quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7610: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (14): Em busca de uma imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres para Guiledje

Capelinha de Guiledje



Imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres no Convento de Nossa Senhora da Esperança, em Ponta Delgada, Ilha de S. Miguel.

Foto de CV

1. Da troca de mensagens que publicamos mais abaixo, podemos concluir que a recuperação da Capelinha de Guiledje está terminada, assim como a reconstrução de um oratório que ao tempo incluía uma imagem da Nossa Senhora e outra do Senhor Santo Cristo dos Milagres que o tempo fez desaparecer.

O nosso camarada e tertuliano Carlos Cordeiro, ex-combatente em Angola, mas muito ligado ao nosso Blogue e às coisas da Guiné, por intermédio de sua esposa, está a envidar esforços no sentido de encontrar uma imagem do Senhor Santo Cristo, alternativa à de então, já que quem as fazia já terá morrido.

Assim, graças a esforços conjuntos, se vai levando a efeito a reposição destes símbolos religiosos muito importantes para os Gringos de Guileje [os açorianos da CCAÇ 3477, que estuveram lá entre Nov 1971 e Dezembro de 1972, comandada pelo mais novo de sempre dos Capitães Milicianos, o nosso camarigo Abílio Delgado],  e demais Companhias açorianas que demandaram a Guiné durante a guerra colonial.








Fotos de Carlos Schwarz (Pepito) do oratório reconstruído no Guiledje


i. Mensagem de Pepito dirigida a Luís Graça, com data de 9 de Janeiro de 2011:

Assunto: Oratório reconstruído

Amigo Luís
O ano 2011 começa bem para Guiledje.
Com a ajuda do Grupo de Amigos da Capelinha de Guiledje, através do Manuel Reis, que doou em Agosto à AD os fundos necessários (590 euros) para a recuperação do Oratório, terminámos agora esse trabalho, procurando ao máximo conservar a sua forma original. Para isso muito contribuiu o Patrício Ribeiro que assegurou a construção do novo oratório e a sua montagem em Guiledje. Faltam apenas os retoques finais.
O mais satisfeito de todos nós foi o Domingos Fonseca que descobriu a imagem da Santa na véspera da chegada a Guiledje dos participantes no Simpósio. Fica a faltar a outra imagem que, pelos vistos, só existe nos Açores. Quem a vai doar?

Um grande obrigado aos Amigos de Guiledje.
abraços
pepito


ii. Dia 10 de Janeiro de 2011. Mensagem de Luís Graça para Manuel Reis

Cc: Amaro Samúdio; Carlos Cordeiro; ad bissau; Patrício Ribeiro
Assunto: Fwd: Oratório reconstruido

Grande Manel Reis:
Para teu conhecimento, em 1º lugar...
Depois publicamos e agradecemos de novos aos nossos "contribuintes"...
Os nossos parabéns aos nossos "tabanqueiros" Domingos, Pepito e Patrício pela obra realizada...
Atenção às questões de segurança...

Agora falta uma imagem do Santo Cristo dos Milagres...
Temos que mobilizar os Gringos de Guileje e demais amigos e camaradas açorianos... LG


iii. Mensagem de Pepito dirigida no dia 10 de Janeiro a Carlos Cordeiro

Cc: Luís Graça; Manuel Reis; Amaro Samúdio; Patrício Ribeiro
Assunto: Re: Oratório reconstruído

Caro Carlos Cordeiro
Da nossa parte, acho que vale bem a pena esperar mais um tempo. O que for necessário.
abraço
pepito


iv. Resposta de Carlos Cordeiro ainda no mesmo dia 10 de Janeiro

Óptimo, caros amigos.
Minha mulher já percorreu todos os antiquários e não há oratórios do Senhor Santo Cristo como o que lá estava. Era um senhor do Continente que os fazia, morreu e mais ninguém os faz naquele estilo. Há, naturalmente, imagens à venda com redomas de vidro ou sem elas. Não será a mesma coisa, mas, se aceitarem, podemos combinar o modo de conseguir fazer com que chegue a Guileje.
Podemos também aguardar mais algum tempo a ver se consigo por cá alguma como a que existia. Mas será sempre duvidoso conseguir-se.
Que me dizem? Tento durante mais algum tempo ou vejo uma outra solução?
E já agora: como a fazer chegar ao Pepito?
Um grande abraço,
Carlos Cordeiro


v. Mensagem de Luís Graça para Carlos Cordeiro

Cc: ad bissau; Patrício Ribeiro; Amaro Samúdio
Assunto: Re: Oratório reconstruído

Obrigado, Carlos, 

És um grande camarada e um grande açoriano... 
Vamos publicar as fotos e as estas trocas de mensagens.... 
Podem surgir outras ideias e sugestões... 
LG


vi. Resposta de Carlos Cordeiro a Luís Graça

Assunto: RE: Oratório reconstruído

Pois é, Luís, um grande camarada e um grande açoriano... com artrose da anca!!!
Um abraço amigo do
Carlos
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 24 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6893: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (13): Relação dos donativos recebidos até 26 de Junho de 2010 (Manuel Reis)

Guiné 63/74 - P7609: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (6): O Valente era mesmo valente

1. Mensagem José Ferreira da Silva* (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 12 de Janeiro de 2011, com mais uma das suas boas memórias da guerra.


Outras memórias da minha guerra (6)

O Valente era mesmo valente

Foi dos últimos a integrar a nossa Companhia. Chegou a Viana do Castelo antes duas ou três semanas de partirmos para a Guiné. Era muito franzino, branquito e sem barba. Não pesava mais de 50 quilos e teria uns 155 centímetros de altura. Até metia pena, pensar que aquele imberbe, também iria para a guerra. Porém, conforme se veio a verificar, a aparência não condizia com a realidade. Curiosamente, alguns dias depois, já ele tinha “presa pela beiça”, uma adolescente que trabalhava na nossa Pensão. Todavia, ele demarcou-se logo e fez questão de nos comunicar que era casado e que já tinha dois gémeos, (acabados de nascer). Inicialmente não acreditámos, mas viemos a confirmar que era verdade.

Pois o Furriel Valente, oriundo de Oliveira de Azeméis, foi um militar de primeira. Cumpridor, corajoso e abnegado, ele, temerariamente, surgia na frente de combate sempre que “elas” começavam a cantar. Foram vários os combates em que ele se destacou. Por isso era muito respeitado na Cart 1689, especialmente pelos seus soldados que o seguiriam até ao inferno, caso fosse preciso.

Silva, Valente, Faria e Jaime - Passeando na Av. de Bissau

Valente também era dançarino

Em Bissau, vindos de férias, O Valente triste no regresso a Catió

Em zona de combate era normal distribuírem-se rações de reforço, para as refeições. Eram diferentes das rações normais. Dizia-se que na contabilidade da Companhia as rações normais eram pagas como refeição normal e as outras não. Ora isto dava azo a um lucro jeitoso, mas isso não era tão mau para os militares que, como eu, até preferia as rações de reforço. O problema maior surgia quando, estando fora do quartel, tínhamos a percepção de que não regressaríamos mais cedo, para não reivindicarmos a refeição quente. Alguns barafustavam, em surdina, mas isso era perigoso.

Estávamos instalados no cruzamento de Camaiupa, perto de Cufar. A coluna auto de abastecimento a este quartel já havia terminado há mais de duas horas e, portanto, a segurança ao itinerário já não era necessária. Nós aguardávamos ali o regresso das viaturas que nos transportariam para Catió. Elas só sairiam ao nosso encontro, depois da ordem do nosso capitão, que estava ali sentado, segundo se suponha, a empatar o tempo. Era o período mais quente do dia e já passava das 14 horas. O Valente, como o alferes estava ausente, reclamava junto do capitão que estava muito calor e que deveríamos regressar. Porém, o capitão aconselhava a esperarmos mais um bocado.

- Meu capitão, saímos de madrugada, estamos cansados e o que queremos é ir embora, para tomar banho, refrescar e descansar – reclamava o Valente. – Pois todos nós também – refutava o capitão. E pouco tempo depois, voltava o Valente: - Mas, ó meu capitão, nós não queremos comer, porque já nem temos fome e não estamos aqui a fazer nada. Isto é que não tem jeito nenhum.

O capitão apercebeu-se, pelo apoio geral, de que o Valente estaria a mexer numa ferida sensível e não deixou agravar mais a situação. Virou-se para o Valente e disse-lhe num tom mais elevado: - Se Você está assim com tanta pressa, não quer ir andando? - pensando que o Valente se calaria.

- Pensa que temos medo, meu capitão? - Atenção à minha Secção – gritou logo o Valente - Formem aqui imediatamente. – E continuou: - Firme, Sê..ooope. Meu capitão dá licença? O capitão já estava de boca aberta ao ver a reacção, parecia não ter outra alternativa, e respondeu: - Sim. E o Valente ordena: - Esquerda, aaarche… E lá seguiram.

Do cruzamento de Camaiupa até ao quartel de Catió eram cerca de oito quilómetros, com perigo de emboscadas.

O capitão, já preocupado, accionou logo a mensagem para as viaturas começarem o movimento.
Todos nós ficámos também preocupados com a situação, embora existissem militares emboscados, ao longo da estrada, em alguns locais estratégicos e mais perigosos, para protecção à passagem das colunas auto.

Quando alcançámos o Valente já ele estava às portas de Priame, a povoação dos milícias comandados pelo João Bacar Jaló, encostada a Catió.

E quando os carros pararam junto deles para entrarem, tiveram a resposta: - Agora? F...-se!

Silva da Cart 1689
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 5 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7555: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (9): Piteira - O Rânger do Alentejo

Vd. último poste da série de 22 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7159: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (5): Até beber urina

Guiné 63/74 - P7608: Contraponto (Alberto Branquinho) (21): Ensinar/Aprender a ler


1. Mensagem do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 11 de Janeiro de 2011:

Caro Carlos Vinhal
Junto mais um texto para a série Contraponto, que, como se vê, não sendo "fora de série", tem o n.º 21.

Abraço
Alberto Branquinho




CONTRAPONTO (21)

ENSINAR/APRENDER A LER

Catió

O alferes conversava com um soldado milícia fula à porta da casa onde estavam instalados o capitão e os quatro alferes. A casa ficava próxima do cavalo de frisa que cortava o caminho que levava a Príame.
O soldado era um dos dois ou três preferidos do João Bácar Jaló. Era um homem magro, temerário debaixo de fogo, condecorado.

O alferes pediu ao soldado que contasse até vinte em fula e ele começou imediatamente com a lenga-lenga da contagem.

- Espera aí.

O alferes retirou uma agenda pequena do bolso da camisa e uma esferográfica.

- Diz lá outra vez, mas devagar.

O soldado começou e o alferes já escrevia. O soldado acelerou de novo.

- Pára! Diz lá – um, dois, três… Devagar.

E ia escrevendo.
Daí resultaram notas manuscritas, passando os sons a grafia corrente.

Acabada a cantilena da contagem e acabado o escrito, o alferes começou a ler. Ainda ia a meio de contar de um a vinte (em fonia fula) e já o soldado olhava o alferes, dando gritos de espanto: -Hi! Hi! Hi! Hi!

Chegado aos vinte, o soldado milícia afastou-se três ou quatro passos, olhando espantado o alferes, ao mesmo tempo que, no meio de gargalhadas, ia dizendo:

- Quê?! Alfero têm manga di cabeça dirêta!!!

Arrancou a agenda das mãos do alferes e, depois de observar as letras, tomou um aspecto sério e perguntou:

- Noss’alfero, bô ensina mim a ler? A mim faz essame, pass’á cabo e ganha manga di patacão. Suma Paulo.

Ficou combinado. Quando não houvesse saídas ou operações – todas as manhãs ali, no alpendre da casa.

Começou com o ensino das vogais. O alferes escreveu-as várias vezes no papel – a, e, i, o, u.

- Este é o “a”. Diz lá “a”. Então?

O soldado não entendia aquela “história” de ter que dizer “a”, depois”e”…, mas lá ia repetindo.

O alferes passou aos ditongos, tentando estimular o aluno.

- O “a” com o “i” – “a…i! - “ai”. Ora, diz lá: “a…com “i”-“ai”, “ai”.

Depois de olhar o alferes, meio desconfiado, lá veio o “ai”.

- Porreiro. Para escrever “ai”, junta-se o “a” com o”i”; “ai”. Diz lá: “ai”. Ele olhava o alferes, com ar relutante, parecendo estar a pensar: - Está a gozar comigo.

- E juntando o “a” ao “u”? Lê-se “a…u”, “au”. Diz lá “a…u”, “au”.

O alferes ia escrevendo as vogais e juntando os ditongos “ai” e “au”, ao mesmo tempo que os lia: “ai”, “au”, “ai”, “au”…

O soldado milícia olhava para o papel e depois para o alferes, com ar desconfiado e incrédulo.

- Diz lá.

- Quê, noss’alfero?

- “a…u” – “au”.

Olhava o alferes nos olhos, interrogativo.

- “ai”, “au” – pronunciava o alferes, apontando as letras com a esferográfica.

E ele, embora renitente:

- “ai”… “au”.

Levou como trabalho de casa escrever cinco vezes as vogais por baixo daquelas que o alferes escreveu no papel. No dia seguinte voltou com o trabalho feito. As cinco vogais estavam relativamente bem desenhadas.

O alferes continuou com o som das vogais, a escrita das vogais, a construção dos ditongos – ai, au, ei, ou…, mas o soldado milícia não dava mostras de satisfação.

Levou como trabalho de casa copiar cinco vezes os ditongos, por baixo dos que o alferes escrevera.

No terceiro dia apareceu sem… a folha dos ditongos.

- Noss’alfero… A mim cá pude… a mim cá tem

E afastou-se coçando o alto da cabeça, com a mão por debaixo do quico.

O relacionamento entre os dois nunca mais foi o mesmo. O soldado milícia passou a evitar o alferes.

Nunca mais conversaram como conversavam antes. A culpa foi daquelas brincadêra di minino com… vogais e ditongos.

Alberto Branquinho
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 9 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7409: Contraponto (Alberto Branquinho) (20): A granada de morteiro que veio jantar

Guiné 63/74 - P7607: Notas de leitura (187): Os Portugueses na Guiné, de Mário Matos e Lemos (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de11 de Janeiro de 2011:

Queridos amigos,
Estes apontamentos para uma síntese remete-nos obrigatoriamente para a questão da necessidade de termos uma actualizada história da Guiné Portuguesa, depois de René Pélissier não há nada no mercado que garanta uma boa visão de conjunto.A questão é tanto mais grave quanto a Guiné-Bissau, tirando apontamentos propagandísticos, na sua maior parte, não apresenta contributos suficientemente válidos que permitam a justaposição de olhares.
À consideração de quem direito (que devemos ser todos nós).
Um abraço do
Mário


Os portugueses na Guiné: uma boa síntese para o grande público

Beja Santos

Há várias histórias da Guiné bem como monografias, infelizmente o olhar do historiador tem-se orientado para outras preocupações e o grande público, na actualidade, não tem oportunidade de uma visão abreviada do que foi a história da Guiné entre os séculos XV e XX. Os apontamentos para uma síntese de Mário Matos e Lemos são, nessa perspectiva, uma obra de referência digna de atenção e merecedora de actualização (“Os Portugueses na Guiné, Apontamentos para uma Síntese”, por Mário Matos e Lemos, Crédito Predial Português, 1996).

O autor interessa-nos pelo essencial, a saber: o que era de facto a Guiné dos portugueses; que tipo de ocupação do território se exerceu nas costas da Guiné e o papel desempenhado pelos lançados e tangomaos; a Guiné, a escravatura e o comércio, a economia depois da abolição da escravatura; as lutas pela ocupação efectiva do território, com destaque para as campanhas de Teixeira Pinto; a economia da Guiné durante o período republicano; a Guiné o e Estado Novo; e a luta pela independência. Vejamos os dados mais salientes desta sinopse.

Primeiro, no Portugal do século XV o termo Guiné tinha um sentido mais amplo que hoje: designava a Terra dos Negros, por oposição à Terra dos Mouros. A Guiné dos portugueses era uma vasta extensão de costa que se estendia do Cabo Bojador para o Sul e conheceu várias designações – Costa dos Escravos, Costa do Ouro, Costa da Malagueta, Costa do Marfim. No século XVII, esta Costa da Guiné era toda a terra que se estendia do Cabo Verde (região do Senegal) até perto da Serra Leoa. Ainda no século XV começaram as viagens de particulares e está comprovado que em 1445 ou 1446 largou de Lagos uma caravela comandada por Álvaro Fernandes terá chegado à enseada de Varela, próxima do Cabo Roxo, onde os portugueses foram atacados. O interesse comercial da costa africana era um facto. Em 1469, o rei deu o monopólio do comércio africano a Fernão Gomes, concedendo-lhe toda a exploração de toda a costa da Guiné.

Segundo, a exploração da terra firme defronte das ilhas de Cabo Verde tornou-se uma realidade a partir do século XVII. Os lançados e tangomaos eram homens lançados no interior da costa descoberta, em busca de informações ou de contactos que permitissem estabelecer relações comerciais. Tangomao passou a ser sinónimo daqueles que eram enviados para obter informações sobre povos, lugares e rotas comerciais, incluíam aventureiros e renegados, fugidos à justiça. Tiveram um papel importante à volta dos portos e feitorias. Ainda no século XIX se falava dos lançados para os distinguir dos grumetes, estes últimos vão ter um papel preponderante a partir do século XIX sobretudo na praça de Bissau. Eles eram filhos da terra, eram mestiços, vivam seja ao lado dos portugueses, seja ao lado das suas etnias de origem. E o autor clarifica: “No século XIX, com o desaparecimento da escravatura, o sistema económico da Guiné modifica-se e intensifica-se a exploração agrícola – particularmente das oleaginosas, que tinham bom mercado na Europa – em propriedades que parecem ter surgido primeiro ao longo do rio Grande de Buba e cujos proprietários, nesta região, eram geralmente luso-africanos ou franco-africanos. São os Gans, unidades agro-comerciais e também unidades unifamiliares, mas uma família alargada, constituída pelo pai, pela mãe e pelos filhos que, quando rapazes, iam sempre que possível estudar para o estrangeiro, pelos trabalhadores e pelos meninos de criação, que eram crianças recebidas no Gam para serem educadas e provinham de outras famílias menos abastadas das praças ou das povoações em redor. Cada Gam, ou Gã, era conhecida pelo nome do seu proprietário: Gam-Turé, Gam-Sampaio, Gam-Teixeira, etc. Ainda hoje, na Guiné-Bissau, mas esvaziadas do seu conteúdo, se encontram povoações com esta designação, ou, até, simples lugares dentro de uma povoação.

Terceiro, a partir do século XVII a importância económica de Bissau passou a ser preponderante: foi criada a Companhia de Bissau, tendo sido confiada à Companhia de Cacheu e Cabo Verde a construção da fortaleza. Navios de vários países passaram a frequentar estas paragens. No século XVIII, o governador de Cabo Verde recebeu instruções para enviar soldados para Bissau, gente corrécia, como se comprovou. Passa a ser frequente remeter para Bissau todos os condenados de delito comum, vadios e desertores. A soberania portuguesa estava limitada na região a Ziguinchor, Farim, Cacheu, Bissau e Geba, mesmo com as fortificações em péssimo estado. As descrições do povoamento e ocupação de que dispomos são pouco abonatórias: militares poucos escrupulosos, tropas constituídas por degredados. Entretanto Bolama entra na história da Guiné, no século XVIII os ingleses interessaram-se pela posição, a questão da soberania da ilha vai arrastar-se por bastante tempo até regressar efectivamente à administração portuguesa no século XIX, depois da arbitragem do presidente Ulisses Grant, dos Estados Unidos.

Quarto, após a abolição da escravatura, a economia da região mudou de rumo mas as dificuldades pareciam insuperáveis não só devido aos constantes incidentes com os papéis de Bissau como as revoltas de outras etnias. Dá-se a separação administrativa de Guiné e Cabo Verde, a cobiça estrangeira é permanente, ocorrem vários desastres militares, fulas e mandingas sublevados acabam por chegar a um compromisso com as autoridades portuguesas. A convenção luso-francesa de Maio de 1886 define as fronteiras com as colónias francesas limítrofes. Perdeu-se definitivamente a região de Ziguinchor para os franceses que deram em contrapartida, o reconhecimento do protectorado português sobre uma larga faixa de território entre Angola e Moçambique. As lutas travadas na Guiné, tanto no século XIX como no século XX, espelham a fraca ocupação do território o mesmo é dizer a falta de soberania portuguesa. É verdadeiramente no dobrar do século que se desencadeiam acções contra os povos bijagós, os papéis, os grumetes de Bissau, os povos do Oio, etc., até 1936 foi um penoso tempo de campanhas, acordos, compassos de espera e ruptura de tréguas. Inegavelmente, as campanhas de Teixeira Pinto constituíram o momento alto da pacificação e da deposição de armas, mas só se pode falar de pacificação em todo o território a partir de 1936.

Quinto, o comércio evoluiu positivamente da Monarquia para a República aumentou o número de propriedades agrícolas, beneficiaram sobretudo os cabo-verdianos, os sírios e os libaneses; abriram-se vias no interior e a actividade comercial teve surtos de alento. No decurso da primeira guerra mundial aumentou a produção de arroz na Guiné e intensificou-se a exportação das oleaginosas. A Guiné irá ficar com uma das referências das revoltas republicanas durante o Estado Novo pelo seu levantamento de 1931. Entretanto a capital transfere de Bolama para Bissau, em 1941, segue-se um período em que a Guiné se transforma numa colónia modelo, no tempo do governador Sarmento Rodrigues.

O caminho para as independências teve natural reflexo na Guiné depois das independências da Guiné-Conacri e do Senegal. É uma história já bem conhecida que irá desembocar na proclamação unilateral da independência, em 24 de Setembro de 1973. Em 10 de Setembro de 1974, o governo português procedeu ao reconhecimento solene e formal da independência guineense. Em 14 de Outubro desse ano, o PAIGC entrou em Bissau. À frente, o tanque de Nino Vieira.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 9 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7575: Notas de leitura (186): Uma História de Regressos, de Margarida Calafate Ribeiro (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7606: Blogoterapia (173): Preciso de todos vós, velhos combatentes, que participam neste blogue, escrevendo ou simplesmente lendo-o (Manuel Joaquim)

1. Mensagem de Manuel Joaquim, ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67, com data de 12 de Janeiro de 2011:

Meu caro camarada, meu caro Carlos
Para já, a informação de que a mensagem de parabéns da Tabanca, com o maravilhoso cunho emocional do Miguel Pessoa, foi direcionada para o aniversariante, através do e-mail da filha mais velha (o JM não tem e-mail pessoal). Fiquei emocionado e acho que ele o irá ficar também.

Preciso de apresentar um pedido de desculpas a todos os camaradas, a começar pelo Luís Graça, que tomaram conta da "estória" do JM (ADILAN), pelo meu silêncio no seguimento da sua publicação. Não merecem este silêncio. Fiz mal não reagir de imediato e a intenção de responder "pifou"! Alguém da família "tomou posse" do computador durante algum, bastante, tempo (candidatura a um projeto europeu "oblige") e, só hoje, esta maquineta voltou para as minhas mãos, a sério. E, maravilha, voltou no momento preciso para o JM poder receber os parabéns da Tabanca Grande. Garanto que darei notícias dele e da passagem do seu 50º aniversário. Como sempre, a família irá reunir-se, em dia compatível, para festejar o seu dia de anos. Não será hoje, por impossibilidade prática.

Agora, esperam-me longas horas a pôr a comunicação em dia (e-mail, "luis graça e cam...", facebook, etc). Adivinha-se uma "direta". Para quem, eu há dois anos, não sabia "abrir" um computador, é obra. Quem é, quem é, o principal responsável por este progresso? Ora, quem há-de ser? - O blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné! Que me "obrigou" a aprender alguma coisa para poder comunicar com os meus queridos camaradas "tabanqueiros". Ainda sei pouco mas...

Por falar em "tabanqueiros", gosto das opiniões duns, não gosto das de outros, gosto assim assim das de alguns mas são-me todos muito queridos. Sinto em mim esta amorosa camaradagem cimentada na comunhão de vivências, na similitude de momentos críticos passados, nas emoções facilmente repartidas porque também fáceis de identificar na origem. Camaradagem cimentada, ainda, nas memórias dos nossos "vinte" anos passados numa guerra em que o "impossível" era possível, muitas vezes o foi, em que o lado pícaro da vida se misturava com a heroicidade pensada e organizada. Vivemos profundamente imersos no turbilhão de emoções gerado por estarmos vivos naquele meio, muitas vezes sem disso darmos conta, em que cada dia que passava era uma peça na ponte que era preciso construir para voltarmos ao ponto de partida, ao seio dos nossos entes queridos. Fomos heróis no palco da guerra, intérpretes de comédias, farsas e tragédias, fomos heróis na solidão dolorida de cada um, na angústia da sobrevivência como animal armado, sim, mas também como ser humano digno e solidário, fomos heróis na resistência ao infortúnio, fomos Heróis, pronto!!!

Não preciso de vos conhecer pessoalmente, amigos e camaradas, mas não o recuso e, por vezes, desejo-o. Basta-me saber que estão vivos e ter o prazer de vos sentir "vivos". Preciso de todos vós, velhos combatentes, que participam neste blogue, escrevendo ou simplesmente lendo-o. Há por aqui algumas "guerritas" que me divertem, a sério! Quanto às de caráter ideológico, cada um come do que gosta, o que é que se há-de fazer? - É lê-las e tomar partido (ou não). Um militante político, como eu, estaria "lixado da vida" se não respeitasse as ideias dos meus adversários. Quanto às de caráter pessoal, para lá de que não deviam vir para aqui, é lá com eles, os "beligerantes". Quanto às que surgem por contradições de memória, oh meus camaradas, admitamos que todos somos enganados por esta "danada". Está provado que a memória de um acontecimento não é igual para todos os que a ele assistem, no limite raramente é igual. Na minha vida de professor fazia este teste:

Levava a turma a presenciar determinado facto, escolhia alguns alunos para olharem com atenção de modo a relatarem, mais tarde, o que viram. Um de cada vez, sem a presença dos outros testados, contava à turma o que tinha visto. Não me lembro de, alguma vez, os seus relatos terem coincidido ou não terem sido emendados ou acrescentados por alguém da turma.

É por isso que eu não confio totalmente nas minhas memórias, principalmente se estiveram "arquivadas" durante muito tempo. É por isso que eu adoro este blogue que tem muitas chaves das minhas gavetas da memória. E tenho pena que a minha CCaç 1419 não tenha aqui mais representantes que terão, de certeza, algumas das minhas chaves perdidas.

Para ti, Carlos, querido "mansabeano" como eu (mais do que eu, só estive seis meses em Mansabá), um grande abraço. Para todos os "atabancados", eu incluído, que estejamos muito "vivos", seja em que área for da nossa vida! Saudações amigas.
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Notas de CV:

Vd. poste de Guiné 63/74 - P7597: Parabéns a você (201): Adilan, o menino que Manuel Joaquim trouxe da Guiné (Miguel Pessoa)

Vd. último poste da série de 12 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7600: Blogoterapia (172): Obrigado, camarigos, os melhores anos da minha vida são os que estão para vir porque os outros jamais voltam... (Rui Alexandrino Ferreira)

Guiné 63/74 - P7605: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (40): Na Kontra Ka Kontra: 4.º episódio




1. Quarto episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 12 de Janeiro de 2011:



NA KONTRA
KA KONTRA


 4.º EPISÓDIO

Continuam a inspecção, tendo o Alferes Magalhães manifestado interesse em ver a zona da fonte, tanto mais que a água que tinham recolhido na passagem pela tabanca de Umaro Cossé, era branca, parecia leite ou cal de pintar paredes. Descem a pequena encosta desembocando numa zona ensombrada onde mulheres lavam roupa. Por se ter passado duma zona com muita luz para a obscuridade o nosso Alferes tem alguma dificuldade em distinguir todos os vultos presentes. Porém um sobressai de imediato pelo seu porte altivo. Rapidamente os olhos do Alferes, forçados pelo desejo incontido, se adaptaram àquela luz difusa não precisando de antes ter fechado um olho como tinha aprendido na instrução no Quartel do Convento de Mafra. O que tinha à frente dele reportou-o por momentos ao tempo em que, na Escola de Belas Artes do Porto, tinha estudado a história da Grécia antiga e a perfeição das suas mulheres representadas na profusa estatuária da época.

Uma visão que fez o Alferes Magalhães recordar as mulheres da Grécia antiga.

Bajuda, sim, esta tinha que ser bajuda. Tomava banho. Como era costume mantinha só os panos de baixo. Bastava a parte superior do corpo, qual sereia, para enfeitiçar um marinheiro, neste caso um guerreiro. Antes que fosse tarde e se desvanecesse aquela imagem surreal o Alferes Magalhães sacou da sua Fujica e sem sequer pedir permissão, como era seu costume, dispara não em todas as direcções mas numa só. O João aproveita o momento e vai dizendo:

- Esta é a Asmau, filha do Adramane, Chefe de Tabanca.

O Alferes, absorto continua a contemplação. Nova interrupção do João:

- Não queria ver a nascente de água?

Como que sonâmbulo inteirou-se das condições, verificando rapidamente que com uma pequena escavação se conseguiriam encher os garrafões de pé. Sobem à tabanca e o nosso Alferes desculpando-se com afazeres relacionados com a sua acomodação retira-se, altamente atarantado, para a morança que lhe tinha sido destinada. (Trinta anos mais tarde, com uma qualquer máquina digital teria a possibilidade de sozinho, na morança, rever aquele corpo esbelto mas atlético, de olhar altivo e sorriso algo enigmático, qual figura de Da Vinci).

Totalmente ausente, só deu por si quando o Dionildo, o soldado que passaria a fazer de seu ordenança, o veio chamar para o almoço, bem à sua maneira:

- F… meu Alferes, não quer vir comer o c… do almoço?

Como que acorda. Passa um pouco de água pela cara e junta-se aos seus sete camaradas para comerem a primeira refeição, sobre os joelhos, à sombra de uma morança. A fome já era muita mas só por um lapso de tempo deixou de pensar no que agora já lhe parecia ter sido uma simples miragem.


O primeiro almoço em Madina Xaquili. O Dionildo que se viria a revelar totalmente marado, é o único sentado no chão, ao sol.

A seguir à refeição, nesse dia de princípio da época das chuvas, o calor húmido é insuportável. Todos se retiram para as moranças que lhe haviam destinado, para dormir a sesta. O nosso Alferes vai para a sua. Deita-se nu no colchão de espuma que tinha trazido e que colocara sobre a cama de esteira existente na morança, deixada pela família que antes lá vivera. Como que passou pelas brasas, mas não passou. Não podia passar. O seu estado de excitação era tal que se lembrou da esposa do Major Saraiva, em Báfata, que por um dia ter mascado cola andou três dias sem dormir. Tem a maior erecção da sua vida. Tinha ouvido ao médico que o priapismo em forma aguda até pode ser perigoso. Não era hora de haver lavadeiras na fonte. Aproveita o facto e vai tomar um banho de água fria da nascente. Fica mais calmo, no entanto precisa agora de tornar a ver aquela deusa.

A guerra não ia parar e o Alferes Magalhães a meio da tarde tem que reunir os homens, metropolitanos e africanos e, sempre de acordo com o Comandante da Milícia, João Sanhá, distribui as tarefas de cada grupo, para o dia seguinte. Prioritária é a abertura de dois abrigos, um para o morteiro, só o cano e 16 granadas (ah se o PAIGC soubesse disto…) e outro para a pouca população civil ainda existente na tabanca. Penduram-se as primeiras garrafas de cerveja vazias no arame farpado da vedação e ainda nesse fim de tarde se começam a destruir os enormes morros de baga-baga da zona desmatada, refúgio perfeito para os guerrilheiros durante um ataque. Aos metropolitanos são dadas instruções específicas, tal como: Nada de sexo, pois praticamente só havia mulheres grandes. Teriam que ser criativos, e foram, como mais tarde se veio a verificar. Como ainda não havia latrinas, quando fossem à mata teriam que levar um camarada armado, como segurança.

Chega a hora do jantar e a refeição já ia ser servida à mesa, então improvisada. Aqui, o Alferes Magalhães, devido ao seu estado de alma, a pairar nos ares como jagudi à procura de comida, comete uma imprudência que lhe podia ter ficado muito cara, no mínimo impedindo-o que à noite, no “bentem”, pudesse conduzir a conversa no sentido de obter informações sobre o fanado praticado na tabanca, sobre a idade de casar das bajudas, sobre cabaços e duma forma geral sobre tudo que o aproximasse da bajuda Asmau. Obsessão, efeitos do clima, ou muito simplesmente amor à primeira vista?

Fim deste episódio

Até ao próximo camaradas.
(Fernando Gouveia)
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 11 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7598: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (39): Na Kontra Ka Kontra: 3.º episódio

Guiné 63/74 - P7604: Facebook...ando (7): A terrível emboscada sofrida por uma coluna da CCS/BCAÇ 2912 (Galomaro) e CCAÇ 2700 (Dulombi) em 1 de Outubro de 1971, às 20h30, na estrada Galomaro - Duas Fontes (Bangacia)... (António Tavares / Carlos Filipe / Juvenal Amado / Américo Estanqueiro)



Guiné > Zona Leste > Sector L5 > Galomaro > BCAÇ 2912 (1970/72) > Em 1 de Outubro de 1971, duas secções da CCS do BCAÇ 2912, sediado em Galomaro, reforçadas por uma secção da CCAÇ 2700 (Dulombi), sofreram uma violenta emboscada, na estrada Galomaro-Duas Fontes (Bangacia), por ocasião de um patrulhamento nocturno.


Fonte:  © António Tavares (2011). Todos os direitos reservados




1. Esta foto, de uma viatura Mercedes calcinada,  foi colocada no Mural da Tabanca Grande, no Facebook, pelo nosso camarigo António Tavares (ex-Fur Mil SAM, CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), membro do nosso blogue desde Junho de 2009 (*) e que ainda recentemente reencontrei e abracei na Tabanca de Matosinhos, em 29/12/2010.


"Este infortúnio aconteceu na emboscada em Bangacia/Duas Fontes (Zona Leste do TO da Guiné) às 20h30 de 1 de Outubro de 1971 com feridos e 5 mortes no local e outra em Bissau": é a legenda do António... 


Por sua vez o Carlos Filipe (CCS/ BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74), acrescenta: "Em Janeiro de 1972 o acontecimento ainda era descrito, como se tivesse acontecido no dia anterior".



2. De facto, ficaram ecos desta terrível emboscada na memória dos vindouros. Leia-se por exemplo este excerto do poste nosso camarada Juvenal Amado (também da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74):


"Duas Fontes: local onde abastecíamos de água perto de Bangacia. Era um local que inspirava confiança, mas não podemos esquecer que essa mesma confiança custou a vida a seis camaradas do Batalhão antigo [, BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72,] que ali foram emboscados.

"Bangacia foi também destruída por um ataque durante a nossa comissão. Nós reconstruímos a povoação com ordenamento tipo Baixa Pombalina, com escola, posto médico e o PAIGC nunca mais atacou. Deve ter considerado que era uma coisa boa a manter para quando a paz chegasse. E tinham toda a razão".





Guiné > Zona Leste > Sector L5 > Galomaro > Dulombi > CCAÇ 2700 / BCAÇ 2912 (1970/72) >   Dos cinco mortos, no local, dois eram da CCAÇ 2700 (Dulombi): Sold José Guedes Monteiro, natural de Vila Real, mas sepultado em Marco de Canaveses, e 1º Cabo Rogério António Soares, natural de Nelas.

Na foto,  alinham-se os caixões que hão-de levar os restos mortais das vítimas... Mortos da CCS / BCAÇ 2912 (Galo): 1º Cabo Alfredo Tomás Laranjinha, de Lisboa; Sold Leonel José da Conceição Barreto, natural do concelho de Allbufeira; Sold Trms José Peralta de Oliveira, natural do Fundão; e ainda um quarto camarada, cujo nome não consegui apurar, que veio a falecer no hospital, em Bissau. (Informações recolhidas através da preciosa ajuda da lista dos mortos do ultramar, por concelho de naturalidade, constante do portal Ultramar Terraweb, criada e mantida pelo nosso camarada António Pires,  Ex- Furriel Mil Mec Auto, da CSM/QG, Região Militar de Moçambique, 1971/1973, a quem envio um Alfa Bravo).

Foto do álbum de fotografias do Américo Estanqueiro, ex-Fur Mil da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72), com a devida vénia ao autor e à editora, a Fundação Mário Soares (**).


Fonte:  © Américo Estanqueiro (2007) /
Fundação Mário Soares  (***).

_____________


Notas de L.G.:
(...) Em 1970/72 estive em Galomaro, dentro e fora do arame farpado tendo viajado por Bafatá, Bambadinca, Nova Lamego, Saltinho e muitas tabancas.


Tive sorte de nunca ter dado um tiro apesar de ter estado sob fogo e tido muitos sustos!


Amiga G3,  saíste da minha mão virgem e limpa conforme te recebi e com toda a certeza que me agradeceste o descanso que te dei durante 23 meses embora muitas vezes estivesses engatilhada para me ajudar!

Amiga G3,  foi desumano o transporte para Bambadinca dos nossos amigos defuntos caídos na emboscada da noite de 01-10-1971... e no regresso trazer 6 urnas para reserva...
(*)



Amiga G3,  vamos pertencer a uma Tabanca Grande, diferente das outras onde estiveste mas é bom recordar a História e Estórias dos ex-combatentes.(...)

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7603: In Memoriam (69): Homenagem ao Alf Mil OpEsp, Nelson Joaquim de Almeida Pereira Soares (Paulo Santiago/Abreu dos Santos)


1. Relativamente aos comentários adicionais inseridos no P7536, sobre a morte do Alf Mil OpEsp, Nelson Joaquim de Almeida Pereira Soares, em 26 de Outubro de 1971, o nosso Camarada-de-armas Abreu dos Santos, enviou a seguinte mensagem ao nosso Camarada Paulo Santiago, que foi Alf Mil At Inf CMDT do Pel Caç Nat 53,
Saltinho
, 1970/72, com data de 4 de Janeiro de 2011:

Assunto: Relativo a comentários adicionais ao p7536...
... apenas mais uma lembrança:
NELSON JOAQUIM DE ALMEIDA PEREIRA SOARES, alferes miliciano de artilharia - com o curso de operações especiais -, foi a título póstumo agraciado com uma Cruz de Guerra de 3ª Classe.
Cpts,
Abreu dos Santos

2. Em 5 de Janeiro, o Paulo Santiago respondeu do seguinte modo ao Abreu dos Santos:

... também outra lembrança
Na avenida mais central de Oliveira do Bairro, foi inaugurado, há poucos anos, um Monumento aos Mortos da Guerra do Ultramar onde consta o nome do Nelson Soares – Guiné - 26/10/1971. O monumento foi bem conseguido e é bem visível para as pessoas que por ali passam.
Abraço
Paulo Santiago

3. No mesmo dia 5 de Janeiro de 2011, Abreu dos Santos escreveu:

Paulo Santiago, caro amigo,
Grato pela info.

E fotos do Memorial, onde se podem obter?

Abraço,

Abreu dos Santos

4. Esta troca de e-mails, de que ambos por saberem que, tal como o falecido Nelson também eu fui um “Operações Especiais”, tiveram a amabilidade de me dar conhecimento, levou-me a pedir-lhes amigavelmente o seguinte:

Amigos Santiago e Abreu dos Santos,
Gostava com estas vossas informações (sobre o Memorial e a ficha do falecido), prestadas nesta vossa profícua troca de e-mails, desenhar mais um poste no blogue homenageando o alferes miliciano NELSON JOAQUIM DE ALMEIDA PEREIRA SOARES.
Aguardo as vossas melhores indicações para passar à acção.
Um abração Amigo para ambos de Amigo Eduardo MR

5 – O Abreu dos Santos respondeu positivamente em 6 de Janeiro:

Assunto: Relativo a comentários adicionais ao p7536...
Caro amigo Magalhães Ribeiro, co-editor do blogue dos Camaradas da Guiné,
Excelente ideia.
Por mim, 'nihil obstat' e... siga a marinha!
Abraço,
Abreu dos Santos

6 – O Paulo Santiago também respondeu afirmativamente no mesmo dia 6 de Janeiro:

Eduardo,
Penso tirar uma foto do Memorial na próxima semana, ainda há minutos passei junto dele quando fui a uma ATM.
Abraço
P. Santiago

7. Ontem, dia 11 de Janeiro o Paulo Santiago enviou uma mensagem e as prometidas fotos do lindíssimo Monumento construído em Oliveira do Bairro:

Assunto: Relativo a comentários adicionais ao p7536...
Olá Eduardo,
Aqui seguem três fotos do Memorial do Combatente em Oliveira do Bairro. Uma das fotos mostra o enquadramento, quatro colunas com o Memorial ao fundo do lado direito. Trata-se de uma peça em metal e acrílico, onde os nomes estão inscritos numa das faces metálicas. Devido à oxidação, não é muito fácil a percepção na foto, mas acho que se consegue ver o nome do Nelson Soares.
Abraço
P. Santiago

PARA TERMINAR ESTA SIMPLES MAS SENTIDA HOMENAGEM, PERMITA DEUS QUE NELSON JOAQUIM DE ALMEIDA PEREIRA SOARES E TODOS OS NOSSOS HOMENS FALECIDOS NO ULTRAMAR DESCANSEM EM PAZ!
____________

Nota de M.R.:

Vd. também os postes sobre esta matéria em:

31 de Dezembro de 2010 >

Guiné 63/74 - P7536: In Memoriam (67): Fur Mil Cav, CCAV 2749 (Piche, 1970/72), Armindo de Matos André, natural de Gavião, morto em emboscada na estrada Nova Lamego-Piche, em 26/12/1971,quando vinha em coluna, de Bambadinca, com os seus novos milícias... desarmados (Luís Borrega / Paulo Santiago)

4 de Janeiro de 2011 >
Guiné 63/74 - P7551: (Ex)citações (124): O Fur Mil Armindo de Matos André, faleceu no dia 26 de Outubro de 1971, vítima de ferimentos em combate, durante uma emboscada a uma coluna de reabastecimentos, em Oco Maunde, na estrada Nova Lamego - Piche (Luís Borrega)

Vd. último poste desta série em:

10 de Janeiro de 2011 >

Guiné 63/74 - P7587: In Memoriam (68): Na morte de Vitor Alves (1935-2010), um dos grandes capitães de Abril: Mensagem à sua filha, Ana Cristina Alves, sinóloga (António Graça de Abreu)

Guiné 63/74 - P7602: Memórias de Mansabá (12): No coração do Óio, bem perto do Morés (Ernesto Duarte / Carlos Vinhal)

 MEMÓRIAS DE MANSABÁ (12)

1. Mensagem do nosso camarada Ernesto Duarte, ex-Fur Mil da CCAÇ 1421/BCAÇ 1857, Mansabá, 1965/67, com data de 7 de Janeiro de 2011:

Quarenta e tal anos e Mansabá ainda aí estás, com toda a tua força

Caro Carlos
Que a tua vida e a dos teus continue a correr pelo melhor, são os meus sinceros votos, os meus pedidos aos céus.
[...]
Já vi a publicação, está espectacular, gostei de ver, embora quase tudo relacionado com aquele tempo me pareça, um sonho, ou um pesadelo, coisas que pouca diferença fazem, se fosse em Mansabá pedia, parece-me que era o que eu podia fazer, uma menção honrosa, que depois de investigado podia ir a louvor, e digo mais, revi uma montanha de coisas a correr, num segundo, e senti emoção, raiva, alegria e até a saudades, muitas saudades dos que partiram, dos que têm partido ultimamente, muito e muito obrigado Carlos.

Como bom miliciano, como bom homem de Mansabá ao pedir o favor da publicação foi um risco corrido, com plena consciência, era só e mais nada do que poder falar com alguém que fala a mesma língua do que eu, e possivelmente encontrar camaradas do mesmo ano e contar quatro ou cinco coisas que amanhã sejam lidas de outra maneira, que não sejam lidas como a maioria dos nossos contemporâneos as lêem, e que ao lê-las como realidade, como história viva, isto não é pretensão, muito menos falta de humildade, mas desejo que esse alguém, se torne um defensor da paz muito mais convicto, mas por outro lado tenho dúvidas que alguma coisa alguma vez funcione nesse sentido, mas lá vai, não é um alerta é um grito do fundo da alma guerra não, nunca mais.

Às vezes duvido se não está tudo a ser visto com um sinal contrário! Este ano apareceu no mercado uma espingarda e uma pistola metralhadora, aliás vários modelos, funcionando a pilhas, mas exactamente iguais às verdadeiras, em sistemas, em carregadores, e em cadencia de tiro e mesmo com balas plásticas, dentro dos 10 metros tinham uma eficácia muito boa, venderam-se milhões em Lisboa, com paginas na Net explicando tudo, com todo o pormenor.

O teu comentário, eu atrás de mim no OIO, só conheci os Águias Negras, que fizeram Cutia, tinha sido acabada de fazer poucos dias antes da nossa chegada e se em pormenores se a minha memória não falha, sofreram lá um ataque violentíssimo, e ficaram no terreno, mortos os primeiros dois ou três cubanos, e uma bazuca, tendo passado de se dizer que tinham, a confirmar-se que tinham. Chegados a Mansabá tínhamos água boa, tínhamos trincheiras, e aquele barracão com uma cama. Estavam a acabar Manhau, ainda fomos lá ajudar na decoração. Para aí uma semana antes da nossa chegada se tanto, tinham sofrido um ataque violentíssimo, tendem deixado no terreno um morteiro 82 rachado, parecendo que tinha rebentado uma granada dentro do cano, são os assuntos de fala na altura em que nós chegamos. A nossa chegada foi muito melhor com o apoio deles.

Mas aqui também não sei se não os prejudicamos mais do que ajudamos! Nós nunca conseguimos impor o tempo de guerra, as pessoas não compreendem isto, andamos quilómetros e quilómetros sem dar um tiro, sem ver ninguém e num repente, era a loucura. Eles aprenderam com todos os que foram antes e vocês já encontraram tipos não só com o conhecimento do terreno, mas já com muita técnica de guerra e uma principal, levando a luta para o sitio que lhes interessava e aquelas companhias de milícia que nós treinamos, para onde foram ?

Mamboncó, no sentido para Cutia à direita havia uma série de imbondeiros e era a descer um pedaço aí por 64 foram os F não sei quantos penso que do Montijo, pôr ordem na zona, deixando depois lá uns buracos, que no meu tempo foram limpos duas ou três vezes pela artilharia.

O senhor da serração no meu tempo era um fulano de idade, racista com uma criada cabo verdiana, eu gostava muito da tabanca andava sempre por ali e como tal e como eu gosto muito de conversar, conversamos muito, até ao dia em que nós não lhe trouxemos um tractor enorme de Banjara.

Tenho muitas duvidas se com a nossa maneira de ser, não passamos coisas de mais para o outro lado pensando que estávamos a fazer bem e se calhar muitas delas tiveram efeitos contrários, que deus nos perdoe porque a intenção foi sempre a outra.

O tipo mal acabado que estava em Mansabá em 65 e que eu me lembre era o Barata, não me lembro de mais nenhum, os outros sargentos eram bem acabados.

Carlos quanto a publicação de fotos, tu és o técnico eu só digo obrigado.

Vou parar mas volto, digo já faço alguma confusão com os palcos, eram todos muito iguais e naquele tempo as máquinas que tinham flash eram outras e havia quase sempre muita pressa.

Claro, quanto ao escrever mal, já não tenho idade para me preocupar muito, só me fica o respeito por vocês.

Um grande Abraço
Ernesto Duarte


2. Segunda mensagem de Ernesto Duarte, esta com data de 9 de Janeiro de 2011:

Herói, um fulano de coração grande que está no sítio errado na hora errada

Boa noite Carlos

Eu não jurei que vou encher a tua caixa de correio, até porque eu rebentava primeiro, mas como a língua Portuguesa é muito traiçoeira e mais quando não se sabe lidar muito bem com ela, que é o meu caso, gosto muito mais de números, mas como bom militar, que horror, mas como tipo de Mansabá, cá me vou adaptando.

Eu fui não sei quantas vezes, ponho-me residente em Mansabá, a Cutia, mas muitas e muitas vezes, passava-se aquela ponte, junta a uma ex serração, que levámos às costas, subíamos para Mamboncó por uma coisa chamada estrada, com tanto buraco ou tanto alto, nunca soube bem o que era, andava-se aquele pedaço, relativamente bom, Alto de Mamboncó ao fim descíamos por outro campo, que de estrada não tinha
nada.

Eu não acredito em heróis, heróis são fulanos muito homens, muito humanos, com grande espírito de sacrifício, abnegação, amor ao próximo, e um grande coração, e estando no sitio errado na hora errada, o que aconteceu com todos os que foram ao Ultramar. Estiveram no sitio errado na hora errada, para mim são todos heróis, ou Homens Grandes.

Eu falei naquele pedaço de caminho, eu sei que a Guiné infelizmente está cheia deles, mas aquele para quem passou pelo OIO conhece bem e pode avaliar o esforço gigantesco que era escoltar colunas por aquele espaço de estrada. E algumas colunas de abastecimento para Farim e Bafatá com muitas e muitas viaturas. E o trabalho mais importante até talvez fosse não ser soldado, mas sim o comer lama e encharcados e na outra sol de queimar, comendo pó e mais pó e eles quais formigas movimentando-se constantemente para a frente para trás, onde era preciso empurrar, empurrar muito para tirar do buraco ou subir o alto, pôr paus, tirar, paus, segurar, segurar para não se voltar, disparar onde fazia falta e no fim sorriamos uns para os outros, até talvez brincássemos, mas o nosso prémio ninguém nos podia dar, mas também ninguém nos podia tirar, era a nossa satisfação, a satisfação de termos cumprido, não cumprido com A, B ou C mas com nós próprios, uns com os outros, sabíamos que estávamos sós, até talvez nessas alturas não nos revoltássemos muito, mas o grupo sentia uma muito, muito boa satisfação colectiva.

Não te queria assustar, queria e quero dizer que tu, que vocês, não estão no sitio errado, na hora errada, antes pelo contrário, estão no sitio certo, na hora certa mas meteram ombros a uma obra muito grande, para nós podermos falar, contar episódios que pesam no fundo das nossas almas, e a possibilidade de encontrar camaradas que foram amigos e encontrar novos camaradas, novos amigos, que por um capricho do destino, só numa época diferente, deram os mesmos passos, ao ponto de se poder dizer que se confundem, mas com aquela parte que eu acho maravilhosa, a alegria de ser solidário a satisfação de auxiliar, uma satisfação que muitos lhes podem dar, dizendo obrigado, mas que se matem que se esfolem, ninguém lha pode tirar é vossa, e dentro da vossa simplicidade e humildade, sintam a pleno o seu sabor.

Já me esclareci totalmente penso eu.
Vou passar mais umas duas semanas fora.

Um abraço e até um amanhã, depois, depois,
Ernesto Duarte


3. Comentário de CV:

Caro Ernesto, que bom tenhas entrado na tertúlia, porque és da geração a quem a minha muito deve.
Apenas 5 anos nos separam, mas parece uma eternidade, e é numa guerra como foi aquela.

Vocês deixaram-nos a papinha feita, como que um tapete vermelho por onde circulávamos com mais (relativa) segurança, apesar das dificuldades que nos eram impostas pelos possíveis e inesperados encontros com o IN que partilhava aquela parcela de estrada. Mamboncó foi para nós um local fatídico, onde perdemos dois camaradas, o Manuel Vieira e o Espírito Santo Barbosa*, além dos mais de 20 feridos que tiveram de ser evacuados, naquele dia 6 de Dezembro de 1971, a pouco mais de um mês de a CART 2732 terminar a sua comissão de serviço.

Estrada Mansoa - Mansabá > Zona de Mamboncó por onde passava um dos corredores de acesso ao Morés

Fur Mil Nunes, Soldado Barbosa* e Fur Mil Vinhal

Unimog 404 ao serviço da CART 2732 consumido pelas chamas após ter sido atingido por fogo IN em 06DEZ71 na zona de Mamboncó

Mansabá fica na confluência de importantes itinerários, a saber: para Leste, Bafatá; para Oeste, Bissorã; para sul, Mansoa e para Norte, Farim

Mansabá era, no tempo da CART 2732, um quartel modelar onde havia segurança e o mínimo de conforto para várias centenas de homens, graças aos camaradas que antes de nós por lá passaram.

Atenta à foto que abaixo publico e verifica as alterações efectuadas, nomeadamente na zona superior direita da foto onde eram as Casernas, Bar e Refeitório dos Praças, Cozinha, Depósito de Géneros, Arrecadação de Material de Guerra e outras instalações.


 Vamos dar por finda a nossa conversa que é só do interesse dos mansabenses ou de quem por lá passou.

Um abraço para ti com votos de boa saúde
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 10 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7586: Panfletos de Ação Psicológica (2) (Ernesto Duarte)

Vd. último poste da série de 18 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7466: Memória dos lugares (118): Destruição do Mercado Central Bissau (2) (Nelson Herbert)

Guiné 63/74 - P7601: Ser solidário (97): III Concurso de Fotografia a levar a efeito pelos Lions Clube da Senhora da Hora (Jaime Machado / Álvaro Basto)

1. Aproveitando o trabalho feito pelo nosso camarada Álvaro Basto no sítio da Tabanca de Matosinhos, com a devida vénia e pedido de desculpa pelo atrevimento, levamos ao conhecimento da tertúlia a realização do III Concurso de Fotografia levado a efeito pelos Lions Clube da Senhora da Hora (Matosinhos), pelo que os interessados em participar podem e devem ler a Introdução e os Regulamentos, abaixo.



__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 11 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7595: Ser solidário (96): Evento sobre a Guiné no próximo dia 15 em Coimbra (Carlos Silva)

Guiné 63/74 - P7600: Blogoterapia (172): Obrigado, camarigos, os melhores anos da minha vida são os que estão para vir porque os outros jamais voltam... (Rui Alexandrino Ferreira)







Guiné > Aldeia Formosa > CCAÇ 18 (1970/72) > 1971 > Os primeiros foguetões 122 capturados aos guerrilheiros do PAIGC. No foto, ao centro Cap Mil Rui Ferreira, comandante da CCAÇ 18, com dois dos seus homens.


FERREIRA, Rui Alexandrino - Rumo a Fulacunda. 2ª ed. Viseu: Palimage Editores. 2003. [1ª ed., 2000]. (Colecção Imagens de Hoje). 415 pp. Preço: c. 20€. Capa do livro, à direita.




Fotos: © Rui Ferreira (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todoso os direitos reservados.


1. Mensagem, assinada pelo nosso camarigo Rui Alexandrino Ferreira, remetida por Maria Hermínia Ferreira:
  


Meu caro Luís Graça,
Meus caros Carlos Vinhal , Virgínio Briote e Magalhães Ribeiro,
Meus caros camarigos:

Para utilizar a expressão feliz com que o Mexia Alves definiu o nosso blogue,  começo por vos desejar tudo de bom que possa acontecer. Hoje dou comigo a pensar que efectivamente sou um "cheio de sorte" porque quem tem amigos como os que eu tenho ou uma família que nunca deixou de me apoiar quando passei na descida que fiz ao inferno num sofrimento para o qual me faltam palavras embora me sobre em emoção.

Agravado subitamente em princípios de Dezembro o estado debilitado da minha saúde a uma semana de exames médicos, fui internado de urgência no Hospital de São Teotónio em Viseu e poucas horas depois transferido de ambulância para o Hospital de Santa Maria em Lisboa.



Tal era a gravidade da minha situação que fui operado nesse mesmo dia às coronárias. A minha recuperação tem sido um mar de tormentas e só hoje 12 de Janeiro me sinto com alguma capacidade para poder exercer o privilégio de escrever.


Gostava de vos dizer que hoje me sinto como se tivesse renascido. Acabaram-se as alucinações, os medos, as desconfianças, as dores, o mau estado geral que me acompanhou meses a fio.


Se por um lado não posso nem devo esquecer e muito menos de agradecer todo o amor,  a amizade,  a disponibilidade com que sempre me rodearam a minha esposa, filhas, cunhados,  a que junto a grande frota de amigos que Deus me deu, também não posso deixar de vos dizer que os melhores anos da nossa vida são os que estão para vir porque os outros jamais voltam.

 Um Grande Abraço Rui Alexandrino Ferreira


[ Revisão / fixação de texto / bold a cor / título: L.G.]







Recorde-se que o Rui Alexandrino Ferreira nasceu em Angola (Lubango, 1943). Vive actualmente em Viseu. Fez o COM  (Curso de Oficiais Mlicianos) em Mafra em 1964. Tem duas comissões na Guiné, primeiro como Alferes Miliciano (CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67) e depois como Capitão Miliciano (CCAÇ 18, Aldeia Formosa, 1970/72). Fez ainda uma comissão em Angola, como capitão. Publicou em 2001 a sua primeira obra literária, Rumo a Fulacunda. Conhecemo-nos desde 2006. O Rui teve então a gentileza de me mandar um exemplar da 2ª edição com a seguinte dedicatória:


"Ao ilustre camarada e antigo combatente, Luís Graça, na esperança e na expectativa de o poder ajudar no muito que tem feito para não deixar cair no esquecimento o marco que influenciaria a vida colectiva dos Portugueses na segunda metade do Séc XX, que já lá vai - a guerra colonial.

"Com a alegria de quem sente renascer uma sã e leal amizade, no desejo de reviver os nossos vinte anos, e sentir o orgulho de termos sido o que fomos e o orgulho de o termos feito. Com um grande abraço do Rui A. Ferreira, Viseu, 23 /Out /2006".



2. Comentário de L.G.:


Querido Rui: Sê bem vindo de novo à vida... e à nossa companhia sob o poilão da Tabanca Grande!... Vejo, pela tua mensagem de hoje, que estiveste nas mãos de grandes profissionais de saúde, do Serviço Nacional de Saúde, e que não deixaste em Lisboa, no Hospital de Santa Maria, os teus neurónios, o teu fino sentido de humor, o teu forte sentimento de partilha e de camarigagem, o teu arreigado amor à vida, o teu optimismo e a tua determinação, nem muito menos o teu talento para a escrita... Ficamos  à espera da prometida 3ª edição do Rumo a Fulacunda (revista e aumentada) ou do novo livro de que me falaste em Monte Real e que já estava na forja, antes desta tua crise de saúde. 

Até ao nosso próximo encontro de 1º grau!  Um grande xicoração da malta toda, do tamanho da distância (física e simbólica) que vai do Quebo a Viseu, e do Lubango à Tabanca Grande!


______________


Nota de L.G.:


Último poste da série >  30 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7527: Blogoterapia (171): Caminante no hay camino (José Brás)