quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5401: Os nossos médicos (12): Cap Mil Grad José Joaquim Magalhães de Oliveira, BCAV 2867 (Tite, 1969/70): Será que ainda é vivo ? (Pereira da Costa / Luís Graça)


1. Pedido do editor L.G. ao nosso camarada António José Pereira da Costa (ex-Cap Art CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/74, hoje Cor Ref), a propósito do P5174 (*):

Camarada Pereira da Costa: Tens alguns dados sobre esta trágica história ? O Moreira foi julgado e condenado no Tribunal Territorial do Porto...Em Novembro de 1973, quando o crime foi em 1969... Estranho ?!... E depois, amnistiado... Podes saber algo mais ? Um abraço. Luís

2. Resposta  pronta do Pereira da Costa:

Boa noite,  Camarada:

Isto está confuso, porquanto a história do BCav [ 2867] é muito fraca. Imagina que,  embora haja lista de louvados e condecorados,  não se sabe porquê.

Desconhece-se completamente a identificação dos 57 punidos durante a comissão.

Não há, na história do BCav, a menor referência ao sucedido [, o episódio do Fur Mil Moreira, que atingiu com uma rajada de G3 o médico do batalhão]..

O médico era Capitão  Miliciano Graduado Médico, talvez por ter sido repescado depois de já ter cumprido o serviço militar. Chamava-se José Joaquim Magalhães de Oliveira,  e não Marques de Oliveira.

Será de o tentar localizar através da Ordem? E, se ele não quiser... não quer.

O que é que deverá fazer num caso como este?  Por mim ainda posso fazer algo mais, mas para já o panorama não é bom.

Era bom definíssemos o que queremos fazer e o que será melhor fazer.

Se o agressor faleceu e o irmão não deu elementos muito seguros para uma boa investigação para se determinar em pormenor o que se passou...

Ora,  informa o que se te oferecer.

Um Ab. do

António Costa
Guiné

3. Comentário de L.G.:

Obrigado pelas tuas diligências e perseverança. Como me transmitiu o Francisco Feio, de Alhos Vedros, estes trágicos acontecimentos ter-se-ão passado em Fulacunda e não em Nova Sintra: O Moreira pertencia à CCAV 2483, Cavaleiros de Nova Sintra. A sede  BCAV 2867 era em Tite (onde estava habitualmente o Cap Médico, que pertencia `CCS). Em Fulacunda decorria então uma operação a nível de batalhão.

Recorde-se o que nos disse o Ovídio Moreira: "O meu irmão, José dos Santos Moreira, [Fur Mil,] fez parte da CCAV 2483, Cavaleiros de Nova Sintra, BCAV 2867 [, Comando e CCS em Tite]. Em 1969 feriu a tiro de G3 o Cap Médico do batalhão".

Não sei o que podemos fazer mais, a não ser aguardar informações adicionais da malta do Batalhão (**), e das companhias que o compunham. Em especial, algum Cavaleiro de Nova Sintra que eventualmente tenha presenciado os acontecimentos ou tinha tido  conhecimento deles 'in loco'. Não foi o caso do Francisco Feio, que era 1º Cabo Mecânico, da CCAV 2484 (Os Cavaleiros de Jabadá), e não estava nesse dia em Fulacunda.

É uma história trágica, muito triste. O Moreira já morreu, quem sabe se com um grande peso às costas. Do nosso camarada médico, por sua vez, não há rasto dele na Internet. Quanto mais casos semelhantes não terá havido ao longo dos 11 de Guerra  na Guiné ?

A Ordem dos Médicos não dá informações, ao público, sobre os seus associados, por razões óbvias. Também não sabemos se o malogrado médico ainda é vivo.  E, se sim, não quererá (re)lembrar o sucedido. Em suma, não te maço mais, embora gostasse de aprofundar esta história. No fundo, gostaria de saber qual teria sido o "móbil do crime", o que terá levado o pobre do furriel á loucura daquele acto...
___________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes de:

 21 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5138: O segredo de... (9): Fur Mil J. S. Moreira, da CCAV 2483, que feriu com uma rajada de G3 o médico do BCAV 2867 (Ovídio Moreira):

28 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5174: Os nossos médicos (11): O malogrado Cap José Joaquim Marques de Oliveira (Francisco Feio, CCAV 2484, Jabadá, 1969/70)

(**)  A este batalhão pertencia também o Horácio Ramos, conforme Poste inserido na I Série,  3 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCII: Horácio Ramos, presente!! (BCAV 2867, Tite, 1979/70)
(...) Texto do João Martins:


Caros Camaradas: Estive há poucas horas a falar com o Fernando Fraquito que me confirmou que o pai pertenceu ao BCAV 2867. Prometi emviar-lhe novos elementos, que seguem em anexo.


Resta agora que alguém que tenha conhecido o Horácio, que entre em contacto com o Fernando, para ele obter aquilo porque anseia. Creio que, quando houver um encontro desta unidade, ele vai estar na fila de frente. Um forte abraço, José Martins.

(...) BATALHÃO DE CAVALARIA 2867

Unidade Mobilizadora > Regimento de Cavalaria 3, em Estremoz
Comandante > TCor Cav José Luís Trinité Rosa
2º Comandante > Maj Cav Francisco José Martins Ferreira
O Inf Op/Adj > Maj Cav Carlos Dias Antunes
Comandantes CCS > Cap Mil Art Carlos Pedro da Fonseca e Silva / Cap Mil Art Mário Pais Mexia Leitão

Divisa >"SOMOS COMO SOMOS"

(i) Partida em 23 de Fevereiro de 1969; desembarque em 1 de Março de 1969; e regresso em 23 de Dezembro de 1970.

(ii) Em 3 de Março de 1969 assumiu a responsabilidade do Sector S1, com sede em Tite, abrangendo os subsectores de Tite, Nova Sintra, Jabadá e Fulacunda, mantendo as suas subunidades enquadradas no seu dispositivo.

(iii) Desenvolveu actividade operacional de patrulhamento, reconhecimento, batidas, emboscadas e controlo de itinerários, coordenando as suas subunidades em várias operações em que se destacam: ARMAS LEAIS, GERÊS, 3ª ESTOCADA, 4ª BATALHA, 6º DESFORÇO, ANDAR LIGEIRO e GRANDE RODA.

(iv) Do material que capturou, destaca-se: 4 metralhadoras ligeiras, 6 pistolas-metralhadoras, 12 espingardas e 5 lança-granadas foguete.

Companhia de Cavalaria 2482
Comandante > Cap Cav > Henrique de Carvalho Morais
Assumiu o subsector de Tite em 2 de Março de 1969. Foi transferida para Fulacunda em 30 de Junho de 1969. Foi rendida em 14 de Dezembro de 1970, recolhendo a Bissau para regresso à Metrópole

Companhia de Cavalaria 2483
Comandantes > Cap Cav Joaquim Manuel Correia Bernardo / Cap Mil Art João José Pires de Almeida Loureiro / Cap Mil Art Ricardo José Prego Gamado
Assumiu o subsector de Nova Sintra em 31 de Maio de 1969, destacando um pelotão para S. João. Foi transferida para Tite em 23 de Setembro de 1970 com função de intervenção e quadrícula. Foi rendida em 14 de Dezembro de 1970, recolhendo a Bissau para regresso à Metrópole.

Companhia de Cavalaria 2484
Comandante > Cap Cav José Guilherme Paixão Ferreira Durão
Assumiu o subsector de Jabadá em 4 de Março de 1969.
Destacou, entre 3 de Novembro de 1969 e 9 de Novembro de 1969, três pelotões para Tite. Foi rendida em 9 de Dezembro de 1970, recolhendo a Bissau para regresso à Metrópole.
(...)

Guiné 63/74 - P5400: Tabanca Grande (192): Rui Baptista, ex-Fur Mil da CCAÇ 3489/BCAÇ 3872, Cancolim, 1971/74

1. Mensagem do nosso novo camarada Rui Baptista, ex-Fur Mil da CCAÇ 3489/BCAÇ 3872, Cancolim, 1971/74, com data de 30 de Novembro de 2009:

Caro camarada Carlos Vinhal,

Antes de mais quero agradecer-vos todo o esforço pelo trabalho e dedicação que têm tido para fazer viver este blogue com as recordações boas e menos boas dos nossos camaradas de armas que viveram a guerra na Guiné. De seguida quero pedir desculpa por ter demorado tanto tempo a responder-vos e isso deve-se à minha grande falta de jeito para escrever.

Sou Rui Baptista ex-Furriel Miliciano e fiz parte do BCaç 3872. A minha Companhia operacional foi a CCaç 3489 (2.º Pelotão) aquartelada em Cancolim.



Actualmente estou reformado. Tenho 59 anos feitos no passado dia 10 de Setembro.
Sou casado e pai de duas garotas, uma já formada e outra em vias disso.
Vivo na Póvoa de Santo Adrião que fica nos arredores de Lisboa.

Embarquei para a Guiné no NT Angra do Heroísmo em 18 de Dezembro de 1971 e desembarquei em Bissau em 24 do mesmo mês.
Regressei a Portugal no navio Niassa que partiu de Bissau em 28 de Março e chegou a Lisboa a 4 de Abril de 1974.

Nesse espaço de tempo que permaneci na Guiné (27 meses e alguns dias), sempre em Cancolim (há que retirar o tempo do IAO no Cumeré, duas viagens de férias a Lisboa e dois internamentos no Hospital Militar em Bissau), aconteceram coisas que jamais poderei esquecer. Eis aqui um pouquinho dessa história:

A CCaç 3489 não teve muita sorte durante a comissão, principalmente nos primeiros meses. Logo no início em Cancolim em três quintas-feiras seguidas tivemos 4 mortos e 21 feridos.

Um morto e um ferido numa mina na picada entre Cancolim e o destacamento de Sangue Cabomba; 16 feridos ligeiros num despiste de uma viatura a caminho de Bafatá, e mais 3 mortos e 4 feridos na primeira flagelação do IN ao nosso aquartelamento.

Neste primeiro ataque tive a sorte de um ex-furriel dos velhinhos me ter empurrado para dentro da porta da Secretaria, ele, com esse gesto, acabou por ser ferido numa vista por um estilhaço de uma granada de morteiro 82 e eu escapei ileso.

A seguir a estes desaires tivemos o abandono do Capitão e de um Alferes, e a partida forçada para as tropas africanas do Alferes Rosa Santos do meu pelotão.

Como o IN não nos dava tréguas, e com o pouco material de guerra que tínhamos para nos defender (na altura apenas um morteiro 81), com o assalto pelo IN ao nosso destacamento e a captura de 2 homens nossos, a fuga de um soldado para o IN, juntamente com as notícias de mortos no Saltinho e emboscadas no Dulombi, o desânimo instalou-se nas nossas tropas.

Com a substituição do Capitão e dos alferes, acabamos por não ter um comando à altura de nos elevar o moral, passámos por um período do quase salve-se quem puder. Valeu-nos o reforço de um Pelotão do Dulombi e a visita de alguns Páras para as coisas acalmarem em Cancolim.

O resto da comissão, principalmente os últimos 7 ou 8 meses de 1973, foi bem mais calmo. O último ataque a Cancolim foi em 20 de Janeiro de 1974, nesse dia o IN veio de manhã quase junto ao arame, apesar de muitos de nós andarem a jogar futebol, conseguimos fazer com que batessem em retirada deixando um morto no terreno.

A primeira vez que fui parar ao Hospital Militar de Bissau foi devido a uma febre que ninguém conseguiu identificar. Cheguei lá a 6 de Junho de 1972 e saí quase um mês e meio depois. A segunda vez foi pouco tempo depois da primeira, foi logo na coluna seguinte a me irem buscar a Bafatá, dia 14 de Agosto de 1972. Não era a vez do meu Pelotão fazer a coluna. Quem estava na escala era do 1.º Pelotão comandado pelo Capitão, este alegando que não se sentia bem e como eu tinha estado fora da Companhia algum tempo, conseguiu convencer-me a substituí-lo dessa vez. Não gostei muito da ideia mas lá fui.

Após a saída de Bafatá comecei a sentir que algo não ia correr bem. Ao chegarmos a Sangue Cabomba fui colocar o saco do correio (a mais sagrada das coisas para nós) na última viatura, e dei algumas indicações aos condutores de como iríamos proceder à passagem das zonas mais perigosas do resto do percurso até Cancolim.

Foi exactamente no último bocadinho do troço onde nos podiam emboscar que deflagrou a mina colocada na picada. A partir desse momento não me lembro de muita coisa, sei que ainda dei instruções ao homem do rádio para pedir o batimento da zona e também de pedir uma arma e água a um elemento da população e deste me dizer que a mina não era para mim (Furriel desculpa a mina não era para ti – foi o que me ficou gravado na mente). A seguir fui evacuado de heli para Bafatá, recordo ainda de desmaiar sempre que me agarravam no ombro partido e de me terem posto numa maca dentro de numa DO. Acordei em Bissau quando me estavam a cortar o camuflado e voltar a desmaiar quando me agarraram no ombro para radiografar, acordei ao fim de três dias todo ligado e entubado na sala de observações. Estive hospitalizado 40 dias. Nesta mina tivemos 17 feridos, dois deles foram evacuados para Lisboa.

Até aqui só escrevi sobre coisas menos boas, mas também existiram algumas bem divertidas como por exemplo aquela de eu ter pedido uma ZUP em vez de 7UP na primeira vez em que entrei na messe de sargentos no Cumeré, foi um salta pira geral.

As corridas de arcos com gancheta que fazíamos na parada de Cancolim.

Um ou dois festivais da canção de Cancolim (uma das canções vencedoras "Rio Chancra" cantada pelo Rodinhas (Furriel Mecânico Correia), as caçadas às galinhas e cabras da população, e a fisgadas as pombos do nosso pombal para os petiscos, os campeonatos das mais variadas jogatinas de cartas, as missivas que escrevíamos aos ratos para não nos roerem as roupas dentro dos armários – quando vim de férias da primeira vez, dei com o meu saco de viagem todo desfeito e no meio dos farrapos uma ninhada de 7 ratinhos. E mais, muito mais que eu não sei contar aqui.

Por agora é tudo.

Um grande abraço a todos os camaradas.
Rui Baptista

Foto 6 > Bissau, 26NOV71 > Apresentação do Batalhão ao ComChefe (Gen Spínola) > Em 1.º plano o Alf Mil Rosa Santos, falecido há pouco tempo.

Foto 3a > Aquartelamento de Cancolim

Foto 3b > Aquartelamento de Cancolim


2. Comentário de CV:

Caro Rui Baptista, bem-vindo à Tabanca Grande, entra e instala-te comodamente, porque estás entre camaradas, que como tu, tiveram a sua experiência de guerra na Guiné.

Numa das mensagens que nos enviaste, anexaste muitas fotografias. Embora neste poste só publique estas três, vou criar no nosso Blogue um álbum para ti. Se tiveres mais, por favor envia só depois de veres publicadas as que já mandaste. Trabalho é coisa que não falta por aqui, embora feito com prazer. O dia é que só tem 24 horas.

Esperamos que nos mandes histórias onde possamos anexar as ditas fotografias. Embora haja uma série do nosso querido camarada Torcato Mendonça, chamada Fotos falantes, na verdade elas dizem mais quando acompanhadas de legendas e dos relatos dos acontecimentos que retratam.

A tua Companhia já foi falada no nosso Blogue, infelizmente não pelos melhores motivos. Vê, se não conheces ainda, os postes abaixo listados*.

Julgo que sabes, que da nossa tertúlia fazem parte, que me lembre, quatro camaradas do teu Batalhão. A saber:

- Carlos Filipe Coelho, ex-Radiomontador da CCS
- Joaquim Guimarães, ex-Soldado da CCAÇ 3490
- Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor da CCS
- Luís Dias, ex-Alf Mil da CCAÇ 3491

Ficaste com a responsabilidade de representar a tua CCAÇ 3489, pois, para já, és o único tertuliano no Blogue.

Agradecendo o teres-te juntado a nós e esperando a tua colaboração activa e contínua, deixo-te um abraço em nome da tertúlia.

A partir de hoje tens mais umas centenas de bons amigos.
CV
__________

Notas de CV:

(*) Vd. postes de:

6 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2921: Em busca de... (29): António Manuel Rodrigues (1) (Juvenal Amado)

6 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3117: Álbum fotográfico do Juvenal Amado (1): Imagens de Cancolim
e
22 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4068: Recordando a tragédia do Quirafo, ocorrida no dia 17 de Abril de 1972 (Luís Dias)

Vd. último poste da série de2 7 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5358: Tabanca Grande (191): Balanta furtador (Manuel Joaquim, ex-Fur Mil Armas Pesadas da CCAÇ 1419)

Guiné 63/74 - P5399: Postais ilustrados (16): Postais Antigos da Guiné, de João Loureiro - Da Bissau nos anos 40 até à década de 70 (Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Novembto de 2009:

Carlos e Luís,
Aqui vão algumas imagens do nosso tempo.
Ainda tive postais de Bissau, sobretudo do Pelicano e do Grande Hotel, enviei para a família o postal com a fanfarra de Bissau.
A minha maior saudade ficou sempre centrada no postal do Museu e Centros de Estudos da Guiné Portuguesa. Parece que tudo está calcinado, cometeu-se uma barbárie cultural irreversível.

Um abraço do
Mário


Uma relíquia: Postais antigos da Guiné (2)
Por Beja Santos

Da Bissau nos anos 40 aos inícios da década de 70

A Guiné exaltada por Fernanda de Castro e Maria Archer não deixou postais, pela simples razão de não haver praticamente turismo e ser reduzidíssima a presença do branco.
A situação muda completamente com a chegada de Sarmento Rodrigues ao Governo. Dando continuidade a certos planos de obras encetados por Carvalho Viegas, Bissau torna-se a capital desde 1941, o traçado da cidade ganhou sinais de cosmopolitismo. A avenida principal é aquela que nós conhecemos, com a Casa Gouveia do lado esquerdo de quem sobe. A Alfândega ainda é a mesma, inicia-se alterações no cais do Pidjiquiti, cresce o número de monumentos, embelezou-se a fortaleza de São José de Amura, surgem os bairros para os funcionários da Administração Colonial, fizeram-se obras significativas na catedral, a Avenida Marginal deu um novo fôlego ao desafogo das panorâmicas.

Quando Sarmento Rodrigues deixa a Província, a Avenida Principal mudara completamente de rosto, expandira-se até Santa Luzia, a Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Bissau era uma estrutura arquitectónica de arrojo para a época. Apareceu novo edifício da Alfândega, estruturas de acolhimento como o Grande Hotel ou o Café Pelicano passaram a ter direito a bilhetes-postais.

Nos anos 60 vão surgir igualmente os postais étnicos, alguns deles esplendorosos, regras geral eram estes postais que enviávamos aos nossos entes queridos.

A fachada do BNU, neste postal de cerca de 1940, recorda-nos o que houve melhor na arquitectura de Bolama. Mas Bissau, ao tempo, era já a praça financeira, aqui se centravam as principais operações bancárias. O BNU tinha que mostrar grandeza, magnificência.

Bilhete-postal da Mesquita de Bissau, editor Foto Serra, cerca de 1966. As relações com o Islão nunca puderam ser ignoradas, o islamismo foi sempre poderoso e o principal obstáculo ao trabalho dos missionários. Com a eclosão da Luta Armada, os valores do Islão foram elevados e tratados sempre com o maior respeito, veja-se a protecção às peregrinações a Meca.

O monumento a Diogo Gomes estava orientado para o cais do Pidjiquiti e tinha por detrás o impressionante edifício da Alfândega. O bilhete-postal é da Foto Serra, cerca de 1966, e consegue com brilhantismo amenizar a cor da laterite. Das minhas visitas a Bissau é um dos locais de que tenho mais saudades, era aqui que me sentava a ler e a ver as fainas do cais e dos pescadores no estuário do Geba.

Este postal foi editado pela Cómer, de Lisboa, cerca de 1968. Era uma estrutura moderníssima, muito perto da Amura e com uma vista esplêndida sobre o Geba. Foi aqui que se realizou o meu jantar de casamento, em Abril de 1970, o capitão Rui Gamito emprestou-me nessa noite 5 mil escudos guineenses, divida que esqueci completamente até que eu o reencontrei na cervejaria Portugália, cumprimentei-o com entusiasmo e carinho e logo lhe entreguei um cheque, com a mulher atónita a assistir a este espectáculo.
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 2 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5392: Em busca de... (104): Luís Zagallo (ex-Alf Mil, CCAÇ 1439) - Um pedido de ajuda do João Crisóstomo (EUA) que me encheu de lágrimas (Beja Santos)

Vd. último poste da série de 2 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5390: Postais ilustrados (15): Postais Antigos da Guiné, de João Loureiro - Uma relíquia (Beja Santos)

Guiné 63/74 - P5398: Blogues da Nossa Blogosfera (29): Portal Guerra Colonial Portuguesa: novas publicações (Jorge Santos)

A sítio Guerra Colonial Portuguesa, criado em  Março de 2006 e que tem como principais secções: Bibliografia, Filmografia, Associações, Canções de Lisboa, Memorial, Monumentos, Convívios, Brasões, Condercorações...


1, Mensagem do Jorge Santos:

Caso seja do vosso interesse, consultem a Bibliografia [do meu portal sobre a Guerra Colonial Portuguesa] sobre os temas indicados, onde constam outros assuntos também. Para consultar só as actualizações da Bibliografia, clicar nos títulos das obras em Novos Registos. Contém dados, sinopse ou pequeno extracto e capa da obra.


2. Comentário de L.G.:

O Jorge Santos é um incansável mas sempre discreto membro da nossa Tabanca Grande, já de longa data. Se não estou  não erro, entrou o nosso blogue em finais de 2005.  É, portanto, um senador. Não temos nenhuma foto dele, nem antiga nem actual. Foi 1º Grumete Fuzileiro (DFA), Companhia de Fuzileiros nº 4, em Moçambique, Metangula~e  Cobué, de Janeiro de 1968 a  Abril de 1970.  Esteve uns tempos sem dar notícias (como ele gosta de dar, sobre convívios, livros, actualizações do seu portal, etc.). No passadado dia 23 de Outubro fomos surpreendidos com a seguinte mensagem:

Não tenho acompanhado, como desejava, o evoluir das 'Tabancas', pois encontro-me a recuperar de um AVC que sofri na Noruega, e que me deixou bastante afectado da parte esquerda do corpo, em especial a vista, o que me dificulta imenso estar no computador ou navegar na Net.

Aproveito agora lhe endereçar a nossa solidariedade e os nossos votos de uma rápida e boa recuperação.  L.G.

3. Bibliografia sobre Colonização – Guerra Colonial – 25 de Abril – Descolonização > Novos Registos


Autor / Título / Editora / Ano

 
Ana Cristina Silva > A dama negra da ilha dos escravos. Presença, 2009

António Tabucchi > Nocturno indiano. Publicações D. Quixote, 2009

Arlindo Barbeitos > Angola/Portugal – des identités coloniales équivoques. L’Harmattan, 2009

Artur Portela > A guerra da meseta. Publicações D. Quixote, 2009

Camilo Mortágua > Andanças para a liberdade, Vol. 1 (1934-1961). Esfera do Caos, 2009

Carlos Serrano > Angola – Nascimento de uma nação. Kilombelombe, 2009

Cristina Nogueira e Silva > Constitucionalismo e império – Cidadania no ultramar português. Almedina, 2009

Diogo Andrade > Alvorada desfeita. Guimarães, 2009

Eduardo Naia Marques > O que África me ensinou. Pedra da Lua, 2009

Eugénio Monteiro Ferreira e Carlos Monteiro Ferreira > Eugénio Ferreira – Um cabouqueiro da angolanidade. Campo das Letras, 2008

Fábio Pestana Ramos > Por mares nunca dantes navegados. Contexto, 2008

Filipa Martins > Quanta terra. Guimarães.  2009

Joana Matos Tornada > Nas vésperas da democracia em Portugal. Almedina, 2009

João Céu e Silva > Uma longa viagem com António Lobo Antunes. Porto Editora, 2009

João Vicente Martins > Os bakongo ou tukongo do nordeste de Angola. Imprensa Nacional, 2008

John P. Cann > A Marinha em África. Prefácio. 2009

José Eduardo Reis Oliveira > Golpes de mão’s – Memórias de guerra. Autor, 2009 (*)

José Luandino Vieira > O Livro dos guerrilheiros. Caminho, 2009

José Luís Cabaço > Moçambique – Identidades, colonialismo e libertação. Unesp, 2009

José Milhazes >Angola – O princípio do fim da União Soviética. Vega, 2009

Manuel Godinho Rebocho > Elites militares e a guerra de África. Roma, 2009 (*)

Manuel Pedro Dias > Aquartelamentos de Moçambique – Distritos do Niassa e da Zambézia, 1964-1974. Autor, 2009

Maria Celestina Fernandes > A muxiluanda > Chá de Caxinde, 2008

Mário Matos e Lemos e Alexandre Ramires > O primeiro fotógrafo de guerra português – José Henriques de Mello. Imprensa Univ. Coimbra, 2008

Medina da Silva > África não se esquece. Edições Ecopy, 2009

Paulo Granjo > Um amor colonial. Cosmos, 2009

Rogério Andrade Barbosa > O segredo das tranças. Scipione, 2008

Rui Avillez de Basto > Páginas de África. Protexto, 2009

Sérgio Neto > Colónia mártir, colónia modelo. Imprensa Univ. Coimbra, 2009

Sérgio O. Sá > De Quibala a Malele (Norte de Angola). Autor, 2009

Sheila Khan > Imigrantes africanos moçambicanos. Colibri, 2009

Sousa e Castro (Coronel) > Capitão de Abril, capitão de Novembro. Guerra e Paz, 2009

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Nota de L.G.:

(*) Membro do nosso blogue.

Guiné 63/74 - P5397: Blogues da nossa blogosfera (28): Guerra do Ultramar, um site com informação útil (José Macedo, EUA)

1.  Do nosso camarada Zeca Macedo, que foi 2.º Ten do  Destacamento de Fuzileiros Especiais, DFE 21 (Cacheu, Bolama e Cacine, 1973/74) e vive hoje nos EUA, desde 1977. É advogado (**).

Luis:

Recebi o e-mail que te envio. Faz dele o que bem entenderes. Alguns dos sites pode ter interesse para os camaradas da tabanca.


Um abraço amigo
José Macedo
Segundo tenente DFE 21
Guine 73-74


2. De interesse para os Veteranos do Ultramar e Famílias

[ Fonte:  Portal Guerra do Ultramar: Angola, Guiné e Moçambique, que é uma verdadeira enciclopédia sobre a guerra colonial, criado em 30/3/2006, e  mantido com enorme entusiasmo pelo nosso camarada António Pires, naturald e Vendas Novas, ex-Fur Mil Mec Auto, CSM/QG, Moçambique, 1971/73. O portal já ultrapassou o meio milhão de páginas visitadas. Grato ao Zeca Macedo pela lembrança. Votos de boa saúde e bom Natal. L.G.] (**) (***)

Clicando em cada uma das frases sublinhadas, acede-se directamente aos respectivos temas:

> Listagens de Militares que Morreram ao Serviço de Portugal 1954-1975 http://ultramar.terraweb.biz/index_MortosGuerraUltramar.htm

> O 10 de Junho dos Combatentes http://ultramar.terraweb.biz/Celebracoesdo10JUN/Celebracoes_EncontrosNacionais_LX.htm

> Memoriais Concelhios
http://ultramar.terraweb.biz/Memoriais.htm

> Memorial Nacional, no Forte do Bom Sucesso (Santa Maria de Belém, Lisboa) http://ultramar.terraweb.biz/MonumentoNacionalCombatentesUltramar_Lapides.htm

> Monumento Nacional aos Combatentes do Ultramar http://ultramar.terraweb.biz/MonumentoNacionalCombatentesUltramar.htm
> Condecorações atribuídas por Feitos em Campanha (1961-75) http://ultramar.terraweb.biz/condecoracoes.htm

> Contagem do Tempo de Serviço Militar
http://ultramar.terraweb.biz/ContagemdoTempo_SM.htm 

> Stress ou Deficiência Física Adquirida em Campanha http://ultramar.terraweb.biz/Stress_ou_DeficienciaFisica_adq_Campanha.htm

> Veteranos ex-Prisioneiros de Guerra
http://ultramar.terraweb.biz/AntigosCombatentes_PGuerra.htm

> Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) http://ultramar.terraweb.biz/06livros_estadomaiordoexercito_publicacoes_livros.htm

> Bibliografia relacionada com a Guerra do Ultramar
http://ultramar.terraweb.biz/06livros.htm

> Mapas de todas as ex-Províncias Ultramarinas
 http://ultramar.terraweb.biz/index_mapas_ultramar.htm
 ___________
 
Nota de L.G.:
 
(*) Vd. poste de 13 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2532: Tabanca Grande (56): José J. Macedo, ex-2º tenente fuzileiro especial, natural de Cabo Verde, imigrante nos EUA
 
(**)  Vd. poste de 28 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3535: Blogues da Nossa Blogosfera (8): Portal Guerra do Ultramar, do António Pires, de novo em velocidade de cruzeiro

(***) Último poste desta série > 14 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5268: Blogues da Nossa Blogosfera (27): Andorinha em Canchungo (António Nababo)

Guiné 63/74 - P5396: Os Nossos Médicos (10): Mário Bravo (CCAÇ 6, Bedanda, 1971/72), hoje ortopedista no Porto


Foto: © Amaro Samúdio (2006). Direitos reservados






Guiné > Região de Tombalo > Guileje > CCAÇ 3477 - Os Gringos de Guileje (1971/72) > O Alf Médico Mário Bravo em Guileje. Créditos fotográficos: Amaro Munhoz Samúdio (a primeira imagem); Mário Bravo (as restantes).

Mário Bravo, hoje médico ortopedista que vive e trabalha no Porto (em Fevereiro de 2008, data do nosso último contacto, trabalhava no Hospital da Ordem da Lapa), foi Alf Mil Médico da CCAÇ 6 (Bedanda, 1971/72) , ao tempo comandada pelo Cap Ayala Botto (hoje Cor Ref). É membro do nosso blogue.

Ia regularmente a Guileje prestar serviço. As duas primeiras fotos acima são do ex-1º Cabo Enfermeiro da CCAÇ 3477 (1971/77), Amaro Munhoz Samúdio (o da esquerda, na foto de grupo, do médico com os enfermeiros). O Samúdio é também membro da nossa Tabanca Grande

Esta CCAÇ 3477 (Nov 1971 / Dez 1972) eram Os Gringos de Guileje (açorianos), que antecederam a última, a CCAV 8350, os Piratas de Guileje (Dez 1972/ Mai 973).




Em Bedanda, o Mário esteve com o Fur Mil Enf Dias, natural de Viana do Castelo (Foto acima, o da direita, de pé; o médico é o da esquerda, de pé). A equipa de saúde era também uma excelente equipa de futebol.


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 (1971/72) > O Alf Mil Médico Mário Bravo


Foto: © Mário Bravo (2007). Direitos reservados

Escreveu-nos ele:

(...) "Habitualmente estava em Bedanda e ia de modo regular fazer serviço a Guileje, Gadamael Porto e Cacine. Passei esporadicamente por Catió e fui uma só vez a Cufar (...).


"Depois de sair do sul da Guiné, fui para Teixeira Pinto onde permaneci até ao fim da comissão [e onde conheeceu o nosso camarada António Graça de Abreu]. Também estive algum tempo em Bissau, no Hospital Militar, onde me ensinaram a arrancar dentes. Com esta especialização, lá foi este teu amigo dar cabo dos dentes ao pessoal ( salvo seja). Na zona de Teixeira Pinto, fui algumas vezes a Bachile, Cacheu, Carenque e Batucar. Digo-te estes nomes, pois assim poderás publicar no teu blogue e há-de haver tipos que se lembrem de me escrever"! (...).

_____________

Nota de L.G.:

Vd. último poste da série > 17 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5285: Os nossos médicos (9): Preocupações com a saúde do Dr. Rogério Leitão, CCAÇ 557, 1963/65 (J. M. Ferreira / J. Augusto Rocha)

Vd. os restantes postes:

15 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3899: Os nossos médicos (1): Alf Mil Médico José Alberto Machado (Nova Lamego)


2 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4891: Os nossos médicos (2): Tierno Bagulho e Pio de Abreu (Canchungo, 1971/73) (Luís Graça / António Graça de Abreu)

6 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4910: Os Nossos Médicos (3): Os especialistas eram poucos, e não gostavam de ir para... o mato (Armandino Alves, CCAÇ 1589, 1966/68)

8 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4918: Os nossos médicos (4): Um grande amigo, o Dr. Fernando Enriques de Lemos (Mário Fitas, ex-Fur Mil, CCAÇ 763, Cufar, 1965/66)

8 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4920: Os nossos médicos (5): Um grande homem, militar, clínico e matosinhense que me marcou, o Dr. Azevedo Franco (José Teixeira)

8 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4923: Os nossos médicos (6): Homenagem ao Alf Mil Med Barata (Binta) e ao HM 241 (Bissau) (JERO, ex-Fur Mil Enf, CCAÇ 675, 1964/66)

23 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5143: Os nossos médicos (7): Prof Doutor José Madeira da Silva, otorrino, em busca dos ex-camaradas de Bula e Pelundo, 1973/74

13 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5264: Os nossos médicos (8): O Dr. Rogério da Silva Leitão, aveirense, cardiologista, CÇAÇ 557, Cachil, Como, 1963/65 (José Colaço)

Sobre o Mário Bravo, vd. também postes de:


21 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2566: Em busca de ... (21): Malta de Bedanda, do futebol e dos serviços de saúde (Mário Bravo, Alf Mil Médico, CCAÇ 6, 1971/72)

23 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1457: Tertúlia: Apresenta-se o Alf Mil Médico Mário Bravo, CCAÇ 6, Bedanda (1971/72)

27 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1466: Mário Bravo, médico de Guileje (Amaro Munhoz Samúdio)

28 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1467: Bem vindo a Guileje, Doutor (Mário Bravo)

12 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1517: Tertúlia: Com o António Graça de Abreu em Teixeira Pinto (Mário Bravo

Guiné 63/74 – P5395: Estórias do Fernando Chapouto (Fernando Silvério Chapouto) (16): A caminho de casa - O fim de um pesadelo


1. O nosso Camarada Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426, que entre 1965 e 1967, esteve em Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, enviou-nos a última fracção das suas memórias. Esta sua série havia sido iniciada em 29 de Agosto p.p., no poste P4877.

AS MINHAS MEMÓRIAS DA GUINÉ - 1965/67

A caminho de casa
O fim de um pesadelo

A bordo do Uíge, os dias eram passados a jogar às cartas e a contarmos as nossas histórias. É claro que nós, os furriéis das diversas companhias, como estivemos numa quadrícula, só nos víamos de vez em quando e de passagem, ou então, quando fizemos operações em conjunto.

No refeitório do Uíge, em primeiro plano o Furriel Paio, seguindo-se o Marques, o Cardoso (com óculos). Eu fui o fotógrafo.

No dia nove de Maio quando acordei e fui à vigia já vi terra.

Estávamos à entrada da barra, chegou o barco dos pilotos e lá fomos rio Tejo acima, até ao Cais da Rocha.

Neste percurso, quando nos íamos aproximando da Ponte de Salazar, sobre o Tejo, já concluída e inaugurada, olhei para os mastros do Uíge e para altura da ponte. Os nastros eram tão altos que pensei cá para comigo: “Agora não podemos passar porque a maré está cheia.”

Ainda bem que eu estava enganado porque o barco passou facilmente, como é óbvio, e atracamos no cais por volta das dez horas.

Quando vi o barco preso a terra levantei os braços de alegria, por regressar são e salvo.

O navio Uíge que nos transportou de regresso à Metrópole

Descemos do navio e, cumprindo a praxe, desfilamos pelo cais fora, em formatura (coisa a que já não estava habituado), perante as altas individualidades que ali nos vieram receber-nos e passarem a revista às tropas e verem o nosso perfil.

No mato não apareceram eles!

E eu sem botões nos bolsos do blusão. Estavam descosidos e dentro do bolso. Não os cozi, visto já não precisar do blusão. A tropa para mim acabara!

Mais tarde tive de “mobilizar” a minha esposa para voltar a cozer os botões, porque tive que ir às cerimónias do dia 10 de Junho, que decorreram no Porto, receber a Cruz de Guerra.

Em conclusão, hoje sinto-me um herói, não por ter sido medalhado com a Cruz de Guerra, mas sim pelo sentimento de ter cumprido o meu Dever, para com a minha Pátria, porque, na minha opinião pessoal, heróis são todos aqueles que serviram com dignidade e honra nas missões que lhes foram incumbidas.

Mais me sinto orgulhoso, apesar de ver e saber tão maltratados pela Tutela, os ex-Combatentes, neste últimos 35 anos.

Não esquecerei os que tombaram ao serviço da Pátria, esses duplos heróis que estão “esquecidos” pelos nossos políticos e curvo-me perante as suas memórias com todo o respeito e admiração.

Terminou a guerra de G3, no mato, no tarrafo e nas bolanhas, mas não terminou, no meu cérebro, a guerra psicológica. Aquela que passados quarenta anos continua me continua a atormentar.

Más recordações que acabarão um dia… quando… só Deus sabe!

Um forte abraço do,
Fernando Chapouto
Fur Mil Op Esp/Ranger da CCAÇ 1426

Fotos: Fernando Chapouto (2009). Direitos reservados.
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Nota de MR:

Vd. poste anterior desta série, do mesmo autor, em:


quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5394: In Memoriam (35): Ieró Embaló, o desaparecimento dum Homem de Verdade (Rui A. Ferreira)


1. Recebemos do nosso Camarada Rui Alexandrino Ferreira, Coronel Ref, que cumpriu uma comissão de serviço na Guiné como Alf Mil na CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67 e outra como Cap Mil na CCAÇ 18, Aldeia Formosa, 1970/72, a seguinte mensagem:

O Desaparecimento dum Homem de Verdade

Morreu hoje, dia 24 de Novembro de 2009, num Hospital da região da grande Lisboa, onde dias antes fora internado de urgência com problemas cardiovasculares, Ieró Embalo, meu soldado, meu amigo, meu irmão sobre quem um dia escrevi o que se segue destinado aos autos mandados instaurar pelo Ministro da Defesa Nacional de Portugal, no seguimento duma carta em que lhe expunha a situação em que se encontrava com vistas à recuperação na nacionalidade portuguesa que nunca ninguém lhe perguntou se a queria deixar de ter e à atribuição das pensões que lhe eram devidas por ser condecorado com uma da Cruz de Guerra e por ter sido feito prisioneiro de guerra.


Ieró Embaló 1.º Cabo do Exercito Português

Depoimento daquele que foi o primeiro comandante da C.C. 18.

Nos processos referentes ao militar em questão.

Identificação:
  • Rui Fernando Alexandrino Ferreira
  • Tenente-coronel do QTS
  • NIM – 05874064
  • Filiação – Fernando Ferreira
  • Inês Borges Alexandrino Ferreira
  • Naturalidade- Sá da Bandeira - Angola
  • Estado civil - casado
  • Idade – 60 anos
  • Data de Nascimento 04-Agosto-1943
  • Residência – Bairro da Quinta da Carreira, lote 30 – 1º
  • 3500-147 Viseu
Tomei contacto pela primeira vez com o então soldado Ieró Embaló quando na minha segunda comissão na Guiné, então também Portuguesa, fui, após três meses de permanência na província e no comando da Companhia de Caçadores 2586 do Batalhão 2884, rendido naquela e nomeado por escolha pessoal do também então Governador e Comandante-chefe daquele território, General António de Spínola, para ir comandar a Companhia de Caçadores n.º 18, do recrutamento local e da etnia fula na sua quase totalidade, que se encontrava em fase de pré-constituição no Centro de Instrução Militar, em Bolama.

Passava assim certamente por algum mérito próprio mas muito mais pela actuação que tinha tido na anterior comissão onde circunstancias várias que aqui não importa referir mas que me tinham levado ao cometimento de algumas acções de extremo valor operacional que estiveram na base de alguns louvores, citações e inclusivamente ao Prédio.

Governador da Guiné e à condecoração com a Cruz de Guerra de 1.ª classe, mas que serviram também para que aquele carismático, controverso, mediático, autoritário e incontestado chefe militar em questão logicamente tivesse pensado e decidido dever eu passar a integrar a elite das forças de intervenção da Guiné. Assim eram tidas as tropas africanas, que de certa maneira as compensava pelo redobrar de sacrifícios, suor e sangue, que os mutilados e mortos em combate eram em muito maior escala que a tropa normal oriunda da metrópole, vulgarmente conhecida como a tropa macaca, bem o atestavam.

Chegado à província para iniciar nova comissão (Setembro de 1970), dela tinha saído em Novembro de 1967, logo pressenti que me ia ver envolvido em novos e inevitáveis trabalhos.

Tudo isto porque havia, com rara e astuciosa decisão (é justo reconhecer hoje) determinado que, sem contemplações ou excepções, fossem colocados nas unidades africanas somente os capitães que já tivessem dado provas de extremo valor operacional, de preferencia na Guiné, de que eram capazes de aguentar o esforço físico que lhes seria exigido, o desgaste psicológico a que estariam sujeitos e ainda conseguir esquecer que os brancos eram apenas meia dúzia para cerca de uma centena e meia de negros o que resultava, que mais dia, menos dia, transformados em alvos preferenciais do inimigo, naquela nova modalidade de desporto que passou à história com o nome de “ Tiro ao Branco”, acabariam numa cama do Hospital Militar ou debaixo de alguns palmos de terra.

Como já tinha a citada Cruz de Guerra de 1.ª classe da anterior comissão ali cumprida a minha nomeação para as tropas africanas só demorou o tempo suficiente que mediou entre a minha chegada e a ocorrência da primeira vaga.Entre a data da nomeação, a partida para o local em que a companhia seria constituída, a sua marcha para a zona prevista para ocupação e a entrada em posição, a minha vida foi um frenesim e constituiu-se hoje o que considero ter sido uma verdadeira e espantosa epopeia.

E se me atrevo a falar sobre quanto então se passou, numa evocação desses tempos duros e difíceis, penosos, arrastados e sofridos, é para deixar esclarecido que ao referir estes factos não o faço para me auto-elogiar ou promover do que não tenho a menor necessidade mas para dar uma ideia, que é durante os tempos conturbados que mais se aprecia o valor, a lealdade, o espirito de sacrifício, a capacidade de sofrimento, a resistência física ao esforço e à fadiga, a perseverança, o espirito de missão, a permanente exposição ao perigo, o arriscar vezes sem conta a própria vida, que me faz reconhecer, ainda mais nobre, o procedimento desse combatente de excepção como foi Ieró Embaló.

E é assim, que ouso afirmar que olvidando quer as restantes condecorações que me foram outorgadas, os prémios e louvores em combate, as citações que as minhas actuações possam ter tido bastariam as duas Cruzes de Guerra e as marcas que o meu corpo tem dos ferimentos que sofri para me sentir com a autoridade moral de poder falar, sem a mínima restrição, denunciando a vergonhosa conduta, injusta, imerecida e criminosa actuação que alguns dos filhos de Portugal continental então tiveram contra ele, mas que o responsabiliza como entidade descolonizadora e compromete como um estado de direito e a quem compete logicamente a sua reparação.

Apresentado no Centro de Instrução Militar para dar inicio ao treino Operacional a que as unidades eram submetidas antes de serem dadas como operacionais e aptas para a intervenção e que teve lugar na região de Nova Sintra/São João, do outro lado do rio mesmo em frente à ilha de Bolama, constatei não só que a região era muito pouco recomendada para a saúde pública como infelizmente o era quase toda a Guiné, mas que a tarefa se apresentava bem maior do que aquilo que jamais tinha imaginado.

Os alferes que iam integrar a companhia chegaram de Portugal já o treino tinha sido dado como feito e de negros, limitavam-se a conhecer o Eusébio os que gostavam de futebol, mas das suas mentalidades e da forma de lidar com eles nada sabiam Os sargentos, que eram igualmente do recrutamento provincial foi-lhes dado como findo a toda a pressa o curso que frequentam para a poderem integrar antes da marcha para a zona de intervenção.

As praças das diversas especialidades foram chegando a um ritmo impensável ou minimamente aceitável ao longo do tempo. A maior parte delas já estava na companhia há muito em intervenção.

Assim para além da minha própria pessoa restavam os soldados atiradores. E foi desta forma inimaginável e absolutamente caricata que decorreu o treino operacional.

É bem certo que foi por minha própria iniciativa e expressa vontade que foram dispensados de o integrar, acompanhando-me nas saídas para o mato os dois alferes milicianos que me foram atribuídos para o efeito. Só que tendo constatado que estavam a pouco mais de um mês para findarem as suas comissões me pareceu uma evidente falta de bom senso, ingratidão, desprezo e indiferença pelas suas vidas, numa violência sem sentido.

E se de forma alguma me agradaria ter um dia de me sentir responsável pelas suas mortes ou pelos seus ferimentos preferi não os levar para o mato.Assim o ponderei e assim o levei a cabo, tendo logicamente suportado as consequências. Mas bem contra o que seria lógico esperar daquele experiência dela muito se aproveitou Não só tive a oportunidade de rapidamente conhecer praticamente todos os elementos que a iam integrar como também de com eles estabelecer um clima de confiança, de respeito e consideração, firmando laços de verdadeira camaradagem e amizade de que resultou não ter tido qualquer problema disciplinar entre eles e para comigo, isto para não deixar de referir uma violenta cena de troca de tiros com a outra companhia da metrópole que aqui não tem cabimento.

Desde o primeiro dia, chamou-me à atenção a generosidade, o empenho, a dedicação e o entusiasmo que o Ieró punha em tudo quanto fazia.

E que a par destas qualidades, era um guerrilheiro especial pois tinha sido raptado quando rapaz, levado à força para a Guiné Conackri, onde se viu obrigado a integrar as forças do PAIGC e tendo sido colocado numa base operacional turra, dentro do território da Guiné, daí tinha fugido na primeira oportunidade e feito a sua apresentação às forças portuguesas.

Tinha um conhecimento profundo das formas de actuar do inimigo e das tropas portuguesas. Era dum espantoso espírito de observação, duma imensa capacidade de adaptação ás mais variadas situações, reagia com prontidão, não perdia a noção da tempo e do espaço em que se movia e era de prontas resoluções.

Constatei ainda que era alegre, divertido e bem-disposto, tinha uma profunda e admirável filosofia de vida, uma inteligência superior à média, era desembaraçado, prestável e atencioso e tinha um padrão de vida e uma excelente bagagem cultural. Falava fluentemente o português, o francês, o fula e o crioulo, escrevia à moda europeia e lia e escrevia o árabe em caracteres próprios o que era extremamente difícil.

Islâmico, profundamente religioso, seguia e norteava a sua vida pelas determinações de Deus. Tinha um orgulho imenso na sua condição de português, foi logicamente escolhido para funcionar como elemento de ligação, interprete uma vez que uma larga percentagem dos seus elementos mal falava e pouco entendia da língua portuguesa e consequentemente passou com toda a lógica a ser o meu par operacional, vulgo Guarda-costas.

Foram duma extrema utilidade os seus conselhos, as suas intervenções, o conhecimento dos modos de actuação do inimigo de então, bem como ficaram suficientemente provadas as suas capacidades de combatente, a sua lealdade, o seu amor à Pátria que todos lhe diziam que ia do Minho a Timor.

Mas se muitas foram as ocasiões e as oportunidades que ao longo de dois anos de intensa actividade operacional permitiram reconhece-lo como um dos melhores combatentes que o solo da Guiné jamais conheceu, duas acções me parecem de especial relevo. A primeira durante a operação oxigono em que dois grupos de combate da companhia em missão de contra-penetração emboscavam os itinerários que o PAIGC utilizava para do território da Guiné-Conackri introduzir o armamento, o remuniciamento e os reabastecimentos de que as suas bases operacionais no interior da nossa Guiné necessitavam, se viram confrontados com uma coluna inimiga cujo efectivo excedia em larga escala o número dos que a emboscavam, dispondo de melhor armamento, foi dos primeiros elementos que de pé os afrontou, desnorteou e com absoluto desprezo pela vida se lançou ao assalto, conseguindo com a sua extraordinária coragem, sangue frio, destemor e determinação servir de exemplo e contagiar os seus camaradas que empolgados transformaram o que se poderias ter saldado por uma imensa tragédia para as nossas tropas numa jornada de glória, em que foi capturado um precioso espolio em armamento, no qual se incluíram pela primeira vez na Guiné três foguetões de 122 mm, conhecidos como Órgãos de Staline, RPG´s, e armamento individual, um lote muito valioso de munições das mais variadas armas produzindo ainda pesadas baixas entre a coluna inimiga.

Foi ainda eliminado um importante chefe militar da região. Ainda referente a esta operação é de salientar que foi graças ao seu conhecimento sobre a forma de actuar do inimigo que fazia percorrer no sentido inverso ao que a coluna ia fazer, dois ou mais batedores com a missão de verificar se este percurso estava livre de perigos pela inexistência de tropas emboscadas. Foi assim que estiveram parados a poucos metros da emboscada que montávamos dois guerrilheiros que se sentaram escassos metros à nossa frente num morro de baga-baga, fumaram os seus cachimbos, conversaram e riram sem que da nossa parte tenha ocorrido o mínimo barulho ou qualquer gesto denunciador no que terão constituído seguramente os mais angustiantes e prolongados minutos da minha vida.

A segunda ocasião que me apraz aqui citar aconteceu durante a operação Muralha Quimérica onde entre as forças operacionais especiais e de elite da então província da Guiné, comandos metropolitanos e africanos, fuzileiros e paraquedistas, a Companhia de Caçadores nº 18 teve uma intervenção de extremo valor opondo-se com total firmeza e determinação à passagem do escalão avançado do PAIGC que igualmente em muito maior numero, melhor armamento e fortes motivações morais para tudo superar pois faziam a guarda aos investigadores da ONU que na sequência da unilateral proclamação de independência da Guiné reconheciam as zonas que o movimento independentista proclamava como regiões libertadas.

Tendo sido atribuída à companhia uma zona muita a norte da possível zona de confrontos, onde deveriam servir de tampão a passagens por ali, referiu o Ieró que dali só por milagre se faria alguma coisa com interesse. Obtida a autorização do comandante da operação, tenente-coronel paraquedista Araújo e Sá ocupou então a companhia a zona de cambança do rio onde se iniciava o corredor de infiltração de Missirã no que resultou um contacto extremamente violento com a dita guarda avançada comandada pelo próprio Nino Vieira comandante da Zona Militar Sul do inimigo e o impedimento de prosseguir para o interior da província dos elementos da ONU. Uma vez mais o Ieró se portou com o valor, a coragem, o destemor, o desprezo pela vida que uma vez mais conscientemente expôs ao perigo, batendo-se com o entusiasmo e a grandeza de alma que o levava a tudo superar, a galvanizar os seus camaradas, enfrentando de pé, indiferente ao imenso tiroteio que acontecia. Tendo sofrido pesadas baixas teve o grupo inimigo de se retirar desmoralizado.

Ainda hoje mantenho a firme convicção que era ele bem mais português que a maioria dos aqui nascidos.

Tragicamente o abandonamos quando mais de nós precisava. Tal como às restantes forças africanas que anos a fio fomos comprometendo, naquela que, quanto a mim foi a página mais negra e mais vergonhosa da nossa história contemporânea.

Preso em Dezembro de 1974, quando ainda Portugal detinha responsabilidades sobre aquele território, perante a nossa estranha indiferença e a criminosa demissão de um povo, permaneceu em cativeiro quase uma DEZENA DE ANOS.

Foi enxovalhado, passou maus tratos, sofreu sevícias, foi espancado pela sua colaboração com PORTUGAL.

A tudo sobreviveu graças à extraordinária força moral interior e â grandeza de alma que tem. Sem nunca esquecer nem amaldiçoar os portugueses e Portugal, acredita que estes ainda o vão recompensar pela sua lealdade.

Aquele que foi e continua sendo um valor moral da nação, que orgulhosamente ostentava no peito uma Cruz de Guerra, que tinha louvores e citações de combate, que havia sido tratado com todas as honras quando da visita a Portugal agraciado com o prémio Governador da Guiné que se vê deslocado e sem terra, sem família, sem direito ao trabalho, sem meios de subsistência, desprezado pelos seus iguais e abandonado pelos brancos metropolitanos que na sua loucura vanguardista e revolucionária nem português lhe deram a hipótese de o ser, ainda acredita em Portugal.

Aquele que um dia o Exercito Português promoveu por distinção a 1º cabo por feitos em campanha deixava de contar no seu efectivo. Pura e simplesmente deixou de existir.

Sobreviveu à matança que se abateu sobre as tropas africanas. Sobreviveu às sevícias e aos horrores que passou nos calabouços do PAIGC. Suportou o desdém e a desforra do inimigo.

Graças a tenacidade e empenho dos antigos oficiais e sargentos que nunca o esqueceram conseguiu ao fim de largos anos rumar a Portugal. Onde continua a ser por estes ajudado.

Velho, doente e cansado pouco podem estes fazer do muito que lhe é merecido e do que tem direito.

Não podem no entanto substituir Portugal na reparação dos erros que sofreu.

Julgo que já é altura de se reparar a imensa tragédia e a vergonhosa injustiça que sobre este homem se exerceu.

Que lhe seja atribuída a pensão por serviços relevantes prestados ao país, que lhe seja reconhecido o estatuto de prisioneiro de guerra, como na realidade o foi, ou que lhe seja concedida a pensão das cruzes de Guerra, mas que finalmente se faça justiça reparando um erro que os conturbados tempos revolucionários pode explicar mas que já não o podem, nem a Instituição Militar legalmente estabilizada nem o poder político democraticamente eleito como representantes do povo português.

Que se assumam como responsáveis em nome de Portugal restaurando-lhe a dignidade como ser humano e mesmo sem esquecer a indignidade dos procedimentos, consiga repor um pouco do orgulho que sentíamos pela nossa condição de portugueses que se reviam na grandeza das acções e na nobreza das intenções dos seus antepassados.

Fim de citação.

Morreu quando Deus assim o determinou.

Graças ao esforço, à dedicação, a persistência, à generosidade de muitos dos meus amigos a quem pedi e de quem obtive sempre resposta positiva foi possível custear a sua vinda da Guiné e a sua estadia em Portugal.

Viveu o tempo suficiente e necessário para lhe ser reconhecida a razão.

Que Deus o receba em paz.

LEGENDAS DAS FOTOS

Foto 1 - Ieró Embaló, como Recruta no CIM
Foto 2 - Ieró Embaló na sua motorizada
Foto 3 - Iero Embaló junto ao Corubal
Foto 4 - Agosto de 1972. Cap Rui Ferreira e 1.º Cabo Ieró Embaló na sua visita a Portugal, por lhe ter sido atribuído o prémio Governador da Guiné

Para todos um abraço,
Rui Ferreira
Alf Mil na CCAÇ 1420/Cap Mil na CCAÇ 18

Fotos: Rui A. Ferreira (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

(*) Vd. último poste da série em: