segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10811: Notas de leitura (440): "Prece de um Combatente Nos Trilhos e Trincheiras da Guerra Colonial", por Manuel Luís Rodrigues Sousa (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Setembro de 2012:

Queridos amigos,
O livro do soldado Manuel Luís Rodrigues Sousa “Prece de um Combatente”, é credor da nossa atenção. São memórias, reconstituições por vezes muito afetuosas, é uma escrita muito singela, é o seu modesto contributo para a história da guerra colonial (palavras suas).
Tudo começa no orgulho pelas suas raízes, a candura e a ingenuidade com que enfrentou os contratempos e os infortúnios tocam obrigatoriamente o leitor.
Pediu ajudas para ilustrar o seu relato. É uma sinceridade que nos prende do princípio ao fim. Ele fala em nomes das praças, fala e toca-nos no coração.

Um abraço do
Mário


"Prece de um Combatente": memórias de um soldado em Jumbembém

Beja Santos

Sabe bem juntar as memórias do soldado Manuel Luís Rodrigues Sousa perto dos diários dos soldados Calvário e Góis. É sabido que a literatura assente em memórias tem sido campo da eleição predominantemente de oficiais e de alguns sargentos, ora o estudo das mentalidades carece de apreciações pessoais das praças, saber como viveram a guerra, de onde vieram, em que se transformaram. O soldado Sousa satisfaz todos estes requisitos. Antes de partir para a Guiné, fala-nos da sua linhagem, provém de pais naturais de Carrazeda de Ansiães e de Vila Flor, Manuel Sousa veio à luz em Folgares, nasceu em 1951. Até ir para a tropa, viveu nesta ruralidade, visitar familiares entre os Folgares e Carrazeda de Ansiães eram cerca de dez quilómetros percorridos a pé ou de burrico, estrada não havia na época. Fala-nos desses vínculos: “Periodicamente a família encontrava-se em visitas mútuas, ora nos Folgares, onde viviam os meus pais, eu e todos os meus irmãos, ora na Carrapatosa, onde vivia a minha avó, o tio Armindo e esposa, a tia Aninhas, além dos meus primos, filhos deste casal que vivia com a minha avó, a Natália, o Alexandre, o Fernando e o Ricardo. Fazia ainda parte deste núcleo de familiares o meu primo Chico”. Conta-nos histórias familiares, e depois temo-lo a assentar praça, em finais de Julho de 1972. A saída de casa não foi fácil, estavam ali todos os seus tesouros: “Ali cresci e trabalhei no trabalho duro do campo, de sol a sol, melhor dizendo, de noite a noite, sem conhecer férias, fins de semana ou coisas parecidas”. Os pais, desgostosos, viram partir o “seu Manuel”.

Recruta em Vila Real, adaptou-se bem, como tinha pouco dinheiro, ali passou praticamente todos os fins de semana. Seguiu para Abrantes, a sua especialidade era de atirador. E é aqui que recebe convite para ingressar na polícia, decidiu recusar. Em finais de Novembro parte para Tomar, vai formar batalhão destinado à Guiné, o BCAÇ 4512. A despedida é emocionante, é recordação inesquecível, esta partida com destino a Tomar: “Desta vez não foi via Carrazeda de Ansiães, nem tive o apoio da velha mula no transporte da mala. Porque que guia de transporte só me permitia utilizar o comboio e como o dinheiro não abundava para pagar a camionete desde Carrazeda de Ansiães até ao Tua, desta vez tinha de descer ao vale do Tua, com destino à estação de Codeçais, através de um caminho íngreme e tortuoso, num percurso de cerca de oito quilómetros, passando pelas aldeias de Pereiros e Codeçais. Transportava eu a mala e um meu irmão mais novo, o Zé, que me acompanhou até a estação, transportava um saco que continha o fardamento camuflado que tinha trazido para a minha mãe ajustar no tamanho. O meu pai fez questão de me acompanhar até à saída da aldeia, até ao Barreiro, já com a aldeia de Pereiros à vista. Chegada a hora da separação, irrompeu destroçado em alto choro, envolvendo-me num longo e apertado abraço. As emoções e as lágrimas misturaram-se por alguns instantes, após o que nos desenlaçámos e, de lágrima no canto do olho, juntamente com o meu irmão, lá segui rumo à estação”.

Em 6 de Dezembro, o BCAÇ 4512 ruma para a Rocha do Conde de Óbidos, o Uíge vai levá-los para Bissau. Desembarcam e vão para o Cumeré, instalam-se em tendas no campo de futebol, fazem o IAO, é na limpeza das casernas do Cumeré, a varrer o chão, que ele apanha uma pequena medalha de ouro com inscrição “Deus de guarde”. Chegara a hora de abarcar para Jumbembém via Farim. Segue-se a descrição do local: “Situava-se numa ligeira elevação do terreno, pouco significativa na planura característica da Guiné, junto a uma linha de água designada por Rio de Jumbembém. No lado sul, salteada por algumas instalações de utilização militar, uma delas era uma antiga serração, com telhas em chapa a esvoaçarem ao vento, a que se chamava quartel. Na parte norte estava concentrada a tabanca, formada por casas quadradas, construídas em alinhamento, em várias filas, de blocos de terra, cobertas a chapas de zinco”. Detém-se sobre as comunicações, os costumes das populações, a relação com as crianças e as primeiras operações a Bricama, em meados de Janeiro, ainda com a CART 3359. Descobrem uma casa de mato, há para ali fogo intenso e ele escreve: “Vi um ancião negro no meio do terreiro, entre as palhotas, de pé, trémulo, com um dos braços cortados por uma rajada ou estilhaço, sensivelmente pelo cotovelo, apenas ligado por uma pele que ele sustentava com a outra mão”. Na segunda ida a Bricama, um guerrilheiro do PAIGC foi varado com uma rajada, um camarada teve ferimentos e foi evacuado.

Manuel Sousa esteve atento aos pormenores: ao que se disse sobre o assassinato de Amílcar Cabral, às estratégias de aliciamento das populações, a uma noite de cinema em Jumbembém em que foi exibido o filme “Os Três Mosqueteiros”, à chegada dos mísseis Strella. E em Maio de 1973, ele vai participar no inferno de Guidage. Primeiro, em 10 de Maio, parte para Guidage o 2º pelotão da sua companhia, o livro de Manuel Sousa inclui o relato do furriel Fernando Costa Gomes de Araújo sobre esta deslocação a Guidage. Em 23 de Maio, chegou a vez do pelotão de Manuel Sousa, ele vai descrever com muita singeleza e contenção a morte do seu camarada Domingues Martins da Silva Lopes. Manuel Sousa vai a picar, vão de Binta para Guidage. Vai trocando algumas palavras com Domingos Lopes e, imprevistamente, o drama aconteceu, já Manuel Sousa tinha picado cerca de 50 metros de uma árvore de grande porte, ocorreu atrás um enorme explosão, quando ele chegou à referida árvore viu o Domingos Lopes morto, enquanto um furriel dos Comandos, com o rosto esfacelado gritava “ai minha mãezinha”. E confidencia que a morte deste seu camarada o marcou, estivera com ele até ao último instante, depois do regresso de Guidage ajudou a reunir todos os seus parcos haveres para os devolver à família. E escreve: “A mala e um pequeno espólio de objetos que incluía um gravador de bobines que, dias antes, à cabeceira da sua cama e da minha, ao lado uma da outra, reproduzia frequentemente em alto volume o folclore minhoto, região da sua naturalidade que, a partir dali, se calou para sempre. Tenho bem presente aquela imagem da mala apertada com um cordel em volta e a sensação que me assaltou ao pensar no drama da chegada daquela encomenda aos seus destinatários”. Fez mais amizades, recorda Orlando Augusto Pires, que estava em Binta, criou-se uma forte amizade, em 1975 reencontraram-se, estavam ambos incorporados na Guarda Nacional Republicana. Com os desencontros da vida, passaram-se muitos anos e depois veio a saber que o Pires falecera, acometido de doença súbita no dia do casamento da filha mais nova. E exalta a simplicidade, a generosidade, a nobreza de carácter daquele seu amigo.

Sempre bom observador, colige notas sobre os macacos, as minas, os trabalhos do pelotão de serviço (ir buscar lenha, dar apoio aos cozinheiros, descascar batatas, confessa que desviava algumas, o jantar era sempre de fome, cozia aquelas batatas com algumas couves, supria as suas necessidades). É nisto que ocorre a morte do alferes Nuno Gonçalves da Costa.

(Continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 DE DEZEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10798: Notas de leitura (439): "Dona Berta de Bissau", de José Ceitil (Mário Beja Santos)

domingo, 16 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10810: Álbum fotográfico de Fernando Súcio (2): Bula, 1972/74





1. Segunda série de fotos do álbum do nosso camarada Fernando Súcio (ex-Soldado Condutor do Pel Mort 4275,Bula, 1972/74), estas já referentes à sua estadia na Guiné.





Bula, 1972/74 > BCAV 8320 > Viatura de piquete

Bula, 1972/74 > Francisco, de Lamego, e Súcio

Bula, 1972/74 > O Batatinha da dança do Nhirren e o seu protector Súcio

 Bula, 1972/74 > Fortim dos Fulas > Brincadeira parva

Bula, 1972/74 > Fortim dos Fulas > Fátima e Súcio

Bula, 1972/74 > Súcio e Honório > Caçada de um burro do mato

Ao "bandido" do Fernando com um um pio dos amigos Olhero e Herculano

Bula, 1972/74 > Carregamento de granadas para o 11,4

Bula, 1972/74 > Armamento do PAIGC

Bula, 1972/74 > Tabanca dos Fulas > Estrada de Binar

Bula, 1972/74 > Súcio e Grou
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10800: Álbum fotográfico de Fernando Súcio (1): Elvas, Figueira da Foz e Bula

Guiné 63/74 - P10809: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (20): Notícias da minha antiga companhia, a CCAÇ 3460/BCAÇ 3863, e do meu substituto, o alf mil Potra


   1. No Diário da Guiné, do António Graça de Abreu (AGA), há apenas duas ou três referências à sua antiga companhia, ao seu substituto, o alf mil Potra, e ao comandante, o cap mil Morgado...  .. Aqui se reproduz alguns excertos  do Diário do AGA, com a devida vénia... Procuramos assim colmar a ausência de referências, no nosso blogue,  à CCAÇ 3460, esperando que outros leitores possam trazer informação complementar sobre essa subunidade (que andou por Bolama, Cacheu, Bianga e Bissau... (LG):   
                                 
(...) Canchungo, 18 de Setembro de 1972

Entrei para a tropa em Outubro de 1970. Durante seis meses em Mafra, com a recruta e especialidade, fizeram de mim um pequeno aspirante a oficial miliciano atirador de Infantaria. Fui colocado no Batalhão de Caçadores 5, em Lisboa, onde dei instrução a soldados durante um curto espaço de tempo. 

Segui para Tancos, para a Escola Prática de Engenharia e em dois meses tirei um curso de Minas e Armadilhas. Fui mobilizado para a Guiné e colocado no Regimento de Infantaria 1 na Amadora, para formar Batalhão, exactamente este Batalhão 3863 que veio para o chão manjaco. A minha companhia 3460 foi parar ao Cacheu, mas eu não parti para a Guiné juntamente com estes homens.[1] 

Uma operação a uma velha luxação crómio-clavicular no ombro direito, resultado de uma cena de pancadaria em que fui o personagem principal quando tinha dezassete anos, devidamente explorada, possibilitou-me a passagem aos serviços auxiliares. Fui reclassificado com a especialidade de Secretariado e desmobilizado. 

Fiquei no R I. 1, como simples alferes amanuense no batalhão de Mobilização. Permaneci na Amadora durante um ano e já estava convencido de que o Ultramar não seria o meu destino. Até que fui novamente mobilizado para a Guiné, destinado a este CAOP. Quando deixei de pertencer ao Batalhão 3863 e à sua companhia 3460 [2], fui substituído no lugar de comandante de um pelotão de trinta homens, todos operacionais, pelo alferes miliciano Potra. Vi-os partir, reencontrei-os agora aqui, conheço quase toda a gente do Batalhão.

O Potra, o alferes nomeado em minha substituição na companhia 3460, devia encontrar-se no Cacheu, onde praticamente não há guerra. Está em Bissau, no hospital militar, sem a perna direita, desfeita pelo rebentamento de uma mina anti-pessoal. O Rocha, o alferes meu amigo que comanda um pelotão no Bachile é que me deu a notícia, no bar de oficiais do CAOP. Foi como se tivesse recebido um soco no estômago, caí como um pedregulho numa das cadeira de lona e lá permaneci um pedaço, sem mexer. Quantos homens sem pernas, quantos mortos, mas eu não os conheço e a vida continua!… Desta vez foi o Potra, podia ter sido eu. Que mal fez o rapaz para merecer tal sorte?

Ele permaneceu apenas durante dois meses no Cacheu. Como tinham militares a mais na vila, o Potra foi transferido para uma companhia de africanos em Mansabá, uma zona de muita porrada. Numa das saídas para o mato, pisou a mina anti-pessoal que lhe levou a perna.
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[1] Quando o batalhão 3863 deixou a Amadora e viajou para a Guiné, metamorfoseei a cantiga “Partindo-se” de João Roiz de Castelo-Branco, escrita no século XIV, assim:


Partem tão tristes os tristes,
Tão tristes de levar guerra
Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns nesta terra.
Tão tristes, amargurados,
Tão doentes nesta vida,
Tão doídos, revoltados,
Em tempo de despedida.
Partem tão tristes, chorosos,
Tão longe de esperar bem,
Tão perdidos, tão saudosos
“Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém”.

[2] Para a história resumida do Batalhão de Caçadores 3863 e da “minha” companhia 3460, ver Resenha, 7º. vol., tomo II, pag. 157-158.
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(...) Canchungo, 25 de Setembro de 1972

No início de Outubro vou a Bissau, tratar da minha primeira viagem de férias a Portugal e comprar uma máquina fotográfica. Vai-me fazer bem sair daqui, mudar de ares. Como é que vou para Bissau? De avião, a passarola pode cair, de coluna, por estrada, estamos sujeitos a ser emboscados. Mas estas coisas são tão raras que nem se podem ter em conta. A morte não espreita atrás de cada palmeira. É verdade que todos os dias acontecem desgraças - o Potra ficou sem uma perna, -  mas é preciso não mistificar, nem mitificar a situação militar. Eu não sou um operacional, sei onde me meto.

Ultimamente isto tem andado num virote, a guerra A, B, C, tantas letras até ao fim do alfabeto! (...)

(...) Canchungo, 30 de Setembro de 1972

O capitão Morgado veio do Cacheu até cá, o que sucede com alguma frequência, para tratar de pequenas operações com o meu coronel ou de outros assuntos com o seu comandante de batalhão. O Morgado é miliciano e comandante da Companhia 3460, a que pertenci. Sempre mantivemos um bom relacionamento, é boa pessoa, afável no trato e nas ideias. Hoje dizia-me: “Você não sabe o que perdeu em não vir para a minha Companhia, aquilo lá no Cacheu é uma estância de férias formidável:” E ria, ria. Não lhe falei nos fuzileiros mortos, recordei-lhe apenas a perna desfeita do alferes Potra, meu substituto. Já não riu, não me falou mais nas delícias do Cacheu.

Mas é verdade que o lugar, uma das vilas mais antigas da Guiné, vive em paz, não é atacada. O problema é a Caboiana e Jopá, as zonas libertadas do PAIGC perto do Cacheu e de Canchungo. A companhia 3460 não vai lá, por isso vivem tranquilos.

Sinal de paz e boa vida, o capitão trouxe-nos uns quilos de camarão cozido, fabuloso, grande, gostoso, pescado nas águas do rio Cacheu.

(...) Mansoa, 15 de Maio de 1973


Não há evacuações de helicóptero directamente do mato por isso os rapazes de Mansabá chegaram aqui ontem, os corpos sujos, as caras cobertas de pó, os olhos cheios de lágrimas, com um soldado que tinha uma perna desfeita por uma mina. O médico fez o que pôde e depois o infeliz foi levado para o hospital de Bissau. Lembrei-me do alferes Potra, meu substituto, que também ficou sem perna em Mansabá. Compreender estes homens, o porquê disto tudo. Sem literaturas. Eu, quase sem reacção, o coração ainda dói mas a cabeça esfria.

[, Foto à esquerda:  o AGA, em Cufar, 1973]

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Nota do editor:

Último poste da série > 30 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10597: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (19): A pobreza em chão manjaco

Guiné 63/74 - P10808: Agenda cultural (241): Últimos dias da exposição Álbum de Memórias: Índia Portuguesa, 1954-62... Lisboa, Padrão dos Descobrimentos: até 30/12/2012


Os territórios da Índia Portuguesa, tal como os aprendíamos na escola primária (Cortesia de José Varzeano, autor do blogue Correio das Lembranças)



A exposição conta com a colaboração do Observatório Político, que fez o contexto geopolítico


(À  esquerda:) Fausto Diabinho recebe, da PSP, a ordem de mobilização, no seu próprio local de trabalho, uma farmácia de Lisboa. Fez a tropa em Elvas, em 1956.  (À direita:) Fausto Diabinho, em Goa, 2/7/1960, um ano e cinco meses antes da invasão (17/18 de dezembro de 1961).


Regimento de Lanceiros nº 1, Elvas > Despedida do ERC 1 (Esquadrão de Reconhecimento nº 1), mobilizado para a Índia.


Um grupo de alferes a bordo do Niassa, a caminho da Índia... Curiosamente, pertenciam à CCAÇ 11 e CCAÇ 12, as mesmas designações das duas companhias africanas que irão nascer em Contuboel, leste da Guiné, em meados de 1969...


O desembarque, em batelão, no porto de Mormugão, Goa.

Algumas das fotos da exposição (aqui reproduzidas, com a devida vénia...). 

1.  Amigos e camaradas, nomeadamente os da Grande Lisboa:

Seria uma pena perderem esta exposição, que está patente no Padrão dos Descobrimentos,  já desde o dia 30 de setembro, e que termina no próximo dia 30 dezembro.

Pode ser visitada, de terça-feira a domingo, das 10.00h às 18.30h. A entrada são 3 €.

No sitio oficial lê-se: "O Padrão dos Descobrimentos, dedicado a todos os que difundiram a cultura portuguesa no mundo, apresenta esta exposição como parte da sua memória viva, evocando o esforço e a coragem de todos os homens que são um testemunho das várias facetas da história lusa de além-mar.

"Este Álbum de Memórias. Índia Portuguesa 1954-62, criado a partir de fotografias, documentação e recordações dos militares portugueses, espólio recolhido por Fernanda Paraíso, com o apoio da Associação Nacional de Prisioneiros de Guerra (ANPG), retrata a vida dos militares, prisioneiros de guerra na sequência da ocupação indiana dos territórios portugueses na Índia, em Dezembro de 1961, até ao momento do seu repatriamento.

"À presente exposição, comissariada por Fernanda Paraíso, une-se o contributo do Observatório Político que introduz o enquadramento complementar para a compreensão do quadro histórico e político de meados do século XX, no qual se inscrevem os acontecimentos narrados"...

2. Tomo a liberdade de apresentar algumas fotos que fiz, aquando da minha visita à exposição, no passado dia 25 de novembro. Gostaria de chamar  a atenção para os excertos dos diversos diários mantidos pelos militares portugueses que ficaram prisioneiros das tropas invasoras indianas, e que só regressaram à Pátria em 1962, depois de cinco meses e meio de cativeiro. Comemora-se. portanto, este ano,  o 50º aniversário dos últimos soldados da Índia... E por outro lado, enfatize-se o carinho com que estes homens, nossos camaradas da guerra colonial, tanto do exército como da marinha, reuniram documentos, objectos, fotos, etc. que ilustram esta fase final da nossa presença na índia, entre 1954 e 1962. É também o testemunho de um geração que tem sofrido a ignomínia do silêncio. Parabéns à comissária Fernanda Paraíso e ao EGEAC.

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Guiné 63/74 - P10807: Parabéns a você (511): António Paiva, ex-Soldado Condutor do HM 241 de Bissau (Guiné, 1968/70)

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 15 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10802: Parabéns a você (510): Francisco Santos, ex-Soldado de Transmissões da CCAÇ 557 (Guiné, 1963/65) e Sousa de Castro, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494 (Guiné, 1971/74)

sábado, 15 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10806: Memória dos lugares (201). Bambadinca e o seu fontenário de 1948 (José Carlos Lopes / Humberto Reis / Libério Lopes / Luís Graça)




Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > O fur mil amanuense, com a especialidade de contabilidade e pagadoria, José Carlos Lopes no cimo da famosa fonte de Bambadinca... Poucos fotógrafos deram contam  deste monumento... E, no entanto, milhares de homens em armas passaram ao seu lado... É uma construção dos anos 40 (conforme inscrição, visível na foto: 1948). Já aqui falámos desta fonte em poste anterior (*).

Foto: © José Carlos Lopes  (2012). Todos os direitos reservados


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bambadinca > 1996: A fonte de Bambadinca. Quando o Humberto Reis voltou à Guiné, em viagem de negócios e de saudade, passou por Bambadinca e tirou esta chapa. A fonte ainda estava lá, e - o mais importante - funcionava!... E continua a lá estar, mais de 60 anos depois da sua construção: veja-se no Google Earth!...



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Vista (parcial) da tabanca de Bambadinca, com o Rio Geba ao fundo. Em primeiro plano, contígua ao arame farpado, a casa e o estabelecimento comercial do Rendeiro, um dos poucos colonos portugueses que conhecemos na Guiné, em 1969/71.




Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > 1970 > Entrada principal, pelo lado leste (sentido Bafatá), do aquartelamento. O fontenário está sinalizado com um círculo a vermelho, ficava a uns 100 metros da casa e estabelecimento comercial do Rendeiro.






Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Vista aérea da tabanca de Bambadinca, tirada no sentido sul-norte. Em primeiro plano, a saída (lado leste) do aquartelamento, ligando à estrada (alcatroada) Bambadinca-Bafatá. Este troço que ladeada o "morro" de  Bambadinca, fazia a ligação com a estrada, em conmstrução, Bambadinca-Xime (que será posteriormente asfaltada, em 1971 ou 1972). Ao fundo, o Rio Geba Estreito. São visíveis as instalações do Pelotão de Intendência, junto ao importante porto fluvial de Bambadinca. O fontenário de aqui falamos, comnstruído em 1948, está sinalizado com um círculo a vermelho.

Fotos: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados



A fonte, de 1948, em foto de 1964... Enviada pelo nosso camarada Libério Lopes, que foi 2º Sarg Mil Inf da CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65).
Foto: © Libério Lopes (2012). Todos os direitos reservados,





Guiné > Zona leste > Carat de Bambadinca (1955) >  Escala 1/50 mil > Pormenor. Bambadinca ficava num cruzamento ligando a leste Bafatá (e Nova Lamego), a sul, Mansambo - Xitole - Saltinho, e a sudoeste, o Xime.

Infografia:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. (**)

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Guiné 63/74 - P10805: Do Ninho D'Águia até África (35): Boas Festas, camaradas amigos (Tony Borié)

1. Mais um episódio da série "Do Ninho de D'Águia até África", de autoria do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), iniciada no Poste P10177, desta vez versando a época natalícia:


Do Ninho D'Águia até África (35)






Boas Festas, combatentes amigos!

A nossa geração de antigos combatentes da guerra que Portugal manteve com as suas então Províncias Ultramarinas, sofreu muito, não há nenhuma excepção, todos, mesmo todos, os três ramos das forças armadas, desde os militares do quadro permanente aos milicianos, desde alguns generais aos soldados, que alguns só com o exame da segunda classe da instrução primária, estavam ali firmes, a receber ordens que não compreendiam, e saíam a destruir bases de guerrilheiros, só com um bocado de pão rijo no bolso para entreter o estômago, todos, nos melhores anos das suas vidas, principalmente dos milicianos e soldados foram interrompidos, para irem para um local de onde não sabiam se sairiam vivos, é verdade, os africanos também sofreram, lutando e morrendo por um ideal de liberdade, as enfermeiras paraquedistas, em lugar de mostrarem a sua juventude em festas, junto de suas famílias, interromperam essa mesma juventude e foram salvar vidas, com o risco da sua, as populações civis, interromperam a suas tarefas, e muitas abandonaram o seu local de sustento, passaram fome e perderam os seus haveres, todos de uma maneira ou de outra sentiram o “ferrete” espetado nas costas, ou o “espeto” nas unhas, de muitas injustiças que viram e sofreram, sentem a dor no coração de verem o camuflado do companheiro e amigo, sujo de sangue, com restos de carne humana, muitos não mais se “acomodaram”, sim é verdade.

As mães, os pais, as noivas, os familiares de uma maneira geral, choraram as ausências, muitos, principalmente militares do quadro permanente, andaram com a “casa às costas”, os filhos frequentaram diferentes escolas, em diferentes locais, tiveram uma vida de “saltimbancos”, com diferentes climas e costumes, também é verdade, alguns contraíram doenças, devido a estarem expostos a diferentes climas, sofreram cicatrizes no corpo de estilhaços de granadas, balas, ou outros objectos que se usavam em cenário de guerra, muitos viram ser-lhes amputados membros do seu corpo, e outros única e simplesmente morreram, em combate, por acidente e por doença, tudo isto é uma pura verdade.

Mas alguns de nós sobrevivemos, e estamos agora aqui vivos, com alguma, às vezes pouca saúde, mas estamos aqui, temos boca, falamos, às vezes exaltamo-nos e desabafamos com a pessoa que estiver mais próxima, nem sempre somos correctos, até dizem que é “stress de guerra”, pois que seja, mas estamos aqui.

E de quem foi a culpa? De ninguém que esteja vivo, pois já lá vão tantos anos. Talvez do primeiro marinheiro europeu que desembarcou na África, com uma espada na mão e com uma cara de guerreiro, que passado um segundo depois de pisar terra firme, já estava a praticar um acto de injustiça, que se prolongou por séculos, e que a nossa geração sofrendo, terminou.

Calhou-nos a nós, e é aí que me quero referir, pois estamos aqui, e se o nosso pensamento tiver alguma força e poder retornar umas décadas atrás, veremos que tirando a passagem pela guerra até vivemos numa época em que o mundo desabrochou, e mostrou-nos umas certas regalias, pois muitos da nossa geração, não tinham nunca usufruído de por exemplo, a electricidade nas casas, principalmente nas aldeias, o fogão a gás ou eléctrico, o frigorífico, o veículo automóvel, as lojas de roupa, e mercados de géneros alimentícios, os laboratórios descobriram novos medicamentos e salvam milhões de pessoas, os aviões com acesso a quase todo o mundo, o homem pisou a Lua, existem satélites que vigiam o mundo e sabem a milhares de quilómetros de distância o que se passa na nossa rua, comboios super rápidos, e ultimamente o mundo dos computadores, onde se está em todo o mundo em segundos, e de uma maneira ou de outra sobrevivemos e estamos aqui.

A guerra voltou ao mundo há mais ou menos uma década, e não sabemos se os nossos filhos, netos e bisnetos, vão passar ao lado dela, oxalá que passem, pois eu não desejo ver o meu filho, o meu neto, nem o meu bisneto, dentro do arame farpado, como eu estive por dois anos, sempre cheio de medo, e oxalá que usufrua de todos os comboios rápidos, dos super-aviões e toda a tecnologia deste mundo moderno.


E só para terminar, vejam os felizardos que somos, reparem nesta fotografia que ilustra este texto, onde um ser humano, hoje, neste mundo que será dos nossos filhos, não tem uns simples sapatos, pois improvisou umas garrafas de qualquer refrigerante vazias e com uma corda feita de ramos de arbustos imitando uma sandálias, para proteger os pés.

BOAS FESTAS, companheiros combatentes, do
Cifra amigo!

(Texto, ilustrações e fotos: © Tony Borié (2012). Direitos reservados) 
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 11 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10785: Do Ninho D'Águia até África (34): Aquela garotada (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P10804: Blogpoesia (309): Vem aí retoma... (Luís Graça)


Foto de ©  Luís Graça: Pôr do sol no Atlântico, visto do estuário do Tejo. 5/11/2011

Vem aí a retoma

No verão,
entre cigarras e grilos,
éramos arquitectos esquilos,
desenhávamos à mão,
dedo a dedo,
frágeis barreiras de areia
contra a maré cheia
do medo.
Contra o medo do medo.

Em agosto,
ainda não se adivinhava setembro,
às portas do Império,
as pousadas estavam repletas
e éramos inconscientemente felizes.

Em Beirute caíam bombas
e nas Canárias davam à costa
cadáveres subsarianos.
O verão já era outono,
vindima, mosto,
passeávamos agora
com as nossas bicicletas,
à volta do círculo polar ártico,
furando o buraco do ozono.
Definitivamente cancelámos
o nosso cruzeiro pelo adriático.

Na rentrée,
os novos príncipes deste mundo
anunciavam a boa nova
pela têvê:
vem aí a retoma!

Praia da Areia Branca,
agosto de 2006 /
revisto em 14 de dezembro de 2012

Luís Graça

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Nota do editor:

Último poste da série > 15 de dezembro de 2012 >  Guiné 63/74 - P10803: Blogpoesia (308): Hoje há mais neve branca lá fora... (J. L. Mendes Gomes)

Guiné 63/74 - P10803: Blogpoesia (308): Hoje há mais neve branca lá fora... (J. L. Mendes Gomes)


Hoje há mais neve branca lá fora.
E cá dentro, também.
Lá fora é natural.
O sol vem e ela se afasta,
Tão lenta e delicada,
Vem o calor e de novo,
Rebenta a vida em botões de flor.
No verde das folhas.

Chegam os cantos sonoros dos pássaros Que fugiram do frio.
Vem o sol e a praia.
E o lanche no bosque.
À beira do rio.

Só o nevão que caiu em mim,
Não tem meio de apagar.
Estou regelado.
E não aqueço com nada.
Nunca mais irei ter sol.
Meus olhos, parece,
Vão secar … para sempre.
Nem lágrimas correm pela minha face.

Um deserto gelado e frio.
Não passa ninguém.
Nada vem alegrar meus dias.
Noite cerrada e fria.
Mas, bem no fundo, sei.
A Primavera irá voltar…

Ouvindo canções dos Andes.
Zehlendorf, 13 de Dezembro de 2012
8h4m
Joaquim Luís M. Mendes Gomes[Reproduzido, com a devida vénia, da sua página no Facebook]
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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10720: Blogpoesia (307): Não, não havia nada na antiga estrada do Xime-Ponta do Inglês (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P10802: Parabéns a você (510): Francisco Santos, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CCAÇ 557 (Guiné, 1963/65) e Sousa de Castro, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494 (Guiné, 1971/74)

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 12 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10792: Parabéns a você (509): Francisco Palma, ex-Soldado Condutor Auto da CCAV 2748/BCAV 2922 (Guiné, 1970/72)

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10801: Os nossos médicos (45): O dr. Soares Oliveira na Tabanca de Matosinhos com o João Rebola (Armando Pires


Foto nº 1

Foto nº 2


Foto nº 3


1. Mensagem de 13 do corrente, enviada pelo Armando Pires [, foto á direita, na sua casa de Miraflores, concelho de Oeiras...

Meu Caro Luís Graça.

Camarada.

Em primeiro lugar, informo que a minha ferramenta, o computador, obviamente, já se encontra em funcionamento. Assim sendo, apraz-me enviar-te as fotos, que me pediste, da presença do Dr. Soares Oliveira [, ex-alf mil med, BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70] no almoço da Tabanca de Matosinhos.

A primeira foto foi tirada à chegada ao restaurante. A partir da esquerda, estão: (i)  o José Teixeira, 1º cabo enfermeiro da CCAÇ 2381; (ii)  o ten cor capelão Augusto Pereira Batista, que no blogue já homenageei e que pertenceu ao meu batalhão; (iii) o João Rebola, fur mil da CCAÇ 2444, que estava em Bissorã quando nós lá chegámos, de quem me tornei amigo e que só reencontrei graças ao nosso blogue;  e (iv)  o Dr. Oliveira, que foi, tal como o capelão, convidado pelo Rebola a estar presente naquele almoço.

Na segunda foto, o Dr. Oliveira faz a sua apresentação à Tabanca. Ao seu lado tem o Eduardo Moutinho Santos, que foi alf mil da CCAÇ 2366.

A terceira foto não tem que enganar. Todos à mesa com o Dr. Oliveira ao lado do Moutinho, lá ao fundo, na cabeceira da mesa.

À margem, quero dizer-te que, por telefone, procurei convidar o Dr., não a fazer parte da Tabanca Grande,  mas a escrever um texto sobre a sua experiência, enquanto médico, na guerra colonial. Ainda lhe disse, "o dr. escreve à mão, envia-me pelo correio, eu passo à máquina, mando-lhe para fazer correcções...", mas qual quê, só não levei um grande arraso porque ele faz o favor de me estimar.

Em forma de alerta, por razões que depois explicarei, tenho já pronto um "breve conto de natal" que espero poder enviar amanhã ou sábado, o mais tardar com pedido de publicação. Só falta o preciosismo de identificar um fulano que está na foto que irá em anexo.

Um abraço do

Armando Pires


2. Comentário (ou melhor, inconfidências) de L.G.:

Às vezes a vida, vista  por dentro do blogue (leia-se: na casa das máquinas), parece mais um manicómio... Quem está do outro lado, de fora, na blogosfera,   pode não se aperceber dos aspetos cómicos, hilariantes,  dramáticos, patéticos e até trágicos do "making of" desta coisa que sai religiosamente (!) , todos os dias, há quase três mil dias (!), na Net, o 5º quinto mundo, depois da terra, do céu, do inferno e do purgatório...

Enfim, isso é outra "pequeníssima  história" dentro da "pequena história" que nós procuramos, com honestidade e humildade, contar aqui todos os dias, em complemento da "grande história"... Há alguns privilegiados que, se um dia tiverem tempo e pachorra e não perderem o sentido de humor que têm, poderão contar essas "outras pequenas histórias" dos bastidores da Tabanca Grande... Eu, o Carlos Vinhal, o Virgínio Briote, o Magalhães Ribeiro, o Torcato Mendonça, o Hélder Sousa, o Zé Martins, o Humberto Reis, o Jorge Cabral, o Joaquim Mexia Alves, o Zé Manel Dinis, o Miguel Pessoa, atuais e antigos editores e colaboradores permanentes...

Mas vamos ao que interessa, neste caso a troca de correspondência, nos últimos dias, com o Armamdo Pires, "furriel, enfermeiro, ribatejano, fadista, radialista, jornalista", meu vizinho (ele, a residir, em Miraflores, Oeiras, eu, em Alfragide, Amadora) e que há dias pus, por indícios (alarmantes) da doença do alemão, a morar em Santarém (!)... Já lhe pedi desculpa, coisa que ele cristãmente aceitou, meio resignado... É que já não é a primeira vez que eu o mando para... Santarém, capital do gótico e do gado bravo...

Em véspera de Natal, ele vai-me permitir quebrar algumas regras (como as do sigilo e confidencialidade das fontes)  que são caras aos jornalistas, como por ex. estas nossas conversas "off record"... Esta sequência é "surreal" e só vem demonstrar que o editor-mor do blogue anda mesmo "cacimbado" de todo,  ao fim de tantas "comissões na Guiné" (quatro, a caminho de cinco!)...Aí vai um filme da tal conversa fiada:

(i) Meu caro Luís. Parte da resposta que te queria dar já lá está, em comentário. Aqui queria escrever outra parte que seria indelicado da minha parte escrever "lá". O dr. Oliveira é um impenitente infoexcluído. Não tem computador e apetece dizer que tem raiva a quem o tem. No telemóvel nem gravar números ele faz quanto mais enviar uma mensagem. Isto que te digo, contado por ele,  vale mais do que dez partos no abrigo do Zé Manjaco. A história do manjaco ele contou-ma faz tempo. Quando decidi contá-la para nós, para lhe pedir autorização (coisa de velhos jornalistas, eu sei) tive de a imprimir, enviar-lhe por correio, com fotos e tudo, e esperar que me telefonasse. Para o entusiasmar a escrever, nem que fosse um único texto, eu tinha de estar ao pé dele, abrir o computador, mostrar-lhe o blogue e dizer, vá lá, doutor,  escreva só uma coisinha, escreva mesmo à mão que eu depois trato do resto Ora, ele está "lá em cima".

Só o vejo uma vez por ano, quase todos os anos, nas férias. Ele e a mulher vão para a mesma praia que eu, quase sempre na mesma altura que eu e para próximo da casa onde estou.

Sobre a foto do almoço, esqueci-me de te dizer. Estou sem computador. Constipou-se e deu baixa ao hospital. É lá que está a fotografia que o Rebola me enviou. Se quiseres esperar, tudo bem. Se achares que dava mais jeito ser já, é só dizeres que eu telefono ao Rebola e peço-lhe para a enviar logo para ti.
abraços.

(ii) Caro Armando: Está tudo dito, o Soares de Oliveira deve ter uma década à nossa frente e essa diferença é muito grande, em termos de literacia informática. Fico sempre entusiasmado quando vejo no blogue referência aos nossos médicos e enfermeiros. Consegui pôr alguns a escrever no blogue...Mas é óbvio, tenho que respeitar o ritmo, a idade e a história de vida de cada um... É uma geração "alérgica" ao PC [, Personal Computer]... A foto mandarás quando a tua "enxada" vier do "hospital"... Não tem pressa... Já agora, vim a subir as escadas, a caminho do meu gabiente, com um antigo aluno, jovem, brilhante, o dr. Ricardo Mexia, que acaba de ser colocado como autoridade de saúde na tua cidade, Santarém. Ele vive aqui em Lisboa, e trabalha aí. Toma boa nota. Um abraço. Luís

(iii) Tens toda a razão, Luís. O dr. Oliveira leva 75 anos de idade. Mas, para te ser franco, e fica, aqui entre nós, eu creio que aquilo ali também há um bocadinho de preguiça. Não intelectual, mas daquela que é usada pelos que "compram tudo feito". Ele costuma-me dizer: "ó pá, eu se quisesse meter lâmpadas nos candeeiros tinha ido para electricista". Ele é tão bom homem e tem tanta graça, que tudo lhe perdoo. Um dia hei-de contar-te a história de como ele pensava que as rodas dos automóveis se trocavam com uma chave inglesa. Contou-me ele (sim, ele conta-me) e ri-se às gargalhadas. Pronto, logo que tiver o PC, segue a foto.

Quanto ao dr. Mexia, grato pela indicação mas uma ligeira correcção. Ele "trabalha aí", não, ele trabalha lá. Embora perto, só raramente vou a Santarém. Os meus amigos, apesar da idade, continuam a ser mais da noite. Infelizmente, os meus pais já há muito faleceram. É a vida. Um grande abraço.

(iv) Ok, Armando, tinha a (falsa) ideia de continuares a morar em Santarém... Aquele abraço. Luis

(v) Eu bem sei que tens um mundo de gente para "aturar". Para "decorar". Mas lá vai, de novo.
Há 40 anos que moro no concelho de Oeiras. Sou quase teu vizinho, aqui em Miraflores, muito próximo daquele teu amigo que visitas, na Avenida "dos leões". Bom fim de semana.

(vi) Eh! pá, que grande porra!!!... Desculpa lá!!!... Sou distraído comó camandro!!!... Não é que venho mesmo da tal avenida dos leões, em Miraflores, onde fui visitar o tal meu amigo, arquiteto, que acaba de ser operado ao coração!... E eu a mandar-te prá lezíria!!!... De facto, meu caro Armando, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca é que é... Grande! Grande de mais para a minha camioneta!!!...

Ennfim, daqui vai um Alfa Bravo apertado para o teu doutor, deixa-o em paz, que ele tem esse direito, e convida mas é o teu amigo e camarada João Rebola, esse sim, para engrossar as nossas fileiras. E o nosso capelão, por que não ?!... Festas felizes,  quentes e boas, para ti e para todo o maralhal da Tabanca de Matosinhos. LG
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Nota do editor:

Último poste da série > 9 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10778: Os nossos médicos (44): Cumprir as normas, sempre (Valente Fernandes, ex-Alf Mil Médico do BCAV 8323)

Guiné 63/74 - P10800: Álbum fotográfico de Fernando Súcio (1): Elvas, Figueira da Foz e Bula





1. Primeira série de fotos do álbum do nosso camarada Fernando Súcio* (ex-Soldado Condutor do Pel Mort 4275, Bula, 1972/74), a partir da sua recruta em Elvas, até à sua comissão de serviço na Guiné.




Elvas, 10 de Abril de 1972 > Primeiro dia de tropa no CICA 3 

Elvas, 1972 > Instrução de condução 

Elvas, Abril de 1972 >  Recruta

Elvas, Abril de 1972 > Recruta 

Elvas, 1972 > Juramento de Bandeira 

Figueira da Foz, Julho de 1972 > Especialidade 

Figueira da Foz, Julho de 1972 > Especialidade > Fernando Figurino, Silva - o do bagaço - e Súcio - o do garrafão

 Bula > A malta do Fortim dos Fulas

Bula >  Fortim dos Fulas > O nosso lança granadas

 Bula > Armamento capturado ao PAIGC

Bula > Pista do Héli

Bula > Súcio e Vieira
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 19 DE NOVEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10695: Álbum fotográfico de Leonel Olhero (4): Bula (Fernando Súcio / Leonel Olhero)