quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7714: Blogoterapia (175): O Regresso, ou quem nos quer ainda ouvir (Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem do nosso camarigo Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, com data de 31 de Janeiro de 2011:

Meus camarigos editores
E assim de repente lembrei-me de uma conversa que tive em Lisboa, passados uns tempos de ter chegado da Guiné.
E então escrevi isto a que posso chamar um Conto com Toques de Verdade!

Fica á vosa disposição como sempre.

Um abraço amigo do
Joaquim


O REGRESSO

O homem sentado ao seu lado, ao balcão daquela cervejaria, olhava para ele com uma expressão entre o incrédulo e o trocista.
Há algumas horas que estavam ali sentados, bebendo cervejas atrás de cervejas, e conversando.
Não se conheciam de antes daquele dia, mas o facto de estarem os dois numa tarde de semana sentados ao balcão de uma cervejaria, tinha levado, depois de alguns apartes, ao início de uma conversa sobre tudo e mais alguma coisa e como não podia deixar de ser, ao estado do país.

Destacamento de Mato Cão  > O nome condiz com as instalações

Indubitavelmente a guerra do Ultramar veio à conversa e, perante os comentários errados e ignorantes daquele que estava ao seu lado sobre o assunto, ele decidiu dizer-lhe que tinha regressado há escassas semanas da Guiné, onde terminara uma comissão militar de 24 meses.

Ou pelas expressões do outro, ou pelas cervejas já bebidas, ou por uma necessidade interior de contar o que tinha visto e vivido, (pois que à família e amigos lhe era difícil falar do assunto), deu por si a relatar as operações, as emboscadas, as colunas, as minas, as coragens e os medos porque tinha passado e estavam tão vividas e sentidas em si.

As palavras saíam-lhe em catadupa, e parecia que estava a falar mais para si do que para o outro, que o escutava, por vezes entediado e outras poucas vezes, interessado.

De vez em quando uma frase desgarrada do outro, tal como, “isso é impossível”, ou “foi mesmo assim?”, levavam-no a quase parar a sua narrativa, mas a verdade é que ele ansiava por falar sobre a guerra, e um desconhecido era o interlocutor ideal para o ouvir.

As cervejas iam sendo colocadas no balcão e bebidas, e agora era ele quem as pagava, porque o outro tinha feito menção de se ir embora e ele não queria ficar ali sozinho a remoer nas suas recordações e sobretudo não queria perder aquele momento de contar a sua guerra, sobretudo a si próprio.

Que faço eu aqui?

Parecia-lhe que à medida que ia contando os factos, eles deixavam de fazer tanta mossa nos seus sentimentos, e embora sentisse que tudo aquilo o tinha marcado e continuava a marcar por muito tempo, percebia um certo alívio em libertar-se de algum modo daquelas memórias dolorosas.

Percebia que o outro o olhava de um modo estranho, às vezes quase com medo, mas ele ia-o tranquilizando com expressões mais calmas e sobretudo com mais uma cerveja.

Sucediam-se as emboscadas, as colunas, o medo, o anseio sentido ao levantar esta ou aquela mina.
Queria expressar as dificuldades, a sede, o medo do desconhecido, os sons da mata e os cheiros das bolanhas, mas as palavras pareciam-lhe poucas e sobretudo sem exprimirem verdadeiramente aquilo que ele tinha sentido e ainda sentia.

Falava-lhe já dos soldados africanos que com ele tinham combatido e sentia-os próximos, sentia uma saudade inexplicável daquelas noites no planalto, à luz da vela, tentando perscrutar para além do negro da mata que os rodeava.

A única coisa que naquele momento o ligava àquele balcão era a cerveja e a sua presença física, porque tudo o resto que era o seu ser, se tinha transportado para a Guiné.

Falava de rajada, as palavras lançadas para a frente como facas, a incompreensão das vidas ceifadas tão novas, misturadas com uma noção de dever ainda tão arreigada, mas sobretudo o pensamento de que estava a falar para nada, que estava a falar para ninguém, porque afinal ninguém queria ouvir o que estava a contar.

Primeiro porque pela expressão do outro, percebia a incredulidade com que o ouvia, pois deveria parecer-lhe que ele estava a descrever um qualquer filme americano de guerra.

Um Oficial do Exército Português em pleno uso das suas faculdades mentais. Até o Dick prefere ignorar, olhando para o lado.

Depois, porque percebia também que o outro não queria ser incomodado com algo que podia ser verdade, muito verdade, e se assim fosse teria de ser objecto de uma reflexão que ele, o outro, não queria fazer.

Era essa a sensação que tinha desde que tinha regressado da Guiné!
Os que por aqui estavam e viviam as suas vidinhas, não queriam saber!
Tinha regressado bem? Estava vivo?
Ainda bem! Mas agora escusava de vir contar histórias de uma guerra longe, muito longe, que não tinha nada que vir afectar as suas vidas.

Por um lado as palavras sobre a guerra saíam da sua boca, mas por outro lado o pensamento insistente de que estava a dar uma seca ao outro, que não queria acreditar no que contava, que não queria incomodar-se com guerra nenhuma, cada vez mais era premente na sua cabeça.

De repente calou-se e olhando para o outro perguntou:

- Você não acredita em nada disto pois não?

O outro abriu um sorriso, e numa expressão amigável disse:

- Eu logo vi que o amigo estava a brincar! Mas gaita que você tem cá uma imaginação!

Olhou-o então nos olhos e disse-lhe em tom pausado, mas firme:

- Também eu pensava assim quando lá cheguei, e até ouvir e sentir os primeiros tiros a passarem ao meu lado. Só então tomei consciência que aquilo era uma guerra onde morria gente. Não se preocupe com isso, e vamos beber outra cerveja.

Num instante olhou para o lado contrário, para que o outro não visse a lágrima teimosa que lhe rolou pela cara abaixo.

Estava no seu país, e ninguém o conhecia, ninguém queria saber o que tinha passado.
Era um estranho na sua própria casa!

Monte Real, 31 de Janeiro de 2011
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 11 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7592: Blogpoesia (105): P'rá vala, p'ra vala (Joaquim Mexia Alves)

Vd. último poste da série de 3 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7712: Blogoterapia (174): Posso decepcionar os amigos, mas não os camarigos (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P7713: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (55): Na Kontra Ka Kontra: 19.º episódio




1. Décimo nono episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 2 de Fevereiro de 2011:


NA KONTRA
KA KONTRA


19º EPISÓDIO

- Nosso Furriel, o que estou a pensar fazer, o senhor não pode fazer por mim, e como deve imaginar não é ir à orla da mata.

O Furriel afastou-se e o Alferes pensando alto:

- Onde eu vou arranjar uma vaca? Tenho que falar com o João.

Depois de uns momentos a ordenar as ideias, levantou-se e foi procurá-lo para os lados da sua morança, perto do mangueiro, no centro da tabanca. Quando o viu chamou-o à parte e disparou:

- João onde posso arranjar uma vaca?

- Uma vaca? Para que é que o Alferes precisa de uma vaca? Com um cabrito, a sua tropa governa-se dois ou três dias.

- João, João, já se esqueceu da nossa conversa sobre casamentos em que me disse que com uma vaca e uns cabritos se podia “comprar” uma bajuda?

- Ah, então é isso? Desculpe. E pelo que me parece, trata-se da bajuda Asmau. Estou certo? Sempre se quer casar com ela? Quer que o ajude a falar com o chefe Adramane?

- Não, obrigado, eu próprio falarei. O meu único problema, como já disse, é onde vou arranjar uma vaca para dar ao pai da Asmau se ele vier a concordar com o casamento.

- É muito simples Alferes… Quando se fala numa vaca é a mesma coisa que falar no “patacão” que uma vaca vale. O pessoal por aqui dá aos pais das bajudas vacas e cabritos porque é o que tem. Se tivessem dinheiro escusavam de pensar no gado. O Alferes combina com Adramane quanto ele quer e paga-lhe tudo em dinheiro. Além do mais, para ele, que não tem vacas, seria uma grande preocupação ter que tratar só de uma.

Vacas que não são do Adramane.

- Compreendi tudo João. Diga-me só mais uma coisa: Por aqui quanto custa uma vaca, para poder pagar em dinheiro ao Adramane?

- Por mil “pesos” já é bem paga. Quanto aos cabritos uns cinquenta “pesos”.

- Obrigado, João, até logo. Se vier a precisar da sua ajuda, procuro-o.

- Alferes, não se vá já embora pois ainda lhe quero dizer mais umas coisas que é capaz de não saber: Quando for fazer o pedido da bajuda ao Adramane, como eles são muçulmanos não lhe pode levar, como é costume, uma bebida alcoólica como prenda, mas neste caso deve levar uma porção de cola.

- E onde vou arranjar, de hoje para amanhã, a cola?

- Se quiser esperar dois ou três dias, o pessoal como tem que ir a Galomaro, ao comerciante “Regala” fazer algumas compras, podem trazer-lhe a cola mas se não quiser esperar, como eu penso, posso emprestar-lhe alguma e depois dá-ma.

- Agradeço isso. Agora vou mesmo embora. Até logo.

Afasta-se e vai novamente sentar-se na mesa das refeições, de onde se avistavam quase todas as moranças. Via portanto quase tudo o que se passava na tabanca. Alguns dos seus homens, juntamente com milícias, transportavam terra para cima dos abrigos. Outro grupo, que estaria de folga, jogava às cartas na sombra de uma morança, tendo um “pilão” virado ao contrário, como mesa. As mulheres iam e vinham da fonte transportando água. Reparou nos poucos miúdos e bajudinhas que havia na tabanca. Enquanto brincavam iam chupando o miolo das “kabaseras” fruto dos embondeiros, de difícil acesso por se situarem muito alto nas árvores. O vendaval da noite anterior fê-los cair, tendo os miúdos aproveitado essa dádiva da natureza.

Uma Kabasera inteira, outra aberta vendo-se o miolo e
também as sementes depois de chupadas.

Embora longe, a dada altura não teve dúvidas que, num dos extremos da tabanca, a Asmau tinha saído da sua morança e por um carreiro se dirigia provavelmente para a fonte. Era uma oportunidade que tinha para estar com ela, pelo menos para a acompanhar até à fonte. Não se mexe. Continua sentado, seguindo-a com o olhar, apreciando as suas formas perfeitas que a distinguia das demais. Em determinada altura nota que ela olha na sua direcção e então, aí sim, aproveita para lhe acenar com o braço, tendo sido correspondido. Naquele momento foi quanto bastou ao nosso Alferes. Sente-se nas nuvens. Tinha sido correspondido.

Não podia dispersar as ideias. Tinha que pensar na estratégia a usar quando fosse falar com o pai dela. Tudo dependia disso, por mais que ele gostasse da Asmau e ela do Alferes. Tudo estaria nas mãos do Chefe Adramane. Estranhos costumes, que tinham que ser respeitados.

Ao fim de algum tempo chegou a uma conclusão: Pura e simplesmente não havia estratégia, ou melhor, o que havia a fazer não era mais do que rapidamente ir falar com o Adramane, perguntar-lhe se podia casar com a filha e quanto queria de “dote”, saindo da incerteza que o andava a consumir.

Num ímpeto, levanta-se e olhando na direcção da morança do Chefe de Tabanca, como que estabelece o azimute para rapidamente lá chegar. Não chega a dar meia dúzia de passos. Para, estático, qual cão da pradaria pressentindo o perigo.

Com algumas ordens dadas em alta voz aos seus camaradas que estavam mais perto, inflecte o sentido da marcha que tinha iniciado e dirige-se a correr para a sua morança. Iria buscar a G3 e colocar o cinturão onde tinha sempre colocados quatro carregadores de munições e três granadas?

Fim deste episódio
Até ao próximo camaradas.
(Fernando Gouveia)
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 2 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7707: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (54): Na Kontra Ka Kontra: 18.º episódio

Guiné 63/74 - P7712: Blogoterapia (174): Posso decepcionar os amigos, mas não os camarigos (Luís Graça)


Aos amigos desculpa-se tudo,
e sobretudo as enormidades
que eles dizem, às vezes,
quando falam de nós...
Os amigos são socialmente correctos,
são leais,
são delicados...

Os camarigos, esses,
não têm como mentir
ou fingir:
Aprenderam a olhar a morte de frente,
olhos nos olhos.
E a valorizar a camarigagem,
forjada na luta, na dor, no sacrifício,
no sangue, suor e lágrimas,
nas matas, picadas, tabancas e aquartelamentos da Guiné,
nos céus e nos rios da Guiné...

Podem ser rudes, os camarigos,
apanhados, cacimbados,
contraditórios.
Mas não fazem fretes,
nem escrevem palavras de circunstância…
São directos como as balas…
Nunca poderiam ser politicamente correctos.

As palavras que me dirigiram,
por ocasião do meu aniversário,
posso não as merecer
(não sei, 
não sou juiz em causa própria…),
mas tenho que as receber
com um grande sentimento
de honra, de dever e de gratidão.

Permitam-me,
amigos, camaradas e camarigos,
que seleccione alguns excertos
dessas palavras sentidas,
que calaram fundo no meu coração,
e que eu só posso interpretar
como um encorajamento
e um desafio.
Vou relê-las,
sempre que a dúvida e o desânimo
me assaltarem,
perante as minas e as armadilhas da vida,
e mais concretamente
desta aventura bloguística
em que me meti 
e nos metemos.

Dúvidas, perplexidades, desânimos
que às vezes nos poderão assaltar,
e seguramente nos assaltarão,
(por exemplo, na aplicação
e na interpretação das nossas regras
de bom e são convívio),
a mim e a toda a equipa que faz
e anima o nosso blogue,
vasta equipa,
quase um batalhão,
reunida sob o poilão da nossa Tabanca Grande,
para quem vai o meu apreço,
a minha admiração,
o meu reconhecimento.

Na parte que me diz estritamente respeito,
gostaria de poder dizer,  um dia,
quando chegar a hora de passar o testemunho:
“Poderei ter decepcionado os amigos,
mas não os camarigos!”…

Um Oscar Bravo e um Alfa Bravo.
Luís Graça




2. Selecção de comentários e excertos de texto, retirados do poste P7692 (*)


Ó dia 29 tem precisamente 16 minutos e quis ser um dos primeiros a saudar-te. Já um dia te disse… se tivesse tido um irmão gostava que ele fosse como tu. (Álvaro Basto)


Chefi di tabanka Luís: Mantenha pa bo y kil abrasu di tamanhu di mundu.
Kuma di kurpu y família tudo direito?
(Fernando Gouveia)


Olá, Rei da Tabanca Grande. (Arménio Estorninho)

Espero continuar a ver-te com força para orientares este grande barco que é este 'nosso blog'. (Manuel Resende)

(…) É a graça,
que em mim
é Graça,
afirmo-o 
p’lo meu nariz,
porque a graça
condiz,
com o meu nome Luís,
que juntado à minha graça,
faz de mim,
tão simplesmente
o Graça,
também Luís


(Joaquim Mexia Alves)

Caro Alahje Cherno Luís Graça, Feliz Aniversário. Parabéns. (Luís Borrega)

Amigo Luís, formulo fraternal voto de Parabéns e djarama por tudo o que tens feito para unir tanta gente à volta do nosso blogue. (Manuel Amante)

Tenho aprendido muito com o blogue, até a conhecer-me melhor a mim próprio. Graças a um Senhor que teve a ideia de criar este fabuloso espaço. (António Graça de Abreu)

Continua ao leme, meu Comandante, que a barca é grande mas com a ajuda de todos, arribaremos sempre a bom porto. (Francisco Godinho)

Depois de tudo o que tens feito pelos teus camaradas da Guiné és credor de um reconhecimento enorme, vastíssimo. Falo por mim mas julgo que muitos pensarão como eu. Nesta fase da minha vida, depois dos 70, és das pessoas mais importantes. Reforçastes a minha família da CCaç 675.  Estás lá.Com o meu General Tomé Pinto, com o meu Tenente Belmiro Tavares e com muitos outros que não conheces. Os meus 170 irmãos de Binta. Irmãos de sangue. Até ao fim da vida. (JERO)

De bem longe,mas sempre perto,os sinceros votos de parabéns! (em dialecto nativo...En stor kram av gratulationer med önskan om en lycklig dag!) (J. Belo)

Se me dissessem que 41 anos depois estaria aqui a saudar um camarada da 2ª Companhia do CISMI, que como é normal, por sermos de especialidades diferentes, não me recordava de ti, eu não iria acreditar. Mas em boa hora tiveste a ideia de criar este blogue, pelo qual te estou muito grato. (César Dias)

Hoje é um dia grande para ti, para a tua família e para nós, que nos orgulhamos de te ter como nosso timoneiro neste mar por vezes encarpelado, mas que sabiamente tens sabido orientar. Estamos-te grato por isso. (Manuel Reis)


Saudar-te neste dia com um abraço do tamanho do mundo, é o meu maior prazer.
Entraste na minha vida há já uns anitos. Pena foi que não tivesse sido mais cedo, apesar de sem intenção, tenhas provocado em mim um choque,que se repete a cada passo com histórias de vida vivida numa guerra que não queríamos,pese embora, indirectamente através do blogue, que me transporta todos os dias até à "nossa" Guiné. A culpa não foi só tua, mas de todos os camaradas que aproveitaram a porta que abriste. (Zé Teixeira)


Amigo Henriques: Parabéns, não parece mas já contam quatro décadas que nos conhecemos,parece que foi ontem.  (Fernando Almeida)

Um Abraço, Parabéns,  muita Saúde, e que não te falte a coragem pra continuar esta obra invejável, que é este teu/nosso blogue. Desde que aqui caí,  sinto-me outro, a Engenharia não poderia faltar, obrigado,  Comandante! (José Nunes)

Camarigo HENRIQUES, tal como o AFONSO que nos deu um país e uma pátria tu não lhe quiseste ficar atrás e foste o fundador e és hoje o responsável deste maravilhoso universo onde todos estes combatentes da Guiné se juntam, discutem com maior ou menor intensidade, discordam e concordam, mas acabam sempre num abraço solidário. É o respeito, a solidariedade e a amizade que soubeste semear que eu te quero devolver, deste Algarve frio e ventoso, onde me desloquei a uma reunião. (Vasco da Gama)

Um forte abraço, do outro lado do rio, de Porto Gole.
(Jorge Rosales)


Como alguém disse, graças a este blog, encontrei muitos amigos que não trocaria por nada. (…) Um abraço do tamanho do oceano que nos une. (José Câmara)

(…) Que a nova jornada que hoje inicias seja preenchida com força, alento e vontade, para que como bom timoneiro que és, saibas sempre dar rumo ao leme para orientar o paquete, que já é, a aportar em cais com águas calmas, para não se desconchavar em jangada. (José Corceiro)

Sem muitas palavras, mas com amizade triplicada, das três gerações da família Martins, desde o José (eu-1946) até ao Duarte (neto-2010). (José Martins)

(…) Um abração que encerra a maior consideração, respeito, estima e admiração pelos teus grandes valores intelectuais, culturais e humanos. Ergo um Old Parr pela tua saúde e bem-estar. Bem-hajas, grande dínamo desta sã camaradagem entre os ex-Combatentes da Guiné Portuguesa. (Rui Silva)

Tu mereces que Deus te de força, saúde e coragem para continuares a ajudar os ex- combatentes do stresse da nossa GUINÉ. (Fernando Chapouto)

WHEN I AM SIXTY FOUR

When I get older
loosing my hair
many years from now 
will you still be sending me
a Valentine birthday greeting
botle of wine?
If I'd been out 'til quarter to three 
would you lock the door?
will you still need me
willyou still feed me
when I am sixty four?
(…)  



(Alberto Branquinho)

A vida está carregada de surpresas. Umas boas, outra não. Tu foste uma das melhores que tive ou podia ter nesta fase, tão especial e tão fugaz, da reforma.  De Homem bom e de Homem grande... (Joaquim Luís Mendes Gomes)

Muito obrigado por tudo o que o nosso blogue nos tem propocionado. (António Branco)

"À moda alentejana", (que me perdoem os poetas populares de quem muito gosto), cá vai:

Este nosso camarada
furriel Henriques, a valentia,
é um amigo de eleição
que saudamos com alegria

 (…) Camaradas da Guiné,
vemos todos como ele bom é
na chefia da Tabanca.
Por vezes alguém o desanca
mas bom chefe é o que aguenta
e um sorriso apresenta. (…)


Manuel Joaquim
 
Quero (…) deixar vincadamente expresso o quanto te estimo e admiro, pela tua iniciativa, pela tua coragem, pela tua persistência, mesmo tendo que por vezes enfrentar situações injustas e absurdas. (Hélder Sousa)

Possa Deus compensar-te do muito que tens feito neste blogue, para juntares estes ex-"guerrilheiros", que deram o corpo e infelizmente muitos a alma, naquelas quentes terras da Guiné. (Luís Dias)

Que maravilha da vida " fazer anos "!!! Mais velhotes, mais chatos, mais rabujentos e sempre a pensar que os outros não nos entendem!! Não é nada disto - somos muito válidos, pois podemos transmitir ideias de alguma importância e que poderão ajudar a dar uma nova imagem de vida a algumas pessoas. O exemplo está no trabalho que tens feito em favor dos ex-combatentes da NOSSA GUINÉ. (Mário Bravo)

Criador deste imenso blogue que mantêm unida a geração de sessenta e grande parte da de setenta, causador de muitas alegrias, de reencontros impensáveis de outra forma, guerreiro assumido e acreditado nestes lides, os meus Parabéns! (Felismina Costa)

Pois é. Sempre que o calendário marca 29 de Janeiro, o nosso camarada Luís Graça soma mais um ano de vida. Anda nisto há 64 anos, e propõe-se continuar até pelo menos ao ano 2047. A responsabilidade é grande e o Blogue não pode parar. Como aquelas pilhas, ele tem que durar... durar... durar... (Carlos Vinhal)


Ai que soninho! Nem consigo apagar as 64 velas! (...) (Miguel e Giselda)

(...) Bem dentro deste espaço liberdade,
que ajuda a mitigar nossa saudade,
Luís Graça & Camaradas da Guiné...
Há laços, inquebráveis, solidários
nascidos de vivências e fadários
comuns a todos nós, creiam que é... (...)



(Manuel Maia)


(...) Solidariedade
Amizade
Compreensão
Partilha
Local de encontro
Ponto de partida e de chegada
Diálogo
Controvérsia
Acordo e Desacordo
Pátria comum
Guiné terra alegre e triste
Saudade
Sangue Suor e Lágrimas
Irmão...
Parece impossível, mas tudo isto cabe no teu nome Luís Graça
!!! (...)



(Juvenal Amado)


(...) Esquece o ONTEM.
Vive o HOJE, 

porque ainda não nasceste para o AMANHÃ. (...)


(Joaquim Peixoto)

3. Lista dos amigos, camardas e camarigos  que tiveram a gentileza de se lembrar de mim, no meu dia de anos (por comentário no blogue, por email, por telefone...), e a quem me cabe lembrar aqui, "noblesse oblige" (espero não ter falhado nenhum, mas não confio na minha memória) (**):


A. Santos
Adriano Moreira
Agostinho Gaspar
Alberto Branquinho
Álvaro Basto
Américo Estorninho
Amílcar Ventura
António Barbosa
António Branco
António Estácio
António Graça de Abreu
António Marques
Artur Conceição
Artur Soares
Beja Santos
Belarmino Sardinha
Belmiro Tavares
Bernardino e Maria Teresa Parreira
Caetano
Carlos e Teresa Marques Santos
Carlos  e Dina Vinhal
Castro da Cart 3521
César Dias
Eduardo Campos
Eduardo Magalhães Ribeiro
Felismina Costa
Fernando Almeida
Fernando Chapouto
Fernando Gouveia
Filomena
Francisco Godinho
Gilda Brás
Hélder Sousa
Henrique Matos
Herculano Joaquim
Herlânder Simões
Hugo e Ema Guerra
J. Belo
JERO
Joaquim e Margarida Peixoto
Joaquim Luís Mendes Gomes
Joaquim Mexia Alves
Jorge Cabral
Jorge Fontinha
Jorge Narciso
Jorge Picado
Jorge Rosales
Jorge Teixeira
José Câmara (EUA)
José Casimiro
José Corceiro
José Dinis
José Martins
José Nunes
Juvenal Amado
Luis Borrega
Luís Dias
Luís Faria
Manuel Amante
Manuel Amaro
Manuel Joaquim
Manuel Maia
Manuel Marinho
Manuel Moreira
Manuel Reis
Manuel Resende
Mário Bravo
Mário Miguéis
Miguel e Giselda Pessoa
Paulo Santiago
Pedro Neves
Raul Albino
Rui Silva
Tabanca de Pitche e Arredores
Torcato Mendonça
V. Briote
Valentim Oliveira
Vasco da Gama
Vasco Santos
Zé Manel Cancela

(**) Último poste da série > 13 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7606: Blogoterapia (173): Preciso de todos vós, velhos combatentes, que participam neste blogue, escrevendo ou simplesmente lendo-o (Manuel Joaquim)

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7711: Facebook...ando (10): Zeca Macedo, ex-Tenente Fuzileiro Especial, RN (DFE 21, Cacheu, 1973/74)




Guiné > Região de Cacheu > Cacheu > Porta de armas das instalações do DFE 21 > Brasão da unidade, cujo lema era "A Pátria Honrai que a Pátria Vos Contempla"



Guiné > Região de Cacheu > Cacheu > Tomando banho do Rio Cacheu com o Ten Manuel de Castro Centeno, imediato, de barbas

~
Guiné > Região de Cacheu > Cacheu > O Ten Fuzileiro Especial, Zeca Macedo, de moto, no cais da vila de Cacheu



O nosso camarada Zeca Macedo, hoje, nos EUA. para onde imigou em 1977, onde criou uma empresa de advocacia.

Fotos: Zeca Macedo (Facebook, 2 de Novembro de 2010) (Com a devida vénia...)



Vive nos Estados Unidos desde 1977.

Trabalhou, como advogado, na empresa Law Offices of Jose J. Macedo (Principal). 

Estudou Immigration em New England Law (Turma de 1989). Juris Doctor [JD]. 

Vive em Medford, MA.

É casado, católico, liberal, sportinguista.  Adora cachupa  [, foto à esquerda,]  e tem manga de amigos.

Sabe inglês, português, crioulo cabo-verdiano, castelhano e e francês,

Nasceu em Curral Grande, Ilha do Fogo, Cabo Verde.

Foi tenente fuzileiro especial (
DFE 21, Cacheu, 1973/74). (*)


Recorde-se que o DFE 21 foi o primeiro destacamento de Fuzileiros Africanos criado na Guiné, sendo etnicamente heterogéneo (contrariamente ao seguinte, a ser formado, o DFE 22). De acordo com o sítio Reserva Naval, criado e mantido pelo nosso amigo Manuel Lema Santos (ex-1º Ten da Reserva Naval da Marinha de Guerra, LFG Orion, Guiné, 1966-1972) "para ingressar nos quadros de Fuzileiros Especiais Africanos do Comando de Defesa Marítima da Guiné foram seleccionados 150 dos 900 voluntários que se apresentaram para servir nas forças especiais na Marinha".


Ainda segundo a mesma fonte, "foi ocupado um barracão em Bolama que, com umas apressadas adaptações passou a servir simultaneamente de coberta, sala de aula, refeitório, etc. Baseada nos planos de curso em vigor na Escola de Fuzileiros foi ministrada uma instrução acelerada e, de certo modo, improvisada.

"Os oficiais e sargentos bem como alguns cabos e marinheiros eram metropolitanos, rendendo-se individualmente no final de cada comissão. A Escola de Formação de Fuzileiros então instalada passou a ser designada por 'Centro de Instrução'. Para comandar a nova Unidade foi nomeado o 1Ten Raul Eugénio Dias da Cunha e Silva…

Este Destacamentos de Fuzileiros Especiais, o DFE 21, viria a tornar-se uma das Unidades de maior protagonismo na Guiné, entre 1970 e 1974. De especial relevo e importância para a estratégia de guerra então prosseguida, assumiu projecção histórica com a participação na Operação Mar Verde " (...).


O Zeca Macedo, ex-2º Ten Reserva Naval,  é membro da nossa Tabanca Grande e está também na lista dos nossos amigos no Facebook. Desejamos-lhe, a ele e à família, muita saúde e longa vida. (**)

____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 13 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2532: Tabanca Grande (56): José J. Macedo, ex-2º tenente fuzileiro especial, natural de Cabo Verde, imigrante nos EUA


(**) Último poste da série Facebook...ando > 29 de Janeiro de 2011Guiné 63/74 - P7693: Facebook...ando (9): Notícias do pessoal da CCAÇ 6, Bedanda, dos camaradas António Teixeira, Mário Bravo, Pires, Luís Nicolau, José Vermelho, Bastos, Pinto de Carvalho, Vasco Santos, Ayala Botto (1971/73), mas também do Hugo Moura Ferreira (1966/68), nosso camarigo da primeira hora

Guiné 63/74 - P7710: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (11): Chico d'Alcântara, um homem de exceção

1. Mensagem José Ferreira da Silva* (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 31 de Janeiro de 2011:

Caros Camaradas
Junto nova história para inserir nas "Memórias boas da minha guerra".
Quero, desta forma, lembrar o meu grande amigo "Chico d'Alcântara" que, embora sendo um Chico inteligente, nunca foi considerado um Chico-esperto.

Um abraço do
Silva


Memórias boas da minha guerra (11)

Chico d’Alcântara – Um homem de excepção

O Francisco de Alcântara era de Lisboa e, apesar de rodeado de nortenhos por todos os lados, safava-se bem nos debates com os tripeiros… mas só depois de ver bem que terrenos pisava. Não era burro, não senhor, antes pelo contrário. Não foi por acaso que rapidamente conquistou a simpatia da malta. Além disso, teve a sorte de não professar a “religião mourisca”, a tal protegida pelo regime, a que chamavam glorioso éce-éle-bê, o que, já naquele tempo dos filmes de terror a preto e branco, era uma mais valia de realçar.

Era um camarada a 100%. Alimentava amizades, gostava muito da borga e ajudava sempre à festa. Nunca quis ser valente nem, tão pouco, escondia essa fraqueza. Preocupava-se, isso sim, em defender a sua pele e a dos seus, numa perspectiva de que o tempo iria passando.

Quem andou mesmo na guerra, dita porrada, aos tiros, sabe que o pior era ultrapassar os primeiros 4 meses, pois que era um tempo limite para cada um deixar de combater os medos, racionalizar os perigos e, ao mesmo tempo, aceitar a ausência dos seus entes mais queridos. Digamos que, a partir dali, estaríamos apanhados pelo clima. E a verdade é que aquele sofrimento permanente é ultrapassado por uma evidente entrega de cada um à sua sorte. Nesses curtos meses já se tinham passado coisas bem demonstrativas de que, além das devidas cautelas, a sobrevivência era uma questão de sorte.

Pois, mas para quem ainda não estava “apanhado”, porque se vinha safando em “esquivanços” contínuos, as coisas eram diferentes. Por isso, era vulgar verem-se militares ainda em doloroso sofrimento, após largos meses de porrada.

O Chico, foi um desses sofredores, apesar de trazer a coisa bem estudada. Sempre que se aproximava alguma operação mais perigosa, lá estava ele doente, quase em último grau. Descobrimos mais tarde, que ele trazia consigo uma ementa/relação de 38 doenças capazes de o manter afastado das Operações Militares mais perigosas. Com o medo do qual ele, conscientemente, nunca se libertou, e com as inúmeras Operações Militares que a nossa Cart 1689 (em intervenção) vinha efectuando, o Chico não demorou muito a esgotar o referido cardápio das doenças.

Por outro lado ele, um “bon vivant”, como gostava da borga e de toda a actividade de lazer, por vezes “enfiava o pé na argola”, comprometendo as suas aludidas limitações pontuais.

Lembro-me que ainda estávamos em Fá Mandinga, quando havíamos regressado de uma das piores Operações Militares no Oio, em que ele ficara no quartel, muito doente do estômago. Sorrateiramente, saiu da cama e veio pedir ao Miranda para, se parassem em Bafatá, lhe trazer um ou dois frangos mas... “ouve, lá: - com bastante piri-piri”.

Já em Catió, numa fase também difícil, devido às Operações Militares para os lados do Cantanhez, o Chico, esgotado o cardápio das doenças, apareceu com um pé frito, meia hora antes da partida para mais uma.

Passados estes anos todos, ainda prevalecem muitas dúvidas quanto a este acidente.

O Chico fez-nos crer que foi à cozinha da messe para ver se trazia algum “reforço”, pois que ele era de muito sustento. Por coincidência, a frigideira apareceu no chão, ainda com o azeite/óleo quente e ele colocou lá o pé (? descalço?), inadvertidamente.
O Básico dizia que a frigideira estava em cima de uma mesa e que o Furriel Alcântara, já lá tinha ido várias vezes “cheirar”.
O cozinheiro Laurentino, não se apercebeu de nada. mas dizia que logo que lhe cheirou a chispe de porco grelhado, imaginou uma tragédia.

O “Doutor Berguinhas”, que gastou quilómetros de gaze a inutilizar o Chico, alarmava toda a gente, dizendo que a coisa era muito grave e, como todas as queimaduras, sofreria uma evolução de 9 dias. O Chico entrou imediatamente em rigorosa quarentena, não podendo fazer “puto”.

Porém, como fazia parte da equipa de futebol dos graduados do BART 1913, não podia faltar ao jogo, que se iria realizar três dias depois do “acidente”. E foi num aparente gesto altruísta e de grande sofrimento que ele se sacrificou a jogar, aplicando todos os seus dotes futebolísticos e toda a sua máxima força física.

Mais tarde, na terrível implantação de Gandembel, ajudou a fazer um buraco/abrigo no chão, onde se manteve heróica e pacientemente deitado, ajoelhado ou de cócoras, mais de um mês. Só saía, e apressadamente (para muito perto), para defecar e pouco mais, arriscando a pele e pondo em cheque o seu corpo desprotegido, bem como todas as suas capacidades de defesa. O Chico d’Alcântara, quando regressou a Catió, trazia a cor da pele verde/amarelada, idêntica à das plantas, carentes de luz e de clorofila…

Acresce dizer e lamentar que o Furriel Miliciano Francisco de Alcântara, inexplicavelmente e apesar de tanto esforço e sofrimento desumano, não recebeu qualquer louvor das chefias. Pensa-se que, possivelmente, os louvores terão sido esgotados com a sua distribuição a alguns temerários, aos “chicos” de secretaria e a vários “afilhados” do Comandante.

Silva da CART 1689

Nota: Para mim, o azeite já estava “friu”.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 27 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7681: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (10): Tony, o lisboeta