sexta-feira, 9 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6135: Parabéns a você (102): Miguel, uma Pessoa de Cinco Strelas, mas também o Pil...antra que levou a nossa camarada Giselda ao altar (Luís Graça)


Guiné > Bissau > Bissalanca > BA 12  (1972/1974 > O então Ten Pilav Miguel Pessoa.



Comunicado das Forças Armadas Portuguesas, publicado na imprensa da época, em que se relatava o "acidente" de que foi vítima o Tenente Pil Av Miguel Pessoa.  Por não dar trunfos ao IN(inimigo), o abate de um Fiat G91 por uma nova arma, o míssil terra-ar Strela, era apresentado à opinião pública da Metrópole em versão muito mais soft... O excerto que aqui se reproduz, creio que era do extinto Diário Popular.

Fotos: © Miguel Pessoa (2009). Direitos reservado.


1. Não se pode falar do Miguel (Pessoa) sem falar de outra Pessoa, a Giselda … Uma e outra são Pessoas de Cinco Strelas. Foi a guerra e a Guiné que os juntaram (até agora, para sempre)…Essa é, de resto, uma história, do seu foro íntímo, que eles não contaram no nosso blogue (nem estamos à espera que venham a contar, com muita pena nossa)…

Não sei exactamente quando nem onde se casaram… Mas subsiste a humana curiosidade dos tabanqueiros (e não há tabanqueiro que não tenha um pouco de louco e voyeurista): Como é que um jovem tenente pilav [, pil...antra ? ] se apaixona por uma jovem sargento enfermeira pára-quedista, em tempos tramados, strelados, como eram aqueles, de fim-de-guerra (ou de saldos de guerra) ?

Por muitas voltas que dê à história, não sei quem foi a culpa: de Guileje ? do Strela ? do milagre da recuperação no dia 26 de Março de 1973 ? da lotaria das escalas e dos turnos ? Nesse dia, a Giselda estava de serviço… Coincidências ? Destino ? Fado ? De fado, não foi, mas também não terá sido propriamente uma história de fadas… Gosto de imaginar que, noutra encarnação, ela foi a fada e o Miguel o seu príncipe encantado (e encanado como a perna da rã)…

O Miguel Pessoa (n. 1946) já aqui nos contou como foi parar à Metrópole, e ao fim de uns largos meses de tratamento e recuperação no Hospital Militar Principal, em Lisboa, regressou a casa, neste caso, Base Aérea nº 12, Bissalanca, Guiné-Bissau…

Outra pergunta, que fica sem resposta: voltou, porquê ? por motivos patrióticos ? por dever profissional ? ou por que deixara a Giselda, de coração destroçado, em Bissalanca ? (Bem, sabemos que as enfermeiras pára-quedistas não dormiam na base, mas sim em Bissau, longe das vistas dos pil…antras).

Não se pode fala do Miguel sem falar da Giselda,  mesmo em dia de anos do Miguel, porque eles são o mais mediático casal de camaradas da Guiné, o mais amoroso, o mais simpático, o mais encantador, o mais glamouroso, mas também  o mais discreto, o mais tudo... Bom, eles são únicos… Por muitas razões e mais uma: de facto, são o único casal de camaradas da Guiné com licença de residência (e com direito a cama, mesa e roupa lavada) na Tabanca Grande!...

E quem são eles, exactamente ? Ele é o Miguel Pessoa (ex-Ten Pilav, Bissalanca, BA12, 1972/74, hoje Cor Pilav Ref). Ela é a Srgt Pára-quedista Giselda Antunes (apelido de solteira)... Seguramente o único casal do mundo que foi atingido - cada um deles, separadamente, em ocasiões diferentes, e em areonaves diferentes - , por um míssil SAM 7 Strela...

Já em tempos escrevi: “A Guiné e o Strela os juntou, sob a benção da FAP... Por mim já estavam no Guiness Book of Records se isso ajudasse a aumentar o PIB do nosso país e a contribuir para tornar ainda maior a nossa Tabanca Grande, além de mais felizes [os nossos tabanqueiros]... E, claro, Ele & Ela”.

 Acontece que hoje é o dia  de aniversário do Miguel (*), e daqui a vinte dias, a 29, o da Giselda. Ele é nativo do signo Carneiro. Ela é Touro. Como eu, pessoalmente, não acredito na astrologia, julgo que eles não são nem melhores nem piores pessoas por serem, ele, Carneiro, e ela, Touro. Só sei que são duas excelentes aquisições do blogue, das melhores que  já fizemos…

Há quanto tempo está o Miguel connosco ? Não sei, assim de repente, responder a essa pergunta... Creio até que não houve uma entrada formal, com fanfarra militar, na nossa Tabanca Grande. Ele foi entrando, no início de 2009,  e ficou. E está de pedra e cal. E,  mais tarde, trouxe a prenda da... Giselda, que é a única verdadeira camarada, até agora,  que nós temos na nossa Tabanca da Guiné.

O nosso Carlos Vinhal meteu "uns dias de férias" por motivos de convívio (anual) da malta da sua companhia. Parte hoje para o Funchal. Fica, pois, para mim a difícil (mas grata) tarefa de saudar o Miguel e dizer-lhe quanto ele é estimado e acarinhado no nosso blogue (sem esquecer o blogue dos Especialistas da BA 12, Guiné 1965/74, fundado e animado pelo nosso camarada e amigo Victor Barata, o primeiro elemento da FAP a entrar para a nossa Tabanca Grande).

Sempre o conheci, ao Miguel,  com um acentuado low profile. Não gosta de dar nas vistas, de se pôr em  bicos de pés, de falar de si... Não entra em polémicas. Incomoda-se quando nos desviamos do nosso objectivo comum é que pôr em letra de forma, bem arrumadinhas, no blogue, as nossas recordações do tempo da guerra colonial na Guiné.  É sempre muito crítico em relação aos textos que nos manda: Vejam lá se isto tem interesse, vejam lá se isto se enquadra no espírito do blogue... É, além um disso, um camarada que gosta de se voluntariar para tarefas do back office como, por exemplo, a organização dos nossos encontros anuais. E, como já vimos, tem um imenso sentido de humor... Adora andar de tabanca em tabanca a petiscar e sobretudo a dar dois dedos de conversa. Sempre som o seu asa, a Giselda... Em matéria de amigos, tem já uma lista de todo o tamanho... É impossível não gostar dele como Pessoa, com aquela cara e aquele corpinho de Ursinho de Peluche... Se o Caba Fati tivesse conhecido antes o Kurika da Mata se certeza que não teria disparado o seu Strela... para matar!

Mas assim consegui/conseguimos a pô-lo a escrever histórias que já dariam material para um livro. Registo mais de quatro dezenas no nosso blogue, ou seja, outros tantos postes, divididos pelos marcadores Miguel  Pessoa e Miguel Pessoa (Cor Pilav).  E se em ele tem talento para a escrita, que é uma coisa que só se quando  a gente decide... escrever para comunicar com os outros.

Miguel, grande tabanqueiro: parabéns por este dia, parabéns pela tua amizade e camaradagem, parabéns pela tua Giselda e demais família. Espero, amanhã, em Moura, dar-te, ao vivo, o abraço que hoje só  posso mandar-te por via digital...

Luís Graça

_______________


Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de  9 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4160: Parabéns a você (4): No dia 9 de Abril de 2009, ao camarada Miguel Pessoa, Cor Pilav Ref (Editores)

Guiné 63/74 - P6134: Em busca de... (122): Procuro informações sobre meu pai: João José Viana Dias de Azevedo, do BCAÇ 2905 (João Azevedo)


1. O filho de um nosso Camarada, já falecido, de nome João Azevedo, enviou-nos um pedido de publicação do seguinte apelo, tentando obter algumas notícias sobre o seu falecido pai, João José Viana Dias de Azevedo, que foi Fur Mil a CCAÇ 2658:

APELO
Batalhão de Caçadores 2905

Boa tarde,

Chamo-me João Azevedo e sou filho de um antigo combatente na Guiné pertencente ao Bat Caç 2905, tendo estado na Guiné entre os anos de 1970 e 1972, sensivelmente.

Vi o vosso blogue, na internet, e verifiquei que o nome do meu pai não aparece nas listagens de antigos combatentes.

O nome do meu pai é igualmente João Azevedo (João José Viana Dias de Azevedo) e era natural de Viana do Castelo. Infelizmente já faleceu, em 2002, vítima de um cancro e se fosse vivo teria agora 62 anos.

Faleceu longe da família e por esse motivo, fiquei com poucas recordações fotográficas (antigas) dele.

Recordo-me de ver fotos do tempo da Guiné dele e dos seus camaradas, mas tudo isso está perdido, pelo motivo que referi.

Nesse sentido, gostaria de saber se me poderiam ajudar a encontrar camaradas de meu pai, que possuam fotos em que ele também apareça e me ofereçam cópias, em papel, ou em suporte informático, para eu poder ficar com algum registo fotográfico dele desse período marcante da sua vida.

Foto de meu pai: João José Viana Dias de Azevedo, que foi Fur Mil a CCAÇ 2658, com a idade de 20 anos, aproximadamente, correspondente ao período em que esteve na Guiné, para ajudar a identificá-lo.

Sei também que ele, até 2001, foi aos encontros anuais de antigos combatentes do seu batalhão, por isso, creio que algum camarada o poderá identificar e quem sabe ajudar-me neste meu pedido.

Fico a aguardar feedback de vossa parte

Atenciosamente,
João Azevedo

2. Numa busca pelo blogue, foi possível verificar que temos entre nós 4 elementos do BCAÇ 2905, que poderão dar alguma reposta, ou ajuda, ao João, começando pela Companhia a que ele pertenceu, já que o batalhão era composto por 4 companhias.

Os 4 Camaradas citados são:

  • O Rogério Ferreira, que foi Fur Mil Inf MA, da CCAÇ 2658/BCAÇ 2905;
  • O Júlio César, que foi 1º Cabo da CCAÇ 2659/BCAÇ 2905;
  • O Ângelo Alberto de Almeida Campos, que foi 1.º Cabo Escriturário da CCAÇ 2659/BCAÇ 2905;

  • O Paulino Pereira, que foi Fur Mil At Inf da CCAÇ 2660/BCAÇ 2905.

3. O João Azevedo agradece, desde já, que toda e qualquer informação e, ou, fotos sejam enviadas para o seu e-mail pessoal: jjrazevedo@hotmail.com
__________
Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:

25 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6046: Em busca de... (121): Camaradas do ex-1.º Cabo Manuel Silva Ferreira, CCAÇ 1684/BCAÇ 1912, Guiné 1969/71 (Júlio César)

Guiné 63/74 - P6133: Parabéns a você (101): Jorge Canhão (ex-Fur Mil At Inf da 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612), festeja hoje os seus 60 anos (Os Editores)

»»»» F*E*L*I*Z...A*N*I*V*E*R*S*Á*R*I*O ««««1. O nosso camarada Jorge Canhão, ex-Fur Mil At Inf da 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, completa hoje 60 anos de idade-

2. Vamos recordar a sua apresentação neste blogue, que foi publicada no dia 18 de Junho de 2007, no poste P1855:

“Camaradas da Tertúlia, aqui vai um mini - historial da minha Companhia e duas fotos minhas, ou seja, os dados necessários para ser mais um tertuliano. Concordo inteiramente com os princípios da Tertúlia. Desde já os meus parabéns pela vossa atitude face à guerra colonial
Abraços. Jorge Canhão

Sou o Jorge A. F. Canhão, natural de Lisboa e nascido em 1950. Vivo em Nova Oeiras-Oeiras. E-mail: jorge.aferreira@netcabo.pt. Telemóvel (que pode ser divulgado) > 91 274 85 56.

Fui Furriel Miliciano Atirador de Infantaria. Tive o privilégio de, com um grupo de miúdos sensivelmente da mesma idade, formarmos a 3ª CCAÇ do BCAÇ 4612/72 que prestou serviço na Guiné.

Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1974 > O Fur Mil da 3ª Companhia do BCAÇ 4612/72, junto a "restos de Gadamael" (não é indicado o dia nem o mês).
Foto: © Jorge Canhão (2007). Direitos reservados.

Chegámos à Guiné a 5/10/72, fizémos o IAO na zona do Cumeré e a 17/11/72 fomos para Mansoa.

A 18/6/73 deixámos o Batalhão e passámos a estar dependentes do COP 5 e do COT 9 como Companhia de Intervenção.

Fizémos operações nas zonas de Mansoa, Mansabá, Bissorã, Farim, Bula, Cacine e Gadamael, onde estivémos com as excepcionais Companhias de Paraquedistas 121 e 123.

A 12/5/74 deixámos de ser Companhia de Intervenção e regressámos ao Batalhão.

Em 26/8/74 embarcámos de avião para Portugal.

Em toda a comissão e após algumas centenas de operações, tivémos 2 mortos (um furriel e um soldado), 2 feridos graves (soldados) e uma dezena de ligeiros, entre oficiais, furriéis e praças.”

3. Como vem sendo habitual, sempre que me toca a mim – MR -, publicar estes postes aniversariantes, para melhor tentarmos avaliar o perfil do Jorge Canhão, recorri mais uma vez à consulta do seu signo de zodíaco – Carneiro -, para nativos entre 21/03 e 20/04”, num site que se tem vindo a tornar muito popular nesta matéria e ao qual se tem acesso através do endereço: KAZULO (http://horoscopo.kazulo.pt/4866/signos-do-zodiaco.htm), que diz textualmente o seguinte:
Carneiro
21/03 a 20/04

Com os nativos de Carneiro e os que o têm com ascendente, a primeira impressão é a de uma pessoa egocêntrica e de um signo independente, assertivo e impulsivo. Os Carneiros não perdem tempo e quando tomam uma decisão, agem sobre ela de forma habitualmente rápida.

São energéticos e excelentes lideres mas nem sempre o melhor «seguidor». São óptimos a iniciar as coisas mas deixam-nas frequentemente para um dos signos fixos acabar. Altamente competitivos, gostam de se colocar à prova constantemente.

Apesar de governados por Marte e bastante temperamentais, a fúria é passageira e são em regra acolhedores e inspiradores. Apresentam qualidades como a coragem e lealdade mas também a impaciência e têm um forte sentido de individualidade.

Atraem e realçam estas qualidades também nos outros e o dia de um nativo de Carneiro começa normalmente com um entusiástico estrondo. Aparentam uma certa ingenuidade, por confiarem e acreditarem que os outros são tão directos e honestos como eles. Marte na primeira casa astrológica influência a personalidade de forma similar.

A frase chave para nativos de Carneiro é «eu sou». Com ascendente de Carneiro, as atracções viram-se para Balanças, governado na sétima casa, a dos parceiros.

Carneiro é um dos quatro signos Cardeais, por estar ligado à mudança de estação e do solstício, tendo como elemento o Fogo.

Anjo: O Arcanjo Cassiel é o protector dos nativos do Signo Carneiro. Cassiel é chamado Anjo Guerreiro e aqueles que nascem sob a sua influência são pessoas criativas, destemidas e determinadas. Líderes natos, gostam de ocupar cargos de chefia e de desempenhar funções de elevada responsabilidade.

Possuidores de um carisma e encanto naturais, são amados por todos e até mesmo as suas atitudes irreflectidas são perdoadas e encaradas como uma encantadora particularidade da sua personalidade.

O Arcanjo Cassiel desenvolve a coragem e a imaginação. Ajuda a moderar a ambição, o espírito de competição e o egocentrismo.

4. Independentemente das mensagens e comentários que os nossos Camaradas enviarem e colocarem, futuramente, no local reservado aos mesmos, neste poste, queremos em nome do Luís Graça, Carlos Vinhal, Virgínio Briote, Magalhães Ribeiro e demais Camaradas da Grande Tabanca que por vários motivos não puderem enviar as suas mensagens, cantar-te a seguinte cantiguinha muito tradicional:


PARABÉNS A VOCÊ,
NESTA DATA QUERIDA,
MUITAS FELICIDADES,
MUITOS ANOS DE VIDA,
HOJE É DIA DE FESTA,
CANTAM AS NOSSAS ALMAS
PARA O AMIGO JORGINHO,
UMA SALVA DE PALMAS!

E mais acrescentamos:

O nosso maior desejo, neste teu aniversário, é que junto da tua querida família sejas muito feliz e que esta data se repita por muitos, bons e férteis anos, plenos de saúde, felicidade e alegria.
E mais te desejamos, que por muitos mais e boas décadas, este "aquartelamento" de Camaradas & Amigos da Guiné te possa dedicar mensagens idênticas, às que hoje lerás neste teu poste e no cantinho reservado aos comentários.

Estes são os mais sinceros e melhores desejos destes teus Amigos e Camaradas, que como tu, um dia, carregaram uma G3 por matas e bolanhas da Guiné.


Lisboa > 10 de Junho > O Jorge Canhão (de camisa encarnada), com o os nossos Camaradas Fernando Chapouto (ao seu lado direito), Amílcar Mendes ( da 38ª de COMANDOS, ao seu lado esquerdo) e outro Camarada COMANDO que não conseguimos identificar.
Com montanhas de abraços fraternos
____________

Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

7 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6121: Parabéns a você (100): O meu coração cresceu mais um pouco para conter toda a amizade demonstrada (Joaquim Mexia Alves)

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Guiné 63/74 – P6132: Actividade da CART 3494 do BART 3873 (5): Parte 5 (Sousa de Castro)


1. O nosso Camarada Sousa de Castro (*), que foi 1º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74, enviou-nos a quinta parte da actividade desenvolvida pela sua Companhia, em 8 de Abril de 2010, dando continuidade ao relato publicado nos postes P5965, P5986, P6019 e P6088:
ACTIVIDADE DA CART 3494 DO BART 3873
NO TEATRO DE O. P. GUINÉ (6)


DEZEMBRO1971/ABRIL 1974
Este texto foi elaborado a partir do livro:

BART 3873 “HISTÓRIA DA UNIDADE”
CART 3492 – CART 3493 – CART 3494
NA GUERRA CONSTRUINDO A PAZ
(autor desconhecido)

10 FASCÍCULO

JANEIRO 1973

48. SITUAÇÃO GERAL

- O assassinato de AMILCAR CABRAL pela facção dissidente do P.A.I.G.C., a concentração de forças na zona de PORTO GOLE, como medida impeditiva ou retardadora à abertura da nova estrada JUGUDUL/BAMBADINCA e a decisão dos elementos preponderantes do Partido, tendente ao incremento da actividade em todas as Frentes são as coordenadas com possíveis incidências no Sector L1.

Num âmbito mais restrito, suspeita-se da existência duma célula do P.A.I.G.C. em BAMBADINCA.

49- INIMIGO

a) Sub-Sector do XIME

-Nos dias 17 às 21,05 horas, 24 às 18,58 horas e 29 às 19,40 horas o XIME sofreu sucessivamente 03 flagelações, por grupos não calculados que empregaram canhão S/R e Morteiro 82.

Não há a contar danos pessoais ou materiais em qualquer delas.

No dia 27 às 08,00 horas ocorreu um acidente, quando se procedia à limpeza de um «OBUS 10,5» de que resultou 02 feridos ligeiros e 01 ferido grave, todos Africanos.

Xime 1972 > Operando o AN/GRC-9

b) Conclusões

-É arriscado concluir-se se as flagelações ao XIME a 24 e 29 são ou não resultado da directiva emanada dos elementos preponderantes do Partido, reunidos em CONAKRY e referida no nº. 48, após a morte do seu SECRETÁRIO-GERAL, dia 20 do corrente mês.

O espaço de tempo intermediado é demasiado acanhado para que se afirme uma certeza.

Deve uma vez mais evidenciar-se a fraca eficiência das flagelações do adversário sobre as nossas bases.

50. POPULAÇÃO

- A população sob nosso controle manifestou regozijo pela morte de AMILCAR CABRAL. Motivos: ter começado a guerra; perspectiva consequente do seu termo; ser cabo-verdiano que juntamente com outros quer dominar a GUINÉ.

Analogamente a ocupação de lugares de chefia por naturais de CABO VERDE nos quadros da Administração Civil não é vista com agrado.

Aduz-se, assim, uma rivalidade de carácter geral entre Guinéus e cabo-verdianos que só a nacionalidade portuguesa e a presença de PORTUGAL conseguem atenuar e adormecer, mas que adentro do P.A.I.G.C., sendo elas renegadas, se configura muito mais viva e inflamável.

51. NOSSAS TROPAS

Para além da actividade rotineira, neste mês não houve Acções ou Operações que mereçam algum destaque.

As colunas de reabastecimento vão correndo sem incidentes e enquanto isso os patrulhamentos das NT processam-se sem confrontações directas com os guerrilheiros.

11 FASCÍCULO

FEVEREIRO 1973

52. SITUAÇÃO GERAL

- Durante o período voltou a constatar-se que o inimigo só enfrenta de perto as NT, quando estas penetram nas áreas que ele controla. Atestam-no a acção «GUARIDA 18» e a operação «BATE DURO», descritas adiante. O XIME voltou a ser flagelado como é habitual.

XIME 1972 > «CHAIMITE»

53. TERRENO

-As queimadas pegadas ao capim pelas NF constituem a alteração mais notória ao aspecto do terreno.

O próprio P.A.I.G.C., nos locais em que se encontra instalado, procede igualmente.

54. INIMIGO

a) Sub-Sector do XIME

- Em 14 às 18,30 horas, 02 canhões S/R e 01 morteiro 82 abriram fogo sobre o Quartel do XIME, durante 15 minutos e sem resultados.

Os postos de observação conjugada do XIME e ENXALÉ localizaram as bases de fogos o que permitiu uma reacção ajustada, às 23,00 horas foi executada retaliação, por meio de ÓBUS 10,5 sobre instalações IN.

b) Conclusões

- Destaca-se os postos de observação referidos na alínea a) permitem uma resposta certeira da Artilharia do XIME, através do 20º PEL ARTª e do ESQD do PEL MORT 4575 ali estacionados.

55. NOSSAS TROPAS

a) Acções e Operações mais importantes

- Acção «GUARIDA 18» de 03 às 05, 00 horas até 11,30 horas com patrulhamento, emboscada e montagem de armadilhas na região de PTA VARELA.

Intervieram 03 Gr Comb da CCAÇ 12 e 03 (-) da CART 3494. O IN teve 02 mortos e 01 ferido confirmados e as NF 01 ferido ligeiro.

- Operação «BATE DURO» de 25 às 05,30 horas a 27 até às 15,00 horas com patrulhamento, emboscada e montagem de armadilhas, na zona de PTA VARELA/PTA DO INGLÊS/PTA JOÃO DA SILVA/POIDON, por forças da CCAÇ 12 e CART 3494 no dia 25, GEMIL’s 309 e 310 no dia 26, CCAÇ 12 e CART 3494 no dia 27.

O inimigo sofreu 05 mortos (02 pela CCAÇ 12 e 03 pelos GEMIL’s 309 e 310).

As NT tiveram 07 feridos, todos da CCAÇ 12.

b) Conclusões

- A agressividade da Tropa e Milícia africanas cujos resultados estão patentes, prova à sociedade quanto é destra no combate e ciente da missão que cumpre em prol da GUINÉ.

Não se esquecerá também o espírito de sacrifício do Soldado Europeu que acusando já o desgaste psíquico e físico de 14 meses de comissão triunfou uma vez mais sobre os perigos que o rodearam.

12 FASCÍCULO

MARÇO 1973

56. SITUAÇÃO GERAL

- A flagelação do XIME com foguetões; a saída do 1º C/E da Frente BAFATÁ/XITOLE para a área de UNAL; a transferência da CCAÇ 12 (Companhia de Intervenção do CAOP 2) para o XIME, da CART 3494 para MANSAMBO, a deslocação da CART 3493 para fora da ZA do BART 3873 e finalmente a conclusão das 09 escolas no Sector foram os tópicos do período.

Xime 1972 > Cais no rio GEBA


57. INIMIGO

a) Sub-Sector do XIME

- Em 04 às 20,55 horas o XIME foi flagelado, utilizando 05 foguetões e canhão S/R. Atingiram apenas a pequena arrecadação do cais.

- Em 15 às 18,20 horas sofreu nova flagelação por RPG e MORT 82 mm. Sem consequências.

Deve todavia salientar-se que o grupo das RPG se instalou a 500 metros do arame farpado.

b) Conclusões

- Não é menosprezável a hipótese de as flagelações ao XIME serem uma retaliação da Operação «BATE DURO» do mês passado.

58. NOSSAS TROPAS

a) Acções e Operações mais importantes

Para além da actividade rotineira, A CART 3494 neste mês não teve Acções ou Operações que mereçam algum destaque.

MANSAMBO 1973 > Em 1º plano Tropa da CCAÇ 21 ao fundo abrigo das TRMS


b)Alterações ao Dispositivo

- Em 27 de Março a CART 3494 foi transferida para MANSAMBO, substituindo igualmente a 01 SEC da CART 3493 sediada na PTE R. UDUNDUMA.

- A CART 3493 deixou a ZA do BART 3873.

- A CCAÇ 12 substituiu a CARA 3494 no XIME.

(continua)

Um abraço Amigo,
Sousa de Castro
1º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873

Fotos: © Sousa de Castro (2009). Direitos reservados.
___________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

1 de Abril de 2010 >
Guiné 63/74 – P6088: Actividade da CART 3494 do BART 3873 (4): Parte 4 (Sousa de Castro)

Guiné 63/74 – P6131: Estórias avulsas (30): A participação do 2º Pel 2ª CCAÇ/BCAÇ 4512, na Coluna a Guidage (Fernando C. G. Araújo)

1. O nosso Camarada Fernando Costa Gomes de Araújo* (ex-Fur Mil da 2ª CCAÇ do BCAÇ 4512, Jumbembem, 1973/74), enviou-nos a sua 3ª mensagem, com data de 6 de Abril de 2010:
10-05-1973 > Guidage > Início da coluna a Guidage, imeditamente antes da operação “Ametista Real”, apontada no meu diário e onde escrevi então: "Dormi na vala". 3 dias seguidos.
Camaradas,

Tal como havia dito nas mensagens P6098 e P6107, passo a narrar-vos, os acontecimentos da coluna a Guidage, onde participou o meu pelotão, imediatamente antes da execução operação Ametista Real, segundo a minha visão pessoal dos factos.

As datas e horas foram rebuscadas na minha agenda/diário, onde fui tomando pequenas anotações e que agora, como é evidente, me foram preciosas para a ultimação da presente narração.

Na próxima mensagem enviarei a minha descrição de uma terrível emboscada em Lamel (entre Jumbembem e Farim).



Coluna a Guidage (imeditamente antes da operação “Ametista Real”)
Intervenção do 2º Pel da 2ª CCAÇ / BCAÇ 4512

09-05-1973 - 15h00 -, Saíram de Jumbembem dois grupos de combate (com seis picadores na frente equipados com varas) e iniciaram a picagem para detectarem possíveis minas colocadas na picada até Lamel, com destino a Farim - sede do Batalhão de Caçadores 4512.
Fizeram o percurso sem incidentes.
Saímos depois nós, o 2º pelotão da 2ª Companhia do BCAÇ 4512.
O nosso destino final era Guidage, um destacamento situado no norte da Guiné, situado na fronteira com o Senegal.
Pernoitamos em Nema, junto a Farim, onde se encontrava a 1ª Companhia do nosso batalhão.
10-05-1973 - de manhã -, Partimos numa coluna até Binta, que era o local de encontro das tropas envolvidas na operação:
5 Grupos de combate do Batalhão de Caçadores 4512;
1 Bi-grupo da 38ª Companhia de Comandos;
1 Secção do Pelotão de Morteiros 4274.
Foram distribuídas rações de combate e munições, e definiram-se os pontos nevrálgicos da operação em curso.
Retomamos a marcha, agora apeada com destino a Guidage, cujo destacamento estava a ser flagelado, dia e noite, estando iminente a sua tomada de assalto pelos guerrilheiros do PAIGC e que necessitava, com urgência, de ser reabastecido com géneros frescos e munições, já que no dia anterior uma coluna de reabastecimento foi emboscada, tendo resultado 4 mortos, 18 feridos e 4 viaturas danificadas.
Pelo romper da manhã, os Fiat’s da nossa FA, foram bombardear as Berliet’s que foram danificadas no dia anterior e que estavam carregadas de granadas de Obus e de outras munições.
O sol escaldava e a sede apertava.
O reabastecimento de água era feito por uma viatura Berliet, que integrava a coluna. A meio do percurso na zona de Genicó, um elemento da 38ª de Comandos accionou uma mina anti-pessoal e fica sem um pé.
Após uma ou duas, sobre este incidente, ouviu-se nova explosão.
Desta vez foi atingido um homem do meu pelotão - o Geraldes -, que ficou despedaçado ao accionar uma mina anti-pessoal, e, esta por sua vez, ter accionado uma mina anti-carro que estava encostada à primeira.
Recolheram-se os restos mortais do infeliz soldado e continuamos a avançar no cumprimento do plano estabelecido.
Pela picada fora, rompendo a densa mata, ouviam-se os ruídos das viaturas (Berliet’s e Unimog’s) e apenas se via a nossa tropa apeada (flanqueando à direita e à esquerda).
Na frente da coluna, a abrir caminho, segui-a um bi-grupo da 38ª Companhia de Comandos.
Ao passar pela bolanha do Cufeu temíamos o pior, já que o PAIGC tinha uma base próxima.
A pouca distância da nossa coluna, a certa altura, ouviram-se disparos de armas, rajadas de metralhadoras e rebentamentos.
Eram dois grupos da CCaç 3 e da CCaç 19, que saíram de Guidage ao nosso encontro, efectuando a picagem e tinham sido, por sua vez, emboscados sofrendo 5 mortos e 9 feridos, todos da CCAÇ 19.
Passamos ao lado dos corpos de 5 africanos mortos, despidos e virados para baixo, deviam estar armadilhados com certeza.
As forças intervenientes encontraram-se finalmente e reagruparam-se, seguindo em conjunto até ao aquartelamento de Guidage.
Chegamos lá pelas 18h00, e instalamo-nos.
Fui até à enfermaria para ver se precisavam de auxílio, e vi que estava cheia de feridos.
As máquinas a petróleo funcionavam sem parar, para a esterilização de seringas, agulhas e outros utensílios médicos.
Ouviam-se gemidos de dor aqui e ali. O que eu vi à minha frente… é indescritível...
Caiu a noite e pouco tempo depois, fomos flagelados com granadas de morteiro 82 mm.
O quartel estava cheio de tropa.
Uma das granadas caiu dentro de uma das valas e feriu gravemente um sargento dos fuzileiros.
Uma dessas valas foi a minha instalação, o meu quarto, durante estes 3 dias.
11-05-1973 - 09h00 -, procedemos à cerimónia fúnebre, com uma salva de tiros, em honra do militar do meu pelotão que morreu vítima das minas.
Abriu-se uma cova junto ao arame farpado, lançou-se cal e colocaram-se os seus restos mortais embrulhados num lençol.
Continuamos no destacamento de Guidage e o “filme” repetia-se, éramos flagelados com granadas de morteiro 82 mm a qualquer hora.
Depois flagelavam Bigene.

Extracto do livro “Guiné”, com as colunas a Guidage e onde se relata a operação “Ametista Real”, executada no terreno em 18 e 19 de Maio de 1973
12-05-1973 - 11h00 -, fiquei perplexo, quando um militar bateu com um joelho numa porta e, em resultado dom estrondo, todos os que estavam no refeitório se precipitaram para as valas, tal era o desgaste psicológico que os transtornava.
Qualquer barulho, parecia-lhes mais um ataque de morteiros e refugiavam-se nas valas desordenadamente.
Contaram-me que a cerimónia do hastear da bandeira nacional no quartel deixara de se fazer, porque o corneteiro tinha morrido num dos ataques que de vez em quando o IN desferia a partir de um morro do lado oposto ao da pista de aviação.
Metade dessa pista era território Português e a outra era do Senegal.
Tinham um obus 10,5 cm que estava danificado pelos consecutivos ataques e, segundo informações que recolhi, tinha aí morrido um furriel.
13-05-1973 - por volta das 10h00 -, começamos a abandonar o destacamento de Guidage.
A partir de Binta consegui boleia numa viatura “Berliet”, onde ia o nosso Comandante.
À minha frente ia outra viatura do mesmo tipo, com corpos de militares mortos e alguns feridos ainda com soro.
Cenários de um pesadelo arrepiante de cujo desenrolar... JAMAIS ESQUECEREI!

Jumbembem > 1973
Jumbembem > 1973 > JUL13 > Picada de Sare Tenem
Jumbembem > 1973 > JUL13 > Picada de Sare Tenem
Jumbembem > 1973


Um abraço,
Fernando Araújo
Fur Mil OpEsp/RANGER da 2ª CCAÇ do BCAÇ 4512


Fotos: © Fernando Araújo (2009). Direitos reservados.
_____________


Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

7 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 – P6125: Estórias avulsas (81): Um prisioneiro, no fundo, boa pessoa (António Paiva)

Guiné 63/74 - P6130: Os nossos regressos (23): Faz hoje 40 anos que regressei da Guiné, mas o meu espírito vagueia naquelas tabancas (José Teixeira)

1. Texto José Teixeira* (ex-1.º Cabo Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada , 1968/7), alusivo à chegada da sua Companhia a Lisboa, faz hoje 40 anos**.


DIA 8 DE ABRIL DE 1970 – O REGRESSO À MÃE PÁTRIA

Uf. Cheguei !
Não. Ainda não cheguei.
Estou estacionado no Tejo, mais propriamente no Mar da Palha. Ali, mesmo ao lado de Lisboa.

É noite. Ao longe a marginal iluminada convida-nos a entrar, abrindo-nos as portas de regresso. Os automóveis da noite relembram-nos outras noites, em Lisboa, no Porto, na terra de cada um desde o Minho ao Algarve. Já lá vão dois anos.

Para lá se dirigem milhares de olhos. Os comentários “apimentados” sucedem-se. Há quem aposte que já vê a família lá ao longe no cais que se imagina para além da curva do rio.

Niassa > Navio misto (carga e passageiros) da Companhia Nacional de Navegação. Fonte: Navios Mercantes Portugueses Página de Carlos Russo Belo com a devida vénia.

Podíamos ter desembarcado hoje. O destino que alguém ainda controla marcou a hora do desembarque. O NIASSA ao avistar a costa reduziu a velocidade. Entrou na Barra ao pôr-do-sol e estacionou, para raiva dos milhares de homens que queriam fugir daquele mundo e esquecer para sempre aqueles dois anos na Guiné.

Como estavam enganados! Comprova-se hoje, nos encontros de convívio das Companhias e dos Batalhões, das tabancas e tabanquinhas que vão surgindo aqui e além. Nos grupos organizados que todos os anos, agora de forma voluntária, se deslocam à Guiné, levando amizade e fraternidade. Levando os bolsos cheios (leia-se contentores) de coisas úteis para aquela pobre gente que sonhava com a liberdade, como sinal de mudança de vida para melhor e encontraram um inferno ainda maior.

Ali ficamos mais uma noite, às ordens de sua senhoria os “senhores do exército” que naqueles dois anos foram os gestores do nosso destino. Seria a última.

Toda a gente debruçada na amurada do barco. Cotevelada daqui. Empurrão dacolá. Um palavrão pelo meio, porque me estás a calcar oh cabrão!

Cantou-se, dançou-se… sobretudo sonhou-se, bem acordados que estávamos, naquela noite, talvez a mais longa, depois das que tínhamos passado debaixo de fogo. Noite que nunca mais passava. Noite em que aprisionados no meio do Tejo vislumbrávamos com esperança (quase certa) a liberdade.

A manhã chegou. Os motores do Niassa dão sinal de vida. É o princípio do fim.

Ao longe, o cais espera-nos.
Não. Não são fantasmas!
São milhares de pessoas expectantes. Muitas delas montaram tenda, sem tendas, naquele lugar, naquela noite, para nos verem chegar.
São os nossos queridos familiares e amigos.
Outros, chegaram com a manhã, cedinho, na esperança de assistirem ao desembarque.

Chegada ao cais. As pernas tremem de alegria, as lágrimas teimosamente deslizam pela face abaixo. Os olhos ávidos de esperança vasculham o cais à procura de um sinal. O sinal combinado para o feliz encontro que teima em não chegar.
Por fim, lá ao longe, uma silhueta, um aceno, um grito de felicidade. Está ali! Está ali!
Aonde? Não o vejo!
Ali ao fundo…

Porto de Lisboa > NTT Niassa > Estação Marítima de Alcântara > 09/Abr/70 > Momento da tentativa de acostagem na Gare, com a emoção para visualização dos seus.

Porto de Lisboa > Placa da Estação Marítima de Alcântara > 09/Abril/1970 > Multidão aguardando a chegada de Militares, apresentando dísticos.
Fotos e legendas: © Américo Estorninho (2010). Direitos reservados


Seguem-se os abraços sem fim. O beijo afectuoso de uma mãe que sempre acreditou. A sua promessa de ir a Fátima a pé, agradecer à Virgem Maria, valeu. A Senhora protegeu o seu filho.
Agora vamos cumpri-la e ele vai comigo. Ai vai, vai!

A esposa que soube esperar e lhe trás o filho que ele ainda não conhecia. A namorada que teve a coragem de resistir por amor.

Ali estão todos. Ah felicidade de um raio! Finalmente chegou o dia do regresso.

Não sei porquê, mas nestas alturas as lágrimas são teimosas e continuam a deslizar pela face ao mesmo tempo que o coração rebenta de alegria e a boca deixa sair as mais ternas palavras de afecto, carinho e amor.

Mas o drama tem mais um acto que é preciso cumprir.

Há que partir para a GMC que nos espera. O comboio especial está em Santa Apolónia à nossa espera.
Porra! Nem agora que chegamos, nos dão uns momentos para a família!
Sim. Depois de ires a Abrantes, entregar a merda da rota e gasta farda e receberes o pré. Oito dias de pré são oito dias e a lei é para se cumprir.

O comboio parte abarrotado de ex-combatentes. Confesso que ainda duvido em me considerar ex-combatente. Ainda não entreguei a farda. “Eles” têm sempre razão. Quem sabe, se…

Àquele barulho ensurdecedor dos milhares de homens que se acotovelam nas janelas do comboio, correspondem os moradores que vêm às janelas, varandas, porta da rua e transeuntes, com acenos de alegria e… com lágrimas. Umas de alegria, outras, quem sabe… talvez de tristeza, porque recordam os seus queridos que estão “perdidos” lá na tal guerra de que nos safámos.

Abrantes. A farda entregue. Qual pré, qual carapuça. Boa noite e meia volta, (já não precisava de bater a pala) ainda a tempo de ouvir o pulha do primeiro-sargento dizer para o cabo que conferiu a farda: “Mais um que se esqueceu de receber o pré.”

Foda-se a guita, quero-me ir embora já!
A caminhada até à estação do comboio, que teimava em não chegar.

Entroncamento e novo comboio que parecia ter substituído os rodados por chancas. Parou em todos os sítios onde havia uma gare.

Por fim, já o sol despontara na manhá seguinte. Se fosse hoje, ouviria, “senhores passageiros, dentro de momentos chegaremos à Estação das Devesas - Vila Nova de Gaia. Pedimos desculpa pelo atraso”. Mas, não. Gaia surgiu e do lado de lá do rio, o meu Porto.
Foi agora e só agora. Aqui nas Devesas ao ver o Porto ao longe que senti.
Finalmente estou livre, carago!

Passaram quarenta anos. Pensava eu que a Guiné fora uma etapa para esquecer e que a vida continuava. Como estava errado. A Guiné grudou-se a mim, vive comigo todos os dias e irá comigo para a cova. O meu espírito vagueia por aquelas tabancas, olha de frente aquela gente terna e meiga que me acolheu, quando eu era “agressor” e me acolhe agora com terno carinho, sempre que vou até lá matar saudades.

Empada 2005 > José Teixeira com um ex-Milícia e sua filha



Zé Teixeira
__________

Notas de CV:

(*) José Teixeira é co-fundador da Tabanca Pequena - Grupo de Amigos da Guiné-Bissau - Apoio e Cooperação ao Desenvolvimento Africano.

Vd. último poste de José Teixeira de 20 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6024: Convívios (119): Convívio Anual da CCAÇ 2382 & CCAÇ 2381, no próximo dia 1 de Maio de 2010, em Fátima (José Teixeira)

(**) Vd. poste de Arménio Estorninho de 1 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6089: Os nossos regressos (21): No dia 1 de Abril de 1970, a CCAÇ 2381 finalmente despede-se em Parada Militar (Arménio Estorninho)

Vd. último poste da série de 2 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6095: Os nossos regressos (22): Os cruzeiros da minha vida (Armandino Alves)

Guiné 63/74 - P6129: (Ex)citações (66): Repondo a verdade sobre o ensino na Guiné Portuguesa (Mário Dias)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Dias (ex-sargento Comando, Brá, 1963/66), com data de 6 de Abril de 2010:

Caro Luis,
Caros editores,
Cá estou mais uma vez a rezingar. Achaques da idade que certamente me desculparão.
Como a prosa é longa vai em anexo. A sua publicação, ou não, fica ao vosso critério.

Um grande abraço do
Mário Dias



Repondo a verdade sobre o ensino na Guiné Portuguesa

Nos últimos tempos, embora visite regularmente a tabanca, tenho-me abstido de intervir ou comentar por vários motivos, sendo o principal a pouca disposição – leia-se preguiça.

Prefiro ser um leitor atento e “engolir” opiniões, por vezes absurdas, que vão sendo produzidas. Mas tratando-se de opiniões e como cada um tem direito à sua nada digo embora me pareça que, por vezes, se ultrapassam os propósitos do blogue: narrar os acontecimentos que cada um viveu na guerra.

Para mim, isto significa não ir além dos factos ocorridos, nem referir nada que não se tenha a certeza ser verdadeiro. Opiniões? Tudo bem... não passam disso mesmo: “opiniões” e nada digo.

Porém quando se fazem afirmações menos verdadeiras que futuramente poderão induzir em erro quem as leia, vejo-me obrigado a intervir a bem da verdade dos factos e da história.

Toda esta lengalenga vem a propósito do P6014** da autoria do camarada Daniel Matos onde refere que “até há poucos anos, em todo o território, apenas se podia estudar até ao 2.º ano do primeiro ciclo...”

Saltou-me logo a mola como se costuma dizer.

Em fui para a Guiné em Fevereiro de 1952 ainda muito jovem (15 anos) e já nessa altura estava em funcionamento o Colégio Liceu de Bissau. A minha irmã mais nova lá estudou e completou o 5.º ano (2.º ciclo). Pensei retorquir de imediato mas como a quente podemos ser menos agradáveis para com os visados nada disse e resolvi aguardar uns tempos e, sobretudo, procurar elementos de consulta para fundamentar a minha intervenção e não restassem dúvidas sobre a sua veracidade.

Pesquisando o sítio http://memoria-africa.uo.pt/ que recomendo vivamente a quantos se interessarem pela história, devidamente fundamentada, da nossa passagem por terras de África, lá fui encontrar no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa N.º 22 de Abril de 1951, pág. 477, o seguinte:


Colégio – Liceu

Analisando estatisticamente o movimento do ensino liceal nesta Província no ano lectivo de 1949-1950, apresentamos elementos deveras satisfatórios...”

No quadro apresentado podemos ver que o Colégio-Liceu leccionava o 1.º ciclo (1.º e 2.º anos) e 2.º ciclo (3.º, 4.º e 5.º anos). No ano lectivo referido teve a frequência de 46 alunos sendo 5 europeus, 4 euro-africanos, 11 mestiços, 24 negros e 2 “outros” (vai com aspas pois não sei o que estes “outros” seriam).

O número de alunos era bastante escasso mas é interessante referi-lo pois nos permite avaliar o progresso neste domínio registado poucos anos depois.


Era neste edifício que funcionava o Colégio-Liceu. Por decreto foi criado o Liceu Honório Barreto conforme se pode ler no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa N.º 50, de Abril de 1958.

No ano lectivo 1958/59 instalou-se na parte alta da cidade de Bissau, nas proximidades dos Serviços Meteorológicos, provisoriamente em pavilhões de rés-do-chão, e era frequentado por 249 alunos bem longe dos cerca de 50 inicialmente existentes.

Em data que não posso precisar, o Liceu Honório Barreto passou a ter um novo edifício na parte alta da cidade do qual certamente muitos se recordam ainda.

(com a devida vénia de rumuafulacunda.wodrpress.com/Bissau)

Paralelamente ao liceu existia uma Escola Técnica que começou a funcionar nos finais da década de 50 com 164 alunos. Conforme n.º 56, de Outubro de 1959 do já referido Boletim, esta escola “foi elevada à categoria de Industrial e Comercial por decreto ministerial e nela passarão a ministrar-se os seguintes cursos: Ciclo Preparatório Industrial, Formação de Serralheiros, Carpinteiros, Mecânicos, Montadores Electricistas, bem como o Curso Geral de Comércio e o de Formação Feminina.”

No ano lectivo de 1958/59 esta escola era frequentada por 1051 alunos.

Além destes estabelecimentos oficiais de ensino, muitas entidades públicas ministravam cursos práticos e estágios diversos a quem lá trabalhava como era o caso das Obras Públicas, Oficinas Navais etc., não podendo deixar de referir o relevante papel desempenhado neste campo pelas Missões Católicas.

Também as considerações do nosso camarada Daniel Matos quanto à assistência médica não são rigorosas. Poderei rebatê-las, devidamente fundamentado, se assim desejarem.

Mas como a prosa já vai longa, por aqui me fico. Apenas, a título de curiosidade e porque a grande maioria dos “atabancados” não deve saber, o Hospital Militar de Bissau não foi construído com essa finalidade. Foi construído e inaugurado em Maio de 1960, portanto muito antes da guerra, como Hospital de Tisiologia. Pelo facto de tratar doenças infecto-contagiosas é que foi escolhida uma localização num ponto elevado e afastado das populações. Na altura da sua construção e entrada em funcionamento não existiam quaisquer habitações nas proximidades. Passou a Hospital Militar por necessidades derivadas da guerra tal como aconteceu um pouco por toda a Guiné onde diversas instalações foram atribuídas e ocupadas pelas unidades militares.

Mantenhas para todos.
Mário Dias
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 7 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5228: Memória dos lugares (52): Rio Corubal: afinal, havia... 3 pontes !? (C. Silva / D. Guimarães / M. Dias / Luís Graça)

(**) Vd. poste de 18 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6014: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (2): Levar a lenha e sair queimado

Vd. último poste da série de 7 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6126: (Ex)citações (57): Os nossos Brandões desconhecidos que foram os antepassados dos pais fundadores do PAIGC, MPLA e FRELIMO (António Rosinha)

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6128: Convívios (214): Almoço/Convívio do pessoal da CCAV 2748, dia 29 de Maio de 2010 em Almeirim (Francisco Palma)

1. Pede-nos o nosso camarada Francisco Palma a divulgação do Almoço/Convívio do Pessoal da CCAV 2748, no dia 29 de Maio em Alemirim



Francisco A Palma
Rua Sta Rita, 239 Piso 0 Dtº
S. João do Estoril-2765-281 ESTORIL
TELF: +351 919457954
e.Mail.: fapalma@vodafone.pt


ALMOÇO CONVIVIO dia 29 MAIO 2010

Caros camaradas e amigos

Vimos Convidar todos os Camaradas para o Convívio 2010 da Companhia de Cavalaria 2748

10,30 às 12.30 Horas Concentração no Largo Praça de Touros, (se alguém quiser ir à Missa das 11.00 irá com indicação onde fica o Restaurante)


RESTAURANTE MARISQUEIRA OS PAULOS
Largo da Praça de Touros
ALMEIRIM


ALMOÇO PELAS 13.30 HORAS

EMENTA

APERITIVOS:
Aperitivos variados, Martini, Sumos e Porto; Canapés, Rissóis e Croquetes

COUVERT:
Pão, Azeitonas Queijinho afatiado, Salgadinhos

QUENTES:
Sopa da Pedra
Cabrito Assado no Forno c/ guarnição

SOBREMESA:
Fruta da Época ou Doces do Dia

BEBIDAS:
Vinhos Branco e Tinto, Refrigerantes, Cerveja, Aguas, Café, e Digestivo
Bolo e espumante estão incluídos


Os interessados devem confirmar a reserva por carta ou
para o e-mail maito:fapalmaster@gmail.com

PAGAMENTO POR MULTIBANCO NIB 003300004531255507205 ou
TRANSFERENCIA BANCARIA, PARA A SEGUINTE CONTA MILLENNIUM bcp Nº: 45312555072 Agência de S. João do Estoril
TITULAR: Francisco Augusto Palma

NOTA: O Restaurante exige uma confirmação do número de participantes até 4 dias antes

Camaradas e amigos,
A actual comissão organizadora deliberou que a partir do ano 2011, os Convívios da CCAV 2748, passem a ser organizados por novos Organizadores, não se escusando a colaborar em tudo que os novos necessitem.

Esta iniciativa visa:
Que todos os camaradas possam participar mais e com novas ideias e novos locais, pelo que se pede a pré organização dessa nova comissão a ser anunciada no decorrer do Almoço.

A saúde do nosso Comandante continua em vigilância continuada.
Queremos que toda a CCAV 2748 esteja presente neste Almoço já que se celebram 38 anos no dia 29 de Maio, que a CCAV 2748 veio de Canquelifá para o Comuré (Bissau) para regressar ao Continente, Por isso - NÂO FALTES!

Os organizadores
Francisco Palma Tlm 919 457 954
Firmino Moreira Tlm 968 576 949
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 7 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6120: Convívios (127): 27.º Encontro Nacional de ex-militares do BENG 447 - Brá - Bissau, dia 8 de Maio de 2010 em Martingança

Guiné 63/74 - P6127: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (17): Quem marca o destino é Deus

1. Mensagem de José Câmara (ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Guiné, 1971/73), com data de 4 de Abril de 2010:

Caro amigo Carlos Vinhal,
Anexado encontrarás mais um pouco da minha passagem pela Guiné. É uma história diferente, que fala por si.

Para ti e para todos os nossos camaradas um abraço amigo, desejando a todos muita saúde,
José Câmara



Memórias e histórias minhas (17)

Quem marca o destino é Deus


A patrulha avançava pelo emaranhado da mata, naquela que seria a última ronda antes de pernoitar e emboscar. O homem rádio deu sinal de mensagem.

- "O Manuel Veríssimo sofreu un acidente grave. Está a ser evacuado para Bissau. Não deve escapar!". Foi com esta crueldade que recebemos, ao cair do dia de 12 de Abril de 1971, a notícia do acidente que vitimou aquele soldado.

De repente as árvores tornaram-se mais grossas e o matagal mais denso. Com o cair da noite, o coração tirou tempo para lavrar muitas presses de esperança, e os olhos perdidos no firmamento contaram estrelas até ao amanhecer. Foi uma noite muito longa!

José Câmara em patrulha na Mata dos Madeiros

Aquele soldado, de seu nome completo Manuel Veríssimo de Oliveira, era natural de São Miguel, e os seus restos mortais foram enxumados no Cemitério da Lomba de São Pedro sua freguesia natal.

Não pertencia ao meu Pelotão, e os nossos contactos eram os normais dentro de uma Companhia de Intervenção. Lembro-me que era um jovem pouco alegre e de uma educação esmerada. Talvez a vida dura que levara na ilha, e o facto de ser o amparo da mãe e de uma irmã (à altura com cerca de 10 anos, se a memória não me falha) tivessem contrbuido para modelar a sua forma de estar na vida.

Soccorri-me das memórias do Furriel Enfermeiro Rui Esteves, que prestou os primeiros socorros ao infeliz Manuel, e ainda do Soldado Condutor, Manuel Borges da Silva que conduzia o Unimog, do qual o Manuel foi projectado, para mais detalhadamente me ajudarem a construir a história do acidente.

Mas afinal o que se passou?

O Manuel pedira ao capitão para ir ver um primo que se encontrava em Bassarel. Devidamente autorizado, foi escoltado até Teixeira Pinto, tendo passado a Páscoa com o primo. Na tarde do dia 12 de Abril de 1971, estava de regresso ao acampamento.

A escolta depois de, no Bachile, pegar o pão, correio e o demais necessário, prosseguiu para o local onde a Companhia estava acampada.

Ao longo da estrada nova que estava a ser construída era normal encontrarem-se, de um lado e do outro da mesma, montes de areia que servia para cobrir e enxugar o alcatrão. Segundo o condutor, foi esta situação que encontrou, com dois montes muito próximos um do outro.

Terraplanagem da Estrada Teixeira Pinto/Cacheu na qual o Manuel foi vítima mortal

O condutor ao desviar-se de um monte, de imediato teve que fazer contradesvio ao outro. Com o movimento brusco, o Manuel, instintivamente, tentou segurar os sacos do pão, acabando por ser projectado e indo bater com a cabeça no chão.

O Furriel Esteves, num email que me mandou debruçou-se sobre este assunto da seguinte forma:

O Furriel Esteves que prestou a assistência ao Manuel
Foto: © Rui Esteves (2005). Direitos reservados

"O Manuel Veríssimo de Oliveira foi socorrido por mim na estrada onde caíu.

Deviam ser cerca das 16 horas, estava no acampamento da mata dos Madeiros, aparece-me o alferes João Luís Ferraz a gritar por mim, desesperado, porque um soldado tinha caído do Unimog e estava inconsciente.

Peguei na mochila dos primeiros socorros e arrancámos para o local do acidente. Quando lá cheguei dou com o Manuel Veríssimo de Oliveira em estado de coma.

O soldado Manuel Veríssimo vinha a segurar o saco do pão e quando o Unimog passou por um buraco agarrou-se ao saco e caíu desamparado no chão, batendo de cabeça.

Morreu para salvar o pão da nossa Companhia.

Chamámos um helicóptero para a evacuação, mas dado que o dia estava quase a acabar, já não vieram buscá-lo. O que nós praguejámos contra o pessoal da Força Aérea!

Aqui já não me recordo bem do que aconteceu a seguir. Tenho a ideia que segui eu e um condutor e que levámos o desgraçado Manuel Veríssimo a Bissau. Isto pela noite fora, sem escolta, sem nada e que o deixámos em Bissau.

Regressámos no dia seguinte e passados dois ou três dias recebemos a informação que o nosso soldado tinha morrido.

Passados estes anos todos confesso que ponho em dúvida se foi mesmo assim, se fomos mesmo a Bissau com ele. Se foi - foi uma grande loucura e tivemos muita sorte em ter percorrido tanto quilómetro sem nos acontecer nada!

A ideia que eu tenho é nós a avançar pela noite fora, os faróis do Unimog a iluminar a estrada e eu e o condutor a ver que estávamos metidos num grande sarilho se nos apareciam os homens do PAIGC."


O Manuel viria a falecer no dia 23 de Abril de 1971. Constituíu a única baixa fatal da CCaç 3327 no TO da Guiné.

Fui designado para prestar assistência à família do nosso militar sinistrado, tendo trocado vária correspondência com a sua mãe.

Aos meus olhos o Manuel era um herói. Não dos tiros, mas da educaão, da participação, do trabalho, da camaradagem, do cumprimento do seu dever militar. Esta foi a mensagem que tentei passar àquela pobre mãe.

Mais tarde, inesperadamente, recebi uma carta daquela mãe onde dizia, sensívelmente as seguintes palavras:

“ Eu era uma mãe triste por perder o meu filho, mas feliz por saber que ele tinha morrido como um herói. O Senhor mentiu-me. O meu filho morreu bêbado. Hoje não tenho nada."

Fiquei estarrecido. Não conseguia compreender aquelas palavras, até que se fez luz no meu cérebro. O Manuel tinha ido visitar um primo a Bassarel e era muito natural que tivesse tomado uns copos com este.

Infelizmente, foi a mensagem que chegou aos Açores e àquela pobre mãe. Em nome da verdade, quando o acidente aconteceu o Manuel estava, segundo os camaradas que o acompanhavam, perfeitamente sóbrio. Aliás, ele levava uma vida bastante regrada. Poupava para mandar o máximo possível para a sua mãe.

Respondi àquela angustiada mãe. Infelizmente não recebi resposta.

Mais tarde, o soldado José Medeiros (se a memória não me atraiçoa) depositou nas minhas mãos, versos de homenagem ao Manuel. Perguntei-lhe quem tinha escrito aqueles versos, respondendo ele que isso não interessava. E acrescentou:

- Nós queremos que o meu furriel guarde esses versos. Nós sabemos que o senhor saberá o que fazer com eles.

É verdade. Sempre soube o que fazer com eles. Infelizmente, nunca tive a oportunidade de me encontrar com a mãe do Manuel. Tão pouco sei se ainda vive e o que é feito da irmã, hoje uma mulher na proximidade dos 50 anos.

Aqui deposito estes versos simples, escritos na Mata dos Madeiros, por um desconhecido da CCaç 3327. O seu valor moral vai muito para além do valor literário. Essa é a melhor homenagem que podía prestar ao Manuel Veríssimo de Oliveira. Tenho a certeza de que os elementos da CCaç 3327 estão comigo neste momento.

Tal como me foram confiados, limitando-me a corrigir algum erro ortográfico.

Cópia parcial dos versos que me foram confiados


Versos sobre um rapaz que morreu na Guiné

I
Peço ao Senhor do Altar
e à Virgem Santa Maria
forças para vos contar
o que sucedeu neste dia

II
Vou-vos contar com fé
que neste mundo de enganos
morreu um rapaz na Guiné
que tinha 21 anos

III
Era boa criatura
este infeliz sem sorte
que caíu de uma viatura
que lhe causou a morte

IV
Foi no dia 12 que isto se deu
tudo o que estou a contar
e pelo seu nome chamei
e ele sem nunca acordar

V
Manuel Veríssimo de Oliveira
era o nome da criatura
que lutou pela Bandeira
e agora jaz na sepultura

VI
Ele saíu cá do cimo
com imensa alegria
para ir visitar o primo
que já há tempo não via

VII
A Teixeira Pinto se deslocou
e um adeus disse à gente
e no outro dia se lembrou
de voltar ao acampamento

VIII
Mas coitado não sabia
não podia adivinhar
que aquele era o dia
que nos ia largar

IX
Ele na viatura entrou
para vir para o acampamento
foi o Mestre que o chamou
naquele dia de repente

X
E o carro começou a andar
e pela estrada corria
e nós vinhamos a cantar
com imensa alegria

XI
Neste momento o carro entrou
na curva com um trambolhão
e o pobre não se aguentou
e foi atirado ao chão

XII
E a queda foi tão forte
que logo inerte ficou
e mais tarde veio a morte
que consigo o levou

XIII
Estou como vendo agora
quem lhe criou com tanto brilho
a sua mãe de outrora
que tanto chora pelo filho

XIV
Muito que a mãe chorou
e no seu pranto dizia
já não tenho quem me ganha
o pão nosso de cada dia

XV
Tive dó da mulherzinha
digo isto mesmo a fundo
porque o único amparo que tinha
já estava no outro mundo

XVI
Era natural de São Miguel
Lomba de São Pedro a freguesia
deste pobre Manuel
que morreu neste dia

XVII
Manuel rapaz novo
que morreu neste dia
era estimado pelo povo
da sua freguesia

XVIII
Pobre infeliz sem sorte
era um bom militar
desgraçada seja a morte
que deixa uma mãe a chorar

XIX
Foi no dia 23
que a morte o foi buscar
e já deu contas a Deus
que este o tenha em bom lugar

XX
Quem marca o destino é Deus
até à hora chegar
rezem por este português
que era um bom militar

XXI
E quem estes versos um dia
os puder ler em paz
no fim reze uma Avé-Maria
por alma deste rapaz

XXII
Agora vou finalizar
e vejo que faço bem
bem me queiram desculpar
os erros que aqui tem

XXIII
Tudo isto aqui se encerra
onde há terra também há pó
toda a gente no mundo erra
quem não erra é um Só
.

Hoje, passados que são trinta e nove anos sobre este acontecimento, continuo a escrever como então:

Minha Senhora,
Tenha a certeza de que o seu filho faleceu no cumprimento do seu dever militar. No meu sentir, e no de todos os seus camaradas, ele faleceu como um herói. Que estas palavras possam ajudar a suavizar a sua dor que todos nós, militares da CCaç 3327, sabemos ser imensa, e de que também partilhamos.

José Câmara
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 31 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6084: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (16): Páscoa e Casamento na Mata dos Madeiros

Guiné 63/74 - P6126: (Ex)citações (65): Os nossos Brandões desconhecidos que foram os antepassados dos pais fundadores do PAIGC, MPLA e FRELIMO (António Rosinha)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Ponta Brandão > 1970 > Dois velhos balantas.  Arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).



Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados


1. Comentário, de hoje, do António Rosinha, ao poste P6116 (*)
 Quando se fala nestas figuras de comerciantes/agricultores, neste caso com o nome de Brandão, que na Guiné é um dos nomes de colonos históricos, noutras ex-colónias há outros nomes também com história, estamos a falar dos verdadeiros colonizadores à-lá-portuguesa.

Estes homens, sem disso terem consciência, chegaram e abriram caminho e serviram de intérpretes, a missionários católicos e outros, a chefes de posto e administradores e militares.

Estes comerciantes raramente foram alvo de um estudo, que analizasse as suas grandezas e misérias. Mas todos os governantes,  desde o Diogo Cão até ao Gen Spínola, secundarizaram estas pessoas, quando devia ter sido o contrário.

Os africanos (indígenas) davam mais importância a um comerciante do que a um governador geral ou a um missionário ou chefe de posto.

Em relação à guerra, tiveram um papel tão importante, para o bem ou para o mal, que podemos dizer que os milhares de Brandões na África portuguesa, foram os pais e os avós da maioria dos teóricos fundadores, do MPLA, PAIGC e FRELIMO, movimentos que secaram outros em volta, e com isso, talvez ainda sobre alguma coisa no fim de isto tudo. (**)

Estes comerciantes, a maioria analfabetos, ou quase, chegavam a falar um dialeto ou mais que um, continuarão a ser olhados de soslaio por qualquer militar que, ao fim de 24 meses, não chegava a comprender aquela africanização, para não dizer outros nomes.

Estes portugueses de Áfricas e Brasis foram a história mais importante da diáspora portuguesa. Em geral viajaram com passagem paga por eles. Muitos netos dessa gente veio para o meio de nós em pontes aéreas.

É um ponto de vista.

Antº Rosinha

[ Revisão / fixação de texto / bold / título: L.G.]

__________________

Nota de L.G.:

(*)  Vd. poste de 6 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6116: O Nosso Livro de Visitas (85): Maria Helena Carvalho, filha do Pereira do Enxalé, localidade onde nasceu há 60 anos, hoje residente nas Caldas da Rainha (Luís Graça)

(...) Outros comentários:

(i) Torcato Mendonça:

Luís Graça:  não sei se a Ponta Brandão de que falas,  se refere a uma quinta, algures entre Fá e Bambadinca, e pertencente a um português há muito radicado na Guiné. Creio que por razões de ordem politica.

Tenho disso uma recordação muito fraca. O vago-mestre parece que ia lá comprar vegetais. Passei lá uma ou duas vezes. O Velhote tinha quatro ou cinco filhos, já homens e mulheres,  mais velhos que nós. Falei com, pelo menos, um dos filhos. Contou-me que, antes da guerra certamente, caçavam no Geba jacarés e outro tipo de caça naquela zona,  etc.

O Velhote tinha uma destilaria. Estando a fazer aguardente de cana,quando por lá passei, agarrou num copo em bambú,  encheu e bebeu a aguardente de um trago. Como quem bebe água fresca. Depois, noutro copo, deitou aguardente e deu-me a beber. Foi o liquido mais forte que bebi... deslizava e queimava... e ele olhava... respirei fundo e soprei forte. Fiquei desinfectado. O fulano sorrindo disse ter-me portado bem. A minha memória dessa destilaria é fraquissima. Há outro pormenor mas é com a "inteligência" de Bambadinca. O Jorge Cabral e outros militares que passaram por Fá, certamente lembram-se desta família. Será Brandão? Não sei.

Abraço,Torcato
 
(ii) Luís Graça:
 
Torcato: Também lá fui uma ou outra vez. Ponta quer dizer quinta. Logo havia lá criação (leitões, por exemplo), horta e fruta (abecaxis, por exemplo). Julgo ter lá ido algumas vezes quando algum de nós estava de sargento de dia à messe (ou sargentod e mês, mais exactamente)... O Jaime, o nosso vague-mestre (da CCAÇ 12), batia região à cata de matéria-prima para satisfazer o apetite voraz da messe de Bambadinca (as meses de sargentos e de oficiais eram separadas, mas a cozinha era a mesma)...


O Jorge Cabral também conhecia a Ponta Brandão, que de resto ficava perto de Fá... Mas tudo aquilo, a começar pela casa, tinha um ar decadente...

Já não posso jurar se a família era de origem metropolitana, ou caboverdiana... A família Brandão de Bambadinca era aparentada com os Brandão de Catió... Uns e outros tinham fama de ter gente no PAIGC...

E a propósito de civis de Bambadinca, soube pelo Dr. António Vilar - o médico do BART 2917, que sucedeu ao Mário Ferreira - que o Rendeiro ainda está vivo. Com cerca de 90 anos, vive em Murtosa, separado da esposa africana, que era filha de um régulo mandinga e que ele nunca nos mostrava. Era a mãe dos seus numerosos filhos... Jantei algumas vezes em sua casa... O seu chabéu era famoso... Em troca, ele queria saber coisas da vida do quartel...

Recordo-me de ele me ter dito que fora para a Guiné aos 17 anos... Terá nascido, portanto, em 1920.

(iii) Jorge Cabral:

Confirmo.Fui visita assídua do  Senhor Brandão, principalmente durante as férias da filha que trabalhava em Bissau. Era natural de Viana do Castelo ou da Póvoa de Varzim,já não me recordo bem.Teria na altura quase 80 anos, mais de 40 de Guiné e muitos filhos.

A aguardente de cana era fogo...mas matava qualquer bicho, mesmo os  imaginários...

Abraço.

Jorge Cabral

(**) Vd. também postes sobre a família do agricultor de Bambadinca, Inácio Semedo, um histórico do nacionalismo guineense, pai do Doutor Eng Inácio Semedo Júnior, que vive presentemente em Lisboa.

Guiné 63/74 – P6125: Guiné 63/74 - P6075: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (11): Um prisioneiro, no fundo, boa pessoa

1. Uma estória do nosso camarada António Paiva*(ex-Soldado Condutor no HM 241 de Bissau, 1968/70), enviada em mensagem do dia 4 de Abril de 2010:

Camaradas,
Terminada a Especialidade, Janeiro de 1968, no Regimento de Cavalaria 5, no Porto, por estranho que me tivesse parecido me deram a escolher, assim como a todos do meu Pelotão (o 6.º, composto por, relaxados, preguiçosos, abandalhados e atrasados, por sermos sempre os últimos a formar, sendo todos de Lisboa, mais tarde contarei a história) a unidade para onde queríamos ir.
A maioria, senão a totalidade, escolheu Trem-Auto.
Tendo eu escolhido, Regimento de Infantaria 1, na Amadora.

Logo, por alguns, fui chamado de maluco e parvo, por ter escolhido uma Unidade onde os meus serviços iriam ser de piquetes, plantões, faxinas e guardas. Pois sim, mas a verdade é que o trabalho que eles iriam fazer a mim não me agradava. Ir buscar os Senhores Oficiais para o local de trabalho, depois levar os meninos à escola, levar as madames ao cabeleireiro, deixá-las no cinema e por vezes levá-las ao chá das 5, não era para meu feitio. Mas acima disto tudo, na Amadora morava uma andorinha com quem eu gostava de passar o tempo, quando possível, a dar umas bicadelas de vez em quando.

A minha estadia no RI1, foi perfeita e saudável. Fui colocado numa Companhia em que o Comandante, Capitão, era uma excelente pessoa, o 2.º Comandante era um Aspirante, bom moço, dias em que eu não estava escalado para serviço, me arranjava a dispensa de toque de ordem e de recolher, para eu poder ir a casa, sempre jantava melhor que no quartel.

Fiz plantões à caserna, fiz faxinas ao refeitório, fiz guardas (aqui procurava alinhar na formatura de maneira que não me calhasse a Porta de Armas ou Pinheiros, mas de vez em quanto lá ia) nestas funções, tudo correu sempre bem.
Se a memória não me falha, na escala havia outro serviço que era, Piquete da Guarda, cuja função era a de levar os presos ao Hospital ou Tribunal Militares.


Aqui vai a história de susto e medo, em que nossa liberdade se compromete

Um prisioneiro, no fundo, boa pessoa


Como todos devem estar lembrados, na nossa juventude deu-se o grande fogo da Serra de Sintra (não me ocorre agora o ano), onde morreram 27 militares, assim foi noticiado, não sendo essa a verdade.

A verdade é que se encontrava preso, no RI1, um soldado, não me lembro do nome, acusado de ser o autor do mesmo, muitos não acreditávamos, pela figura, maneira de ser e de estar do dito soldado.

Rapaz pequeno e magro, queimado pelo sol, provavelmente da sua terra onde tinha sido sacristão, calmo no falar e na maneira de estar, cativava-nos com a sua forma de ser. Não fumava, o que dava a entender não usar fósforos ou isqueiro, talvez em Sintra, se tivesse sentido primata, pega-se em duas pedras e fizesse fricção com as mesmas.
Já tinha ido a Tribunal duas vezes, ficava sempre adiado por falta de tempo.

No tempo em que lá estive, chegou a terceira vez, tocou-me a mim e a outro camarada levarmos o pacato prisioneiro à sala das confissões.

Às três é de vez, esperávamos que sim.

Quando lá chegamos, estava em curso um julgamento, antes do dele outro iria ter lugar. Por coincidência, típico e moderno daqueles tempos.

Enquanto aguardávamos pelo corredor, de Mauser ao ombro, no mesmo, de um lado para o outro andava uma saia azul acompanhada de uma blusa creme, com um belo monumento no seu interior.
Bonita e jeitosa, com todas as curvas no seu devido lugar, com passos firmes e segura do que estava ali a fazer. Tinha feito queixa de um soldado que a tinha desonrado.
Mas a sua memória, talvez não fosse a sua melhor companheira, esqueceu-se de a lembrar dos passos que já tinha dado.

Acabado o julgamento que estava a decorrer, quando lá chegamos, foi chamado quem fazia parte do seguinte, onde fazia parte a dita dama.

Podíamos entrar, mas tínhamos de deixar as armas cá fora, num suporte que havia para elas.

A sala tinha uns três ou quatro bancos corridos, quando entramos, já se encontravam os lugares quase completos, o nosso “preso” já se encontrava sentado, nós dois encontramos lugar no banco da frente.
Comentamos, não há problema, ele não se pira.

Decorria o julgamento, há já algum tempo, nada favorável à dama, quando olhamos para trás e não o vimos.
Pensamos, foi mijar.

Saímos para ver se o encontrávamos, mas nada, não estava dentro do tribunal.
Pegamos nas duas amigas que tínhamos posto no suporte e saímos do tribunal, talvez tivesse ido beber uma bica.
Nem na rua o encontramos.

Pensamos no pior. Este erro vai-nos custar a liberdade.

Depois de perguntarmos a pessoas se tinham visto por ali um militar, obtivemos respostas negativas.
Quando já nem sabíamos que fazer, avistamos o nosso sortudo, a subir a calçada em direcção a nós, no seu passo pachorrento e com um sorriso de ingénuo nos lábios, dizer-nos:

- Não tenham medo, eu não fujo, vim apanhar ar, já estava farto de estar lá dentro.

Podem crer que não tive reacção, fiquei desarmado, só agradeci a Deus os maus pensamentos que tive.

O nosso sortudo, tinha ido praticar uma boa acção.

Estava cá fora e uma rapariga perguntou-lhe onde podia apanhar transporte para Santos, o nosso bom amigo, foi com ela até aos Caminhos de Ferro, para lhe dizer onde apanhava o eléctrico.

Regressados ao tribunal, ainda decorria o julgamento da dama.
Perdeu por 8 a 0, por a memória a ter atraiçoado, não a lembrando dos passos antes dados, 8 eram as testemunhas dele, que antes dele dormiram com ela na mesma cama.

Quanto ao nosso Soldado desenfiado, mais uma vez ficou adiado por falta de tempo.
Pouco tempo depois sou mobilizado e mandam-me para o RSS Coimbra.

Um abraço
António Paiva
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 30 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6075: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (10): Quando a missão não deixa ver