domingo, 6 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5415: Os nossos camaradas guineenses (20): Homenagem aos Comandos africanos, fuzilados no pós-independência (Manuel Amaro Bernardo)


1. Do Cor Inf Manuel Amaro Bernardo, que se encontra na situação de Reforma, recebemos a seguinte mensagem, homenageando os COMANDOS africanos que foram fuzilados clandestinamente,na Guiné-Bissau, após a independência, com pedido de publicação:

Homenagem aos “COMANDOS” africanos fuzilados clandestinamente na Guiné

"(…) Onde estavam os que hoje tão convenientemente pretendem utilizar os fuzilamentos como bandeira política? Hoje, com o passar das décadas, tudo se torna, para alguns, tão nítido, tão simplista. (…)"

José Belo, ex-Alf Mil /Guiné, em 1-12-2009

Apresentando o seu comentário no site de Luís Graça, como reflexões circunstanciais a propósito deste tema, este senhor, imbuído de uma perspectiva de esquerda, típica dos considerados sectores culturalmente mais evoluídos da sociedade portuguesa, acaba por querer desculpar o que é indesculpável…

Já que se pode presumir que o seu texto vem endereçado à minha pessoa, vou tentar explicar que não tem razão. Eu não me oriento por agendas políticas encomendadas, nem utilizei os fuzilamentos como
bandeira política.

Este processo de investigação dos factos ocorridos na Guiné decorreu de um pedido que me fez o camarada do meu Curso de Infantaria (1956-60), Coronel José Clementino Pais, pouco tempo antes de falecer, em 2006, devido às sequelas resultantes do rebentamento de uma mina na zona de Farim, onde, em 1972, comandava a CCaç 14.

Foi assim que, apesar de nunca me ter deslocado à Guiné, avancei com a publicação, em 2007, do referido livro, "
Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros: Guiné 1970-1980". Nele, e dirigindo-me a este oficial, pode ler-se:

(…) Pois é Zé. Agora é a minha vez de te dizer: Paz à tua alma. Podes repousar em paz, com a certeza de que vou tentar cumprir a promessa que te fiz, há cerca de três meses: denunciar o sucedido com os teus soldados da Guiné e muitos 'comandos' africanos (a maior parte dos oficiais e sargentos das três companhias existentes) fuzilados após a independência deste território.

Carnaxide – Março de 2006

As listagens dos fuzilados

Já que voltei de novo a ser acusado de apenas salientar os 'comandos' africanos, posso referir que do meu texto anterior datado de 8-11-2009 e não publicado no
site de Luís Graça (junta-se em anexo, assim como as duas relações abaixo indicadas) já se destacavam os dois anexos constantes do citado livro e onde as listagens dos fuzilados eram referidas:

1. Relação nominal de 86 ex-militares, milícias, régulos e cipaios, que incluía 14 fuzileiros especiais (7 sargentos e 7 marinheiros), com base na informação num livro do Ten-Coronel Queba Sambú, dissidente do PAIGC e na então existente Associação Portuguesa dos Antigos Combatentes da Guiné (apoiada pelo José Pais).

2. Relação nominal dos 53 oficiais, sargentos e praças, 'comandos' africanos da Guiné, fuzilados clandestinamente (à semelhança dos anteriores) homenageados pela Liga dos Combatentes, na cerimónia de 14 de Novembro passado.

Recordando outras circunstâncias…

O ex-combatente José Belo refere no seu texto:

(…) O ajuste de contas surgiu na primeira oportunidade; mas não teria sido possível algo de semelhante se alguns dos fuzilados tivessem, noutras circunstâncias, tido a mesma oportunidade em relação aos guerrilheiros?

É uma pergunta menos conveniente, mas de considerar, tendo em conta que alguns de nós conheceram pessoalmente muitos dos fuzilados. Para nós, os que não pretendem utilizar estes CAMARADAS que ao nosso lado (tantas vezes à nossa frente!) lutaram, carregaram aos ombros os seus/nossos mortos, comungaram literalmente a mesma terra vermelha de sangue... não existem "agendas políticas", como não deverão existir complexos colectivos de culpas.

Sobre o comportamento dos 'comandos' africanos em operações, o Furriel Comando Júlio Jaquité (Ob cit pp´351) afirma:

Quando o Luís Cabral, em certo dia, na TV em Lisboa, afirmou que os comandos africanos eram assassinos, eu telefonei para essa estação de televisão e perguntei como é que se fazia um programa daqueles sem nos convidar.

Os 'comandos' africanos, em relação à população, não matavam ninguém; e, quando prendíamos militares do PAIGC, éramos obrigados a entregá-los no Comando-Chefe para serem ouvidos. Era expressamente proibido matar alguém no mato.

E este graduado esclarecia ainda:


(…) quando alguém era feito prisioneiro ninguém o podia magoar, pois era punido, tanto disciplinarmente, como em Tribunal Militar, que existia em Bissau e funcionava. Estas eram as ordens do General Spínola, que eram cumpridas. A alguns prisioneiros até era dada uma casa e arranjado emprego. (…)

Agora pergunto eu. A existir este tipo de comportamento em operações, alguém acredita que os 'comandos' africanos guineenses viessem a praticar tais fuzilamentos clandestinos em massa?

À semelhança do Doutor Manuel Rebocho, que numa tese de doutoramento (agora em livro) veio questionar o comportamento dos oficiais do quadro permanente (QP) do Exército em operações no Ultramar, também José Belo faz a distinção entre os das "agendas políticas” e os que combatiam e morriam no terreno.


Apenas recordo que a maior parte dos oficiais do QP da minha geração fez quatro comissões por escala no Ultramar; isto é, estiveram no início da guerra em Angola e acabaram por tentar acabar com a guerra, com a sua contestação, que levou ao 25 de Abril de 1974.

Eu, por exemplo, depois dos tempos de subalterno (alferes e tenente), fui sempre nomeado para comandar companhias, até Dezembro de 1973, quando regressei da 4.ª comissão em Moçambique.

E muitos morreram e ficaram feridos, como o José Pais, que num livro publicado (
Histórias de Guerra; Índia, Angola e Guiné, 2002, por mim prefaciado), descreve o que lhe sucedeu, numa conversa havida com o seu enfermeiro africano:

(…) -Tem cuidado, que pode haver mais minas – disse-lhe o capitão ainda consciente.
-Não faz mal, nosso capitão – respondeu o Queta valentemente.
- Pede sangue para Farim O Rh+. Não me dês água. Tenho a barriga furada. Vou ter muita sede. Se me dás água, matas-me.
- Fica descansado nosso capitão. Eu sabe.

Deu-lhe a morfina, fez-lhe o garrote, pôs-lhe um penso na femural arrancada, que esguichava sangue, como uma torneira. (…)

Deste modo, espero ter esclarecido os leitores sobre a maneira como avancei para este trabalho que, à semelhança de outros realizados em relação a Moçambique e Timor, além da investigação feita nos arquivos, são incluídos os depoimentos dos participantes nos acontecimentos para, no futuro, se poder fazer uma mais realista reconstituição histórica.


E termino lembrando a opinião de um investigador americano (J. P. Cann) sobre a nossa Guerra do Ultramar:


(…) Em 1971, o Exército dera credibilidade a Portugal em todos os teatros de operações e encontrava-se preparado para aguentar um compasso de espera, a fim de negociar uma descolonização. (…)

Cor Ref Manuel Amaro Bernardo
3-12-2009


Anexo I

Lista dos africanos (com excepção dos 'comandos') fuzilados na Guiné (Provisória), Abril de 2006
  • Nome * Posto * Colocação * Data/local fuzilamento
- Adelino Sousa (1)
-
Adulai Dabó (2) 2.º Sarg. Fuz Esp DFuz Esp 22
-
Aladje Alansó Camará (2) Cmdt de milícia / Jabadá
-
Alarba Baldé (1) (2) Régulo
-
Alfa Baldé (2) Soldado Inf Pel Caç Nat 53
-
Aliu Baldé (2) Sold de milícia /Mansabá (?)
-
Aliu Baldé (2) Soldado Inf CCaç 18
-
Amadu Baldé (2) (3) Soldado Inf CCaç 18
-
Anastasio Sidi (2) Furriel
-
Ansumane Mané (2) (3) Cmdt de milícia / Gampará
-
Arnaldo Quinde Baldé (2) 2.º Sarg Inf CCS/QG
-
Baba Galé Jaló (2) Sold Inf CCaç 18
-
Bacar Alansó Cassamá (2) Cmdt de milícia / Empada
-
Bacar Baldé (2) Soldado Inf CCaç 18
-
Bacar Seidi (2) Soldado Art GAC 7
-
Bacarzinho (2) Soldado Inf 5.º Curso Cmds
-
Bará Dabó (2) Soldado Inf CCaç 14
-
Bawali Tcham (2) Cmdt de milícia / Empada
- Beleté (2) Cabo de mílicia
-
Boi Baldé (3) Marinheiro Fuz. Esp. (?)
-
Bonco Sanhá (1) (3)
-
Braima Candé (2) Sold de milícia / Farim
-
Braima Jau (2) Soldado Inf CCaç 18
-
Braima Sani (2) (3) 2.º Sarg. Fuz Esp D Fuz Esp 21
-
Braima Sano (3) Marinheiro Fuzileiro Esp. (?)
-
Cabá Santiago (2) Cmdt de milícia / Bissorã
-
Calido Baldé (2) (3) Marinheiro DFuz Esp 22
-
Califa Baldé (2) 2.º Sarg Fuz Esp DFE21
-
Coio Baldé (2) Régulo
-
Constantino Aliu Sani (2) Soldado Inf 4.º Curso Cmds
-
Dadi Baldé (1) 1.º Cabo cipaio
-
Dantil Mendes (2) Cmdt de milícia /Jolmete
-
Demba Ganó (2) Soldado Inf CCaç 11
-
Demba Julde Baldé (1) (2) Régulo de Fajão Quito (Bafatá)
-
Dicó Baldé (2) Soldado Inf CCS/QG
-
Domingos Ensá Djassi (2) 2.º Sarg Fuz Esp DFE 21
-
Gabriel Cherno Baldé (1) (2) 1.º Cabo PSP Cumeré
-
Galilo Dabó (2) Cmdt de milícia / Empada
-
Galo Baldé (1) Régulo de Canadú (Bafatá)
-
Henrique Sello Jaló (2) Soldado Art GAC 7 Pixe
-
Iancuba Camará (1)
-
Irineu (2) Soldado Inf (?)
-
Isaac Dias Ferreira (2) Soldado (?)
-
Jaime Seidi (1)
-
Jaló Seidi (2) Soldado Art GAC 7
-
Jamanca Seidi (1)
-
João Batista (2) 1.º Sarg Enf Dep Adidos Bissau
-
Joaquim Baticã Ferreira (2) Régulo 1976
-
Luntam Indjai (2) (3) 2.º Sarg Fuz Esp DFE 21
-
Malagueta (…) (1) Cabo cipaio
-
Malam Cassapá (2) Civil / Adm de Catió
-
Malam Sani (2) Soldado Inf.ª CCaç 14
-
Malam Turé (2) Furriel Inf CCaç 21
-
Mama Braima Seidi (2) 2.º Cmdt de milícia
-
Mama Djam Jaló (2) Sold de milícia / Mansabá
-
Mama Jabel (2) Ex-deputado
-
Mama Saliu Jaló (2) 1.º Cabo Inf CCaç 5
-
Mama Samba Candé (2) Soldado Inf Pel Caç Nat 53
-
Mamadu Aliu Seidi (2) Marinheiro DFE 21
-
Mamadu Bangura (1)
-
Mamadu Bobó Jaló (2) Soldado Inf Farim (?)
-
Mamadu Bonco Sanhá (1) (2) Régulo Bambadinca
-
Mamadú Embaló (2) Cabo de mílicias
-
Mamadú Jual Baldé (1) Filho de régulo (Bafatá)
-
Mamadú Sanhá (1) Milícia de régulo Bambadinca
-
Mamadu Seidi (2) Cmdt de milícia / Mansabá (?)
-
Mamadu Sissé (1)
-
Manuel Seidi (2) Marinheiro
-
Marçal Sambú (2) 2.º Sarg Fuz Esp DFE 22
-
Mário Adjabá (2) 2.º Sarg Fuz Esp DFE 22
-
Mateia Baldé (1)
-
Miguel Francisco Pires (2) Soldado Inf CCS/QG
-
Mori Baldé (2) Soldado Inf CCaç 18
-
Napoleão Jaló (2) Soldado cond Marinha
-
Obeara Sambú (1) Mulher (Fuzilada c/ o 'Cmd' João Uloma) Canjambare
-
Pedro Lopes (3) Marinheiro Fuzileiro Esp (?)
-
Per Sanhá (2) Soldado 'Cmd' (?) .
-
Quindi Baldé (2) 1.º Sargento / QG Farim
-
Quissima (1)
-
Saco Baldé (2) Sold de milícia / Cuntima
-
Salium Queta (2) Furriel Inf CCaç 5 Bissau
-
Samba Ganha Baldé (2) Régulo
-
Sambaro Candé (1) (2) Cmdt de milícia / Mansabá
-
Sambel Baldé (1) (2) Régulo
-
Sambel Coio Baldé (1) (2) Antigo régulo de Fajão Quito
-
Sancum Baldé (2) Régulo
-
Sandem Dabó (3) Marinheiro Fuz Esp (?)
-
Sello Jaló (1) (2) Soldado Inf Farim
-
Sidi Jaló (2) Soldado Inf CCaç 12
-
Suleimane Dembel Baldé (1) Cipaio
-
Surna Jau (1)
-
Tabê Dabó (1)
-
Tamba Jau (1) Soldado Cumeré
-
Tcherno Djau (1) (3)
-
Uri Baldé (2) Sold. de milícia / Mansabá
-
Uri Jaló (2) Soldado Inf Esquadrão Bafatá (?)

Notas:

(1) Queba Sambu (Tenente Coronel e quadro superior dissidente do PAIGC) “Ordem para Matar (…)”. Lisboa, Ed. Referendo, 1989.
(2) Informação da Associaçãp Portuguesa dos Antigos Combatentes da Guiné.
(3) Consta da lista do PAIGC (
Nô Pintcha, de 29-11-1980)

Anexo II

Lista dos comandos africanos fuzilados na Guiné (Provisória)
  • Nome * Posto * Colocação * Data/local fuzilamento
- Abdulai Queta Jamanca (1) (4) (6) Tenente“Cmd”CmdtCCaç 21MAR1975 * Bambadinca * Inc.12-1-1956, n.5-1-1937/Farim(1.ª CCmdsAf/Príncipe fula)
-
Adriano Sisseco (1) (2) (4 ) (9) Capitão “Cmd” 2.ªCCmds Af./74 18-12-78 * Portogole * Inc. 5-1-1964, n. 10-8-1941/Bolama
-
Alfa Candé (3) Furriel “Cmd” 2.ª CCmds Af./74 * 1975 * Mansoa
-
Alfa Embaló (1) (3) Furriel “Cmd” 2.ª CCmds Af./74 1975 * Cumeré * (Gr. Vingadores) (7)
-
Aliu Sada Candé (1) (4) (6) Alferes “Cmd” CCaç 21 (2.ª CCmds Af/74) * Bambadinca * Inc. 6-5-1966, n. 8-5-1944/Aldeia Formosa
- Amarante Sadja (3) (4) Furriel “Cmd” 3ª. CCmds Af./74 * Cumeré * Inc18-4-1966, n. 1945/Bissorá
- Américo Lamine Camará (1) (3) Furriel “Cmd” 2.ª CCmds Af./74 * 1975 * Cumeré
-
Anastácio Moreira Ferreira (1) (2) Furriel “Cmd” Bat. Cmds Af/74 MAR1975 * Cantchungo * Inc. 13-9-1964(4), n. 12-6-1942/?
-
António Mendonça (1) (3) Furriel “Cmd” 2.ª CCmdsAf/74 * Portogole * Inc. 2-1-1970, n. 20-2-1947/Cacheu (regressado de Dakar)
-
António Samba Juma Djaló (1) (3) Alferes “Cmd” 1.ª CCmds Af./74 1975 * Bambadinca * Inc. 3-4-1967 (4), n. 5-10-1944/Fulacunda
-
António Vasconcelos (1) (3) (4) Alferes “Cmd” 3.ª CCmds Af./74 DEZ 1975 * Bafatá * Inc. 11-1-1956, n. 15-2-1936/S. Domingos
-
Armando Carolino Barbosa (1) (2) Tenente.“Cmd” 2.ª CCmds Af./74 * Bambadinca * Inc. 28-6-1964 (4), n. 11-10-1946/Bafatá
-
Aruna Candé (1) (3) (4) 1.º Sarg. “Cmd” 2.ª CCmds Af./74 * Cuntima * Inc. 2-8-1970, n. 11-6-1946/Farim
-
Augusto Filipe (1) (3) (4) 2.º Sarg. “Cmd” 1.ª CCmds Af. * Cumeré * Inc. 2-1-1970, n. 16-8-1948/Mansoa
-
Bacar Djassi (1) (4) Tenente “Cmd” 3.ªCmds Af./74 * Cumeré * Inc. 26-5-1962, n. 7-1-1944/Fulacunda
-
Bailo Djau (2) (3) (4) Alferes “Cmd” 2.ª CCmds Af./74 1986 * Cumeré * Inc. 3-4-1967, n. 3-4-1946 (fuz. depois de ter sido preso no Senegal)
-
Belente Mepe (8) Furriel “Cmd” (preso em 19-11-1974)
-
Braíma Baldé (1) (2) (3) (4) Alferes“Cmd”CCaç21(1.ªCCmds MAR75) * Bambadinca * Inc. 2-1-1960, n. 2-8-1939/Bafatá
-
Braima Bari (1) (4) Furriel “Cmd” 2.ª CCmds Af./74 * Cumeré * Inc. FEV 1965
-
Braima Camará (3) Furriel “Cmd” Gr.Vingadores (7) * 1975 * Bissau
-
Braima Turé (8) Furriel “Cmd”/ Gr. dos Vingadores 1975(?) * Cumeré(?) * n. 8-8-1948 (preso em 12-12-1974)
-
Bubacar Camará (1) (3 ) (4) Furriel “Cmd” 3.ª CCmds Af./74 * Cumeré * Inc. 2-1-1970, n. 26-1-1946/Cacheu (Gr. Vingadores) (7)
-
Carlos Bubacar Jau (1) (3) (4) Alferes “Cmd” 2.ª CCmds Af. * Cumeré * Inc. 7-11-1971, n. 13-3-1946/Bafatá
-
Carlos D. Facene Samá (1) (3) (4) 2.º Sarg. “Cmd” 2.ª CCmds Af./74 * Portogole * Inc. 2-1-1970, n. 15-8-1949/Farim
-
Cicri Marques Vieira (2) (3) (4) Tenente “Cmd” 2.ªCCmds Af./74 18-12-78 * Portogole * Inc. 15-8-1968, n. 27-1-1945
-
Col Quessanque (3) (4) 1.º Sarg. “Cmd” 3.ª CCmds Af./74 * Mansoa * Inc. 13-1-1958, n. 13-1-1938 (fuzil. púb)
-
Cube Jaló (1) (3) (8) Sold. “Cmd” BCmds/3.ª CCmds 1979 * Bissau
-
Dabo Baldé (1) (4) Furriel “Cmd” 2.ª CCmds Af./74 * Portogole * Inc. 24-10-1966, n. 24-10-1947 (regressado de Dakar) (3)
-
Demba Cham Seca (1) (2) (3) (4) (6) (9) Alferes “Cmd” CCaç 21 25-03-75 * Bambadinca * Inc. 2-1-1960, n. 12-1-1939 (1.ª CCmdsAf./74)
-
Fodé Baió (4) 1.º Sarg “Cmd” 1.ª CCmds Af./74 * Mansoa * Inc. 24-10-1966, n. 1945/Farim
-
Fodé Embaló (3) (4) 1.º Sarg. “Cmd” 1.ª CCmds Af./74 * Bambadinca * Inc. 27-5-1961, n. 1942/ Gabú
-
Francisco Alenquer Imbadé (1) (3) Furriel “Cmd” 3.ª CCmds Af./74 * (?) * Inc. 24-1-1971, n. 20-5-1950
-
Granque Camará (1) (3) (8) Soldado “Cmd” 3.ª CCmds Af/74 * 1979 * Bissau
-
João Uloma (1) (3) (4) Alferes “Cmd”1.ª CCmds Af./74 * Camjambare (Oio) * Inc. 6-1-1953, n. 8-1-1932/Susana-S. Domingos.
-
José Aliú Queta (1) (3) (4) 1.º Sarg. “Cmd” 2.ª CCmds Af./74 * Mansoa * Inc. 3-4-1967, n. 16-4-1946/Mansoa
-
Justo Orlando Nascimento Lopes Tenente “Cmd” 1.ª CCmds Af./74 * Cumeré * Inc. 5-1-1963 (1) (2) (4), n. 12-12-1942/Cacheu
-
Luís Assaul (3) Soldado “Cmd” 2.ª CCmds Af. * 1986 * (?)
-
Malam Baldé (2) (3) (4) (5) Alferes “Cmd” CCaç 20 (3.ª CCmds Af./74) * Cumeré * Inc. 16-1-1959, n. 10-12-1940/Pirada-Gabú
-
Mamadu Jaló (1) (3) 1.º Sarg “Cmd” 2.ª CCmds Af/74 * Bafatá * (Gr. Vingadores) (7)
-
Mamadu Saliú Bari (1) (4) Alferes “Cmd” 2.ª CCmds Af./74 1977 * Cumeré * Inc. 5-1-1964, n. 9-11-1940/Bafatá
-
Manga Mané (1) (2) (3) Furriel “Cmd” 1.ª CCmds/74 DEZ 1975 * Zinguichor * (regressado do Senegal)
-
Marcelino Moreira (1) (3) Alferes “Cmd” 2.ª CCmds/74 1975 (?) * Mansoa (?) *
-
Marcelino Pereira (1) (3) (4) Alferes “Cmd” 2.ª CCmds Af./74 * Cumeré * Inc. 5-8-1965, n. 27-6-1946/Mansoa
-
Mário Bubacar Jaló (1) (3) Furriel “Cmd” 3.ª CCmds/74 * (Portogole?) * Farim, (regressado de Dakar)
-
Mussa Camará (1) (3) (8) Furriel “Cmd” 1.ª CCmds Af./74 * 1975 * (?)
-
Quecumba Camará (1) (3) (4) 1.º Sarg. “Cmd” 2.ª CCmds Af./74 * Mansoa * Inc. 3-4-1964, n. 1943/Bissorá (fuz. Público)
-
Samba Baldé (1) (4) Furriel “Cmd” 1.ª CCmds Af./74* Cumeré * Inc. 2-8-1970, n. 15-8-1946/Bafatá
-
Sijali Embaló (3) (4) Furriel “Cmd” 1.ª CCmds Af./74 * Cumeré * Inc. 24-10-1966, n. 7-5-1946/Bafatá
-
Silvério Samba Baldé (4) Furriel “Cmd” 2.ª CCmdsAf/74 * Bambadinca * Inc. 2-1-1969, n. 15-1-1947/Gabú
-
Tomás Camará (1) (2) (4) (5) Tenente “Cmd” Cmdt CCaç 20 * 1978 * Cumeré * Inc. 8-1-1961 (25 ABR no HMP) n. 1943/Cacine-Catió (1.ª CCmds Af/74)
-
Tumane Queta (1) (3) Soldado “Cmd” BCmds (CCS) 1975 (?) * Cumeré
-
Zacarias Saiegh (1) (2) (4) (9) Capitão“Cmd” 1.ªCCmds Af./74 18-12-78 * Portogole * Inc. 4-5-1966, n. 5-1945/Cacheu
-
Zeca Lopes (3) (4) 1.º Sarg. “Cmd” 1.ª CCmds Af./74 * Biombo * Inc. 1968, n. 28-8-1947/Bissau

Resumo:

Oficiais (20): Sargentos (29): Praças (4 soldados).
1. 2 capitães 1. 8 1.ºs sargentos
2. 6 tenentes 2. 2 2.ºs sargentos
3. 12 alferes 3. 19 furriéis
Totais: 20 oficiais + 29 sargentos + 4 soldados = 53 militares


Notas:


(1) In Queba Sambú (quadro superior/dissidente do PAIGC, em 1987).
Ordem para Matar (…). Lisboa, Ed. Referendo, 1989.
(2) Informação da viúva
(3) Informação da Associação Portuguesa dos Antigos Combatentes da Guiné
(4) Informação da Associação dos Cmds.
(5) Em Junho/73 fora nomeado para a CCaç 20, tendo regressado à CCmds de origem, em AGO/74 (Doc. em arquivo no ex-RCmds)
(6) Em Junho/73 fora nomeado para a CCaç 21, extinta em Agosto de 74, tendo regressado à CCmds onde pertencia (relação de documentos de matrícula em arquivo/ex-RCmds)
(7) O Grupo dos Vingadores era comandado pelo Marcelino da Mata.
(8) Consta da listagem do PAIGC (
Nô Pintcha, de 29-11-1980).
(9) Na sua certidão de óbito (em anexo) consta “ faleceu de fuzilamento”.

Num programa da RTP 1, em 9-5-2006 (
Em Reportagem) foi abordado este tema, com entrevistas de Nino Vieira, Almeida Bruno, Alpoim Calvão, Loureiro Cadete e Caçorino Dias e embaixador Leonardo Matias.
____________
Nota de M.R.:

Vd. poste do mesmo autor, sobre esta mesma matéria, em:

1 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5380: Os nossos camaradas guineenses (13): Homenagem aos 53 comandos africanos fuzilados no pós-independência (Manuel Bernardo)

Vd. último poste da série em:



Guiné 63/74 - P5414: Os nossos camaradas guineenses (19): Camaradas do Pelundo lêem o Diário da Guiné de Graça de Abreu (António Alberto Alves)

1. Em 13 de Setembro de 2008 recebemos uma mensagem de António Alberto Alves, Sociólogo, a trabalhar numa ONG na Região de Canchungo, Guiné-Bissau.

Na altura demos-lhe a devida resposta através da publicação do Poste 2451*. O que não fizemos foi publicar umas quantas fotografias que nos enviava, de ex-combatentes guineenses, nossos camaradas da zona do Pelundo, a propósito de um encontro que ele próprio promoveu para apresentar o livro do nosso camarada António Graça de Abreu, "Diário da Guiné, Lama, Sangue e Água Pura".

Assumo pessoal e inteiramente a falta que hoje me proponho remediar, isto porque este ano fomos de novo contactados pelo Dr. Alberto Alves, a quem peço desculpa pela aparente desconsideração.

Como infelizmente, nestes dias só se tem falado de camaradas fuzilados (assassinados), cabe-me o prazer de trazer ao vosso conhecimento fotografias de camaradas bem vivos (pelo menos em 2008) que aqui ficam para ver se são reconhecidos por algum tertuliano como companheiros de luta.

Fica também o convite do Dr. Alberto Alves para falarem destes camaradas caso se lembrem deles. Será possível, julgo, contacto através dele com qualquer destes nossos amigos.

CV


2. Mensagem de António Alberto Alves, dirigida ao nosso Blogue em Setembro de 2008:

Caros camaradas da Guiné

O meu nome é António Alberto Alves, sociólogo, e resido em Canchungo, no nordeste da Guiné-Bissau desde Setembro de 2006.
Trabalho para uma ONG portuguesa no âmbito da Cooperação, com o apoio do IPAD Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento, tendo como público-alvo Escolas do Ensino Básico Unificado (da 1.ª à 6.ª classe). O projecto tem como ponto forte a formação e capacitação de directores e subdirectores de Escola, e numa segunda fase pela formação de professores e formalização das funções de bibliotecário. Em complemento, passa pela montagem de Centros de Desenvolvimento Educativo, que em lugares de média dimensão se concretizam em pequenos centros de recursos educativos e bibliotecas abertos à comunidade, e nas pequenas escolas pela colocação de Baús Pedagógicos, contendo um conjunto de material básico, de dicionários gramáticas prontuários de Língua Portuguesa a manuais e materiais didácticos.

O ano passado, numa estadia em Portugal, contactei o vosso blogue, que conheci antes de partir para a Guiné-Bissau. Em Agosto deste ano consegui reunir alguns ex-combatentes guineenses manjacos de Pelundo, para lhes apresentar a obra Diário da Guiné Lama, Sangue e Água Pura de António Graça de Abreu:

Demba Injai da Unidade Batalhão Caçadores 2884, foi Comandante de Pelotão de Milícia, de 1964 e 1974, entre Pelundo e Jolmete

Ioró Jaló n.º 11/64, Unidade 9.ª Companhia de Milícias, 764/64, CCS, Batalhão de Artilharia n.º 6521/72 Pel Mil 225;

Serifo Injai 17/58, 1958-1960, 1964-1974, Comandante de Companhia: Capitão Garciano

Bondon Monteiro soldado n.º 820520/69, Companhia de Caçadores 16 Manjacos, Comandante de Companhia: Capitão Guimarães

Joaquim Gomes Sold Milícia n.º 533/69, B. Artilharia n.º 6521/72, Pelotão de Milícia n.º 225, passou à disponibilidade desde 1 de Janeiro de 1975, Comandante de Companhia: Tenente Baltazar da Costa, Comandante do Batalhão 6521: Campos Ferreira

José Ussumane Injai 1964-1968, Peludo-Jolmete, comandante Pedro André

Mama Samba milícia n.º 011172, 1971-1974; furriel Jarra, alferes Santiago

O filho de Malamine Gomes que foi condutor de Major Fabião

Nesta foto estão os camaradas: Mama Samba, José Ussumane Injai, Demba Injai, Joaquim Gomes e Bondon Monteiro

Guiné-Bissau > Pelundo > Agosto de 2008

Tirei algumas fotografias, que vos envio, e solicito que escrevam, recordem, testemunhem sobre estes homens, no vosso blogue ou através de qualquer outro meio. Estarei em Portugal até final de Setembro e a partir de Outubro novamente em Canchungo, contactável pelo 00 245 6726963. Se quiserem ajudar estes homens, que vivem em condições de dura indigência, poderei servir localmente de apoio.

Agradecendo desde já a vossa atenção, apresento os meus (nossos) melhores cumprimentos
António Alberto Alves
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 18 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2451: O Nosso Livro de Visitas (4): António Alberto Alves, sociólogo, cooperante na região de Canchungo, Caió e Calquisse

Vd. último poste da série de 6 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5413: Os nossos camaradas guineenses (18): A morte do Aliu Sanda Candé (Armandino Alves)

Guiné 63/74 - P5413: Os nossos camaradas guineenses (18): A morte do Aliu Sanda Candé (Armandino Alves)


1. Em 22 de Novembro de 2009, recebemos mais um texto do nosso Camarada Armandino Alves, que foi 1.º Cabo Auxilitar de Enfermagem na CCAÇ 1589 (Beli, Fá Mandinga e Madina do Boé, 1966/68) e que passamos a transcrever:


Era obrigação da Tutela e do Exército Português

Camaradas,

Estou farto de ouvir falar dos fuzilamentos e que tal aconteceu, porque os nossos ex-combatentes guineenses colaboraram com as nossas tropas.

Isso é mera desculpa.

Eles foram mortos por causa dos eternos e ancestrais ódios tribais. Todos nós sabemos que há na Guiné etnias, que nem pintadas se podem ver umas às outras.

Analisem bem que grupos étnicos é que compunham o PAIGC e quais é que combatiam junto com as nossas tropas e, depois, retirem as devidas e correctas ilações.

Todos sabemos que tínhamos guias e batedores, que se prestavam a colaborar com as nossas tropas e que, muitas vezes, mais não faziam do que nos obrigarem a andar em círculos infrutíferos, sem nunca nos levarem sequer próximo dos objectivos.

Guias esses que nos eram fornecidos pelas populações, que, ainda por cima, nós pensávamos estar a defender.

Se o poder político tivesse sido passado para as mãos dos nossos ex-combatentes guineenses, fornecendo-lhes mais armas e demais meios, teriam acontecido exactamente os mesmos massacres, mas ao contrário, com os guerrilheiros do PAIGC. Eu não tenho dúvidas nesse aspecto.

Uma coisa é certa e que nós os portugueses, Patriotas e Isentos (politicamente falando), não podemos escamotear: Era obrigação da Tutela e do Exército Português oferecer uma hipótese de fuga a uma morte certa, a TODOS aqueles que foram chamados a prestar serviço militar OBRIGATÓRIO e juraram lealdade e fidelidade à bandeira nacional!

É claro que, como se adivinha, muitos desses homens negariam tal hipótese, por motivos diversos, mas aí o problema passava a ser unicamente deles e só deles.

Se,  nos anos 70, conseguimos encaixar, na Metrópole, umas centenas de milhar de “retornados” e lá nos aguentámos, qual era o problema em receber mais alguns milhares?

E, independentemente do que se passou, porque a culpa mudaria de área, continuando a falar para os ex-Combatentes,  Patriotas e Isentos, viveríamos bem mais tranquilos, sem remorsos nem cicatrizes na consciência.

Também começo a estar farto de ver gente que analisa levianamente esta problemática, apenas e só com um olho, unilateralmente, resumindo-se à triste e estúpida frase: “Eles eram uns assassinos”!

“Esquecem-se” muitos desses "unilaterais" que hoje “piam” muitas balelas de barriguinha cheia, por aí nas tascas e bordéis de esquina, contra os excessos desses ex-combatentes guineenses, que se hoje estão vivos e falam, falam... falam… à bravura e valentia desses Homens o devem!

Não nego que soube, por terceiros, de alguns excessos grotescos na guerra, praticados apenas por alguns, como por exemplo os célebres e macabros cortes de orelhas aos mortos e mais um ou outro triste e lamentável abuso, mas a questão que isto me levanta é: Então é a isto que se resume o nosso reconhecimento e gratidão, pela enorme voluntariedade e fidelidade que aqueles Homens devotaram aos portugueses?

Até parece que os excessos eram só cometidos por alguns guineenses das NT, então digo-vos que eu sei, e jamais esquecerei, de um exemplo, que a um desses mais dinâmicos e activos Homens, a quem os guerrilheiros do PAIGC não conseguiam “chegar” de outro modo, lhe mataram apenas por vingança, com requintes da pior malvadez, a primeira mulher e uma filha de tenra idade.

Disso poucos falam, nem lhes interessa, para defenderem as suas tendenciosas, fracas e suspeitas teses do contra e do “bota abaixismo”.

A verdade é que estes negros factos (os excessos), só aconteciam porque as hierarquias militares assim o consentiam (fechando olhos e tapando ouvidos). Não sei se existiu algum caso pontual, mas eu nunca ouvi, até aos meus dias de hoje, alguém dizer que fulano ou beltrano guineense das NT, recebeu uma ordem do género: Cortem as orelhas aos mortos!

Agora os portugueses vão voltando à Guiné ao serviço de ONGs e outras instâncias internacionais, não na qualidade de colonialistas, nem de povo opressor, mas com um único intuito que é ajudar aquele pobre e tão castigado povo.

Não branqueando os tristes acontecimentos do passado, vamos indo e vamos vendo a evolução do Progresso e da tão desejada Paz.

Um Abraço,
Armandino Alves
1º Cabo Aux Enf CCAÇ 1589
____________
Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:



sábado, 5 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5412: Blogoterapia (134): Por mor deste espaço de inclusão e de liberdade (António Martins de Matos / Luís Graça)

Cópia de convite das editoreas Livros d' Hoje e Bertrand para a apresentação do livro Em Nome da Pátria, de João José Brandão Ferreira, dia 9 de Dezembro, às 18h,  no Comando do Pessoal do Exército (antigo Quartel General), Praça da República, Porto (com parque privato gratuito).  Apresentação a cargo do Dr. Miguel de Lucena e Corte Real.  ´



1. Mensagem do António Martins de Matos, ex-Ten Pilav, Bissalanca, BA 12, 1972/74 (hoje Ten Gen Pilav Ref) (*)

Caro amigo Luís Graça

A minha ideia inicial era apenas a de escrever um pequeno comentário. Mas as palavras são como as cerejas e quando dei por mim já tinha um texto demasiado grande. As minhas desculpas.

Não consigo imaginar o trabalho necessário para manter um blogue desta dimensão, sempre activo e actual. Todos nós, os 400 atabancados, temos de reconhecer que só graças aos esforços do Luís Graça, Carlos Vinhal e restante equipa é que vamos tendo o prazer de, dia a dia, recordar, discutir, reviver memórias passadas numa terra que, não fosse a guerra, bem bonita era.

Certamente que, se os editores ainda estivessem na tropa, já tinham sido averbados com uma folha de papel das que normalmente terminam dizendo: “.....em reconhecimento pelos serviços prestados......”.

Mas como nem tudo o que luz é ouro, também aqui a minha missiva não se confina apenas aos elogios, também tenho uma critica a fazer, que isto de críticas mais vale que sejam postas logo a arejar em vez de ficarem, como se costuma dizer, escondidas e a aboborar.

Não é que a crítica tenha uma importância por ai além mas, como não pertenço ao brilhante grupo dos responsáveis pelo BPN e não tenho negócios na área do ferro velho, tenho que me entreter com alguma coisa.

E para que tudo seja transparente e não vá amanhã alguém vir a exercer vil chantagem por causa das minhas atitudes, pretendendo incriminar-me aos olhos do DIAP com umas eventuais escutas onde seja referido o meu nome, quero desde já confessar que até hoje apenas tive um problema com a Justiça quando, em Maio de 1973 e em colaboração com um amigo meu, estragámos 5 (cinco) gordas e belas Berliets que estavam estacionadas na estrada Binta-Guidage. (**)

E para que também não fiquem algumas dúvidas malévolas e insidiosas sobre o tema, quero informar os mais cépticos que este assunto já foi debatido em sede própria, tendo acabado por ser arquivado, muito antes da Justiça se ter tornado nesta máquina justa mas inflexível, que perdoa aos arguidos, sejam eles inocentes ou culpados, sejam eles grandes e poderosos ou grandes e poderosos.

Por outro lado também já constatei que quando no blogue aparecem “ataques imediatos”, daqueles que chegam de repente, tipo morteirada, existe logo pessoal a sair a terreiro e a executar as contramedidas apropriadas (como no caso do Lobo Antunes que ainda vai levar muito naquela cabeça).

Deixando estes casos à vigilância do Matos, Maia, Mexia e Associados, o que poderá trazer alguns problemas dado que volta e meia pegam-se, (aliás ultimamente todos se pegam com todos, deve ser do aquecimento global) permitam-me ser mais subtil e alertar-vos para insinuações que, devagar devagarinho, nos vão corroendo.

A minha crítica: Posso estar enganado e o defeito até pode ser meu, mas parece-me que de algum tempo a esta parte o blogue se tem desviado um pouco da postura e isenção que até aqui vinha evidenciando. Para que, num futuro próximo, possa ser referenciado como um local de busca dos que querem fazer a História de Portugal, algo tem que mudar!

Passo a explicar:

Como já alguém disse anteriormente, uma coisa são os comentários publicados em reacção aos postes, cada um por si e pela sua cabeça, uns “esquerdinos”, outros “direitinos”, apoiando, rejeitando, complicando, dizendo muito pouco ou mesmo nada, um ou outro a propósito e com interesse, alguns bem malcriados e ofensivos, a maioria de uma nulidade confrangedora.

Outra coisa é a publicação no blogue de textos que, quando não se reportam a factos ocorridos mas apenas a meras opiniões, deveriam manter um certo equilíbrio nas ideias, numa base de entendimento mútuo e onde deveria imperar um bom senso do autor ou, em última instância, dos editores.

Uma coisa são os postes, outra coisa são os comentários aos mesmos.

Porque digo isto?

Tenho verificado o forte apoio dado pelo pessoal da tabanca a eventos referentes à passagem dos portugueses por África, nomeadamente em alguns livros dos nossos bloguistas, como a “Retirada do Guileje”, do Maj Coutinho e Lima, ou “As lágrimas de Aquiles”, de José Manuel Saraiva, vindo agora a acontecer o mesmo a propósito do livro do Manuel Rebocho, “Elites Militares e a Guerra de África”.

Igualmente tenho visto o apoio dado a filmes como os da Diana Andringa ou do José Manuel Saraiva.

Não ponho em causa esses apoios mas preciso de respostas para as seguinte questões:

Por que razão os comentadores encartados e de serviço tratam os livros de autores de esquerda como obras literárias e os de direita como lixo?

O livro do Manuel Rebocho é tendencioso, falacioso e outros adjectivos terminados em OSO que, por pudor, não quero escrever.

Não resisto a anotar como uma das muitas cerejas do bolo, a conclusão do autor ao referir-se a Guileje e à Cav 8350/72, de que “quem iniciou as hostilidades no extremo sul da Guiné foi o Estado Maior Português e não a guerrilha, cuja resposta um Furriel previu e o Estado Maior não" (página 371). E a sua conclusão de que “foi a resposta que o Estado Maior não previu, nem soube contrariar.... estando os Oficiais milicianos bem acima deles”. [página 372].

Nem o mais pintado se lembraria de tamanhos disparates.

E o que dizem os nossos comentadores literários? SIM, NÃO, TALVEZ, NADA? Nada, mesmo nada, nem um comentário, ainda que pequenino? Vá lá, atrevam-se!

Já sobre o livro do Ten Cor Brandão Ferreira, “Em nome da Pátria”, nesse já estamos autorizados a malhar.... Como é?

Só os livros e os filmes dos autores esquerdinos é que têm valor, se for um livro de autor de direita é para deitar abaixo? E se não estiver em linha com as nossas convicções, estamos autorizados a enxovalhá-lo?
E as ideias, se forem conforme as minhas são verdades inquestionáveis, caso contrário são “mistificações”?

E com que direito se afirma em “poste oficial” e sem mais justificações que o autor é “ressabiado e atormentado” (poste 5215). Será por ser “Mestre em Estratégia” pelo ISCSP, ou por ser sócio fundador da associação Cristóvão Colon? Ou por não ser esquerdista? Será por ter feito uma crítica demolidora ao filme da Diana Andringa, “As duas faces da guerra”?.

E a Diana Andringa já é um exemplo de isenção ao apresentar o referido filme? E o José Manuel Saraiva, é isento ao apresentar o filme “De Guileje a Gadamael “ onde deitou para o lixo as entrevistas que iam contra as suas “ideias”?

Na dicotomia bestial/besta, porque razão os que enxovalharam o AB [Almeida Bruno] (militar mais valente que a maioria de todos nós, possuidor da mais alta condecoração nacional), pertencem à primeira categoria enquanto que o Constantino foi atacado e insultado dentro e fora do blogue, só porque o que disse ia contra a “verdade de outros”?

E o Prof. Adriano Moreira, tanto é um iluminado como um senil,  conforme apoia o fulano A ou B?

Em que ficamos? Somos isentos ou tendenciosos?

Eu sei que o livro do Ten Cor Brandão Ferreira é grande e (muito, muito) maçudo mas não precisam de o ler todo, podem retirar quatro ou cinco capítulos sem que a essência das ideias se perca. Se são mesmo preguiçosos fiquem-se apenas pelo capítulos 9 e 10, “Porque desistimos da guerra” e as “Conclusões”.

O autor debate alguns temas, os tais que normalmente são tidos como verdades imutáveis, tentando desmontá-los. (reparem que eu disse tentando, cabe-nos o papel de validar ou rejeitar).

Leiam-nos, aceitem o que for de aceitar e critiquem o que acharem estar errado mas não embarquem na demagogia dos comentadores de serviço.
Pensem com a vossa cabeça, sem ideias preconcebidas.
Estão lá muitas respostas (e questões) a temas e dúvidas abordados no blogue, a saber:

1. - A guerra era insustentável e impedia o desenvolvimento do país;
2. - Portugal orgulhosamente só no mundo... ;
3. - A guerra durava há muito tempo;
4. - Portugal ia perder a guerra militarmente;
5. - Portugal devia ter descolonizado mais cedo;
6. - A população dos territórios ultramarinos queria ser independente;
7. - A guerra era injusta e actuávamos à revelia do Direito Internacional;
8. - A solução para a guerra era política e não militar.

Já enviei ao blogue um documento que dá uma pequena contribuição para a discussão do tema 1.
Alguém quer analisar os restantes? Como diz o António Graça de Abreu, “O que importa salientar é a verdade histórica”. Já somos dois.

Segundo o Luís Graça, pai do blogue, a quem eu presto o meu respeito e admiração pelo trabalho desenvolvido, a ideia inicial era juntar todos os portugueses, todos os guinéus, todos os que algum dia pisaram terras da Guiné, reencontrando-se, dialogando e aceitando as “Regras de Convívio” por si definidas e por nós aceites.

As histórias de cada um por terras da Guiné tem sido o fio condutor que nos tem deixado presos ao computador. E nem precisam de ser de guerra, ou de tiros, ou de rambos; vejam o poste 5346 do Manuel Amaro, tão simples e tão esclarecedor do muito que andámos a fazer por África.

E se as nossas histórias estiverem a acabar (o que não acredito) ainda faltam as histórias dos guinéus, o que pensavam dos portugas, como encaravam a guerra, o que sofreram, como se relacionavam com a população, como viram a independência ... .

No que respeita às visões de direita e de esquerda, também não vejo que haja qualquer problema desde que seja mantida uma postura isenta e em busca da verdade.

Do resto, dos comentários da treta e dos comentários aos comentários da treta confesso já estar farto.
Estamos a ir na direcção correcta, ou algo vai mal no reino da Dinamarca?

Peço desculpa se estou a ser demasiado pessimista, mas espero merecer o epíteto que se costuma utilizar na tropa: Clarinho clarinho para militar.

Um abraço

António Martins de Matos

 2. Comentário de L.G.:

Mandei-te ontem uma primeira resposta, 6ª feira, por volta das 20h, no intervalo de uma aula, para te dizer que tinha lido com agrado a  tua mensagem, e te reiterar o que tenho sempre dito, aqui, no blogue, que aprecio a verdade e a frontalidade dos amigos e camaradas da Guiné (ou dos camaradas e amigos da Guiné, que a ordem dos factores é arbitária). Mas só agora, sábado à noite, regressado a Lisboa, é que  tenho tempo para alinhavar mais alguns ideias sugeridas pelo  teu texto que é de apoio e de crítica, ao mesmo tempo, à 'orientação editorial'  do blogue.

Agradeço-te em meu nome e sobretudo em nome dos restantes editores os elogios que nos fazes. Sem eles, co-editores,  já há muito tinha fechado para obras. A verdade é que o blogue cresceu de tal maneira, que corre o risco de se tornar uma instituição. Ora, não queremos institucionalizar o blogue. Eu, pelo menos - falando em termos estrictamente pessoais -  não tenho a veleidade de querer que ele se transforme numa espécie de extensão do Arquivo Histórico-Ultramarino. Muito menos quero um blogue sobre a história politicamente correcta da guerra colonial. E muito menos ainda quero um blogue ideologicamente alinhado...   Definitivamente, no que me toca, também não quero escrever nem reescrever a História de Portugal. Não é o meu ofício nem tenho costas para arcar com esse pesado fardo.  Quando muito, interesso-me pela "petite histoire" da guerra colonial na Guiné (1963/74). Agora, não posso impedir ninguém de o fazer, de pensar a história deste país em termos macro, de ter pensamento estratégico sobre este país, o seu passado, o seu presente e o seu futuro,  etc.... Não sou general, nem quero fazer doutrina estratégica, como o Rebocho. Este blogue não é sobre estratégia, que é a arte do general (etimologicamente falando).

Agora aceito o teu repto e o teu apelo para, de novo,  recentrarmos a nossa atenção naquilo que é essencial e que é a missão original do blogue: contarmos as nossas histórias (que estão longe, de facto, de estar esgotadas)...

A minha utopia foi, é e continua a ser  apenas a de tentar (re)encontrar  e agrupar, sob uma imaginária Tabanca Grande, amigos e camaradas da Guiné. Não lhes pergunto o que são ou foram. Interessa-me apenas saber que temos como maior denominador comum a experiência de (ou a relação com) a guerra colonial (ou a guerra do ultramar ou a luta de lilbertação na Guiné, como queiras) entre 1963 e 1974. 

Vamos agora às tuas críticas, às quais não vou responder em detalhe. Não sou nem quero ser  advogado de defesa em causa própria. Posso até concordar com quase tudo o que dizes, excepto uma: a referência aos "comentadores de serviço"... e a um hipotético grupo de combate que estaria de piquete ou de intervenção, sempre pronto para a porrada....

Não há comentadores de serviço, nem comentadores encartados, não há críticos literários,  há apenas membros do blogue que são mais proactivos do que outros... Reconheço que neste domínio (recensão de livros,  notas de leitura...) temos um leque de colaboradores limitado... Mas se me mandares um texto sobre o livro do Rebocho, ou do Brandão Ferreira, ou de outro autor qualquer - desde que a temática se centre na guerra colonial, e tudo o que lhe está a montante ou a jusante - , eu publico-o.  Como tenho publicado os teus textos anteriores (*).

Reconheço que estamos inteiramente dependentes do mercado (editorial). Publicamos o que nos chega, publicamos o que nos mandam (os membros do blogue e outros). Não há, asseguro-te, nenhum grupo concertado para defender esta ou aquela posição (político-ideológica, literária, filosófica, estética, moral...). 

Claro que apoiamos os membros do nosso blogue que têm publicado livro - seja o António Graça de Abreu, o Beja Santos, o Coutinho e Lima, o Traquina,  o Rei, o Jero, o Branquinho, o Rebocho,  o Maia... ou o António Martins de Matos (se vier a ser autor de uma publicação)... Mas o apoiar não significa concordar, dar o aval, legitimar... Também não significa diabolizar ninguém.  E se há camaradas nossos que o fazem, é lamentável. O blogue é (ou deve ser) também uma escola de virtude(s). Vou/vamos estar mais atento(s) a eventuais excessos de linguagem que desvirtuam o espírito e a forma do nosso "livro de estilo" (que está em permanente construção).

Reafirmo o princípio da não-existência, a priori, de critérios ideológicos na admissão ao blogue e na publicação de conteúdos, desde que respeitado o essencial das nossas "regras de convívio"... Também não penso que o blogue esteja dividido como o parlamento em alas esquerda, direita e centro. O Brandão, o Saraiva, o Bernardo, etc., não são membros do nosso blogue... É natural que não mereçam a mesma atenção, pelo menos por parte dos editores (que de resto não são bloguistas profissionais nem tem todo o tempo para blogar e a editar as blogarias dos outros). Mas tu ou outro camarada ou eu podemos escrever, a título individual,  sobre os seus livros da guerra colonial e temas correlacionados... Ninguém faz censura a ninguém, desde que o espírito do nosso blogue seja respeitado... Agora, admito que, eu ou os mesmos co-editores, possa(mos) "pecar"  por defeito ou omissão: não podemos andar a pesar ao quilo ou medir ao metro os postes - e muito menos os comentários - dos tais "esquerdinos e direitinos" (a expressão é tua, tem direitos de autor, merece ser patenteada...). Como ninguém usa adesivo na testa, ou anda com crachá,  eu/nós nunca sabería(mos) separá-los, apartá-los, discriminá-los... Eu, pessoalmente, mesmo que o soubesse, nunca o faria. Por defeito e feitio, são a favor da inclusão.

Quanto às tuas reservas em relação ao livro do Rebocho (que estou a ler), manda-as por escrito... O blogue não tem nem nunca terá "posição oficial" sobre as teses do Rebocho, como não tem nem nunca teve sobre o depoimento do Coutinho e Lima. Os textos,publicados no blogue, são assinados e, como tal, são da exclusiva e única responsabilidade dos seus autores...  Por exemplo, vou publicar a crítica da Cor Art Ref e antigo professor da Academia Militar Morais da Silva,  à tese de doutoramento do Rebocho (agora publicada em livro)... Isso não significa tomar partido a favor ou contra...

Em resumo, limitamos a ser um espaço aberto e plural, onde também cabem as críticas (positivas e negativas) aos livros (mas também aos filmes, programas de televisão, etc.) que saem sobre a guerra colonial (na Guiné).  Naturalmente que terei muito gosto em publicar a tua leitura do livro do Rebocho  ou do Brandão Ferreira, se ma mandares... Ou sobre o filme da Diana Andringa e do Flora Gomes ("As duas faces da guerra").

Uma nota final sobre os comentários e os comentários aos comentários: ao aceitar a regra da não- moderação, corro riscos, alguns dos quais tu apontas, e bem,  no teu texto... Mas a liberdade é isso, a vida é isso, meu caro António: se não corressemos riscos, eu nunca aprenderia a andar nem tu a voar...

Espero que os amigos e camaradas da Guiné entendam e acolham bem esta nossa agradável e civilizada troca de ideias... Para que o mundo continue a ser... pequeno e o nosso blogue a ser... grande! Sobretudo para que a nossa Tabanca continue a ser um espaço de INCLUSÃO e de LIBERDADE... Luís Graça, editor.

3. Comentários que merecem subir da cave ("downstairs") para o 1º andar ("upstairs"):

31. Do António Graça de Abreu:

O raciocínio estruturado do António Martins de Matos, a resposta serena do Luís Graça, constituem matéria dourada para pensarmos todos melhor.

"Esquerdinos, direitinos". Ora todos sabemos que no meio é que está a virtude. A equidistância desapaixonada é uma virtude, difícil. Por isso, ao fim destes anos todos, ainda há camaradas prontos a descavilhar a granada, preparados para disparar a G 3, tiro a tiro, ou de rajada.

Há sempre gente pequena, também no blogue, que, para mostrar importância, passa a vida a pôr-se em bicos de pés, às vezes até sobem para um banco (não é o BPN, é mesmo daqueles bancos de madeira...) e gritam "Oiçam-me, eu tenho razão." Não têm razão nenhuma e acabam por cair do banco. Ah, mas como as pessoas gostam de subir, de subir para um poleiro.

"Esquerdino, direitino." No que a mim diz respeito, creio que sei do que falo. Em 1977, ainda maoísta e esquerdista, fui parar à China, onde aprendi na estadia até 1983 que tanta gente de esquerda, quando detém o poder,  é na realidade de uma inominável direita. Às vezes também acontece o contrário, mas é mais raro.

No nosso blogue coabitam naturalmente camaradas de todas as tonalidades. Muitos ainda com a velha revolta, com a pedra no sapato, ou melhor na bota da tropa. Porque não tiram a pedra da bota e não a atiram para o fundo de um poço, para o leito de um rio?

Temos sessenta, quase setenta anos. Vêm aí as doenças e o inevitável fechar de olhos, a viagem final.

Porque não deixar aos nossos filhos e aos nossos netos a imagem, a memória de um pai e de um avô que participou um dia numa guerra cruel, como todas as guerras, mas saíu por bem desses dois anos da sua juventude? E hoje, reconciliado com Deus e com os homens, quer simplesmente viver, exercitar a mente, encontrar os amigos,(vivam os camaradas da tabanca de Matosinhos!), de contar estórias, fruir o que de bom a vida (e Portugal) ainda tem para nos dar.

Já agora, continuar a amar. E talvez sonhar ainda com as bajudas negras da Guiné que nos passaram por baixo, por cima do corpo varonil e fogoso nos nossos vinte anos sofridos e valentes.

Estamos vivos, a guerra da Guiné somos nós.

Um abraço aos camaradas de luta, aos amigos, aos companheiros de guerra.

António Graça de Abreu


3.2. Do António Ribeiro:

Também estive na Guiné, na guerra. Entre Fev 67 e Fev 69 com os obuses 8,8, 10,5 e 14 cm passei por Cufar, Gadamael, Guileje, Mejo (dez meses), Catió, Buba Aldeia Formosa, Tite, Xime, etc.

Ao escrever sobre aquele tempo será que tenho o conhecimento e visão das coisas como tenho hoje? Certamente que não. E todos os que escrevem ou emitem opiniões sobre a guerra, sobre aquela guerra? Certamente que não. Hoje é consensual que a guerra na Guiné era uma questão arrumada, isto é, mais mês menos mês Portugal perdia a guerra. Foi, na minha opinião, claro está, que foi o 25 de Abril que "salvou" Portugal de uma derrota militar "vergonhosa". Sabíamos, a grande maioria dos que lá estivemos disso? Seriam muito poucos, à época, os que previam esse inevitável desfecho. Quantos de nós conheciam "vale mais perder militarmente a guerra na Guiné do que negociar com terrorista"s, como hoje se sabe ter sido afirmado por Marcelo Caetano?.

Creio que o blogue tem sido muito bem dirigido. Agradeço aos seus criadores a possibilidade de me darem o privilégio de "revisitar" aqueles dolorosos tempos que vão desaparendo de cada um de nós à medida que vamos morrendo.

Quanto a comentários mais ou menos "correctos", defendendo mais esta ou aquela posição sobre a guerra, importa sublinhar que o stress de guerra existe, que as doenças com a idade se adensam, etc. Os que menos foram atinjidos fisica e psicologicamente pela guerra ajudariam muito os camaradas que também por lá passaram procurarem entendê-los. Ser de esquerda ou de direita não há mal nisso. Infelizmente naqueles tempos não era possível manifestar qualquer simpatia pela esquerda. Conhecemos hoje o que acontecia àqueles a quem o regime suspeitava terem ideais de esquerda, isto é, bastava a suspeita mesmo que infundadada para serem presos, diferentemente do que acontecia a quem manifestava apoio ao regime.

E hoje qual é a moda?. Alguém que se dê ao trabalho e ao estudo do que é ministrado nas nossas universidades e logo vê. Valia a pena uma tese de doutoramento sobre este tema. Pela comunicação social que hoje temos já ajuda a conhecer alguma coisa.

Por isso entendo que o blogue deva continuar como até aqui. Cada um sem necessidade de recorrer ao insulto ou ao ataque pessoal que diga sobre a guerra na Guiné o que bem entender.

Obrigado.Um abraço a todos. Aos que escrevem e aos que não escrevem e que também lá passaram as passas do Algarve.

António Ribeiro

(ex-Furriel Mil)

 __________

Notas de L.G.:


(*) Vd. postes do António Martins de Matos:

1 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4271: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (10): Respondendo ao João Seabra (António Martins de Matos)

25 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4077: FAP (19): Efeméride: há 36 anos sob os céus de Guileje 'Batata' procura e localiza 'Kurika' (António Martins de Matos)

 11 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4010: FAP (15): Correio com antenas... (António Martins de Matos, ex-Ten Pilav, BA12, Bissalanca, 1972/74)

11 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3872: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (21): Resposta de António Martins de Matos a Nuno Rubim

31 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3825: FAP (2): Em cerca de 60 Strelas disparados houve 5 baixas (António Martins de Matos)

23 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P3783: FAP (1): A diferença entre o desastre e a segurança das tropas terrestres (António Martins de Matos, Ten Gen Pilav Res)


17 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3752: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (13): A missão de apoio aéreo de 21 de Maio de 1973 (António Martins Matos)



(**)  Referência, creio que irónica, ao bombardeamento levado a cabo pela nossa aviação das viaturas, abandonadas pelas NT,  carregadas  de abastecimentos com  destino a Guidaje, depois de violenta emboscada, a 8 de Maio, de coluna logística saída de Farim.