurnas, o inimigo tinha vantagem porque conhecia perfeitamente o terreno e, nas deslocações, podiam perfeitamente dispersar-se para melhor nos combater, visto as nossas tropas se deslocarem invariavelmente unidas e em fila. Éramos pois um alvo facilmente detectável e muito simples de emboscar. Nas deslocações nocturnas o inimigo já não tinha vantagem em se dispersar, com receio de dispararem uns contra os outros, em contrapartida as nossas tropas, que continuavam a movimentar-se em fila, quando detectava o inimigo podia facilmente orientar o seu fogo na direcção correcta e com toda a sua intensidade. Senão vejamos, só no primeiro ataque a Có o inimigo se deslocou de noite para nos atacar pela manhã, enquanto em todos os outros cinco ataques, a deslocação foi feita de dia para efectuarem os ataques ao anoitecer. Eu, se fosse o inimigo, procederia da mesma forma, se verificasse que as tropas portuguesas patrulhavam os arredores do aquartelamento durante a noite. Em conclusão, esta nossa forma de actuação era dura para quem saía, mas era segura para quem descansava no quartel.

Uma vista do aquartelamento do Olossato

Material apreendido durante a emboscada da noite de 21 de Agosto de 1969

Assim, neste dia, pelas 19,30 horas, já noite, o 3.º grupo de combate detectou a aproximação de um grupo inimigo, avaliado em cerca de 20 elementos, armados de Lança Granadas Foguete, Morteiro 60 e várias armas automáticas, que caiu na nossa emboscada, sendo violentamente atacado pelas nossas tropas. A surpresa do ataque, não permitiu ao inimigo qualquer tipo de reacção efectiva, sendo-lhe feita uma perseguição imediata onde, em debandada, abandonou no terreno 1 LGF RPG-2, 3 granadas de LGF RPG-2, 1 Pistola Metralhadora PPSH, 50 cartuchos de PPSH e 50 cartuchos de espingarda. A figura mostra o material apreendido. O inimigo sofreu dois mortos e vários feridos, tendo as nossas tropas sofrido unicamente um ferido ligeiro.

Como a perseguição durante a noite não era muito eficiente e tornava-se até perigosa, porque a certa altura já não se sabia quem era turra ou milícia, pedi ao quartel que efectuasse fogo de morteiro pesado para a posição do contacto, ao mesmo tempo que fazíamos uma retirada rápida do local para não apanharmos com as granadas em cima.

O tiro de morteiro do quartel mostrou-se muito certeiro e eficiente, não deixando ao inimigo qualquer vontade em regressar. Devido à pouca visibilidade, só no dia seguinte de manhã, um grupo de milícias encontrou no terreno a restante parte do material abandonado pelo inimigo e se pôde avaliar com mais rigor o resultado do confronto da noite anterior.

Análise recente feita a esta operação:

Devo confessar que, na altura, julguei que aquele grupo IN se deslocava no terreno com destino a outras paragens.

Já durante a compilação dos factos mais importantes da companhia, que deram origem à publicação do livro “Memórias de Campanha de CCaç 2402”, dei pela particularidade dos ataques aos aquartelamentos coincidirem com ausências do nosso comandante de companhia, conforme descrevo no meu anterior post P4182, onde exponho a minha opinião de que, se tivéssemos identificado nessa altura a coincidência desses ataques em relação com a ausência do comandante, poderíamos tirar proveito da estratégia do inimigo, simulando uma ausência e emboscando o inimigo com todo o potencial que tivéssemos disponível.

Só no ano passado eu analisei melhor a operação acima descrita e as conclusões foram as seguintes:

1 - O ataque anterior foi a 31 de Julho de 1969.

2 - Esta emboscada foi a 21 de Agosto de 1969, também ao anoitecer.

3 - A emboscada feita pelo meu grupo foi perfeitamente rotineira, de protecção exterior ao aquartelamento.

4 – O comandante de companhia encontrava-se ainda de férias na metrópole neste dia, ficando a substituí-lo o alferes mais velho que está comigo na foto junto ao espólio do contacto.

5 – O inimigo não ia de passagem para outras paragens, mas sim atacar o quartel do Olossato mais uma vez.

6 – O contacto com o inimigo foi portanto acidental.

Imagine-se agora que a nossa força no terreno era superior a um grupo de combate e com melhor armamento e que estávamos a emboscar, não em rotina, mas aguardando intencionalmente a muito provável chegada do inimigo. Eles não tiveram reacção digna desse nome porque foram completamente surpreendidos com o contacto, quase tanto como nós, diga-se em abono da verdade. Por isso mesmo, apesar do pesado revés nas suas intenções e estratégia, uma grande parte do grupo conseguiu fugir ileso. De notar que os grupos IN em deslocação para ataques a quartéis, tinham uma fragilidade, iam carregados de material pesado e com dificuldades de movimentação, só voltando a ficar mais ligeiros depois de descarregar as munições em cima do aquartelamento.

Se a emboscada tivesse sido premeditada e planeada de outro modo, o resultado seria outro, disso não tenho a menor dúvida.

O Alf Mil Brito (que substituía o CMDT) e eu próprio segurando duas granadas de RPG2 e o restante espólio abandonado pelo grupo IN.
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Nota de CV:

Vd. poste de 14 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4182: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (15): O primeiro ataque ao Olossato

Guiné 63/74 - P4344: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (12): Homenagem dos Homens Grandes de Guiledje a Coutinho e Lima (Camisa Mara / TV Klelé)



Mensagem dos Homens Grandes de Guiledje (sic) ao Cor Art Ref Alexandre Coutinho e Lima (antigo comandante do COP 5, responsável pela decisão da retirada de Guileje, em 22/5/1973), por ocasião do lançamento do seu livro A Retirada de Guileje: a verdade dos factos

Quatro depoimentos, gravados no antigo aquartelamento e tabanca de Guileje, em 2/12/2008: Aladje Mamadu Djaló, 57 anos; Amadu Coiat, 57 anos; Asana Silá, 50 anos; Camisa Mara, 51 anos (e não 30, como por lapso, se indica nas legendas).

Ficha técnica > Imagem: Alimo Djaló ; Antunis Sanca. Reportagem: Amarildo Mendes. Edição: Demba Sanhá. Colaboração: Inácio M. Mané. Produção: Televisão Comunitária de Klelé. Dezembro de 2008.

Vídeo gentilmente cedido ao nosso blogue pela TV Klelé e pela AD - Acção para o Desenvolvimento. O portador do vídeo foi o Prof Doutor Eduardo Costa Dias (ISCTE, Lisboa), a quem estamos gratos.

Vídeo (5' 38''): You Tube > Nhabijoes (2009). Direitos reservados.



Transcrição de carta, manuscrita, assinada por Camisa Mara, endereçada ao Cor Art Ref Coutinho e Lima (na foto, à esquerda, em Guileje, 1973) e que acompanhou o vídeo (*):

República da Guiné-Bissau, Região de Tombali, Sector de Bedanda, Secção de Guiledje, Guiledje, 4-12-08

Exmo. Amigo Major Coutinho e Lima:

Antes de tudo desejo-lhe uma boa saúde e felicidade, um bom fim do Ano e excelente novo Ano, longa vida no seio do povo português.

E faço-lhe saber que sou Camisa Mara, residente em Guiledje, e faço parte das 660 pessoas que salvaste da morte na última batalha de Guiledje no mês de Maio de 1973, entre os militares portugueses e os militares do P.A.I.G.C. (Bissau).

Major, queremos ser ou somos a tua família, baseando-nos no passado ou na prolongação da nossa vida a partir de 1973, por autorizares o abandono de Guiledje com destino a Gadamael Porto. Neste contexto vamos valorizar a História da Guiné – Guiledje e o Major Coutinho e Lima.

Sou Camisa Mara nº 678-92-43 (...)

[falta uma linha na fotocópia da carta a que tive acesso]

[ Transcrição / fixação de texto: L.G.]

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Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste desta série > 5 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4282: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (11): Heróis... (Constantino Costa, Sold CCav 8350, 1972/74)

Vd. também o último poste da série A retirada de Guileje, pror Coutinho e Lima> 24 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3932: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (23): Resposta do autor do livro a António Martins de Matos (Parte II)

Guiné 63/74 - P4343: Convívios (130): Pessoal da CCS/BCAÇ 2845 no passado dia 9 de Maio, em Sintra (Albino Silva)

1. Mensagem de Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Guiné, 1968/70com data de 10 de Maio de 2009:

Caro Camarada Carlos Vinhal
Envio-te aqui um Blog sobre o Convívio da Minha Companhia, CCS/BCAÇ 2845 - Guiné, o qual desejava ver na Nossa Tabanca Grande se isso te for possível.

O endereço é o seguinte:

http://batcac2845guineteixeirapinto.blogspot.com/

Sei que estou sendo um pouco maçador, mas a verdade é que tenho dado o endereço de nossa Tabanca a vários Camaradas, e os mesmos estão deveras interessados em ver Nossa Tabanca.

Agradeço desde já todo o trabalho que vão tendo comigo.

Obrigado,
Albino Silva



2. Com a devida vénia, apresentamos o texto inserido na Página do BCAÇ 2845, só com algumas correcções na pontuação, para não alterar muito o texto original.

Pois é Camaradas foi assim este nosso encontro em que houve alegria durante todo o tempo em que estivemos presentes.

Tivemos Camaradas que vieram pela primeira vez e sei que gostaram. Tivemos outros que têm vindo poucas vezes e também continuam a gostar. Depois tivemos aqueles que ao longo dos Anos não falham às Formaturas.

Foi Lindo, e o Miguel está de Parabéns pela Organização onde nada falhou, e todos nós reconhecemos isso mesmo.

Foi anunciado o Convívio para 2010, este a ser Realizado pelo Albino Silva e pelo Guerra, e se não houver nada em contrário será em Buarcos "Figueira da Foz" no Restaurante TAMARGUEIRA, que se encontra debruçado sobre o Mar, pois de lá teremos boa oportunidade de vermos o NIASSA a passar, e até se houver visiblidade, poderemos de lá ver a Guiné-Bissau. Por isso Camaradas em princípio será no dia 1 de Maio, e queremos que vós todos que estivestes em Sintra venham todos e se possível trazer aqueles que continuam teimando em não vir, alguns dos quais recebem as cartas e nada dizem.

Se calhar porque se esqueceram daquele lema em que nós dizíamos,"todos por um, um por todos"
Se calhar por vergonha, o que sinceramente não acredito.
Se calhar com medo de gastar mais uns cêntimos, pois conheço casos de Camaradas que tudo tem, mas que não têm tempo para para se encontrar com aqueles que Ano após Ano se preocupam em querer saber deles, e talvez nunca saibam aquilo que é tão Lindo e Saudável que e a C.C.S. se mantiver unida é sempre Aquela Companhia.

Cabe a cada um de nós dar um pouco de coragem a outro Camarada mesmo que seja teimoso, e trazê-lo no próximo convívio, e tudo para que o Ronco seja maior.

Nós que temos comparecido sabemos o quanto tem sido Lindo e sabemos que na hora de nos despedirmos uns dos outros, ja ficamos com Saudades para mais um Ano.

No Próximo Ano completamos assim 40 Anos de Regresso da Guiné onde fomos Excelentes e Valorosos , e por isso ainda hoje o somos, porque sabemos Recordar aquele passado na Guiné, concretamente em Teixeira Pinto de que nos lembramos bem, e ainda recordamos os serviços à Ponte, Serviços à Enfermaria, Guardas ao Quartel e Reforços, Guardas à Central e Fortim, os Alfa Sierra nas transmissões os Panelões e a fumaça das cozinhas, o Roncar das Viaturas.

Lembrámo-nos da Bolanha e do bom camarão, Ostras e das Manjacas que lá iam à pesca, também daquele peixe que muitas vezes nos serviu de Alimento quando falhavam os Ciclistas a Teixeira Pinto, sempre confeccionados pelos então famosos cozinheiros da C.C.S. e seus Básicos.


3. E agora umas quantas fotos retiradas da referida Página

Um minuto de Silêncio em homenagem a Camaradas da companhia já Falecidos

Da esq. Rodrigues ex Fur. ao Centro, Amona e na Dt, 2º Sarg. Guerreiro, Actualment Major...

Ex Furrieis e companhia em largos sorrisos

A Honra da presença do Sr Major Fernando Guerreiro Duarte Nunes, que na C.C.S. era ainda 2º Sargento

Ovarense, Albino, Dr.Maymon e Vieira... Neste encontro muito nos honrou o Dr. Maymon Martins Com a sua Presença. Foi a segunda vez que respondeu a chamada e teve um excelente comportamento na formatura, pois a todos transmitiu grande alegria e deixou-nos a promessa de para o Ano voltar para fazer grande Ronco celebrando os 40 Anos de nosso regresso da Guiné.

Aqui o Guerra informava do Convívio para o proximo Ano

Bolo de Aniversário da C.C.S. que assim comemorou o primeiro Ano na Guiné-Teixeira Pinto. 1 de Maio de 1968 a 3 de Abril de 1970

A Partilha do Bolo pelo Dr. Maymon Martins Enquanto que era cantado os Parabéns à Companhia
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Notas de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4339: Convívios (127): 32º Encontro de pessoal da Base Aérea Nº 12 e Outros, dia 30 de Maio, em Vouzela (Victor Barata)

Guiné 63/74 - P4342: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (18): Devemos manter o dedo no gatilho (Manuel Maia)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Maia (*), ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, (1972/74), com data de 7 de Maio de 2009:

Apesar do continuado e calculado silêncio com que temos vindo a ser brindados por sua excelência excelentíssima, continuo a entender que enquanto o pedido formal de desculpas não surgir, deveríamos manter o dedo no gatilho, na posição de fogo, até ao dia em que a criatura tenha um rebate de consciência e entenda que deve descer do alto do pedestal onde ajudamos a colocá-lo, (deve-nos portanto a ascensão ao cocuruto no concernente à hierarquia militar...) largar o etéreo onde paira qual querubim ou serafim e descer a este inferno que todos tivemos e ainda temos, este lugar de luta quotidiana sem a rede ou guarda-chuva protector do estado, e mostrar, uma vez que seja, que é moldado da mesma massa de que são feitos os muitos milhares de anónimos militares, esses sim heróis porque milicianos, heróis porque sofreram na carne todas as vicissitudes, heróis porque deram tudo de si mesmos sem nada pedirem em troca, (contrariamente às excelências excelentíssimas, únicos beneficiados a todos os níveis com a guerra), heróis porque nunca regatearam esforços, heróis porque souberam ser solidários no sofrimento a que as excelências excelentíssimas estavam dispensadas, porque no inferno de Bissau os tiros só ecoavam quando algum wayneano western passava na sala do UDIB... e finalmente heróis porque lutaram até à exaustão, longe dos gabinetes com ar condicionado onde se arquitectava a traição, patrocinada por algumas excelências excelentíssimas, que da tropa só pretendiam ordenados chorudos e penduricalhos p´ra farda sem um minimo de risco...

É em nome desses heróis anónimos que tombaram para sempre no teatro de operações que devemos exigir a reparação deste ultraje, deste insulto, desta ignomínia, deste vomitar nojento de verborreia viscosa e pestilenta como a que sua excelência excelentíssima debitou no programa de Joaquim Furtado.

Escrevamos ao jornalista, enviemos-lhe, em nome dos camaradas mortos, a expressão do nosso mais vivo repúdio manifestado aqui mesmo desde a data que mediou entre a
passagem do filme e o dia de hoje, de amanhã...

Não desistamos, levemos até ao fim esta obrigação para que possam descansar em paz sem se revirarem, enojados, nos tumulos cavados pela grei e pela sem vergonhice dos responsáveis militares da altura.

É tempo de lavarmos a honra daqueles que foram nossos amigos, nossos irmãos naquelas horas de sofrimento.
Saibamos merecer esse encargo!

Depois dum enxovalho e vil ofensa,
um simples ralho, um grito, a voz mais tensa,
dispara a raiva, atiça a indignação.
Protestos contra AB direccionados,
são gestos, já se vê, desesperados,
mas prenhes de justeza e de razão...

Muletas da ascensão nesta carreira,
os bandos são jogados p´ra lixeira,
perdido o seu interess temporário...
De cima da estrelada posição,
sobranceria sobra ao figurão,
na pose de emproado legionário...


Manuel Maia


2. Comentário de CV

O nosso camarada Manuel Maia não desarma.
Com um pouco de atraso, aqui deixamos as suas últimas impressões e convite à indignação colectiva, em nome dos que já não têm voz, porque o acaso da guerra os silenciou.

Um abraço Manuel
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(*) Vd. último poste de 6 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4290: Blogpoesia (45): História de Portugal em Sextilhas (Manuel Maia) (III Parte): II Dinastia, até ao reinado de D. João II

Vd. último poste da série de 30 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4268: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (17): Até que a voz me doa (Manuel Maia)

Guiné 63/74 - P4341: Questões politicamente (in)correctas (38): Abuso e abuso do termo 'nharro' (Zeca Macedo / Henrique Matos)

1. Mensagem do nosso camarada Zeca Macedo (ou Zeca Macedo, para os amigos), um cabo verdiano da diáspora, que foi Fuzileiro Especial no DFE 21 (Cacheu e Bolama, 1973/74), e que hoje é advogado nos EUA, para onde imigrou em 1977 (*).

Virgínio:

Li num Post de hoje, 12 de Maio, e não quis acreditar.: "Estando Mato Cão na berra com a última estória do Jorge (sempre surpeendente) e do Mexia Alves sobre o Bu...rako onde esteve com os nharros do 52 que eu ensinei" (...) (**)

Nharros do 52? Estará ele a referir-se aos Caçadores Nativos, chamando-os de Nharros, 43 anos depois? Ser+a que chamará de Nharro, na cara dele, ao Marcelino da Mata?

Quando alguém critica o Cor Coutinho e Lima ou chama de Bandos os soldados (não foi bem assim), cai o Carmo e a Trindade; contudo, quando se chama de Nharro (pior dos piores pejorativos) aos soldados nativos, ninguém (a não ser eu?) protesta.

Foi só um desabafo de um Fuzileiro que esteve num destacamento de Fuzileiros Especiais Africanos.

José J. Macedo, Segundo Tenente
DFE 21-Guiné

Jose J. Macedo, Esquire
Law Offices of Jose J. Macedo
392 Cambridge Street
Cambridge, MA 02141
Tel. (617) 354-1115
Fax (617) 354-9955


Lisboa > Museu da Farmácia > 11 de Novembro de 2008 > Lançamento do livro Diário da Guiné, 1969-1970: O Tigre Vadio, de Mário Beja Santos > O primeiro comandante do Pel Caç Nat 52 (Porto Gole e Enxalé, 1966/68), Henrique Matos, com o Queta Baldé, seu antigo soldado. O Henrique, açoriano, vive em Olhão e é, como se costuma dizer entre nós, um verdadeiro camarigo. Não apenas camarada, não apenas amigo, um camarigo, um tabanqueiro de cinco estrelas. (Atenção que tabanqueiro quer dizer "membro da nossa Tabanca Grande", do nosso blogue; em Bissau, pode ter hoje um conotação pejorativa, quando o termo é utilizado pela comunicação social ou pela elite política: habitante de uma tabanca, rural, campónio, saloio)...

Foto: ©
Luís Graça (2008). Direitos reservados.


2. Resposta na volta do correio, por parte do editor L.G.:

Meu caro Zeca Macedo:

Eu conheço bem o Henrique Matos, comandou o 1º Pel Caç Nat 52, composto por gente valorosa, guineenses, fulas e outros (na zona de Porto Gole, Enxalé, a norte do Rio Geba)... Ele usa a expressão nharros, sem qualquer conotação racista, antes pelo contrário, com carinho... Tal como eu a uso, queridos nharros, referindo-me a homens que foram/são meus camaradas e amigos... Repara: tal como usamos o termo tugas (que também é/era depreciativo)... Sem complexos!

Admito que possa haver leituras como a tua... Em termos do processo de comunicação, temos aqui a dupla questão da denotação/conotação... Para mim e para o Henrique Matos, o termo tem outra conotação: usamos a palavra com afecto, por muito estranho que te pareça...

Eu sei que vives no States, no país do politicamente correcto, e que este termo (nharro) aí seria um insulto... No nosso blogue, num contexto descomplexado, pós-pós-colonial, parece-nos inofensivo.... Repara que temos para os antigos soldados guineenses que lutaram contra o PAIGC, ao nosso lado, uma série que se chama Os Nossos Camaradas Guineenses... Acho que isto diz tudo...

Resumindo: Seria bom que o termo viesse em itálico, ou com aspas, ou que não fosse sequer usado... Obrigado por estares atento. É por estas e por outras que estamos a precisar de um provedor do leitor do blogue... Best regards. Luís


3. Novo comentário do José Macedo:

Obrigado pela resposta. Sei que quando dizes Nharro não é racismo, contudo, o importante não é o que pensa quem o diz, mas sim que o recebe. Acho que nos EU não é que sejamos politicamente corretos (sem o "c" devido a politicamente correta reforma ortográfica).

Penso sim que se trata de um processo evolutivo. Chegou-se a esse ponto de sensibilidade depois de uma longa luta pelos direitos civis dos negros. É o que está a contecer agora com os casamentos entre gays e entre lesbians. Não aconteceu de repente. Existe todo um passado de luta. Em Portugal, infelizmente, tal (ainda) não aconteceu.Continua a ser um pais de brandos costumes.

Um abraço amigo,

Zeca Macedo

4. Comentário, politicamente correcto (***), do nosso querido Henrique Matos:

Caro Luís:

Fiquei como se costuma dizer de boca aberta com o comentário ao meu poste. Para quem me conhece só faltava mesmo poder pensar-se que usei o termo nharros com qualquer intuito racista. Enfim... mas a tua defesa foi óptima.

Abraço
Henrique Matos
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Notas de L.G.

(*) Vd. último poste deste nosso camarada > 10 de Março de 2009 >Guiné 63/74 - P4009: Blogoterapia (96): Não chorarei a morte do Nino (Zeca Macedo, ex - 2º Ten DFE 21, Cacheu e Bolama, 1973/74)

Vd. também:

13 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2532: Tabanca Grande (56): José J. Macedo, ex-2º tenente fuzileiro especial, natural de Cabo Verde, imigrante nos EUA

2 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3014: Fuzileiro uma vez, fuzileiro para sempre (José Macedo, EUA)

(**) Vd. poste de 12 de Maio de 2009 >Guiné 63/74 - P4328: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (6): Atolado no Mato Cão, com a CCAÇ 1439, a madeirense do Enxalé

(***) Vd. último poste desta série que, ultimamente, não tem sido muito usada... > 4 de Novembro de 2007> Guiné 63/74 - P2237: Questões politicamente (in)correctas (37): RTP: As baixas da guerra (Paulo Raposo)

Guiné 63/74 - P4340: O Nosso Livro de Visitas (61): Amizades muito especiais (Branco Alves)

Meus Caros Luís Graça & Camaradas da Guiné,  
Há alguns meses ao procurar a palavra Guiné deparei casualmente com algo que desconhecia, ou seja este admirável Ponto de Encontro dos ex-militares que, de passagem por aquela Terra, se transformaram de adolescentes em homens numa rápida, difícil e desconhecida transição. 

Tenho saboreado, por um lado com alguma tristeza mas por outro com um pouco de orgulho escondido, a generosidade da juventude daquele tempo que se entregou, dando a própria vida em muitos casos, e o esforço e dedicação em tudo o mais que lhe era exigido, com um esgar de esforço num momento breve para no seguinte irradiar a satisfação do sorriso no cumprimento da obrigação. 
Algumas vezes viajo acompanhando os excelentes contadores de histórias  no deambular das suas narrativas que tão sabiamente transmitem a sua vivência daquele tempo. Obrigado a Todos... e que apareçam muitos mais. 

Tenho adquirido, sempre que possível, alguma literatura respeitante ao tema da Guiné-Bissau e acompanho com bastante preocupação o desenrolar sinuoso da vida daquele país; há algum tempo algumas publicações, referidas no blogue, chamaram a minha atenção, vou encontrando uma por outra, mas há uma delas que por mais voltas que tenha dado em livrarias não consigo encontrá-la e trata-se de "PAMI NA DONO, A GUERRILHEIRA", da autoria de Mário Vicente Fitas, será possível encaminharem-me no sentido de obter essa publicação? Agradeço e fico a aguardar a vossa informação, se assim o entenderem. 

Bem meus caros certamente que perguntarão, e com bons motivos, quem é este pendura; pois estive na Guiné entre Fevereiro de 1970 a Janeiro de 1972 em Empada, Buba e Bissau, integrado na CART 2673 - Leões de Empada, como Alferes Miliciano e o meu nome é Branco Alves.  
Um Grande Abarço Para Todos,   
(Branco Alves) 
_________ 

Nota de MR: 

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4339: Convívios (129): 32º Encontro de pessoal da Base Aérea Nº 12 e Outros, dia 30 de Maio, em Vouzela (Victor Barata)

Amigo Luís,  
Junto o programa do nosso 32º Encontro de Pessoal da Base Aérea Nº 12 e Outros.  
Mais uma vez esta grande "FAMÍLIA" se vai juntar, desta vez com o maior numero de participantes até hoje reunidos.  
Um abraço,  
(Victor Barata)  



Guiné 63/74 - P4338: Tabanca Grande (140): Vítor Oliveira, ex-1.º Cabo Especialista da FAP, BA 12, 1967/69

1. Mensagem de Vítor Oliveira, 1.º Cabo Melec da FAP, BA 12, Guiné, 1967/69:

Amigo Luís
Aqui está o meu pedido de adesão.
1.º Cabo Especialista Melec - 1.ª de 1966
Estive na BA2 e Escola Militar Electromecânica entre 20 de Janeiro de 1966 e 19 de Abril de 1967.
No AB1 entre 20 de Abril e 8 de Outubro de 1967.
Na BA12 entre 9 de Outubro de 1967 e 31 de Maio de 1969.
Na BA4 entre 31 de Maio de 1969 e 12 de Janeiro de 1970.

Era conhecido na terra do branco pelo Canéças e na Guiné pelo Pichas.
Moro actualmente em Canéças. Estou reformado.
Um pormenor Benfiquista a sério.
Luís um abraço.


2. Honório e eu num abrigo em Madina de Boé. A nossa sorte

Estávamos em Nova Lamego a fazer proteção à coluna para Madina, quando um dia, pela manhã, carregam um caixão forrado a pano preto na DO para Madina. Aparece o Honório e diz-me:
- Pichas vamos a Madina.

Eu disse-lhe a gente lá nem tempo tinha para beber um copo. Quando íamos a Madina nem parávamos o motor.

No meio desta conversa apareceu um cabo do exército que pediu ao Honório se o levava, porque nunca tinha andado de avião. Ainda lhe perguntei se sabia onde se ia meter.

Bom, lá descolámos os três e eis que quando passávamos o rio, vinha uma coluna na direção do Cheche. O Honório quando a vê, toca de fazer as suas habilidades e o nosso cabo começa de gritar ao gregório, que não se podia estar dentro da DO.

Quando aterrámos, disse ao cabo para ir buscar água para lavar o avião.
Veio um alferes e um cabo num unimog que nos convidaram para irmos beber um copo. De repente ouvem-se uns tiros. Ao alferes e aos cabos nunca mais os vi. Eu e o Honório deitámo-nos debaixo da DO. O pessoal do quartel começou a chamar-nos. Levantámo-nos e lá vêm mais uns tiros. Ficámos debaixo do unimog e só à segunda tentativa conseguimos entrar no abrigo.

Abrigo esse em forma de L. Entrámos lá para dentro, para o fundo. Puxei dum cigarro, tremia como varas verdes, e o Honório a gozar comigo. Passada talvez meia hora e depois do pessoal do quartel ter mandado umas morteiradas lá para os montes, diz o Honório:
- Pichas vamos embora.

Perguntei pelo cabo, foram à sua procura e vi-o sair do abrigo em frente, havia salvo erro duas ou três tabancas. De novo se ouvem uns tiros e então ele entra a correr pelo abrigo dentro, dizendo-me que ali é que se estava bem.

Ao fim de mais uma hora, lá desatámos a correr para a DO. Foi chegar, pô-la a trabalhar e descolar, a rapar, direito ao monte.

Posso dizer que os nervos eram tantos que consegui fechar a porta da DO com o cinto de fora, meti a mão na janela, mas parti o acrilico da porta. Isto porque o inimigo tinha lá um artista a quem chamavam Osvald (que matou o Kennedy) e que punha o quartel em alvoroço.

Fui lá algumas vezes levar munições nas DO. Devemos ter sido os únicos da FA a conhecer aqueles abrigos.

Felizmente a sorte esteve do nosso lado.

Já agora gostava que me explicassem como é que aparece em livros editados fotografias de um T6G em reparação em Madina, uma vez que a pista mal dava para as DO e ficava no meio dos montes.

Um abraço
Vitor Oliveira

Este é T6G 1791 que um alferes periquito mandou para o capim perto de Madina

Aqui é pessoal a desmontar o todo o material que foi possivel.esta operação foi feita com a proteçção dos paraquedistas

Já não me lembro deste pessoal a não ser do sarg.ajudante Manuel Matacão

Este é o avião que o brigadeiro Hélio viu quando da retirada de Madina de má memória e que eu assisti

A carcaça ficou lá depois de incendiada


3. Comentário de CV:

Caro Vitor Oliveira, finalmente entraste nesta Tabanca de tropa, dita, macaca, onde se pode encontrar elementos da tropa especial, de que tu és um bom exemplo.

Muito obrigado por te juntares a nós e aos teus camaradas da FA que já colaboram neste Blogue.

Como sabes, além de Especialistas, temos Caçadores Pára-quedistas, Pilotos-aviadore e até uma Enfermeira Pára-quedista. Uma panóplia completa. Estás em família, portanto.

Temos cá umas fotos tuas que iremos publicar brevemente, logo mantém-te atento e poderás, mais tarde, enviares mais umas coisas para publicação.

Em nome da tertúlia e especialmente dos teu camaradas da FA, deixo-te um abraço.
CV
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 12 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4329: Tabanca Grande (139): Francisco Santos, ex-militar da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau, Bafatá - 1963/65)

Guiné 63/74 - P4337: (Ex)citações (28): o 10 de Junho, o Santo Condestável e o Hino de Portugal (José Martins)

Boa tarde Camaradas,
Conforme está previsto e já difundido, vi o programa das cerimónias para comemorar o encontro de combatentes deste ano.
Como está indicado, e bem, vai ser prestada uma homenagem a D. Nuno Alvares Pereira, Condestável e Santo. Também foi, como já referi em data anterior, um dos primeiros combatentes em África, pelo que temos algo a ver com ele, porque além de também ser Patrono da Infantaria Portuguesa, nós, aqueles a quem chamam antigos ou ex- combatentes, fomos os últimos combatentes portugueses em África.
No entanto, o que me leva a escrever à Comissão Organizadora do Encontro, e em especial ao seu presidente Tenente General Alípio Tomé Pinto, é que, quando a banda presente tocar o Hino Nacional, não esteja ninguém a cantar, a solo, o nosso hino.
Como em encontros anteriores, que houve destacadas figuras do mundo musical que se enganavam na letra, deixem que sejam as nossa vozes roucas a cantar.
Roucas, da idade;
Roucas, da emoção,
Roucas, do desgaste que têm;
e, sobretudo,
soluçantes, porque ao entoar o Nosso Hino, não deixaremos de pensar em quem, antes de nós e desde 1143, se entregou à causa de defender a Bandeira das Quinas, entregando, a própria vida, no cumprimento de um dever sagrado, ao Jurar Bandeira.
E que não venham novos velhos do Restelo dizer que, quando estavam na cerimónia de Juramento, não moveram os lábios. O Juramento à Pátria não é exterior, é interior e pessoal. E é a soma de todas estas vontades individuais, que faz a grandeza da Pátria.
Que se entoe o Hino, entre lágrimas e sorrisos, mas que seja a voz dos Combatentes que, mais uma vez, se levante e se faça ouvir por Portugal.
(José Martins)
_________
Nota de MR:
Vd. último poste da série em:
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Ver também:

Guiné 63/74 - P4336: Controvérsias (17): A acção do IN, face à circunstância, permite julgamento de modo diferente? (António Matos)

1. Texto enviado por António Garcia Matos (*), ex-Alf Mil da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72, com data de 1 de Maio de 2009:

Concordo com o Miguel Pessoa na sua relutância em abraçar o seu inimigo. Não concordo, porém, que ele (Miguel) fosse o inimigo.

Há já algum tempo decidi que, se a saudade me fizesse sentir a necessidade de voltar à Tabanca, fá-lo-ia com redobrada expectativa como se de uma operação se tratasse, prescutando aqui, ouvindo atentamente os sons dali, tentando enquadrar a realidade momentânea, e desferir um eventual ataque caso visse postas em perigo as minhas convicções e os meus credos.

Voltei hoje, e rápido me vi empolgado em participar num contacto após a leitura do post P4271 (**) do meu homónimo António Matos, ainda que de Garcia nada tenha mas de Martins não desdenhe.

Essa leitura levou-me a outras e dou por mim a magicar numa frase do Luís Graça ao dizer que o Miguel Pessoa já não podia apertar a mão (***), quiçá dar um abraço, ao homem (Caba Fati) que o tentou matar (falava do strella com que o alvejara) pois este já tinha falecido.

Sempre defendi que a história não pode nem deve ser contada sem o distanciamento que o tempo imporá sob pena de darmos a conhecer versões tolhidas pelo calor dos acontecimentos e com a objectividade ferida por algum facciosismo.
Apreciei a frontalidade do Miguel ao expôr com verticalidade o seu repúdio a tal cumprimento ainda que não desprezasse o respeito pelo combatente inimigo.
Mas estes 37 anos que me separam daquela realidade deixam-me ver, claramente visto (numa perspectiva pessoal) a grande diferença existente numa tentativa de liquidação dum inimigo no corpo-a-corpo com a destruição dum avião.

Na situação do corpo-a-corpo (emboscada ou flagelação), a destruição do inimigo passava pelo atingimento explícito do corpo do combatente e o troféu seria vê-lo dobrar pelos joelhos numa clara manifestação de derrota.
Tenho para mim que ao apontar uma arma pesada a uma avião e toda a logística que se lhe associa, não haverá a ideia que o inimigo seja outra coisa que não a aeronave.

Deixem-me ficar com esta convicção pois não estou nada a ver pegar numa G3 e calcular o cockpit onde estava o piloto e tentar acertar-lhe entre os olhos !
O objectivo será o avião em si e não o piloto pelo que não concordo com a expressão... o homem que te tentou matar...

Provavelmente esta discussão poderia ser endossada para um âmbito meramente filosófico só não sei se há interessados nela.
Talvez o Miguel
Talvez o Luís Graça
Talvez o Matt Hurley
Eu próprio, definitivamente.

Abraços generalizados e desculpem se a polémica não vos merecer atenção especial.
António Matos ( Garcia )
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 7 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4296: Espelho meu, diz-me quem sou eu (2): António Matos

(**) Vd. poste de 1 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4271: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (10): Respondendo ao João Seabra (António Martins de Matos)

(***) Vd. poste de 28 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4258: FAP (27): Miguel, já não poderás apertar a mão ao homem do Strela que te quis matar... O Caba Fati morreu em 1998 (Luís Graça)

Vd. último poste da série de 9 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3587: Controvérsias (12): Chicos, furras e ripanços em Catió, 1968 (Jorge Teixeira)

Guiné 63/74 - P4335: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca... é grande (9): Sinofilias (Jorge Picado / António Graça de Abreu)

Guiné> Fortim e Ponte Alferes Nunes entre Teixeira Pinto e Bachile, sobre o Rio Costa (Pelundo). c. 1968/69. Será que esta ponte ainda existia no princípio da década de 1070, no tempo do Jorge Picado, do José Martins e do António Graça de Abreu ?

Foto do nosso camarada Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro, CCS/BCAÇ 2845 (
Teixeira Pinto, Jolmete, Olossato, Bissorã,1968/70). Num poste, aqui publicado, em 17 de Novembro de 2007, o Albino diz-nos que a sua " primeira participação em escoltas foi com o pelotão da CCAÇ 2313, aquartelada em Teixeira Pinto, e para o Bachile, com a duração de 7 horas sem problemas" (*). Antes já hava explicado, por que razão fazia serviço noutras subunidades:

" (...) devido à escassez de Enfermeiros, a partir de certa altura da comissão, era a CCS do BCAÇ 2845 que fornecia às outras Companhias, sempre que requisitado, o pessoal do Serviço de Saúde. Havia uma Escala na Enfermaria, mas quase sempre me tocava a mim a alinhar, talvez porque o meu número era baixo ou então por começar na letra A, sei lá".

Foto (e legenda): ©
Albino Silva (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem do Jorge Picado, de hoje, às 16h:

Assunto - Reencontro telefónico com o Cmdt da CCaç 16

Luís: Acabo de falar com o José Martins (**). Era de facto o Cap da CCaç 16 [, que esteve em Bachile,] e terminou essa comissão uns meses depois de eu ter regressado ao Continente.

É espantoso, pois disse-me que me reconheceu logo que viu a foto no Blogue e daí o ter procurado nas listas o meu contacto telefónico, mas só foi parar à Costa Nova. Falou-me nos nomes da maioria dos Oficiais do CAOP 1.

Possivelmente o Graça de Abreu já não o terá de facto encontrado.

Lê sempre o Blogue. Por isso já sabia do comentário e, quando acabou de falar comigo, disse que ia tentar ligar para o Abreu.

Também é casado com uma chinesa, médica se percebi bem e vive em Macau.

Era Miliciano e seguiu a carreira, sendo do CPC do Rui Alexandrino que o deve conhecer.

Antes do CPC fez a 1.ª comissão em Angola e, depois dessa na Guiné, voltou a ir outra vez para Angola.

É portanto Ten Cor, se bem entendi, mas já está reformado, depois de ter ido para Macau onde esteve em algo de Segurança.

Perguntei-lhe se não tinha endereço da Net, com o intuito de o "aliciar" para o Blogue, mas respondeu-me que não está familiarizado com a "máquina".

Talvez o Graça de Abreu consiga saber mais.

Abraço
Jorge

2. O António Graça de Abreu deixou, hoje de manhã, o seguinte comentário ao poste P4334 (*):

Caro Luís:

Obrigado pelos mails transversais. Cheguei a Teixeira Pinto em Junho de 1972 e logo depois estive no Bachile. Confirmo completamente, havia lá uma CCaç 16, comandada por um capitão do QP. Creio que já não era esse José Martins, agora na China. O alferes Rocha que no meu Diário ponho a comandar essa companhia, desempenhou as funções na ausência (férias?) do capitão.

Vou para Macau,(apresentação de mais um livro meu,) Hong Kong e Zuhai dia 22 de Maio, regresso a Portugal a 5 de Junho. Depois, com a minha família chinesa e meia chinesa, sigo para Xangai, Pequim e mais China a 3 de Julho e só estarei de volta a Portugal no dia 3 de Setembro. Vai ser um Verão cheio de China.

Gostava de conhecer esse José Martins. Dá-lhe as minhas coordenadas, telf 214671920 ou 933572581, ou reenvia-lhe este mail.

Um forte abraço,

António Graça de Abreu

3. Comentário de L.G.:

Duas palavras breves, para:

(i) Saudar o nosso camarada José Martins, que bons ventos e monções o mantenham bem, de boa saúde, por essa parte do Oriente que há séculos nos fascina;

(ii) Reiterar o convite feito já pelo Jorge Picado para ele se ligar, mais formalmente, ao nosso blogue e à nossa Tabanca Grande (que é já uma rede social com mais de 320 camaradas e amigos da Guiné);

(iii) Desejar ao querido camarada António Graça de Abreu (extensivo à sua família luso-chinesa) um belo périplo pela China, de cuja cultura ele é um reputado estudioso e especialista... (E que, no verão não se esqueça de nós, mandando-nos ao menos umas postais e uns poemas; antes disso, esperamos encontrá-lo, a 20 de Junho, em Monte Real, no nosso IV Encontro);

(iv) Agradecer ao Jorge Picado a gentileza de nos ter contactado, tão célere como gentilmente...

Se esta história tem um mural... ao fundo, ela só pode acabar com esta palavra de ordem: O mundo é pequeno eo nosso blogue... é grande. (O blogue , leia-se: as pessoas que nele escrevem, que o animam, que o comentam, que o lêem, que o criticam, que o divuklgam, que acarinham... Em suma, os nossos camaradas e amigos da Guiné!).
__________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 17 de Novembro de 2007 Guiné 63/74 - P2275: Estórias avulsas (11): Saídas frequentes para o mato (Albino Silva)

(**) 13 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4334: O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande (8): Da China, em busca do Jorge Picado (José Martins, CCAÇ 16, Bachile, 1971)

Guiné 63/74 - P4334: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca... é grande (8): Da China, em busca do Jorge Picado (José Martins, CCAÇ 16, Bachile, 1971)

1. Mensagem enviada ontem pelo editor L.G. ao Jorge Picado, ex-Cap Mil da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, CART 2732, Mansabá e CAOP 1, Teixeira Pinto:

Acabo de receber, às 15h30, uma chamada da China (!) (*), de um tal Martins, José Martins, que foi Capitão da CCAÇ 16, e que terá estado contigo no Natal de 1971, na Guiné (**)...

Está na China há 5 anos... E queria falar contigo. Pediu-me o teu número de telefone... Fiquei de lhe mandar através de mensagem do telemóvel... Simplesmente não ficou registado o nº dele no meu aparelho... Nabice minha ? Não sei...

Para já preciso que me autorizes a divulgar os teus contactos... Estás a reconhecer este camarada? Não sei se era Cap Mil ou do QP. Não houve tempo para grandes conversas. Também não tenho a certeza de ter ouvido bem o nº da subunidade, mas pareceu-me ser a CCAÇ 16...

Posso pôr uma mensagem no blogue, ao canto superior esquerdo, com os teus contactos, até ele te "apanhar" e contactar... Ele soube de ti através do nosso blogue... Diz-me o que fazer... Luís

PS - Como vês, o nosso blogue é grande... e o mundo é pequeno..

2. Resposta, ensonada, do Jorge de ontem à noite:

Luís:

Não tenho qualquer ideia desse nome, mas isso é normal.

Agora que foi Capitão duma CCaç Africana e tenha estado comigo no Natal de 1971? Isso eu lembrar-me-ia, pois nessa data estava no BU...RAKO de CUTIA e era o único Cap que lá estava.

Nessa data havia 1 Pel da CCaç 15 (Balantas) comigo, além do Pel Caç Nat 61. oO Cap da CCaç 15 nessa data seria já o Cap Inf Luís da Piedade Faria que tinha transitado da CCaç 2588 (BCaç 2885) para substituir o anterior dos Balantas que tinha sido evacuado para o HMP(Lisboa) e era Nascimento.

Este José Martins podia ser outro militar (outra patente) que tivesse estado comigo em CUTIA? Talvez.

Mas agora compreendo um recado que recebi vai para 2 semanas de pessoal que tinha a fazer-me pinturas na casa da Costa Nova. Disseram-me que tinham atendido nessa minha casa um telefonema duma pessoa que queria falar comigo e dizia que estava a falar da China. Evidentemente que julguei ser engano ou brincadeira, até porque na Costa só lá estou no verão.

Mas podes deixar então o telefone + 351 234 321 519 para ver se ele me liga para Ílhavo.

Abraço

3. Segunda mensagem, alvoraçada, do Jorge, com data de hoje:

Luís:

Levantei-me da cama, porque às voltas com a resposta que te enviei antes de me deitar, não me deixava adormecer e finalmente fez-se luz cá no caco.

Respondi trocando o Natal de 71 pelo de 70.

Em 1971 passei o Natal, como disse no Poste, no Bachile na área do CAOP 1 e quem lá estava era a CCaç 16, que provavelmente tinha por Capitão o tal José Martins. Deve ser isso, por que eu não me lembrava se era uma CCaç Continental ou Africana e o camarada José Camara, que está emigrado nos USA desde 1973, é que me disse que no Bachile estava essa CCaç 16.

AB

Jorge

____

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste anterior desta série O Mundo é pequeno... > 19 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4215: O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande (7): Luís Borrega, visitante um milhão (Luís Borrega)

(**) Vd. poste de 11 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3597: O meu Natal no mato (13): De Cutia (1970) ao CAOP1, em Teixeira Pinto (1971) (Jorge Picado, ex-Cap Mil)

(...) Na segunda época [ 1971,] só me recordo das Festas Natalícias.

A noite da Consoada passei-a, em representação do CAOP 1, no Destacamento do BACHILE, situado um pouco a Norte de TEIXEIRA PINTO na estrada para o CACHEU cujos trabalhos de reabertura e pavimentação decorriam nessa altura um pouco mais a Norte.

Neste aquartelamento estava pelo menos (não tenho a certeza se havia igualmente uma CCaç Africana) uma CCaç cujo Cmdt era o Cap Mil do QC Branco (em 1974, antes do 25ABRIL, vim a reencontrá-lo na minha terra onde veio morar, enquanto esteve colocado no RI de Aveiro onde apanhou a revolução, na qual esteve enquadrado) e que não tenho a certeza se seria a 3461, mas pertencia ao BCaç 3863 que tinha chegado ao Chão Manjaco em 20H30 do dia 24 de Outubro de 1971.

Não resisto a transcrever o que o camarada António Graça Abreu [, na foto à esquerda, em Pequim, c. 1980] que chegou ao CAOP 1 cerca de 5 meses depois de eu o ter deixado, escreveu no seu DIÁRIO DA GUINÉ (***) sobre o BACHILE que visitou ao fim de 6 dias.

“O Bachile, um aquartelamento pequeno rodeado por fileiras duplas de arame farpado. Ao lado um reordenamento, isto é, umas dezenas de casas pintadas de branco com telhados de zinco destinadas aos negros que, vindos das zonas libertadas, se apresentam à tropa portuguesa. As casas não estão habitadas.

"O aquartelamento é deplorável. Logo atrás do arame farpado há dezenas e dezenas de bidões cheios de areia rodeando umas tantas tabancas. Depois há telhados em cimento armado cobrindo os tegúrios semi-afundados na terra habitados pelos nossos soldados, uns setenta a oitenta. É a protecção possível contra flagelações e bombardeamentos. E dão uma certa segurança aos homens brancos expatriados na terra dos negros comandados pelo alferes Rocha, …creio ser uma miniatura exemplar de dezenas e dezenas de aquartelamentos portugueses espalhados pela Guiné... ”.
(...).

(***) Sobre o nosso camarada António Graça Abreu, reputado sinófilo, que viveu na China nos anos 70/80, tendo entre 1977 e 1983 leccionado Língua e Cultura Portuguesa nas Universidades de Pequim e Shanghai, vd. o poste de 29 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3249: Bibliografia de uma guerra (33): Memórias literárias da Guerra Colonial: Na 5ª feira, todos com o nosso António Graça de Abreu

Guiné 63/74 - P4333: Convívios (128): 3º Encontro da CAÇ 3477 “Os Gringos do Guileje”, dia 6 de Junho, em Mirandela (Amaro Samúdio)



Caro Vinhal,
Que tudo esteja bem contigo e com os teus são os meus desejos.
A C.CAÇ 3477 vai encontrar-se no dia 06 de Junho em Mirandela.
Peço a publicação do programa anexo.
Um Abraço,
A. Samúdio
3º Encontro dos Gringos do “Guileje” CCAÇ 3477
Mirandela, 6 de Junho 2009
Programa
13.00h – Recepção aos participantes no Centro Cultural Municipal de Mirandela pelo Ex. Senhor Presidente da Câmara Municipal, Dr. José Silvano, apresentação do filme da cidade, seguido de Porto de Honra.
13,30h – Descerrar a Placa da passagem dos “GRINGOS DO GUILÉJE” por Mirandela e colocação de uma coroa de flores no Monumento aos Ex. Combatentes do Ultramar.
14,00h – Almoço convívio no Restaurante Flor de Sal, com música ao vivo.
16,00h – Visita á cidade de Mirandela em Comboio Turístico
17,30h – Merenda da despedida, local a combinar
Nota: 32.00 € por pessoa
Onde Dormir:
Hotel D. Dinis tel: 278 260 100 fax: 278 260 101, mailto:hdd@hoteis-arco.com
Hotel Mira Tua tel: 278 200 140 fax: 278 200 143, mailto:geral@hotelmiratua.com
Residencial Globo tel: 278 248 210 fax: 278 248 871
Residencial Jorge V Tel: 278 265 024 fax: 278 265 025
Quinta Entre Rios – ( Agro – Turismo ) tel: 278 263 160 fax: 278 263 160, quintaentrerios@yahoo.com ou quintaentrerios@sapo.pt
Nota: confirmação até 29 de Maio
Amândio Pires - 932 657 050
Um Abraço
Amândio Pires
(Amaro Samúdio)
__________
Nota de MR:
Vd. último poste da série em:

Guiné 63/74 - P4332: Os Nossos Camaradas Guineenses (8): Braima Baldé, ex-Alf Cmd Graduado, BCA (1938-1975) (Amadu Djaló / Virgínio Briote)

1. O Alferes Comando Graduado Braima Baldé, do BCA - Batalhão de de Comandos Africanos, foi executado pelo PAIGC a seguir à independência, em 1975, em Bambadinca, de acordo com uma lista, já antiga, publicada no nosso blogue pelo nosso camarada, ex-Furriel Comando João Parreira (na foto, à esquerda, em 1965), e confirmada depois por uma outra, do Virgínio Briote, nosso co-editor, baseada no livro de Manuel Amaro Bernardo (*):

Vd. poste de 23 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXXIV: Lista dos comandos africanos (1ª, 2ª e 3ª CCmds) executados pelo PAIGC (João Parreira)

(…) Da 1ª Companhia de Comandos Africanos (para além Tenente Justo e do Tenente Jamanca):

Capitão Cmd Zacarias Sayegh;
Tenente Cmd Thomaz Camará (ex-1º cabo cmd 60/E dos Fantasmas – em Cumeré(;
Alferes Cmd Braima Baldé;
Alferes Cmd Demba Tcham Seca;
Alferes Cmd João Uloma ;
Alferes Cmd António Samba Juma Jaló;
1º Sarg Cmd Fodé Baió;
1º Sarg Cmd Fodé Embaló;
2º Sarg Cmd José Manuel Sedjali Embaló;
2º Sarg Cmd Quebá Dabó (...)


Na altura, o nosso editor, Luís Graça, escreveu o seguinte que marcou de maneira inequívoca e definitiva a nossa posição sobre um dossiê fracturante e doloroso:

(...) Texto do João Pareira que, juntamente com o Virgínio Briote e o Mário Dias, representa o melhor da primeira geração de comandos da Guiné, os velhos comandos de Brá, os três mosqueteiros, como eu lhes chamei. Agradeço-lhe o gesto e até a coragem. Não é fácil falar dos nossos mortos, e sobretudo de alguns dos nossos mortos. Por pudor, por vergonha, por culpa...

Alguns destes homens com quem o João Parreira, o Mário Dias e o Virgínio Briote privaram e que eram comandos como eles, eu também conheci, circunstancialmente: refiro-me aos da 1ª Companhia de Comandos Africanos que foram hóspedes, em Fá, do meu e nosso amigo e camarada Jorge Cabral. Já aqui os evoquei, tal como os vi e conheci em 1970.

Julgo que muitos deles foram heróis, embora perdedores e amorais. Lamento, mesmo assim, que tenham, morrido sem dignidade nem glória. E nem sequer tenham sido enterrados, com a dignidade que qualquer ser humano merece: é uma das 14 obras de misericórdia que constam do Evangelho dos cristãos (São Mateus). Nenhuma revolução ou movimento social pode, de resto, justificar a execução sumária de um ser humano nem a existência de valas comuns....

É importante, por isso, que esta lista seja publicada no nosso blogue: eles fazem parte dos nossos camaradas e dos nossos mortos, mesmo que incómodos, mesmo que alguns de nós tenham criticado o seu comportamento como militares e como homens. De alguma maneira, é como exumar os cadáveres que estão nas valas comuns das nossas guerras civis... (Reparem que os espanhóis ainda não o fizeram, e já não o farão, em relação às vítimas da guerra civil de 1936-39, e nomeadamente às vítimas que morreram às mãos dos vencedores!...).

O nosso gesto, para já, é meramente simbólico. Mas acho que um dia teremos que ir rezar, no Cumeré, no poilão de Bambadinca ou algures na orla de uma bolanha, por estes nossos mortos mal amados... Nossos, de Portugal e da Guiné... Nunca haverá paz na Guiné se os mortos da guerra colonial e das suas sequelas não repousarem em paz...

Os comandos africanos que serviram o Exército Português, que pertenciam ao Exército Português, e foram executados pelo PAIGC (11 da 1ª Companhia, 19 da 2ª e 8 da 3ª, num total de 38), são ainda um assunto tabu, passados mais de 30 anos, sobre o fim da guerra... Por isso, obrigado, João, porque tu, como bom comando ousaste lutar e vencer o velho tabu" (...)


2. O filho do Braima Baldé (que vive em Vialonga, Alverca) mandou em tempos, ao nosso editor, o seguinte mail:

From: Balde Serifo [mailto:serifo_balde@msn.com ]
Sent: quarta-feira, 6 de Fevereiro de 2008 13:00
To: Luís Graça
Subject: Alferes Cmd Braima Baldé

Antes de mais gostaria de lhe felicitar o seu blogue, que tive a felicidade de conhecer.

Sou o filho do Alferes Cmd Braima Baldé, que infelizmente não tive a felicidade de conhecer devido às vicissitudes da guerra.

Gostaria de saber mais coisas sobre ele no caso de o professor ter privado com ele.

Resido em Lisboa, e o meu email é serifo_balde@msn.com,
Telemóvel: 963312294.

Obrigado por tudo, professor, e agradeço muito a sua compreensão (...)


3. Ontem o criador do nosso blogue estava em condições de dar algumas notícias ao Serifo, sobre o pai que ele nunca conheceu:

Meu caro Serifo:

Como lhe acabei de dizer ao telefone, o seu pedido de informações sobre o seu pai, o nosso camarada Braima Baldé, não ficou esquecido. Mais de um ano depois, conseguimos recolher alguma informação, que deve ser nova para si. Trata-se do depoimento de um antigo camarada dele, de seu nome Amadu Djaló, também ele ex-Alferes Comando Graduado, como o seu pai, tendo pertencido ambos ao antigo Batalhão de Comandos Africanos e lutado juntos...


O depoimento foi recolhido pelo meu camarada e amigo, Virgínio Briote, nosso co-editor, antigo Alferes Comando. O Amadu (foto à direita, em Bafatá, em 1966), apesar de uma vida amargurada e atribulada, vive em Lisboa, com duas filhas, tendo tido a sorte de escapar para Portugal, na época pós-independência. É membro, recente, da nossa Tabanca Grande.

Receba as nossas melhores saudações e a certeza de que o seu pai foi um bom guineense, que serviu com lealdade as autoridades portuguesas da época, e que não merecia o destino que os seus miseráveis inimigos lhe deram. Como filho, guarde sempre a melhor memória de seu pai.

Este depoimento será também publicado no nosso blogue, na série Os Nossos Camaradas Guineenses. Espero um dia poder conhecê-lo pessoalmente e apresentá-lo ao Virgínio Briote e ao Amadu Djaló [, foto à esquerda, junto ao Monumento aos Mortos do Ultramar, em Belém]. Sobre este camarada do seu pai e nosso camarada, pode ler no nosso blogue vários textos recentes (**)(...)


Um abraço do fundador e editor do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

Luís Graça


3. Depoimento sobre o Alferes Comando Graduado Braima Baldé, pelo seu camarada Amadu Djaló (nascido em Bafatá, em 1940)

(Recolhido por Virgínio Brione, Lisboa, Maio de 2009; foto à esquerda)


Tinham acabado os comandos do CTIG, em finais de Junho de 1966, e regressei à CCS do Q.G. Uns meses mais tarde, fui transferido para Bafatá, para o BCav 757, conhecido pelo “sete de espadas”, comandado pelo tenente-coronel Moura Cardoso. Foi nessa altura que conheci o Braima.

O Braima era 1º cabo, tal como eu, embora mais antigo dois anos (incorporação de 1960), pertencia à B.A.C. e estava destacado no esquadrão de Bafatá. Não conheço os motivos mas soube que o Braima tinha sido louvado e recebido o prémio Governador da Guiné.

O Braima pertencia à família real do Corubal. A característica mais forte da personalidade dele era ser uma pessoa muito reservada. Quando a gente falava uns com os outros, o Braima podia estar junto de nós, mas era como se não estivesse, especialmente se estivéssemos nas brincadeiras. Nunca ouvi ninguém queixar-se dele.

Em 1969, com a chegada de Spínola, deu-se a formação dos comandos africanos. Primeiro, houve um curso de quadros ministrado em Brá, sob o comando do capitão Barbosa Henriques, de que eu e o Tomás Camará fomos monitores. Foi nessa altura que nos ficámos a conhecer melhor, embora nunca tivéssemos sido amigos íntimos.

Acabado o curso, regressámos às nossas unidades e ficámos a aguardar que nos chamassem para o curso de formação da 1ª CCmds Africanos, da qual, já como furriéis graduados fizemos parte.

O Braima foi graduado em 1º sargento. Entrámos juntos, embora em companhias diferentes. Fomos a Conacri, estivemos em Mansabá a dar o 4º curso de comandos e fomos a Kumbamory, cada um a comandar o seu grupo. Ao Braima calhou-lhe ir no agrupamento onde ia o major Almeida Bruno. Conta-se a história que, nesta operação, o Braima pode ter salvado a vida do major Bruno [, hoje general reformado].

Quando este, de pé, avistou uns militares, chamou-os, julgando que eram nossos. Eram páras senegaleses. O Braima apercebeu-se, gritou-lhe que se abaixasse, e segundos depois foram alvejados com rajadas.

No regresso, já em Guidage, o major Bruno [ antes ajudante de campo do Spínola, depois comandante do BCA] tirou os galões de um alferes europeu e colocou-os nos ombros do Braima.

Quando se deu o 25 de Abril., o PAIGC atribuiu-lhe um cargo numa secretaria em Bambadinca. Não foi só ao Braima, ao alferes Sada Candé, também dos comandos, o PAIGC encarregou-o de uma missão no Senegal.

Tive conhecimento que os dois foram executados, juntamente com muitos outros companheiros nossos, em 1975, em dia e local que desconheço.


4. O Serifo Baldé acaba de nos enviar a seguinte mensagem de agradecimento:


Caro professor:

Muito obrigado por estas informações que me passavam despercebidas, ficarei lhe eternamente grato.

Estarei sempre ao seu dispor assim que o entender..

Mais uma vez, está de parabéns pelo seu blogue, a nossa família (Comandos) agradece.

Um grande abraço, tudo de bom para si e aos seus...

Serifo Baldé


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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 13 de Maio de 2008 > Guiné 73/74 - P2839: Ainda os Comandos fuzilados a seguir à independência (I): O Justo Nascimento e os outros (Carlos B. Silva / Virgínio Briote)

Vd. postes relacionados:

14 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2760: Notas de leitura (8): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros... ou a guerra que não estava perdida (A.Graça de Abreu)

2 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2713: Notas de leitura (7): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros: Resposta a um Combatente (M. Amaro Bernardo)

2 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2711: Notas de leitura (6): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros, de M. Amaro Bernardo (Mário Fitas)

31 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2706: Notas de leitura (5): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros, de Manuel Amaro Bernardo (Mário Beja Santos)

30 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2318: Notas de leitura (4): Na apresentação de Guerra, Paz e Fuzilamento dos Guerreiros: Guiné 1970/80 (Virgínio Briote)

28 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2308: Notas de leitura (3): Guerra, Paz e Fuzilamento dos Guerreiros: Guiné, de Manuel Amaro Bernardo (Jorge Santos)

19 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P886: Terceiro e último grupo de ex-combatentes fuzilados (João Parreira)

31 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXXII: Mais ex-combatentes fuzilados a seguir à independência (João Parreira)

27 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCVI: O colaboracionismo sempre teve uma paga (6) (João Parreira)

23 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXXIV: Lista dos comandos africanos (1ª, 2ª e 3ª CCmds) executados pelo PAIGC (João Parreira)

6 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCIX: Salazar Saliú Queta, degolado pelos homens do PAIGC em Canjadude (José Martins)



(**) Sobre o ex-Alf Cmd graduado Amadu Djaló, vd. postes de:


22 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4067: Os nossos camaradas guineenses (3): Amadu Djaló, Fula de Bafatá, comando da 1ª CCA, preso, exilado... (Virgínio Briote)

25 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4076: Os nossos camaradas guineenses (4): Amadu Djaló, com marcas no corpo e na alma (Virgínio Briote)

27 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4086: Os nossos camaradas guineenses (5): O making of do livro do Amadu Djaló, as memórias de um comando africano (Virginio Briote)

29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4102: Os nossos camaradas guineenses (6): Amadu Djaló, as memórias de um comando africano (Virginio Briote)

21 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4229: Os nossos camaradas guineenses (7): Amadu Djaló, as memórias do Comando Africano continuam (Virgínio Briote)