quarta-feira, 20 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8578: BCAÇ 1860 (Tite, 1965/67): Balanço da actividade logística, em banda desenhada: 22.5 toneladas de cartas e encomendas, 3 t de medicamentos, 12 t de frescos, 820 t de géneros alimentícios, 123 t de artigos de cantina, 2.5 t de rações de combate, 31 t de munições... (Santos Oliveira)


Guiné > Região de Quínara > Tite > BCAÇ 1860 (1965/67) > Resumo, ilustrado, da actividade logística (reabastecimentos) do batalhão, entre Abril de 1965 e Abril de 1967. Por mar, por terra e  por ar... (*).

Total: cerca de 82 mil toneladas movimentadas (71 mil carga grande; 11 mil carga pequena)...




Transportes aéreos (Tite, Bissau, Jabadá, Fulacunda, São João, Empada) >

Passageiros transportados: 1068 militares; 209 civis;
Evacuações:  A=6; B=28; Y=10;
Frescos (peixe, frango...): 12 toneladas;
Correio: Cartas: 2,5 t; Encomendas: 20 t;
Medicamentos: 3 t.




Transportes marítimos (porto de Enxudé, por LDM e barcos civis): 

Combustíveis: 350 toneladas;
Artigos de cantina: 123 t;  
Munições: 31 t;
Géneros alimentícios (farinha, batatas, etc.): 820 t;
Rações de combate: 2,5 t;
Materiais de construção (ferro, madeira, cimento...): 475 t;
Material de aquartelamento: 4 t;
Material de transmissões: 2,5 t;
Material de guerra: 3 t;
Sobresselentes para viaturas automóveis: 4 t;
C. A. [ Contabiliddae e Administração ?] 1 t;
Veículos automóveis + buldozzer: 13 + 12 t

Movimentação e transporte de terra, saibro e pedra > c. 80 mil toneladas

Foto: © Santos Oliveira (2008). Todos os direitos reservados.

[Edição de imagem, legendagem e título: L.G.]

Fonte: História da unidade, conforme documentos digitalizados pelo nosso camarada Santos Oliveira (2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf, Pel Mort 912, Como, Cufar e Tite, 1964/66). Material em arquivo, enviado pelo Santos Oliveira  por mail em 2008...




Guiné > Região de Quínara > Carta  de Tite  (1/50000) (1955) (Pormenor) > Posição relativa de Tite, Enxudé e Jabadá.

Fonte: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2011)

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Nota do editor:

(*) Vd. poste anterior relacionado com o BCAÇ 1860 > 20 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8575: BCAÇ 1860 (Tite, 1965/67): Balanço da actividade não-operacional, em banda desenhada... (Santos Oliveira)

Guiné 63/74 - P8577: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (8): As guerras de Bissau

1. Em mensagem de 4 de Julho de 2011, Belmiro Tavares, (ex-Alf Mil, CCAÇ 675 Quinhamel, Binta e Farim, 1964/66), conta-nos mais uma das suas histórias.


HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE BELMIRO TAVARES (8)

A(s) Guerra(s) de Bissau

Muito se tem falado e escrito também sobre o tema em título mas abordando apenas uma parte da matéria: uma guerra de Bissau.

Acontece, porém, que houve ali duas “guerras”: uma durou vários anos; a outra cerca de duas horas. A esta poderiamos chamar, talvez, com mais precisão, uma batalha.

No primeiro caso, os factos eram narrados principlamente pelos oficiais do QG, mas não só, com ênfase invulgar; a análise era diametralmente oposta – ou quase – quando era concertada pelo pessoal militar de Bissau ou pelos militares do mato, aqueles que viviam intensamente a guerra real.

A “guerra” ocorria diariamente durante os anos da guerrilha – sempre que um militar do ar condicionado encontrava outro que, acabado de chegar da Metrópole, preparava a sua partida para o teatro de operações. Era a demanda em que os mais variados episódios eram empolados, largamente ampliados pelo belicoso pessoal do QG para “assustar” principalmente os “maçaricos” imberbes e loiros, os que posteriormente deram lugar aos “periquitos” igualmente desbarbados e aloirados.

Todos – oficiais, sargentos e até praças – deliravam, babavam-se, dando largas à sua frutuosa imaginação mais ou menos descontrolada; muitos manifestavam-se orgulhosos pelos feitos de “bravura” que narravam, transmitindo a ideia falsa de que os teriam vivido bem de perto, mesmo que nunca tivessem saido de Bissau.

No dia 13 de Maio de 1964, o navio Uíge, entrou no avantajado estuário do Geba, logo ao romper da manhã; ficou ao largo porque... “não podia meter-se o Rossio na rua da Betesga”, e porque “Deus fez os rios da Guiné – e o cais acostável também – à medida dos navios da CUF”.

A bordo daquele navio seguiam seis ou sete Companhias Independentes e três Pelotões de Morteiros. Em pouco tempo, dado o evoluir acelerado da guerra, o efectivo militar da Guiné passou de 5.000 para 20.000 homens – ainda não havia garotas na tropa (com grande pena nossa); alguns batalhões sairam do Tejo com destino a Angola ou Moçambique e, já em mar alto, recebiam ordem – pasme-se! – para rumar à Guiné.


A bordo do Uige; soldados repousam no couvés; nos porões era impossível – calor e cheiro “a muita gente junta”.

O desembarque, via batelão, demorou umas horas. Mal o navio ancorou, apareceram a bordo uns alferes e uns furrieis que “vendiam” selos e telegramas, auferindo logo ali um “bolo” de, pelo menos, 20% sobre o valor das avultadas vendas – diferença cambial entre o escudo e o “peso”. Aproveitavam a sua “insuspeita”, “benevolente” e “patriótica” permanência a bordo para nos “agredir”, “zurzir” com os seus boatos fantásticos e aterrorizadores.

Um daqueles oficiais, natual da Covilhã, era primo do furriel da alimentaçãp da CCaç 675, a quem contou “familiarmente” as suas terriveis atoardas; o vagomestre, fazendo-se valente, respondeu como lhe convinha:
- Isso não me interessa! A minha guerra é outra! Eu sou um afortunado vagomestre! Nada tenho a ver com essas guerras!

O oficial, sentindo que os seus orquestrados truques não produziam o efeito pretendido, contra-atacou, célere e objectivo:
- Eh pá! Ainda a semana passada morreu um vagomestre violentíssimo ataque em – (citou o nome dum qualquer aquartelamento).

[Nota: nunca ouvimos falar da morte dum furriel da alimentação mas... pode ter acontecido. ]

As baboseiras crueis daquele alferes produziram logo o atroz efeito que o autor, pelo menos aparentemente, pretenderia: (i) O vagomestre perdeu logo as estribeiras; (ii) Deixou desencaminhar facturas e/ou recibos das compras de generos alimentícios; (iii) Em consequência não lhe foi possivel (apesar das muitas ajudas) “fechar” os mapas atempadamente; (iv) Foi punido; passou a atirador, chefiando uma esquadra de morteiro 60 num pelotão de caçadores; (v) Ia para o mato com um saco de granadas às costas que o apontador daquela arma lhe entregava na hora da saida; e, por fim, (vi) tentou – cremos, temos quase a certeza – o suícidio com um tiro de G3 – puro desespero.

Passados uns bons meses, porém, “aterrou” definitivamente, assentou ideias e terminou a comissão em beleza... melhor do que começara, mais refinado, mais divertido, mais folião.

Este furriel tinha estado connosco durante as duas semanas de campo (na Vendinha-Évora); gostou tanto da nossa “malta” que se ofereceu, volunrário, para ir com a CCaç 675 – para... Moçambique; tal como nós foi bater com o costado na Guiné.

O vagomestre da CCaç 675 é o da direita – perna cruzada.

Em meados de Janeiro de 1966 desci até Bissau porque fui galardoado (obsequiado) com o Prémio Governador da Guiné – 35 dias de férias no “Puto” com viagens pagas. Ocorreu numa época bicuda em que eu já não podia sair da Guiné, mesmo de férias, porque o fim da comissão estava já a menos de quatro meses – uma longa eternidade.

Dirigi-me ao QG para receber a passagem; à saída encontrei dois alferes “periquitos” com as faces ainda muito rosadas; cheios de juventude e alguma matreirice – tinham chegado dois dias antes.
Perguntaram-me como era a guerra no mato; como se vivia em campanha; como “lidávamos” com os “turras”, etc. Com toda a verdade e só a verdade, transmiti-lhes o que sabia; mas um deles replicou, prazenteiro:
- Quero lá saber dessas guerras! Eu não saio do ar condicionado! Isso é para vocês! Aguentem-se! Foi para isso que vos mobilizaram!

Senti que estava a ser nitidamente “lixado”; lancei de imediato o meu contra-ataque psicológico e demolidor:
- Tu pensas que em Bissau não podes “acordar” com a cabeça a rolar no chão!? Pensas que podes afastar-te das ruas principais ou passar na sombra dum mangueiro sem levar uma catanada?! Não tens ouvido, durante a noite, rebentamentos desmedidos, rajadas sem fim à volta da cidade?! “Eles” estão perto! “Muitos” já estão cá dentro... camuflados! Aguarda! As coisas estão a piorar! A tua vez há-de chegar! O jacaré pode abraçar-te a qualquer momento!

Nisto, ouvimos ali bem perto umas rajadas longas de G3; o tal “periquito” correu e encostou-se à parede do QG, acocorando-se; o outro ficou pálido; tremia... mas aguentou-se ali a meu lado.
- Não sejas medricas, pá! – disse eu sarcásticamente – Um homem morre de pé... de frente para o inimigo! Os cobardes morrem de cócoras! O que tu ouviste são tiros de G3, sim, mas na carreira de tiro, ali atrás do QG! Tens de aprender rapidamente a distinguir entre um tiro de G3 e uma morteirada! Se o não fizeres, borras as cuecas a toda a hora! O tempo vai ensinar-te! Oxalá a aprendizagem não venha tarde de mais!

Nisto, alegando que “estava na hora”, entraram, correndo (medo?) no QG

Como se depreende eu também enveredei pela guerra fantástica, imaginária virando o feitiço contra o feiticeiro... mas apenas para dar resposta àquele “pedido” insistente.

Palácio do Governador em Bissau.

Estação de Correios de Bissau. Interior.

A outra “guerra de Bissau”, a mais verdadeira, hilariante – se de coisa séria não se tratasse – ocorreu em fins de 1963 ou no princípios do ano seguinte, antes, portanto de eu abrir as portas da “minha guerra”.

Em Bissau vivia-se sob enorme tensão; andava tudo sobre brasas; todos apavorados, sobressaltados com o evoluir da guerra e o cerco a aproximar-se, lesto, dos muros da cidade. A frase mais ouvida era esta: - “qualquer dia morremos aqui todos ou somos corridos com uns pontapés no cu”!

Neste ambiente consta que dois fuzileiros se ausentaram das instalações num jeep, em serviço ou em passeio; entraram, incautos, em perigosos terrenos alagadiços e a viatura atascou.
O manto escuro da noite começava a envolver tristemente a cidade; um fuzileiro tinha medo de ir sózinho pedir ajuda; o outro tremia só de pensar que teria de ficar ali, desamparado, junto do jeep, até o apoio chegar. Dispararam para o ar numas rajadas de G3; sem, evidentemente, o pretendenrem... escancararam as portas da tal outra guerra de Bissau... e de que maneira!

Em todos os quarteis da cidade os militares começaram a fazer fogo excessivo sobre inimigos imaginários; disparavam para a escuridão onde qualquer suposto atacante pudesse eventualmente esconder-se; das janelas ou das varandas muito civis descarregavam as suas armas sem saber o que se passava – ninguem sabia. A tremenda fuzilaria durou mais de uma hora.

No QG alguém conseguiu, a custo, fazer calar as armas e mandou sair o piquete para averiguar o motivo daquele suposto disparate e tentar acabar com o matraquear insistente das espingardas. O piquete acalmou a cidade, “fechando” as portas da guerra; volta ao QG e... é recebido a ferro e fogo pelos bravos sentinelas amedrontados; reiniciou-se foguetório em toda a cidade; o piquete visitou de novo os quarteis da baixa fazendo regressar o silêncio. O nervosismo e o terror, porém, mantinham-se à flor da pele. Felizmente e incrivelmente não houve feridos.

Dois dias mais tarde, depois do jantar o Sr. Brigadeiro F., Comandante Militar, foi com uns amigos e as respectivas esposas tomar a “bica” ao Grande Hotel. Estavam na esplanda, - uma espécie de varanda – em amena “cavaqueira” (cavaquear não significa votar no Cavaco). Passou um caminhão na estrada que desce do QG para o centro, provocando uns estalidos próprios de motor desafinado (vulgo “rateres”); apaga-se imediatemente a iluminação; ouve-se logo uma voz angustiada vinda já do interior do hotel; era o Sr. Brigadeiro a gritar, desesperado, a seguinte ordem:
- Rasteja, Beatriz! – (esta era – seria – a sua esposa) rasteja cá pra dentro!

Mais provas do autêntico terror em que se vivia?! Para quê!?

Aquela “ordem” passou a ser muito badalada. Muito se mandava a Beatriz rastejar.

Junho de 2011
Belmiro Tavares
Ten Mil Inf

P.S.: Aquele governador militar viria a ser (creio que era ele) candidato (vencido) à Presidência desta nossa República!
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8411: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (7): Um oficial... endiabrado

Guiné 63/74 - P8576: Agenda Cultural (144): Ciclo de Conferências-debate Os Açores e a Guerra do Ultramar - 1961-1974: história e memória(s) (Carlos Cordeiro) (4): Convite para o dia 22 de Julho de 2011



1. Em mensagem de hoje, 20 de Julho de 2011, o nosso camarada Carlos Cordeiro (ex-Fur Mil At Inf CIC - Angola - 1969-1971), actualmente Professor na Universidade dos Açores, dá-nos notícia de mais uma conferência integrada no ciclo conferências-debates Os Açores e a Guerra do Ultramar – 1961-1974: história e memória(s)*, desta vez a cargo de António Vasconcelos Raposo, antigo combatente em Angola como oficial Fuzileiro Especial e Valdemiro Correia, antigo combatente também em Angola como alferes miliciano Comando.


Ciclo de conferências-debate
“Os Açores e a Guerra do Ultramar - 1961 - 1974: história e memória(s)”

No âmbito do ciclo de conferências-debate “Os Açores e a Guerra do Ultramar - 1961-1974: história e memória(s)”, António Vasconcelos Raposo, antigo combatente em Angola como Oficial Fuzileiro Especial e Valdemiro Correia, antigo combatente também em Angola como Alferes Miliciano “Comando”, proferirão, no próximo dia 22 do corrente (6.ª feira), a conferência “A Guerra Colonial: do emocional à exigência histórica do racional, a visão de dois oficiais da tropa de elite”. O evento terá lugar no anfiteatro “C” do Pólo de Ponta Delgada da Universidade dos Açores, com início pelas 17H30 e estará aberto à participação de todas as pessoas interessadas.

Trata-se de uma organização do Centro de Estudos Gaspar Frutuoso do Departamento de História, Filosofia e Ciências Sociais da Universidade dos Açores, que teve início em 6 de Maio p. p., com a conferência do Ten-Gen. Alfredo da Cruz “A Força Aérea na Guerra do Ultramar: experiência de um piloto de combate”, a que seguiu a do Coronel José M. Salgado Martins, “O Exército na Gerra do Ultramar: experiência de um comandante de companhia.

Notas biográficas do Dr. António Vasconcelos Raposo

António Jacinto Branco Vasconcelos Raposo Nasceu em Ponta Delgada, São Miguel em 1950. Depois de frequentar o então Liceu Nacional de Ponta Delgada, rumou a Lisboa, onde se licenciou em Educação Física. Na Faculdade de Motricidade Humana, concluiu o mestrado em Ciências do Desporto, na vertente de Alto Rendimento em Natação. É treinador Superior e de nível 4, tendo preparado atletas de alta competição que alcançaram importantes êxitos desportivos.

Cumpriu o serviço militar obrigatório como oficial Fuzileiro Especial tendo cumprido uma comissão de 1973 a 1975 em Angola, no Leste.

É autor de diversos livros sobre questões ligadas ao desporto, sobretudo no âmbito do ensino e treino de natação.

No corrente ano publicou, na Sextante, o livro Até ao fim. A última operação”, um romance inspirado em factos reais vividos pelo autor na guerra.

No âmbito do desempenho profissional recebeu vários louvores e condecorações.

Notas biográficas do Dr. Valdemiro Correia

Valdemiro Correia natural de S. Roque, Ponta Delgada, estudou na Escola Industrial e Comercial local. Licenciou-se em Educação Física e concluiu o mestrado em Ciências da Educação. Foi professor do Ensino Secundário e também colaborador da Universidade de Évora.
Prestou serviço militar em Angola, em 1974, como Alferes Miliciano da 42.ª Companhia de Comandos. Passou à disponibilidade em 1975.
Em 2008, publicou o seu primeiro livro: A Fisga, em que relata as suas experiências em três fases da vida: as de rapaz e jovem da freguesia tão característica como a de S. Roque, a de Cadete, na sua preparação militar para a guerra, e a de Alferes, Comandante de um Grupo de Combate da 42.ª Companhia de Comandos em Angola.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 8 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8390: Agenda Cultural (130): Ciclo de Conferências-debate Os Açores e a Guerra do Ultramar - 1961-1974: história e memória(s) (3) (Carlos Cordeiro)

Vd. último poste da série de 15 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8559: Agenda Cultural (143): Cartas de Amor e Saudade, por Manuel Botelho, no Centro Cultural de Cascais até ao dia 28 de Agosto de 2011 (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P8575: BCAÇ 1860 (Tite, 1965/67): Balanço da actividade não-operacional, em banda desenhada... (Santos Oliveira)


Guiné > Região de Quínara > Tite > BCAÇ 1860 (1965/67) > Cópia da capa da brochura da da História da Unidade (*)


Guiné > Região de Quínara > Tite > BCAÇ 1860 (1965/67) >  Resumo, ilustrado, da actividade não operacional do batalhão, entre Abril de 1965 e Abril de 1967.

Fotos: © Santos Oliveira (2008). Todos os direitos reservados.


Guiné > Região de Quínara > Tite > BCAÇ 1860 (Tite, Abril de 1965/Abril de 1967)  > Campanha do arroz:  Transporte, de 300 toneladas  (Abril de 1965) a 3236 (Abrild e 1967)



Guiné > Região de Quínara > Tite > BCAÇ 1860 (Tite, Abril de 1965/Abril de 1967) > Acção psicossocial: (i) Cuidados de saúde: De 4472 consultas a 11722; (ii) Ensino: De 1 a 6 escolas escolas (em Enxudé, Ilha das Galinhas, Jabadá, Fulacunda, Empada e Tite); de 62 a 800 alunos matriculados




Guiné > Região de Quínara > Tite > BCAÇ 1860 (Tite, Abril de 1965/Abril de 1967) > Construções militares: 11 (Abril de 1965); 28 (Abril de 1967); Abastecimebnto de água: 10, 2 mil metros cúbicos (Abrild e 1965); 55,5 mil metros cúbicos (Abril de 1967)... O quartel de Tite era considerado um dos melhores senão o melhor da Província...




Guiné > Região de Quínara > Tite > Região de BCAÇ 1860 (Tite, Abril de 1965/Abril de 1967) > Construção de estradas e caminhos: mais 22,5 km no final da comissão; Assistência religiosa: construção de uma mesquita (muçulmana) (em Tite, onde só havia uma igreja, católica).



Guiné > Região de Quínara > Tite > BCAÇ 1860 (Tite, Abril de 1965/Abril de 1967) > População apresentada às autoridades portuguesas: 3435 (Abril de 1965);  9955 (Abril de 1967): Campanha da mancarra: Transporte:  57 toneladas em Abril  de 1967. (**)

Excerto da História da Unidade (**):







[ Edição e legendas: L.G.]
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 4 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2504: BCAÇ 1860 (1965/67), o 3º Batalhão em Tite (Santos Oliveira)

(**)  Fonte: História da unidade, conforme documentos digitalizados pelo nosso camarada Santos Oliveira (2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf, Pel Mort 912, Como, Cufar e Tite, 1964/66), enviados  por mail em 2008... 

A banda desenhada parece estar assinada, mas essa eventual assinatura é ilegível...  Diga-se, de passagem, que  se trata de uma notável ilustração, feita por camarada talentoso, um trabalho tecnicamente difícil, pois era gravado e reproduzido em "stencil"...

Lista, organizada pelo Santos Oliveira, das sub-unidades do BCAÇ 1860 (Tite,  Abril de 1965/Abril de 1967)> Sub-unidade, sub-sector, período, comandante

(i) CArt 565, Fulacunda, antec /10Ago65, Cap Reis Gonçalves;

(ii) CCav 677, S. João, antec. 20Abr66, Cap Pato Anselmo, Alf Ranito, Cap Fonseca;

(iii) CCaç 797, Interv, 29Abr65/16Mai66, Cap Soares Fabião;

(iv) CCaç 1420, Fulacunda, 11Ago65/08Jan66, Cap Caria, Alf Serigado, Cap Moura; [Recorde-se que a esta infortunada companhia pertenceu, como alferes, o nosso camarada Rui Alexandrino Ferreira];

(v) CCaç 1424, S. João, 11Set65/25Nov65, Cap Pinto; [Companhia que também foi comandada pelo querido amigo e camarada Nuno Rubim, de Junho a Dezezembro de 1966];

(vi) CCaç 1423, Fulacunda e Empada, 30Out66/23Dez66, Cap Pita Alves;

(vii) CCaç 1487, Fulacunda, 08Jan66/15Jan67, Cap Osório;

(viii) CCaç 1549, Interv, 26Abr66, Cap Brito;

(ix) CCaç 1566, S. João e Jabadá, 19Mai66, Cap Pala e Alf Brandão;

(x) CCaç 1567, Fulacunda, 01Fev67, Cap Colmonero;

(xi) CCaç 1587, Empada, 27Nov66, Cap Borges;

(xii) CCaç 1591, Fulacunda (treino operacional), 18Ago66/01Out66, Ten Cadete;

(xii) CArt 1613, S. João (treino op), 03Dez66/15Jan67, Cap Ferraz e Cap Corvacho; [ A esta companhia pertenceu, entre outros, o nosso saudoso  Zé Neto (1929-2007), o primeiro membro da Tabanca Grande a quem a morte levou];

(xiii) CCaç 1624, Fulacunda, 05Dez66, Cap Pereira;

(xiv) Pel Mort 912, Jabadá, antec /26Out65, Alf Rodrigues;

(xv) Pel Caç 955, Jabadá, antec/13Mai66, Alfs Lopes, Viana Carreira, Sales, Mira;

(xvi) Pel AM Daimler 807, Tite, antec/13Mai66, Alf Guimarães;

(xvii) Pel Art 8, Fulacunda, 10Fev66/03Mar66, Alf Machado;

(xviii) Pel Caç 56, Fulacunda e S. João, 31Out66, Alf Dias Batista;

(xix) Pel Mort 1039, Jabadá e Tite, 26Out65, Alf Carvalho;

(xx) Pel AM Daimler 1131, Tite, 12Ago66, Alf Antunes;

(xxi) Companhia de  Milícia 6, Empada, antec, Alf 2ª Mamadi Sambu e Dava Cassamá;

(xxii) Companhia de  Milícia 7, Tite, 05Ago65, Alf 2ª Djaló;

Estas sub-unidades foram atribuídas ao BCaç 1860 durante a permanência em Sector (desde Abr65).


[Imediatamente após a sua chegada à Guiné, o BACÇ 1860 entrou em Sector. Foi-he atribuído o Sector S1, integrado no Agrupamento Sul. Principais localidades: Tite, Fulacunda, S. João e Jabadá. Em Outubro de 1966 é atribuído ao Batalhão o Sub-Sector de Empada, enquadrando as penínsulas de Darsalame e Pobreza. Concomitantemente, passa a pertencer ao BCAÇ 1860 a CCAÇ 1423, aquartelada em Empada.]

Guiné 63/74 - P8574: Os nossos médicos (41): Por fim, e não menos importantes, os nossos anestesistas (C. Martins / Joaquim Sabido / J. Pardete Ferreira)

1. Reunião de comentários ao poste P8518 (*):



(i) C. Martins (ex-Alf Mil, Pel Art Gadamael, 1973/74; hoje médico, que participou no nosso VI Encontro Nacional, em 4 de Junho de 2011, vd. foto à esquerda, ao lado de J. Casimiro Carvalho):


(...) Finalmente aparecem na lista anestesistas. Já começava a pensar que raio de hospital [, HM 241,] era aquele que não tinha tal...


Oh colega e camarada Pardete daquele hospital tão badalado, de quem eu também fui hóspede involuntário, só restam as paredes e cobertas de mato… do hospital civil actualmente denominado Honório Barreto (...).

(ii) C. Martins:


(...) Num bloco operatório não há mais ou menos importantes, o que há é mais ou menos responsáveis. O anestesista não serve só para pôr a "dormir" o "operado",  tem outras funções muito importantes, depois há o cirurgião chefe, 1.º e até 2.º ajudante, instrumentista etc..etc.

Consoante o tipo de intervenção cirúrgica e respectiva especialidade,  às vezes há equipas de dez ou mais pessoas no bloco operatório... Todas elas com funções específicas e importantes trabalhando para uma única finalidade: cura ou melhoria do doente...


(iii) J. Pardete Ferreira (ex- Alf Mil Med, CAOP, Teixeira Pinto; HM 241, Bissau, 1969/71)


É Camarigos, sempre tive muito respeito pelos anestesista. Já não sou daquela geração em que "o anestesista era aquele colega mais ou menos adormecido à cabeça de um doente mais ou menos acordado!"... Já sei, [essa] tem barbas. Já tive um doente, que eu estava a operar com raqui e me diz:
- Oh! Doutor, chame-me o anestesista porque não me estou a sentir bem! (para os colegas, estava a fazer uma reacção vagal quando fui mais brusco nas mexidas no peritoneu).


Anestesistas [no TO da Guiné]:


(i) o Caeiro, um dos Gurus de Coimbra, da Sociedade e do Colégio;


(ii) Domingos Clemente;


(iii) Soares Pinto (mais interessado em pediatria);


(iv) o Isulino;


(v) a Drª Leonor, esposa do falecido Carlos Ribeiro;


(vi) a esposa do Dr. Maurício Lecuona, chefe da repartição Provincial dos Serviços de Saúde da Guiné e que se veio instalar em Évora, creio.


Outros passaram mas a minha pituitária, por vezes,  só reage ao retardador... mas reage e não é uma caixa de Bilhetes de Identidade. Acumula seres humanos, alguns dos quais foram ou são, meus Amigos.


Quando terminava ou, esporadicamente, termino, uso sempre esta fórmula: "muito obrigadinho a todos, principalmente ao doente, que não se mexeu".


Sem os Anestesistas (e isto está longe de ser "dar-lhes banha"), os progressos actuais da Cirurgia e afins, que se tornaram independentes, para nalguns casos voltarem à especialidade mãe, não haveria progresso tecnológico.



(iv) Joaquim Sabido (ex-Alf Mil Art, 3.ª Cart/Bart 6520/73  e CCaç 4641/73, Jemberém, Mansoa e Bissau, 1974):


Caro Pardete Ferreira: Venho apenas confirmar que o falecido Dr. Maurício Lecuona de Oliveira, efectivamente, se estabeleceu em Évora e ainda fui paciente e amigo dele; tal como também sou paciente (só por vezes) mas sempre grande amigo, do Zé Trigo de Sousa, a quem já te referiste num outro poste, que se aposentou há 2 ou 3 anos do cargo de director do departamento de saúde mental do hospital de Évora, mas continua a exercer, enquanto psiquiatra, agora apenas na privada, concretamente, no Hospital da Misericórdia de Évora.


Também conheci aqui em Évora, o Dr. Pedrosa (já falecido), que exercia na área de medicina desportiva e que também esteve na Guiné.


(v)  J. Pardete Ferreira:


Obrigado a todos, principalmente ao Sabido. Os outros que me desculpem. O Trigo de Sousa apareceu um dia na televisão a socorrer feridos de um acidente em cadeia, junto à ponte sobre o Tejo, a única existente na altura. Era um ponto do caraças e um bom profissional... mas na Guiné trabalhou em Ortopedia. Foi meu companheiro no Uíge. Um pouco de má língua: às vezes, quando estava a ajudar uma intervenção, as suas pálpebras fechavam-se um pouco. Estão ouvia-se o Anestesista:
- Oh Trigo, sai de cima do tórax do doente!


Ainda por falar em Anestesista e também continuando a minha intervenção de ontem, apercebi-me de um falta imperdoável: tinha-me esquecido do Marcus Barroco, Amigo e Companheiro das lutas na Medicina Desportiva.


O Calheiros que há uns dias a trás falei e para esclarecer uma dúvida que foi posta, não tem nada a ver com os Calheiros Lobo,  do Porto. Na Guiné estiveram dois, o mais novo, no final da minha Comissão e ligado às Medicinas, e o mais velho, o Cirurgião, já falecido e que não cheguei a conhecer, que foi substituir o Dr. Bruges e Saavedra na chefia da Equipa Cirúrgica.


Vários nomes continuam a aparecer na minha tola e seria injusto que não os fosse apresentando: Norberto Canha, Cirurgião e poeta; Sequeira, Cirurgião; Vasconcelos, a Marinha; Luiselo de Figeiredo, da Marinha igualmente e Cardiologista.


Hoje fico por aqui.


Boa noite camarigos. (**)


PS - Luís Graça, efectivamente também tive a minha fase poética. A chatice é que os originais estão cheios de frio e atafolhados no fundo duma pilha de documentos... mas hei-de encontrá-los.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 6 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8518: Os nossos médicos (35): Mais nomes de clínicos do HM241 do meu tempo (J. Pardete Ferreira)


(**) Último poste da série > 16 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8560: Os nossos médicos (40): Em Junho de 2012, vou recordar mais coisas, no 15º encontro da malta do HM241 (J. Pardete Ferreira)

terça-feira, 19 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8573: O Azimute e o acontecimento do ano de 1968 (Domingos Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Domingos Santos* (ex-Fur Mil da CCAÇ 1684/BCAÇ 1912, Susana e Varela, 1967/69), com data de 18 de Julho de 2011:

Amigo Carlos

Talvez tenha interesse para alguns camarigos estas notícias do antigamente.
Ao dar voltas ao baú doutros tempos, dei-me com uma revista dessa altura "O AZIMUTE" que traz algumas notícias do nosso tempo, e que possam ter interesse para alguns camarigos da Companhia 1585,  de 67-69,  onde descreve um grande louvor e a ida do então Presidente Américo Tomaz à Guiné em 1968.

Um abraço
Domingos Santos












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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 7 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8238: Tabanca Grande (279): Manuel Domingos Santos, ex-Fur Mil da CCAÇ 1684/BCAÇ 1912 (Susana e Varela - 1967/69)

Guiné 63/74 - P8572: Blogpoesia (153): Na Guiné, com a minha bajuda (Albino Silva)

1. Mensagem do nosso camarada Albino Silva* (ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70), com data de 18 de Julho de 2011:

Bom dia Carlos Vinhal
Neste inicio de uma nova semana, creio que estou a começar bem. Depois de vários temas de que já falei, faltava-me falar da minha badjuda e excelente companheira, enquanto estive na Guiné.
Sim porque isto de badjudas só mesmo na Guiné, e a minha foi bem estimada, nunca a troquei por outra, senão vejam.

Abraços para toda a Tabanca Grande, e ainda para quem a visita e faz dela seu jornal, tal como eu.
Albino Silva.

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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 16 de Julho de 2011 > Guiné 63/71 - P8562: Em busca de... (171): Doutores José Luís Pinto Bessa de Melo e Jaime Francisco da Cruz Maurício, CAOP 1, 1968 e 1969 (Albino Silva)

Vd. último poste da série de 18 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8566: Blogpoesia (152): Uma parte de nós ficou para sempre lá (Juvenal Amado)

Guiné 63/74 - P8571: Álbum fotográfico de Manuel Coelho (6): Beli, Madina do Boé e Convívio 2011

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Caldeira Coelho (ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 1589/BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68) com data de 13 de Julho de 2011:

Caro Carlos Vinhal,
Agradecido pelo email que me deixou emocionado, logo fui consultar as imagens e vi que as legendas estavam corretas menos a da saída da Companhia de Madina (com o carro blindado à frente) não é regresso de patrulha, mas o primeiro passo para regresso a Nova Lamego depois de a Companhia 1790 ficar instalada.

Quanto aos nativos presentes enquanto lá estivemos, seriam 3 militares. Armando, Faté e Júlio, uma dúzia de milicias que usavam a Mauser, e uma vintena de civis com famílias completas, onde (dentro do perímetro) plantavam milho, mandioca etc, e algumas mulheres eram as nossas lavadeiras, obtendo alguns proventos com isso.

Tinham outras actividades, lembro-me concretamente de um civil que era o alfaiate do local, e de outro que autorizado a usar uma Mauser, saía regularmente à caça de porco do mato ou de gazela para nós e era uma festa na dificuldade de obter alimentos frescos.

Os três militares que nos acompanhavam, um deles está na foto de grupo da encosta, depois do 25 de abril foram mortos.

Não sei se o mesmo aconteceu ao Marabú, nome por que eram designados os chefes religiosos, e neste caso também chefe de tabanca.

Não me parece que tenham regressado a Nova Lamego connosco, decerto lá ficaram, podem no entanto contatar alguém da CCAÇ 1790 que vos esclareça.

Manuel Coelho


Quotidiano de Beli

Fotos: © Ex-1.º Cabo Machado (2011). Todos os direitos reservados.


Coluna auto de Madina para Gabu

Os corajosos picadores

Convívio 2011 da CCAÇ 1589 > Foto de família e lindo pôr-do-sol

Fotos: © Manuel Caldeira Coelho (2011). Todos os direitos reservados.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8568: Álbum fotográfico de Manuel Coelho (5): Diversas fotos

Guiné 63/74 - P8570: Notas de leitura (257): "Amílcar Cabral – Vida e Morte de um Revolucionário Africano", por Julião Soares Sousa (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Julho de 2011:

Queridos amigos,
O livro de Julião Soares Sousa bem merece uma análise mais detalhada, tal a riqueza de pormenores e a investigação aturada que ele levou a cabo. Este primeiro doutor guineense pela Universidade de Coimbra supera as melhores expectativas, tal o rigor e equidistância que soube manter na sua investigação, do princípio ao fim. Propõe teses novas sobre a formação de Cabral, as bases da construção do PAI/PAIGC, analisa a ideologia socialista do líder do PAIGC sem tabus. Como é desassombrada a sua análise quanto ao assassinato que ocorreu em 20 de Janeiro de 1973, matéria a que dedicaremos a terceira e última recensão.
Estou à vontade, não conheço Julião Soares Sousa, posso propor sem hesitação a sua leitura como indispensável para a compreensão da guerra que todos nós travámos.

Um abraço do
Mário


"Amílcar Cabral – Vida e Morte de um Revolucionário Africano"

Amílcar Cabral: à volta do projecto de unidade Guiné e Cabo Verde

Beja Santos

Um dos aspectos mais relevantes do livro de Julião Soares Sousa sobre Amílcar Cabral é o de permitir um estudo desapaixonado e rigoroso em torno do contexto africano de unidade, a par da génese e evolução do projecto federalista entre Guiné e Cabo Verde que o líder carismático do PAIGC desenvolveu e que estará certamente na base dos maiores sucessos alcançados na luta de independência mas que comporta, de igual modo, o gérmen da destruição dessa mesma unidade.

O autor recorda-nos que o conceito de unidade africana fez fortuna e apareceu associado à ideia pan-africana de unidade do continente: Guiné e o Gana manifestaram a sua intensão de se unir, logo em 1958; Nkrumah defendia que a força do continente africano radicava na união; Nierere, da Tanzânia, advogava que apenas com a unidade se poderia assegurar que os africanos governavam realmente a África. Foi um movimento que culminou com a organização da unidade africana. No percurso, assistiu-se a várias tentativas de uniões regionais e sub-regionais: Gana e a Guiné Conacri; Daomé (actual Benin), o Sudão, o Alto Volta (actual Burkina Faso) e o Senegal formaram a Federação do Mali, etc. Como se sabe o projecto que se tornou mais duradouro na África Austral foi a união entre o Tanganica e Zanzibar que deu origem à Tanzânia, os outros foram simplesmente efémeros.

No final dos anos 50, Cabral estava atento a estes projectos de uniões regionais. O contexto africano era de superar os nacionalismos particularistas. Julião Soares Sousa está convicto de que o projecto federalista de Cabral surgiu em 1959, é a partir de Setembro desse ano que se começa a falar da unidade entre Guiné e Cabo Verde. Nos estatutos do PAI diz-se claramente que é uma “organização política das classes trabalhadoras da Guiné dita portuguesa e de Cabo Verde” e que a sua actividade será exercida nos dois países; esses mesmos estatutos previam a criação de comités e conferências para cada um dos territórios em questão. De acordo com alguns testemunhos da época, a começar por Luís Cabral, Amílcar destacava a origem ancestral comum e facto da Guiné e Cabo Verde dependerem da mesma potência colonial; e argumentava de que a separação da luta das duas colónias seria aproveitada pelo colonizador que poria os cabo-verdianos a dominarem guineenses. Cabral estava pois convencido que o projecto de união tinha solidez histórica e cultural, referia o tráfico de escravos transportados do continente para as ilhas, falava na paridade do crioulo e até na união orgânica ao longo de séculos. Contudo, não deixa de causar perplexidade não ver, por parte dos estudiosos e biógrafos de Cabral, nenhum exame a este conceito francamente voluntarista da unidade histórica e cultural, nem os investigadores cabo-verdianos ou guineenses têm mostrado iniciativa em desmontar esta confabulação montada em elevado conceito; nem se conhece nenhuma reacção, a partir desses anos 60 e até mesmo à independência, de assembleias internacionais ou políticos africanos, parece ter descido uma cortina de silêncio ou aceitação sobre as teses de Cabral acerca da unidade Guiné e Cabo Verde.

Julião Soares Sousa vai destacando reacções desfavoráveis quer de cabo-verdianos quer de guineenses, ela será uma constante no fraccionamento dos diferentes grupos e grupúsculos oposicionistas, sediados no Senegal, na Guiné-Bissau e na Guiné-Conacri, isto para já não falar da contestação em certas elites cabo-verdianas. O discurso de Cabral passará a ser rebarbativo e assumirá quase uma toada mágica: seriam povos irmãos, mesmo com problemas específicos; Guiné e Cabo Verde eram do ponto de vista histórico, étnico, económico, social e cultural, um só povo; ele falava em “o nosso povo do continente e das ilhas” como se houvesse uma única comunidade nacional. Obviamente que este discurso dogmatizante ganhava carga contraditória quando ele próprio aludia às diferenças na situação económica, social e cultural dos dois povos, eram diferenças que ele considerava suficientes para consolidar a unidade.

Como toda esta concepção ideológica era destituída de rigor histórico e político, Cabral foi usando de argumentação de elevada plasticidade até ao seu assassínio, sempre que invocava a unidade. Como é evidente, o conceito acabou por funcionar como uma peça estratégica ao serviço de outros movimentos de libertação, e foi inegavelmente um factor no combate às tentações étnicas que se foram camuflando dada a capacidade de manobra e a oratória de Cabral.

O líder apercebeu-se que tinha que passar para o terreno, interiorizar a subversão graças a quadros preparados. O seu conceito revolucionário foi aceite pelos diferentes movimentos independentistas das colónias portuguesas, a começar por dirigentes de alto coturno como Viriato da Cruz, Lúcio Lara e Mário de Andrade, com quem Cabral tinha excelentes relações. Em Maio de 1960, Cabral chega a Conacri onde se fixam o PAI e o MPLA. Começa um longo percurso até assumir a liderança do movimento de libertação, desarmando gradualmente os grupos opositores. A sua capacidade de trabalho é enorme, na elaboração de documentos teóricos e de comunicados, na correspondência trocada com outros líderes, na participação em reuniões internacionais e na organização do PAIGC, no acompanhamento da subversão ao nível de Bissau, o líder parece incansável, uma onda gigantesca em movimento. Acresce que foi necessário superar desconfianças mesmo dentro da Guiné Conacri e uma suspeita de Senghor quanto aos propósitos políticos de Cabral. Aos poucos, os quadros foram sendo formados no exterior, na Guiné-Bissau. Rafael Barbosa comportava-se como um impetuoso revolucionário, os grupos de oposição desagregaram-se. Sem que as autoridades portuguesas se apercebessem do alcance subversivo, encetou-se a mobilização junto dos camponeses, preparando-os para a hostilidade contra os portugueses. Mas os revezes também chegaram cedo: as prisões em 1961 e 1962, sobretudo as últimas que levaram Rafael Barbosa à detenção. Mas nesse ano o quadro revolucionário encontrara terreno para a prática subversiva: a região Sul é praticamente desmantelada, destroem-se pontes e embarcadouros, isolam-se localidades, aniquilam-se as comunicações.

Em Janeiro de 1963, com o ataque a Tite, é dado o sinal do desencadeamento da luta armada. No final desse ano, há grupos de guerrilheiros e populações apoiantes por praticamente toda a região Sul, no Corubal e no Morés. Cabral é um teórico, um diplomata, um organizador, um estratega. Quando se lê esta biografia política de Julião Soares Sousa não deixa de impressionar a distância colossal que o separa quer dos seus pares dentro do PAIGC quer dos outros líderes independentistas: criou uma doutrina socialista especifica e vai ditar regras dessa originalidade em areópagos onde o pensamento soviético primava por ser o único; usa a unidade Guiné-Cabo Verde como contribuição indispensável para a união africana; é um pensador e um agitador sempre em movimento. A sua obra teórica é de grande valor, toda ela escrita num português exímio.

O seu calcanhar de Aquiles, ver-se-á na próxima e última recensão, residiu na incapacidade de dar resposta ao contencioso entre guineenses e cabo-verdianos que, de um modo geral, não se reviram completamente na construção do Estado proposta por Cabral. No auge do seu prestígio, será assassinado: a criação revoltou-se contra o criador. E, como é por todos sabido, a criação ainda não ganhou identidade.

(Continua)
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 15 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8559: Agenda Cultural (143): Cartas de Amor e Saudade, por Manuel Botelho, no Centro Cultural de Cascais até ao dia 28 de Agosto de 2011 (Mário Beja Santos)

Vd. último poste da série de 13 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8549: Notas de leitura (256): Amílcar Cabral – Vida e morte de um revolucionário africano, por Julião Soares Sousa (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P8569: Fotos à procura de... uma legenda (2): Carlos Miguel (Fininho), e Carlos Alberto Maravilhas Soares, do Comando de Agrupamento nº 1980 (Bafatá, 1967/68): Álbum de Amaro Oliveira António



Foto nº 1 - O ex-Fur Mil Carlos Miguel (Fininho), de pé, ao lado do 1º cabo Amaro Oliveira António, sentado, no Comando de Agrupamento nº 1980 (Bafatá, 1967/68)...




Foto nº 2 - "Homenagem ao Carlos Alberto Maravilhas Soares (guarda redes, já falecido) do Comando de Agrupamento nº 1980" [Bafatá, 1967/68]...

Fotos: © Amaro Oliveira António 2011). Todos os direitos reservados.


1. As fotos são do nosso leitor (e camarada de armas) Amaro Oliveira António (AOA), que pertenceu ao Comando de Agrupamento nº 1980 (1967/68), e onde trabalhou com o Alf Mil Ribeiro e com o Fur Mil Carlos Miguel...

São de fraca qualidade, mas merecem uma legenda... Foram enviadas no princípio do ano corrente... Com estas escassas legendas (*)... Aguardavam uma oportunidade para saírem no nosso blogue... Não temos mais informações sobre o nosso camarada Amaro Oliveira Amaro (AOA), que não pertence, formalmente, à nossa Tabanca Grande...(Fica aqui o convite para, doravante, se juntar ao nosso blogue, sentando-se debaixo do nosso secular, frondoso, fraterno, mágico, encantatório poilão, que abriga os nossos irãs, tanto os bons como os maus...).

Sobre o Carlos Miguel (actor de teatro popularmente conhecido como Fininho, que se retirou no final dos anos 90 para Salvaterra de Magos, depois de ter sido diagnosticado um cancro nas cordas vocais, obrigando-o a  abandonar a sua carreira no teatro de revista e na televisão), já aqui fizemos pelo menos duas referências (**)... Numa delas, o nosso camarada José Corceiro lançava, há um ano atrás,  um apelo para se recuperar fotografias do Carlos Miguel, do seu tempo de Guiné (1968/69), estando em curso a elaboração de um livro biográfico sobre o actor (que se popularizou sobretudo  com o Programa de televisão "Um dois três", da RTP1,  que teve várias séries, entre 1984 e 1998,  com o apresentador Carlos Cruz mas também com o António Sala; entre os actores cómicos que por lá passaram, conta-se o Carlos Miguel, o Raul Solnado e a Marina Mota):

(...) Tinha dois álbuns com fotografias da sua passagem pela Guerra, que guardava carinhosamente, mas já há uns anos que lhe desapareceram durante uma mudança de residência, pelo que neste momento não tem uma única foto desse período da sua vida.

Na Guiné esteve em Canjadude nos Gatos Pretos [, CCA 5,], mas também esteve algum tempo em Nova Lamego, em Bafatá, em Bissau e mais outros locais que visitou, que não pode precisar (...)
.

O nosso camarada Fernando Gouveia, ex-Alf Mil do Comando de Agrupamento nº 2957 (Bafatá, 1968/70) ainda o conheceu, em Bafatá. Tal como o ex-Fur Mil do BENG 447, José Manuel Fresta de Carvalho (**).

Sobre o falecido Carlos Alberto Maravilhas Soares, também não temos qualquer informação adicional.

Sobre o COM AGR 1980, 1967/68, temos a seguinte nota do nosso colaborador permanente José Martins:

(i) Mobilizado no Regimento de Artilharia Ligeira nº 1, em Lisboa;

(ii) Desembarcou em Bissau em 6 de Fevereiro de 1967;

(iii) Deslocou-se para Bafatá, aí  assumindo o comando e coordenação dos batalhões instalados nos sectores de Bafatá, Nova Lamego e Bambadinca em 7 de Fevereiro de 1967;

(iv) Foi rendido em 18 de Novembro de 1968 pelo Comando de Agrupamento nº 2957, recolhendo a Bissau e regressando à metrópole em 19 de Novembro de 1968.

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Notas do editor:

(*) Vd. poste anterior desta série > 17 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8565: Fotos à procura de... uma legenda (1): Álbum de Torcato Mendonça (CART 2339, Mansambo, 1968/69)

(**) Vd. postes de:

2 de Junho de 2010 >Guiné 63/74 - P6521: Em busca de... (135): Carlos Miguel (Fininho), ex-Fur Mil da CCAÇ 5, procura fotos suas do tempo de Guiné: Canjadude, Nova Lamego, Bafatá, Bissau (José Corceiro)

29 de Março de 2011 Guiné 63/74 - P8012: O Nosso Livro de Visitas (110): João Manuel Fresta de Carvalho, ex-Fur Mil Engenharia, que esteve 4 meses em Bambadinca e a maior parte do tempo no Saltinho, cujo aquartelamento ajudou a construir, ao tempo da CCAÇ 2406 (1968/70)