quinta-feira, 24 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9943: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (17): Guidage (com g) foi há 39 anos...












Guiné > Região do Cacheu > 38ª CCmds (2º e 4º Gr Comb) > 11 de Maio de 1973 > Coluna logística que partiu de Farim, a caminho de Guidaje. Na foto de cima, o Gr de Combate do 1º Cabo A. Mendes, o 2º a contar da direita, com boina. Na foto do meio, progressão da coluna auto na picada de Guidaje... Na última foto, uma vista da bolanha do Cufeu, com destroços de viaturas (e cadáveres)...

Fotos : © Amilcar Mendes (2006). Todos os direitos reservados. 


1. Escrevi há dias que "sobre Guidaje, há uma referência apenas no Diário da Guiné (1972/74), da autoria do nosso camarada e amigo António Graça de Abreu (AGA). Vem na entrada Mansoa, 26 de Maio de 1973"" (*) ... 

É meia verdade, meia mentira... Sobre "Guidaje" (com j), há de facto apenas um referência, mas sobre "Guidage" (com g), há mais umas tantas... A grafia de Guidaje/Guidage é controversa, os dois vocábulos são usados pelos nossos cartógrafos... Eu grafo de uma maneira (Guidaje), outros tendem a usar a forma mais comum, que é Guidage...Neste caso, sigo o (bom) conselho do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa...E é assim que tem aparecido no nosso blogue, Guidaje, com j...

Mas no caso do livro do AGA, eu devia ter tido mais cautela, como mandam as boas regras... Ora, na realidade o AGA estava no CAOP1, em Mansoa,  durante a "batalha de Guidaje" [, grosso modo, entre 8 de maio e 8 de junho de 1973, ] e,  sendo um homem em geral bem informado,  por certo que escreveria algo mais sobre Guidaje, tal como escreveu sobre Guileje e Gadamael... Em 25 de junho de 1973, o CAOP1 (e com ele o AGA) é transferido para Cufar, na região de Tombali.

Faz assim todo o sentido recuperar algumas das entradas do seu diário, onde há uma referência explícita a Guidage (com g). São seis entradas (ou sete, se contabilizarmos a já atrás referida - Mansoa, 26 de maio de 1973). A "batalha de Guidaje" tocou-o de perto, se bem que indiretamente através das baixas da 38ª CCmds, unidade de intervenção afeta ao CAOP1, quer através da morte do soldado condutor auto do CAOP1,  David Ferreira Viegas, natural de Olhão, morto em 12 de maio de 1973 [, já em Guidaje, no aquartelamento,  após a realização da 3ª coluna para Guidaje, a 11]. (**)

Há uma edição comercial do livro do AGA. Referência completa: António Graça de Abreu - Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura. Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp. (*) (LG)


(...) Mansoa, 8 de Abril de 1973

Outra DO pilotada pelo furriel piloto aviador Baltazar da Silva foi abatida pelo IN quando voava entre Bigene e Guidage. O rapaz morreu, junto com um alferes médico e um sargento. O Baltazar almoçou comigo na semana passada, esteve aqui no meu quarto desanimado e triste. Escrevi então que ele havia partido para Bissau “com a morte na alma”.


(...) Mansoa, 14 de Maio de 1973 

Parece estar em embrião uma nova alteração na localização do CAOP 1. Fala-se em irmos para o sul, a zona onde há mais guerra na Guiné. Mas quem está a embrulhar há cinco dias consecutivos é o aquartelamento de Guidage, bem lá no norte, na esteira dos lugares de morte e de loucura.

Quanto à transferência do CAOP não ficou ainda nada decidido. Isto está incerto como o vento em mudança de estação. De resto, um comando de operações sem meios aéreos como funciona? Reina uma certa incerteza e confusão entre quem manda em Bissau. O general Spínola foi agora a Lisboa pedir mais armas e meios para combater o PAIGC e ao que consta o Marcello Caetano disse-lhe ser impossível reforçar as tropas na Guiné.


(...) Mansoa, 19 de Maio de 1973

Há dez dias atrás, por causa de vacas, aproveitei uma boleia e fui até Cutia, a vinte quilómetros daqui, na estrada alcatroada para Mansabá e Farim.

Os balantas, etnia predominantemente na região de Mansoa, não querem vender vacas aos militares portugueses. Em Farim, sessenta quilómetros a norte, os fulas, outra etnia, vendem os animais com facilidade. Como em Mansoa falta carne para a alimentação diária, é preciso recorrer ao que há, neste caso as vacas de Farim. 

Fez-se uma coluna com quatro unimogs do CAOP e quarenta homens da 38ª. de Comandos  (***) para irem lá ao norte buscar as vacas. Como à tarde havia coluna de Cutia para Mansoa, peguei na G3 e segui com o nosso pessoal. Regressei calmamente a Mansoa, depois de mais uns quilómetros a conhecer a mata, o aquartelamento e a aldeia de Cutia, florestas, bolanhas, a terra pobre. 

Os comandos e os quatro condutores do CAOP seguiram viagem e quando chegaram a Farim havia realidades bem mais duras do que a história da compra e transporte das vacas. Era crítica a situação em Guidage, uns quarenta quilómetros a noroeste de Farim, junto à fronteira com o Senegal. O aquartelamento estava a ser atacado há dois dias, de quatro em quatro horas, em média. Duas colunas de reabastecimento haviam partido de Farim para Guidage com víveres e munições e foram ambas atacadas na estrada, com mortos e muitos feridos. Tornou-se necessário chamar os aviões Fiats de Bissau, não para bombardearem o IN mas para destruir as Berliets carregadas de víveres e munições, abandonadas pelas NT, evitando assim que caíssem nas mãos dos guerrilheiros.

Os Comandos mais os nossos condutores do CAOP iam buscar vacas, mas nessa altura o mais importante era socorrer Guidage. De emergência, organizou-se nova coluna de Farim para Guidage reforçada com os nossos homens. Foi uma caminhada de morte, havia abutres a rondar os cadáveres dos soldados portugueses abandonados na picada pela coluna anterior, havia minas, uma delas rebentou sob o Unimog da frente, arrancou-lhe uma roda que foi projectada e passou por cima da cabeça do alferes Dias, da 38ª. de Comandos, houve emboscadas e um soldado comando ficou sem um pé e sem três dedos da mão direita. O infeliz foi o Tavares, um rapaz ribatejano do Cartaxo que até conheço bem, pai de dois filhos. Como não se fazem evacuações de helicóptero, levaram-no até Guidage com o coto e a mão amarrados em ligaduras. 

Durante dois dias, em Guidage, foram atacados treze vezes, com morteiros e canhão sem recuo. Os guerrilheiros afinaram a pontaria para dentro das valas onde se abrigavam os nossos homens. Lá morreu mais um soldado da 38ª. de Comandos e o soldado condutor auto David Ferreira Viegas, do CAOP 1. Era um dos meus homens, um rapaz baixo, magrinho, tímido, natural de Olhão. Tinha vinte e um anos, fora pescador no Algarve, estava connosco no CAOP desde 3 de Março e na tropa há apenas oito meses.

Não trouxeram o corpo do Viegas para Mansoa, meteram-no na urna e seguiu de barco para Bissau. Tenho sido eu a tratar das coisas dele, fui-lhe mexer na mala e fazer o espólio de todos os seus pertences para enviar à família. Possuía tão pouco, algumas quinquilharias e uma roupita tão pobre! O povo português vai morrendo, o nosso David foi apenas mais um.

Comoveu-me o último aerograma com data de 27 de Abril que lhe foi enviado pela mãe, escrito pela Rosarinho, uma das sobrinhas, porque a mãe é analfabeta. A Elsa Maria, outra sobrinha pequena, como ainda não sabe escrever, mandou contas ao tio David:

1 2 3 4 5 2 1 

1 2 3 4 5 2 1 

___________
2 4 6 8 0 3 3

A Ana Cristina Viegas Fava, também sobrinha, diz:  “Tio, eu já sei escrever e quando o tio estiver aborrecido escreva para mim que eu lhe respondo, está bem? "

O David Ferreira Viegas, contava apenas vinte e um anos. Não vai escrever a mais ninguém.

(...) Mansoa, 29 de Maio de 1973 

Fui ao cinema ver um filme intitulado “Os Noivos da Revolução”, com o Jean Paul Belmondo.(...).

Em Portugal, as notícias sobre a Guiné continuam a ser alarmantes. De facto, Maio foi excepcional. As NT, incluindo os africanos que combatem ao nosso lado, tiveram mais de sessenta mortos e uma centena de feridos. Creio que isto bate todos os recordes. Agora, com a época das chuvas, a guerra vai acalmar um pouco.

As notícias em Portugal são também manipuladas, confusas, às vezes ridículas. No boletim oficioso das Forças Armadas lê-se “um grupo de guerrilheiros do PAIGC que tentava infiltra-se no Território Nacional foi repelido e perseguido pelas nossas tropas, tendo sofrido um número indeterminado de mortos.” Pode haver um fundo de verdade neste tipo de notícias mas quem descreve o que verdadeiramente aconteceu em Guidage ou em Guileje, quem fala na emboscada da coluna de Mansabá para Mansoa que provocou quatro mortos e quinze feridos quando o IN só registou dois feridos? 

A opinião pública portuguesa alertar-se-ia demasiado se as notícias divulgadas na nossa terra correspondessem à realidade do que se passa na Guiné. Em Portugal as pessoas sabem que, por causa da guerra, a Guiné é terra má e suja, mas quantos entendem os porquês, conhecem o dia a dia das nossas tropas? Os boatos distorcem, aumentam, assustam. Tudo por uma razão simples, não temos liberdade.

(...) Mansoa, 14 de Junho de 1973 

Recebi uma carta do Algarve,  da mãe do David Viegas, o nosso soldado condutor morto em Guidage. Havia-lhe escrito uma sentida carta pessoal, logo após a morte do rapaz. Respondeu-me agora, naturalmente chorosa pelo falecimento do David, o mais novo dos seus cinco filhos, agradecendo ter-lhe dado notícias. 

Como já referi, a senhora é analfabeta e é uma sobrinha quem lhe escreve as cartas. Eu informara-a de que o filho havia morrido devido ao rebentamento de uma granada de morteiro na vala onde se abrigava, teve morte quase instantânea e não sofreu. Assim foi, na realidade, mas não lhe contei que o Viegas ficou horrivelmente desfigurado, a granada rebentou junto à sua cabeça e os estilhaços apanharam-lhe toda a cara. Os outros três condutores do CAOP 1 que estavam com ele em Guidage e o viram morrer ali ao lado, descreveram-me o sucedido com lágrimas nos olhos. O Viegas era bom rapaz, pacífico, não se chateava com ninguém. O caixão está em Bissau, à espera do “Niassa”, o navio que o levará para Portugal, rumo a Olhão, a terra onde nasceu.

Eu não sabia, mas quando o rapaz morreu, o major P. disse-me que existia uma carta modelo, um texto padrão sempre igual utilizado em todo o Ultramar a enviar aos pais dos soldados mortos em combate. Tratámos de a copiar e seguiu para Olhão, espantosamente assinada não pelo coronel, comandante do Comando de Agrupamento Operacional Nº. 1, a que o Viegas pertencia, não pelo major P., oficial de Operações e Chefe do Estado Maior do CAOP 1, não por mim, simples alferes que tenho os condutores como meus subordinados, mas assinada pelo furriel Victor Henriques, meu subalterno que mal conhecia o Viegas e nunca esteve em Guidage. (...)

(...) Cufar, 27 de Junho de 1973 

De Lisboa, contam-me as “bocas” que por lá correm. E “bocas” falsas.

Fala-se em evacuar da Guiné mulheres e crianças. Mas onde e porquê? É verdade que a população nativa, os africanos das aldeias de Guidage, Guileje e Gadamael, abandonou essas tabancas por causa do perigo nas flagelações constantes do IN. Mas não houve nenhuma evacuação nem sei se tal está previsto pela nossa tropa. Também é verdade que muitos milhares de habitantes da Guiné Portuguesa procuraram fugir à guerra e refugiaram-se quer no Senegal quer na Guiné-Conacry, no entanto esta procura de um lugar mais pacífico para habitar não é novidade, começou há já alguns anos com o agravamento do conflito armado.(...)

____________________

Notas do editor:

(*) 14 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9898: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (16): Guidaje foi há 39 anos...


(**) Vd os seguintes poste do J. M. Pechorro e do Daniel Matos:
19 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5300: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - I Parte (José Manuel Pechorrro)

21 de novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5310: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - II Parte (José Manuel Pechorrro)


16 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5479: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - Agradecimento e algumas informações (José Manuel Pechorro)

3 de maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6307: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (14): Cemitérios de Guidaje e Unidades mobilizadas na Madeira

(***) Vd. postes de Amílcar Mendes (38ª CCmds):

22 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1201: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (3): De Farim a Guidaje: a picada do inferno (I parte


(...) Resumo:

9 de Maio de 1973 > O 2º e o 4º grupos [da 38ª Cmds] vão hoje fazer uma escolta a uma coluna de Mansoa para Farim.

13 de Maio de 1973 > Regressei hoje a Mansoa. Cinco dias fora. Meu Deus, foram os piores dias da minha vida. Irei tentar descrever tudo o que passei. Os horrores da guerra! Nunca pensei que fosse possível acontecer o que vi. Terrível de mais para ser verdade. (...)

(...) 11 de Maio de 1973

Saimos de madrugada de Farim com destino a Guidaje. Primeiro a Binta onde os picadores se irão juntar aos nossos grupos. Daí entramos na maldita da picada. Os picadores seguem na frente.  (...)


(...) Ao passar na bolanha do Cufeu é impossível descrever o que encontramos sem sentir um aperto na alma: dezenas de viaturas trucidadas pelas minas. Os cadáveres pelo chão são festim para os abutres. É uma loucura. Pedaços das viaturas projetadas a dezenas de metros pela acção das minas. Estrada cheia de abatizes. Tentamos não olhar. Nunca vi tanto morto, nossos e do IN, deixados para trás ao longo da picada.  (...)


23 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1203: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (4): De Farim a Guidaje: a picada do inferno (II Parte)

(...) 11 de Maio de 1973 (continuação)

(...) A coluna, à saída da bolanha do Cufeu (2), pára. Ouve-se ao longe tiros e rebentamentos. A companhia que vinha ao nosso encontro, caiu numa emboscada na ponte. Pelo rádio ouvimos o oficial que comanda a companhia emboscada pedir apoio aéreo, porque o IN é em muito maior número e ele diz que está a ser dizimado. Chegam dois Fiats e tentam dar cobertura à companhia emboscada mas dizem que é impossível porque o IN esta demasiado próximo...

Ouço então o apelo mais dramático ouvido em toda a minha vida: Pela rádio o oficial que comandava a companhia emboscada apela à aviação:

BOMBARDEIEM TUDO! A NÓS, INCLUINDO! A SITUAÇÃO É DESESPERADA! ESTAMOS A SER TODOS MORTOS, POIS OS GAJOS SÃO EM NÚMERO MUITO SUPERIOR! (...)



(...) Já com Guidaje à vista subimos para as viaturas e eu sigo naquela só com três rodados, e onde segue o morto.

Chegamos a Guidaje! É a primeira coluna a chegar de há três semanas a este tempo. A população vem receber-nos com gritos de alegria, dá-nos água, trata-nos com carinho, sentem que o isolamento acabou.

Assim que entramos no destacamento, somos brindados com um ataque de morteirada. Com a noite vamos para as valas, que é onde se vive em Guidaje! O Filipe está num abrigo a soro, fui vê-lo e ele delirava a chamar pela família.(...)


Durante a noite iremos sofrer mais 4 ataques e um deles será mortal (...).

23 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1205: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (5): uma noite, nas valas de Guidaje

24 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1210: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (6): Guidaje ? Nunca mais!...

Guiné 63/74 - P9942: Convívios (440): Cerca de 80 bravos de Bambadinca (1968/71) encontram-se este sábado, dia 26, na invicta cidade do Porto, na 18ª edição dos seus reencontros (Manuel Monteiro Valente / Luís Graça)



Bonito puzzle de brazões de unidades e subunidades que passaram por Bambadinca (Setor L1 da Zona Leste) entre meados de 1968 e meados de 1971. Composição do nosso editor Eduardo Magalhães Ribeiro.1. O 18º convívio anual do pessoal que passou por Bambadinca entre 1968 e 1971, vai realizar-se este ano, no Porto, no próximo sábado, dia 26 (*). 


A organização está a cargo do Manuel Monteiro Valente [, foto à direita, em primeiro plano, cambando uma bolanha, ], valente ex-1º cabo do 1º gr comb da CCAÇ 12 (**), ferido com gravidade e evacuado para o HM 241 (Bissau), no decurso da Op Borboleta Destemida (região do Xime, 14 de janeiro de 1970), juntamente com o fur mil at inf Joaquim J. S. Pina, o sold trms José Leites Pereira e o sold at inf Mamadu Au (Ap Metr Lig Hk 21), todas da 2ª secção do 1º gr comb, comandado pelo alf mil op esp Francisco Magalhães Moreira.

Apesar das dificuldades económicas e sociais que atingem muitos portugueses na difícil hora atual, incluindo muitos dos nossos ex-camaradas de armas , o almoço-convívio no Porto vai contar com pelo menos estes cerca de 80 bravos de Bambadinca, uma boa parte deles da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (assinalados a #):

Lista de inscritos até ao dia 24 de maio de 2012, fornecida pela organização:


Abel Maria Rodrigues (1) (#)
Adelino Marques Fernandes (1)

Adélio Gonçalves Monteiro (2) (#) [, foi o organizador do 15º convívio, Castro Daire, 2009]
Alberto dos Anjos Soares (3)
Américo Marques (6)

António de Jesus Marques (1)
António Fernando Rodrigues Marques (2) 
 (#)
António Braga Rodrigues Mateus (2) (#)
António Damas Murta (4) (#) [, organizador do 17º convívio, Cloimbra, 2011]
António Pinto Nunes (2)
Arménio Monteiro da Fonseca (1) (#)
Carlos Alberto Henrriques (2)
Carlos Alberto Teixeira (1)
Domingos Miranda Mendes (1)
Eduardo Tavares (2) (##)
Ferdinando Martins (5)
Fernando Andrade Sousa (2) (#) [, organizador do do 12º convívio, na Trofa, 2006]
Fernando J. Cruz Oliveira (1)
Fernando Resende Santos (1)
Gabriel Gonçalves (1) (#)
Humberto Simões dos Reis (1) (#)
Jaime Machado (4)
João Alves Costa (1)
João Gonçalves Ramos (1) (#)
João Rito Marques (2) (#)
Joaquim João dos Santos Pina (3) (#)
Joaquim Augusto Matos Fernandes (5) (#)
José Augusto Mourão (1)
José C. Rodrigues Lopes (2)
José Eduardo Pinto dos Santos (2)
José Fernando Almeida (2) (#)
 [, organizador do 16º convívio, Óbidos, 2010] 
José Manuel Pimentão Quadrado (2) (#)
Luis R. Moreira (1)

Manuel Alberto Faria Branco (2) (#)
Manuel Alberto F. Gomes (1)
Manuel Borrego da Silva (1)
Manuel Ferreira da Costa (1)
Manuel Joaquim Ferreira (2)
Manuel Monteiro Valente (2) (#)
Otacílio Henriques (2)

Total=79


(#) Ex- camaradas da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, Maio de 1969/Março de 1917)

(##) Pesume-se que seja o nosso ex-1º Cabo Escriturário Eduardo Veríssimo de Sousa Tavares [, até agora com morada desconhecida]. 

2. Comentário de L.G.:

Por razões de agenda familiar, não poderei estar no Porto, este sábado, contrariamente ao que tinha programado e ao meus desejo...

De qualquer modo,   daqui vai, da minha parte, um grande abraço para os bravos de Bambadinca, do tamanho do Rio Geba. E, mais do que um longo abraço, um apertado xicoração. Que seja uma bela jornada de amizade e camaradagem.

Peço ao valente Valente que me faça chegar as fotos do evento, com as respetivas legendas... Ele, por seu turno, pediu-me para mandar um lembrete aos retardatários, como Jorge Cabral, digno representante do Pel Caç Nat 63, que não costuma falhar os convívios do pessoal de Bambadinca... LG
________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 7 de maio de 2012 > Guiné 63/74 – P9860: Convívios (345): 18º Encontro do Pessoal de Bambadinca, 1968/71, em 26 de Maio na cidade do Porto (Manuel Monteiro Valente)


(**) Contacto:

Manuel Monteiro Valente
Rua Joaquim Lopes Pintor nº118 1º dtº
4405-868 Vilar do Paraíso 

Guiné 63/74 - P9941: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (55): O alf mil capelão Horácio Fernandes, natural de Ribamar, Lourinhã, no álbum fotográfico do nosso saudoso Victor Condeço (1943-2010) (ex-fur mil mec arm, CCS/BART 1913, Catió, 1967/69)



Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do Victor Condeço (1943-2010) > Quartel > Foto 31 > 


"Cerimónia militar em fevereiro de 1968, por ocasião da imposição à CART  1689 da Flâmula de Honra (ouro) do CTIG, atribuída em julho de 1967. Vista parcial do quartel com as tropas em parada. Edifício do comando à esquerda, ao fundo".  






Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Quartel > Foto 30 > "Cerimónia militar em fevereiro de 1968, por ocasião da imposição à CART 1689 da Flâmula de Honra (ouro) do CTIG,  atribuída em julho de 1967. Aspeto parcial das tropas em parada".




Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Quartel > Foto 28 > "Cerimónia militar em fevereiro de 1968, por ocasião da imposição à  CART  1689  da Flâmula de Honra (ouro) do CTIG, atribuída em julho de 1967. Ao fundo,  a porta de armas, cozinha e refeitório, armazém de géneros ainda,  em construção, parte da camarata de oficiais e fora do quartel o armazém/cais da Casa Gouveia".






Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Quartel > Foto 29 > "Cerimónia militar em fevereiro de 1968, por ocasião da imposição à CART 1689 da Flâmula de Honra (ouro) do CTIG, atribuída em julho de 1967. Edifício do comando (à esquerda) e camarata de oficiais  (à direita)".





Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Quartel > Foto 32 >


"Cerimónia militar em fevereiro de 1968, por ocasião da imposição à CART  1689 da Flâmula de Honra (ouro) do CTIG, atribuída em julho de 1967. Edifício do comando. Presença de militares, civis da administração, correios e comerciantes locais.



"Da esquerda para a direita, 

(A) um militar, de camuflado que não consigo identificar; 


(B) de costas,  o cap médico Morais; 


(C) o comandante, ten cor Abílio Santiago Cardoso; 


(D) quatro funcionários dos Correios e Administração;


(E) o comerciantes Sr. José Saad e filha;


(F) o comerciante, Sr. Mota:


(G) o comerciante  Sr. Dantas e filha;


(H) o comerciante Sr. Barros;


(I) o electricista civil Jerónimo:


(J) e, por fim,  o alf mil capelão Horácio [Neto Fernandes]".



Fotos (e legendas) de Catió: Victor Condeço (1943/2010) / © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Todos os direitos reservados










O Alf Mil Capelão Horácio Neto Fernandes... Ao alto uma inscrição, no edifício do comando: "A nossa intervenção em África é a resposta a um desafio que nos lançaram e a afrontas que não podemos esquecer". Detalhe da foto nº 32, acima reproduzida.


1. Na realidade, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Ainda  anteontem estive a falar do Horácio,  meu parente de Ribamar, Lourinhã, que não vejo desde que celebrou a sua missa nova, em agosto de 1959...  Estava justamente a falar dele com o João Crisóstomo, na terça feira, dia 22... O João tinha acabado de chegar de Nova Iorque, almoçou comigo e com o Beja Santos: os dois vão, no próximo sábado, dia 26 de maio, a Viseu para participara no convívio da CCAÇ 1439 (Enxalé,  Porto Gole e Missirá, 1965/66)... 


O João, que tem a dupla nacionalidade, portuguesa e norteamericana,  é natural de A-dos-Cunhados, Torres Vedras, e portanto é meu vizinho... Acontece, por outro lado,  que  é amigo do Horácio e da sua família há mais de meio século... Surpresa, para mim, que sou primo do Horácio, e tenho andado á sua procura desde há mesmo: sei que mora no Porto, e está reformado como inspetor do ministério da educação... Já mostrei, no blogue, publicamente, o meu empenho em trazê-lo até à Tabanca Grande..
- Sou amicíssimo dele!... Fui ao lançamento do livro dele... Queres que eu lhe ligue já para o telemóvel ?
- Não, quero ser  eu a encontrá-lo, um dia destes, em Ribamar ou no Porto... Ele tem, de resto,  o meu número de telefone que lhe foi dado por um camarada nosso, o Alberto Branquinho... Mas já não me reconhecerá ao fim destes anos todos... E possivelmente quer preservar a sua privacidade...


O João Crisóstomo referia-se ao livro autobiográfico “Francisco Caboz, A construção e a desconstrução de um Padre” (Papiro Editora, 2009), já aqui falado diversas vezes pelo Albero Branquinho, por mim prórpio e pelo Beja Santos (que lhe fez uma recensão).

Na realidade foi o Branquinho que o reencontrou no último convívio anual do pessoal da CCS do BART 1913


"Fui encontrar o Doutor Horácio Fernandes no passado dia 29 de Maio no encontro anual da CCS do BART 1913 em Alfeizerão/Alcobaça. Escusado será dizer que nunca mais o vira desde a minha saída de Bissau, portanto, há quarenta e tantos anos. Se não nos tivessem 're-apresentado', não nos teríamos reconhecido"... 


A notícia foi pretexto foi uma longa troca de mensagens entre mim e ele, Alberto Branquinho... Não tinha conhecimento do livro, mas desencantei-o:

(...) "Hoje não descansei enquanto não arranjei o livro do Horácio. Por acaso, a minha irmã Graciete Calado, que vive na Lourinhã,  tem um exemplar, autografado, que me emprestou... Da parte da tarde, à beira mar, na Praia da Areia Branca, já o li quase todo, na vertical... Em especial a parte da infância e da adolescência até à formação como padre (ordenado em 15 Agosto de 1959)... Gostei da leituras das suas memórias de infância... O autor encontrou no Francisco (nome do fundador da ordem religiosa em que ele se formou como padre) Caboz (nome de peixe, sugerindo a sua origem como filho de gente pobre, sendo o pai meio agricultor e meio pescador, como muita gente de Ribamar da época), encontrou em Francisco Caboz, dizia, uma espécie de 'alter ego'... Na realidade estamos parente uma verdadeira autobiografia...


"E depois, mais tarde, em 1967, outro momento forte é a sua a ida para Catió como capelão militar do teu batalhão, o BART 1913... Espantosa a descrição da partida de mau gosto que os oficiais do comando e CCS do batalhão lhe pregam, à hora da sua 1º refeição conjunta: começam a circular, pela mesa, fotos de gajas e gajos nus, claramente pornográficas... O capelão, ruborizado, não se apercebeu que se tratava de uma praxe, não se conteve, e teve o deslize de perguntar ao major, ao 2º comandante:
"- São fotos da sua mulher ?

" 'Foi uma bomba que estoirou na sala. O major ficou lívido de raiva', escreveu  no livro, ao resconstituir o espisódio 40 anos depois (p. 140)...

"A descrição de Catió daquele tempo bate mais que certo com as fotografias do nosso saudoso Vitó, Vitor Condeço... O Horácio deve tê-lo conhecido, seguramente... Como deve ter conhecido, previamente, as fotos de Catió e de Ganjolá que o Vitor Condeço publicou em vida no nosso blogue, com as devidas legendas... Quase que me atrevia a jurar que deve ter consultado o nosso blogue...

"Alberto, para mim é um duplo regresso ao passado... Estou-te obrigado, a ti e ao Horácio... Mas, afinal, não foi à missa do Horácio que eu fui, mas à do Júlio... Os dois eram primos e foram ordenados padres, franciscanos, no mesmo dia... E ambos eram de apelido Fernandes... Mas o Júlio era de uma família abastada ou mais remediada... O Júlio era Maçarico, logo era da minha família, e foram eles, os pais, que me (a mim, e a todos os familiares Maçaricos que viviam na vila, sede de concelho, Lourinhã) convidaram para a Missa Nova, que deve ter sido num domingo antes do Horácio... De qualquer modo, em Agosto de 1959... A minha dúvida agora é saber se também sou primo do Horácio... Vou consultar a nossa árvore genealógica, a dos Maçaricos... É bem possível... Os Fernandes (ou Patas) e os Maçaricos casavam-se entre si...

"Por hoje, fico por aqui... Um abração aos dois (Não sei se o Horácio me está a ler, gostava-o de lhe dar um grande abraço... Desde Agosto de 1959, nunca mais o vi... Tinha eu 12 anos, afinal, e ele 24...quando nos teremos encontrado pela última vez).

"PS - Peço desculpa pelo 'espaço que estou a roubar' ao blogue... Mas este assunto não é meramente pessoal... Temos uma série (temática) sobre os nossos capelães militares e o Horácio foi capelão militar no TO da Guiné, logo foi nosso camarada"...

Nesse mesmo dia, 19 de junho de 2012, chegado a Lisboa escrevi outro comentário;

"Alberto e Horácio (se me estiveres a ler):

"Vindo da Lourinhã, chegado a Lisboa, fui consultar o o 'livro da família Maçarico' e não há dúvida, o Horácio é meu parente, as nossas bisavós, nascidas por volta de 1860, eram irmãs... A sua bisavó paterna era a Maria da Anunciação e a minha, a Maria Augusta (1864-1920), as duas únicas mulheres de uma família de 7 filhos... (A Maria Augusta casou na Lourinhã,  foi mãe da minha avó paterna, Alvarina de Sousa).

"O Júlio, que foi missionário em Moçambique, e depois foi para o Canadá, já morreu. Saiu da ordem, franciscana em 1970. Também é da grande família Maçarico, e portanto do meu parente...

"Fonte: Américo Teodoro Maçarico Moreira Remédio - Vila de Ribamar e as famílias mais antigas: Família Maçarico: Árvore genealógica: 500 anos de história. Ribamar, Lourinhã: ed. autor. 2002".


No dia seguinte, ainda escrevinhei  mais duas ou três notas, que comuniquei ao Branquinho:


(...) "O livro do Francisco Caboz/Horácio Neto Fernandes é rigorosamente autobiográfico... Estive a ler, com mais atenção e detalhe, ontem à noite, a descriação da sua experiência como 'seráfico', no colégio franciscano de Montariol, em Braga, e fiquei sem fala... Tem páginas que não ficam atrás do melhor do Virgílio Ferreira, em 'Manhã Submersa'... Voltarei a este ponto... 

"Alberto, deixa-me só dizer que há mais referências à 'família Maçarico': a história, que eu conheço, do avô, calafate, carpinteiro naval, António Fernandes (Maçarico), um dos últimos construtores navais de Ribamar, que 'desapareceu' na América (o seu regresso foi esperado em vão, durante muitos anos, qual Dom Sebastião; em vão, terá morrido na Califórnia)... Ou ainda a história do tio-bisavô, Frei José de Cristo, que morreu no Convento do Varatojo, Torres Vedras, com fama de santidade... Foi um dos 7 magníficos Maçaricos, cinco rapazes e duas raparigas (as nossas duas bisavós), nascidos nos anos 50/60 do Séc. XIX... Só ele, o Frei José de Cristo, não deu descendência.

"Enfim, há muitos outros pormenores que eu reconheço, do meu conhecimento (antigo) da família Maçarico, mas com os quais não te vou agora maçar"...

2. O surpreendente foi eu ter descoberto o Horácio numa das fotos do álbum do nosso saudoso Vitó, Victor Condeço (1943-2010), que tenho em meu poder há cerca de 5 anos... Andava à procura de fotos de Catió, para ilustrar o poste do nosso camarigo J.L. Mendes Gomes, quando me deparo, na legenda da foto nº 32 (acima reproduzida) , com a menção ao "alferes capelão Horácio".  Era ele, sem dúvida, o Horácio Neto Fernandes, e isso vinha comprovar a minha certeza de que o Vitó o teria conhecido em Catió, uma vez que ambos  pertenciam à CCS do BART 1913... 


Esta associação de ideias só poderia ter acontecido na sequência da minha conversa ontem com o João Crisóstomo, ocasião em que de resto o conheci pela primeira vez, "ao vivo", em termos pessoais, embora já tivéssemos telefonado diversas vezes. Mas esse encontro memorável merece ser objeto de um poste à parte... Por várias razões: (i) pelo camarada que ele é; (ii) pelo leitor apaixonado do nosso blogue que ele é; (iii) pelo grande português das américas em que ele se transformou, pese embora a sua simplicidade e humildade como pessoa...


Uma última pergunta ainda à volta da foto nº 32 (Quartel de Catió, fevereiro de 1968): o que será dessa gente de Catió, sobretudo os civis,  fotografados á direita do capelão ? Os quatro funcionários dos Correios e da Admistração (Catió era sede de circunscrição administrativa, a terra mais importante da Região de Tombali); os comerciantes José Saad e filha, o Mota, o Dantas e filha, o Barros, sem esquecer o "electricista civil Jerónimo" ?  Os nossos camaradas que estiveram em Catió até ao final da guerra ainda se lembram destas pessoas ? O que lhes terá acontecido ? Ficaram na Guiné-Bissau, fixaram-se em Portugal ?... Todos eles, tal como nós, fazem parte da "petite histoire" pela qual se interessa o nosso blogue e sem a qual não há a grande história, com H...


_______________

Nota do editor:

Último poste da série > 19 de maio de 2012 A> Guiné 63/74 - P9924: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (54): Mesmo com um atraso de 4 anos, farei chegar a vossa mensagem a meu pai, Joseph Turpin (Iracema Turpin)

Guiné 63/74 - P9940: Parabéns a você (423): Rui Gonçalves dos Santos, ex-Alf Mil da 4.ª CCAÇ (Guiné, 1963/65)

Para aceder aos postes do nosso camarada Rui Gonçalves dos Santos, clicar aqui
____________

Nota de LG:

Vd. último poste da série de 20 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9927: Parabéns a você (421): Mário Pinto, ex-Fur Mil da CART 2529 (Guiné, 1969/71)

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9939: Efemérides (93): A Operação Ametista Real foi há 39 anos (António Dâmaso)

1. Mensagem do nosso camarada António Dâmaso (Sargento-Mor Pára-quedista do BCP 12, na situação de Reforma Extraordinária) com data de 23 de Maio de 2012:

Aos Camaradas Luís Graça CO-EDITORES, envio as minhas saudações.
Desde há 39 anos que a data 23 de Maio tem sido uma muito difícil para mim. Significou morte e um trauma muito grande, tão grande que tenho muita dificuldade de falar sobre o assunto, isto apesar de ter uma neta que há 14 anos nasceu a 23 de Maio, o que representa vida.
Tenho alguns apontamentos, muitos com mais de 30 anos que peço para analisarem, editarem e publicarem se entenderem.

Um Ab
A. Dâmaso


OPERAÇÃO AMETISTA REAL

Em 17MAI73 cerca das 17H00, a minha Companhia - CCP 121 -, juntamente com o BAT Comandos Africanos, embarcou no cais de Bissau na LDG (Lancha de desembarque grande) 201 BOMBARDA, com destino a Bigene. Esta lancha tinha um tripulante conterrâneo que não ma deixou “passar sede”, íamos como sardinha em lata, fui para a ponte estendi o colchão pneumático, mas não consegui dormir por causa do ruído das máquinas e da trepidação. Nesta operação a minha função foi de Comandante interino do 3.º GComb e nunca me passou pela cabeça, que uma Operação aparentemente simples de 3 ou 4 dias se ia tornar nos 15 dias que foram o maior tormento da minha vida.

Levámos a noite toda e parte do dia seguinte a navegar, estivemos a fazer um compasso de espera na foz do rio Cacheu, não me apercebi se tinha a ver com marés, ou se foi para só chegar a Bigene perto do anoitecer, abicámos no porto de Ganturé ao meio da tarde e dirigimo-nos a pé até ao aquartelamento de Bigene. No caminho cruzámo-nos com elementos da CCP 123, que se dirigiam ao porto depois terem andado em operação na zona. Chegámos a Bigene perto do pôr do sol.

Os Comandos Africanos seguiram em frente em direcção ao Senegal e nós ficámos na parada de Bigene, comemos a ração de combate da ordem e preparámo-nos para passar a noite ali, ao meu pelotão calhou ali mesmo num canto da Parada em terreno limpo, liso e descoberto.

Depois de anoitecer, não posso precisar a hora, rebenta uma violenta flagelação ao aquartelamento com armas pesadas, e lá estávamos nós, alapados ao chão, rezando para que nenhuma granada nos caísse em cima, foi por pouco, uma caiu a escassos metros do meu pelotão espalhando uma saraivada de terra e pedras para cima de nós. Sempre que pernoitava em operações, colocava o equipamento à frente da cabeça, o que me protegeu porque no dia seguinte descobri vários furos nas cartucheiras

No dia 19 quando começou a clarear, seguimos em direcção à fronteira que ficava a cerca de 6Km. Chegados a esta, virámos à esquerda, seguimos pela picada da mesma, passando pelo marco de fronteira 129, mais um pouco à frente virámos novamente à esquerda, caminhámos nessa direcção entre 200 e 800 metros, e emboscámos no cumprimento da missão que nos estava reservada que era manter um Corredor de segurança para uma possível evacuação sanitária via Héli, entre Neneco e Bigene.

Cerca das oito horas ouvimos do outro lado da fronteira os bombardeamentos dos Fiat G 91, assim como os rebentamentos dos combates que se prolongaram até meio da tarde. Perto do pôr do sol regressámos a Bigene, nesse dia tivemos direito a uma refeição quente.

De novo preparámo-nos para passar a noite na parada e mais ou menos à mesma hora do dia anterior, mais uma violenta flagelação com armas pesadas, desta vez não caiu nenhuma perto de nós.

Havia um oficial do Exército que andava num jipe de luzes acesas, em alta velocidade de um lado para outro, fiquei sem saber qual a lógica de tal atitude, mas não interessava porque naquela guerra, o que mais se via eram coisas ilógicas, como já tinha visto em 1969 em Galomaro um Tenente andar de pistola em punho a atirar aos cães para os assustar.

Dali para a frente, os ataques/flagelações iriam fazer parte do nosso dia-a-dia.

No dia 20 fizemos o mesmo trajecto do dia anterior, fomos emboscar mais ou menos no mesmo sítio, à tarde regressamos e seguimos em viaturas para o porto de Ganturé onde embarcámos juntamente com alguns Comandos Africanos num navio patrulha, vim a saber no mesmo que se destinava a Binta.

Um Ab
A. Dâmaso

____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 23 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9937: Efemérides (58): Guidaje foi há 39 anos... Alguns pequenos reparos e a minha homenagem a Amílcar Mendes, Daniel Matos e Victor Tavares (Manuel Marinho)

Sore a Op Ametista Real ver aqui mais postes.

Guiné 63/74 - P9938: Cartas do meu avô (5): Segunda Carta: Em Catió (Parte IV) (J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil, CCAÇ 728, Bissau, Cachil e Catió, 1964/66)

A. Continuação da publicação da série Cartas do meu avô, da autoria do nosso camarigo Joaquim Luís Mendes Gomes, membro do nosso blogue, jurista, reformado da Caixa Geral de Depósitos, ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Os Palmeirins de Catió

que esteve na região de Tombali (Cachil e Catió) e em Bissau, nos anos de 1964/66, vivendo presentemente em Berlim.

B. SEGUNDA CARTA – EM CATIÓ (PARTE IV) (*)

Lichtenrade, Berlim, 14 de Março de 2012

6- Da Tormenta à Bonança

Ao cabo de uns meses, as cartas do Funchal começaram a rarear. Como é natural. Em vez delas, as de Lisboa chegavam certas.

A ansiedade pela avioneta do correio começava a crescer. Virá alguma ou não ? Sentia um verdadeiro deleite em ler cada uma que chegava.

O castelo delas ia subindo de altura, perto da cabeceira. Ia-as relendo e saboreando no intervalo de cada vinda da avioneta. Falavam-me da vida serena e pacata duma família aburguesada com os hábitos de Lisboa. As belezas de Sintra [, foto à direita, Palácio Nacional, postal antigo, fonte desconhecida, ] e Cascais que eu conhecia mal,  vinham descritas com mestria, ao contar os passeios de Sábado ou de Domingo, com os pais. Vila Franca e Salvaterra. Alcácer e Setúbal. Ficaram indelevelmente gravados na minha fantasia, como sítios onde teria de ir, uma vez regressado.

As peripécias do curso de biologia e aquele mundo imaginário da universidade, onde eu gostaria de ter entrado já. Histórias do seu gato preto, à mistura com as dos garotos da catequese. Aquelas tricas que há sempre dentro da família. A da Avó que, embora sempre “atrelada” aos passos da família, para todo lado onde fosse, ela ali estava, e no entanto, os mimos e galanteios iam todos para o tio. Que não lhe ligava um chavo…

As idas ao cinema com os pais, decididas de repente ao fim do jantar em dias de semana. Os serões que os pais faziam – ambos eram versados na arte das contabilidades – fora no Instituto Comercial que se conheceram - para darem conta das escritas dos clientes. Para ganharem mais algum. O soldo militar era religiosamente baixo. Por entendimento oblíquo do Salazar. Entendia o mago que o que faltava ao soldo, recebia-o no elevado benefício do estatuto militar… Os militares tinham a obrigação de casar ricos… Para isso usavam farda.

As minhas cartas eram tiradas a ferros. Sentia cá uma dificuldade enorme em redigi-las. Porque, tinham de ficar muito bem construídas. A naturalidade própria da escrita epistolar era-me inacessível. Sentia muita dificuldade em deixar correr a caneta. Mas porque a obrigação “ oblige”… por vezes, ficava até às tantas … Era um parto muito doloroso.



Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Vila de Catió >  Foto 16 - "Uma vista tirada da Rotunda, onde se vê uma DO-27 sobrevoando a zona do quartel, à direita a zona da antiga messe de oficiais e a antena dos Correios à esquerda".



Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do nosso saudoso  Victor Condeço  (1943-2010) > Vila de Catió >  Foto 17 > " Foto tirada da torre da Igreja no sentido do Quartel, vendo-se o depósito de água deste, a torre dos Correios, em baixo a rua das Palmeiras".




Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Quartel > Foto 32 > "Cerimónia militar em Fevereiro de 1968. Militares, civis da administração, correios e comerciantes. Da esquerda para a direita, [?], de costas o cap médico Morais, o comandante, ten cor Abílio Santiago Cardoso, quatro funcionários dos Correios e Administração, os comerciantes Srs. José Saad e filha, Mota, Dantas e filha, Barros, depois o electricista civil Jerónimo, e o alf mil capelão Horácio [Neto Fernandes]".






Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Quartel > Foto 3A > "Vista aérea da Rotunda e Avenida de Catió antes de 1967. O edifício à esquerda na foto era a escola primária que em 1967 já tinha sido modificado".

Fotos (e legendas) de Catió: Victor Condeço (1943/2010) / © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Todos os direitos reservados


Ainda hoje, quando me dá para as reler, do maço em que estão religiosamente guardadas, ali na gaveta da escrivaninha, vejo bem retratado o esforço de as escrever. E lembro-me muito bem do lugar e quando as escrevi… O entusiasmo recíproco era crescente. Havia entre ambos uma empatia indiscutível. Cada um de sua parte, interrogava-se sobre o que aconteceria, após o regresso, se ele viesse a verificar-se.

A mãe dela- confessou-mo ela depois- andava tão preocupada com o entusiasmo que via nela, que lhe perguntou:
- Olha lá,  filha. E se, entretanto, te aparece algum rapaz que goste de ti?...
- Que lhe respondeste? - perguntei eu,  a brincar.
- Que isso não me preocupa. O que tiver de ser,  será.

O á-vontade entre ambos foi se firmando com os meses decorridos. A tal ponto que alguém sugeriu, não me lembro quem e como, que seria bom partilharmos uma fotografia.
Eu mandei-lhe uma em que estava vestido com um “bonito” pijama azul comprado no mercado dos sirianos [, na loja do sr. Saad].

Fiquei à espera da dela. Com muita curiosidade, como é de supor. Qual não foi o meu desapontamento, quando, certa manhã, ao abrir uma carta dei de caras com uma foto, tipo passe, via-se um pouco do tronco ao nível do peito e dos ombros, uma golita branca a sair sobre uma camisola de lã feita pela mãe, à mão, e o rosto muito vivaço duma mocita de treze ou catorze anos!..



Confesso que fiquei desiludido e desnorteado. Nunca imaginei ser isso possível.
- Pronto. Mais um pontapé que me deram à falsa fé… Só pode estar a gozar comigo…

Coincidiu com a licença que o capitão me concedeu para ir a Bissau, tratar dos dentes – um salutar pretexto bem conhecido, para se passar uns dias fora da guerra. Bissau era uma metrópole africana, segura e cosmopolita. Para se passar umas ricas férias.

Entretanto a comissão ia decorrendo. Fui toda a viagem de avioneta,  ensimesmado. A olhar para a foto, de vez em quando.
- Só pode ser uma partida. Mas se é… diz muito mal dela…- pensava eu.

Nem deu para saborear a esfusiante beleza natural do emaranhado verde das bolanhas, matas com os rios em serpente, que se vê lá de cima, durante a meia hora até Bissau.

Os primeiros dias de Bissau foram soturnos. À procura duma explicação plausível. Não a encontrava. Só descansei quando resolvi deitar tudo para trás das costas e aproveitar bem aqueles parcos dias de libertação.
– Vou deixar de escrever-lhe e pronto. Ela, se estiver interessada, há-de explicar tudo muito bem.

Voltava de novo ao ponto de partida. Foi o que fiz melhor. 

Quando regressei a Catió, tinha umas duas ou três cartas. Numa delas vinha uma fotografia. Essa sim. Duma moça viçosa, duns vinte e tal anos. Um rosto duma beleza de linhas, fora do trivial, muito expressiva. E o corpo também. Não era uma boneca banal e estilizada. Tinha garra. Sinceramente agradou-me.
- Então porque mandou a outra, mais que ultrapassada?

A explicação vinha numa das cartas seguintes, à que trazia a foto. Como eu não dava sinal de mim, ela viu-se na necessidade de explicar. Aquilo fora uma reacção sua à minha ideia extravagante de eu ter mandado uma fotografia em pijama…

Na realidade, eu havia-o feito sem qualquer intenção. Não me passou pela cabeça a confusão que iria causar. Caí em mim, aceitei a reacção e pedi-lhe desculpa.

Tudo se recompôs a partir daí. Leviandades de quem é novato…mas não haviam de ficar por aí.

Em Catió havia um posto de correio público. Era vulgar ver por lá a gente nativa em altos berros a falar ao telefone com os faseus familiares doutras regiões da Guiné. Certo dia, deu-me a triste ideia de pedir uma ligação para Lisboa. Ela tinha-me dado o número não sei porquê. Ficava-se à espera tempos infindos que as ligações estivessem feitas.
Mal pensava eu enquanto esperava, o sarilho que havia desencadeado em casa dela…
- Uma chamada da Guiné? - Perguntou a Mãe, à pessoa dos telefones que a fez anunciar.

A Mãe ficou estarrecida. Se calhar há más notícias. O moço morreu. E agora? Chamo ou não chamo a A.T.?... Depois de uns instantes de intensa comoção, chamou-a. Ali apareci eu,  todo prazenteiro e descontraído, pelo menos em relação ao temporal que, sem dar conta, causara naquela casa.
- Apeteceu-me ouvir a sua voz!...- foi a ingénua explicação.

Só mais tarde, quando cirandávamos a namorar pelas ruas de Lisboa,  ela relatou o pesadelo que eu lhes tinha dado…

(Continua)
_____________

Nota do editor:

(*) Vd. último poste da série > 16 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9910: Cartas do meu avô (4): Segunda Carta: Em Catió (Parte III) (J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil, CCAÇ 728, Bissau, Cachil e Catió, 1964/66)

Guiné 63/74 - P9937: Efemérides (92): Guidaje foi há 39 anos... Alguns pequenos reparos e a minha homenagem a Amílcar Mendes, Daniel Matos e Victor Tavares (Manuel Marinho)


1. Comentário do nosso camarada Manuel Marinho ao poste P9934 (*) [Foto à esquerdaManuel Marinho, ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Nema/Farim e Binta, 1972/74]:


Camaradas

Estes acontecimentos, referentes a Guidaje, carecem apenas de pequenos reparos já feitos no excepcional trabalho do malogrado Daniel Matos mas que volto referir pois penso que o Daniel estava na disposição de retocar o seu extenso texto quando foi atraiçoado pela doença que o viria a vitimar.

Quanto ao Vítor Tavares, da “grande” CCP 121, apenas quero dizer que ele é um dos “causadores” da minha entrada no blogue a par do Amílcar Mendes, da 38ª Ccmds, um grande abraço para eles, e o meu reconhecimento destas duas Companhias de Intervenção na resolução do cerco a Guidaje.

Agora os reparos:

(i) A 22 [de maio de 1973] não existem colunas, apenas dia 23 (5ª coluna); depois da coluna ter abortado por ordem do Cmdt Correia de Campos, apenas a CCP 121 segue para lá [, Guidaje].

(ii) Nessa coluna os mortos referenciados pelo Daniel (Fur Arnaldo Marques Bento e Sold Lassana Calissa) morrem em combate no dia 9 Maio, na 1ª coluna, e são da 14ª Ccaç de Farim.

(iii) No relatório desta coluna Binta-Guidaje, da autoria do Alf Joaquim Gomes Rebelo, ele afirma que os corpos dos Sold Bailó Baldé e Fonseca Nancassa, vítimas mortais da CCaç 3 que ele comandava, foram transportados para Binta, na retirada das forças que compunham esta coluna.

Esta versão é a mais credível porque a CCP 121, única força a seguir para Guidaje, não levou qualquer viatura para Guidaje, portanto nunca poderiam [aqueles corpos] estar sepultados em Guidaje.

Mas de facto na página 197 do livro "Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974), 8.º Volume – Mortos em Campanha, Tomo II Guiné – Livro 2", consta que estão sepultados em Guidaje, o que na minha modesta opinião será engano.

(iv) Finalmente falta a coluna de 19 [, de Maio,] Guidaje – Binta, que tem de retroceder para Guidaje, pois são fortemente atacados.

(v) Com o máximo respeito pelo trabalho dos historiadores [, Carlos Matos Gomes e Aniceto Afonso], devo lembrar que houve ainda mais duas colunas, a 11 e 12 Junho, que significou o acabar da questão Guidaje. Depois voltamos à normalidade.

Nem de propósito, penso brevemente dar novas sobre a minha desditosa coluna, se o meu camarada que ia na coluna, e que me cedeu informações preciosas sobre a mesma, me der autorização para publicar, senão pedirei permissão porque o que tenho em mão é de muita importância para esclarecer muita coisa.

Abraço
Manuel Marinho (**)
____________________


(**) Último poste da série > 22 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9935: Efemérides (57): Guidaje foi há 39 anos... Pergunto: Por que é que a FAP não bombardeou com napalm a área de Genicó até Ujeque ? Por que é que não se utilizou o obus 14 no apoio às colunas ? No cerco de Guidaje muito eu desejei ter uma antiaérea... (Arnaldo Machado Veiga)


terça-feira, 22 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9936: Memórias da CCAÇ 798 (Manuel Vaz) (9): Uma perspectiva a partir de Gadamael Porto - 65/67 - VII Parte - Evolução da situação militar - Anexo IV



1. Em mensagem do dia 19 de Maio de 2012, o nosso camarada Manuel Vaz (ex-Alf Mil da CCAÇ 798, Gadamael Porto, 1965/67), enviou-nos o anexo IV referente à VII Parte das Memórias da sua Companhia.







MEMÓRIAS DA CCAÇ 798 (9)
De 63 a 73, uma década de Guerra na Fronteira Sul da Guiné
Uma Perspectiva a Partir de Gadamael Porto - 65/67 (VII Parte) > Anexo IV

Gadamael Porto fica situado na Fronteira Sul da Guiné-Bissau, num território que, na era colonial, pertenceu à França e que, através da Convenção Franco-Portuguesa de 1886 a “França cedia a Portugal a Zona de Cacine por troca com Casamança . . . “ (P3070),  dividindo o Reino Nalu sediado em Boké [, no território da Guiné-Conacri) . Assim, o território entre o Rio Cacine e a fronteira passou (na altura) a ser português, enquanto Casamança encravado entre a Gâmbia e Guiné-Bissau, continua a reclamar a independência.




Mais precisamente, Gadamael Porto, como se pode ver no recorte da carta anterior, situa-se na margem direita de um dos braços do Rio Cacine, onde desagua o Rio Queruene. Ao contrário do que se poderia pensar, Gadamael não era inicialmente um aglomerado populacional. A Carta Militar de 1954 [, de Cacoca,] dá ideia quanto à concentração da população. O maior aglomerado populacional, da etnia Biafada, situava-se na Tabanca de Ganturé, sede do Regulado, a cerca de 3 Km de Gadamael Porto. A tabanca mais próxima, digna desse nome, era a de Viana. Em toda a faixa compreendida entre os diversos braços do Rio Cacine e a fronteira, a zona mais povoada era para Sul, na estrada para Sangonhá.

Foi a sua localização, junto do braço do rio, associado à existência de um desembarcadouro que lhe deu a importância que tinha. Numa região com poucas e fracas estradas que na época das chuvas se tornam intransitáveis, a navegabilidade dos rios e a possibilidade do transporte fluvial para pessoas e mercadorias ganha uma importância vital. 

Foram estas condições naturais que determinaram o interesse das grandes Companhias que controlavam o Comércio, para instalarem ali um entreposto comercial. É disso prova a existência de duas casas de construção europeia, uma delas bem próxima do rio, exibindo a sigla ASCO que já fez correr muita tinta a propósito do seu significado, mas que, qual “ovo de colombo”, pode significar apenas, Associação Comercial [AsCo].

Foram estas casas abandonadas que a CART 494 encontrou, quando em 17DEZ63 ocupou Gadamael Porto, incorporando-as no Aquartelamento. Mas as NT já tinham estado anteriormente em Gadamael Porto. 

O Cap Blasco Gonçalves que foi o OInfOp do BCAÇ 1861, sediado em Buba (1965/67) dizia que já tinha comandado uma Companhia dispersa pelas localidades de Aldeia Formosa, Cacine e entre outras também Gadamael, onde teria estado uma Secção. Ora esta Secção deve ter estado instalada em Gadamael Porto, por volta dos anos 1961/62, tendo-se posteriormente deslocado para Buba, onde se fez o reagrupamento da Companhia.

Quando a CART 494 chegou a Gadamael, teve desde início de resistir às flagelações e emboscadas do PAIGC, ao mesmo tempo que construía as primeiras defesas do Aquartelamento e instalava um Destacamento em Ganturé (02FEV64) com apoio do Pel Rec Fox 42 que aí permaneceu até 20MAI64 (P7877). 

Seguiu-se o início das primeiras construções de apoio que se continuaram com a Companhia seguinte. Nesta fase, a margem direita do braço do Rio Queruane, a montante do desembarcadouro, com um piso plano constituído de uma pedra “esponjosa” de aparência vulcânica, serviu de pista de emergência, até ser construída a pista representada de amarelo, no recorte da Carta Militar, isto ainda no tempo da CART 494.

Aquartelamento de Gadamael Porto em Meados de 1969, no tempo da CART 2410.
O croquis faz a síntese do acolhimento das Populações: do lado direito, ao longo da Paliçada, as casas da Tabanca de Gadamael; do lado esquerdo as casas de colmo construídas para albergar a população vinda de Sangonhá/Cacoca (1ª fase do reordenamento da população); as casas com cobertura de zinco construídas pela CART 2410 para albergar a população de Ganturé. (2ª fase do reordenamento)

Foi com estes meios que a CCAÇ 798 encontrou o Aquartelamento de Gadamael Porto a 08MAI65. Durante a sua permanência continuaram as construções de apoio, incluindo a oficina auto, acolheram-se as primeiras populações no interior do perímetro defensivo, o que determinou o seu alargamento e a reorganização defensiva com a construção de novos abrigos e paliçadas. (P9329). 

A pista de aviação,  que na época das chuvas fora interdita, sofreu obras de ampliação e manutenção. A Engenharia Militar procedeu à eletrificação do Aquartelamento, o que permitiu a substituição do “velho petromax” e iniciou o projeto do Cais que viria a ser construído durante a Companhia seguinte, a CART 1659

Foi durante esta Companhia que se iniciaram as primeiras construções (reordenamento da população - P3013) ainda com cobertura de colmo, ao lado do Aquartelamento, para albergar as populações vindas de Sangonhá/Cacoca, entretanto extintos (29JUL68).



Fotografia aérea de finais de 1971 (CCAÇ 2796) gentilmente cedida pelo ©  Cor Morais da Silva
Desapareceram todas as casas de colmo, bem como os últimos troços de Paliçada. O perímetro do Aquartelamento alargou-se, incluindo mais construções militares sobretudo do lado oposto à Tabanca. 


Mas o Aquartelamento de Gadamael, com o perímetro deixado pela CCAÇ 798, deve-se ter mantido, sem grandes alterações, até à instalação dos primeiros Obuses, no tempo da CART 2410 (1968/69).



Fotografia aérea de 1972/73 (CCAÇ 3518), gentilmente cedida pelo ©  ex-Alf Mil L. Monteiro
Há mais construções militares do lado esquerdo. O Reordenamento da População está concluído e pode ver-se o braço do Rio Cacine, onde desagua o Rio Queruane, com o Cais de Acostagem.
 

A partir de agora, o Aquartelamento passa a ser uma base de Apoio de Fogos e de Reabastecimentos, através de um Pel Art e de um Pel AM para o qual houve necessidade de construir instalações. Esta Companhia continuou a construção da Tabanca (36 casas com telhado de zinco,  destinadas aos nativos de Ganturé=, alterou o Aquartelamento do lado da população pela eliminação da paliçada e procedeu à revisão do sistema defensivo daquele. O croquis anterior dá uma ideia do Aquartelamento nesses tempos, onde se pode ver ainda, a Tabanca inicial e os dois tipos de casas correspondendo às duas fases do ordenamento da população. 

A CART 2410 foi rendida a 21JUN69, por troca com a CCAÇ 2316, vinda de Guileje,  que apenas permaneceu em Gadamael, cerca de 4 meses. 

Seguiu-se a CART 2478 que começou por se instalar em Ganturé a 11OUT69, onde manteve dois Pelotões até à sua extinção, a 13MAI70. Foi no tempo desta Companhia que se iniciou a construção de Valas, como sistema defensivo.



Aquartelamento de Gadamael Porto nos primeiros meses de 1973, no tempo da CCAÇ 3518.
O Aquartelamento, tal como se representa no croquis, deve ter-se mantido sem grandes alterações, até ao ataque do PAIGC de MAI/JUN/73, apenas reforçado com um Pel CAN S/R com 5 armas, chegado a Gadamael na primeira quinzena de Maio, no tempo da CCAÇ 4743.


A 29DEZ70 a Companhia anterior era rendida pela CCAÇ 2796 que, nos primeiros tempos em Gadamael, foi severamente atacada pelo PAIGC, tendo sofrido várias baixas, entre os quais, o próprio Comandante da Companhia. O esforço operacional não a impediu de se dedicar à população, construindo 80 casas no Setor Norte do Aldeamento, uma Escola e um Posto Sanitário, na zona de ligação entre os dois setores do Ordenamento, para além de um Heliporto, Casernas e uma nova Reorganização do Terreno. A 1ª foto aérea dá uma ideia do Aquartelamento e das zonas limítrofes, no tempo desta Companhia.

A 24JAN72 a CCAÇ 3518 rende a Companhia anterior. Apesar dos constantes patrulhamentos numa extensa ZA, com uma fronteira de muitos quilómetros, nunca teve qualquer contacto com o IN. O PAIGC utilizava as frequentes flagelações sobre o Aquartelamento como forma de manifestar a sua presença e pressionar as NT, normalmente à noite, retirando durante esta todo o Armamento Pesado. 

Durante a presença desta Companhia foram feitas novas construções, entre elas um novo Paiol, e recuperadas as Casas de construção europeia. Foi anda concluído definitivamente o Aldeamento. É ainda de salientar a atividade do Posto Escolar nº 23, frequentado por 40 crianças e uma dúzia de adultos nativos. Desta ação beneficiaram ainda 30 praças que obtiveram o exame de 4ª classe em Bissau. (P6283)

A 04MAR73 abandonam Gadamael os últimos efetivos da CCAÇ 3518, dando lugar à CCAÇ 4743 que estava em sobreposição desde 08FEV73. Foi efémera a presença desta Companhia, interrompida pelo ataque a Gadamael de consequências dramáticas para toda a guarnição e população, ocorrido a partir da retirada de Guileje a 22MAI73. O que se passou a seguir, não é objeto deste anexo.

E agora um simples “clique” sobre a fotografia seguinte, permite-nos uma visita, em ecrã inteiro, a Gadamael Porto, nos finais do ano de 1971. Podemos ver a Escola e o Posto Médico ligando os dois Setores do Reordenamento da População, a Pista, o Heliporto, o Aquartelamento, bem como o envolvimento da floresta e do braço do rio Cacine.

Gadamael Porto nos finais do ano de 1971.  Fotografia gentilmente cedida pelo © Cor Morais da Silva.


Finalmente, aproveito para agradecer a possibilidade de divulgação das fotografias, ao Cor Morais da Silva (foto 1 e 3) e ao ex-Alf Mil L Monteiro (foto 2), bem como a intensa colaboração na elaboração dos Croquis, ao ex-Fur Mil L Guerreiro da CART 2410 e ao ex-Alf Mil L Monteiro da CCAÇ 3518, sem a qual não seria possível a sua apresentação.






Fontes:
Principal – Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, através das Apresentações, correções e Comentários.

Fontes Adicionais:
A necessidade de elementos concretos, obrigou ao contacto direto de vários camaradas que fazem parte da Tertúlia - Cor. Morais da Silva; ex-Alf Mil Vasco Pires; ex-Fur Mil Luís Guerreiro - e ainda do ex-Alf Mil Lopes Monteiro que não faz parte de mesma.

Manuel Vaz
Ex-Alf Mil
CCAÇ 798
____________

Nota de CV:  

Vd. último poste da série de 13 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9740: Memórias da CCAÇ 798 (Manuel Vaz) (8): Uma perspectiva a partir de Gadamael Porto - 65/67 - VII Parte - Evolução da situação militar - Anexos I, II e III

Guiné 63/74 - P9935: Efemérides (91): Guidaje foi há 39 anos... Pergunto: Por que é que a FAP não bombardeou com napalm a área de Genicó até Ujeque ? Por que é que não se utilizou o obus 14 no apoio às colunas ? No cerco de Guidaje muito eu desejei ter uma antiaérea... (Arnaldo Machado Veiga)

1. Mensagem do nosso leitor (e camarada) Arnaldo Machado Veiga, com data de 17 do corrente:

Como introíto apresento os meus cumprimentos e elogios pelo trabalho realizado, ao concentrar a variada informação sobre a guerra na Guiné.


Para mim, que vivia fazendo conjecturas acerca dos acontecimentos em Guidaje em Maio de 73, foi um alívio e ao mesmo tempo a consternação ao saber daqueles que lá morreram que eu conhecia bem. [Foto acima: mortos da CCAÇ 19, na zona do Cufeu. Foto de Amílcar Mendes, 38ª CCmds, 1972/74].

Foi também com alegria que revejo fotos recentes de Guidaje e do Cufeu, etc. Quero também realçar as dúvidas do Sarg Pára Manuel Rebocho e das quais também sempre comunguei e que se referem ao facto de, no cerco de Guidaje, as colunas de socorro terem sido empenhadas com tantos sacrifícios humanos e não terem sido utilizados os obuses de Farim (14, salvo erro) e até mesmo a sua deslocação para Binta em apoio das diversas colunas que pretendiam seguir em direcção a Guidaje.

Porque razão não deslocaram as Panhards de Bula para o mesmo efeito, por exemplo, já que em Bula tanto quanto eu saiba pouco valor acrescentado davam ?

Porque motivo a FAP não varreu a área desde Genicó até ao Ujeque com napalm? Tinham medo dos mísseis Strela? Mas os que andavam em terra já podiam levar com todo o tipo de armamento...

Também os judeus na guerra de 73 [, a guerra do Yom Kippur,] se viram a braços com os SAM 7 mas mesmo assim os seus Mirages e pilotos não deixaram de desempenhar a sua quota parte no sacrificio da guerra.


Guiné > Região de Tombali > Gandembel / Balana >CCAÇ 2317 (1968/69) > Gandembel: A antiaérea que era pressuposto proteger o pessoal contra eventuais ataques ... dos Migs russos da República da Guiné-Conacri. Já depois do 25 de abril também foi montada uma em Pirada, junto à  fronteira norte, com o Senegal.

Foto cedida pelo António Almeida, o intérpetre do Hino de Gandembel, soldado da CCAÇ 2317 (Gandembel/Balana, 1968/69) (1). Enviada pelo Zé Teixeira, também conhecido, entre os escuteiros de Matosinhos, como o Esquilo Sorridente . Legenda: AA/LG.

Guidaje tinha obuses de 10,5 e Bigene tinha obuses de 14 mas admito que as dificuldades de reabastecimento impedisse estas unidades de prestarem apoio às colunas com esta Artilharia.

Olhando para trás, fica-me um pouco a sensação de que os Altos Comandos se limitavam na inovação e se dedicavam a exercicios/ teorias pouco consentâneas com a realidade e esta ideia ainda ficou mais reforçada quando agora na revolta da Líbia se viam as antiaérias em cima de carrinhas a fazerem grandes estragos.

Não se imagina quantas vezes quer nas colunas Guidage/Binta quer no Quartel de Guidaje quando de ataques eu desejava ter uma antiaérea das que estavam em Bissau e. se não estou em erro, também em Nova Lamego e Cufar, para utilizar em fogo terrestre.

Bem haja pelo seu trabalho e votos de sucesso.

O meu muito obrigado

AMVEIGA 


2. Comentário de L.G.:

Obrigado, camarada Arnaldo, pelas tuas amáveis palavras em relação ao nosso blogue. Sabem sempre bem, sobretudo quando a gente se esforça por trabalhar bem e para todos, procurando dar a palavra a todos os que têm a (e querem) dizer algo sobre a sua experiência de guerra na Guiné, entre 1961 e 1974. 

Não me compete, por outro lado, responder às tuas perguntas. Elas aqui ficam para reflexão. serena,  de todos nós. Vejo que acompanhas o nosso blogue e que estiveste no inferno de Guidaje, mesmo sem saber mais nada a teu respeito (posto, unidade a que pertencias, etc.). Aproveito, por isso,  para te perguntar se não queres ir mais longe, partilhando fotos e outras memórias desse tempo, na qualidade de membro da nossa Tabanca Grande. Entrar é fácil: é dar a cara (duas fotos) e contar uma história... Para que amanhã os nossos filhos,  netos e bisnetos, não perguntem: Guidaje, avô Arnaldo ? Mas em que planeta é que isso fica ?

____________________

Nota do editor:


Último poste da série > Guiné 63/74 - P9934: Efemérides (56): Guidaje foi há 39 anos: reconstituindo a 5ª coluna, de 22 e 23 de maio de 1973 (Victor Tavares e † Daniel Matos)