segunda-feira, 12 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6720: Álbum fotográfico de João Graça (4): Uma noite memorável na terra de Kimi Djabaté, a tabanca jacanca de Tabatô


















Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Tabatô > 15/16 de Dezembro de 2009 > Músicos, homens e mulheres, da etnia minoritária jacanca (leia-se, djacanca), da famíla de Kimi Djabaté (*), tocando os seus instrumentos (balafón, kora...), experimentando os instrumentos (violino) do outro, mostrando  a sua música, oferecendo a sua hospitalidade... Uma noite memorável que emocionou o João Graça (**), médico e músico, em viagem  pelo Leste (Bambadina, Bafatá, Contuboel, Gabu...). 

O João ficou, nessa noite, na casa dos Super Camarimba,  o conhecido grupo de música afromandinga da aldeia de Tabatô, liderado por Mamadu Baio. No seu bloco de notas, o João registou (e a foto documenta...) que na casa havia uma pele de cascavel [?], de mais ou menos 7 metros, morta um mês antes. O João irá encontrar (e tocar com) os Super Camarimba, em Bissau, dois dias depois (haveremos também de publicar as fotos desse encontro)... Eles tinham acabado de participar num festival de música... 

Esperemos que o João arranje tempo para publicar aqui as suas prometidas notas de viagem, e transmitir-nos as emoções que sentiu ao ver reunir-se à sua volta 20 músicos que tocaram e cantaram, para ele,  nessa noite... Ele retribuiu essa magnífica hospitalidade tocando também, no seu violino, música do seu reportório "world music"... 

"Eles agradeceram que um músico europeu tenha vindo a Tabatô", escreveu o João no seu bloco de notas.
De facto, "o momento da viagem [à região de Bafatá] foi a recepção em Tabatô. Inicialmente o Homem Grande (o tio do Kimi Djabaté) estava a ver TV, mas o Demba [, primo do Mamadu Baio e do Kimi,]  lá o convenceu a mostrar o estaminé, à entrada da sua casa.  Era preciso meter gasolina no gerador, mais ou menos 1000 francos (cerca de 1,5 €) para amplificar as vozes. Chegaram os balafons, o kora, os djambés,  o coro feminino"...

Na sua biografia oficiosa, na sua página pessoal, em My Space / Kimi Djabaté, diz-se que Tabatô foi uma prenda do poder reinante na região, há muitos, muitos anos atrás,  aos seus antepassados, músicos ambulantes,  que vieram do Mali...e que encantaram os seus hóspedes com a sua música... Mais obscura parece ser a história da aldeia durante o período colonial... Kimi nasceu já depois da independência, em 1975, e como muitos outros meninos africanos (e portugueses...)  conheceu a dura experiência de ter um "pai e patrão"...

Kimi Djabaté, o filho mais ilustre de Tabató, viveu aqui até aos 21 anos. Na última foto, aqui publicada (a contar de cima para baixo), vê-se o chefe da aldeia, que é tio do Kimi...

(... )Kimi Djabaté was raised in Tabato, Guinea-Bissau, a village known for its griots, hereditary singer-poets whose songs of praise and tales of history and legends play an essential role in Africa's musical life.

Centuries ago, Djabaté's ancestors, a wandering troupe of musicians from Mali, traveled to the region and the king of Guinea so loved their songs he invited them to stay and offered them the territory of Tabato.

Ever since, the area has been a recognized center for music, dance, handcrafts and other creative arts. Djabaté was born into a poor but musically accomplished family in Tabato on January 20, 1975.

His parents, two brothers and his sister were all professional musicians. Recognized as a prodigy, Djabaté began playing the balafón, the African xylophone, when he was just three years old and soon after learned to play many other traditional instruments. As a pre-teen he was sent to the neighboring village of Sonako to study the kora, which provided a foundation for subsequent accomplishments as a guitarist.

As his musicianship developed, Djabaté also mastered a wide variety of traditional drums and other percussion instruments. Music was not a past time or a hobby for the young Djabaté, however, and from a very young age he was obliged to contribute to the family's income by performing at weddings and baptism ceremonies.

Djabaté's early talents proved both a gift and a burden, as his family often forced him to sing and dance against his will, and he had little time to partake in the carefree fun and games of other children his age.

Djabaté's parents as well as his uncle, provided the young phenom with excellent training in traditional Mandingo music, but Djabaté was also interested in popular African genres such as the local dance music style gumbé, Nigerian Afrobeat, Cape Verdean morna, not to mention western jazz and blues.

In 1994, Djabaté toured Europe as a member of the national music and dance ensemble of Guinea-Bissau, and he decided to settle in Lisbon, Portugal. Djabaté's move to Europe proved to be one of the most difficult experiences of his life, and he faced many personal challenges adapting to a different culture and society. (...)



O cantor, guitarrista e exímio tocador de balafón [xilofone africano), vive em Portugal desde 1994. Próximos concertos do Kimi Djabaté (façam o favor de divulgar):

16 de Julho de 2010, 21h00 > Tom de Festa, ACERT, Tondela
30 de Jullho de 2010, 18h00 > Sines - Festival de Músicas do Mundo, Castelo de Sines, Sines
5 de Agosto de 2010, 21h30 > Festival Sons do Atlântico, Lagoa, Algarve
4 de Setembro de 2010, 21h30 > Festa do Avante, Seixal

Fonte: http://www.myspace.com/kimidjabate

Comprem o último álbum dele, saído em Julho de 2009, Karam (Educação, em mandinga), sob a prestigiada etiqueta norte-americana Cumbancha. É obrigatório comprar e ouvir muitas vezes... Um cheirinho (da sua música e da nossa querida Guiné...) pode ser sentido aqui:


Um dos músicos que toca com ele, é o Braima Galissá, o mestre do kora, já diversas vezes referido no nosso blogue. São dois grandes nomes da música e da cultura da Guiné-Bissau de hoje. (LG)

______________

Guiné 63/74 - P6719: Parabéns a você (129): António Dâmaso, Sargento-Mor da FAP (Editores)

Postal de aniversário de autoria do Strelado Casal Pessoa



1. Neste dia 12 de Julho de 2010, o nosso camarada António Dâmaso, Sargento-Mor da FAP na situação de Reforma Extraordinária, deixa o clube dos SEXAS para ingressar no dos SEPTA. Grande promoção que registamos aqui com alegria.

Camarada Dâmaso, vimos dar-te os nossos parabéns pela sua entrada na década dos setenta. Votos muito sinceros de muita saúde e longa vida cheia de amor, já que não faltarão muitos familiares e amigos em seu redor.

Momentos de ternura não te faltarão pela vida fora como os que documenta a foto dos teus tempos de juventude.



Caro Dâmaso, renovados votos de felicidades. Marcamos encontro para daqui a um ano neste mesmo local.

Recebe um abraço da Tertúlia
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 9 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6665: Parabéns a você (128): Mensagens para a Tertúlia (José Firmino / Manuel Maia)

domingo, 11 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6718: Memória dos lugares (92): Contuboel e o meu amigo Braima Sissé (Eduardo Costa Dias)



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Contuboel > 16 de Dezembro de 2009 > O João Graça, médico e músico, posando ao lado do dignitário  Braima Sissé. Por cima deste, a foto emodulrada de Fodé Irama Sissé, um importante letrado e membro da confraria quadriyya [, islamismo sunita, seguido pela maior parte dos mandingas da Guiné; tem o seu centro de influência em Jabicunda, a sul de Contuboel; a oputra confraria, tidjanya, é seguida pela maior parte dos fulas]. O Braima Sissé foi apresentado ao João Graça como sendo um estudioso corânico, filho de uma importante personalidade da região, amigo dos portugueses na época colonial [, presume-se que fosse o próprio Fodé Irama Sissé].

Foto: © João Graça (2009). Direitos reservados


1. Mensagem do nosso amigo Eduardo Costa Dias, professor e investigador do ISCTE:

Luís:

Hoje estive no teu blog... e encontrei esta foto tirado pelo teu filho em Contuboel (*). Foi um choque. Não resisti: mando-vos duas fotografias do meu amigo Braima Sissé. Uma de 1992 tirada por mim, outra tirada por alguém em 1975 ou 1976.

Na mais antiga está ao centro o mesmo senhor cuja fotografia foi captada pelo teu filho: Fodé Irama Sissé, um importante letrado e membro da confraria quadriyya. Nesta mesma fotografia Braima está à direita de chapéu vermelho, atrás de Fodé Irama está o meu amigo Sissau Sissé (já falecido) e "vestido à civil" Malan Sissé que foi quem em Bissau me mostrou a fotografia e me deixou tirar fotografia da fotografia. Entre Malan e Braima está Arafan Conte, aluno de Irama. Conheci toda esta gente.

Já agora o teu filho tem mais destas fotografias - de Contuboel, claro?!!

Um grande abraço

Eduardo

Braima Sissé. 1992. Autor da foto: ECD 

Foto: Eduardo Costa Dias (2010). Direitos reservados



Fotografia de fotografia, de autor desconhecido, datada provavelmente de 1975/76. Cópia: Cortesia de Eduardo Costa Dias (2010).

 Legenda: Ao centro, Fodé Irama Sissé.  O Braima Sissé está à direita,  de chapéu vermelho; atrás de Fodé Irama,  está Sissau Sissé (já falecido) e, "vestido à civil",  Malan Sissé que foi quem em Bissau me mostrou a fotografia e me deixou tirar fotografia da fotografia. Entre Malan e Braima está Arafan Conte, aluno de Irama. (ECD).

____________

Nota de L.G.: 



Guiné 63/74 - P6716: Estórias do Juvenal Amado (29): Depois do meu regresso, ou o homem que num certo dia teve três mães

1. Mensagem de Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74), com data de 8 de Julho de 2010: 

Meus caros Luis, Carlos, Magalhães, Virginio e restante Tabanca Grande
É um estória que escapa ao que se entende por relatos da nossa passagem pela Guiné e os caminhos que lá nos levaram.
Qualquer dos factos podem com alguma alteração de redacção serem comprovados.

É a minha vida após o regresso, são os lugares que passei a frequentar e as pessoas que para além de alguns odores desconfortáveis, me acabaram por enriquecer.
Na aldeia de Boavista casei e morei mais de vinte anos, mas entenderei como legitimo a não publicação no blogue desta estória.

Um abraço
Juvenal Amado



DEPOIS DO MEU REGRESSO OU HOMEM QUE NUM CERTO DIA TEVE TRÊS MÃES

O Zé Lourenço quando regressou de Angola, foi a casa dos meus pais e admirou-se de eu ainda não ter regressado, uma vez que tinha embarcado para a Guiné primeiro. Penso que o meu atraso deu azo a que se fizesse conjecturas sobre algum castigo que eu tivesse por lá levado. Os vinte e sete meses custavam a engolir pelas pessoas conhecidas, não sendo poucas as vezes que a minha mãe, vislumbrou alguma dúvida nos olhos de quem por mim perguntava.

– Oh Dona Nita parece impossível tanto tempo! - pois é Dona X não sei porquê este atraso – primeiro diziam que eram 21 meses depois 24 e agora já ultrapassou os 25 e não há forma de saber com certeza, quando o mandam embora.

Não sabiam na verdade, que as rendições dos Batalhões se tinham atrasado a partir do momento em que o comando militar, tinha criado novos destacamentos na mata do Morés. Um Batalhão novinho em folha, foi pois atirado aos «bichos» e segundo se dizia só saíam das valas às vezes, tal foi a recepção que tiveram por parte do IN, que não gostou da intromissão. O meu amigo de infância José Eduardo, foi um desses felizardos mas a verdade, por nosso afastamento social e profissional, nunca com ele comentei esses episódios.

Mas voltando ao Zé Lourenço, que com quem andei na escola primária da Vestiaria, mais tarde fizemos a recruta e especialidade juntos, acabou por vir a casar com uma moça da mesma terra que a minha futura esposa. Por uma daquelas bocas que se querem engraçadas, acabei por não ir ao seu casamento.


O que não teve graça nenhuma

Quando regressei, fui convidado para todos os casamentos de jovens conhecidos. Ia eu já no 4.º ou 5.º disse em ar de gozo ao Zé, que deixava de falar ao próximo gajo que se casasse e me convidasse. Resultado ele não percebeu a brincadeira e não me convidou. No entanto a amizade manteve-se, as nossas filhas foram amigas, andaram na mesma escola, até também elas rumarem para os seus curso e suas vidas profissionais.

Nos bailes da Boavista, onde era local de namoro obrigatório e consentido, depois da série dançante com as respectivas namoradas, bebíamos uma cerveja e dávamos dois dedos de conversa, até que éramos interrompidos por aquelas personagens que existem em todos os lugares, que com o buxo sempre atestado de tinto, não tendo a quem pregar as secas, facilmente se aproximavam de nós, novos na terra a não querer causar má impressão.

Esta personagem era de todos bem conhecida.

Lá ouvíamos por vezes sem saber bem o quê, pelo o meio dos vapores do vinho, que para este apreciador mesmo quando já quase vinagre dizia muito sério, que ainda só tinha um leve pique.

Mas este homem era também dono de uma vontade muito própria, manifestava um critério nas amizades verdadeiramente surpreendente.
Tinha uma lista de convidados para o seu próprio funeral.

Assim mercê de lhe ser negado um copo de vinho, logo o responsável pela negativa, era riscado da famosa lista de convidados para o seu funeral, que era por sua vontade como atrás narrei, só para convidados a quem ele dava a honra dessa deferência.

Quanto a borrachos estava a pequena aldeia bem recheada. Famosos como o Zé da Ribera, os irmãos Júlio e Mário auto-intitulados como artistas da enxada, bem como alguns mais comedidos e discretos no acto de emborcar copos de 3.

Também largamente falado foi o senhor Coelho que todos anos enchia o barril, que acompanharia o seu próprio funeral. Dizia ele que se passava muita sede a empurrar a carreta pelo carreiro de pedras soltas, com subidas de fazer recuar os mais afoitos, desde a Boavista até ao cemitério dos Prazeres de Aljubarrota e que ele não queria, que tal acontecesse no seu enterro.
Assim se fez quando ele faleceu, o cortejo parou por diversas vezes no caminho, para os acompanhantes beberem do falado pipo um copito e alguns deles acrescentaram ao Ahhhh de satisfação estalando a língua, que a pinga não era nada má naquele ano.

Os enterros também eram famosos, por o padre se queixar de que só as mulheres é que apareciam na igreja. O cortejo fúnebre quando chegava ao largo da igreja, os homens ia recuperar das agruras da caminhada, numa taberna mesmo ao lado e deixavam para as mulheres, o piedoso cerimonial do corpo presente.

Motivo de muitas falas, foi um dia o Júlio resolver trocar os ditos copos de vinho, por copos de leite a acompanhar invariavelmente uma fatia de torta.
O facto deixou a Maria Augusta dona da taberna, café, mini-mercado sem fala e digo já, que era coisa difícil se não quase impossível.

Ficaram assim para sempre gravados para a posteridade, os dois acontecimentos.

Algum valor teve a troca que o Júlio fez, pois os outros já marcharam pelo tal caminho hoje arranjado e o Júlio ainda cá bebia o seu copo de leite há pouco tempo.

Mas voltemos ao Mário Gomes, que me tinha mais uma vez apanhado numa ida ao bar para beber uma cerveja.

Muito chegado a mim, perfumando-me com aquele bafo acompanhado de perdigotos, lá ele entendeu dar-me mais uma palavrinha para mal dos meus pecados.

Juro que não percebia nada do que ele dizia e ao mesmo tempo levantava a cabeça, a ver se alguém me salvava. O Zé ria-se a ver a minha aflição. Nisto a minha namorada percebeu - mais esse favor lhe fiquei a dever - e vem em meu auxílio, dizendo que estava a dar uma música para nós dançarmos.
Ele olhou para ela, fez um ar entre o meio alcoolizado e meio maroto, deitou-me para cima um bafo, que se eu fosse escanção rapidamente separaria por anos mais de cinquenta colheitas, abraçando-me, disse-me:

- Sabe o meu amigo, que logo no dia do meu casamento tive um prenúncio de que ia ser muito feliz?

Perante o meu ar incrédulo acrescentou.

– É que eu tive três mães nesse dia.

-Uma foi a minha mãe, que a chorar me chamou querido filho, a outra foi a minha sogra que me também tratou por filho e por fim a minha mulher, que às tantas da noite, também me disse ai filho!

Fui dançar, mas não parei de rir toda a noite e ainda falo nisso com o Zé.

Não me lembro de ter ido ao seu funeral, embora estivesse convidado.

Juvenal Amado
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 1 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6668: Estórias do Juvenal Amado (28): Ele voltará a crescer, ou a entrada na vida militar

Guiné 63/74 - P6715: Notas de leitura (129): Sobre a Unidade no Pensamento de Amílcar Cabral, de Sérgio Ribeiro (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso Camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Julho de 2010:

Queridos amigos,
A minha preocupação é de procurar proceder ao levantamento da documentação que interesse a todos, aqui e na Guiné.
Não entender o que foi esta unidade, até ao extremo da irracionalidade, é não querer perceber as causas remotas e próximas da ruptura entre a Guiné e Cabo Verde.

Um abraço do
Mário


A questão da unidade no pensamento de Amílcar Cabral

por Beja Santos

O ensaio “Sobre a Unidade no Pensamento de Amílcar Cabral”, de Sérgio Ribeiro (Tricontinental Editora, 1983), aparece hoje completamente datado e provavelmente com reduzido interesse histórico e político, sobretudo se se pensar que são remotas as hipóteses de uma união política entre Cabo Verde e a Guiné-Bissau. Ninguém desconhece que Amílcar Cabral invocara uma unidade mítica entre a Guiné e Cabo Verde para justificar um PAIGCV que a uma só voz e com uma só direcção representasse a luta libertadora das duas regiões. Digo unidade mítica na medida em que a aproximação da história e da sociedade tiveram um peso limitado, o que já não sucedeu com a economia das duas regiões, desde o povoamento de Cabo Verde que as relações económicas foram importantes, embora convenha prevalecer usando a expressão “Senegâmbia”, que é geograficamente mais ampla que a Guiné. A colonização de Cabo Verde não foi exactamente a que veio apregoada nos manuais do PAIGC: basta pensar na legião de judeus que o poder régio aqui desterrou. O arquipélago foi predominantemente, conheceu uma elevada taxa de alfabetização, dotou-se de uma língua veicular própria, ganhou identidade na música, na gastronomia, nas festividades, na literatura. É facto que a administração da Guiné teve historicamente uma presença elevadíssima de cabo-verdianos que, regra geral, conservavam os seus usos e costumes e não escondiam que se sentiam estatutariamente superiores. Durante décadas, desde a formação do PAI, nos anos 50, até à separação dos dois países, pretendia-se iludir as duas realidades à sombra de uma libertação que era entendida por Amílcar Cabral e os seus próceres cabo-verdianos como uma causa comum e alvo de unidade na acção. Após a ruptura de 1980, alguns intérpretes vieram dizer que afinal o pensamento de Amílcar Cabral no que tocava à unidade dos dois países tinha um alcance muito mais amplo do que alguns pretendiam: unidade africana, unidade combativa, unidade como meio e não como fim, unidade orgânica, etc.

O texto de Sérgio Ribeiro é um apanhado de reflexões que ele apresentou num simpósio dedicado a Amílcar Cabral, 10 anos depois do seu assassinato.

Cabral distinguia “unidade africana” (unidade a favor dos povos africanos, um meio e não um fim, uma construção, que ele encarava como uma cooperação e de acordo com a independência política e a coexistência das razoes de Estado) da “unidade Cabo Verde – Guiné” (prática revolucionária capaz de levar à libertação nacional, justificada pela natureza, história, geografia e até sangue). Escreve Sérgio Ribeiro para Amílcar Cabral que o problema desta unidade não existia, o que existia era o problema da união orgânica dos povos da Guiné e Cabo Verde, como fundamento nos laços de sangue e nos laços históricos que ligam esses povos. Goste-se ou não, foi desta análise enviesada (para não dizer completamente deturpada) que nasceu uma unidade que nunca existiu. O facto de ter havido, em meados do século XVI, um capitão geral nas ilhas de Cabo Verde e na Guiné, uma mesma organização e administração que se prolongou até 1889, de modo algum pode querer significar uma ligação histórica com vínculos poderosos a todos os níveis: os escravos vindos da “Costa da Guiné” não vinham todos da Guiné actual; a população das ilhas de Cabo Verde não provinha esmagadoramente da Guiné actual (aliás, mesmo que essa fosse a proveniência, a cultura sulcou, ao longo de séculos, distinções absolutas de que a religião, a língua e as atitudes civilizacionais passaram a ter um peso dominante.

Sérgio Ribeiro invocou um trabalho elaborado em 1980 para inventariar a proximidade de razões da história próxima, falando de comércio externo da divisão internacional do trabalho e da complementaridade que era desejável para essas duas economias que se julgava que iriam ficar planificadas, propondo mesmo uma união económica para essa complementaridade que pudesse ser forjada pelos panificadores. A história encarregou-se de separar os dois povos também pela abolição de economias planificadas.

Fica o registo, ainda há muito a escrever sobre esta unidade mítica que teve na sua base a contingência de os principais líderes do PAIGCVC terem sido de proveniência cabo-verdiana. Querer fingir que este problema não existiu só serve para esconder a realidade da história dos dois países.
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 10 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6707: Notas de leitura (128): A Libertação da Guiné, de Basil Davidson (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P6714: Tabanca Grande (229): Artur José Miranda Ferreira (ex-1º Cabo Enfº da CCAÇ 6 – Bedanda -, 1968/70

1. Mais um Camarada se apresenta nesta Tabanca Grande, o Artur José Miranda Ferreira (ex-1º Cabo Enfº da CCAÇ 6 – Bedanda -, 1968/70, que nesta sua primeira mensagem nos enviou uma reportagem fotográfica do seu álbum de memórias:

1 - Bedanda > 1970 > Pessoal da companhia com o célebre “Duo Ouro Negro


2 - Bedanda > 1969 > Eu, em frente ao posto de comando

3 - Bedanda > 1970 > Eu, em cima de um bagabaga


4 - Bedanda > 1969


5 - Bedanda > 1970


6 - Bedanda > 1970 > Eu e 2 camaradas a tirar água do poço na tabanca


7 - Bedanda > 1969> Eu, na tabanca a pilar arroz


8 - Bedanda > 1969 > Eu, à saída do abrigo


9 - Bedanda > 1969> Eu, junto do morteiro de 60 mm

10 - Bedanda > 1970 > Eu, numa chegada do mato

11 - Bedanda > 1969 > Eu no dia em que fui ferido numa perna


12 - Bedanda > 1970 > Eu numa saída para o mato


13 - Bissau > 1969


14 - Bissau > 1969
2. O Artur José Miranda Ferreira da CCAÇ 6, não está sozinho nesta nossa tertúlia, pois já se encontram 5 elementos, entre nós, na Tabanca Grande, da sua Companhia:
O Vasco Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto, o nosso Camarada Mário Silva Bravo (ex-Alf Mil Médico), o Carlos Azevedo (ex-1.º Cabo At inf), o Hugo Moura Ferreira (ex-Alf Mil At Inf) e o Carlos Ayala Botto (hoje Cor Cav, na situação de reforma, que foi Comandante desta magnífica Companhia).

3. Amigo e Camarada Artur José Miranda Ferreira, em nome do Luís Graça, Carlos Vinhal, Virgínio Briote e demais tertulianos deste blogue, quero dizer-te que é sempre com alegria que recebemos notícias de mais um Camarada-de-armas, especialmente, se o mesmo andou fardado por terras da Guiné, entre 1962 e 1974, tenha ele estado no malfadado “ar condicionado” de Bissau, ou no mais recôndito e “confortável” bura… ko de uma bolanha.

Tal como o Luís Graça já referiu inúmeras vezes, em anteriores textos colocados em postes no blogue, todos aqueles que constituíram a geração dos “guerreiros” do Império, temos alguma coisa a contar para memória futura e colectiva, deste período sangrento da História de Portugal, que foi a Guerra do Ultramar.

Foram 12 anos de manutenção de um legado histórico (cerca de 500 anos de permanência), à custa de muito sacrifício, privação de toda a ordem, dor, sangue, sofrimento, morte…

Como se não tivesse bastado, continuamos a sofrer, pelo menos psicologicamente, nos últimos 36 anos com o modo como os políticos portugueses nos tratam. Nós que, nos nossos 21/22/23 anos, demos o nosso melhor, como podíamos e sabíamos, muitas vezes mal treinados e armados, sabe Deus como alimentados e enfiados em autênticos buracos, feitos no lodo, embebidos em pó, lama, suor, etc., completamente hostis e perigosíssimos, sob vários aspectos, onde, além dos combates com o IN, enfrentávamos as traiçoeiras minas e armadilhas, as doenças a apoquentar-nos (paludismos, disenterias, micoses, etc.) e as nossas naturais angústias e temores, próprios das nossas tenras idades.

Nós até nem pedimos muito além de respeito e dignidade, que todos nós merecemos pelo que demos a esta Pátria, queríamos, e continuamos a querer, no mínimo, que os nossos doentes, física e psicologicamente, sejam tratados condigna e adequadamente, e o tratamento e acompanhamento dos mais carenciados e abandonados pela “sorte” da vida.

Oferecendo-te então as nossas melhores boas-vindas, ficamos a aguardar que nos contes episódios da tua estadia na Guiné, que ainda recordes (dos locais, das pessoas, seus hábitos e costumes, dos combates, dos convívios, etc.) e, se tiveres mais fotografias daquele tempo, que nos as envies, para as publicarmos aqui.

Recebe pois, para já, o nosso virtual abraço colectivo de boas vindas.

Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2010). Direitos reservados.

Fotos: © Artur Ferreira (2010). Direitos reservados.
_____________
Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

10 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6709: Tabanca Grande (228): António Branco, ex-1.º Cabo Reab Mat da CCAÇ 16, Bachile, 1972/74

Guiné 63/74 - P6713: Memória dos lugares (91): Tabatô, tabanca antiga de Djacancas, berço de didjius, terra de Kimi Djabaté (Pepito)



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Carta de Bafatá 1/50000. Detalhe: localização de Tabatô (rectângulo a azul), no canto superior direito. No canto inferior esquerdo, temos (também assinalada a azul) a localidade de Comuda, no ponto em que a estrada que vem de Bafatá se divide em duas: uma que segue para norte, para a fronteira com o Senegal, via Contuboel; e outra que se dirige para o leste, via Nova Lamego (Gabu).

Imagem: Luís Graça (2010).




Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Tabatô > Músicos do clã de Kimi Djabaté.


Foto (editada por L.G): © João Graça (2009). Direitos reservados.


1. Resposta do Pepito (AD, Bissau) a um pedido meu, de esclarecimento, sobre a localização e a história de Tabatô:

Luís

Tabató é uma tabanca muito antiga e sempre foi conhecida por ser uma povoação de djidius, isto é cantores, mas cantores que andam de tabanca em tabanca contando a história passada, os feitos individuais e colectivos marcantes e, desta forma, asseguram às novas gerações o conhecimento do passado.

Não me recordo o nome deles na Europa, mas andará à volta de jograis ou trovadores.

Alguns são contratados para enaltecerem as qualidades reais ou fictícias de certas pessoas.

É natural que não conheças esta tabanca, uma vez que se situa depois do cruzamento para Contuboel (de quem sai de Bafatá para Gabú), e a cerca de 5 Km da tabanca principal.

É uma tabanca de Djacancas, etnia aparentada aos Mandingas.

abraço
pepito

2. Comentário de L.G., com data de 9 do corrente, ao poste de  8 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6695: Memória dos lugares (82): Bafatá, Tabatô, Tabaski 2009:Não há preto nem branco, somos todos irmãos, disse a Fátima de Portugal numa cadeia de união... (Catarina Meireles)


Devo dizer, com toda a sinceridade, que nunca ouvi falar da Tabatô, durante a guerra colonial. Nem nunca fui para os lados do Gabu.

Foi o meu filho que me contou a sua experiência ímpar. Passou lá uma noite a curtir a música afromandinga e a tocar também world music para os seus novos amigos...

Tabatô, a aldeia de Kimi Djabaté, é agora a tabanca mais famosa da Guiné-Bissau. É já um lugar mítico, nomeadamente para a malta nova, que não vai em "turismo de saudade", à procura de lugares e restos do passado, vai à descoberta do futuro, desse continente do futuro, que é a África... E quer ajudar a construir também esse futuro...

Não sei se Tabatô existia no tempo da guerra colonial... Já pedi ao meu amigo Pepito para saber da história da aldeia...

_____________

Nota de L.G.:

Vd. poste anterior desta série > 10 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6706: Memória dos lugares (83): Mais postais ilustrados (Parte I): Nova Lamego (ou Gabu) (Agostinho Gaspar)

Guiné 63/74 – P6712: Histórias do Jero (José Eduardo Oliveira) (33): Na Guerra e na Paz… Até ao Fim…




1. O nosso Camarada José Eduardo Reis de Oliveira (JERO), foi Fur Mil Enfº da CCAÇ 675 (Binta, 1964/66) e enviou-nos a seguinte mensagem, com data de 8 de Julho de 2010:
Camaradas,
Acreditem ou não o grande responsável por esta minha longa ausência do blogue, do "nosso" Luis Graça e Camaradas da Guiné... é o Magalhães Ribeiro.
Passo a explicar. Estou há 11 meses como blogger... sendo ele, meu amigo e irmão, o grande responsável por este vício que me meteu no corpo em Agosto de 2009 a quando das suas férias na Nazaré.
Já atingi as 270 postagens e já tenho "fregueses" que na rua me interrogam quando passo uns dias sem novas postagens... Estou feito...
Quando puderem espreitem em: http://jeroalcoa.blogspot.com/
Assim o tempo é cada vez é menos. Vamos lá ver se consigo recuperar nas férias...
Segue um texto que se algum mérito tem é ser real e ter acontecido há dois dias, para os lados de Vila Nova de Famalicão...
Quando lerem o texto perceberão porquê...


NA GUERRA E NA PAZ… ATÉ AO FIM…
Álvaro e Francisco foram em vida irmãos.
Ambos já faleceram e estão sepultados na terra da sua naturalidade. Faleceram em tempos diferentes e, por motivos diferentes, também muito longe de Vila Nova de Famalicão.
O Álvaro em Binta, no norte da Guiné e o Francisco no Hospital de Cochin, em França.
Estão sepultados no Cemitério da Antas S. Tiago, numa nas entradas de Famalicão.

O Álvaro morreu na Guerra do Ultramar.
Morto em combate em 28 de Dezembro de 1964 na “quadrícula” da sua Companhia na região de Caurbá, a poucos Kms do aquartelamento de Binta, Norte da Guiné.
Nessa altura eu estava por perto pois pertencíamos à mesma “família”. A Companhia de Caçadores 675, então no mato desde Julho de 1964.Ele regressou à sua terra natal para ser sepultado nos primeiros dias de Dezembro de 1965.
Passaram desde essa data fatídica cerca de quarentas e cinco anos.
Na minha memória, e ao longo de toda uma vida, o Álvaro continuou – continua – a ser o meu “irmão” dilecto dos tempos da guerra.
O seu irmão Francisco, que conheci fugazmente muitos anos depois da morte do Álvaro, num encontro casual no Hotel D. Carlos, em Lisboa, faleceu agora, com 69 anos, em 1 de Julho corrente no Hospital de Cochin, em Paris.
Estive presente no seu funeral , na terra da sua naturalidade, em 8 de Julho de 2010.

Estive no seu funeral por diversas ordens de razões. Em preito à sua memória, em homenagem à família Vilhena Mesquita e em nome da minha C.Caç. 675, onde militou o seu e meu “irmão” Álvaro.
Eu e o ex-Alferes Belmiro Tavares, honrando a divisa da “675” «Nunca Cederá», estivemos presentes. Primeiro na guerra. Depois na vida e, sempre que possível, na hora da morte. Porque o sentimento fraterno que nos uniu na Guiné nos continua a unir e… nunca cederá.
Antes e depois das cerimónias religiosas do funeral de Francisco Manuel Vilhena Mesquita senti-me na obrigação de dizer a alguns dos seus familiares porque estava naquele dia em Vila Nova de Famalicão.
Disse-lhes que, com o devido respeito, estava ali “em nome” do Álvaro.
Na Igreja Matriz (Velha) de Famalicão soube pela Maria Teresa Vilhena Mesquita que tinha sido exactamente naquele local que tinha estado a urna do meu “irmão” Álvaro quando veio da Guiné. Em princípios de Janeiro de 1965.
Quarenta e cinco anos depois sentia-me “presente” no funeral do meu eterno amigo Álvaro Manuel, o primeiro do ramo desta família dos Vilhena Mesquita que a morte levou. Na flor da vida… com 22 anos de idade.
Quando em Maio de 1966 terminámos a comissão na Guiné o ex-Alferes Tavares e o ex-Furriel Oliveira tínhamos vindo a Famalicão para visitar a campa do Álvaro e conhecer os seus pais e irmãos.
Na tarde de 8 de Julho de 2010, durante o funeral do Francisco, olhei vezes sem conta a campa do Álvaro, situada a uns curtos 40 metros do jazigo da Família Mesquita.

O Álvaro e o Francisco continuam na morte próximos...
Sei que o Francisco me vai perdoar por nessa tarde de Julho ter estado tanto tempo com o Álvaro.
Até um dia Amigos.
Um grande abraço de Alcobaça
JERO
Fur Mil Enf da CCAÇ 675
___________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:

14 de Maio de 2010 >
Guiné 63/74 – P6386: Histórias do Jero (José Eduardo Oliveira) (32): Loureiro, Oliveira e passados…

sábado, 10 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6711: Ser solidário (79): Campanha para abrir 10 poços de água e construir 10 fontanários na Guiné-Bissau. Segundo poço em Medjo (José Teixeira)

1. Mensagem do nosso camarada José Teixeira, com data de 4 de Julho de 2010:

Caríssimos amigos.
Peço desculpa por estar a ser tão chato, mas... a causa é linda.

Vamos arrancar com a campanha de angariação de fundos para a abertura do segundo poço na mata do Cantanhêz.

A AD propôs que fosse em Medjo. Melhor que qualquer de nós, o Pepito sabe onde a necessidade é maior.

Vamos seguir em frente.

Peço o favor de passarem no blogue a informação que segue.

Abraço fraterno do
José Teixeira


Medjo

Campanha para abrir dez poços de água e construir 10 fontanários em tabancas no interior da Guiné – Bissau

Como tem sido dado conhecimento através deste blogue, a Tabanca Pequena – Grupo de amigos da Guiné-Bissau, tem vindo a desenvolver com a ajuda preciosa de alguns dos combatentes, um projecto que visa dotar 10 tabancas do interior da Guiné com água potável através da abertura de poços e a montagem de fontanários.

A construção do primeiro poço está em marcha em AMINDARA na Mata do Cantanhez.
É altura de pensarmos no poço seguinte.

Mais uma vez contamos com a ajuda da AD - Acção para o Desenvolvimento, que foi ao terreno e localizou outra tabanca que precisa de água potável, pois tem de a ir buscar a um lugar afastado e cuja qualidade em termos de saúde humana é duvidosa.

MEDJO ou Mejo, perto de Guiledge, uma tabanca que o General Spínola mandou evacuar em Meados de 1968, foi a tabanca escolhida.

Sei que há camaradas que estacionaram em Medjo. Outros passaram por lá em patrulhamentos. Eu ainda ouvi algumas vezes, quando estava em Mampatá, segundo me diziam os nativos, os rebentamentos nos ataques à povoação.

Agora vamos pensar seriamente em criar condições à população que ali vive para que a curto prazo tenha água potável, através do fontanário que ali vamos montar com a vossa ajuda.
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 9 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6702: Ser solidário (78): Campanha para abrir 10 poços de água e construir 10 fontanários na Guiné-Bissau. Primeira fase, Amindara (José Teixeira)

Guiné 63/74 - P6710: In Memoriam (48): Adelino da Silva Sineiro da CCAÇ 798, Gadamael Porto, 1965/67 (Vasco Santos)


1. O nosso Camarada Vasco Santos, ex-1º Cabo Op Cripto da CCAÇ 6, Bedanda - 1972/73 -, enviou-nos uma mensagem triste e fúnebre, em data de 11 de Julho de 2010, que passamos publicar:

Camaradas,

Embora não fazendo parte da Tabanca Grande, gostaria que publicassem a foto, em anexo, de um Camarada nosso que faleceu no passado dia 2.


Este meu pedido deve-se ao facto de este nosso Camarada ter sido meu amigo pessoal, ter cumprido, tal como nós, o seu Serviço Militar Obrigatório na Guiné, nos anos de 1965/1967 e, além disso, era o porta-estandarte da nossa Associação regional de ex-Combatentes da cidade de Vila do Conde.

Os dados que dele consegui reunir são:

Nome: Adelino da Silva Sineiro
Inicio da comissão: 27 de Abril de 1965
Fim da comissão: 8 de Fevereiro de 1967
Integrou a: CCAÇ 798
Localidade: Gadamael Porto

Que descanse em paz e aproveito para apresentar as sentidas condolências aos seus entes queridos.
Os meus agradecimentos.

Um abraço,
Vasco Santos
1º Cabo Op Cripto da CCAÇ 6

Emblema da colecção pessoal: © Carlos Coutinho (2010). Direitos reservados.
___________
Notas de M.R.:

Guiné 63/74 - P6709: Tabanca Grande (228): António Branco, ex-1.º Cabo Reab Mat da CCAÇ 16, Bachile, 1972/74

1. Mensagem de António Branco*, ex-1.º Cabo Reab Mat da CCAÇ 16, Bachile, 1972/74, com data de 7 de Julho de 2010:

Estimados editores
A vossa permissão para entrar nesta enorme e solidária tabanca

Sou o ex-1.º Cabo Reabastecimento de Material e fiz a minha recruta em Lisboa no antigo RAL1, depois fui fazer a especialidade no Entroncamento na CDMM de onde segui para Sacavém para a EPSM e de seguida mobilizado para a Guiné onde iniciei a minha comissão de serviço em rendição individual no período compreendido entre 5 de Junho de 1972 e 16 de Março de 1974 e foram meus comandantes de companhia o capitão José Mendes Fernandes Martins e o capitão Abílio Dias Afonso

Durante este tempo fui responsável pela arrecadação de armamento e fardamento da CCAÇ 16, sob a orientação do ex-2.º Sargento António Joaquim Guerreiro e fiz ainda uns part times no bar de sargentos e no bar de oficiais.

Agora, só mais umas notas pessoais: Sou natural de Lisboa onde nasci em 24-06-1950 e onde ainda resido.

Estou presentemente reformado após ter passado por um período de três anos desempregado e sem poder exercer a minha actividade na área do sector automóvel que iniciei com quatorze anos.

Na sequência da situação de desempregado, ocupei o tempo disponível melhorando o meu nível de escolaridade completando o ensino secundário e consequentemente entrei no mundo das novas tecnologias.

Foi assim que acedi ao blogue que faz já parte dos meus favoritos e que visito diariamente pois sou fã incondicional de tudo o que diz respeito à Guiné e muito particularmente ao Bachile e à CCAÇ 16.

E foi através desta enorme família residente na tabanca que decorridos 38 anos consegui encontrar lá longe na China o ex-Capitão José Martins, o ex-1.º Cabo Operador Cripto Miranda, o ex-Furriel Bernardino Parreira, o ex-Furriel José Romão e mais recentemente o ex-1.º Cabo Mecânico Auto João Pereira.

Espero enquanto é tempo e com a colaboração de todos vir a encontrar ainda mais camaradas para que possamos tantos anos depois, recordar uma experiência de vida extraordinária com um grupo de pessoas maravilhosas e numa terra que me marcou imenso e que adorei muito em particular o seu povo.

Não me alongo mais, prometendo que pontualmente irei recorrer à minha memória de forma a partilhar com os camaradas a minha experiência no Chão Manjaco de forma a contribuir para tornar o nosso blogue ainda mais rico.

A todos os camaradas, um forte abraço
A. Branco


2. Comentário de CV:

Caro António Branco
Ainda bem que decidiste fazer parte da tertúlia do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. O Luís tomou em ombros a feitura e manutenção deste blogue, mas para isso precisa da colaboração de todos nós, ex-combatentes e amigos da Guiné, que em conjunto farão história, estamos certos.

Queremos que nos mandes as tuas fotos, devidamente legendadas, e as tuas histórias para que as possamos publicar.

Fazer parte de uma Unidade de guineenses foi de certeza uma experiência riquíssima para ti. O teu contacto próximo com os naturais, e o facto de seres de rendição individual, deram-te uma visão diferente da dos militares que fizeram a sua comissão integrados nas suas Unidades formadas na Metrópole.
São essas impressões que queremos nos transmitas.

Recebe o tradicional abraço de boas-vindas que te mando em nome da tertúlia.
CV
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6680: O Nosso Livro de Visitas (92): A. Branco, CCAÇ 16, Bachile, chão manjaco, 1971

Vd. último poste da série de 8 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6696: Tabanca Grande (227): José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913 (Guiné, 1967/69)