segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4807: Estórias do Mário Pinto (9): O stress pós-traumático de guerra nos ex-combatentes, sem-abrigo, da zona de Lisboa

1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, que foi Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os morcegos de Mampatá", Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71, vive na margem sul do Rio Tejo – Setúbal -, e apesar de ter a sua vida muito ocupada, arranja tempo para fazer vigílias nocturnas pelas ruas de Lisboa, afim de prestar o auxílio possível aos ex-Combatentes (sem abrigo), muitos deles a sofrerem de stress pós-traumático de guerra.

É sobre o desenvolvimento deste seu trabalho extraordinário, e a sua dramática e dolorosa experiência e apreciação desta causa, que abraçou e acarinha, que nos enviou duas mensagens, com data de 09 de Agosto de 2009:

Camaradas,

Gostaria que este texto, na medida do possível, fosse publicada em poste, pois isto que a seguir vou cantar não são estórias… são tristes realidades.

Como o camarada Sargento-Mor (Luís Graça) ainda está nas suas merecidas férias, e o nosso camarada Sargento de Dia (Carlos Vinhal), anda muito ocupado a pôr a nossa Companhia a fazer ordem unida, uma vez que tem havido camaradas que andam a trocar o passo.

Só me resta o Sargento de Ronda (Magalhães Ribeiro), que apesar de estar também em férias, lá vai fazendo a ronda pelo “quartel” (Tabanca Grande).

Sendo eu Cabo do Piquete ontem, Sábado, como já vem sendo hábito à algum tempo a esta parte, fiz a minha vigília social (que incluiu uma sortida à cidade de Lisboa), integrado numa associação de voluntários bem conhecida, que presta assistência aos mais desprotegidos - “sem abrigo” -, onde, infelizmente, se encontram muitos Camaradas nossos ex-militares Veteranos de Guerra, padecendo de stress pós-traumático de guerra, muitos deles da frente da Guiné.

OS SEM ABRIGO E O STRESS PÓS-TRAUMÁTICO

Como sempre, e após estas missões, fico agoniado, envergonhado deste país e com uma revolta interior enorme, difícil de debelar, por não poder resolver os graves problemas de degradação da condição humana que me são dados a observar.

Quem tinha por obrigação de o fazer, não o faz e, pior no meu ponto de vista, trata este grave problema nacional como se o mesmo não existisse.

O Exército Português, anda a proceder ao desmantelamento de um grande número das suas unidades. Ainda agora, o R.I. 11 de Setúbal, foi convertido na Escola Hoteleira de Setúbal (suas novas instalações). Não poderia, ou deveria, uma destas suas instalações servir para oferecer abrigo aos nossos infelizes Camaradas.

Isto seria o mínimo exigível a colocar o mais rapidamente na prática, enquanto não é tarde demais.

Os ex-Combatentes mais novos da Guerra do Ultramar têm 55/56 anos de idade, os mais velhos contam com 69/70 e mais anos de idade.

Um desconhecido número deles está doente.

NÃO SÃO ESTÓRIAS… SÃO REALIDADES!

É hoje uma triste realidade, infelizmente, as centenas de ex-Camaradas nossos que vivem na rua sofrendo do chamado Stress Pós-Traumático de Guerra.

Existem cerca de 150.000 antigos combatentes confirmados, por diversas instituições, a tomar fármacos para minorar os efeitos desta terrível doença. Quem o afirma é o presidente da A.P.V.G. (Associação Portuguesa de Veteranos de Guerra) - Sr. Augusto de Freitas (médico). Mais afirma que existem centenas de camaradas nossos a viver precariamente e alguns a “rastejarem” e sobreviverem nas ruas, sem qualquer protecção ou abrigo.

Apesar do assunto ter já sido por diversas vezes debatido na Assembleia da República, e terem sido criados, por despachos, os Decretos-Lei 50/2000 de 7 de Abril, 35/99 de 5 de Fevereiro, 157/99 de 10 de Maio, criada a Lei 46/99 de 16 de Junho e a publicação em Diário da República - 2.ª série de 5/8/2004, do despacho conjunto MDN e MS sobre o Stress de Guerra e o seu Reconhecimento, a verdade é que pouco, ou nenhum, resultados práticos têm dado esta legislação toda.

O apoio aos nossos camaradas continua a ser prestado por Homens de Boa Vontade e por Instituições Beneméritas, com as suas melhores organizações como: L.C., A.P.V.G., L.B.V., M. S.V., S.C.M., O C.A.M.P.S., O C.E.A.M.P.S., A.P.O.I.A.R. e CAIS, entre outras espalhadas pelo Pais.

No dia 25 de Maio 2009, realizou-se na Liga de Combatentes um encontro de reflexão sobre a situação dos nossos Camaradas “sem abrigo”, com a presença do Sr. General Joaquim Chito Rodrigues, onde foi delineado o apoio a prestar a estes nossos Camaradas e a " Estratégia Nacional Para a Integração de Pessoas Sem Abrigo (2009/2015).

Segundo os estudos da Drª. Luisa Sales do Hospital Militar de Coimbra, sobre esta matéria, apresentado no âmbito do Congresso Nacional de Psiquiatria e Saúde Mental, foi referido que os sintomas de “stress” de guerra, pode manifestar-se ao fim de 30 anos, bastando para isso o simples ouvir de noticiários sobre qualquer guerra, sons de helicópteros, tiros ou explosões.

As alterações do sono são os sintomas mais frequentes no stress pós-traumático, causado por factores diversos como: ferimentos em combate, morte de camaradas, emboscadas, privação de necessidades básicas e vivencia de uma situação de prisioneiro de guerra.

Tudo isto são situações que quase todos nós vivemos.

Os nossos governantes limitam-se a decretar. Lavam assim as mãos como Pilatos e agora… desenrasquem-se como sempre fizeram pela vida fora!

Isto não é justo. Por isso é que apelo a todos para que invadam os sites e e-mails destes senhores, com petições, umas atrás das outras, em prol dos nossos camaradas “sem abrigo”.

Muitos já faleceram sem qualquer tipo de apoio… abandonados à sua sorte.

Por isto, deixo aqui um apelo à nossa Tabanca Grande e a todos os nossos Camaradas de boa vontade, que com dirijam mensagens aos nossos governantes, de demonstração de repúdio e revolta pela manutenção desta lamentável situação

Se cada um de nós enviar um e-mail e dermos conhecimento a outros nossos Camaradas, para que façam o mesmo, seremos milhares a “massacrar-lhes” as consciências.

Não nos podemos esquecer que a unidade faz a força, e a NET é uma arma poderosa.

Não temos nada a perder, a não ser os remorsos de baixarmos os braços e abandonarmos esta digna e nobre luta.

Seguem os sites e e-mails das entidades a visar:

PRESIDENTE DA REPÚBLICA
(O mesmo contem um espaço de comunicação)

PRIMEIRO MINISTRO
Correio electrónico: pm@pm.gov.pt
Página Int. Primeiro Ministro

ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA
Procurar local Presidente
" " Grupos Parlamentares

MINISTÉRIO DA DEFESA NACIONAL
Procurar MDN
Ou, antigos.combatentes@defesa.pt

ESTADO MAIOR DO EXÉRCITO
Chefe Estado-Maior do Exército
ceme@mail.exército.pt

Não se esqueçam que somos um exército de 900.000 ex-Combatentes, se pelo menos 1/9 de nós fizer este gesto, seremos a maior manifestação no género no país.

O objectivo é fazermos tal bombardeamento às suas tabancas, que os mesmos sejam obrigados a vir ao terreno, conferenciar com as nossas instituições para a resolução do problema.

Força camaradas!

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art

Fotos: © José Félix (2009). Direitos reservados.
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Notas de M.R.:

(*) Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P4806: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (11): Filho da p... de barrote queimado...... Ou as sobras do rancho


1. Continuação da publicação das memórias do Cherno Baldé, menino e moço em Fajonquito (1970/75), hoje quadro superior da administração pública da República da Guiné-Bissau (*):


Os amigos conhecem-se pelo volume da dádiva, ou....das sobras


Após a última partida [de futebol] da tarde e depois do toque da corneta das 19H30, voltava para o meu cantinho no quartel[,em Fajonquito,] a fim de recolher as sobras do jantar.

O meu barulhento patrão, o Dias, raramente trazia alguma coisa do refeitório, ele comia tudo e nem sequer se lembrava de pedir uma segunda dose, ocupado em pôr pitadas nos mexericos e conversas alheias, brigando as vezes quando tomava alguns copos de tinto a mais. Mas, mesmo assim, era ele que ordenava aos outros para me trazerem a comida, assegurava-me prontamente, atirando o seu prato no chão ainda por lavar.

Felizmente o Teixeira, um fino e aprumado lisboeta, mecânico-auto, vinha sempre atrás para salvar a situação. Ele trazia o prato cheio de comida que solicitava especialmente para mim no refeitório. De todos, era o mais calmo e ponderado, parecia também ser mais instruído. A destoar, todavia, era um pouquinho de nada loiro e muito solitário, passando a maior parte do tempo ocupado em leituras de jornais e revistas com figuras de mulheres semi-nuas, claro, quando o Dias estava a dormir ou se ausentava do quarto.

Ele não nos podia salvar de todos os perigos naquela concentração de jovens soldados endiabrados e mal humorados mas, à sua frente, nunca ninguém se atrevia a dar-nos um pontapé, ele intervinha de imediato, claro, quando o podia fazer. Era ele que se encarregava de recolher o meu salário ao fim do mês, 2 escudos e cinquenta centavos cada um (?), dinheiro que entregava à minha mãe quando não deixava perder no caminho. Não precisava daquele dinheiro para nada, pois, para mim bastava haverem as batatas, os frangos e o bacalhau que, de resto, pelo tamanho e qualidades, nunca mais voltei a encontrar em sítio nenhum.

Havia também o Silva, muito mais novo que os outros, moreno, óptimo futebolista e bom comilão, no dia em que se preparava um guisado de carne ou cozido à portuguesa, ele não trazia nada e encarregava-se, também, de lavar o seu prato.

O quarto homem, o Magalhães, era um empata-fodas de merda, sorriso amarelo e riso solto, sem amigos, sem princípios morais, trazia ou não trazia mas mandava-me lavar o seu prato na mesma e quando demorava a fazê-lo levava ainda um pontapé que fazia cair os óculos ao meu bom e gentil alfacinhas (Teixeira) em cima da sua cama.
- Filha-da-puta-barrote-queimado, ainda a resmungar!...

Ele estava bêbado a maior parte do tempo e não era a mim que ele se dirigia, seguramente. Não, ele dirigia-se a algo, invisível, que estava para lá de mim. De algo que o tinha obrigado a estar ali naquele cu-de-galinha-de-merda, como gostava de repetir, onde certamente não devia estar àquela hora do dia, do mês, do ano...e sei que mais.

Era uma revolta interior contra si mesmo e contra a sua impotência de mudar as coisas na sua maldita vida de soldado raso debaixo daquele calor tropical. Apesar dos momentos de mau humor frequentes, era bom profissional, conduzia um Unimog sempre limpo e impecável e nunca faltava às missões da coluna para Bafatá que tinham lugar uma vez por semana. Ao seu lado ia o Alferes Maia, chefe da missão.

Cherno Baldé

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Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 8 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4802: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (10): Futebol: ser do Benfica ou do Sporting, eis a questão

Guiné 63/74 - P4805: Parabéns a você (17): Alberto Nascimento da CCAÇ 84 e Tomás Carneiro da CCAÇ 4745 (Os Editores)

Hoje, dia 10 de Agosto de 2009, fazem anos os nossos camaradas:
Alberto Nascimento da CCAÇ 84 e
Tomás Carneiro da CCAÇ 4745/73 - Águias de Binta.



Alberto Nascimento (*), ex-Sold Cond Auto da CCAÇ 84, Bambadinca, 1961/63.


1. Alberto Nascimento dirigia-se assim ao Blogue em 9 de Junho de 2008:

Caro Dr. Luís Graça:

Sou um ex-militar, soldado condutor-auto, que cumpriu dois anos de serviço na então província da Guiné, entre 6/4/61 e 9/4/63, integrado na Companhia de Caçadores 84.

Como não podia deixar de ser, estes dois anos de convivência com as populações das várias etnias com quem tive contacto, mantiveram em mim o desejo de acompanhar, o mais perto possível, a vida daquele país e daquelas gentes tão maltratados antes e depois da independência.

Sou um dos visitantes assíduos do seu blogue Guiné 63/74, na tentativa de identificar alguns lugares por onde passei ou estive destacado, já que a CCAÇ 84, três meses depois de aterrar no aeroporto de Bissalanca, foi literalmente fragmentada e enviada para os mais diversos pontos do território, tendo o meu pelotão tido como último destacamento, entre Novembro de 1962 e 7 ou 8 de Abril de 1963, Bambadinca, sob o Comando de Bafatá
.[...]


2. Ao Alberto Nascimento, toda a Tabanca deseja um dia de aniversário bem passado junto dos seus familiares e amigos. Que nestas páginas, a contagem dos anos de vida deste nosso camarada, se contem por muitos e plenos de saúde.

Aqui ficam umas fotos ao acaso:



Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 84 > 1961 > Eu, à direita com capacete na mão, e o meu camarada e amigo Maximino, de G3 ao ombro

Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 84 > 1962 > Mais uma pose para a fotografia, a G3 sem carregador

Região do Oio > Farim > CCAÇ 84 > 1961 > Eu, num baga-baga, com a G3, a armar-me aos cucos

Fotos: © Alberto Nascimento (2008). Direitos reservados

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Tomás Carneiro (**), ex-1.º Cabo Condutor da CCAÇ 4745 (Águias de Binta), Binta, 1973/74

Recordemos Tomás Carneiro no dia 24 de Junho deste ano, poucos dias depois do nosso IV Encontro em Ortigosa:

Apresento-me, Tomás Carneiro, ex-1.º Cabo Condutor da CCAÇ 4745 - Aguias de Binta

Caros amigos,
Como alguns já sabem quem eu sou, aqui vai um texto.

Eu estive na Guine entre 1973 e 1974. Era Condutor e cheguei à Guiné no dia 8 de Julho de 1973.
[...]


Para quem já não se lembra, Soares Carneiro veio na véspera do nosso IV Encontro, de propósito dos Açores, Ilha de S. Miguel, para se encontrar com um seu antigo camarada de Companhia. Regressou à sua Ilha no dia 21.

O alvo de tão grande manifestação de amizade e dedicação foi o nosso camarada Pedro Neves.

Duas fotografias desse encontro memorável para ambos, já que não se viam desde o regresso da Guiné, há cerca de 35 anos.

Pedro Neves e Tomás Carneiro. Um reencontro proporcionado pela Tabanca Grande. O mundo é tão pequeno quando visto da porta da nossa Caserna.

Nesta foto aparece também a esposa do Pedro, a Ana Maria, que nos confidenciou que ficou feliz por ver a alegria de ambos quando se reencontraram.

Nesta foto, Henrique Matos e Tomás Carneiro. Que os une? Ambos são ilhéus do Arquipélago dos Açores. Dois representantes daquele valente povo insular.

Fotos: © Eduadro Magalhães Ribeiro (2009). Direitos reservados


Para o nosso camarada Carneiro enviamos um abraço tão grande quanto o mar que nos separa.
No barco da amizade vão os nossos votos de longa vida, plena de saúde junto da família e amigos.
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Notas de CV:

(*) Vd. postes de Alberto Nascimento com datas de:

11 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2930: Bambadinca, 1963: Terror em Samba Silate e Poindom (Alberto Nascimento, ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 84, 1961/63)

10 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3044: Estórias avulsas (16): Os cães de Bambadinca (Alberto Nascimento, CCAÇ 84, 1961/63)

14 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3059: Memórias dos lugares ( 9): Bambadinca , 1963 (Alberto Nascimento, CCAÇ 84, 1961/63)

7 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3181: História de vida (17): A falsa Mariama, mandinga de Bambadinca, a sua filha, e o seu amigo... (Alberto Nascimento)

16 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3459: Histórias da velhice (1): Eu e o 1º Pelotão da CCAÇ 84 em Farim, em Julho de 1961, em socorro de... Guidaje (Alberto Nascimento)

21 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3492: Controvérsias (9): Eu fui para Farim, em Julho de 1961, com a G3, com o 1º Gr Comb da CCAÇ 84 (Alberto Nascimento)

2 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3964: Nuvens negras sobre Bissau (6): O Nino morreu vítima de si próprio (Alberto Nascimento)

18 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4049: As abelhinhas, nossas amigas (5): As abelhas e a NEP (Alberto Nascimento)

8 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4796: Estórias avulsas (47): O enfermeiro Lomelino (Alberto Nascimento)


(**) Vd. postes de Tomás Carneiro com data de:

22 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4560: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (6): De São Miguel, Açores, com emoção e amizade (Tomás Carneiro, CCAÇ 4745, 1973/74)

28 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4596: Tabanca Grande (156): O açoriano Tomás Carneiro, ex-1º Cabo Cond Auto, CCAÇ 4745 (Binta, 1973/74)

Vd. último poste da série de 4 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4776: Parabéns a você (16): Rui Alexandrino Ferreira, Cor Reformado (Editores)

domingo, 9 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4804: Gavetas da Memória (Carlos Adrião Geraldes) (1): "Os Elefantes"

1. O nosso Camarada Carlos Adrião Geraldes, ex-Alf Mil da CART 676 (Bissau, Pirada, Bajocunda e Paúnca, 1964/66), que se apresentou na nossa tabanca em 6 de Agosto pp, enviou-nos a sua primeira estória, com data de 4 de Agosto de 2009:
Camaradas e Amigos:

Imagino que todos os dias devem receber, montes de estórias, fotografias e documentos vários. Eu só tenho isto e quem dá o que tem a mais não é obrigado. Oportunamente mandarei mais.

Os Elefantes
(Memória de Madina do Boé – Novembro de 1964)

O tempo estava a chegar ao fim. Tínhamos vindo só por uma semana e hoje era a última patrulha.

Amedalai, o guia que o régulo da aldeia nos tinha arranjado, parecia entusiasmado com o caminho que estávamos a percorrer. Falou durante todo o tempo, para nos fazer entender que naquela zona já não estávamos na Guiné, a que estávamos habituados.

Aqui começava uma outra Guiné, pouco povoada, misteriosa. De facto esta região, a Sul do rio Curobal, de Beli até Madina do Boé, era a zona “montanhosa” da Guiné. O chão era diferente, rochoso, erguendo-se, aqui e ali, em suaves ondulações, formando, por vezes, uma colina mais proeminente que nós nos apressávamos a trepar para ganharmos um melhor ponto de observação.

Para lá da fronteira, para onde nos dirigíamos, começava, segundo ele, uma vasta planície ocupada por uma nova espécie de selva, a savana. A lendária savana africana reino das feras e das manadas de todas as raças de bovinos que povoam a África. Terra dos elefantes também.

Em silêncio, como para melhor suportar o calor que gradualmente ia aumentando com o passar das horas da manhã, a coluna de soldados embrenhava-se por caminhos e pistas quase despercebidas no meio da mata, obedecendo às directivas habituais neste género de situações.
A missão consistia apenas em dar uma vista de olhos pela mata, investigar qualquer indício da presença de guerrilheiros. Mas a mata era um labirinto infernal, e o que houvesse de verdadeiramente suspeito, de certeza, não estaria ali para se deixar ver, principalmente pelos nossos olhos.

Hoje faltava ir até ao Sul de Madina do Boé. O mais possível ao Sul, evitando, no entanto, entrar no território vizinho da Rep. da Guiné. Como os mapas de pouco ou nada nos serviriam, a ajuda do guia era indispensável.

- “Meu alfero, hoje, com sorte, vai poder ver elefantes, só daqui se podem ver elefantes na Guiné”, afirmou a certa altura, o nosso guia, como se estivesse numa turística expedição de caça.

- “Tens a certeza?”, indaguei eu, incrédulo, mas ao mesmo tempo, esperançoso de que, finalmente, iria ver aquela África idealizada nos meus sonhos de aventureiro juvenil.

- “Sim, meu alfero, verdade! Eu já vi!”

Mas à medida que nos íamos embrenhando naquela mata cerrada a convicção nas histórias que o guia contava, ia diminuindo. E o Amedalai perante o nosso descrédito ia antecipadamente alinhavando desculpas, com a época das chuvas que este ano ainda não tinha chegado, com as confusões da guerra que mudam tudo, etc., etc.

- “Bichos não quer confusão! Quando soldado chega, eles tudo foge! Mas se houver sorte…” – continuava a afirmar ao mesmo tempo que exibia um amplo sorriso de orelha a orelha.

Quando finalmente chegámos ao minúsculo ribeiro que, naquela zona, faz parte da linha de fronteira que separa a Guiné-Bissau da Guiné-Konakri, um tal rio Capege, tão minúsculo que se ultrapassava com uma pernada mais esticada, a paisagem continuava na mesma. Nada de savana.

Mas Amedalai, subiu a um pequeno morro olhava na direcção de Leste, fixou a vista e dava a perceber que lá ao longe, bem ao longe, já na linha do horizonte onde a selva clareava e parecia esbater-se com o azul quase branco do céu, seria ali a savana.

E aquelas manchas que se moviam na linha do horizonte, como uma miragem, não seriam elefantes?

- “Está a ver, meu alfero? Está a ver?”, gesticulava o bom do guia apontando insistentemente para o interior da outra Guiné, tentando convencer-nos de que, algures, no meio daquela neblina lá bem longe, estariam os famosos elefantes. Ali era a terra deles, dizia.

- “Está bem, pronto! Parece que se vê qualquer coisa!” (Com um bocado de imaginação até lá estariam.)

E depois de darmos uma rápida olhadela em redor, viemos embora.

Quando chegámos ao quartel e pousávamos as mochilas, afirmávamos já, muito convictamente, que até tínhamos visto elefantes (mas muito ao longe, claro)!

- “E, vestígios dos turras viram alguma coisa?”

- “Não, não vimos nada!”

Mas mesmo assim, satisfeitos por mais uma missão cumprida, ala que se faz tarde e, “adeus e até ao meu regresso”, como se costumava dizer.

No dia seguinte pegámos nas trouxas, abandonámos o local, as crianças da escola, o simulacro de aquartelamento e os que, por sorte ou destino, teriam de ficar por lá, mais tempo. Esses, sim, iriam ter muito que contar.

Nós ficámos apenas com a vã glória de termos posto os pés do outro lado da fronteira, na outra Guiné (onde os turras se acoitavam), de termos bebido um pouco da água pura daquele inocente riacho e de termos “visto”, lá bem ao longe, mas muito ao longe, uns vultos de elefantes. Seriam?

Vamos crer que sim, senão esta aventura não teria sentido. Mas, se na verdade, nunca os chegámos a ver, no entanto eles deveriam andar por ali, tal como os guerrilheiros de Amílcar Cabral sempre lá estiveram, aguardando o momento certo.

Porque sem elefantes não há África. Eles são o derradeiro símbolo da força e do espírito de África.

Um grande abraço,
Carlos Geraldes – Viana, Mar.2009
Alf Mil da CART 676

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Notas de M.R.:

(*) Este é o primeiro poste desta série: "Gavetas de Memória".

Guiné 63/74 - P4803: Histórias do Jero (José Eduardo Oliveira) (7): O “Caldas” da CCAÇ 675, Binta - 1964/66


1. O nosso Camarada José Eduardo Reis de Oliveira (JERO), foi Fur Mil da CCAÇ 675 (Binta, 1964/65), enviou-nos a sua 7ª estória, que faz parte do seu livro "Golpes de Mao's - Memórias de Guerra", gesto que muito agradecemos, com data de 06 de Agosto de 2009, a que deu o seguinte título:

O “Caldas”

O “Guimarães” levava a bazuca e eu ajudava-o a levar as granadas.


Quando saímos da bolanha para entrar na mata mudámos para o “quadrado”.

Sabíamos que “os gajos” estavam perto. Já tínhamos ouvido vozes...

Ouvi uma rajada e pareceu que o capim à minha frente era “cortado”...

Senti que tinha “levado”... O tiroteio era agora por todo o lado.

Deixei cair a arma... O braço direito não tinha força...

Aguentei-me de pé mas sabia que... ”me tinha calhado”... Não sentia dores mas estava “estonteado”...

O cabo enfermeiro – o "Rato" – ajudou-me a sentar.

Os tiros eram agora só dos nossos... Alguma malta estava à minha volta e lembra-me do nosso Alferes Tavares se chegar ao pé de mim com “cara de caso”.

Mostraram-me a minha arma. A rajada tinha acertado no carregador – 4 tiros –. E havia mais uma marca de bala entre a mola do gatinho e o cano. Quantas levei? Não sei!

Disseram-me que já tinham chamado o helicóptero. Consegui levantar-me e amparado pelo enfermeiro, e com a malta a animar-me, andámos mais um bocado para sair da mata. Onde tinha sido ferido o helicóptero não podia aterrar.

Lá chegamos ao sítio que “devia ser” e... encostei-me para... esperar sentado.

Lembro-me que foram duas horas compridas. Ou... se calhar... quase umas três.

Finalmente lá chegou o helicóptero.

Lembro-me do meu Alferes... ter a lágrima ao canto do olho.

«Olha o nosso Alferes! Isto não é nada. Só acontece a quem cá anda!».

Julgo que chegámos ao Hospital de Bissau por volta das 3 da tarde. Nessa altura já estava cheio de dores. O garrote que levava no braço doía-me “como caraças”!

As caras dos médicos que me viram fizeram-me algum “cagaço”.Ia ser operado logo a seguir. Depois... não sei quanto tempo depois... acordei amarrado a uma cama do Hospital.

Lembro-me de ter os pés amarrados e... o braço ferido estar todo “entrapado”. Só me apetecia dar pontapés... E doía-me. Muito...

Tive 3 dias a leite. Que fome eu passei!

O Joaquim Lopes Henriques, que nasceu nas Caldas da Rainha em 16 de Abril de 1942 e trabalhava na cerâmica até ir para o serviço militar, falou desta fase “complicada” da sua
vida sem dramatizar. Tinha acontecido e... ”prontos”.


Comoveu-se e ficou momentaneamente sem fala quando... se lembrou da visita que o condutor, o Padre Eterno, lhe fez ao Hospital de Bissau.

«Devo-lhe muitos favores! Levou-me uma ventoinha (fazia um calor do caraças no Hospital). Depois... ”à sorrelfa” foi lá fora buscar uma lata de atum e um pão. Nunca nada... me soube tão bem! Que gajo porreiro. Devo-lhe muitos favores!».

Depois... estive uns vinte dias no Hospital. Nessa fase fui só operado uma vez. Aproximava-se o Natal e soube que ia ser evacuado para «casa». Sei que cheguei a Lisboa de avião em 17 de Dezembro de 1965. Fui para o “Anexo” da Rua de Artilharia Um e... deixaram-se ir passar o Natal às Caldas da Rainha, com a obrigação de fazer o “penso” na Enfermaria do R.I. 5. O que fiz.

Depois... regressei a Lisboa e... foram mais 2 anos... de"boa vida"!

Dois anos e... sete operações. Sete!

Tive um ferro no braço.

Depois... chegaram a tirar um bocado de osso da perna para me pôr no braço. Não correu bem. Ficou uma” papeleta” no Hospital Principal e no “Anexo” tive uma semana sem me fazerem o penso(!?). Doía-me mas... tenho a mania de não me queixar!

Foi o Sargento Zé, do Anexo, que me safou. Voltei “de urgência” ao Hospital da Estrela e... mais uma operação.

Nestes “entretantos” com quem é que me havia? Com a minha namorada – a Maria da Conceição –!

Já namorávamos há 4 anos e... com muito tempo livre... engravidei-a! Casámos em 14 de Maio de 1966.

Uns meses depois fui chamado a uma “Junta” de 7 médicos que me disseram: Já foste submetido a 7 operações. Podemos tentar fazer mais alguma coisa, mas... as diferenças para melhor podem não ser muitas...

Não quero mais operações. Já chega.

Foi-me atribuída uma incapacidade de 46% e fiquei com uma “pensão” da Associação dos Deficientes das Forças Armadas. Regressei às Caldas da Rainha e voltei a trabalhar na cerâmica, na SECLA. Tinha limitações mas foram uns gajos porreiros para mim. Também “ajudou” o meu irmão ser encarregado da Fábrica!

Nessa “fase do campeonato” (já com um filho e “teso que nem um carapau”...) valeu-me a Cruz Vermelha Portuguesa que me ajudou a pagar a renda da casa durante 6 meses!

A vida estabilizou e passados alguns anos resolvi ir com o meu irmão para Angola para montarmos uma pequena fábrica de cerâmica. Por acaso... escolhemos bem a altura. Chegámos a Luanda em 18 de Abril de 1974. Uma semana depois dava-se a”Revolução” e... regressámos às Caldas em Dezembro de 1975!

Mais uma vez tesos!

Mais uma mudança na vida. Empreguei-me na “Molde”. Trabalhei até 2003. Agora estou reformado.Com filhos e netos.

Habituei-me ao meu braço da Guiné!

Tenho, apesar de tudo, boas recordações da “guerra”. E a “675” é a minha segunda família. Está claro que todos os anos vou aos “convívios”.

Nos intervalos... tenho tempo e uma “horta” para onde vou sempre que posso. Agriculto alguma coisa e aparecem sempre uns amigos para um petisco!

Mas como aquela “sandes” de atum que o Padre Eterno me deu em Bissau é que nunca mais como!

Um abraço,
JERO
Fur Mil da CCAÇ 675

Fotos: José Eduardo Oliveira (2009). Direitos reservados.
__________
Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:

4 de Agosto de 2009 >
Guiné 63/74 - P4792: Histórias do Jero (José Eduardo Oliveira) (6): O “Rato” da CCAÇ 675, Binta - 1964/66

sábado, 8 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4802: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (10): Futebol: ser do Benfica ou do Sporting, eis a questão

1. Continuação da publicação das memórias do Cherno Baldé, menino e moço em Fajinquito (1970/75) (*):

Sporting ou Benfica?...

No início eu no sabia que partido tomar entre as duas claques predominantes, Sporting ou Benfica?... Foi o Dias que decidiu. Um dia entrou na conversa dos putos e disse prontamente:
- O Chico é do Sporting, pronto, nós em casa somos todos do Sporting, eu, minha mãe...

O Dias metia a mãe em todas as suas conversas e quando isso acontecia instintivamente eu sentia vergonha, ficava vermelho em seu lugar, entre nós a evocaçao da mãe, logo do sexo feminino, por um homem era sinal de fraqueza e não era bem acolhido entre adultos, iniciados.

Não tinha um clube bem definido assim de preferência, no entanto gostava muito do equipamento do Benfica, vermelho e branco. Também não tinha o meu ídolo, aliás não podia ter diante da tirania dos mais velhos que sempre se impunham. Ser o Pelé ou o Eusébio, na altura, era uma honra devida aos mais fortes.

Do Sporting não gostava lá muito do Yazalde, muito loiro para o meu gosto temperado na escola do Camões, o nome já era problemático pois soava a qualquer coisa parecida com lagarto na nossa língua materna e a cor da camisa, com aquelas tiras horizontais verde-brancas semelhantes a algumas cobras que tinha visto na floresta, ah... não! No entanto não podia contrariar o meu patrão. O Dias ficava furioso quando o contrariavam, mesmo entre brancos, era a mesma coisa. Ele impunha-se e os outros ou aceitavam ou ento era a briga, berrando como um doido.

_________

Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série >5 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4782: Memórias do Chico,menino e moço (Cherno Baldé) (9): Futebol, rivalidades, bajudas... e nacionalismos(s)

Guiné 63/74 - P4801: (Ex)citações (37): Propaganda (Vítor Junqueira)

1. Caros companheiros

Mais uma vez estou a chamar a vossa atenção para os momentos menos bons do nosso Blogue, criados por alguns, poucos, mas reincidentes, camaradas que fervendo em pouca água, começam a usar de uma agressividade que nada tem a ver com o espírito do Blogue.

Vamos assentar uma coisa. A partir de hoje sempre que um comentário menos feliz despoletar outros mais violentos, eu, pura e simplesmente retiro-o assim como aos sequentes.

Reafirmo que devem resolver os vossos desentendimentos pessoais via mail, onde poderão à vontade usar palavras mais ou menos acintosas sem poluírem o Blogue.

A propósito de mais este desentendimento, recebi hoje uma mensagem do nosso camarada Vítor Junqueira com um comentário que deve ser lido com atenção.


2. Mensagem de Vítor Junqueira (*), ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2753 - Os Barões, (Madina Fula, Bironque, Saliquinhedim/K3, Mansabá , 1970/72, de hoje.

Carlos,

Começo a temer que a minha insistência se torne enfadonha. Mas, com sabes, ultimamente foram publicadas matérias que agitaram um pouco as águas. O que é óptimo. Se por um lado, são as que mais aprecio, por outro noto que alguns camaradas se deixam embalar nos comentários, podendo gerar-se alguma crispação. Ora é nessas alturas que me apetece dizer de minha justiça...

Se achares que o texto pode merecer a atenção de alguns dos nossos camaradas, publica p.f.

Com amizade e ao dispor,
VJ


Meus queridos amigos e ex-camaradas, da direita ou da sinistra, refractários, faltosos e desertores, visitantes e seguidores habituais deste Blog;

A todos, o meu abraço fraterno e descomprometido, e o pedido de desculpas por estar a aparecer com demasiada frequência.

Peço-vos uns momentos da vossa atenção para, em conjunto, reflectirmos sobre uma matéria publicada recentemente, que já fez saltar algumas tampas. O que na nossa idade é muito perigoso como já acautelei!

Começo por me corrigir a mim próprio: Quando me dirijo aos meus ex-camaradas, no mínimo estou a cometer uma blasfémia. Porque, no âmbito daquilo que aqui nos traz, ex-camaradas é coisa que não existe! Enquanto durar a nossa viagem à volta do sol, havemos de ser camaradas. O laço pode ser ténue ou forte, mas é indestrutível. Por isso, daqui em diante, aos da família passarei a tratar por camaradas, simplesmente.

Camaradas, poderá haver igual, mas não há ninguém que aprecie mais uma boa peleja do que eu. De qualquer natureza! E quando os contendores se batem por ideias, valores, princípios, honra e dignidade, coisas que para mim, como para vós todos são muito mais do que simples palavras, aí tiro-lhes o meu chapéu. Que fique bem claro que está nos antípodas do meu pensamento, fazer qualquer apelo à calma, armar em medianeiro, interpor-me no seio daqueles que sentem os pêlos do espinhaço arriçados. E se houver de correr sangue, que corra até que os cães o bebam de pé. Mas, por favor, não ofendam a vossa inteligência. Nem a minha. Vamos ao osso! Antes permitam-me que escreva um parágrafo justificativo.

Como já o afirmei nesta sede, fui voluntário para a tropa, fui voluntário para a Guiné, passei lá dois dos melhores anos da minha vida e notem que até então, ela, a vida, não me tinha dado razões de queixa. Participei, compartilhei o fardo convosco. Fi-lo consciente e convictamente, por respeito ao meu julgamento de então. Se a História se repetisse e as circunstâncias fossem as mesmas, hoje voltaria lá, certamente.

E no entanto, quero abraçar:

Os compelidos, faltosos e refractários que, à força ou depois de pensarem melhor, lá acabaram a fazer a queda na máscara ao meu lado.

Aqueles que espalhados pelo Mundo, obtiveram junto dos consulados as suas Licenças Militares definitivas, podendo dar continuidade às respectivas actividades profissionais, e remeter para a Pátria, as paletes de francos, marcos, dólares etc., que tanto jeito nos deram quando a pesada herança bateu no fundo. Os da sinistra, p.f. não levem a mal esta farpa! Abraço também os que por alergia ao teatro de operações, preferiram servir o país de outra forma, como por exemplo, integrarem a frota bacalhoeira (sabiam?);

E quanto aos desertores, porque tiveram a coragem de arriscar a prisão ou uma vida inteira no exílio, obedecendo a respeitáveis e nobres ideais, ou partiram por amor à pele, atitude que não se revestindo de uma nobreza por aí além, é igualmente compreensível, envolvo-os também no meu amplexo, mas sem direito a aplauso.

Por outro lado, não são meus camaradas:

Aqueles que vestindo a nossa farda, eram objectivamente combatentes do IN, a quem forneciam informações e até segredos de que tinham conhecimento por força das funções que desempenhavam;

Os que tendo integrado as FA de Portugal e jurado fidelidade à sua bandeira, saltaram para o outro lado da paliçada, oferecendo-se para colaborar activamente em planos que visavam a liquidação física de ex-companheiros de armas, incluindo os amigos;

Todos quantos encapotadamente, tal qual laboriosas toupeiras, se colocaram ao serviço de ideologias, objectivos e interesses de potências estrangeiras e pela escrita, pela palavra ou pela acção conspiraram, visando o desprestígio e aniquilação do exército fascista, nós! Esses não são meus camaradas.

Mas, notem bem, o facto de não serem meus (nossos) camaradas, não me dá o direito de os julgar sob qualquer prisma e ainda menos de os condenar, cabendo esse desígnio a outras instâncias, entre elas a História, que amparada pelo Tempo há-de apreciar de forma asséptica e distanciada os Homens e os factos do último quartel do séc. XX português.

Se estou certo até aqui, cabe-me deixar algumas perguntas:

Porquê então litigar à volta de acontecimentos sobre os quais, todos o sabemos, haveremos de discordar até ao fim dos nossos dias? De que serve apontar factos do passado ou nomes de pessoas que nunca nos caíram no goto, mas que sabemos serem objecto de grande estima e admiração por parte de importantes franjas da sociedade? Porque não cuidar da forma, para que não pareça cáustica, amarga ou revanchista, como avaliamos comportamentos de tempos idos, sabendo que o que foi já não é e o que ontem era uma virtude, amanhã será uma aberração? Admitamos por absurdo que à luz dos princípios e valores de hoje, uma qualquer entidade intemporal se punha a escrutinar os factos que consideramos mais relevantes da nossa história como nação. Apenas alguns exemplos:

A usurpação de terras à moirama, que para não criar chatices futuras era passada à espada, aquém e além mar, os trabalhos da Santa Inquisição, o holocausto dos Judeus de que os sobrantes tiveram que fugir ou viver escondidos até ao 25 de Abril, a execução (assassinato) dos Távoras a golpes de marreta no peito, com esposas e filhos a assistir enquanto aguardavam o mesmo destino, o genocídio de milhares de negros, índios e indianos, a escravatura mais obscena, negócio que controlámos através de famosos entrepostos ao longo da costa ocidental de África (ex. Senegal), o envio de homens para as trincheiras das Ardenas, pagos por cabeça como carneiros, as campanhas de África cujos protagonistas mais importantes dão o nome a muitas praças, ruas e avenidas cá do burgo, a nossa participação em bandalheiras como as que estão a ocorrer no Iraque e Afeganistão, em que um dos porteiros da guerra – lembram-se da conferência dos vendidos nos Açores? –, foi recompensado com um alto cargo na EU? Bem, com um currículo destes não haverá muitas nações no mundo, e a haver julgamento, hoje, estaríamos feitos!

Quer isto dizer que devamos assumir algum complexo de inferioridade ou culpa? Não, e por muito que estas manchas nos incomodem, a verdade é que factos do passado têm que ser visto à luz de contextos muito diferentes das envolventes sociais, económicas, religiosas etc., dos nossos dias.

Então as rádios Voz da Liberdade e Portugal Livre, mentiam? Claro que mentiam e desbragadamente! E a velha Emissora Nacional de Radiodifusão (buuuun…) se calhar não lhes ficava atrás! O Manuel Alegre desertou? Bem, ninguém o nega. Para uns, ele e muitas figuras gradas da nossa democracia, desertaram. Para outros, foram combater além fronteiras. Há ainda quem considere que todos não passam de um bando de oportunistas ressabiados com o regime. O Manuel Alegre foi para Argel onde seria difícil a polícia ir buscá-lo. Houve quem se fartasse de sofrer em Paris, Londres, Estocolmo … E depois?

O que eu pergunto é o seguinte; alguém quer ser juiz, alguém tem folha de serviço e tomates para os julgar? Eu digo já que não tenho!

Por isso camaradas, aqui vai o pedido de um amigo. Quando o tema for quente como este, não deixemos que ele nos fique atravessado na garganta com receio de melindrar alguém. Dissequemo-lo com o frio escalpelo da ponderação, deixando as acaloradas emoções de reserva para os nossos encontros!

Duas notas finais:

1.ª - Acabo de ouvir na TV que dois líbios detidos no inferno de Guantánamo, virão para Portugal. Se estão inocentes e foram vítimas de arbitrariedades monstruosas, dou-lhes as boas vindas. Se têm culpas no cartório, ou são potencialmente perigosos, têm ou tiveram ligações com redes terroristas, devemos exigir um esclarecimento exaustivo por parte das nossas autoridades.

Também li recentemente na Net que uma comissão do Senado dos States vai exigir a presença de Bush, Rumsfeld, Dick Cheney e mais uma série de personalidades importantes da anterior administração. Como arquitectos das guerras em que o país se envolveu no médio oriente, vão ter de se explicar quanto a um conjunto de atoardas cozinhadas pelas suas agências de informações, como aquela das armas de destruição massiva, que serviram para justificar perante o seu povo e o mundo, a catastrófica decisão de avançar para a guerra. Deverão ser também questionados acerca dos métodos utilizados no interrogatório de prisioneiros aos quais deram cobertura. No reino Unido, uma comissão com idênticos poderes e pelos mesmos motivos, vai chamar o Blair à pedra.

E aí, comecei a pensar: Querem lá ver que um dia o nosso Barrosito ainda vai assentar o cu no mocho?

2.ª - No Post 4785, em que se fala da propaganda by rádio, deixei um daqueles comentários rápidos citando sem citar Boake Carter “Em qualquer guerra, a primeira vítima é sempre a verdade”. Aqui fica o nome do pai da frase, assim como a sua tradução correcta: “Em tempo de guerra a primeira vítima é a verdade

Como sabem, para publicar é preciso ter conta no Google. Por isso usei o meu alias naquele browser que é JUAN de JUnqueira ANastácio, e é o mesmo com que assino um Blog cuja construção iniciei há pouco: http://kurtviagens.blogspot.com/

Quando o Juan voltar a atacar, já sabem que se trata do Vítor Junqueira.

Com muita amizade,
VJ
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4789: (Ex)citações (36): As minhas lágrimas há muito secaram (Vítor Junqueira)

(**) Vd. poste de 5 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4785: Estórias avulsas (47): Rádio “Voz da Liberdade” também mentia! (José Marques Ferreira da CCAÇ 462, Ingoré 1963/65)

Guiné 63/74 - P4800: Em busca de... (85) O Fiat do Pilav Gil foi abatido em Janeiro ou em Março de 1974? (José Rocha)

1. Mensagem de José Rocha, Operador de Transmissões do BART 2857, Piche, 1968/70, emigrante em França, com data de 14 de Março de 2009, endereçada ao nosso camarada Francisco Palma:

Caro Amigo

Fui Op de TRMS do BART 2857, Piche de Nov68 a Ago70.

Como li vários comentários sobre Canquelifá de 72/74 feito por pessoas que nunca lá puseram os pés, o que eu li, feito por um operador de mensagens que esteve em Nova Lamego, que ajudou a descarregar dos helicópteros vários mortos e feridos, que os mortos ficavam lá na pista e que os feridos iam no Dakota para Bissau.

Também li que um Fiat tinha sido abatido em Março. Ora o mesmo Fiat do Piloto Gil tinha sido abatido em Janeiro e não em Março.

O Blog da Força Aérea indica que o Piloto foi a Dunane e depois até Piche e de lá para Bissau.

Será possivel saber a verdade?

Um abraço
José

Fiat G-91 da FAP
Foto de Soares da Silva, com a devida vénia



2. No dia 15 houve a seguinte troca de mensagens:

- Francisco Palma respondia ao José Rocha:

Caro J. Rocha

No meu tempo, de Agosto 1970 a Junho 1972, em Canquelifa, tivemos 4 mortos. Um em combate, 2 (1 Alferes e um milicia) por acidente com uma armadilha nossa, e outro suicidou-se.

Sofremos 15 ataques mais dois com misseis (foguetões 122) ao aquartelamento, e dois africanos foram feridos por rebentamentos de duas minas antipessoais e eu com o Unimog deflagrei uma mina anticarro, ficando eu ferido.

Em Piche ocorreu um acidente com uma roquete que rebentou dentro da caserna acionando o rebentameno de uma caixa de granadas de morteiro 60, ocasionando 4 mortos e vários feridos, 2 muito graves.

Quanto à estória do Fiat nunca ouvi nada, não posso comentar.

Houve uma Companhia de intervenção que sofreu várias baixas na nossa zona, mas não tantos para entupir a aviação de Nova Lamego.

Quanto a esses mortos que ouviste, não foram do meu Batalhão e nem ouvimos esses comentários

Um abraço e boa sorte
F. Palma


- Francisco Palma dirigia-se ao Blogue:

Bom dia Carlos Vinhal
Será possivel os arquivos do nosso blogue esclarecer melhor este nosso camarada emigrante em França?

Obrigado e um abraço
Francisco Palma


- Dirigi esta mensagem aos outros editores e ao nosso camarada Pilav Miguel Pessoa:

Boa noite a todos
Algum dos meus amigos poderá confirmar os desmentidos do camarada Rocha?

Um tri abraço e votos de uma boa semana.
Vosso camarada
Carlos Vinhal


- Resposta de Miguel Pessoa:

Caro Carlos;

O texto reproduzido há umas semanas no blogue sobre a "História do Strela na Guiné" está correcto no essencial.

O Ten. Gil foi abatido em 31JAN74, fugiu para o norte embrenhando-se no Senegal, onde dormiu; no dia seguinte chegou a uma tabanca onde negociou uma boleia de bicicleta que o levou a Dunane; não satisfeito com o pessoal do quartel (eram africanos) resolveu prosseguir até ao aquartelamento de Piche. Aí foi recuperado por um avião da Força Aérea (Dakota?) que o levou para Bissalanca.

A única dúvida que ainda tenho é sobre a identificação rigorosa de qual o aquartelamento a que o Ten. Gil fazia o apoio de fogo - Copá ou Canquelifá? Eu tinha a idéia que seria Copá, pelo que me foi dito na altura - mas estive de folga nesse dia e tenho que confiar no que o António Martins de Matos refere - Canquelifá.

Mas continuo com algumas dúvidas, pois a ejecção foi quase junto à fronteira - e quem andava aflito naquela altura era o pessoal de Copá.

Abraço.
Miguel Pessoa
__________

Notas de CV:

Sobre os Strela na Guiné, ver postes de:

9 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3859: FAP (6): A introdução do míssil russo SAM-7 Strela no CTIG ( J. Pinto Ferreira / Miguel Pessoa)

16 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4197: FAP (23): O poder aéreo no CTIG, 'case study' numa tese de doutoramento nos EUA (Matt Hurley / Luís Graça)

26 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4418: O poder aéreo no CTIG: uma pesquisa de Matthew M. Hurley, Ten Cor, USAF: Trad. de Miguel Pessoa (1): Parte I

27 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4423: O poder aéreo no CTIG: uma pesquisa de Matthew M. Hurley, Ten Cor, USAF: Trad. de Miguel Pessoa (2): Parte II

27 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4430: O poder aéreo no CTIG: uma pesquisa de Matthew M. Hurley, Ten Cor, USAF: Trad. de Miguel Pessoa (3): Parte III (Bibliografia)

Vd. último poste da série de 7 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4795: Em busca de... (84): André Manuel Lourenço Fernandes, ex-Fur Mil não sabe o número da sua Companhia (José Martins/Carlos Vinhal)

Guiné 64/74 - P4799: ”PAIGC – Análise dos tipos de resistência , 2 - Resistência económica” - Páginas 10 a 14 (Magalhães Ribeiro)


1. Do arquivo pessoal, do Eduardo José Magalhães Ribeiro, ex-Fur Mil Op Esp (Ranger) da CCS do BCAÇ 4612/74, Mansoa 1974:

Camaradas,

Para os interessados em conhecer documentação, hoje histórica, que circulava entre as hostes do PAIGC, nos anos 70, e constituíam peças da sua escassa bibliografia aplicada na filosofia da acção psicológica sobre os seus seguidores, apoiantes e outros interessados dou, nesta mensagem, continuidade à publicação de um caderno prático utilizado nessa finalidade.

A publicação foi iniciada no poste - P4721 e continuada no poste – 4753.

Neste, seguem-se as páginas 10, 11, 12, 13 e 14, dum total de 28 páginas. O documento tem inscrito na capa os seguintes dizeres: ” PAIGC - ANÁLISE DOS TIPOS DE RESISTÊNCIA, 2 - Resistência económica, Aos camaradas participantes no seminário de quadros, realizado de 19 a 24 de Novembro de 1969, (Este texto é escrito a partir de uma gravação das palavras do secretário geral)”.

Um abraço Amigo,
Magalhães Ribeiro





Documentos: © Eduardo José Magalhães Ribeiro (2009). Direitos reservados.
___________
Nota de M.R.:

(*) Vd. último poste desta série em:

28 de Julho de 2009 >
Guiné 64/74 - P4753: ”PAIGC – Análise dos tipos de resistência , 2 - Resistência económica”, Páginas 5 a 9 (Magalhães Ribeiro)

Guiné 63/74 - P4798: Estórias do Mário Pinto (8): “Operação "NOVO RUMO"

1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, que foi Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os morcegos de Mampatá", Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71, tem um blogue da sua companhia, www.cart2519osmorcegosdemampata.blogspot.com, do qual nos cedeu pronta e incondicionalmente a extracção de algumas das mais importantes e significativas passagens, que publicaremos com o devido agradecimento, no seguimento da sua série: Estórias do Mário Pinto:

Este poste diz respeito à operação “NOVO RUMO”, que se realizou em Outubro de 1970, com a participação activa de 2 Grupos de Combate da CART 2519:

Operação “NOVO RUMO"

a) Comandante

Tenente Coronel Agostinho Ferreira

b) Comandantes das Subunidades

Agrup. Norte - Capitão Ramalho Pisco
- Alferes Martins
- Furriel Rita

Agrup. Sul - Capitão Barrelas
- Alferes Frade
- Alferes Claudino

14º Pel. Artª/GAC. 7 - Alferes Andrade

c) Meios

- 2 Companhias (-) a 2 Grupos de Combate, reforçadas com elementos dos Pelotões de Milícia 231 e 234.
- 1 Pelotão de Artilharia 14 cm a 2 Secções
- 1 Helicóptero-Canhão

d) Articulação da Força

Cada Agrupamento foi articulado em 2 Grupos de Combate, reforçados com elementos da milícia.

DESENROLAR DA ACÇÃO

Às 12h30, o Agrupamento Norte saiu de A.Formosa, auto transportado e escoltando o 14º Pelotão de Art.ª, seguiu para MAMPATÁ.

Dado que, a partir de Mampatá, os Agrupamentos actuaram sempre independentemente um do outro, passa a descrever-se, em separado, o desenrolar da acção de cada um.

AGRUPAMENTO NORTE

Às 13h40, iniciou o seu movimento apeado pela estrada MAMPATÁ-IEROIEL-MISSIRÃ, cujo cruzamento atingiu às 08h00. O 1.º Grupo de Combate, seguiu pelo trilho em direcção a IERO SALDÉ, emboscando sobre o mesmo, a Sul do Rio BERENHAGE, enquanto o 3.º Grupo de Combate continuou pela estrada, encontrando novo trilho para Norte, cerca de 300 metros a seguir ao anterior e seguindo por ele, vindo a emboscar cerca de 400 metros a Norte da estrada. Às 08h45 estava montado este dispositivo.

Cerca das 13h40 surgiu, de Norte para Sul, pelo trilho em que se encontrava o 3.º Grupo de Combate, um grupo IN de cerca de 5 elementos, com armas ligeiras e 1 RPG-2. Desencadeada a emboscada, foi abatido um elemento In (morto) e feito mais um ferido, tendo o Grupo debandado para W.
Cerca das 13h50, surge pelo trilho do 1.º Grupo de Combate, no mesmo sentido, um Grupo In também de cerca 5 elementos; devia tratar-se de outra fracção do Grupo a que pertenciam os primeiros elementos e que, perante a intercepção no primeiro trilho, tentaram passar pelo segundo.
Este Grupo apercebeu-se da emboscada das NT e abriu fogo, em primeiro lugar com o RPG-2, causando 2 feridos ligeiros às NT; sob fogo intenso das NT, o Grupo retirou-se para Norte.
Em seguida, por ordem do Comandante de Agrupamento dirigiram-se para a estrada a fim de fazerem a evacuação dos feridos.

Cerca das 14h10, quando o 1.º Grupo atingiu a estrada, encontrou-se frente a frente com um Grupo IN, tendo as NT aberto fogo e causado ao IN 3 feridos confirmados, tendo o IN retirado para Sul.


Os dois Grupos de Combate mantiveram-se a montar segurança no cruzamento da estrada com o trilho MISSIRÃ-IERO SALDÉ, até às 15h30, hora que foi feita a Heli-evacuação.

Após a evacuação, o 1.º Grupo de Combate manteve-se emboscado no cruzamento, enquanto o 3.º Grupo reconheceu a estrada em direcção a BOLOLA e posteriormente em sentido inverso, vindo a emboscar a cerca de 800 metros a W. do cruzamento.

Às 17h10, vindo de Sul, surge novamente um Grupo IN, igual aos anteriores, frente ao 1.º Grupo de Combate. Desencadeada a emboscada foi abatido um elemento IN, reagindo este pelo fogo e retirando para Sul.

Os Grupos de Combate passaram a noite nestes locais de emboscada e em 13, às 06h00, iniciaram a progressão para Norte em direcção à estrada nova, seguindo o 1.º Grupo de Combate, pelo trilho IERO SALDÉ - SARE DIBANE (trilho antigo) e o 3.º Grupo de Combate pelo trilho cerca de 1 000 metros a W. do anterior (trilho novo).
O 1.º Grupo atingiu a estrada nova, onde emboscou, aguardando a chegada do 3.º Grupo de Combate; este, atingiu a estrada nova às 10h40, reunindo-se ao 1.º Grupo de Combate às 11h15.
Reunido o Agrupamento, seguiu em direcção SARE USSO, onde às 11h45, escoltou o 14.º Pel Art.ª de regresso a A. FORMOSA.

AGRUPAMENTO SUL

Neste Agrupamento incorporou-se o Comandante do Batalhão, tendo o mesmo saído de MAMPATÁ a 12, pelas
04h3o, seguindo o mesmo itinerário do Agrupamento Norte até ao Rio BERENHAGE e daqui a corta-mato em direcção a BARAMBOLI e posteriormente pelo trilho até ao Rio PELÉ, junto do qual e cerca de 300 metros a SW. do trilho, foi detectado um acampamento IN, de passagem, sem vestígios de utilização recente.

Entretanto, um Grupo de Combate emboscou no trilho do Rio PELÉ e o outro bateu a Bolanha deste Rio.

Cerca das 13h30 um Grupo de Combate deslocou-se para NE, ao longo do trilho, tendo ouvido o contacto do Agrupamento Norte, pelo que emboscou em BARAMBOLI e o Rio MISSIRÃ.

O outro Grupo de Combate juntou-se ao anterior, vindo a emboscar cerca de 400 metros a NE dele, também sobre o trilho.

Tendo o Comandante do Batalhão entrado em ligação rádio com Of/O que se encontrava no PC em MAMPATÁ, foi dado conhecimento que o IN que tivera contacto com o Agrupamento Norte fugira, Norte e para Sul, o Agrupamento Sul formou um dispositivo para interceptar o IN na sua Fuga para Sul, ou interceptar possíveis reforços vindos de Sul.

O Agrupamento Sul vê surgir, no trilho, um Grupo IN de cerca de 20 elementos, deslocando-se de N/S. Desencadeada a emboscada, o IN sofreu 2 mortos (abandonados no terreno), e 8 feridos, dos quais 3 proválmente mortos, em face dos rastos de sangue referenciados.
Foi capturado um RPG-2 e respectivas granadas e artigos vários sem interesse militar. A 13, pelas 06h00, o Agrupamento Sul executou uma batida na região para onde o IN retirou, onde foram vistos muitos rastos de sangue.

Posteriormente fizeram a retirada para MAMPATÁ, pela estrada de IEROIEL.

14.º PELOTÃO DE ART.ª / GAC7

Escoltado pelo Agrupamento Norte, deslocou-se para Mampatá, onde montou uma base de fogo de 2 bocas de fogo.

Efectuou um tiro de regulação, para a região 1 000 metros a SW. de QUECUTEL, regulação que foi feita pelo Agrupamento Sul.

Depois dos contactos do Agrupamento Norte com o IN e a pedido daquele, executou uma barragem de 16 tiros, para possível itinerário de retirada do IN, cerca de 1 500 metros a Norte de IERO SALDÉ.

Conforme o planeado foi feita toda a noite uma barragem de fogo, para a região entre os Rios QUECUTEL e GONHEGEEL, a fim de isolar a zona de instalação das NT, contra qualquer possível ataque do IN vindo do Sul.

Às 21h45, após a intercepçãodo Agrupamento Sul foi feita nova barragem de fogo, em apoio ao Agrupamento.

Durante a noite , manteve-se a barragem, a espaços irregulares.

A pedido do Agrupamento Sul e depois deste abandonar as posições onde passara a noite. Foi feita nova barragem de fogo.

O Pelotão regressou a A. FORMOSA a 13, pelas 12h45.

Resultados obtidos:
a) Baixas causadas ao IN
- Mortos confirmados ...............4
- " prováveis ..................3
- Feridos confirmados ...............8

b) Material capturado ao IN:
- Pela Cart. 2519
- Lança granadas RPG-2 .............1
- Gran. RPG-2 ........................4

c) Instalações do IN referenciadas:
- Um acampamento de passagem, em
(XITOLE 4A3-22), provávelmente de apoio aos Grupos IN que actuam sobre o "corredor" de MISSIRÃ. Foi destruido.

d) Pessoal que mais se distinguiu nesta operação:
- Alferes Mil.º Joaquim Maria de Sousa Frade;
- Soldado Manuel dos Santos Lampreia;
- " P. Caç. Nat. 68 Mamadu Bari;
- Cmdt. P. Mil. Samba Baldé;
- Sold. Mil. Jaló Sané
.

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art

Nota do autor - Todos estes elementos foram retirados da História da Unidade.
Fotos: © Mário Pinto (2009). Direitos reservados.
__________

Notas de M.R.:

(*) Vd. último poste da série em:

6 de Agosto de 2009 >
Guiné 63/74 - P4791: Estórias do Mário Pinto (7): “Maria, a minha querida bajuda”

Guiné 63/74 - P4797: Cancioneiro de Buba (1): A paixão do futebol (João Boiça / Manuel Traquina)

Guiné > Região de Quínara > Buba > Maio de 1969 > A povoação e o aquartelamento vistos de helicóptero... Buba, a sul do Rio Corubal, forma um triângulo com Xitole e Fulacunda, nos outros dois vértices. É banhada pelo Rio Grande de Buba.


Foto: © José Teixeira (2005). Direitos reservados


Onde vais, ó triste Pombo

Letra: João Boiça

[Revisão e fixação de texto: Editor L.G.]

Fado cantado por Amadu Jaló, acompanhado à guitarra por Saico Sandé e à viola por Já Te Vi-te

Onde vais, ó triste pombo,
Carregado de ilusões ?
Vou estagiar para Nhala,
Arejar os meus collhões.

Manda um rádio se faz favor,
Não digas sim ou não,
Diz apenas um segredo,
Que o animal é um cão.

Chegarei devagarinho
E com desculpa para dar,
Se ganhar que bom que é,
‘Fui a Nhala passear’...

Ó São Lourenço de Buba,
Continue-me a aludar,
Não queiras que a malta toda
Cá do pombo vá troçar.

São Lourenço, anula bolas,
São Lourenço, apita bem,
São Lourenço ajuda os pombos,
Que a gaiola já “cá tem”.

Não digas nada a ninguém,
Esqueces as horas de amargura,
Os três jogos já passaram,
A pé, não… de viatura!

Esqueço-me das ordens todas,
Alheio-me do Capitão,
É que o jogo corre às dez
Porque a mensagem diz cão.

Chegarei descansadinho
E com desculpa e feitio,
Fui a Nhala caminhar
Se perder o desafio.

São Lourenço, eu fiz promessa,
Fui à capela rezar,
Uma lâmpada se perder,
Doze velas se ganhar.

Ó São Lourenço de Buba,
Só tu me podes safar,
Apita marca ‘penaltes’,
Faz o pombinho ganhar.

Ó São Lourenço de Buba,
Dá-me a tua protecção,
Apita e faz batota,
Alegra-me o coração.

Ó São Lourenço de Buba,
Fiz as minhas orações,
Sou devoto e cumpridor,
Deixa-me dar encontrões.

Torno Buba independente,
Toda a malta hei-de matar,
Será um cataclismo
Se o pombo ganhar.

Ó São Lourenço de Buba,
Eles até levam gaiola,
Se perco, então, meu santinho,
Dá-me balas e pistola.

Dá-me canhões, dá granadas,
Arame para armadilhar;
Dá-me turras com fartura
E deixa-me comandar.

Correrei o campo todo,
Serei carga de jumento,
Mas também te pagarei
Um jantar no cruzamento.

Só para ganharem um quarto,
Usaram desta artimanha,
Fizeram uma coluna
E mandaram-me como ‘aranha’

“Avisado pela comichão de censura”


In: Manuel Batista Traquina: Os tempos de guerra: de Abrantes à Guiné. Abrantes: Palha de Abrantes. 2009. pp. 140-141.


Comentário de L.G.:

Versos alusivos a um torneiro de futebol de salão, jogado na pequena parada do aquartelamento de Buba, e que reuniu quatro equipas: as companhias, os pelotões, a Engenharia, e as Transmissões (+ outros).

A arbitragem era chefiada pelo Alf Lourenço (aqui o São Lourenço, e não o Sr. Lourenço, como aparece no livro). Por seu vez, o grande entusiasta do torneio e manager da equipa de Transmissões era o Fur Mil Trms Pombo que, que nesse mesmo dia e para seu grande desgosto, que teve air apoiar a coluna para Nhala, a 15 km de Bula, na estrada para Aldeia Formosa.

O autor não do diz mas tanto o Lourenço como o Pombo deviam pertencer à CCS do BCAÇ 2834, de que dependiam tanto a CAÇ 2382 (A Companhia do Olho Vivo). Mas o Lourenço também ser o Alf do mesmo apelido, da CCAÇ 2381 (Os Maiorais, a que pertencia o nosso querido Zé Teixeira, 1º Cabo Enf);

Na época havia várias subunidades em Buba:

CCS / BCAÇ 2834
Pelotão de Morteiros nº 2138
2º Pelotão / BCA
7º Destacamento Especial de Fuzileiros
15º CCmds
COP4 (criado em 19 de Janeiro de 1969), sob o comando do major Carlos Fabião
Outras...

Secretamente o Pombo pediu a um amigo que, via rádio, em código combinado pelos dois, lhe comunicasse a hora do desafio. A preocupação, secretíssima do Pombo, tornou-se conhecida na parada. O 2º Sargento Inf João Boiça, apoiante da equipa rival, fez-lhe então este versos, alcunhando-o ‘triste Pombo'...

O Manuel Traquina (foto actual, à esquerda) publicou no seu livro estes versos que atestam, não só o espírito de humor e camaradagem reinantes na CCAÇ 2382 e e outras subunidades que estavam em Buba, na época, bem como a importância que tinha o futebol… Era uma das poucas diversões a que os militares portugueses se permitiam o luxo... Tinha, além, um efeito positivo na manutenção e melhoria do moral do pessoal, como de resto o atestam outros postes já aqui publicados.
_________

Nota de L.G.:

(*) Traquina, Manuel Batista - Os tempos de guerra: de Abrantes à Guiné. Abrantes: Palha de Abrantes. 2009. 230 pp., 70 fotos [Contactos do autor, ex-Fur Mil da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70: Telefones: 241 107 046 / 933 442 582; E-mail: traquinamanuel@sapo.pt]

Vd. também poste de 5 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4642: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (18): Manuel Traquina, ribatejano, escritor... e fadista (Luís Graça)

(**) Vd. postes anteriores do Manuel Traquina:

2 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2500: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (1): CCAÇ 2382 - A hora da partida

19 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3141: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (2): O ataque de 22 de Junho de 1968 a Contabane

17 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3214: Venturas e Desventuras do Zé do Ollho Vivo (3): Contabane, 22 e 23 de Junho de 1968: O Fur Mil Trms Pinho e os seus rádios

15 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3457: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (4): Baptismo de fogo e gemidos na noite

8 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3855: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (5): As colunas Buba-Aldeia Formosa

12 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4019: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (6): Estrada nova Buba - Aldeia Formosa

12 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4327: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (7): O saxofone que não tinha sapatilhas

14 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2944: Convívios (66): Pessoal da CCAÇ 2382, no dia 3 de Maio de 2008 na Vila de Óbidos (Manuel Batista Traquina)

23 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2791: Álbum das Glórias (46): O distintivo da CCAÇ 2382, 1968/70 (Manuel Baptista Traquina)

13 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2533: O cruzeiro das nossas vidas (10): Fui e vim no velho e saudoso Niassa (Manuel Traquina)

2 de Janeiro de 2008> Guiné 63/74 - P2399: Tabanca Grande (47): Manuel Traquina, ex-Fur Mil, CCAÇ 2382 (Buba, 1968/70)

Guiné 63/74 - P4796: Estórias avulsas (14): O enfermeiro Lomelino (Alberto Nascimento)


1. O nosso Camarada Alberto Nascimento, ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 84 (Bambadinca, 1961/63), enviou-nos a seguinte mensagem com data de 7 de Agosto de 2009:
Camaradas,

Tinha esta estória guardada e não a tinha ainda enviado por entender que, por se tratar de um episódio passado com outro camarada, devia no mínimo sondar a sua opinião e mesmo obter a sua autorização.



No ultimo almoço da companhia, recordámos o episódio em questão, que continua a motivar boas gargalhadas e o protagonista - enfermeiro Lomelino -, disse-me para avançar com a sua publicação.


Por isso aqui está:


O enfermeiro Lomelino
Em 1961, quando o nosso pelotão foi destacado para Farim e após uns dias de estadia no destacamento de Cavalaria, nos cederam para quartel um antigo armazém abandonado dentro da povoação, tratamos de adaptar o espaço às nossas necessidades, transformando-o em caserna.


O Lomelino, era o enfermeiro do meu pelotão, a quem todos reconheciam total competência no desempenho das funções inerentes à sua especialidade.


Ninguém hesitaria em pôr a “bunda” a jeito para uma pica, se fosse necessário, ou a tomar um medicamento por ele receitado para maleitas menos graves, embora o que ele mais receitava era o LM, que, já sabíamos, se não fizesse bem, mal também não fazia.


Além da assistência aos militares, quando lhe era solicitado, também dava apoio e tratamento da população civil. Então lá ia ele com o bornal cheio de ligaduras, drogas, seringas e agulhas, prevendo a teimosia de alguns Homens Grandes, que diziam que só a injecção fazia passar a dor, porque sentiam a picada. Comprimido não fazia efeito e nem o “fermeiro” Lomelino conseguia demovê-los desta ideia.


Se o meu Camarada era bom na sua “arte”, já na formação da vertente bélica, o Lomelino, um dia demonstrou uma grave falha e, das duas uma: ou lhe ensinaram muito pouco sobre armas, particularmente sobre a arma que lhe foi distribuída - uma pistola Parabellum -, ou ele esqueceu muito depressa, até porque, segundo nos dizia, a sua missão era tratar pessoas e não matá-las.

Outros tempos... em que eram prática comum a ética e o profissionalismo, que permitia falar assim.

Voltemos ao nosso enfermeiro Lomelino e ao seu esquecimento (ou distracção), da instrução que lhe fora prestada sobre os procedimentos de manuseamento de uma Parabellum.

Uma bela manhã, com vários militares dentro da caserna e os que tinham feito guarda durante a noite, ainda nos braços de Morfeu, o nosso bom camarada e óptimo enfermeiro, lembrou-se que estava na hora de fazer a limpeza da pistola.

Para isso muniu-se do material necessário e descontraído deitou mãos à obra, mas, distraído, esqueceu o procedimento mais básico para esta operação: tirar a munição que estava na câmara e o carregador.

Quando soou o primeiro tiro, uns olhavam espantados para o Lomelino enquanto outros já se tinham atirado para debaixo das camas, mas ao segundo tiro só o Lomelino ficou de pé com ar incrédulo a olhar para a pistola, que já tinha atirado para cima da cama.

Há homens com muita sorte. Um dos camaradas que depois da guarda dormia ainda com o camuflado vestido e o quico amarrotado debaixo da cabeça, veio mostrar os estragos que uma das balas fez no casaco e no quico.

As duas peças pareciam que tinham sido ratadas: o casaco, da cintura até à gola e o quico em vários pontos. A bala passou entre o cobertor e o corpo, e ele afirmou que não sentiu nada.

O Lomelino jurou solenemente que nunca mais ia pegar na pistola e cumpriu.

Nos destacamentos seguintes, não me lembro de o ter visto armado, nem mesmo em Bambadinca.

Por mim, considero a sua decisão demasiado drástica, bastava que passasse a limpar a pistola a, pelo menos, um quilómetro de distância do quartel.

Um Abraço,
Alberto Nascimento
Sold Auto da CCAÇ 84
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Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4795: Em busca de... (84): André Manuel Lourenço Fernandes, ex-Fur Mil não sabe o número da sua Companhia (José Martins/Carlos Vinhal)

1. Aproveitando algum tempo livre que os camaradas tertulianos vão dando este mês, estou a rebuscar mensagens antigas, que não pareça muito mal publicar agora.

Assim encontrei esta do nosso camarada André Manuel Lourenço Fernandes, ex-Fur Mil que esteve na Guiné.

Passo a transcrevê-la na integra:

27 de Abril de 2009 14:06
Para: Luís Graça
Assunto: Amigo

Estou perdido a minha memória está a ficar fraca tenho 60 anos através do meu BI de militar encontro (c.caç 3329) mas vou tentando encontrar a minha companhia e nada.

Mas vou dar algumas informações para tentar descobrir o meu nome é André Manuel Lourenço Fernandes fui furriel miliciano a minha companhia era açoriana a maioria da ilha terceira tive na Guiné não lembro bem os sítios, alguns nomes que recordo Bolama e Massamá entre 1970 e 1974 acho que vim um mês antes do 25 de Abril junto em anexo duas fotos uma do meu BI e outra com uma guineense.

Agradeço toda a ajuda gostava de contactar com eis camaradas!





2. Face a esta mensagem, consultei o José Martins:

Caro Zé
Este nosso camarada deve estar mesmo confundido. De acordo com as tuas listagens, não existe a CCAÇ 3329, mas sim a CART 3329. Açorianas aparecem as CCAÇs 3326, 27 e 28. Será a última a dele?
Refere Massamá, na Guiné, será Mansabá?
Vê por aí nos teus livros, pf.
Um abraço
Carlos


3. Esperando deste modo estarmos a avivar a memória do nosso camarada André Fernandes, aqui deixamos o resultado das pesquisas de José Martins:

Resultado de pesquisa, com base em dados bastantes difusos:

Nome – André Manuel Lourenço Fernandes

Com esta pista, só é possível encontrar a unidade em que foi mobilizado, recorrendo à caderneta militar, ou, em alternativa, a uma nota de assentos, que pode ser solicitada ao Arquivo Geral do Exército, sito em Lisboa na Estrada de Chelas

Pela leitura do cartão militar, foi incorporado em 6 de Janeiro de 1970, pelo que só poderia ter sido dado como pronto e em condições de ser promovido a 1.º Cabo Miliciano, no início do 2.º semestre de 1970.

Dar uma recruta e/ou formar Companhia, deve ter sido mobilizado para embarcar, em princípio, no início de 1971.

Subunidades mobilizadas nos Batalhões Independentes de Infantaria, nos Açores, a partir de 1971

Angra do Heroísmo – BII 17

Companhia de Caçadores n.º 3326


Comandante Cap Mil Inf José Carlos de Paula Carvalho

Embarque 21 de Janeiro de 1971

Regresso 7 de Janeiro de 1973

Localidades - Mampatá – Quinhamel – Ponta Vicente da Mata – Ome - Ondame


Companhia de Caçadores n.º 3327

Comandante Cap Mil Art Rogério Rebocho Alves

Embarque 21 de Janeiro de 1971

Regresso 07 Janeiro de 1973

Localidades - Brá – Bachile – Mata dos Madeiros – Teixeira Pinto – Bassarel – Calebisse – Chulame – Bissássema – Tite -


Companhia de Caçadores n.º 3328

Comandante Alf Mil Inf Agostinho de Almeida, Cap Inf Manuel Estêvão Martinho da Silva Rolão, Joaquim Humberto Rodrigues Teixeira Branco e Alf Mil Cav Luís Albano de Freitas Pereira

Embarque 21 de Janeiro de 1971

Regresso 7 de Janeiro de 1973

Localidades - Bula – Ponta Augusto Barros – João Landim – Mato Dingal – Cumeré.


Companhia de Caçadores n.º 3414

Comandante Cap Inf Manuel José Marques Ribeiro de Faria

Embarque 23 de Junho de 1971

Regresso 23 Setembro de 1973

Localidades – Bolama – Sare Bacar – Sora – Sare Aliú Sene – Cumeré – Brá

Fez escoltas a Farim – Binta – Guidage e Mansabá
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 5 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4784: Em busca de... (83): Companheiros de viagem para a Guiné em 25OUT66 (António Delmar R. Pereira)