sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9376: Notas de leitura (324): Passadas, recordações de um aluno do Liceu Honório Barreto, de António Estácio (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Dezembro de 2011:

Queridos amigos,
Tomei a iniciativa de pedir ao António Estácio que me deixasse consultar estas memórias em torno da sua vida liceal, fiquei varado pela reconstrução, a carpintaria da escrita apropriada, o registo de histórias que, mesmo por diferentes itinerários, cada um de nós viveu. Acho uma tremenda injustiça esta colectânea de lembranças ficar no olvido. Injustiça até para a cultura guineense. Injustiça porque é prosa muito boa. É muito raro voltarmos à adolescência com tantos pensamentos positivos e lembranças tão sadias como o faz o António Estácio.

Um abraço do
Mário


Traquinices da mocidade no Liceu Honório Barreto, entre 1958 e 1964

Beja Santos

Guardamos, todos nós, recordações das brejeirices e dos actos azougados que praticámos e ajudámos a praticar nos bancos da escola. Os comentários em voz alta nas cadeiras de trás, o professor enfurecido a perguntar quem foi, os tempos das bombinhas de mau cheiro, a malta a ser apanhada a ler revistas…

Nenhum de nós escapou à zomba e à mofa, às faltas colectivas e às barracas durante a imprevista prova oral. E havia as praxes, recordo como se fosse hoje no meu 3º ano em que me coube, logo no início da aula, pedir ao senhor capitão Figueiredo, o professor de Físico-Química, no dia 9 de Abril, ele que era um dos últimos veteranos da batalha de La Lys, que fizesse o favor de explicar à turma, resumidamente, o que tinha sido a batalha, estávamos mortinhos por saber. O senhor capitão Figueiredo fechou o livro dos sumários, ganhou balanço e deu-nos cerca de 45 minutos de ofensiva alemã e tudo fez para justificar o comportamento do Corpo Expedicionário Português. No final, em voz pausada, disse à turma: percebi muito bem que não queriam que eu desse aula; pois bem, vão levar uma lista de 15 exercícios que me entregam no próximo dia.

“Passadas, recordações de um aluno do Liceu Honório Barreto”, por António Estácio, edição do autor, Macau, 1992, é um livro espantoso, não merecia ficar confinado a umas centenas de exemplares, o nosso confrade vazou com melancolia e prodígios de memória um conjunto de passadas (em crioulo da Guiné, estórias, algo que aconteceu e se recorda) e gozos (também em crioulo, brincadeiras, partidas ou piadas). Mesmo admitindo que recebeu muitos contributos, o produto final é uma viagem pela mocidade num estabelecimento de ensino, no pré-anúncio e nos primeiros anos da guerra.

Descreve o liceu instalado em dois pavilhões, o Pavilhão de Baixo e o Pavilhão de Cima. Elenca os nomes dos reitores e dos professores, mostra-nos a salas de aulas e depois entramos no primeiro ano, quase nos sentamos ao lado do Conduinho ou Xandinho, do Lapin, do Tátá, do Carlitos, do Tchengo, do Gui, do Jack Alex, entre algumas dezenas. Os professores também tinham alcunhas: o Dr. António Penedos era conhecido pelo Garú Garú; a professora de Francês era a Dr.ª Clara Shwartz da Silva, mãe do Pepito. Havia alcunhas cruéis, pois claro. A professora de Matemática era a Sr.ª D. Fernanda Barroso (Nha Cassequé) pessoa extremamente magra cuja alcunha provinha da sua semelhança com o peixe seco. O Dr. Aguinaldo Veiga, professor de Ciências Naturais, tinha a alcunha de Aguinaldo Boca, por ser homónimo do personagem cantado numa coladeira muito em voga na altura. Cada professor tem direito às suas histórias e às facécias dos alunos. O Dr. Aguinaldo chamou o Erasmo Serra e perguntou-lhe o que era um rio. O Erasmo pôs-se um tempo a pensar, a malta já gargalhava à espera de o ver disparatar, eis que lhe sai uma soberba definição: rio é uma corrente de água permanente sempre em repouso.

A turma era levada da breca, os professores perderam a paciência, entrou por ali o reitor que anunciou a trinta alunos atemorizados que fora decidido cair sobre aqueles prevaricadores a espada de Dâmocles para os punir exemplarmente. António Estácio escreve e desatei às gargalhadas: “Eramos todos muito novos, uns começaram logo a chorar. Senti um aperto no coração”. Havia relatos de futebol na turma, cachações e lambadas, punham-se migalhas nos livros de ponto. Os anos passam, continua o alvoroço e a balburdia em muitas aulas, o sumário da disciplina de Educação Física e Lavores dizia invariavelmente: “Corridas e saltos”. Os professores vociferam, chamam palerminha e invertebrado aos alunos torcidos nas carteiras. O Dr. Brandão mostra a um aluno o discóbolo e pergunta-lhe o que é e ele responde que é o homem do disco, o professor corrige, e o aluno retorque: é isso mesmo Sr. Dr., eu é que já não me lembrava do nome dele… Nas salas de aulas circulam cães, há claques furiosas de benfiquistas contra sportinguistas, no 4º ano o António Estácio chumba, nessa altura o Tita que escutava na rádio umas lições da BBC dizia a hora I don´t know, o capitão Freire era conhecido pelo Dr. Tell me. Temos depois o segundo 4º ano, estão lá o Gil Bundas, o Toni Porquinho, o Zé Grilo, o Pepito, a Chécha, a Mimela e o Corrente Eléctrica. A guerra já está no horizonte, o professor de matemática era o major Rebelo de Carvalho, dava Canto Coral uma senhora cujo marido era sargento dos fuzileiros especiais. Na aula de História o Armandinho Salvaterra ouve falar numa convenção, tratado ou acordo de Salvaterra de Magos, estava distraído e levantou-se meio atrapalhado dizendo: Pronto! Presente! A professora pede um microscópio, o servente, o Sr. Saná, que não sabia falar português, ficou às aranhas e os velhacos disseram-lhe para ele ir buscar um balde com água, a professora mandou-o pôr o microscópio em cima da secretária, a Dr.ª Palmira Lopes enfureceu-se, houve para ali um pandemónio dos diabos. Inevitavelmente, vem à baila uma história com grilos nas suas invasões periódicas. A malta apanhava dois ou três, metia-os nas caixas das carteiras, as alunas ao levantar a tampa da carteira davam gritinhos. Tínhamos baderna na aula.

António Estácio frequenta o seu último ano no liceu em 1963-1964: ia separar-me de colegas e amigos que tiveram ao longo de anos, era o caminhar para uma meta que ambicionava e ao mesmo tempo temia, ia a caminho da Escola de Regentes Agrícolas de Coimbra, na Bencanta. Exara o nome da malta toda e os professores, a Dr.ª Maria de Lourdes Franqueira Castro e Sousa, a Dr.ª Clara Schwartz da Silva, Dr. Caldeira Firmino e o Dr. Costa Brandão. Para dar geografia chegou um sargento do exército que possuía a licenciatura. Como era careca era conhecido pelo descapotável. O António Estácio também fala dos seus fiascos. A Dr.ª Cecília Quelhas era professora de Ciências Naturais, estava em Bissau a acompanhar o marido, mobilizado como militar. Na prova oral, a professora perguntou-lhe quantas cinturas conhecia e ele respondeu lampeiro: duas, a pélvica e a escapular. A professora prosseguiu querendo saber como era constituída a cintura escapular, ele aí estendeu-se: é constituída pelos ossos das coxas.

Lê-se estas “Passadas” como se vê o Cinema Paraíso ou de qualquer forma se regressa aos tempos de inocência, do espevitar para a vida. É o enunciado em torno de uma família que irá deixar lembranças. Até eu encontrei ali nas turmas do António Estácio o João Cardoso que depois da independência será secretário de Estado e com quem trabalharei alguns meses, em 1991. É um liceu que cresce e onde chegam militares como aquele capitão da administração militar que dava aulas de contabilidade na Escola Comercial e Industrial de Bissau, os filhos do governador Vasco Rodrigues partem em pleno terceiro período de 1964, quando o pai deixa de ser governador para ser substituído pelo general Arnaldo Schulz. Estácio também presta homenagem aos diferentes serventes e contínuos, o Cowboy não se fazia rogado, dava luta e respondia a quem o tratava pela alcunha Obo di bó papé (os tomates do teu pai).

Este livro não é só uma agradável surpresa, naquele mundo que se transfigurava o António Estácio recolheu o ar do tempo, guardou religiosamente a linguagem das pantominices e brindou-nos e aos colegas com um texto cheio de candura adolescente.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9361: Notas de leitura (323): Malhas que os Impérios Tecem (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P9375: Excertos do Diário do António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (5): ): "Uma novidade, os guerrilheiros utilizaram viaturas blindadas na flagelação a Bedanda [, em 31 de março de 1974]"...

1. O nosso camarada e amigo, António Graça de Abreu (AGA), era um homem bem informado  (e melhor formado) lá no CAOP1, e por onde andou no TO da Guiné: Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, entre meados de 1972 e as vésperas do 25 de abril de 1974... 

Não admira por isso que haja, pelo menos, uma referência aos "blindados" do PAIGC (leia-se: dos seus "amigos soviéticos")(*), que terão sido utilizados, sem grande efeito prático (a não ser eventualmente psicológico) num ataque ou flagelação a Bedanda,
em 31 de março de 1974... 

Eis aqui esse excerto do seu Diário da Guiné, 1972/74, de que temos, por gentileza e generosidade suas, um ficheiro em word, o mesmo que serviu de base à edição do livro Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp). (**)

Sobre os famosos blindados do PAIGC (que, na prática,  não jogaram nenhum papel efetivo nesta guerra, pelo menos a ponto de desequilibrar os pratos da balança...), escreveu-me há tempos [ 13 de janeiro de 2010,] o Nuno Rubim o seguinte:

(...) "Luís, junto te envio cópia de um documento emanado pela 2ª Rep / Com-Chefe Guiné sobre os BRDM 2. Também existem no AHM [, Arquivo Histórico Militar,] referências ao modelo 1.

"Há uma carta do A. Cabral para o Pedro Pires (Dez 72 ) a 'sugerir' a utilização dos blindados nos ataques a alguns dos nossos aquartelamentos fronteiriços no Sul. Na Net encontrarás farta documentação sobre essas viaturas [...].

O nosso camarada António Rodrigues, em comentário ao blogue do Sousa de Castro, CART 3494 & Camaradas da Guiné, poste P136, de 9 do corrente, diz que estas viaturas blindadas já tinha usado antes, em Copá, no nordeste da Guiné (Aliás, já o tinha escrito, antes no nosso blogue, em poste de 23 de novembro de 2010):

(...) "Eu e os meus camaradas, enfrentamos essas mesmas viaturas [ duas,] durante o forte ataque desencadeado pelo PAICG a Copá, na noite de 7 para 8 de Janeiro de 1974, tendo uma delas derrubado o arame farpado e penetrado dentro de Copá cerca de 10 metros. António Rodrigues  1ª. CCAV / BCAV 8323 Copá 73/74" (...).

Diz-se neste Poste que o PAIGC a 31 de Março de 1974 apareceu com viaturas blindadas no ataque a Bedanda (Cubucaré).

Na realidade, ainda não se sabe com rigor que tipo de viaturas se tratava... É mais provável  que se tratasse de veículos de reconhecimento, anfíbios (tipo BRDM),  ou de viaturas de reeconhecimento para transporte de tropas (tipo BTR)... De qualquer a sua utilização na Guiné de viaturas blindadas, por parte do PAIGC (mas também pelas NT), estava muito condicionada por diversos fatores adversos: geografia, hidrografia, clima... Os especialistas da guerra colonial Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes escreveram o seguinte sobre as "viaturas de combate" do PAIGC:

(...)" Em fevereiro de 1974, foram referenciadas viaturas pesadas paraa rebocar morteiros de 120 mm no Norte da Guiné, zona de Canquelifá, junto à fronteira com o Senegal. Dias mais tarde foram detectadas, em ataque à guarnição portuguesa de Bedanda, no Interior-Sul do território, viaturas blindadas provavelmente  BRDM, BTR, PT-76 ou PT-34, todas de origem soviética". (In: Afonso, A.; Gomes, C. M. - Guerra colonial: Angola, Guiné, Moçambique. Lisboa: Diário de Notícias, s/d, p. 259).

2. Aqui vai o excerto do Diário do AGA (com a devida vénia):


 (...) Cufar, 3 de Abril de 1974

A guerra está feia. Bedanda embrulhou durante todo o dia, um ataque tremendo, doze horas consecutivas de fogo. A festa só acabou à noite com uma espécie de cerco à povoação levado a cabo pelos homens do PAIGC.

Em Cufar, tão próximo, além de distinguirmos nitidamente as rajadas de metralhadora de mistura com os rebentamentos dos RPG, foguetões e canhão, à noite viam-se as balas tracejantes e as explosões no ar.

Uma novidade, os guerrilheiros utilizaram viaturas blindadas na flagelação a Bedanda. Existe uma estrada que vem da Guiné-Conacry, passa junto a Guileje – abandonada pela tropa portuguesa, – entra pela região do Cantanhez e termina em Bedanda. O IN está a utilizar esse percurso para deslocar camiões carregados com todo o tipo de armamento, em seguida é só despejar sobre os aquartelamentos portugueses mais expostos e fáceis de alcançar, como Chugué, Caboxanque, Cobumba, Bedanda, Cadique e Jemberém.

Bedanda é uma povoação grande, a maior do sul da Guiné depois de Catió. Terá uns cinco mil habitantes e ontem já se falava em abandonar o aquartelamento. A população africana saiu da vila, ficando por próximo.

Bedanda levou com mais de sessenta foguetões e centenas e centenas de granadas de RPG, morteiro e canhão sem recuo. Foi medonho, há muita coisa destruída, mas tiveram sorte, contam-se apenas dois feridos, um furriel e um negro que levou um tiro nas costas. A tropa passou mais de doze horas metida nas valas.

Espera-se novo ataque a Bedanda. As NT já foram remuniciadas e há promessa de se enviarem mais militares para defender a terra. Os guerrilheiros também devem ter ido descansar e reabastecer-se.

Todas estas flagelações, apesar de serem destinadas aos vizinhos do lado, deixam marcas em todos nós. São horas, dias, meses a ouvir continuamente o atroar dos canhões da guerra. Eu ando um bocado desconexo, excitado, “apanhado”. Quase não tenho dormido, são as sensações finais, o cansaço, o desamor à mistura com o alvoroço do regresso a casa. (...)

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Notas do editor:

(*) Vd.poste de 18 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9368: Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição e adaptação de Luís Gonçalves Vaz (Parte I)

(**) Último poste da série > 14 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9352: Excertos do Diário do António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (4): Os foguetões 122 mm que vi, ouvi e contei ao longo de quase dois anos...

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9374: Memórias de Manuel Joaquim (4): Que parvo que eu fui, e uma mãe que apanhou um grande susto

1. Mensagem de Manuel Joaquim* (ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67), com data de 6 de Janeiro de 2012:

Meus queridos camaradas,

Aqui vai mais um "textito" que talvez tenha algum interesse, "Que parvo que eu fui!". Pois é, fui parvo naquela altura mas não me serviu de aviso para evitar outras parvoíces ao longo da vida.

Abraço grande
Manuel Joaquim


Memórias de Manuel Joaquim (4)

Que parvo que eu fui!

Julho/1965. No Campo Militar de Sta. Margarida o BCaç 1857 preparava a sua ida para a Guiné, marcada para o fim do mês. No início das manhãs respirava-se um ar seco, com alguma frescura . Naquela manhã também mas, para nós, adivinhava-se um dia ainda mais tórrido que os anteriores, a dar-nos cabo do físico nos terrenos do Campo.

Não me lembro de quase nada no que se refere aos exercícios militares a não ser que, desta vez e a dada altura, coube à minha Secção fazer qualquer coisa do género patrulhamento. Desta missão guardo na memória coisa pouca, algumas imagens e sensações. Lembro-me de uma paisagem agreste pouco arborizada, de sofrer um calor intenso envolto em aromas fortes vindos do pisoteio de plantas secas que cobriam um solo também seco, e por vezes pedregoso, nada “amigo” como também o não era um mato cheio de estevas cujas folhas pareciam expelir um óleo irritante que se nos agarrava às mãos e à cara.

Neste ambiente, a água dos cantis “voou” rapidamente e a sede apareceu. Não se esperou muito para ouvir vozes a suspirar por água. Demos por um ribeiro seco e vimos no seu leito, a alguma distância, uns tufos de verdura, sinal de água. A missão de patrulhamento (?) passou para segundo plano em relação à busca de água, seguimos o ribeiro em direção ao tufo de plantas verdes e viçosas mas água foi coisa que se não viu. Vi sim algo inesperado, uma aldeia ali perto. Mandei um soldado ler a placa que vislumbrei numa estrada, umas dezenas de metros abaixo, de modo a confirmar-me a nossa posição e a deixar-me mais descansado.

Carregueira, gritou-se da estrada.

Ao ouvir tal nome lembrei-me logo do meu amigo Formigo, na altura furriel miliciano vagomestre na Guiné e meu colega professor primário. É a sua aldeia natal!

A sede exasperava alguns. (Sede? Aquilo era sede? A Guiné irá mostrar-nos o que é ter sede!). O cansaço era muito, a jornada longa e a Carregueira ali tão perto! Que tal uma saidinha rápida para matar a sede e saber como estava o meu amigo? Há uns tempos já largos tinha-me escrito do Ingoré. Falei nisto à malta e, claro, este “convite à dança” foi logo aceite, efusivamente. Resolvi fazer uma pausa na “guerra”, saindo da área militar. Apanha-se a estrada e ala, a caminho da aldeia. Perguntei à primeira pessoa que encontrámos se sabia onde morava um militar que estava na guerra da Guiné, chamado Formigo.

- Olhem, é mesmo ali, aquela casa com um café (ou disse taberna?) na parte de baixo. A mãe dele deve lá estar a aviar.

E lá fomos todos contentes, não havia melhor lugar para matar a sede!

- Oh nosso cabo miliciano, se tiverem pena de nós talvez nos dêem de beber e apareça qualquer coisinha para trincar ...

- Sei lá, água darão mas comida... deve ser difícil. Não querias mais nada?!

Chegados à dita casa lá vou pela porta adentro, a Secção inteira atrás de mim toda “artilhada” de espingarda ao ombro mas com um ar abatido de cansaço, um cansaço real mas nitidamente exagerado. Deviam querer impressionar a senhora que até tinha um filho na tropa!

Ao entrar, enquanto os olhos se adaptavam à luz interior, vi um vulto a deslocar-se rapidamente à minha frente. Ao melhorar a visão reparei numa senhora a olhar para nós com ar interrogativo, por detrás do balcão.

- Bom dia, minha senhora!
- Bom dia, o que desejam?
- A senhora é a mãe do Joaquim Formigo Caetano? Sou um amigo...

Fui interrompido por algo que ela disse mas que não entendi e vi-a cambalear como se fosse desmaiar. Um pouco depois perguntou, muito aflita e ansiosa:

- Aconteceu-lhe alguma coisa? O que é que foi? Ai o meu filho!

- Não, não! Não aconteceu nada! É que eu sou amigo dele, queria saber como é que ele está! Vimos aqui para beber alguma coisa, estamos com muita sede, estamos em Sta. Margarida. Ao ver o nome de Carregueira lembrei-me do meu amigo Formigo, sabe, vivemos na mesma pensão em Leiria durante três anos e fomos colegas de curso. Ele está bem? ...

Enquanto durou a explicação a senhora lá se foi acalmando lentamente até que perguntou, num tom de voz seco e impessoal:

- O que querem beber?

Bebi água mas não fui acompanhado por aí além. A maior parte do grupo preferiu outras bebidas mais “finas”. Não esperavam pagar, pelos vistos! Enquanto bebíamos fui falando com a senhora acerca da minha convivência com o filho, da nossa amizade, da minha próxima ida para a Guiné, ela falou-me do pouco que dizia saber da vida do filho na guerra, etc. Passaram-se assim uns bons minutos de agradável conversa.

- Bem, muito obrigado pela sua atenção mas temos de ir embora. Quanto é a conta?

- São ... ( esqueci o valor)

Olhei para o grupo. Com que então queriam borla?! Vasculhei os bolsos sabendo que de lá não saía nada mas a ver se alguém se adiantava com uma moedita ou dizia alguma coisa. “Nicles”, tudo calado! Lá tive que ir a um bolso mais recolhido e puxar por uma nota guardada para outros gastos que não aqueles ali! Mas tudo bem, a culpa era toda minha, não tinha que me queixar de nada.

Despedidas feitas, abastecemo-nos de água numa fonte ali perto e lá regressámos ao Campo com um sério aviso a todos: “Espero que ninguém dê com a língua nos dentes! Não me lixem!

Tínhamos que completar a missão e uns bons quilómetros para andar até ao quartel.

Voltaram aqueles aromas fortes (agora rarefeitos por causa do calor), vindos do mato e de alguns pinheiros e eucaliptos dispersos e voltámos a ser fustigados pelas folhas pegajosas das estevas mais altas que, ainda hoje, me vêm à memória de vez em quando...

Foi só então, no regresso a Sta. Margarida e ao recordar a aflição daquela mãe, que tomei consciência da asneira que tinha praticado (“devíamos ter bebido primeiro e só depois eu falar do Formigo, que estúpido!”).

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O silêncio sobre esta “fuga” não foi, na altura, quebrado por ninguém. Quanto ao melindre da situação havida na mercearia acho que só eu dei por ele (e isto só depois!). Nunca esqueci este episódio. Não pela infração militar cometida mas pelo pânico causado àquela senhora, a quem apareci abruptamente como um possível mensageiro da desgraça, trazendo notícias sobre o seu filho combatente na Guiné. Logo que o reencontrei, pedi-lhe que apresentasse as minhas desculpas à sua mãe. Mas estas desculpas não apagaram a asneira que pratiquei. Apetece-me dizer, parafraseando o título de uma canção recentemente na berra,

- Que parvo que eu fui!
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 11 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9341: Memórias de Manuel Joaquim (3): Est-il un ennemi?

Guiné 63/74 – P9373: In Memoriam (105): António da Costa e Silva, ex-Fur Mil da CCAÇ 2659/BCAÇ 2905 (Guiné, 1970/71)

IN MEMORIAM

António da Costa e Silva, ex-Fur Mil da CCAÇ 2659/BCAÇ 2905


1. Mensagem do nossos camarada Júlio César (ex-1º Cabo, CCAÇ 2659/BCAÇ 2905, Cacheu, 1970/71), com data de hoje:

É sempre com muita saudade que recordamos os amigos e de tempos a tempos as más notícias entram na nossa casa como intrusos indesejaveis.

Assim aconteceu ontem, pela voz do camarigo Albuquerque.

Faleceu o Costa e Silva, dizia-me ele com voz sofrida.

António da Costa e Silva, natural de Vila do Conde, sempre muito amigo do “seu” Rio Ave, foi Furriel Miliciano na Companhia de Caçadores 2659, que esteve no Cacheu nos anos de 1970 e 1971, integrada no Batalhão de Caçadores 2905, no sector de Teixeira Pinto.

O seu funeral realiza-se amanhã, pelas 14,30 na Igreja de Nossa Senhora do Desterro, em Vila do Conde

Descansa em Paz, meu bom amigo

Júlio César Ferreira
Ex-1º Cabo da CCaç 2659


2. Os editores e a tertúlia deste Blogue endereçam à enlutada família do nosso camarada Costa e Silva as mais sentidas condolências pela morte do seu ente querido.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 11 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 – P9343: In Memoriam (104): Carlos Adrião Geraldes (1941-2012), ex-Alf Mil da CART 676, Pirada, Bajocunda e Paúnca, 1964/66

Guiné 63/74 - P9372: Documentos (14): Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte II)


Capa do relatório da 2ª Rep / CTIG

Nota dizendo que "o relatório que se segue abrange o período de 1JAN73 a 15Ou74"...




1ª parte do índice do relatório (pág. 1)

2ª parte do índice do relatório (pág. 1)





3ª parte do índice do relatório (pág. 2)

 

Início da pág. 3 (presume-se) do relatório com as seguintes indicações: "SECRETO. Exemplar nº [em branco] . CL/QG/CTIG. 2ª Repartição. 2810hFev75... Relatório da 2ª Rep CC/FAG (Relativo ao período de 1Jan73 a 15Out74)"...



Pág. 13 do relatório: Síntese da atividade do PAIGC: Ano de 1972, ano de 1973, ano de 1973 até 30Abr73, ano de 1974 até 30Abr874....

[Leitura: Nos 4 primeiros meses de 1974 - em relação ao mesmo período do ano anterior - houve (i) um aumento de cerca de 30% das ações de fogo do IN sobre os nossos destacamentos, e das emboscadas ofensivas; (ii) triplicaram os ataques a embarcações; (iii)  houve 2,3 vezes mais minas e armadilhas e outras ações de interdição de itinerários; (iv) houve um aumento de 60% das ações de terrorismo].


Última página do relatório (pág. 74), com a assinatura do chefe da 2ª rep, maj inf Tito José Barroso Capela.


1. Em cima: Algumas das páginas, digitalizadas,  do relatório da 2ª rep/CTIG, que nos foram foi gentilmente enviadas pelo Luís Gonçalves Vaz, a partir de um exemplar pertencente ao arquivo pessoal de seu pai, cor cav CEM  Henrique Gonçalves Vaz, último chefe do estado-maior do CTIG (1973/74), entretanto falecido em 2001 (*).

Recorde-se que o nosso amigo Luís Gonçalvez Vaz, hoje professor do ensino básico, no distrito de Braga, vivia em Bissau e frequentava o Liceu Honório Barreto quando se deu o 25 de abril de 1974.  

O Luís também nos enviou, para publicação, uma resenha biográfica do seu pai, profusamente ilustrada, incluindo fotos das suas comissões de serviço em Angola (1963/65) e na Guiné (1973/74). No CTIG, o cor cav Henrique Gonçalves Vaz serviu como chefe do estado maior, sob as ordens do gen Spínola, do gen Bettencourt Rodrigues e, a seguir ao 25 de Abril, do comodoro Almeida Brandão (, com-chefe interino, sendo governador o brigadeiro graduado Carlos Fabião). Não pertenceu ao MFA, como nos esclareceu o filho.

(...) "Envio-vos algumas imagens do Relatório da 2ª Rep/CTIG,  conforme o Luís [Graça] me pediu.


"O Relatório tem 74 páginas, é datado de 28 de Fevereiro de 1975 (data da sua publicação), não está numerado (exemplar para o CEM?), mas é um original pelo aspecto, e está assinado pelo Major de Infantaria, Tito José Barroso Capela. E como podem ver, o carimbo de 'SECRETO', está a vermelho, logo deve ser um exemplar original". (...).

O nome do chefe da 2ª Rep /CTIG já aqui tinha sido citado em poste anterior, de 11 de novembro último, referente à troca dos últimos prisioneiros do PAIGG e das NT, ocorrida em 14 de setembro de 1974, em Aldeia Formosa (hoje, Quebo):

(...) "Estiveram presentes nesse ato, pelas nossas tropas, o Major de Infantaria, Tito José Barroso Capela (Chefe da 2ª Rep. do QG), o Major de Artilharia Aragão, o Capitão-tenente Patrício, o capitão de Infantaria Manarte e o Furriel miliciano Elias (da 2ª Rep./QG/CTIG)". (...)

De acordo com as normas editoriais do nosso blogue, a publicação destes documentos (oficiais ou oficiosos, quer das NT, quer do PAIGC, ou de outra origem), não implica qualquer tomada de posição dos editores a favor ou contra o seu conteúdo, importância documental, relevância historiográfica ou outros critérios. O propósito da sua publicação é, pois, meramente informativo. Compete aos nossos leitores fazer a sua avalição crítica.


Imagens: © Luís Gonçalves Vaz (2011). Todos os direitos reservados.

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Nota do editor:

(*) Vd. poste anterior da série > 18 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9368: Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte I)

Guiné 63/74 - P9371: Parabéns a você (369): José Crisóstomo Lucas, ex-Alf Mil da CCAÇ 2617 (Guiné, 1969/71) e Manuel Mata, ex-1.º Cabo Apontador de Armas Pesadas do Esq Rec Fox 2640 (Guiné, 1969/71)

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9367: Parabéns a você (368): Luís Rainha, ex-Alf Mil Comando (Guiné, 1964/66)

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9370: (Ex)citações (172): Que riqueza este nosso blogue! (Hilário Peixeiro, ex-Cmdt da CCAÇ 2403, 1968/70)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional do Cantanhez > Cananima > 9 de Dezembro de 20090 > 18h00 > Barco e pescador de Cananima, aldeia piscatória frente a Cacine, situada na margem direita do Rio Cacine... Não existia no tempo da guerra, não vinha no mapa...

Foto: ©
João Graça (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados .


1. Comentário, com data de 3 do corrente,  de Hilário Peixeiro, ao Poste P9296(*) (Recorde-se que este nosso camarada, membro da nossa Tabanca Grande, foi comandante da CCAÇ 2403/BCAÇ 2851, Nova Lamego, Piche, Fá Mandinga, Olossato e Mansabá, 1968/70; é atualmente coronel na reforma):

 Caro Luís:

Como admiro quem, em meia dúzia de linhas, consegue exprimir os sentimentos e emoções vividos por tantos milhares dos que passaram por 13 longos anos de guerra,quando eu, em mil páginas, não o saberia fazer.

Que riqueza este nosso blogue onde nos encontramos de coração aberto ao que de melhor tem o ser humano.

Obrigado aos seus administradores com votos não só de um Feliz Ano Novo mas de longa vida para continuarem esta possibilidade de melhor nos recordarmos. (**)

Hilário Peixeiro
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 31 de dezembro de 2011 >
Guiné 63/74 - P9296: Blogpoesia (174): Dies irae! (Luís Graça)

(**) Último poste da série > 4 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9311: (Ex)citações (171): A propósito de citações e comentário do Mais Velho (José Manuel Matos Dinis)

Guiné 63/74 - P9369: Fragmentos da minha passagem pela tropa (Carlos Rios) (12): Fragmentos Genuínos - 10




FRAGMENTOS GENUÍNOS - 9

Por Carlos Rios,
Ex-Fur Mil da CCAÇ 1420/BCAÇ 1857, Mansoa e Bissorã, 1965/66






Os fulas
História

Os fulas, cuja origem apresenta algumas dúvidas, é um povo com 80% de pastores nómadas, com um pequeno grupo de sedentários, localizados em distintos países do Sahel, do Chade até o Senegal. Adotam diferentes nomes: sokoto, macina, kano-bororro. Etnicamente são diferentes de outros povos africanos; são de pele mais clara e nariz mais reto. Aliam-se aos negros sedentários, de cuja mescla com os sereres originaram os tucolores, os futandés e os toronkes, importantes grupos do vale do Senegal. Seu auge político foi nos séculos XVIII e XIX, quando conquistaram importantes territórios. Seus primeiros contatos com o islamismo teve lugar no século XVI, como os de outros grupos do Sahel. No século XIX se converteram ao islamismo na totalidade da população.

Situação política
Os fulas de Níger e Senegal tiveram guerra com as tropas francesas e inglesas se opondo a colonização. Nos territórios ingleses (Nigéria) alguns fulas se misturaram com os hausa e adotaram sua língua. Formando a classe governante da Nigéria.

Economia
A maioria são pastores, ainda que haja grupos agrícolas (sokoto) e urbanos. Em alguns países mantém importantes posições políticas e econômicas.

Cultura e educação
A sua sociedade está marcada pelo sistema de castas que compreende: nobres, servos, comerciantes, pastores, poetas e artesãos em couro e madeira, com um arraigado sentimento conservador. Os fulas consideram-se autênticos muçulmanos, ainda que conservem muitos costumes pagãos entre eles. A educação realiza-se nas escolas corânicas.

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Estes são os povos sem pinga de hábitos ou tradições portuguesas, onde assisti com um misto de incompreensão e mistério história e modos de viver, de arreigado tradicionalismo que estavam nas antípodas do que estava em mim interiorizado.

Guiné: Amuletos de prata usados por mandingas e fulas" Os mandingas eram quase exclusivamente os artífices destes produtos.


Preparando-se para trepar e recolher os cachos de den-den (palma).

O vinho de palma (siri) também é recolhido lá no alto, onde são colocados recipientes, feitos de folhas, a aparar o líquido que escorre depois de feita uma incisão na base dos estames das flores. Consoante a hora a que é recolhido assim é o seu gosto e grau de álcool. Deve ser bebido no próprio dia.
As flores depois de reduzidas a cinza são usadas na agricultura devido ao seu grande valor em potássio

E lá vai ele a caminho…cá em baixo estão os ajudantes para apanhar.


Etnia Felupe

Os Felupes vivem a norte do rio Cacheu, de São Domingos a Varela, junto da fronteira com a região de Casamansa da vizinha República do Senegal.

Imagem de um baga-aga. Era construído por formigas e tão duro como cimento. Era o abrigo preferido do In, e local donde nunca descolava o Cap. C. assim que havia a mais pequena bernarda.


São referidos como praticantes de canibalismo no passado, são coleccionadores de cabeças dos inimigos que guardam ou entregam ao feiticeiro, e usam com muita perícia arcos com flechas envenenadas .
São igualmente grandes lutadores, fazendo da luta a sua paixão pelo desporto tão vulgarizado, prende-o empolga-o, constituindo um verdadeiro espectáculo. Esta etnia é famosa pela sua combatividade e independência, sendo perfeitamente autónomos, tendo o seu território e fazendo incursões frequentes no Senegal.

Outra actividade notável e que me foi dado observar sub-repticiamente é a sua arte de pesca: a bordo de uma canoa manufacturada pelos próprios num tronco de árvore, dois homens, enquanto um manobra a embarcação, o outro na proa da mesma com um arco e flecha permanece imóvel disparando sempre infalivelmente.

Canoa dos Felupes - Ei-los preparados para a faina da pesca. Importa dizer que este tipo de embarcação era muito usado pelas diversas etnias, tendo em linha de conta o tipo orográfico do território.

Fabricação de tijolos com molde e argamassa para depois secarem ao sol. A argamassa para os blocos era feita de barro e excrementos de gado vacuum. Eram extremamente rígidos e curiosamente não exalavam mau cheiro.

Decorrida que é a maior parte da vida que considero activa e recolhidos desta os exemplos e ensinamentos que neste momento de meditação e retrospectiva, me fazem pensar no Mundo, percurso esse feito de alguns momentos de esfuziante alegria e na maior parte da mesma, de luta e cruéis e dramáticas peripécias, em que a guerra colonial, para a qual foram arrastadas mais que uma geração e que teve a maior transcendência na formação e estruturação do pensamento a maneira de ser de cada um de nós, teve grande importância, e que depois de na minha opinião, julgo ter constatado, pela displicência e menosprezo com que fomos tratados nas semi-clausuras em que se mantinham os restos da carne para canhão, doentes e estropiados que se mantiveram na dependência do Estado, no meu caso foram seis anos de dolorosas peripécias, teremos sido dispensados e ignorados.

Carnaxide, 20 de Dezembro de 2011
CARLOS RIOS

Todos os homens buscam a felicidade. E não há exceção. Independentemente dos diversos meios que empregam, o fim é o mesmo. O que leva um homem a lançar-se à guerra e outros a evitá-la é o mesmo desejo, embora revestido de visões diferentes. O desejo só dá o último passo com este fim. É isto que motiva as ações de todos os homens, mesmo dos que tiram a própria vida.
(Blaise Pascal)

Somente aqueles que nunca deram um tiro, nem ouviram os gritos e os gemidos dos feridos, é que clamam por sangue, vingança e mais desolação. A guerra é o inferno.
(Gen. William T. Sherman)

Quando os ricos fazem a guerra, são sempre os pobres que morrem.
(Jean-Paul Sartre)

Qualquer coisa que encoraje o crescimento de laços emocionais tem que servir contra as guerras.
(Sigmund Freud)

O homem tem que estabelecer um final para a guerra, senão, a guerra estabelecerá um final para a humanidade.
(John F. Kennedy)

Nossos livros de escola glorificam a guerra e escondem seus horrores. Eles incutem ódio nas veias das crianças. Eu preferiria ensinar paz do que guerra. Eu preferiria incutir amor do que ódio.
(Albert Einstein)

A paz é igual a uma grande roda humana, enquanto todos estiverem de mãos dadas, as armas estarão no chão.
Tiago Bicalho

Que eu nunca mendigue paz para a minha dor, mas coração forte para dominá-la.
Rabindranath Tagore
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Nota de CV:

Vd. postes da série de:

28 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9279: Fragmentos da minha passagem pela tropa (Carlos Rios) (3): Fragmentos Genuínos - 1

30 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9289: Fragmentos da minha passagem pela tropa (Carlos Rios) (4): Fragmentos Genuínos - 2

2 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9302: Fragmentos da minha passagem pela tropa (Carlos Rios) (5): Fragmentos Genuínos - 3

4 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9310: Fragmentos da minha passagem pela tropa (Carlos Rios) (6): Fragmentos Genuínos - 4

6 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9320: Fragmentos da minha passagem pela tropa (Carlos Rios) (7): Fragmentos Genuínos - 5

9 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9336: Fragmentos da minha passagem pela tropa (Carlos Rios) (8): Fragmentos Genuínos - 6

11 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9342: Fragmentos da minha passagem pela tropa (Carlos Rios) (9): Fragmentos Genuínos - 7

13 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9350: Fragmentos da minha passagem pela tropa (Carlos Rios) (10): Fragmentos Genuínos - 8
e
16 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9362: Fragmentos da minha passagem pela tropa (Carlos Rios) (11): Fragmentos Genuínos - 9

Guiné 63/74 - P9368: Documentos (13): Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte I)





Guiné > Chão Manjaco > Pelundo > 1973 > O Coronel Henrique Gonçalves Vaz, último Chefe do Estado-Maior do CTIG (1973/74), comandando exercícios com fogos reais, no Pelundo, na zona oeste da Guiné.

Fotos: © Luís Gonçalves Vaz (2011). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem, com data de 8 do corrente, enviada por Luís Gonçalves Vaz, que estava no 25 de  Abril de 1974 em Bissau, sendo filho do Cor Cav Coronel Henrique Gonçalves Vaz, então Chefe do Estado-Maior do CTIG:



 (...) Conforme prometi envio-vos mais um artigo sobre a "Situação Militar no Teatro de Operações da Guiné no ano de 1974". Limitei-me a adaptar e transcrever certos excertos de um Dossiê Secreto, que faz parte do arquivo do meu pai,   autenticado pelo Chefe da 2ª Repartição, o Major de Infantaria, Tito José Barroso Capela. Leiam-no e vejam, dentro dos vosso critérios,  se tem interesse para publicação no Blogue. Acho que a classificação deste Dossiê, com o tempo deve ter sido "desclassificado", podendo ser publicado, não acham? (...)


2. Situação Militar no Teatro de Operações da Guiné no ano de 1974 > Parte I



Adaptação e transcrição de alguns Excertos do "Relatório da 2ª Repartição do QG do CTIG”, autenticado pelo Chefe da 2ª Repartição, o Major de Infantaria, Tito José Barroso Capela.


A partir de Janeiro de de 1974, o PAIGC passava verdadeiramente à ofensiva, a qual se caracterizava pela definição de duas áreas de incidência de esforço, diametralmente opostas, uma no extremo Nordeste do Teatro de Operações onde desenvolvia a Operação “Abel Djassi” (pseudónimo de Amílcar Cabral) e a outra a sul, no Cubucaré, para o que inclusivamente tinha constituído um novo órgão coordenador das operações de guerrilha nesta Zona, o Comando Sul.

As ações foram desencadeadas, numa e noutra das Áreas referidas, com base em novas unidades, das FARP, e com largo emprego de Artilharia e Armas Pesadas, nomeadamente Morteiro 120 mm e Fog 122mm.

Foto (à direita): Nino e Cabral. Font6e: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.


Além destes meios,  os Mísseis SA-7 Strela eram frequentemente utilizados, o que limitava grandemente o apoio da Força Aérea às guarnições terrestres e, a 31 de Março de 1974, apareciam as viaturas blindadas,  em Bedanda (Cubucaré), o que confirmava o grande aumento de potencial, assim como a crescente capacidade táctica e sobretudo logística do PAIGC.


Nas restantes áreas do Teatro de Operações  da Guiné aumentava igualmente de modo significativo a atividade de guerrilha dispersa em superfície, com relevo para o emprego de engenhos explosivos e ações de terrorismo urbano que alastravam até à própria capital (Bissau). Como exemplo citam-se as 17 flagelações com armas pesadas a outros tantos Aquartelamentos ou Povoações, num único dia (20 de Janeiro de 1974, data do aniversário da morte de Amílcar Cabral), o rebentamento de engenhos explosivos num café de Bissau (26 de Fevereiro de 74) que provocou um morto e a sabotagem no próprio QG/CTIG (em 22 de Fevereiro de 74), onde parte do edifício principal foi destruído.




Foto (à esquerda): SA-7b Grail Strela.  
O SA-7b possuía um novo motor de propulsão e um novo sistema de identificação, o que lhe permitiu passar a aquisição de alvos de 3,6 km para 4,2 km, e aumentar a velocidade de 430 m/s para 500 m/s.

Fonte: http://www.armyrecognition.com/



No sul a ofensiva aí realizada permitia ao PAIGC o controlo efetivo de uma área de razoável superfície em que se inseria o “corredor” de Guileje, percorrido frequentemente por viaturas das FARP, e que confinava com outra vasta área abandonada pelas Nossas Tropas desde 1969 – o Boé.

Foto (à direita): Guiné, 1973 -  Guerrilheiros deslocando-se num carro blindado [, BRDM 2, de origem soviética] . Fonte: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné



Em Abril de 1974, dado o “Esgotamento das Reservas” do Comando-Chefe, previa-se que o relançamento da Ofensiva no saliente Nordeste, orientava para sul, tornaria iminemte o abandono de Canquelifá  e o consequente isolamento de Buruntuma. Admitia-se ser intenção do PAIGC, unir a bolsa assim conquistada com a Região do Boé, por sua vez ligada à Zona onde se localizava o Corredor de Guileje, mais a sul, concretizando deste modo, uma ocupação territorial efetiva que carecia para reforçar a imagem do Estado da Guiné Bissau, parcialmente ocupado pelas Forças Armadas Portuguesas.


Foto (à esquerda) - Jacto Fiat G-91 da FAP, abatido por míssil Strela. Fonte:   Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.



Nas áreas de incidência de esforços referidos, a situação era de tal modo grave - para a maioria das guarnições das Nossas Tropas, cujos sistemas de defesa não dispunham de “Obras de Fortificação”, que pudessem resistir com eficácia às novas armas pesadas do PAIGC, - que o Comandante Chefe alertava do facto o Estado Maior Geral das Forças Armadas, a 20 de Abril de 1974 (vésperas do Golpe Militar de 25 de Abril) por uma Nota que concluía nos seguintes termos:


“O facto de ter sido confirmada parte das notícias atrás mencionadas pela utilização de viaturas blindadas no ataque a Bedanad, confere certa verosimilhança às restantes notícias que referem a existência de Novas Armas Antiaéreas ou outras, pelo que aquela utilização e o conjunto de circunstâncias descritas na presente Nota, nomeadamente a análise das fotografias juntas, são motivo de grande preocupação para este Comando-Chefe, cumprindo-lhe assinalar as consequências que podem resultar da possível evolução do potencial de combate do PAIGC ou do seu eventual reforço com novos meios das Forças Armadas da Guiné, quer quanto à capacidade de resistência das Guarnições Militares que porventura sejam atacadas, quer às limitações de intervenção com meios à disposição do Comandante-Chefe, em especial meios aéreos. “


Após os resultados obtidos pela guerrilha a partir do início do ano, com ações maciças desencadeadas a nordeste do território e no Cubucaré, a Sul, que se traduziram no abandono de Copá pelas nossas tropas e no desequilíbrio das guarnições de Bedanda e Jemberem, o PAIGC tinha planeado e preparava-se para lançar nova ofensiva, no final da época seca de 1974 (Maio e Junho), a fim de explorar aqueles resultados.

Foto (à direita): Guiné, Bedanda, 1970: Resposta do Obus 14 a ataque de foguetes Katiusha, de 122 mm. Foto gentilmente cedida pelo Cor Cav na reforma Ayalla Botto (CCAÇ 6) ao Hugo Moura Ferreira. Fonte: BLogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.



Logo que tomou conhecimento do Movimento das Forças Armadas (MFA), a 25 de Abril de 74, o Partido para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) chegou a expedir ordens, no seguimento do que estava planeado, para que fossem desencadeadas ações com todos os meios disponíveis, com o objetivo evidente de tirar partido da situação em curso e explorar, de imediato, qualquer possível perturbação que admitiu pudesse existir no seio das nossas tropas.


No entanto a ofensiva planeada não chegou a concretizar-se e, inclusive,  a partir do início de Maio,  registou-se um nítido abaixamento da atividade de guerrilha.


Ao longo de todo o mês de Maio de 74 foi, de facto, notado um ligeiro aumento de atividade durante a segunda semana, seguido de novo decréscimo no final da mesma, o qual continuou posteriormente regular e constante.


A redução acentuada de atividade resultava de, em 21 de Maio, pouco antes do início da 1ª fase das conversações em Londres, o Secretariado do Governo do PAIGC ter difundido a seguinte ordem às FARP (documento com doze instruções):


(...) 11º) Devemos estar preparados para reagir violentamente contra todas as ações do Inimigo, 12º) Lembramos a todos os Militantes e combatentes que mais do que nunca é necessário estarmos vigilantes e que não podemos confraternizar com as Forças Inimigas enquanto não ficar claramente decidida a sua evacuação da Nossa Terra de acordo com os objetivos fundamentais da Luta que são: A Independência total e imediata do nosso Povo da Guiné e Cabo Verde. Estas decisões correspondem à situação Política e Militar do momento e devem ser estreitamente cumpridas. Saudações a todos os Camaradas. (...)

Apesar das determinações do SG [Secretariado Geral] do PAIGC, anteriormente descritas, não deixaram dúvidas sobre o adiamento das Operações de Guerrilha até nova ordem. Alguns grupos combatentes continuaram a ignorá-las durante vários dias, nomeadamente a Norte, na Região onde o corredor de Lamel intercepta o Itinerário Farim-Jumbembem, e no Sul, no Sector do Cubucaré.

Por outro lado o comando das FARP continuou a expedir ordens para o planeamento e preparação, até ao fim de Maio (de 1974), de diversas operações, em especial na Zona Sul, as quais seriam desencadeadas se o andamento ou o resultado das conversações de Londres (de 25 a 31 e Maio) não fossem aceitáveis.

Adaptado por: Luís Gonçalves Vaz  (Tabanqueiro 530)

(Continua)

Guiné 63/74 - P9367: Parabéns a você (368): Luís Rainha, ex-Alf Mil Comando (Guiné, 1964/66)

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9348: Parabéns a você (367): Maria Ivone Reis, 83 anos: enfermeiras, paraquedistas, amigas, companheiras de aventura e camaradas para sempre! (Maria Arminda)

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9366: Operação Tridente, Ilha do Como, 1964: Cachil, Agosto. Parte III (José Colaço)


1. O nosso camarada José Colaço, (ex-Soldado Trms da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), enviou-nos a última parte da narração iniciada nos postes P9351 e P9360.

Agosto de 1964
Parte III

Agosto de 1964, mês de decisões a nível de comando chefe. Os trabalhos da construção do quartel estavam concluídos. Entretanto de Catió - comando de sector -, não aconselhavam as batidas à mata do Cachil, situação que eu nunca consegui perceber.

Mas sabia-se que era importante, naquela fase e por evidente estratégia militar, limpar todo o caminho entre Catió e Cufar.

Assim, no dia 3 de Agosto, quase todos os efectivos da companhia foram mobilizados para mais uma tentativa de ocupar a zona de Cufar - a célebre mata do Cantanhêz.

O dia não foi feliz para a 557 que sofreu 2 feridos graves em combate: o "ilhéu" - 2º sargento Manuel Conde -, e o soldado António Belo, ambos foram evacuados para o hospital 241, em Bissau, após o que seguiram para o hospital militar da Estrela, em Lisboa.

Para as forças que nos acompanhavam o dia também foi mau, pois o sargento vagomestre do 7º destacamento morreu nesse dia vítima de uma granada de bazuca do inimigo.

O regresso tinha que ser no próprio dia, porque o aquartelamento do Cachil ficou com uma segurança bastante fragilizada e exposto a eventual ocupação por parte da guerrilha.

A 26 de Agosto, cerca das 12 horas, sofremos um ataque amigo. A secção que tinha ido no dia anterior a Catió, para proceder ao abastecimento de água, regressava ao Cachil, quando foi sobrevoada por 2 aviões F86, que habitualmente patrulhavam o espaço aéreo e procuravam sinais de movimento inimigo no terreno. Os pilotos confundiram os nossos homens com elementos do PAIGC e começaram a metralhar o cais. O pessoal refugiou-se como pôde na bolanha e ninguém ficou ferido, mas alguns dos jerricans da água ficaram furados.

Nós no quartel estávamos desesperados sem meios para reagir, porque não possuíamos qualquer tipo de comunicação com os F86. A única coisa que fizemos, rapidamente, foi correr para o cais com a bandeira nacional, tendo 4 de nós pegado em cada uma das pontas, para que os pilotos vissem que éramos forças amigas e terminassem de imediato aquele ataque "amigo".

Foto nº P1170591.JPG - Um F86 a picar na direcção do cais do Cachil. A justificação que foi dada pelo estado-maior da força aérea em Bissau, foi que os pilotos eram novos (periquitos) sem experiência na Guiné. Se já era muito raro ouvir no Cachil o zoado de um motor de um avião, a partir desse dia até 27/11/1964, dia em que a CCaç 557 saiu do Cachil, o silêncio a nível de aviões foi total. 

Foto nº 1170620.JPG - 27/11/1964, o adeus ao Cachil, a CCaç 557 saía da porta de armas rendida pela CCaç 728. 

Foto nº 1170622.JPG - A LDM202 no cais do Cachil, com todo os elementos da CCaç 557 no seu seio.  



Foto nº1170625.JPG - A LDM202 na passagem por Bolama com A CCaç 557 a bordo.


Foto nº 1170627.JPG - A LDM202 quando foi obrigada a parar por falta de água para navegar, devido à maré baixa.


Fotos nº 11706228.JPG - A LDM202 “estacionada” num extenso banco de areia, onde permanecemos 3 ou 4 horas. Tempo que deu para que cada um desse largas à sua criatividade, onde se evidenciou a pesca desportiva. Na companhia haviam alguns camaradas algarvios que eram pescadores profissionais, que aqui mostraram bem os seus dotes. 


Fotos nº 11706229.JPG - Idem foto anterior.

Foto nº 1170632 JPG - Chegada e apresentação em Bissau.

Termino aqui esta pequena resenha da estada da CCcaç 557 na operação tridente, que decorreu na Ilha do Como, Cachil.

Nota: As fotos, todas elas, são de fraca qualidade devido aos meios que havia naquele tempo e, além disso, foram reproduzidas de slides de um DVD que tenho da estada, na Guiné, da Companhia de Caçadores 557.

José Colaço
Soldado Trms da CCAÇ 557

Fotos: © José Colaço (2011). Todos os direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. os dois postes anteriores desta série em:


14 DE JANEIRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P9351: Operação Tridente, Ilha do Como, 1964: o ignorado Agrupamento E (CCAÇ 557): Parte I (José Colaço)


Guiné 63/74 - P9365: O último Chefe do Estado-Maior do CTIG, Cor Cav Henrique Gonçalves Vaz (Jan 1973/ Out 74) (Parte V): 'Decifrado' o nome do comandante do PAIGC, Bobo Keita (Luís Gonçalves Vaz)

1. Mensagem de hoje, do nosso tabanqueiro Luís Gonçalves Vaz:

Data: 17 de Janeiro de 2012 16:24

Assunto: Esclarecimentos da nota do Coronel Henrique Vaz do dia 11 de Outubro de 1974

Caro Sousa de Castro, caro Luís Graça:


Consegui "decifrar" dois dos nomes dos Comandantes do PAIGC que reuniram com o meu pai no dia 11 de Outubro de 1974, para planearem a entrega de Aquartelamentos ao PAIGC. Como tal peço-vos o favor de substituir a nota em questão (*) pela seguinte:

Bissau, 11 de Outubro de 1974

"... Tivemos às 15H00, na Amura uma reunião com os comandantes do PAIGC, comandante Gazela, comandante BOBO KEITA e o comandante ... (... do próprio) Correia, sobre a entrega dos quartéis de Sta Luzia e outros. ..."

"... Fomos jantar ao Palácio, julgo que todos ou a maioria dos oficiais do Quadro Permanente presentes na Guiné. Jantar volante, simpático e descontraído, num ambiente alegre e ... . Anedotas contadas pelo Coronel Lemos e pelo Major Lemos Alves. ..."

Coronel Henrique Gonçalves Vaz

(Chefe do Estado-Maior do CTIG)
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Nota de LGV:

Comandante BOBO KEITA: Fez parte de todas as delegações do PAIGC que negociaram o reconhecimento da independência da Guiné-Bissau, depois do 25 de Abril. Morreu em Lisboa em Janeiro de 2009.

Comandante GAZELA:  Cabral de Almada, conhecido por "Comandante Gazela" (na nota do coronel Henrique Vaz só o refere como GAZELA)


Abraço
Luís Beleza Vaz (**)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 15 DE DEZEMBRO DE 2011 > Guiné 63/74 - P9203: O último Chefe do Estado-Maior do CTIG, Cor Cav Henrique Gonçalves Vaz (Jan 1973/ Out 74) (Parte III) (Luís Gonçalves Vaz): Set / Out 1974


(**) Último poste da série > 5 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9317: O último Chefe do Estado-Maior do CTIG, Cor Cav Henrique Gonçalves Vaz (Jan 1973/ Out 74) (Parte IV): Agosto de 1974: ainda o caso do BCAV 8320/72 (Bula, 1972/74) (Luís Gonçalves Vaz)