sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12539: Notas de leitura (549): "Tratado Breve dos Rios de Guiné", por Capitão André Álvares D'Almada (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Agosto de 2013:

Queridos amigos,
A observação deste capitão da Ilha de S. Tiago está centrada no norte e no centro da Guiné, como hoje a conhecemos. É verdade que todo o relato começa no alto Senegal e findará na Serra Leoa. No que tange ao território atual as descrições começam no rio de S. Domingos, passam pelos Bijagós, e depois entusiasma-se com o reino dos Beafadas, a etnia então mais poderosa no Sul.
Temos aqui a descrição do comércio e dos seus povos. Ficamos a saber que havia pequenos elefantes e leões e o tão cobiçado anil, e havia mesmo ouro. Descrição poderosa, por vezes galvanizante.
Assim como a Crónica dos Feitos da Guiné, de Gomes Eanes de Zurara, é o encontro com a história, este Tratado que marca o início das belíssimas narrativas sobre os povos da Guiné.

Um abraço do
Mário


Tratado breve dos rios da Guiné: A “cédula pessoal” do encontro luso-guineense (2)

Beja Santos

Se é verdade que o bordão do historiador é a Crónica dos Feitos da Guiné, de Gomes Eanes de Zurara, a obra que marca o encontro entre os nautas portugueses e os povos da Guiné é esse fabuloso documento intitulado “Tratado Breve dos Rios de Guiné do Cabo-Verde”, da responsabilidade do capitão André Álvares de Almada. O relato começa com a descrição dos Jalofos, do rio de Sanagá, o tal rio que separa os mouros da terra dos negros. Impressiona a sua linguagem detalhada e clara, como segue exemplo: “Este Reino dos Jalofos era muito grande, e estava debaixo da obediência de um Rei muito poderoso, o qual era entre esta nação como Imperador, e quando se falava nele se dizia o Gran-Jalofo. Tinha outros reis que lhe davam obediência e pagavam tributos. Mas como o tempo costuma a desfazer a uns e levantar a outros, muitas vezes de nada, assim foi com este do Império dos Jalofos”. Desce ao pormenor falando dos seus costumes e trocas comerciais, outro exemplo: “As mercadorias que levam os nossos a estas partes são cavalos, vinhos, bretanhas, contaria da Índia chamada da fémea limpa e boa, e o cano de pata, que é a mesma contaria comprida, outra da mesma contaria redonda, do tamanho de uma avelã e maior. Toda esta contaria é estimada entre eles é o tesouro e joias que eles têm. Estimam também o ouro; compram algumas peças feitas, vinta-quatreno vermelho, grão, margarideta, continha de Veneza, papel, coral miúdo, e búzio miúdo, o qual corre como dinheiro para gastos. Nesta costa se acha muito âmbar, e o rei do sertão dela tem muita quantidade dele, porque de todo o que acham os negros lhe dão sua parte, e tem tanta quantidade que tem dentro dos seus paços um modo de casa de barro, como forno de cozer pão, e o tem cheio dele e em muita estima”.

Dos Jalofos passou à descrição dos Barbacins, depois o reino da Gâmbia, chega então à barra de S. Domingos, descreve os Falupos (Felupes), o reino de Casamansa, o reino dos Buramos (Brames), que confina com os Balantas, e ao Beafares. A navegação prossegue até ao reino dos Bijagós e à terra dos Beafares, a descrição é cuidadosíssima: “Este Beafares não tem as suas casas aldeadas como as outras nações, senão afastadas algum tanto umas das outras, e as fazem segundo a pose de cada um, e no lugar onde as fazem vivem ali os parentes todos juntos, reconhecendo ao mais velho a quem dão obediência; e por isso em alguns casos de Juízos e Leis que entre eles há, sendo condenados algumas vezes os maiores a perdimento de bens e liberdade, se cativa uma geração. Vivem apartados em casas de taipa cobertas de palhas, às quais, como cá se chama entre nós Quintas, chamam eles Polonias, e há algumas de alguns fidalgos muito grandes de muitas casas”. Álvares de Almada revela uma atenção enorme sobre as culturas, hierarquias sociais, está atento às inclemências do tempo: “Esta terra de Biguda é toda coberta de muitos matos e arvoredos; chove nela muito; dão grandes trovões; caem muitas pedras de corisco. Usa Nosso Senhor com estes Gentios de sua misericórdia grandemente, porque lhes dá água em abastança e muitos temporais, e o inverno com tanta temperança que não pode mais ser; porque ainda que chova muita água, logo torna o tempo sereno e bom; e desta maneira cria a terra muito. E ainda que esteja o tempo claro, arma-se uma nuvenzinha pequena, que vai-se fazendo maior; e quando se não precatam começam de roncar os trovões; dá um grande pé-de-vento, e antes de dar há de acalmar o outro que ventava de antes; e dando o vento dura por espaço de um quarto de hora ou mais; deixa-se descarregar tanta água que não há pode-la esperar; tanto que choque que logo cessa o vento e dura a água uma hora ou duas; depois torna a esclarecer tudo e a fazer sol; e por isso tem tão boas novidades”.

Estamos portanto em pleno Sul da atual Guiné, e começa a descrição dos reinos dos Nalus, Bagas e Coquolins, descreve o comércio do rio grande de Buba, com todo o detalhe: os Nalus vendem escravos, esteiras finas, pequenos dentes de marfim, eram terras em que se matavam muitos elefantes e segue-se uma descrição pormenorizada: “Estes negros, não sei porque arte, se metem debaixo dos elefantes com umas azagais muito largas e grandes, e metendo-se dão-lhes com aquela arma e as mais vezes que podem, e acolhem-se. Começa o elefante de correr a uma e a outra parte, e vão-lhe caindo as tripas delgadas, e com as mãos e pés as vão trilhando e quebrando até que morre. Vai o negro pelo rasto do sangue dar com ele morto. Desfazem-no; dão ao rei o que tem dali, que são as mãos e pés e a tromba; o mais comem eles. Perguntando algumas vezes a alguns negros como se metem debaixo daquele animal tamanho e tão espantoso; respondiam que comiam mesinha para isso. Seja como for, eles o fazem; descreve os búfalos, o gado vacum, fala em onças e leões, a terra destes Nalus é grande, o comércio era feito por povo entreposto, os Beafares. Outra preciosidade para o comércio era o anil, tintas muito procuradas e explica a técnica a partir de árvores como hera e que vão trepando pelas outras árvores e têm as folhas largas: “E os negros, no tempo, apanham estas folhas e as pisam, e fazem uns pães como de açúcar, assim grandes, enfolhados com as folhas de cabopa, e vêm os nossos navios carregarem-se destas tintas, que é um grande trato, para o rio de S. Domingos. E já nos outros anos, governando a Rainha D. Caterina, que Deus haja, se mandou carregar e trazer à cidade de Lisboa uma caravela destas tintas, para as experimentarem, isso levou a Cádis parte da tinta. Não sei de que modo a acharam, mas sei que da ilha de S. Tiago se levou por muitas vezes a tinta que se nela faz a Sevilha e a Cádis e a acharam boa e da erva de que se faz o verdadeiro anil”. Fica-se igualmente a saber que esta tinta era levada para o rio de S. Domingos e utilizada pelos Brames e os Banhuns, e mesmo comercializada no Casamansa, resgatada por escravos.

A viagem no que é a Guiné-Bissau está praticamente a findar. Refere ainda os Bagas, muito atraiçoados isto é matavam à traição, com ritos absolutamente selvagens: “E em os matando cortam-lhes as cabeças e dançam com ela. E depois as cozem e tiram a carne toda, e limpas de carne e miolos bebem por elas, servindo-lhes de púcaros. Nisto não há dúvida. E quantos mais vasos tiver um negro em sua casa mais honrado é. E hão de entender que não hão de ser somente de brancos, se não de quaisquer pessoas que eles possam matar. Suas armas são umas azagais de uns ferros largos e compridos. Usam espadas, frechas e adargas de verga e rota boas. Têm suas almadias, que navegam de uma parte para a outra, e de rio em rio ao longo da terra”.

E assim se chega ao Cabo da Verga, dobrado chega-se ao rio das Pedras, o reino dos Sapes, vamos ter descrições até à Serra Leoa, assim descrita: “Esta terra é tão abundante de tudo que nada lhe falta; abastada de muitos mantimentos; muito fresca de ribeiras de água, laranjeiras, cidreiras, limoeiros, canas-de-açúcar, muitos palmares, e muita madeira excelente. Povoando-se viria a ser de maior trato que o Brasil, porque no Brasil não há mais do que açúcar, e o pau, e algodão; nesta terra há algodão e o pau que há no Brasil, e marfim, cera, ouro, âmbar, malagueta, e podem-se fazer muitos engenhos de açúcar; há ferro, muita madeira para os engenhos, e escravos para eles”. Texto sugestivo em que Álvares de Almada sugere ao rei que venha gente da Europa e de Cabo Verde para aqui, aqui há riqueza, é melhor deixar empresas duvidosas e povoar território fértil até à Costa da Malagueta. E assim se despede de El Rei, com o desejo de ver esta terra povoada de cristãos.
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Nota do editor

Último poste da série de 30 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12523: Notas de leitura (548): "Tratado Breve dos Rios de Guiné", por Capitão André Álvares D'Almada (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P12538: Recordações de um "Zorba" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) (4): Elementos para a história e a cultura da nossa presença em África: o antropólogo Augusto Mesquitela Lima, refundador do Museu do Dundo / Diamang, e o comandante Ernesto Vilhena, administrador-delegado da Diamang

1. Mensagem, de 28 de dezembro último, de Mário Gaspar (*:

Camarada da Tabanca Grande Luís Graça

Enviei-te este texto, e volto a reenviar,  visto dizeres estar interessado em saber quem era o comandante Ernesto Vilhena, e não obtive resposta. 


Como disse, neste mail que te reenvio – porque fiquei com dúvidas se chegou às tuas mãos – quero acrescentar que o Antropólogo Professor Doutor Augusto Mesquitela Lima era o maior coleccionador de máscaras do Mundo. Foi viver para Angola, terra da sua mulher, ainda antes da independência desta colónia portuguesa, fundou o Museu do Dundo (**), em Angola e esteve integrado no grupo de professores, na fundação da Universidade Nova de Lisboa. Segue o texto já enviado anteriormente.

Após as dúvidas colocadas sobre o comandante Ernesto Vilhena – como curioso que sou – pesquisei na internet, e com pouco sucesso. Entretanto surgiu-me um elemento novo: “importante colecionador em Portugal de escultura”.


2. O antropólogo Augusto Mesquitela Lima (1929-2007), de orgem caboverdiana, refundador do Museu do Dundo, em Angola,  meu professor na Academia Sénior de Lisboa

Como conheci um “importante colecionador de escultura” e que “fundou o Museu Dondo, em Angola” – o antropólogo Professor Doutor Augusto Mesquitela Lima –,  aqui vão alguns elementos informativos sobre ele:

(i) nasceu a 10 de janeiro de 1929, no Mindelo,  ilha de São Vicente,  Cabo Verde; (ii) após o liceu, veio Portugal, para completar os seus estudos, justamente numa altura em que os Estudantes da Casa do Império, em Lisboa, já falavam das independências das colónias; (iii) diplomou-se, em 1963,  pelo antigo Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina (ISCSPU).

Mesquitela Lima irá  depois doutorar-se em Etnologia em França, na Sorbonne,  quando se viviam as experiências do Maio de 68, tendo sido preso por ter se ter envolvido nesses acontecimentos. Estudou igualmente nos Estados Unidos. Foi, entretanto,  viver para Angola, terra da sua mulher, ainda antes da independência desta colónia portuguesa.

Além dos países africanos esteve igualmente, entre outros, na Índia, Brasil e China. Ficou conhecido pela vasta obra que publicou, teve por volta de 30 trabalhos científicos e publicou 25 livros. Reestruturou Museu do Dundo, da XDiamang (que já existia como  em Angola, onde estudou vários grupos étnicos, com especial destaque para os kyaka.

Fez parte do grupo de professores que estiveram na origem da fundação da Universidade Nova de Lisboa (UNL), após 25 de abril de 74. Jubilou-se como Professor Catedrático de Antropologia Cultural da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UNL. Foi responsável pelo aparecimento de um grupo de antropólogos que reformularam a antropologia em Portugal, até então muito centrada no antigo ISCSPU.

Conheci-o na Academia Sénior de Lisboa, onde foi professor de Antropologia. Gostava muito das suas aulas. Um dia, convidou-me a mim e ao Presidente da Direção desta mesma Academia, para visitarmos a sua casa. Inacreditável! Salas repletas de relíquias e de encantos. Impossível descrever. Esquecera-se de reservar espaço para si. As preciosidades envolviam-nos. E que riqueza! Notei no rosto de sua mulher, uma senhora bastante simpática, algumas reservas decerto motivadas pelo pouco espaço que restava para si e para seu admirável marido naquela casa, naquele Museu do Professor Mesquitela Lima.

O grito do Professor era “O Caos”, as aulas na Academia não tinham outro tema. Foi de viagem à Índia e adoeceu, uma pneumonia, mas ainda voltou à Academia. Era conhecido mundialmente pela coleção de máscaras africanas. Para além das máscaras, no corredor de sua casa, repleto de recordações das suas viagens, tivemos a oportunidade única de ver: desenhos de mulheres africanas; miniaturas de peças artesanais, pinturas executadas por amigos; a cadeira de um rei africano; livros já sem espaço (perto de 30 mil); muitas obras de vários pintores consagrados; muitas mais peças de arte adquiridas em todo o mundo e uma secretária com um computador onde um dos filhos (tinha três filhos) memorizava todo o seu espólio. Concluía o tal estudo científico intitulado “O Caos”.

Faleceu, quando era director do Instituto Superior de Gestão, vítima de pneumonia, a 14 de janeiro de 2007.

3. Comandante Ernesto Vilhena (1876-1967), administrador delegado da Diamang

Foi então que mais motivado fiquei e recolhi o seguinte sobre o comandante Ernesto Jardim de Vilhena [, Reproduzido, na íntegra,  com a devida vénia,  do Arquivo Histórico da Presidência da República]:

"O Comandante Ernesto Jardim de Vilhena (Capitão de Fragata, na Reserva e Administrador da Companhia de Diamantes) nasceu em Ferreira de Alentejo, em 4 de Julho de 1876, filho de Júlio de Vilhena (1845-1928) – Conselheiro e Ministro de Estado, Par do Reino, deputado e chefe do Partido Regenerador, jornalista e director de jornais, vogal do Supremo Tribunal Administrativo e III Governador do Banco de Portugal – e de Maria da Piedade Leite Pereira Jardim. 

"Na qualidade de militar da Marinha Portuguesa, serviu na Administração Colonial desde 1886. Foi Secretário-Geral da Sociedade de Geografia de Lisboa, na 1ª década do séc. XX e deputado pela Madeira na legislatura de 1908. 

"Depois da implantação da República, e apesar de monárquico, foi Ministro das Colónias do 12º Governo da Iª República, chefiado por Afonso Costa (25 de Abril a 10 de Dezembro de 1917) do qual foi igualmente Ministro dos Negócios Estrangeiros interino, entre 19 de Novembro à queda do Governo. Foi Governador dos territórios da Companhia do Niassa e dos Distritos da Zambézia de Lourenço Marques. Foi vogal do Conselho Colonial e Chefe de Gabinete do Ministro do Ultramar e da Marinha João de Azevedo Coutinho (1909- 1910) e do Ministro do Interior Artur de Almeida Ribeiro (1915-1917).

"Foi Administrador-delegado da Diamang – Companhia de Diamantes de Angola, entre 1917 e 1966.

"Foi, ainda, o mais importante coleccionador em Portugal na 1ª metade do século XX (em particular de escultura). Faleceu em Lisboa em 1967.”

[ Ver aqui mais dados sobre a sua carreira.]


3. Nota sobre a Diamang: 

Poucos elementos para pesquisa existem sobre diamantes. É um mundo muito complicado. A sua história ficará por contar.

O Engenheiro Sucena que me admitiu na DIALAP – Sociedade Portuguesa de Lapidação de Diamantes, SARL., como já afirmara, esteve também na Diamang.

O Presidente do Conselho de Administração da Diamang,  Engenheiro Carlos Krus Abecasis (e não Abecassis), também esteve na DIALAP.

O Diretor da DIALAP – foi durante muitos anos – o Engenheiro Manuel Rey Colaço Menano.

Camarada Luís Graça;

Não se trata de uma história da guerra onde estivemos envolvidos, mas interessante. Já agora, e para acabar, tive para ir trabalhar para a Diamang quando regressei da Guiné. Acabei a minha vida profissional por trabalhar em diamantes.

E desculpa o tempo que perdeste a ler a história, muito sumária, de um Homem, também Homem Grande da nossa Cultura o Professor Doutor de Antropologia Augusto Mesquitela Lima. Esse texto já o escrevera. E foi mesmo por essa razão que me veio à memória o colecionismo das máscaras, aliando ao facto o nome Comandante Ernesto Jardim de Vilhena.

Um Feliz Natal e um Feliz Ano Novo

Ex Furriel Miliciano, Minas e Armadilhas, Mário Vitorino Gaspar, nº  03163264
CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68)

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Nota do editor:

(*) Vd último poste da série > 30 de dezembro de  2013 > Guiné 63/74 - P12522: Recordações de um "Zorba" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) (3): Tenho pena de não ter, na minha posse, cartas que escrevi, onde narrava o nosso sofrimento.

(**) Será mais correto dizer-se que o Mesquitela Lima foi o refundador do Museu do Lundo...

(...) O 'Museu do Dundo', na Lunda-Norte, 
Angola [, vd. imagem à esquerda, adaptada da Wikipédia],  foi criado em 1936 pela então denominada Companhia de Diamantes de Angola / Diamang [, hoje Endiama]. Foi a primeira instituição do género criada em Angola. Em 1942 adopta a designação de Museu Etnológico.

Em 1946 inicia a edição desta colecção tendo contado com a especial participação de José Redinha (curador do Museu - etnólogo e estudioso dos povos de Angola) e com a participação de inúmeros autores nacionais e estrangeiros.

Esta colecção, composta por obras pertencentes à Biblioteca Ultramarina do ex-Banco Nacional Ultramarino, foi digitalizada e incorporada na Biblioteca Digital da Memória de África e do Oriente através de protocolo para a cedência de conteúdos assinado entre a Caixa Geral de Depósitos e a Fundação Portugal-África.

A sua utilização segue o referido nos direitos de utilização do material. (...)


Fonte: Memórias de África e do Oruiente > Biblioteca Digital > Museu do Dundo / Diamang

Guiné 63/74 - P12537: Blogpoesia: 'Receita de Ano Novo', de Carlos Drummond de Andrade, uma prenda do Vasco Pires, um camarada da diáspora , ex-alf mil, cmdt, 23º Pel Art, Gadamael, 1970/72

1.  Mensagem de Ano Novo, datada de 1 do corrente,  do nosso camarada da diáspora, Vasco Pires [ ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72], acompanhada da deliciosa "Receita de Ano Novo", poema escrito por um dos maiores poetas da língua portuguesa, o brasileiro Carlos Drumond de Andrade (1902-1987):

Que venha 2014.

Forte abraço. Vasco Pires [, foto atual, à esquerda]



Receita de Ano Novo

por Carlos Drummond de Andrade


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo,  espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegrama?).



Não precisa

fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.


Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.


In: Carlos Drummond de Andrade - [Em linha]: Discurso de primavera e algumas sombras. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1979, p. 115. [Consult 2 jan 2014]. Disponível em http://www.poesiaspoemaseversos.com.br/receita-de-ano-novo-carlos-drummond-de-andrade-2/

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Nota do editor:

Último poste da série > 1 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12531: Blogpoesia (364): Quem me dera que não ficasse tudo igual (Juvenal Amado)

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12536: O que é feito de ti, camarada ? (4): Carlos Marques dos Santos, conimbricense (e não coimbrão!...), hoje aniversariante, ex-fur mil, CART 2339 (Mansambo, 1968/69)... No Hotel de Bambadinca, em março de 1969, em trânsito, vindo de férias...



Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/ BCAÇ 2852 (1968/70) > Foto nº 1 > "Na primeira fila, veem-se os Furriéis Oliveira e Soares. Na 2.ª fila, eu (Marques dos Santos) mais o furriel Carlos Pinto... A foto foi tirada pelo Furriel Rei (Cart 2339), meu inseparável companheiro de férias. No interregno das nossas férias aconteceu o desastre do Cheche – Madina do Boé, em 6/2/1969, onde também a CART 2339 esteve envolvida com material auto e apoio logístico" (CMS)


Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/ BCAÇ 2852 (1968/70) > Foto nº 2 > "Aqui, já com o Furriel Rei na 1.ª fila" (CMS)...

[Como se pode ver pelas fotografias, não se passava sede no Hotel de Bambadinca e, a avaliar pela decoração das paredes dos quartos, os seus hóspedes tinham uma permanente ligação (espiritual, estética, mágica, poética, erótica...) com o mundo dos vivos (ou, melhor, das vivas...). Além disso, supremo luxo, tinham direito a lençóis brancos,  lavados,  e até a frigorífico, elétrico!]. (LG)



Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/ BCAÇ 2852 (1968/70) > Foto nº 3 > "Eu, Marques dos Santos, no Hotel de Bambadinca" (CMS)...

[Se bem percebi, a foto é de Bambadinca. Março de 1969. Os furrieis Rei e Santos deveriam estar a aguardr transporte de Bambadinca para Mansambo, depois do  gozo da sua licença de férias na Metrópole] (LG)



Guiné > Zona Leste > Rio Geba > A caminho de Bissau > 1969 (?) > O Fur Mil Carlos Marques dos Santos, da CART 2339, Mansambo (1968/69), num barco civil, a caminho de Bissau.

[Era um dos típicos barcos civis de transporte de pessoal e de mercadoria, que fazia a ligação Bissau-Bambadinca, e Bambadinca-Bissau, passando pela temível Ponta Varela, na confluência do Rios Geba e Corubal e, a seguir, o assustador Mato Cão, no Geba Estreito, entre o Xime e Bambadinca. Estes barcos (alguns ligados a empresas comerciais, como a Casa Gouveia) tinham, como principal cliente a Intendência militar. Pelo Xime e por Bambadinca passava a alimentação e tudo o mais que era preciso para saciar o "ventre da guerra" da Zona Leste.] (LG).

Fotos (e legendas): © Carlos Marques dos Santos (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: L.G.]


1. O Carlos Marques dos Santos foi um dos nossos primeiros "tertulianos", termo que hoje tendemos a substituir por "membros da Tabanca Grande" ou "grã-tabanqueiros"... Apareceu, se não me engano, em dezembro de 2005, e trouxe com ele, uns meses depois, em março de 2006, o seu camarada Torcato Mendonça... Por razões de saúde, já não está tão ativo. Mas fazemos questão de o relembrar aqui, hoje, em dia de aniversário.  Quando eu ia à FCT da Universidade de Coimbra, em trabalho, cheguei a estar com ele várias vezes. Foi também ele o organizador do nosso I Encontro Nacional, em 2006, na Ameira, Montemor o Novo, juntamente com o Paulo Raposo.


Curriculum Vitae (abreviado)  [com data de 5/1/2006]:

(i) Assentou praça em Mafra (EPI), em Setembro de 1966;

(ii) Especialidade de Atirador de Artilharia em Vendas Novas;

(iii) Iniciou a formação da Companhia (CART 2339) no RAL 3, Évora, em 28 de Agosto de 1967;

(iv) Chegou a bordo do T/T Ana Mafalda (que "parecia uma traineira") (1), em 21 de Janeiro 1968;

(v) Esteve em Fá Mandinga e Mansambo, onde foi rendido pela CCAÇ 2404;

(vi) Realizou treino operacional com a CART 1746 (Xime) , entrando em intervenção no Setor L1 até 22 de Novembro de 1969;

(vii) Em 3 e 4 de Fevereiro de 1968 esteve  envolvido, com o seu Gr Comb,  no cordão de tropas que, à volta de Bafatá, fez segurança ao Presidente da República, Américo Tomaz ["Laranjas apanhadas das árvores e bolachas foi a nossa comida, em dia e meio];

(viii) Em 25 de Fevereiro de 1968, participa pela 1.ª vez numa operação de grande envergadura (Op Grão Mongol), com as CART 1646 e 2338, pelotões de milícia e Pel Caç Nat;

(ix) Em Fevereiro de 1968 inicia-se a construção, de raiz, do futuro aquartelamento sede de Mansambo, com a construção e ocupação programada para operacionais e serviços;

(x) O seu  Grupo de Combate (o 3º) só em Julho de 1968 se deslocaria  definitivamente de Fá para este aquartelamento fortificado [, o projecto era do BENG 447];

(xi) Foi inaugurado oficialmente em 21 de Janeiro de 1969, com a presença de diversas entidades e grande festa: a nova iluminação –  até aí era com bazookas [garrafas de cerveja grandes] e mechas embebidas em óleo – foi inaugurada com "fogo de artifício” – balas tracejantes a serem disparadas de G3];

(xii) Mansambo (a Cart 2339) foi atacado em 28 de Junho de 1968, pela primeira de muitas vezes;

(xiii) "Samba Silate, Demba Taco, Taibatá, Galo Corubal, Salicuta, Dando, Nova Lamego, Che-Che, Canjadude, Enxalé, Mato Cão, Geba, Cantacunda (onde os turras levaram 11 dos nossos – Abril de 1968), Sarabanda, Sincha Setu, Camamudo, Sare Gana, Banjara, Sambulacunda, Bantajã, Finete, Satecuta, Xitole, Burontoni, Poidão, Ganguiró, Bissaque, Moricanhe, Mussa Iero, Belel, Sinchã Camisa, Sambulacunda, etc., etc., etc.,: pelo menos um terço do Leste da Guiné (hoje Bissau) foi feita a pé. Sem água, sem comida, com abelhas e formigas, com mortos, feridos e desaparecidos";

(xiv) Regressou a casa, em Dezembro de 1969, no navio Uíge, a 13 desse mês, dois anos após a partida para a Guiné;

(xv) É natural de Coimbra (freguesia de Santo António dos Olivais); 

(xvi) Estudou no antigo Liceu Normal de D. João III e no Colégio S. Pedro,  em Coimbra; 

(xvii) Foi atleta federado de Basquetebol e Andebol, treinador e dirigente desportivo na modalidade de Basquetebol; presidente da Direcção e da Assembleia Geral do Olivais F. Clube e Vice-Presidente da Associação de Basquetebol de Coimbra;

(xviii) Diplomado em Educação Física, voltou ao Liceu D. João III como professor (hoje Escola Secundária José Falcão, nome alterado depois do 25 de Abril de 74, fazendo parte da Comissão de Gestão);

(xix) Efectivou na Escola  Secundária de Avelar Brotero, onde integrou como Vice-Presidente o Conselho Directivo;

(xx) Foi professor de Mobilidade (técnicas de Orientação e Bengala) de alunos invisuais durante 32 anos;

(xxi) Aposentado, e caravanista apaixonado, reside em Coimbra.


 2. Na decida altura, em 2006,  eu e o Humberto Reis escrevemos, a propósito das três primeiras fotos que hoje republicamos com melhor resolução e em formato "extra-large":


(i) Luís Graça:

Um felizardo do mato, com direito a férias (nem que fosse em Bissau, também conhecida por guerra do ar condicionado), ia de barco, civil, a partir de Bambadinca, ou apanhava uma LDG no Xime ou, ainda, uma boleia, de helicóptero ou de Dornier, DO 27 (o que era mais difícil, por causas das prioridades, do elevado custo do transporte aéreo e sobretudo do factor C - a cunha).

A sede da CCS (Companhia de Comando e Serviços) do BCAÇ 2852, em Bambadinca, funcionava como hotel para os militares em trânsito, oriundos dos aquartelamentos e destacamentos do setor (em especial, Xime, Mansambo, Xitole, Missirá e Fá Mandinga) ou até de outros setores da Zona Leste (Bafatá, Gabu, Galomaro...).

Comparadas com as do Xime, Mansambo ou Xitole, as instalações para oficiais e sargentos em Bambadinca eram as de um hotel de cinco estrelas... Daqui que a malta de Bambadinca (CCS do BCAÇ 2852, CCAÇ 12 e outras unidades) arranjasse sempre poiso para os alferes e furriéis milicianos em trânsito... Mais do que cumplicidade, havia solidariedade para com os camaradas que viviam em piores condições do que nós... De resto, havia sempre camas vazias, nomeadamente da malta operacional que frequentemente dormia no mato ou estava destacada fora de Bambadinca (como era o caso da CCAÇ 12).


(iii Humberto Reis, legendando as fotos [com comentários de L.G.]:

"[Foto nº 1: ] Carlos Marques, acertaste em cheio. É ele mesmo, o Soares, sapador, que mora aqui na zona de Lisboa (mais concretamente, em Caneças, concelho de Loures).

[O Humberto Reis confirma que o Soares que aparece na foto é o José Manuel Amaral Soares, ex-furriel miliciano sapador de minas e armadilhas, pertencente à Companhia de Comandos e Serviços (CCS) do BCAÇ 2852. Foi um dos co-organizadores do convívio anual da malta de Bambadinca (1968/71) que se realizou em 2004, em Faro. Em 1999, realizou-se outro convívio, já aqui relembrado, na Quinta da Graça, em Riade, Resende, junto ao Rio Douro. A Quinta da Graça é propriedade de outro camarada do nosso tempo, e da mesma unidade (CCS do BCAÇ 2852), o Pinto dos Santos, que era furriel de operações e informações (se não me engano).]

"Fotos 1 e 2: O que está na 1ª fila do lado esquerdo é o Ranger Fernando Jorge da Cruz Oliveira, de quem sou visita habitual lá de casa. Temos dado uns belos passeios juntos com as nossas Marias (também mora aqui na região de Lisboa, em Fernão Ferro, cocnelho do Seixãl). O que está ao teu lado é o radiomontador Carlos de Oliveira Pinto que mora no Porto, aliás o Sr. Engº Pinto....

"Na foto 3 pode ver-se um frigorífico que eu comprei quando os velhinhos da CCS do BCAÇ 2852 se vieram embora e ficou para a malta da CCAÇ 12 que depois mudou para o meu quarto".

[Um frigorífico (eléctrico), naquelas paragens e naquele contexto, era um verdadeiro luxo! O nosso só funcionava à hora do almoço e à noite, quando estava ligado o gerador... Foi depois revendido aos periquitos que nos vieam render, em finais de Fevereiro de 1971. E julgo que terá chegado, heroicamente, até à hora da partida do último soldado português na Guiné. Provavelmente terá sido oferecido a um camarada do PAIGC. Por falta de energia eléctrica, terá morrido ingloriamente no montão de lixo que deixámos em Bambadinca, a começar pela tralha da guerra]...
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Notas de L.G.:

Último poste da série >  2 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12535: O que é feito de ti, camarada ? (3): "Agora estou na trajetória do vôo livre da borboleta, seguindo outros horizontes da memória, despreocupadamente ! Felizmente com saúde"... (Afonso M.F. Sousa, a residir em Ovar, ex-fur mil trms, CART 2412, Bigene, Binta, Guidage e Barro, 1968/70)

Guiné 63/74 - P12535: O que é feito de ti, camarada ? (3): "Agora estou na trajetória do vôo livre da borboleta, seguindo outros horizontes da memória, despreocupadamente ! Felizmente com saúde"... (Afonso M.F. Sousa, a residir em Ovar, ex-fur mil trms, CART 2412, Bigene, Binta, Guidage e Barro, 1968/70)

1. Mensagem, com data de hoje,  do nosso camarada Afonso M.F. Sousa [, ex-fur mil trms da CART 2412 (Bigene, Binta, Guidage e Barro, 1968/70)] [foto à esquerda, em Barro, junto ao centro cripto]:


Caríssimos amigos, Luís Graça e Carlos Vinhal,


A participação ativa nas "narrativas da guerra" (*) foi um momento que se engloba no percurso da memória, na plena liberdade de tempo e de espaço. Seguir adiante não significa indiferença ou menor apreço pelo notável trabalho histórico que emergiu e se consolidou, mas antes uma via de percurso, depois de atingidos os objetivos a que me propus, de dar resposta a algumas interrogações trazidas TO da Guiné.

Agora estou na trajetória do vôo livre da borboleta, seguindo outros horizontes da memória, despreocupadamente !

Felizmente com saúde, ando por aí como soe dizer-se, saboreando o espairecer descontraído da vida e ajudando os meus, sobretudo os mais pequenitos nas suas lides escolares !

Parabéns pelo vosso trabalho num apego entusiasta na construção de tão relevante contributo para a história.

Um bom ano de 2014, com uma luz verde, mesma que pequenina, a brilhar lá ao fundo !


Um grande abraço para ambos.

Afonso M.F. Sousa


2. Comentário de L.G.:

Afonso, em meu nome, e do Carlos Vinhal, bem como de todos os demais editores e colaboradores do nosso blogue e de todos os restantes membros da Tabanca Grande, de que tu és um dos primeiros dez a aparecer (em junho de 2005, se não erro), recebe o meu, o nosso muito obrigado pelo teu cartão de boas festas e sobretudo pelas notícias (boas) que nos dás, a começar pela tua saúde. É bom sabermos que estás "ativo, produtivo e saudável" e que continuas a ter apreço pelo trabalho de reconstituição, preservação e divulgação das nossas memórias, enquanto ex-combatentes no TO da Guiné.

Sei que nunca te esqueces de nos mandar o cartanito de boas festas, e nomeadamente desde 2010, em que decidiste explorar outros caminhos da memória.  Desejo-te boas explorações, espero que estejas agora à altura do teu novo papel de mestre e de avô, e reitero o meu convite para continuares a publicar, no nosso blogue, os teus TPC [leia-se: dossiês...] sobre a nossa guerra e a nossa Guiné, sempre que achares oportuno e conveniente, ou te der a audade da região do Cacheu por onde andaste... Bons augúrios para 2014. Um alfabravo, Luís Graça.
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Nota do editor

(*) Vd. poste de 26 de julho 2013 > Guiné 63/74 - P11870: O que é feitio de ti, camarada ? (2): Afonso M. F. Sousa, residente em Maceda, Ovar, ex-fur mil, trms, CART 2412 (Bigene, Binta, Guidaje, Barro, 1968/70)

Guiné 63/74 - P12534: Fábricas de Soldados - Localidades e Unidades Militares do Exército por onde passámos (José Martins) (1): Introdução, Biografia, Índice das Unidades, Estruturas Militares, Órgãos de Comando e Número de Unidades mobilizadas

1. Mensagem do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 18 de Dezembro de 2013:

Boa tarde
Depois de "revisto e actualizado", remeto o texto que relembra as localidades e Unidades Militares que existiam nos anos de 1960/1974, tentando assim dar mais um contributo para a divulgação da nossa terra.

Para "facilitar" o trabalho dos editores, vai num unico ficheiro que, assim, pode ser dividido de acordo com as necessidades editoriais. 

Espero que ajude para "memória passada e futura"

Abraço
Zé Martins












(Continua)
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Nota do editor

Como reputamos de muito interesse o trabalho do nosso camarada José Martins, composto por 67 páginas, hoje começado a publicar, sugerimos a quem quiser fazer arquivo destes quadros que clique no botão direito do rato, e no menu escolha "Guardar imagem como..." uma vez que o que se publica são imagens no formato JPEG.

Carlos Vinhal

Guiné 63/74 - P12533: Roteiro de Bafatá, a doce, tranquila e bela princesa do Geba (Fernando Gouveia) (13): Foto aérea, nº 2 (Humberto Reis)

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Guiné > Zona leste < Região de Bafatá > Bafatá > c. 1969/71 > Foto nº 2 > Vista aérea, do álbum do fur mil op esp Humberto Reis, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71).

Foto aérea nº 2 (Humberto Reis) > Legendas de Fernando Gouveia

1 – Avenida principal e igreja [, em frente, o edifício da administração colonial e, mais acima, o hospital local].

2 – Início do caminho que levava à Mãe d’água e que era designado de “Sintra de Bafatá”, um lugar muito aprazível onde havia mesas para piqueniques.

3 – Parque infantil e estátua de Muzanty.

4 – Ancoradouro dos barcos que vinham de Bissau.

5 – Mercado.

6 – Piscina (meia vazia) e zona de apoio com bar.

7 – Ponte sobre a foz do rio Colufe [, afluente do Geba],  que já não existe.

8 – Ancoradouro das canoas dos pescadores.

Foto: © Humberto Reis (2006).Todos os direitos reservados [Edição: L.G.]


Legendas: © Fernando Gouveia (2013). Todos os direitos reservados.


1. Continuação da publicação do "roteiro de Bafatá", organizado pelo Fernando Gouveia [, ex-alf mil rec inf, Cmd Agr 2957, Bafatá, 1968/70; autor do romance Na Kontra Ka Kontra, Porto, edição de autor, 2011; arquiteto, residente no Porto; foto atual à direita]

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Guiné 63/74 - P12532: Parabéns a você (672): Carlos Marques Santos, ex-Fur Mil Art da CART 2339 (Guiné, 1968/69)

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Nota do editor

Último poste da série de 27 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12510: Parabéns a você (671): José Pedro Neves, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 4745 (Guiné, 1972/74)

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12531: Blogpoesia (364): Quem me dera que não ficasse tudo igual (Juvenal Amado)

1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 1 de Janeiro de 2014:

Luís, Carlos, Virginio, Magalhães e restante Tabanca Grande
Quando a minha filha era criança, eu ele e a minha mulher fomos a Espanha. Está claro que o assunto foi falado com antecedência, o que acabou por criar expectativas na menina quanto ao que era passar a fronteira.
Pensava ela que quando transpusesse a linha, tudo se modificaria por magia e nada seria igual ao que tínhamos deixado para trás.
Já muitos quilómetros andados para lá da fronteira pergunta ela "mas afinal quando chegamos a Espanha?"

Pois transpusemos esta noite mais uma fronteira no calendário e quem me dera que não ficasse tudo igual.
Quem é que não queria?

Um abraço
Juvenal Amado


ANO NOVO

Quem me dera acordar noutro dia,
não noutro ano.
Outra realidade
Longe abismo que nos cerca
Para que quero um ano novo
Onde tudo se repetirá de novo
Repetem-se as injustiças
As chacinas
As crianças soldado
Os Direitos Humanos calcados
Tecnologia?
Feiras de armamento
“Vejam esta bala que procura o alvo sozinha”
“Programa-se e mata, limpo,”
“Podem pagar mesmo em diamantes”
“Se não pode pagar agora paga quando chegar ao poder”
“É uma chatice lá não haver fábricas de armamento?
Hipocrisia e gestos educados!
Quanto custa o barril de petróleo?
Engelham o nariz como quem cheira peixe podre
Lampedusa, Palestina, Sudão ….?
Crescem os campos de refugiados
Morrem dos nossos excessos
Grandes discursos e nobres intenções
Palavras vazias que rapidamente perdem eco
Interesses escondidos
A escravatura do corpo e da mente
Tudo se repete num ciclo
E até a esperança que algo mude se repete.

Juvenal Amado
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Nota do editor

Último poste da série de 20 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12478: Blogpoesia (363): Cavador da alvorada... (J. L. Mendes Gomes, autor de "Baladas de Berlim")

Guiné 63/74 - P12530: Agenda cultural (299): Uma janela para o mundo lusófono: um olhar sobre a Guiné-Bissau, no mês de janeiro, na Biblioteca-Museu República e Resistência / Espaço Grandella, Lisboa... Destaque para: (i) Filme "A Batalha de Tabatô", de João Viana (dia 8); e (ii) Concerto de Música Tradicional com o nosso amigo Mamadu Baio (dia 29)


O programa é coordenado pela escritora Joana Ruas.  O nosso destaque vai para a intervenção do de dois amigos da nossa Tabanca Grande, o historiador Leopoldo Amado (dia 23) e o Mamadu Baio (dia 29). Oportunidade também para vere ou rever o filme de João Viana, "A Batalha de Tabatô" (dia 8).

Vídeo (2' 06''). Alojado em You Tube > SuperCamarimba...  Mamadu Baio, criador e lider da banda Super Camarimba, de Tabatô, região de Bafatá, Guiné-Bissau, executando o tema 2 do seu álbum de originais “Silá Djanhara”, gravado em 2011, nos estúdios do mítico Salif Keita, Bamako, Mali (Reproduzido com a devida vénia...).
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Nota do editor:

Último poste da série > 12 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12437: Agenda cultural (298): Convite para assistir à apresentação do livro "Olhos de Caçador", de António Brito, integrada na Tertúlia Fim do Império, dia 17 de Dezembro na Livraria-Galeria Municipal Verney/Colecção Neves de Sousa. Convite para a apresentação da edição especial da obra "Portugal e a Grande Guerra", coordenação de Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes, dia 18 de Dezembro nas instalações da Liga dos Combatentes

Guiné 63/74 - P12529: Manuscrito(s) (Luís Graça) (16): desejos

O desejo é um pudim instantâneo

Luís Graça

 Quando eu era puto sempre me ensinaram
o terrível poder do Desejo, com D grande:

 Diz três desejos e cala-te! 
Intimava-me o Brutamontes.

 Quero ser rei,
ter um exército invencível
e destruir todos os meus inimigos!
 

confessava eu, baixinho, aterrorizado,
no recreio da escola.

Cresci e perdi definitivamente a ilusão
de que um dia poderia ser Deus.
Omnipotente. 

Omnisciente. 
Omnipresente.
Nem sequer rei ou até general.

Sou simples soldado da própria minha guerra (existencial).
Em contrapartida, aprendi a conhecer (mal)
os quatro cavaleiros do apocalipse humano:
a estupidez, 

a arrogância, 
a ganância, 
a intolerância.

Quanto ao desejo, com d pequeno,
pu-lo no frigorífico, 

em caixinhas tupperware:
saúde, 

paz, 
amor, 
amizade, 
liberdade,
justiça,
dinheiro,
felicidade
Em doses generosas, fraternais.
Tudo pronto para ser exportado,
por terra, por mar ou by air.
Tudo pronto a ser usado
num próximo ensejo.

Mas o desejo tem um prazo 

de validade.
O desejo dá azo
a efeitos secundários e exige precauções,
antes de ser formulado.
Deve agitar-se, primeiro, antes de usar-se.
Nunca deve ser congelado, 

nem muito menos revalidado.
Em caso algum, deve ser sublimado.

Hoje o desejo é um pudim instantâneo
que se compra no hipermercado
e está sujeito a IVA 

e a controlo da qualidade.
Vem em dose individual
e o seu modo de administração é cutâneo.
Por mim, confesso, 

ao senhores do fascismo sanitário,
que sou um produtor artesanal
de desejos.
Que não estou homologado nem acreditado.
Que a minha produção é para autoconsumo,

meu e dos amigos.
E que às vezes tenho maus desejos.
E até maus pensamentos.

Alguns poderão ser  virtualmente criminosos, 
receio bem.
Como quando era puto, e queria ser rei,
e ter um exército invencível,
e matar o Brutamontes.



Hoje despeço-me do velho ano de 2013
e saúdo o novo ano de 2014.

Sei que é um mero truque de calendário.
Um dia sucede a outro.
Todavia, gostaria deveras 
de poder usar o terrível poder
do Desejo com D grande...
Mas tenho medo do risco totalitário.
Alguém disse que o desejo corrompe,
e que o desejo absoluto corrompe absolutamente.

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Nota do editor:

Último poste da série > 22 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12485: Manuscrito(s) (Luís Graça) (15): A minha quadra... natalícia: Q'remos pedir este ano / À Troika e ao Pai Natal / Que volte a ser soberano / O nosso querido Portugal


terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12528: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (17): Doença do sono: investigação sobre conhecimentos, atitudes e comportamentos (Luís Costa, Universidade de Coimbra)


A mosca tsé-tsé  (vocábulo que vem do banto), transmissora da Doença do Sono. Fonte: Wikipédia (reproduzida com a devida vénia...)


1. Do investigador da Universidade de Coimbra, o antrópologo Luís Costa, com datas de  3 e 4 do corente:


(i) Bom dia.

Sou investigador da universidade de Coimbra a realizar investigação sobre a doença do sono na Guiné no tempo colonial.

Pedia se tem conhecimento ou conhece alguém no seu circulo de antigos combatentes na Guiné (enfermeiros, médicos, ou outros militares) que pudessem falar sobre a doença, a Missão do Sono, e os serviços de saúde (militares e civis) na Guiné colonial.

Peço-Lhe AJUDA, para poder aceder ao testemunho importante de pessoas importante para a minha investigação.

Cumprimentos, Luís Costa


(ii) Obrigado pela Vossa ajuda.

Esta investigação é de cariz histórico/ antropológico, pelo que todas as informações são importantes.

Prof. Luis Graça, sabe de alguma documentação/ arquivo onde possa ter acesso a como eram os serviços de saúde no tempo da Guiné colonial?

Agradecia a divulgação no vosso blogue, pois talvez encontre pessoas que me possam dar informações preciosas.
Muito obrigado, Luis Costa

2. Respostas do nosso editor L.G.:

(i) Luís Costa: OK. Obrigado. Vou ver o que há (**)...Podemos fazer um apelo à malta do blogue. Em Bambadinca, havia a "Missão do Sono", desativada. Passei lá muitas noites... com os meus soldados africanos... Depois do ataque a Bambadinca, em 28/5/1969, a "Missão do Sono" (uma morança, no reordenamento de Bambadincazinho) passou a ser, de noite, guarnecida por um Grupo de Combate, funcionando como segurança imediata do quartel de Bambadinca (que ficava a menos de 1 km)... Um abraço. Luis

(ii) Luís: Eu nessa altura não estava... na saúde. Mas vamos fazer o nosso melhor para encontrar fotos e documentos que são relevantes para o seu trabalho ou deem algumas pistas... Para já fica a saber que havia em certas circunscrições e postos administrativos, no chão fula (caso de Bambadinca) "Missõesdo Sono" (... mas já desativadas quando eu lá cheguei, em Julho de 1969)... Os fulas, como sabe, são grandes criadores de gado...

Um abraço. Luis Graça

3. Comentário final de Luis Costa

Bom dia Prof. Luis,

Bambadinca deveria ser o caso de uma Tabanca-Enfermaria, como outras existentes na Guiné. No que diz respeito aos antigos militares, interessam-me muito especialmente questões como: 

(i) o que sabiam da doença quando partiam de Portugal? tinham alguma preparação prévia? (já houve um militar que me disse que eram todos vacinados contra a mosca tsétsé...) (***):

(ii)  representações, medos e receios da doença no terreno;

(iii) se alguém teve/ ou viu a experiência da doença, etc, etc...

Devo ir no próximo ano à Guiné fazer investigação no terreno e decerto a zona dos fulas e mandingas (Bafatá e Gabú) será uma das minhas atenções, não só por a doença atingir as pessoas, mas também os animais....

Numa investigação antropológica, são todas estas representações sociais e práticas culturais em torno da doença que me interessam.

Muito obrigado pela sua ajuda, Luis Costa

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Notas de leitura:

(*) Último poste da série > 11 de novembro de  2013 > Guiné 63/74 - P12277: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (16): Foto(s) do antigo edifício da Casa Gouveia, no Cacheu, precisa(m)-se... Agora em recuperação, nele será instalado o futuro Memorial da Escravatura... Cacheu foi também o berço do crioulo.

(**) Vd. postes de:

27 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12511: Notas de leitura (547): "Portugal em África", por Richard Pattee (Mário Beja Santos)

30 de junho de  2011 >  Guiné 63/74 - P8492: Doenças e outros problemas de saúde que nos afectavam (6): A Doença do Sono (Rui Silva)
(***) Para saber mais sobre a doença do sono, procurar aqui, no sítio do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, Universidade Nova de Lisboa

Guiné 63/74 - P12527: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (28): A TAP e a Guiné-Bissau ou... a Guiné "TAPdependente"





Guiné-Bissau > Bissau > Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira > 29 de fevereiro de 2008 > Chegada de um grupo de amigos da Guiné, que vieram participar no Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de Março de 2008). Na foto acima, o Pepito e o Carlos Silva. Na  foto anterior, a Alice Carneiro.  A TAP, companhia de bandeira portuguesa,  tem sido nestes anos todos, depois das independências das colónias portuguesas em África, um instrumento importante da lusofonia... E, seguramente, uma arma que a diplomacia portuguesa usa (mas de que não pode abusar)... A diáspora portuguesa estende-se por cerca de 200 países... (LG)

Fotos ( e legenda): © Luís Graça  (2008). Todos os direitos reservados.

1. Texto enviado, com data de ontem, pelo António  Rosinha, [, fur mil em Angola, 1961, foto à esquerda; topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, em 1979: ou, como ele gosta de dizer, colon, em Angola, de 1959 a 1974; cooperante na Guiné-Bissau, de 1979 a 1993]:

Assunto: A TAP e a Guiné-Bissau, ou a Guiné  "TAPdependente"


Com o fim do Império acabaram as Companhias de Navegação, a Colonial, a Nacional e a Sogeral (CUF), aqueles Vera Cruz, Império, Principe Perfeito, Ana Mafalda, enfim, aquele imaginário colonial que só podia existir com o tal Império.

Ora, se Salazar ao criar a TAP, foi a pensar no Império, porque o homem não ia investir em nada que não fosse bem justificado, porque a TAP resistiu ao fim do Império, ao contrário dos navios?

Sim, talvez sem Império não houvesse nunca TAP, porque Salazar era contra certas modernices e não tinha manias de grandezas.

Salazar era homem para mandar o Humberto Delgado, obreiro da TAP, trazer um foguetão da América, se Portugal tivesse uma colónia na Lua.

Com as colónias, Salazar era um "perdulário", e depois com Caetano também os melhores aviões do mercado a TAP adquiria.

Com a TAP, Portugal nunca até hoje virou as costas às ex-colónias, nem estas viraram as costas à antiga Metrópole.  De tal modo que no caso da Guiné a TAP está a ser motivo para uma guerra Portugal/Guiné, só porque em Lisboa o Governo acha que a Guiné ainda não manda na TAP, apesar dos "direitos adquiridos"  que a Guiné possa ter.

Salazar,  que sabe tudo, ou não tivesse a PIDE, não deve estar satisfeito com a suspensão dos voos Lisboa/Bissau. Sabe-se que,  já desde a independência, se a TAP hesitasse havia muitos guineenses e muitos vizinhos destes, que queriam a Air France a substituir a TAP.

E se hoje a Air France não estará muito interessada, é que por enquanto são necessários muitos aviões para transportar legionários por todo o lado onde se fala francês, onde está tudo numa roda-viva. Ele é cristão, ele é islão, é Lampeduza, é Ceuta e Cadiz e Grécia, e os guineenses que tenham juízo e sejam responsáveis, porque da Tuga, e da própria Europa que está mais virada para outros problemas, já pouco mais resta do que a sua querida TAP.

É que às tantas só lá vão com legionários estrangeiros (mas sem psico).

E a Guiné-Bissau sem TAP, que para a maioria dos guineenses não é apenas uma simples companhia de aviação, mas também um símbolo que muito os autonomiza e distingue dos "vizinhos-irmãos", que respeitem a sua Companhia de Aviação, porque quem fez esta, não faz mais.

Quando se diz e se lê constantemente quando da luta de libertação da Guiné que Amilcar Cabral, previa e predizia muitas coisas más que podiam ocorrer em África,  e na Guiné em particular, não passava pela cabeça dele nem de ninguem que uma suspensão da TAP Bissau/Lisboa fosse tão importante para a vida de um país.

E que, sem TAP,   pode alterar, qual nova independência, a vida total da Guiné-Bissau: no campo económico, socialmente, internacionalmente, culturalmente, e porque não, até no relacionamento tribal e colimiteiro (, tudo isto, fácil de explicar).

Ou não terá importância nenhuma?

Era melhor repor as ligações Lisboa/Bissau e acabar com os golpes e guerras internas. Guerras de kalash e catanas, mas também de feitiçarias.

E que os cristãos fiquem nas suas igrejas e muçulmanos nas suas mesquitas, e não façam como certos primos dos guineenses, que andam a "rezar" uns pelas almas dos outros.

Dizia o pessimista do Salazar que os africanos não estavam preparados para se governarem. Mas era só meia verdade, a Europa, velha e caduca e abandalhada,   é que preparou tudo mal e à pressa e,  até dos casos mais graves em África, nem será o caso da Guiné-Bissau.

Cumprimentos

Antº Rosinha

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Nota do editor:

Último poste da série > 10 de dezembro de  2013 > Guiné 63/74 - P12424: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (27): Mandela só houve um, infelizmente só um... Provavelmente o homem africano mais certo, no momento certo, no país do oiro...

Guiné 63/74 - P12526: Fichas de unidade (9): Companhia de Caçadores N.º 2724 (Guiné, 1970/1972)





1. Em mensagem do dia 17 de Dezembro de 2013, o nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), a pedido do nosso editor Luís Graça, enviou-nos a Ficha da CCAÇ 2724.




COMPANHIA DE CAÇADORES N.º 2724

Brazão ou Crachá da Companhia de Caçadores nº 2724
© Foto de José Casimiro Carvalho (2010) ¹

Mobilizada pelo Regimento de Infantaria nº 15, de Tomar e, sob o comando do Capitão de Infantaria José Pinto Correia de Azevedo, adoptou como Divisa Non Nobis

Embarca em 04 de Abril de 1970, desembarcando em Bissau em 11 de Abril de 1970.


Síntese da Actividade Operacional:

Realizam o treino de aperfeiçoamento operacional, entre 16 e 22 de Abril de 1970, em sobreposição com a Companhia de Caçadores n.º 2401. Após o treino de aperfeiçoamento, assume a responsabilidade do Sector de Buruntuma, com um grupo de combate instalado em Camajabá. Fica integrado no dispositivo do Batalhão de Artilharia n.º 2857 e, mais tarde, do Batalhão de Cavalaria n.º 2922.

É durante este período que, ARNALDO ANTÓNIO MORAIS, Soldado Condutor Auto Rodas NM 10105369, casado com Maria Ernestina Alves Morais, filho de João António Morais e Cremilde da Conceição Cepeda, natural de Nuzedo de Cima, freguesia de Tuízelo e concelho de Vinhais, tombou vítima de ferimentos em combate num ataque inimigo ao aquartelamento de Buruntuma, em 5 de Setembro de 1970, sendo inumado no Cemitério Paroquial de Salgueiros e Tuízelo.

É rendida, em 17 de Fevereiro de 1971 em Buruntuma, pela Companhia de Cavalaria n.º 1747, sendo transferida para Nova Lamego, para dar protecção aos trabalhos da asfaltagem da estrada que ligava esta localidade a Piche.

Brazão ou Crachá da Companhia de Caçadores n.º 2724 
© Foto da colecção de Carlos Coutinho

Porém, a 24 de Fevereiro de 1971, inicia a deslocação para Bissau, tendo os grupos de combate ficado adidos à Companhia de Caçadores n.º 2571, até à chegada de todos os efectivos, que se verificou a 12 de Março de 1971.

A Unidade é integrada no Comando de Bissau e, em 13 de Março de 1971 assume a responsabilidade do subsector de Brá, substituindo a Companhia de Caçadores n.º 3327. Destacou forças para Safim e João Landim.

De 24 de Março a 6 de Abril de 1971, destacou um pelotão para reforço da guarnição de Nhacra, e de 14 de Abril a 7 de Junho, destacou dois pelotões para os reordenamentos de Jugudul Com e Changue Bedeta.

É substituído em Brá pela Companhia de Caçadores n.º 2658, seguindo para Quinhamel, para render a Companhia de Caçadores n.º 2617, onde assume a responsabilidade do subsector, com destacamentos em Ponta Vicente da Mata e Ondame.

A 23 de Fevereiro de 1972 é rendida em Quinhamel pela Companhia de Caçadores n.º 2796, recolhendo a Bissau. Iniciou a viagem de regresso a 13 de Março de 1972

(História da Unidade - Caixa nº 85 – 2.ª Div/4.ª Secção, do AHM)


Brazão ou Crachá da Companhia de Caçadores nº 2724 
© Foto de José Casimiro Carvalho (2010) ¹


(1) - Fotos de José Casimiro de Carvalho publicadas no P6708 de 10 de Julho de 2010 que teve o seguinte comentário:

Galileu disse...
Camarada José Carvalho
Fiquei bastante satisfeito em ver que o emblema da CCac. N.º 2724 que ficou em Buruntuma, ainda se encontra em perfeitas condições, embora já não esteja no mesmo lugar em que o deixámos. O molde do emblema foi feito por mim, e construído por um camarada do meu abrigo.
Aproveito esta oportunidade para cumprimentar a população de Buruntuma e agradecer a boa forma como sempre me trataram.
Obrigado e felicidades para todos.
O ex-furriel Acácio Lobo
acacio.lobo@sapo.pt
Sábado, Janeiro 15, 2011 11:34:00 PM

18 de Dezembro de 2013
José Marcelino Martins
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Nota do editor

Último poste da série de 24 DE OUTUBRO DE 2010 > Guiné 63/74 – P7169: Fichas de Unidades (8): Batalhão de Caçadores N.º 4514/72 (Guiné, 1973/74) (José Martins)

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12525: Roteiro de Bafatá, a doce, tranquila e bela princesa do Geba (Fernando Gouveia) (12): Foto aérea, nº 1 (Humberto Reis)







Guiné > Zona leste < Região de Bafatá > Bafatá > c. 1969/71 > Foto  nº 1 > Vista aérea, do álbum do fur mil op esp Humberto Reis, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71).

Foto aérea nº 1 (Humberto Reis) > Legendas de Fernando Gouveia

1 – Esquadrão de Cavalaria.

2 – Comando de Agrupamento.

3 – Secção de Engenharia.

4 – Cemitério.

5 – Casa do Comandante do Esquadrão.

6 – Igreja na avenida principal.

7 – Fim da pista.

8 – Tabanca da Rocha.

9 – Casas ao longo da estrada para Bambadinca.


Foto: © Humberto Reis (2006).

Todos os direitos reservados. 

[Edição: L.G.]

Legendas: © Fernando Gouveia (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


1. Continuação da publicação do "roteiro de Bafatá", organizado pelo Fernando Gouveia [, ex-alf mil rec inf, Cmd Agr 2957, Bafatá, 1968/70; autor do romance Na Kontra Ka Kontra, Porto, edição de autor, 2011; arquiteto, residente no Porto; foto atual à esquerda]

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Guiné 63/74 - P12524: Os Nossos Regressos (29): Chegados a 2 de Abril de 1974, mal podíamos imaginar que a guerra estava a acabar (António Eduardo Ferreira)


1. Mensagem do nosso camarada António Eduardo Ferreira (ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493/BART 3873, MansamboFá Mandinga e Bissau, 1972/74) com data de 28 de Dezembro de 2013:

Amigo Carlos
Votos de boa saúde extensivos a todos os camaradas que passaram pela Guiné.

Hoje vou falar da viagem mais desejada, o regresso a casa.


Aqui estava encostado a uma papaeira, no local onde passei os últimos meses de comissão, COMBIS, faltavam poucos dias para regressar à metrópole, mas a incerteza quanto ao regresso era total, o tempo “normal” de comissão já há muito que terminara. Só no dia, e com o avião no ar, nos convencemos que era mesmo verdade, estávamos a deixar a guerra e a regressar a casa, eram cerca de dez horas locais quando embarcamos no aeroporto de Bissalanca.

Antes, tinha aproveitado para gastar o resto dos pesos que tinham sobrado, eram poucos, depois foi o tão desejado embarque.

Durante cerca de vinte minutos o avião esteve sujeito a uma turbulência nada agradável, mas pensar que aquela era a viagem que muitos de nós chegamos a pensar que poderíamos não chegar a fazer…
Depois desses minutos agitados, a que fomos sujeitos, o resto da viagem decorreu normalmente, na tarde desse dia “2 de Abril de 1974” o avião aterrava no Aeroporto da Portela com saída por Figo Maduro e, dali para o RAL 1, (creio que se chamava assim) onde fizemos o resto do espólio, depois foi o regresso à vida civil.

A guerra já não viria a durar muito tempo porque tinha acontecido já o 16 de Março e poucos dias depois, a 25 de Abril, aconteceu o movimento dos capitães.

Com tantas ocorrências, em tão pouco tempo, fiquei de algum modo confuso.
A grande preocupação, e que bastante me afligia, era pensar se o material de guerra faltava, particularmente aos que nos tinham ido render a Cobumba, como seria que conseguiam dar conta do “recado… assim como todos aqueles que estavam nas piores zonas de guerra, que eram muitas.
Politicamente, não tinha nenhum conhecimento daquilo que estava a acontecer, daí que enquanto a maioria das pessoas vivia intensamente em clima de festa, eu, só depois de saber que os combates na Guiné tinham terminado, fiquei mais tranquilo, porque até então passei alguns dias bastante perturbado.

Felizmente aquilo que mais me preocupava, não aconteceu. Outras situações aconteceram, de que muitos se deviam de envergonhar, mas a guerra é assim, todos saem a perder, só que uns mais que outros…

António Eduardo Ferreira
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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE JULHO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10169: Os Nossos Regressos (28): Gama Carvalho, 2ª C/BCAV 8323 (Piche, Buruntuma, Piche, 1973/74), autor do blogue Estrada Fora, surpreendido em Figo Maduro pelo ardina que vendia o jornal A Merda, em 11 de setembro de 1974...