sábado, 27 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11483: Bom ou mau tempo na bolanha (6): A ida da sua aldeia para Nova Iorque (Tony Borié)

Sexto episódio da série do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), Bom ou mau tempo na bolanha.
Assim começa Tó d'Agar uma nova vida nos Estados Unidos.








Depois de analisarem mais uma vez a situação, o Tó d’Agar, que é como se chama no princípio deste texto, junto com a Margarida, decidem que o melhor era ele ir sozinho na frente, para os Estados Unidos. Uma pessoa sozinha é mais fácil arranjar colocação e sobreviver, do que duas e um bebé.

Depois de comprarem um bilhete de avião para Nova Iorque, com algum dinheiro que tinham e um adiantamento do ordenado da Margarida, o Tó d’Agar embarca. No mesmo avião viajam diversas famílias de emigrantes. Ao lado do Tó d’Agar está sentado um emigrante que vive nos Estados Unidos há alguns anos, numa cidade ao sul de Nova Iorque, para lá do rio Hudson, em Nova Jersey. Como a viajem é longa e depois de algumas horas de conversa, esse emigrante explica ao Tó d’Agar:
- Próximo da cidade onde eu vivo, existem muitos emigrantes portugueses a trabalharem que vivem sozinhos, há muito trabalho, e você, novo e forte, que já fala algumas palavras em inglês, não vai estar parado um dia sequer.

Depois de todas as formalizações, no Centro de Imigração do Aeroporto de Nova Iorque, o Tó d’Agar sai do aeroporto com novos documentos de identificação, tinha uma oferta de emprego, só oferta, sem qualquer obrigação para ambas as partes, de uma editora de Nova Iorque que o Tó d’Agar não vai dizer o nome como devem compreender, pois nos anos sessenta do século passado mais de 30% da indústria da cidade de Nova Iorque e arredores eram tipografias e editoras onde havia alguma falta de pessoal qualificado.
Depois de ouvir o emigrante que viajou a seu lado, dizendo-lhe que na sua área trabalho não lhe iria faltar, além de outras razões, pois essa oferta de emprego na editora, era só oferta, sem qualquer compromisso em ambas as partes, portanto livre de ir para lá trabalhar, ou da editora o empregar, mencionava um ordenado que era de longe inferior ao que o referido emigrante lhe explicava que pagavam em outros empregos na sua área, e também pensando no dinheiro que trazia consigo, o seu pensamento focou-se na região onde o referido emigrante vivia. Iria ver como corriam as coisas e só depois entraria em contacto, se necessário fosse, com a editora em Nova Iorque, que não era assim tão longe.

O seu primeiro nome foi alterado, porque o antigo era difícil de pronunciar, passou a chamar-se, única e simplesmente, Tony, pois é este o nome que vem nos novos documentos de identificação, logo não é mais Tó d’Agar, nem Cifra, a partir de agora, chama-se Tony. Já fora do aeroporto, admirado de ver os carros muito grandes, olha o céu, fecha os olhos e medita por uns segundos, traz consigo um saco de lona, parecido com os que se usavam no exército de Portugal, mas um pouco mais pequeno, com alguma roupa, dezanove dólares que escondeu nas meias, mesmo dentro do sapato e o coração a transbordar de saudades da Margarida e do seu bebé.

Como antes tinha combinado com o referido emigrante, a família que o esperava, proporcionou-lhe transporte até essa cidade, ao sul de Nova Iorque, para lá do rio Hudson, em Nova Jersey, que o agora Tony agradecendo, aceitou. Deixaram-no na avenida principal com votos de felicidades, dizendo-lhe que havia algumas casas de negócio nessa avenida, onde sempre havia alguém que falava espanhol ou português. Assim o Tony veio parar a Nova Jersey, como podia ter ido parar a Nova Iorque ou a qualquer outro estado, mas quis o destino que fosse Nova Jersey.

Era inverno, havia neve no chão, fazia algum frio, era ao cair da tarde, o dia estava a acabar já sem muita luz, trazia ao ombro o tal saquito que tinha uma pequena corda, servindo de alça, começa a caminhar, parando aqui e ali, e foi tirando algumas informações, passou por baixo de uma ponte do caminho de ferro, uma zona com algum movimento. Um polícia afro-americano vendo-o parar por alguns momentos, faz-lhe sinal com a mão, para continuar seguindo, talvez com receio que o Tony quisesse dormir por ali. Caminhou por mais algum tempo e lembrando o seu companheiro de guerra, Curvas, alto e refilão, decidiu dormir nessa noite, numa espécie de jardim onde havia a luz de um candeeiro, que iluminava a zona, mesmo na margem do rio Passaic, onde também outras pessoas, alguns oriundos da América do Sul e outros afro-americanos, procuravam ajeitar a sua cama com cartões e outras objectos. Havia mesmo a disputa de lugar, onde o terreno era mais seco, o Tony ajeitou-se encostado a uma árvore com o saco a servir de cabeceira, mesmo junto de um casal afro-americano, que ao vê-lo aproximar-se se encostaram um pouco para o lado, fazendo-lhe um gesto para se deitar ali, junto deles. Depois do Tony se deitar, esse afro-americano coloca-lhe um grande plástico por cima e encostam-se a ele, dando a entender, que juntos se aqueciam mutuamente.

Pela manhã do dia seguinte, mesmo ao clarear do dia, o casal de estende-lhe uma espécie de bolo, colorido por cima, que mais tarde veio a saber se chamava “Donats”, que o Tony aceitou e comeu- Regressa à avenida principal e encontra diversos grupos de pessoas, na esquina das ruas, alguns com uma bolsa de farnel, e que falavam português entre eles, pois esperavam transporte para os seus trabalhos. O Tony logo se lhes dirige, contando-lhe a sua história, um deles, que parecia ser o chefe, logo lhe diz:
- Oh homem, trabalho não te vai faltar, se quiseres vai a esta direcção, que é ali ao dobrar da esquina, que é onde nós vivemos, falas com este senhor e ele logo te arranja lá alojamento. Olha, toma lá um banho bem quente, e come alguma coisa, do que nós lá temos no frigorífico, pois tens um aspecto de uma alma do outro mundo.

Assim foi, ficou instalado na cave de uma casa de emigrantes, com mais doze pessoas, todos homens. Havia uma cozinha comunitária e dois frigoríficos, as camas estavam de um lado da cave, encostadas a uma parede. Havia um quarto de banho com um chuveiro, todo este luxo custava seis dólares à semana, com a vantagem de começar a pagar quando arranjasse trabalho. Eram todos pessoal de trabalho, uns trabalhavam na construção de estradas, outros em obras de casas, outros na abertura de valas e colocação de manilhas de esgotos, alguns em fábricas, um era padeiro e outro empregado num restaurante. Portanto, potenciais contactos para arranjar trabalho.

Ao outro dia pela manhã, que era um sábado, o Tony, que é como a partir de agora passa a ser conhecido, saí da cave e dá uma volta pela área. Fica um pouco triste com o cenário que vê, as casas são todas iguais e encostadas umas às outras, há neve no chão, em certos lugares, da altura de um homem. Começa a nevar, passado uns minutos o chão está todo branco, escorrega e cai, levanta-se e sacode-se, passam algumas pessoas na rua, não saúdam, vão atarefadas, algumas até se desviam dele, os carros grandes e alguns cobertos de neve de alguns dias. Já todo molhado e cheio de frio da neve, regressa de novo à cave, falando sozinho:
- Isto, não pode ser a América.

Os novos companheiros, na cave, Veem-no chegar com uma cara um pouco triste, cheio de frio e com um ar de pessoa desanimada. Um deles, o que trabalhava no restaurante, logo lhe disse:
- Não fiques assim homem de Deus, aqui é onde está o trabalho e o dinheiro.

Outro, o que trabalhava numa fábrica de serração de madeiras, com ar sorridente, disse-lhe:
- Daqui a uns anos, já não queres saber mais do céu azul e do sol brilhante.

E ainda outro, que andava na colocação de manilhas de esgotos, falou muito alto:
- Todas as pessoas que chegam de Portugal, nesta altura do ano, ficam desmoralizadas, deixa vir a primavera e o verão e vês como a América é linda, e te vai dar um milhão de oportunidades. Tens é que ter saúde.

O Tony ouviu todas essas palavras de encorajamento, já tinha estado na África, em situações de desespero e sobreviveu.

Portanto isto, comparado com o cenário de guerra que viveu na Guiné, naquele aquartelamento de terra vermelha e arame farpado em Mansoa, era um paraíso. Pelo menos aqui, e segundo a opinião destes companheiros, não haveria ataques de tiros e granadas e não lhe iria faltar oportunidades de trabalho.
Um dos problemas que mais o preocupava, e era um pouco diferente, eram as saudades do bebé e da Margarida, mas iria superar tudo isso, ele lá no fundo, sabia que sim.

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Nota do editor:

Úlimo poste da série 23 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11450: Bom ou mau tempo na bolanha (5): A Fé também ajuda (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P11482: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (30): Respostas (nº 56 e 57) de José Manuel M. Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71) e de António Eduardo Ferreira (ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493, Mansambo e Fá Mandinga, 1972/74)

Resposta, ao nosso inquérito por questionário aos leitores do blogue (*),  do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71):


(1) Quando é que descobriste o blogue? 
R - Ainda trabalhava quando um amigo me alertou para a existência do Blogue. Abri umas poucas de vezes, mas não tive logo o entusiasmo para me tornar assíduo. Ao contrário da maioria, eu achei que tinha demasiadas fotografias, e que era um bocado épico.

(2) Como ou através de quem?  
R - Vide a resposta anterior.

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (tertúlia)? 
R - Desde 2008. [Vd. poste 3147, de 24 de agosto de 2008]

(4) Com que regularidade visitas o blogue?  
R - Via-o diariamente, e só desde data recente vou alternando os dias de olhadelas. Acho que para isso, também tem contribuído as longas ausências de colaboradores de muita qualidade. Não faço ideia se estão desinteressados, se com outras ocupações, mas que fazem muita falta, acho que sim.

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.?
R - Sim, já enviei algum material, e ainda não arrumei as botas. [O JMMD tem cerca de 130 referências no blogue]

(6) Conheces também a nossa página do Facebook (Tabanca Grande Luís Graça)? 
R - Não frequento o FB.

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue? 
R -Ao Blogue, n'é?

(8) O que gostas mais no Blogue? E no Facebook? 
R - Do que gosto mais? Gosto de todas as informações que contribuam para o meu conhecimento; gosto do humor delicioso de alguns camaradas; gosto das manifestações de genuinidade; gosto do sentimento de camaradagem que o mais das vezes se respira no Blogue.

(9) O que gostas menos no Blogue? e no Facebook? 
R - Esta, eu salto.

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue? 
R - Não, acedo sempre, ou quase sempre, pois houve já uma ocasião de dificuldade geral.

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti? E a nossa página no Facebook? 
R - O que é que o Blogue representa? Através dele (Blogue) estabeleci contactos de norte a sul, encontrei pessoas muito interessantes, ponderadas umas, com mais nervo outras, mas sempre generosas e legitimadas pela camaradagem. Também houve o contrário, até oportunismo e aberrações, mas contam-se pelos dedos. Portanto, o Blogue representa um convívio, onde se entra e sai a bel-prazer, e através dele tive o privilégio de conhecer, corresponder-me, e conviver com amigos, que até parecem ser de longa data. Acho isto uma felicidade, que prezo muito.

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais? 
R - Sim, já participei em três encontros, e foi sempre muito surpreendente o contacto com malta distante. Afinal, a distância pode não se expressar em quilómetros.

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de Junho, em Monte Real?
R - Não, este ano não penso lá ir. Em primeiro lugar, o encontro da minha companhia foi marcado para o dia 1 de Junho, perto das pedras parideiras. Em segundo lugar, porque o dinheiro escasseia, há outras despesas pendentes, e a minha deslocação ficaria carote. Tendo em conta os tempos dificeis, com rendimentos reduzidos e cilindrados por impostos, proponho que o Joaquim, para o ano, promova um pic-nick na mata do empreendimento, e cada um leva o farnel.

(14) E por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra… para continuar? 
R - Tem fôlego, claro! Haja vontade de cada um para contar uma estória (que todos temos estórias para contar), notícias reveladoras de situações relacionadas com a Guiné e a guerra, ou, até notícias, comentários, transcrição de contos, de receitas culinárias, de condições turísticas, e a malta que ficou com o bichinho africano, vem cá ler. Mas o blogue pode ainda promover outras iniciativas, como debates, entrevistas, etc.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer?
R - Não esperei, e respondi no ítem anterior.

Abraços fraternos
JD

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2. Respostas do nosso camarada António Eduardo Ferreira (ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493/BART 3873, MansamboFá Mandinga e Bissau, 1972/74) ao questionário enviado à tertúlia:

(1) - A terceira vez que mexi no computador, e o formador nos disse agora vamos aprender a pesquisar, escrevi guerra da Guiné Mansambo e apareceu no ecrã as instalações de Mansambo local onde eu tinha estado, foi um tónico para aprender ainda com mais entusiasmo a mexer no computador.

(2) - Como o acima descrito.

(3) - Sou membro da Tabanca Grande desde Março de 2012.

(4) - Normalmente, visita o blogue todos os dias.

(5) - Tenho mandado algum material espero vir a mandar mais, se algumas limitações derivadas de problemas de falta de saúde não o impedirem.

(6/7) - Conheço a página no Facebook mas não sou seguidor.

(8) - Postes escritos de forma simples mas esclarecedor dos factos relatados.

(9) - O que gosto menos no blogue é a forma como alguns comentadores abordam os postes que comentam.

(10) - Não tenho tido qualquer dificuldade em aceder ao blogue.

(11) - O blogue representa para mim uma viagem ao passado, onde apesar de me fazer recordar muitas coisas más, me faz também sentir mais novo e me proporciona momentos de reflexão, que me ajudam a enfrentar algumas dificuldades nos tempos que correm.

(12) - Nunca participei nos encontros.

(13) - Estou a pensar participar este ano, mas estou condicionado por problemas de saúde, veremos daqui até lá.

(14) - A maioria dos tabanqueiros tem força anímica para que o blogue possa continuar por muito tempo, mas a idade não perdoa, seria bom que mais militares que passaram pela Guiné se juntassem a nós, todos não seremos demais.

(15) - Criticas, faço-as diretamente no blogue, sempre que entendo serem pertinentes, segundo a minha maneira de ver as coisas.

Um abraço aos restantes editores e os meus agradecimentos pelo vosso trabalho ao longo da vida do blogue.
António Ferreira
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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11479: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (29): Respostas (54): Manuel Joaquim, ex-Fur Mil Armas Pesadas da CCAÇ 1419 (Mansabá e Bissorã, 1965/67)

Guiné 63/74 - P11481: Álbum fotográfico de Carlos Fraga (ex-alf mil, 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1973) (4): Mansoa, vila e quartel


Foto nº 25 > Mansoa > Daimler destruída na estrada Jugudul-Porto Gole numa emboscada à 2.ª Companhia. Segundo me disseram foi atingida por um RPG que engatou na viseira (tenho um slide - foto nº 43 - com esse pormenor onde se vê o local do impacto mas nessa também se vê na do lado direito) e as munições terão explodido e rebentado com a Daimler de dentro para fora. Vê-se que está queimada e as chapas separadas decorrente da explosão.



Foto nº 43 > Mansoa > Daimler destruída na estrada Jugudul-Porto Gole numa emboscada à 2.ª Companhia. Visível o orifício feito na viseira pela granada de RPG.



Foto nº 51 > Mansoa > A ambulância do quartel.



Foto 9 nº 79 > Mansoa > Bar de oficiais de Mansoa. Da esquerda para a direita, os alf mil Rocha (2ª Comp), Guerra (Pel Rec Daimler), Martins (transmissões), e creio que Torres, da 2ª Comp. Há uma história engraçada com esse bar. O cabo Flores (barman) decidiu enfeitar o bar. Resolveu pendurar umas lâmpadas: 3 lâmpadas uma vermelha, outra verde e outra amarela, ou seja, as cores principais da bandeira portuguesa. Eu sugeri-lhe que pendurasse essas 3 e mais uma negra, 4 ao todo com o que ele concordou. Acontece que o verde, vermelho, amarelo e preto são as cores da bandeira do PAIGC. De forma que eu divertia-me imenso comigo mesmo a ver as cores do PAIGC no bar de oficiais de Mansoa. Não contei aos meus colegas oficiais a «malandrice» subtil mas divertia-me comigo mesmo.

[ Observação do nosso camarada António Graça de Abreu, alf mil,  CAOP1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74: "Na foto dos alferes no bar, o que está fardado é o alf Tomé, das Transmissões do nosso CAOP 1, e meu companheiro de quarto, em Teixeira Pinto e em Mansoa".]



Foto nº 80 > Mansoa > Soldados da 2ª companhia a passar no tempo, na jogatana. [Identificação feita pelo Jorge Canhão, presume-se].


Foto nº 50 > Mansoa > Torre da igreja de Mansoa. Segundo me contaram num ataque a Mansoa a torre foi atingida por um disparo de canhão e o que se vê é a marca que ficou mesmo após a reparação.

Fotos (e legendas): © Carlos Alberto Fraga (2013). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico
do Carlos Fraga,  recentemente admitido como
membro da nossa Tabanca Grande (nº 611).

Ele esteve em Mansoa, nos últimos meses de 1973, como alf mil, indo depois comandar uma companhia em Moçambique, já depois de 25 de abril de 1974.

Estas fotos, com a devida legendagem fornecida pelo Carlos Fraga, constam de um CD que chegou ao nosso conhecimento através de dois camaradas da mesma companhia, a 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72, o Agostinho Gaspar e o Jorge Canhão. Mantivemos a numeração original das imagens (a do autor, e não do Jorge Canhão).

Recorde-se o que o Jorge Canhão escreveu sobre o Carlos Fraga: "Sobre o ex-alferes miliciano Carlos Alberto Fraga aqui vão os dados que pediste, pois mesmo agora estive em contacto telefónico com ele, que vive em Faro. Ele fez parte da 3ª Companhia do BCAÇ 4612/72 (cerca de 4 meses, até fim de 73 aproximadamente), como adjunto do comandante da companhia, pois estava a tirar um estágio para capitães. Foi depois graduado em tenente, e foi como capitão comandar uma companhia em Moçambique, acabando o tempo de tropa nos Açores. Por esse motivo, não tinha pelotão atribuído na companhia, podendo ir em qualquer um deles."
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Guiné 63/74 - P11480: Parabéns a você (568): Hugo Guerra, Coronel DFA reformado, ex-Alf Mil CMDT do Pel Caç Nat 55 (Guiné, 1968/70) e Humberto Nunes, ex-Alf Mil Art CMDT do 23.º Pel Art (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor:

Último poste da série de 24 de Abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11455: Parabéns a você (567): David Guimarães, ex-Fur Mil da CART 2917 (Guiné, 1970/72)

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11479: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (29): Respostas (55): Manuel Joaquim, ex-Fur Mil Armas Pesadas da CCAÇ 1419 (Mansabá e Bissorã, 1965/67)

1. O nosso camarada Manuel Joaquim (ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, BissauBissorã e Mansabá, 1965/67), enviou-nos as suas respostas ao questionãrio, mas condimentadas com o seu toque pessoal.


9º ANIVERSÁRIO DE “Luís Graça & Camaradas da Guiné”

Salvè, querido blogue! Aqui vão as minhas respostas às perguntas do teu editor:

1. - Descobri-te pouco depois de, algo titubeante, ter começado a “navegar” na Net, aí por meados de 2009.

2. - Descobri-te quando, sozinho, consegui “saltar o muro” de acesso à "quinta" da Web e comecei a correr para todos os lados na exploração do “terreno”. Um dos caminhos que segui era o da guerra colonial portuguesa em que participei e, assim, a certa altura, “bati de chapa” em ti. Comecei logo a “bisbilhotar” as tuas coisas e a gostar muito do que tinhas em casa.

3. – Apresentei-me perante ti em 3 de agosto de 2009 mas nessa altura ainda me sentia inepto para arranjar a necessária jóia de ingresso e para ta entregar. Só consegui fazê-lo em 27 de novembro desse ano, com o texto “Balanta Furtador”.

4. – Quando estou no meu domicílio, quase diariamente te visito. Mas quando saio, desculpa lá, “deixo-te” em casa e não te consulto.

5. – Sabes muito bem que, regularmente, tenho andado a fornecer-te textos, fotos e um ou outro comentário pontual aos textos de outros teus frequentadores. Fica a saber que tenho intenção de continuar no mesmo caminho.

6. – Conheço, quase desde o seu nascimento, o teu “familiar” “Tabanca Grande Luís Graça”, morador no Facebook.

7. – Podes ficar contente por te preferir a ele e te frequentar assiduamente. Ao teu familiar que referi acima só esporadicamente o visito. Gosto dele mas gosto muito mais de ti, acredita.

8./9. – Vou opinar sobre ti e o teu familiar do “Facebook”. Estás com sorte porque sobre o “Tabanca Grande Luís Graça” não me permito ter opinião quanto ao gostar mais ou gostar menos do seu conteúdo, dada a pouca atenção que lhe tenho vindo a prestar.

Quanto a ti, meu querido blogue, gosto de tudo o que és e de tudo o que possuis, dê-me ou não prazer o que vais albergando. És tu, no teu todo, quem verdadeiramente me tem interessado, com todas as tuas qualidades e defeitos. Dás-me prazer, ou mesmo muito prazer, com a maior parte do que publicas mas também, de vez em quando, me deixas indiferente ou até me provocas irritação quando não consigo ficar indiferente perante o que acolhes, o que me causa borbulhas irritantes no espírito.

Eu gosto de ti assim, insosso, salgado, doce, amargo, triste, jocoso, pacífico, agressivo, diletante, combatente, respeitador, desrespeitador (algumas vezes, poucas)! A tua coluna vertebral, que vejo bem vertical, assenta neste teu aceitar da diversidade. Nesta diversidade de relatos que albergas afloram memórias e opiniões que me permitem manter, desfazer, renegar, recriar e mesmo criar os componentes do universo das minhas próprias memórias e opiniões sobre a guerra colonial.

É verdade que tenho muitos gostos e alguns desgostos contigo, que partilho alguns dos teus textos com emoção até às lágrimas e que vitupero outros, por vezes com tal veemência interior que fica expressa exteriormente com um sonoro “vai p’ró c.!” Como, perante alguns dos meus textos e opiniões, haverá quem diga e faça o mesmo a meu respeito, estamos quites! E tu, assim, é que ficas bonito para mim. Não te quero ver com uma só cor, seja ou não a minha cor preferida.

Ah, querido blogue, uma coisa de que não gosto mesmo é a falta de respeito pela expressão das ideias de cada um, a intolerância radicalizada, o “diktat” da verdade única que, de vez em quando, vem ao de cima num ou noutro dos “post” que acolhes.

Mas que fazer? - podes perguntar. Olha, deixa estar, são coisas normais na tua vida, a vida de um blogue colectivo aberto à livre participação, que permite a livre expressão a centenas de membros (e não só) que cobrem sociológica e ideologicamente todo o tipo de cidadãos deste país, quase todos antigos combatentes.

10. – Não tenho sentido qualquer dificuldade em ir ter contigo.

11. – Tu foste, e és, um ponto de encontro, para mim quase diário, onde vou à procura de conversa, de diálogo, de camaradagem e de amizade; uma romagem que faço, mesmo que virtual, para manter vivo um período da minha vida, numa altura em que sinto necessidade de reavivar todos aqueles tempos para deles recuperar a memória das situações, dos lugares e dos bons momentos (também os houve), memória que até há poucos anos atrás me tinha ficado soterrada pela avalanche de sacrifícios e de dores, físicas e morais, que a guerra originou.
Ao contrário de ti, a “Tabanca Grande Luís Graça” tem sido para mim, até agora, como que um estimado vizinho que cumprimento ao passar à sua porta, pergunto-lhe “como vai?” e logo a seguir retomo o caminho para o tal ponto de encontro que és tu.

12. – Participei nos teus dois últimos encontros nacionais, em Monte Real.

13. – Já estou inscrito para o encontro deste ano, no próximo dia 8 de junho.

14. – Penso que tu, actualmente, não só tens fôlego como estás cheio dele! Quanto ao teu futuro, “a Deus pertence”. Sabes, não sou adivinho.

Sinto que no futuro próximo te comportarás como um robusto barco bem comandado, serás capaz de aguentar as adversidades que as ondas da vida te possam trazer, tanto mais que tens uma boa cadeia de comando e uma tripulação numerosa e ainda vigorosa, pronta para os balanços do “mar” (a maior parte dela).

Num futuro mais alargado é de supor aparecerem grandes dificuldades se quiseres manter o rumo actual, já que se fará sentir a falta de “marinheiros” que “a lei da vida” irá inexoravelmente provocar. Isto não quer dizer que vás ao fundo por falta de pessoal. Há sempre a hipótese de compensar a referida perda com outro tipo de tripulantes que permitam o alargar das tuas actividades para outras áreas complementares às que actualmente exerces.

E pronto, querido blogue. Despeço-me com um
Viva o blogue “Luis Graça & Camaradas da Guiné”!

17/abril/2013
Manuel Joaquim

P. S. - Já agora, querido blogue, gostava que nesta tua festa de aniversário albergasses este vídeo com uma canção alemã do final do séc. XIX, “Alte Kameraden” (Velhos Camaradas).
Há uns dias, um dos teus membros, o Ernesto Duarte, deu-me a conhecer esta interpretação sem a “letra” respetiva. É uma canção de combatentes, velhos camaradas, que termina com promessas de fidelidade na amizade e no apoio solidário até à morte, enquanto se esvaziam alegremente uns bons copos de vinho. ( Ob in Freunde, ob in Not/ Bleiben wir getreu bis in den Tod./ Trinket aus und schenket ein/ Und lasst uns alte Kameraden sein).

Muito conotada com os exércitos alemães até ao fim da 2ª Guerra Mundial, esta marcha militar está hoje, na parte orquestral, adotada em todo o mundo pelas pequenas e grandes bandas militares que a tocam frequentemente, seja qual for o tipo de regime político dos seus países.

Esta é uma festiva versão de André Rieu e Orquestra Johann Strauss

Muitos parabéns pelo teu 9º aniversário, meu caro blogue!
Manuel Joaquim
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Nota do editor:

Último poste da série de 26 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11473: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (28): Respostas (53): Pepito / Carlos Schwarz, eng agr, cofundador e líder da AD - Acção para o Desenvolvimento: "Fazer a Guerra é fácil. (...) Construir a Paz e promover a Amizade é obra de espíritos superiores"

Guiné 63/74 - P11478: (Ex)citações (219): Patrício Ribeiro, "pai dos tugas em Bissau", parte mantenhas com o Mamadu Baio, de Tabatô, a sua mulher, alentejana, Sílvia Mendes Baio, o cineasta João Viana (, realizador do filme "A batalha de Tabatô"), e a antropóloga Joana Vasconcelos


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Tabatô > 16 de dezembro de 2009 > 8h30 > O grande poilão da aldeia...


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Tabatô > 16 de dezembro de 2009 > 9h30 > O chefe da aldeia, Mutar Djebaté [ou Djabaté ?], pai do músico Kimi Djabaté, e ele próprio um grande balofonista... É um dos atores principais do filme do João Viana, "A batalha de Tabatô", juntamente com Fatu Djebaté e Mamadu Baio.


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Tabatô > 15 de dezembro de 2009 > 22h07> Há magia no ar (1)...


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Tabatô > 15 de dezembro de 2009 > 22h17 > Há magia no ar (2)...


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Tabatô > 15 de dezembro de 2009 > 22h16 > Quem disse que Tabatô era terra de "didjius", grandes músicos e contadores de histórias ? E elas, o que são ? Grandes artistas, grandes intérpretes da alma afromandinga...


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Tabatô > 15 de dezembro de 2009 > 9h07 > "De pequenino é que se torce o pepino"... Neste caso, o balafon...

Fotos: © João Graça (2009). Todos os direitos reservados [ Edição e legendagem: LG]


1. Mensagem do nosso grã-tabanqueiro, Patrício Ribeiro, mais conhecido
 em Bissau como o "pai dos tugas"(leia-se: padrinho...)  [, foto à direita quando marinheiro..]


Data: 26 de Abril de 2013 à27 13:40

Assunto:O Mamadu de Tabatô

Aos nossos amigos.

Desde as tabancas de Sansambato, Ganjogude e outras tabancas da mesma zona, terras de Mandingas por onde tenho andado nos últimos meses a massacrar as minhas costa em caminhos quase inexistentes.

Vai um grande abraço para o meu amigo Mamadú e sua mulher Silvia.

Aconselho ouvir as suas músicas, aprendidas na sua tabanca de Mandiga de Tabatô,  tabanca de músicos, perto de Bafatá.

Foi nesta tabanca onde o João [Viana] com sua mulher Joana [Vasconcelos] e restante equipadormiram umas semanas, a colher imagens para o filme, foram comidos pelos mosquitos, e apanharam alguns paludismos pelo meio... É a vida destes paragens ... mas há quem goste... (**)

Um abraço a todos


Patricio Ribeiro

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Notas do editor:

(*) Na sequência de comentário ao poste de 26 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11475: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (67): Hoje há festa no "sempre em festa" (Ritz Clube, R da Glória, 57, Lisboa), a partir das 23h, com Mamadu Baio / Super Camarinda, de Tabatô... Cinco morteiradas... Eu vou lá estar...e pago um copo ao "nosso alfero Cabral" (Luís Graça)

(...) Mensagem enviada, internamente, ao pessoal da Tabanca Grande:

"É malta de Lisboa & arredores, grã-tabanqueiros: quem é que vai logo à noite beber um copo e ver e ouvir os Super Camarimba ao "sempre em festa" ? São cinco mocas.

"A Tabanca Grande vai estar lá a apoiar o Amandu Baio e a "sua/nossa" Guiné"... Por outro lado: (i) é preciso o pessoal da Tabanca Grande fazer a "prova de vida", aparecendo em público, em sítios decentes como o Ritz Clube; (ii) depois, é bom não esquecer que tristezas não pagam... "troikices".
Luis Graça, tabanqueiro nº 1".


(**) Último poste da série > 12 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11377: (Ex)citações (218): Sexo em tempo de guerra... e brancos mpelelé no pós-independência (Cherno Baldé / José Teixeira / António Rosinha)

Guiné 63/74 - P11477: Uma visão alargada do ataque a Gadamael - Dos antecedentes às consequências (1): Ofensiva do PAIGC na ZA de Gadamael até 22MAI73 (Manuel Vaz)

1. Começamos hoje a publicar mais um trabalho de pesquisa, que sabemos vai merecer a melhor atenção da tertúlia, principalmente de quem passou por Gadamael em 1973, elaborado pelo nosso camarada Manuel Vaz (ex-Alf Mil da CCAÇ 798, Gadamael Porto, 1965/67). 

Diz o nosso camarada na sua mensagem de apresentação:
Este trabalho que vai ser publicado em 6 Postes, correspondentes a outros tantos subtítulos, foi concebido como "peça única". Posteriormente foi seccionado e ilustrado, sem perder as caraterísticas iniciais.
Para facilitar uma visão global do que se passou em Gadamael, era bom que se fizesse uma leitura sequencial dos subtítulos.
Um abraço.
Manuel Vaz  

Não podemos deixar de lembrar o seu anterior trabalho aqui publicado, integrado na série Memórias da CCAÇ 798



UMA VISÃO ALARGADA DO ATAQUE A GADAMAEL

DOS ANTECEDENTES ÀS CONSEQUÊNCIAS

1- OFENSIVA DO PAIGC NA ZA DE GADAMAEL ATÉ 23MAI73

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Guiné 63/74 - P11476: Notas de leitura (475): Guiné-Bissau - De Colónia a Independente, por José Gregório Gouveia, e O Trabalho de uma Vida - Avelino Teixeira da Mota, por Carlos Manuel Valentim (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Dezembro de 2012:

Queridos amigos,
Mais uma prova de que anda por aí muita documentação dispersa sobre a Guiné que merece a nossa atenção. Desta feita, temos o testemunho de José Gregório Gouveia que foi furriel enfermeiro da CART 1525 e que resolveu dedicar ao povo da Guiné um punhado de considerações sobre a história da presença portuguesa até aos eventos mais recentes, intercalando apontamentos sobre as atividades da CART 1525 que deixou saudades à população de Bissorã.
Ficarei muito grato a quem me facilitar a leitura de documentos como este, que encontrei na Biblioteca da Liga dos Combatentes, todos estes esforços tão meritórios devem merecer-nos respeito.
E junto a referência do importante inventário biobibliográfico de Avelino Teixeira da Mota.

Um abraço do
Mário


Província da Guiné e Guiné-Bissau:
Um longo olhar de um antigo combatente

Beja Santos

José Gregório Gouveia prestou serviço militar na Guiné integrado na CART 1525, nos anos de 1966 e 1967, onde foi furriel enfermeiro. É hoje advogado na Madeira. Procedeu a um estudo sobre a Guiné, desde colónia a país independente. O seu trabalho de pesquisa compreende três partes: enquadramento histórico da presença portuguesa; síntese das atividades da CART 1525 e resumo da vida da República da Guiné-Bissau.

Trata-se de uma edição não comercial que encontrei na Biblioteca da Liga dos Combatentes com a cota 13513. É indiscutivelmente uma iniciativa generosa, um olhar de quem combateu durante 21 meses, sobretudo na região de Bissorã e que entende legar apontamentos a camaradas interessados, é um labor cuidado, despretensioso, pautado pela afabilidade e o amor à Guiné e às sua gentes.

A primeira parte compreende um escorço histórico dos descobrimentos, abarca o território, a população, as atividades económicas, a presença portuguesa com realce a partir do século XIX, a emergência dos movimentos de emancipação e de independência, intercalando a luta armada vista do lado português e do lado e dos guerrilheiros. Como nota de curiosidade, registo que José Gregório Gouveia recorda o significado de dois artigos publicados no jornal “Ponto”, nas suas edições de 4 e 18 de Dezembro de 1980, assinado por Fernando Baginha, que em 1972 e 1973 foi professor e diretor da Escola-Piloto do PAIGC, em Conacri; e foi também o autor e responsável por programas de propaganda dirigidos aos militares portugueses, através das emissões da Rádio Libertação do PAIGC. O tema destes dois artigos prende-se ao assassinato de Amílcar Cabral. Vejamos qual a visão de Baginha quanto ao assassinato do líder do PAIGC:
“A esquerda portuguesa adotou, para seu descanso, até ao 25 de Abril e depois, o esquema geral de “É mau? Foi a PIDE”. Isto permitia explicar tudo o que não se sabia explicar. Assim, e neste caso, Amílcar tinha sido morto e só havia uma explicação: foi a PIDE. Este foi, aliás, o sentido do primeiro programa da Rádio Libertação do PAIGC, por mim escrito e lido depois do assassinato. E eu, quando escrevi e li já não acreditava nisso. Sabia tão bem como todos os que estávamos nessa situação, que a PIDE não tinha, diretamente, nada a ver com o assassinato. Penso, com isto, não estar a promover a PIDE, para pelo contrário, estar a retirar-lhe méritos que a esquerda lhe atribuía, acusando-a permanentemente de poderes conspirativos que na realidade não possuía”.

Creio ser útil regressar mais tarde à detalhada argumentação de Baginha, reveladora dos complexos conflitos que existiam no seio do PAIGC e que foram comodamente silenciados aquando da morte de Cabral.

O autor condensa as atividades da luta de contraguerrilha e depois traça um apanhado da vida da CART 1525 que partiu para a Guiné em 12 de Janeiro de 1966, tinham como nome de guerra “Os Falcões”, em Fevereiro, foram colocados em Mansoa e a seguir marcharam para Bissorã, que assim descreve: “Uma casa, coberta de telha, para os oficiais com messe própria; duas casas, cobertas de zinco, para os furriéis e sargentos. Com um frigorifico que funcionava a petróleo – a central termoelétrica não funcionava 24 horas por dia, apenas à noite e pouco mais. O local das refeições funcionava na casa da D. Maria (um casal cabo-verdiano que se distinguia por saber assar leitão). Dois armazéns, tipo colonial, cobertos de telha, serviam de caserna aos soldados. Para servir o rancho geral foi necessário a Companhia construir instalações com toros de madeira e cobertas de capim”. Descreve o centro de saúde, o parque de viaturas e conta a história do jipe do ronco, um jipe aparentemente a abater à carga mas que estava destinado à glória: “Veio um chassis usado, foi trabalhado um tabliê em madeira onde foram colocados todos os instrumentos de bordo, volante à maneira de competição, jantes pintadas, bandas brancas nos pneus, faróis de marcha-atrás, tapetes interiores de palhinha de capim”. O jipe do ronco foi perseguido pela Polícia Militar em Bissau, era tão insólito que toda a gente parava para ouvir. Segue-se uma apresentação da região de Mansoa e a enunciação das principais atividades operacionais da companhia. Depois de um ano em Bissorã, erigiu-se um monumento simbólico, ao que parece ainda está de pé, conseguiu resistir à deterioração do tempo. A CART 1525 distinguiu-se por um admirável conjunto de relações sociais entretecidas com a população local: escolas, criação de um talho, melhoramento dos espaços desportivos, etc.

Com o 25 de Abril, e após a independência da Guiné-Bissau, o autor desfia os dados mais significativos da cooperação portuguesa. Refere o fuzilamento de militares e milícias guineenses que tinham combatido à sombra da bananeira portuguesa, e sumaria os principais acontecimentos da vida político-constitucional da Guiné-Bissau, atos eleitorais, golpes de Estado, assassinato de políticos e militares. No final, relembra o leitor que pretendeu apenas chegar ao povo guineense a quem este trabalho é sinceramente dedicado.

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O trabalho de uma vida: Dados biográficos elementares e resumo da obra monumental do almirante Teixeira da Mota

“O trabalho de uma vida: Biobibliografia de Avelino Teixeira da Mota”, por Carlos Manuel Valentim, Edições Culturais da Marinha, 2007 é um documento que permite conhecer melhor o perfil de um historiador que dedicou alguns dos seus melhores trabalhos à Guiné.

Trata-se de uma biografia elementar, sólida e rigorosamente coligida por um estudioso que preparara o seu doutoramento à volta da historiografia de Teixeira da Mota cuja obra incontornável gira à volta de dois eixos fundamentais: estudos sobre a história de África e a cartografia dos descobrimentos.

Carlos Valentim evidencia o papel de Teixeira da Mota na revolução da historiografia portuguesa e como ele revolucionou a visão global da história das navegações portuguesas. Recorde-se que Teixeira da Mota chegou à Guiné como colaborador direto do governador Sarmento Rodrigues e de seguida viveu 12 anos na Costa Ocidental de África. Atirou-se a fundo ao estudo da descoberta da Guiné, o que deu aso a uma importante polémica com Vitorino Magalhães Godinho. A sua investigação sobre a arte de navegar no Mediterrâneo foi um contributo decisivo para clarificar a navegação gastronómica em Portugal, até então pensava-se que a navegação gastronómica começara no Atlântico. Outro trabalho fundamental foi o seu estudo sobre a viagem de Bartolomeu Dias e as ideias geopolíticas de D. João II. Por fim, contribuiu para clarificar que a Escola de Sagres não passava de uma lenda, devia ser revertida para símbolo dos descobrimentos henriquinos, conceito que veio agitar a historiografia conservadora.
Encontra-se neste meritoso trabalho o levantamento do que mais importante foi assinado por Teixeira da Mota, investigador revolucionário e pai da historiografia do que é hoje a Guiné-Bissau.
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Nota do editor:

Último poste da série de 22 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11444: Notas de leitura (474): Um Império de Papel, por Leonor Pires Martins (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P11475: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (67): Hoje há festa no "sempre em festa" (Ritz Clube, R da Glória, 57, Lisboa), a partir das 23h, com Mamadu Baio / Super Camarinda, de Tabatô...



IndieLisboa'13 > Culturgest > 24 de abril de 2013 > Estreia (nacional) do filme "A batalha de Tabatô", do realizador português João Viana, produção Guiné-Bissau / Portugal, 2013. Mamadu Baio, múisico de Tabatô, e um dos três atores principais, fala da sua alegria por este filme sobre a sua terra e a sua gente e convida-nos para o "after-partty" no Ritz Clube, hoje, sexta-feira à noite.



IndieLisboa'13 > Culturgest > 24 de abril de 2013 > O Jorge Cabral, o Mamadu Baio e a Alice Carneiro, antes do início da projeção do filme.

Vídeo ('36'')  e foto: Luís Graça (2013).

1. Estreou-se. noa 4ª feira, 24, na Culturgest, no ambito do IndiLisboa'13, o filme "A batalha de Tabatô", realizado por João Viana, numa coprodução lusoguineense, e que tem no Mamadu Baio, líder do grupo musical Super Camarimba, um dos 3 atores principais,,,

O filme foi todo rodado na Guiné-Bissau, em Bissau, em Bolama, Bafatá e Tabatô, a cada vez mais célebre tabanca de didjius (contadores de histórias), e escola de grandes músicos  (cantores, tocadores de balafon, kora e  djambé).




O filme não se centra na guerra colonial: não houve nenhuma batalha de Tababô,  o título é uma metáfora, sugestão do escritor Pedro Rosa Mendes. A guerra está presente, e de que maneira, sob a forma de fantasmas  por exorcizar: o pai da noiva, antigo combatente, aliado das tropas portuguesas (interpretado por Imutar Djebaté) , e que vem, do estrangeiro, ao casamento da filha (Fatu Djebaté), mas ainda com contas por ajustar com o seu passado... O noivo, músico de Tabatô,  é interpretado, magnificamente, pelo nosso amigo Mamadu Baio, jovem e talentoso cantor e músico. Toda a aldeia (hoje com cerca de 300 pessoas, a 12 quilómetros, a nordeste de Bafatá) entra no filme... que é preto e branco (com o vermelho para as cenas de "flash back", associadas às memórias de guerra).

O filme, que vai entrar no circuito comercial, passa de novo no Indie Lisboa'13, às 19h15,  no Cinema City Classic Alvalade, Sala 3.



Mamadu Baio, foto da sua página pessoal no Facebook... Esteve em 26/12/2012 no B.Leza. É o fundador e líder dos Super Camarimba.  O João Graça conheceu-o em dezembro de 2009 em Bissau e a  sua gente em Tabatô.



Entretanto, fica aqui também um convite e um desafio à malta da Tabanca Grande: hoje há festa no "sempre em festa", como a gente chamava ao Ritz Clube no nosso tempo de meninos e moços...

A Batalha de Tabatô After-Party > Ritz Clube, Rua da Glória, 57, 1250-115 Lisboa
Telef . 212 417 604 (metro: Restauradores).

Super Camarimba + convidados [Concerto], 5€


[Fonte: Programa do IndieLisboa'13: "Depois da exibição do filme A Batalha de Tabatô de João Viana, na Competição Internacional de Longas-Metragens, a noite continua com ritmos quentes de África. Os Super Camarimba trazem as koras e os balafons. Uma festa com os sons de Tabatô, a mítica aldeia de músicos no centro da Guiné-Bissau"].

Eu vou lá estar, às 23h00, a Alice também. O João Graça, infelizmente, está fora de Lisboa. E o "nosso alfero Cabral" (que está a escrever um romance!, confidenciou-me ele) prometeu aparecer. Claro que lhe pago um copo!... 

Espero que mais camaradas e amigos da Guiné se juntem à festa. Afinal, estamos também a comemorar a nossa 5ª comissão da Guiné (9 anos a blogar!)...

A entrada são "cinco morteiradas"... Vão gostar de conhecer o Mamadu Baio /Super Camarimba, um dos próximos novos membros da Tabanca Grande, mais os seus convidados.
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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11457: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (66): Cap Cmd Maurício Saraiva, aqui evocado pela sua sobrinha Luciana Saraiva Guerra (Florianópolis, Santa Catarina, Brasil) e pelo nosso coeditor Virgínio Briote

Guiné 63/74 - P11474: Recortes de imprensa (65): O filme lusoguineense "A batalha de Tabatô", de João Viana, veio pôr Tabató e a cultura da Guiné-Bissau no mapa das rotas do cinema internacional (Luís Graça)



1. Excerto de peça da Agência Lusa, da autoria de Paula Mourato, publicada no DN - Diário de Notícias, 23 de abril de 2013. Com a devida vénia, reproduzimos aqui a notícia:

O realizador João Viana filmou uma aldeia na Guiné-Bissau e agora espera que "A Batalha de Tabatô", em exibição no festival IndieLisboa, "limpe o olhar" dos espetadores e desencadeie um processo de "descolonização mental". Veja o vídeo.

Após ter sido distinguida com menção honrosa no Festival de Cinema de Berlim, em fevereiro, a longa-metragem "A Batalha de Tabatô" chega ao público português na quarta-feira, integrada na competição do festival de cinema IndieLisboa. (*)

O que João Viana encontrou em Tabatô, nome da tabanca (aldeia) de músicos mandingas da Guiné-Bissau para onde foi filmar, resultou numa curta e numa longa-metragem, ambas exibidas em Berlim.

A longa-metragem, que vai ser exibida no IndieLisboa, tem estreia marcada nas salas nacionais para "início de junho", adiantou à Lusa o cineasta luso-angolano.

Os habitantes de Tabatô vão ter oportunidade de se verem no grande ecrã, porque João Viana está a planear viajar com o filme pela Guiné-Bissau, durante o mês de julho. "É terrível estar cá, estou morto por ir para lá outra vez", confessa.

França, Bélgica e Alemanha serão outras das paragens do filme, mas João Viana faz questão de não iludir a realidade.

"Não é possível o que está a acontecer à cultura. São marcas gravíssimas que só se vão ver para o ano", alerta, recusando que o cinema até esteja a correr bem, "apesar da crise".

"Pensa o poder que os criadores arranjam sempre alternativas", critica, recordando que "mais de 300 pessoas" surgem no genérico de "A Batalha de Tabatô", porque o cinema é "uma arte coletiva" e "não é possível fazer um filme sozinho".

O cineasta nunca tinha estado antes na Guiné-Bissau, mas resolveu ir conhecer a aldeia que gira em torno da música. A princípio, o sítio não o surpreendeu, "as tabancas pareciam todas iguais" e "não via a riqueza" da floresta, recorda, confessando que foi "preciso peneirar a realidade" e "limpar o olhar ocidental".

Em Tabatô, deparou-se com olhares "sujos", de parte a parte. "Foi muito bom ver o olhar perante mim, enquanto branco, mudar. Da mesma maneira que nós temos um olhar viciado para com eles - olhamos sempre de cima do cavalo, (...) estamos com o olhar sujo (...) -, eles também nos olham de baixo para cima", compara.

Este processo de "nivelamento" de olhares "demorou alguns anos", mas funcionou. O seu está limpo e os habitantes de Tabatô conseguiram passar a vê-lo como "um contador de histórias como eles", descreve.

João Viana espera agora que os espetadores saiam do filme "com o olhar limpo". "O que eu sonho é que este seja um filme de descolonização mental", resume.

Ainda a braços com projetos sobre Tabatô (dois documentários), o cineasta já recebeu um convite para filmar na ilha da Reunião. "O cinema está muito ligado ao chão" e, por isso, admite que o seu esteja "ligado a África".

"A Batalha de Tabatô" - falado em mandinga, uma das línguas étnicas da Guiné, na qual João Viana aprendeu apenas a dizer "abarca" (obrigado) - é exibido na quarta-feira, às 21:30, na Culturgest. (**)


2. O filme fez anteontem, 24,  a sua estreia nacional, no grande auditório da Culturgest, no âmbito do festival IndieLisboa'13 (*). A nossa Tabanca Grande teve um simpático  convite por parte da produtora. Estivemos presentes, pelo menos eu, a Alice e o Jorge Cabral. Entre outros convidados, esteve também o embaixador da Guiné-Bissau. Um público, jovem e numeroso, viu um filme difícil de catalogar, entre o documentário e a ficção, que nos convida à desconstrução do nosso "olhar etnocêntrico sobre o outro"...

João Viana, realizador português, de 46 anos ganhou, com esta filme, uma menção especial na categoria de Melhor Primeiro Filme (A Batalha de Tabatô é a sua primeira longa-metragem)., em fevereiro passado, no prestigiadíssimo Festival de Cinema de Berlim.  Entrevistado, em 18 de fevereiro passado, pela RTP Internacional, no programa "Repórter Africa (vd. minuto 15' 54''),  o realizador português, nascido em Angola, hoje com 46 anos, falou longamente do "making of"  deste filme e da grande e fascinante descoberta que foi para ele a Guiné, o seu povo, as suas etnias, a sua pasiagem,  a sua história, a sua cultura, o seu futuro. E obviamente das gentes de Tabatô, que ele tem no coração e  que,  com este filme,  ele veio pôr no mapa do cinema português e do cinema internacional...

Em declarações à Visão 'on line', em 290 de fevereiro de 2013, o realizador falou deste e de outros projetos na Guiné-Bissau

(...) "Há mais dois [filmes]. Um making of sobre a forma como a música entra no filme. O som é a coisa mais importante no cinema, como explica João César Monteiro. O filme tem uma grande componente sonora, que tem a ver com o trabalho do percussionista Pedro Carneiro, que trabalhou sobre a música Mandinga. O Paulo Carneiro, o meu assistente de realização, está a acabar um documentário sobre o naufrágio que a equipa sofreu durante a rodagem. Estavam 109 pessoas a bordo, incluindo crianças, perdemos o material de iluminação, morreram os animais mas, felizmente, não morreu nenhuma pessoa.

 (...) "A Guiné é um país culturalmente riquíssimo, com mais de 30 grupos étnicos, com os seus hábitos e costumes. Isto para um contador de histórias, como eu, é uma mina. Poderia fazer 300 filmes diferentes".


E respondendo à pergunta sobre se o filme está "na fronteira entre a ficção e o documentário", João Viana respondeu:


(...) "Sim. Porque a Guiné é uma terra de ficção. Fazendo-se um documentário sobre contadores de histórias, o resultado nunca é convencional. Numa simples conversa com um homem sábio vivemos vários tempos em simultâneo. É muito intenso em termos de ficção. Mas eu quis fazer um documentário, e foi para isso que ganhei um subsídio, e acho que, ao filmar assim, não enganei o Estado. Nós não ficámos em hotéis, antes em casas. Eles construíram-nos as paredes e nós os telhados. Com o filme foi exatamente o mesmo. O filme foi construído por eles, nós fizemos muito pouco" (...)

 O filme, falado em mandinga, interpretado por atores locais (entre eles o meu novo amigo, Mamadu Baio, líder da bamda musical Super Camarimba), começa com uma espécie de lembrete  e provocação:   


(...) Há 4500 anos, enquanto tu fazias a tua guerra, criámos a agricultura. 
Há 2000 anos, enquanto tu fazias a tua guerra, criámos a boa governação dos reinos.
Há 1000 anos,enquanto tu fazias a tua guerra, criámos as bases do reggae e do jazz.
Hoje, superando a tua guerra, construiremos contigo a tua paz. (...)


Os nomes de  Eduardo Costa Dias, consultor para a cultura dos mandingas (e membro da nossa Tabanca Grande, professor do ISCTE) ,  e de Luís Graça  e Carlos Matos Gomes, como consultores para as questões de história militar, aparecem no genérico do filme. No meu caso, por gentileza do realizador, que me lembrou, no batepapo depois do filme,  a importância que teve para ele a leitura do nosso blogue e uma conversa tida comigo há cerca de 5 anos atrás... (LG)

Guiné 63/74 - P11473: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (28): Respostas (54): Pepito / Carlos Schwarz, eng agr, cofundador e líder da AD - Acção para o Desenvolvimento: "Fazer a Guerra é fácil. (...) Construir a Paz e promover a Amizade é obra de espíritos superiores"

1. Resposta do nosso amigo Pepito ao "questionário aos leitores do blogue" (*)... Em seu nome pessoal mas também na sua qualidade de cofundador e líder da AD - Acção para o Desenvolvimento.

[Foto à esquerda: Em Guileje, 1 de março de 2008]

 Recorde-se que ele é eng agr de formação, licenciado pelo ISA - Instituto Superior de Agronomia, da Universidade Técnica de Lisboa. Nasceu na Guiné, e voltou para a Guiné-Bissau, em 1975. É casado com Isabel Levy Ribeiro. Os dois são membros da nossa Tabanca Grande, e todo os anos em agosto, nas férias de verão, abrem aos amigos as portas da Tabanca de São Martinho do Porto, filial da Tabanca Grande. Eles e a decana da Tabanca Grande, essa grande senhora chamada Clara Schwarz, hoje com 98 anos e uma lucidez invejável...

Luís:

Mais uma vez os nossos PARABÉNS. Pela qualidade, pela inovação, por juntar naturalmente pessoas de pensamento oposto, pela informação e pela persistência em não abandonar.

A AD sabe o que aprendeu com a sua pertença ao Blogue. O que beneficiou. Como alargou o seu núcleo de amigos. Uns organizados em associações, como a Tabanca Pequena e a Ajuda Amiga~, e muitos outros individualmente, como a Júlia Neto, esposa do falecido Capitão José Neto.

Fizemos, com o apoio da Tabanca Grande, o Simpósio de Guiledje, o Museu "Memória de Guiledje" e estamos a avançar para o pequeno Museu de Gadamael-Porto: Se não fosse a TG ainda estávamos nos "entretantos".

Fazer a Guerra é fácil. Basta convocar o ódio e esperar pela resposta do outro. Construir a Paz e promover a amizade é obra de espíritos superiores. Hoje estamos, de um e outro lado das barricadas de ontem, do mesmo lado do futuro.
Obrigado Tabanca Grande

pepito



2. Resposta nº 53

(1) Quando é que descobriste o blogue ? Mais de 5 anos (?).

(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada): Informação de um camarada-

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ? Mais de 5 anos (?) [Desde outubro ou novembro de 2005; e conhecemo-nos, eu e o Pepito, em Lisboa, Fevereiro de 2006]

(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)? Semanalmente

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ? Muito de vez em quando.

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ? Não

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ? Só Blogue

(8/9) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ? Blogue

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...) Um pouco

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ? (ver texto que escrevi acima)

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ? Não

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ? Não

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ? Com um líder como o Luís...

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.

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Nota do editor:

Últimop poste da série > 25 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11472: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (27): Respostas (52): José da Câmara, residente nos EUA; ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56 (Guiné, 1971/73)

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11472: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (27): Respostas (53): José da Câmara, residente nos EUA; ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56 (Guiné, 1971/73)

1. Mensagem do nosso camarada José da Câmara (ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73), com data de 17 de Abril de 2013, com as suas respostas ao nosso questionário:


(1) Quando é que descobriste o blogue?
R - Descobri o blogue em 2009.

(2) Como ou através de quem?
R - Encontrei o Blogue através da NET.

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (tertúlia)?
R - Sou membro desde 2009.

(4) Com que regularidade visitas o blogue?
R - Faço os possíveis para visitar diariamente o Blogue.

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.?
R - Tenho mandado com alguma regularidade material para ser publicado. Comento pouco.

(6) Conheces também a nossa página do Facebook (Tabanca Grande Luís Graça)?
R - Julgo que sou amigo da Página do Facebook, mas não a conheço.

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue?
R - Ver resposta #6.

(8) O que gostas mais no Blogue? E no Facebook?
R - Acima de tudo gosto dos artigos que relatam as nossas experiências no teatro da guerra. Os artigos sobre a presença História Portuguesa na Guiné também captivam a minha atenção. Não comento sobre a página no Facebook. Não uso esse meio para ler a página da Tabanca.

(9) O que gostas menos no Blogue? e no Facebook?
R - Estou no Blogue porque gosto de estar. Dito isso, preferia ver os nossos amigos e camaradas escreverem os seus artigos com os olhos e os sentimentos dos seus dias de combatentes. Perante a experiência da guerra que vivemos, quando se escreve com o sentimento de hoje perde-se objectividade da história de então. Nesse sentido é deveras confrangedor ler artigos apologéticos ao PAIGC e aos seus objectivos, em detrimento da nossa história e dos nossos camaradas de armas. Os antigos guerrilheiros do PAIGC também têm abertas as páginas deste blogue. Compete a eles e só a eles contar o seu lado da história. Outro ponto que me fere de sobremaneira é o constante maltratar dos Oficiais do QP que, na sua grande maioria, também foram combatentes como nós e são, acima de tudo, camaradas do mesmo Exército. As picardias, algumas delas pessoais, sempre de lamentar, que por vezes deflagram no Blogue podem sinalizar alguma imaturidade no confronto com o contraditório. Há que haver mais cuidado, até porque não nos podemos esquecer que a história também julgará o nosso carácter. Em face das minhas respostas anteriores, nada tenho a acrescentar sobre a página no Facebook.

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue?
R - Não tenho problemas no acesso ao Blogue.

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti? E a nossa página no Facebook?
R - Para mim, o Blogue representa um esvaziar de emoções que durante muitos anos estiveram recalcadas nas neblinas da memória. Aqui encontrei gente com quem posso falar a mesma linguagem, com quem criei boas e sólidas amizades.

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais?
R - Nunca participei em nenhum encontro nacional da Tabanca. Um dia, quem sabe, quando o encontro for feito em Boston…

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de Junho, em Monte Real?
R - Não estarei presente neste encontro.

(14) E por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra… para continuar?
R - Claro que o Blogue tem pernas para andar. Certamente que um dia morrerá, todos nós morreremos.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer?
R - As regras do Blogue estão há muito estabelecidas. Por isso não me parece ser este o fórum apropriado para tecer críticas e ou sugestões.
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Nota do editor:

Último poste da série de 25 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11463: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (26): Respostas (50/51): Armando Fonseca (Pel Rec Fox 42, Guileje e Aldeia Formosa, 1962/64); e Joaquim Peixoto (CCAÇ 3414, Bafatá e Sare Bacar, 1971/73)

Guiné 63/74 - P11471: Efemérides (125): No passado dia 20 de Abril fez 43 anos que foram assassinados os Majores Passos Ramos, Magalhães Osório e Pereira da Silva, O Alferes João Mosca, dois Condutores e um tradutor (Manuel Resende)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Resende (ex-Alf Mil da CCaç 2585/BCaç 2884, Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71), com data de 20 de Abril de 2013:

Caros amigos e camaradas,

Hoje é o dia 20 de Abril. Por acaso alguém se lembra do que aconteceu no dia 20 de Abril de 1970 em Jolmete, precisamente há 43 anos?

O nosso Capitão Almendra, disse aos Oficiais, não sei se a mais alguém, talvez ao Dandi, depois do almoço, que se estava a passar algo de anormal.

Nesse dia iria acontecer uma reunião (a última) para a pacificação do “Chão Manjaco”, entre os chefes do PAIGC e os OFICIAIS do CAOP, num local junto à primeira bolanha a contar do Pelundo para Jolmete, a cerca de 5 Kms do Pelundo.
Essa reunião destinava-se a integrar todo o pessoal do PAIGC pelos aquartelamentos da zona, como já estava combinado em reuniões anteriores.

No dia anterior, 19, Domingo, o CAOP esteve em Bula, e ao jantar, o Sr. Major Pereira da Silva recebeu um telefonema, presume-se de Bissau, dizendo que um tal “LUIS” iria estar presente na reunião do dia seguinte. Segundo o que me lembro dos comentários da altura, diziam que ele ficou cabisbaixo, mudo e pensativo.

Só para resumir, o local foi alterado para a segunda bolanha, a 5 Kms de Jolmete. Porquê?

Devo confirmar que ouvi dois tiros por volta das 3 da tarde (e muitas outras pessoas também ouviram).

Foram barbaramente assassinados (pois estavam desarmados) os nossos Oficiais:

Major PASSOS RAMOS
Major MAGALHÃES OSÓRIO
Major PEREIRA DA SILVA
Alferes JOÃO MOSCA
Dois condutores dos jipes e um tradutor (total 7 pessoas).

Não é meu interesse aqui entrar em pormenores, pois apenas quero lembrar a memória destes Oficiais, que devem figurar em todos os escritos com letra maiúscula.

Junto algumas fotos tiradas por mim, mas lamento não ter do Sr. Major Pereira da Silva.

Major Passos Ramos o primeiro à esquerda

Major Osório em primeiro plano

Alferes Mosca em primeiro plano

Alferes Mosca

Manuel Resende
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Nota do editor:

Último poste da série de 22 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11445: Efemérides (124): Matosinhos comemorou o Dia do Combatente e o 4.º aniversário do Núcleo da Liga dos Combatentes (Carlos Vinhal)