segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12733: O Nosso Livro de Estilo (8): O que fazer com este blogue ? (Parte III): Joaquim Luís Fernandes (ex-alf mil, CCAÇ 3461 / BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973; e Depósito de Adidos, Brá, 1974)



Guiné > Região de Cacheu > Teixeira Pinto  > CCAÇ 3461 / BCAÇ 3863 (Teixeira Pinbto, 1973) > Visita de Acção Social e Psicológica em Caió, com o camarada tabanqueiro, alf mil médico Mário Bravo e outros camarada da CCaç 3461, alf mil  Moreira que estava “atabancado” em Carenque,  e o alf mil Teixeira,  da CCS, aquando da visita às ilhas de Jeta ou Peciche.

Foto (e legenda): © Joaquim Luís Fernandes (2013). Todos os direitos reservados
Joaquim Luís Fernandes, 
residente em Maceira, Leiria,  
técnico de desenho e projeto 
da indústria de moldes  para 
plásticos, tabanqueiro nº 621
1. Mensagem do nosso camarada Joaquim Luís Fernandes [ex-alf mil, CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973: e Depósito de Adidos, Brá, 1974]:

Data: 19 de Janeiro de 2014 às 02:54

Assunto: P12557- O Nosso Blogue em Números - Divagação -Proposta: A[ssociação] Tabanca Grande


Caro Camarada Luís Graça:

Insigne fundador, administrador, editor do Blogue, de grande sabedoria e mestria como animador e moderador da "comunidade" Tabanca Grande, seu grande e prestigiado Régulo.

Desculpa tantos atributos que te endereço, mas aceita-os como expressão sincera do meu apreço pelo trabalho que tens feito e continuas a desenvolver, tão bem assessorado pela equipa que te acompanha, da qual não posso deixar de referir o nome do Carlos Vinhal, que foi o meu apresentador à Tertúlia e me tem acolhido com grande simpatia e camaradagem. A minha saudação amiga e grata.

Vem esta mensagem na sequência do poste 12557 - O Nosso Blogue em Números - em que, na ocasião comentei, não encontrar palavras que exprimissem o que neles via. Agora, as que me ocorrem, são: Muita vida de muitas vidas.

Perante as dimensões que o Blogue alcançou, em dados, em informações e conhecimentos, na rede de relações, mas principalmente, na massa crítica que elas contêm, então e em jeito de brincadeira e como desafio para a celebração do 10º aniversário do Blogue, lancei a ideia de este poder vir a evoluir até à constituição de uma associação mais formal. Não explicitei o que estava a sugerir ou a pensar, nem manifestei grande convicção no que escrevi, mas não fui inocente e sabia bem que não era fácil e não bastava o que disse. Já tinha em mente esta mensagem.

Também não irei escrever agora tudo o que me vai na cabeça, nem isso interessa, mas sinto que devo transmitir mais do que disse e esperar ser compreendido, para que possa obter algum acolhimento e reflexão, de que aguardarei resultados.

Eu sei que o Blogue tem objetivos editoriais bem definidos, que vem cumprindo com muito mérito, alcançando bons resultados, e deles não proponho que se afaste ; Todos eles são bons e importantes. Sei também das 10 regras a respeitar, que se me afiguram equilibradas, de bom senso e necessárias. Os resultados falam por si.

Porém, dentro destas regras, poderá existir em algumas, uma certa elasticidade, (que já tenho verificado sem qualquer mal) que possa possibilitar dar origem a uma qualquer associação, filha do Blogue, que poderia até herdar o seu nome, Tabanca Grande. Seria constituída por elementos do Blogue, voluntários, ao jeito de outra associação sem fins lucrativos, de índole cultural e informativa, com intervenção ou participação nos média, criando opinião, participando de forma organizada na vida democrática, mas não se confundindo com os partidos. 

Sei que não estou a explicitar tudo o que penso e nem isso interessa agora. Os objetivos seriam: De forma simples e despretensiosa procurar pela sua ação, influenciar a Sociedade, as Organizações Políticas, os Órgãos do Poder, no sentido de obter para os ex-combatentes das Guerras Ultramarinas e em particular os da Guiné, algum reconhecimento público que tem faltado, assim como alcançar algumas condições favoráveis e justas, para a vida dos ex-combatentes ainda vivos.

Dou como exemplo: (i) a redução da idade da reforma;  (ii) apoio extraordinário na área da saúde; e (iii) mais reconhecimento público (e não só) para com os ex-combatentes da Guiné, que por lá ficaram abandonados, que serviram Portugal, lutando ao lado dos soldados da Metrópole e das Ilhas...

O campo de ação será muito mais vasto, mas não entrarei por agora em divagações,

Por fim, devo declarar, que também sou parte interessada. Veja-se o meu caso: farei este ano 63 anos, se Deus quiser. Faço descontos, para a então "Caixa de Previdência" e hoje "Segurança Social", ininterruptos, (exceptuando o tempo da tropa) desde 1968, (já lá vão 45 anos) e o meu horizonte de reforma está a ameaçar afastar-se para os 66 anos (se eu lá chegar). 

Como eu, quantos milhares de ex-combatentes haverá? Entretanto terei que continuar a competir, para sobreviver no mercado do trabalho, com jovens de 30, 40 anos. Coisa injusta para uns e para outros. É mau para o País e pior para mim, digo eu. Mas Que posso fazer?...

Agora alguns números para reflexão:

Dos sete camaradas que nos deixaram mais pobres no Blogue em 2013, um era de 1947, logo com 66 anos; quatro eram de 1948, com 65 anos; dois de 1950 com 63 anos. Média inferior a 65 anos. Mas mais: Tomando como referência as idade dos vinte e nove camaradas do Blogue que já partiram, com menos de 75 anos foram vinte e seis, com uma média de idades de 63,8 anos. Só três acima dos 75 anos. [Negritos e realce a amarelo: editores]

​Sei que estes números não têm valor estatístico do todo nacional, mas não deixam de ser uma amostragem e uma indicação que as mazelas que herdamos da guerra, fazem os seus estragos. Pergunto: Há estudos rigorosos sobre este tema que nos mostrem a quantas andamos? Se houver, tu saberás Luís, será uma da tuas especialidades! Ou estou enganado? Poderás partilhar essas informações com os mortais, que foram carne para canhão?

Presumo, que no nosso universo de ex-combatentes na Guiné, as estatísticas que têm justificado, com o aumento da esperança de vida, o aumento da idade das pensões e reformas, são uma balela e como tal, devem ser denunciadas e combatidas, reivindicando um ajustamento da Lei, que contemple esta situação especial, desfavorável para nós.

Caro camarada e amigo Luís Graça, se me excedi, desculpa o atrevimento. Eu sei, que tudo neste Blogue começou em ti e por ti tem vivido. Eu sou um pira, um quase nada nesta comunidade, com fraca participação e sem qualquer legitimidade de apropriação das suas potencialidades, o que aliás, não pretendo.

O conhecimento que fui adquirindo do Blogue e da tua grandeza de alma, deu-me a ousadia de sonhar. Eu sei sei que sou um sonhador e por vezes os pés descolam da terra. António Gedeão cantou: " O Sonho Comanda a Vida" e Sebastião da Gama escreveu " Pelo Sonho é que Vamos". Eu também quero deixar-me embalar em sonhos... de mais Verdade, mais Respeito, mais Justiça. mais Solidariedade, mais Amor....  

Mas irei com calma, mesmo continuando a sonhar.

Creio que transmiti a ideia. Se houver alguma dúvida, fico inteiramente ao dispor para esclarecer o que me for possível. Mas deixo tudo ao teu mais elevado critério e sem o mínimo de pressão. Faz desta mensagem o que considerares melhor e eu aceitarei qualquer desfecho, sem mágoa ou azedume. Só tenho que me penitenciar por ter sido tão longo e agradecer-te a paciência de me teres lido.
Aproveito para desejar-te boa saúde e expressar os meus votos, de que a intervenção cirúrgica que anunciaste para breve, seja bem sucedida, que tudo corra bem e fiques como novo e cheio de força, para muitos quilómetros neste nosso encantador Portugal.

Muito obrigado e um forte abraço
Joaquim Luís Fernandes

___________________

Nota do editor:

Postes desta série:

7 de dezembro de 2012 >  Guiné 63/74 - P10770: O Nosso livro de estilo (7): Cerca de 400 abreviaturas, siglas, acrónimos, expressões idiomáticas, gíria, calão, crioulo... Para rever, aumentar, melhorar...

20 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10409: O Nosso Livro de Estilo (6): O que fazer com este blogue ? (Parte II ): Depoimentos de A. Pires, C. Pinheiro, D. Guimarães, L. Ferreira, B. Santos, C. Rocha, F. Súcio, B. Sardinha , T. Mendonça e JERO

18 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10402: O Nosso Livro de Estilo (5): O que fazer com este blogue ? (Parte I) : Depoimentos de H. Cerqueira, L. Graça, A. Branquinho, J. Manuel Dinis, J. Mexia Alves, J. Amado, Manuel L. Sousa, José Martins, Hélder Sousa e Eduardo Estrela

15 de agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8675: O Nosso Livro de Estilo (4): O que nós (não) somos... Em dez pontos!


12 de agosto de  2011 >Guiné  63/74 - P8662: O Nosso Livro de  Estilo (2): Comentar  (nem sempre) é fácil...

22 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8588: O Nosso Livro de Estilo (1): Política editorial do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

Guiné 63/74 - P12732: (De)caras (14): A propósito da morte dos Três Majores, tema da acta do conselho de guerra do PAIGC, de 11 a 13/5/1970: Amílcar Cabral no seu melhor: pode ter sido um grande líder africano, não é definitivamente um humanista (António J. Pereira da Costa, cor art ref)

1. Mensagem do nosso camarada António J. Pereira da Costa  [alf art na CART 1692/BART 1914,Cacine, 1968/69; e cap art cmdt das CART 3494/BART 3873, XimeMansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74; hoje cor art reformado, foto á esquerda]:


Data: 13 de Fevereiro de 2014 às 22:27
Assunto: A Morte dos Majores


Boa noite, Camarada
Aqui vai um texto que me ocorreu na sequência da acta que o [Jorge] Picado divulgou.(*)

Peço desculpa, mas acho que o louvor permanente do PAIGC, dos seu líder e suas actuações não tem razão de ser. 

Como se dizia no nosso tempo: 
- Quem muito sabaicha, a lingerie lhe aparece.

É tempo de pôr alguns pontos nos ii e traços nos tt.

Um Ab.
António J. P. Costa



2. Conselho de Guerra do PAIGC: reuniões de 11-05-1970 a 13-05-1970 

A Morte dos Três Majores

por António J. Pereira da Costa
Começaria por assinalar que esta Acta, embora “informal”,  é uma fonte histórica de grande valor e autenticidade. É um “documento de trabalho” da organização do partido que, supostamente, seria depois passado a limpo e arquivado. Não é, portanto, um documento para influenciar o futuro investigador. 

O estilo da escrita e o vocabulário estão muito dentro da linha dos  revolucionários do tempo. Era o tempo da Guerra Fria e do conflito sino-soviético. Contudo, chamo a atenção para a pobreza dos textos, que podemos admitir seja expressão de uma aplicação “cega” do marxismo que se supunha teria de dar resultados automaticamente. 

É provável que a realidade não se conformasse com os métodos aplicados. Nesse caso, o problema era da [realidade], pois os “mestres” (não os teóricos) e o Partido é que tinham razão.

E as “massas”?  Bem, as massas só tinham que se conformar e seguir o apelo e as directivas do glorioso...

É sabido que, em todas as guerras – especialmente nas subversivas – qualquer das partes pretende sempre desequilibrar psicologicamente uma parte dos elementos da outra que, uma vez recebidos, por deserção ou captura, poderão ser apresentados como materializando uma vitória e que, se colaborarem, serão uma fonte muito considerável de informações. 

Será, portanto, abusivo partirmos da ideia de que se tratava de uma “missão de paz” aquela que os majores foram autorizados a levar a cabo. O risco era enorme e o inimigo, como vemos, desde os primeiros contactos, se apercebeu do que estava em marcha, simulou até onde entendeu conveniente e foi recolhendo informações e, quando julgou o momento oportuno, agiu… com grande violência.

Saliento que, no texto, não há a menor ponta de respeito pelos inimigos capturados nem se lamenta minimamente o fim que lhes foi dado. Não tenho mesmo grande dificuldade em ver, na morte que foi dada aos capturados, uma forte componente de racismo. Mas sou eu que sou adepto da teoria da conspiração… Era necessário dar uma lição aos “tugas” e mostrar a superioridade dos combatentes do partido.

Com este texto cai por terra a ideia de que os negociantes foram mortos porque não era possível transportá-los para outros locais. Com efeito, não estando sequer aflorada esta hipótese, pelo menos no documento escrito, podemos concluir que o assassinato foi friamente planeado. Havia a possibilidade de os negociantes serem capturados e transportados nas próprias viaturas até onde o trânsito automóvel fosse possível e o PAIGC sabia que a actividade das NT era reduzida ou nula pelo que poderia em poucas horas colocá-los no Senegal e, daí na Guiné-Conacry, cujas autoridades lhe eram claramente mais favoráveis.

Reparem na barbaridade do assassinato! Poderiam ter sido simplesmente liquidados a tiro, mas o recurso a catanas confirma a ideia de que se pretendia “dar uma lição”… aos “tugas”

Neste ponto do comentário à acta, gostaria de salientar a forma “carinhosa” como os dirigentes do PAIGC nos tratavam: TUGAS! Claro que estavam no seu direito. Na guerra – mesmo fenómeno sociológico – é assim. Por isso mesmo, acho que não devemos considerar esta forma de tratamento de que os portugueses são alvo, ainda hoje, como algo de que possamos orgulhar-nos ou achar divertido ou até curioso.

Amílcar Cabral é manhoso na maneira como se dirige aos seus, enaltecendo a vitória que acabavam de obter e os louros que o movimento pretendia tirar dela, a nível local e até internacional. Não creio que assim fosse. Os “aliados” suecos do PAIGC não ficariam muito agradados se soubessem do sucedido, e os soviéticos não teriam muitos problemas com isso e não lhe dariam importância especial. Não era uma questão importante para a obtenção dos objectivos que perseguiam. Basta ter em conta os diferentes tipos de apoio que cada um prestava.

Amílcar enaltece a superioridade moral e a clarividência dos seus. Por isso, os tugas não “conseguiam comprar a n[ossa] gente”. Era necessário manter a liderança de forma incontestada e o melhor era alimentar o ego dos subordinados. 

Como é óbvio, não é esta a “1.ª vez que numa luta de libertação nacional se mata[m] assim 3 majores, 3 oficiais superiores” mas o secretário-geral di-lo para enaltecer a acção dos seus subordinados, chegando ao ponto de falar “nas condições da n[ossa] luta”, (neste ponto teve um rebate e reduziu-se à sua insignificância) fazendo equivaler o “facto à morte de generais…“.

Chamo também a atenção para a complexa organização do PAIGC, enunciada no discurso do secretário-geral, o que certamente é indício de uma malha de organização que visava não tanto uma melhor acção na luta, mas antes um controlo dos responsáveis pelos diferentes organismos do partido (embora todos fidelíssimos e muito atentos, como ficou demonstrado). O futuro confirmou que não era bem assim…

E que dizer da leitura das cartas escritas aos responsáveis do partido? Estamos perante um simples acto político ou até administrativo? Não sei até ponto é que o Amílcar não estaria a pretender tirar dividendos dentro do partido para aumentar a sua força e o controlo dentro dele. Por mim creio que estamos perante um acto de vingança, senão de sadismo ou, pior do que isso, de um “padrinho” que amedronta os outros elementos da “família”..


Foto do secretário geral do PAIGC, incluída em O Nosso Livro de Leitura da 2ª Classe, editado pelos Serviços de Instrução do PAIGC - Regiões Libertadas da Guiné (sic). Tem o seguinte copyright: © 1970 PAIGC - Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde. Sede: Bissau (sic)... Aprimeira edição teve uma tiragem de 25 mil exemplares, tendo sido impresso em Upsala, Suécia, em 1970, por Tofters/Wretmans Boktryckeri AB.

Creio que ficam agora provadas duas coisas.

Primeiro: O PAIGC era um partido guerrilheiro,  igual a tantos outros,  e que fazia a guerrilha com os mesmos escrúpulos de todos os outros. Não se vislumbra aqui nada que o torne melhor ou mais respeitável do que os outros.

Segundo: Amílcar Cabral, como chefe guerrilheiro, não tem nada que o distinga de tantos outros líderes africanos do seu tempo. E não adianta recorrer à velha máxima de que “a sua luta era contra o colonialismo português e não contra o povo português”.

Por último, quero referir que, durante a guerra na Guiné, não tenho conhecimento de que algum guerrilheiro capturado tenha sido morto à catanada, quer fosse soldado, major ou mesmo general. Sabemos hoje que Cabral era um paisano, manobrando os combatentes, independentemente dos postos militares que o PAIGC talvez não tivesse, recorrendo sistematicamente à atribuição de responsabilidade aos “camaradas”, segundo a fidelidade ao partido e resultados obtidos.

Uma coisa é certa: podemos aceitá-lo, mas, por este procedimento está inviabilizada a possibilidade de o considerarmos um humanista. (**)

_____________

Notas do editor:


(**) Último poste da série 21 de março de 2013 Guiné 63/74 - P11288: (De) caras (13): Guerra Ribeiro, natural de Bragança: de administrador colonial no tempo do Schulz a intendente no tempo de Spínola (Paulo Santiago / Cherno Baldé / António Rosinha)

Guiné 63/74 - P12731: Convívios (561): Dia do Combatente de Gondomar, sábado 1 de Março de 2014, em Fânzeres

C O N V I T E

DIA DO COMBATENTE DE GONDOMAR

SÁBADO, 1 DE MARÇO DE 2014

____________

Nota do editor

Último poste da série de 16 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12728: Convívios (560): VIII Almoço de confraternização de ex-Combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos, dia 1 de Março de 2014, em Leça da Palmeira

Guiné 63/74 - P12730: Notas de leitura (564): "Murmúrios do vento", da autoria do capitão Valdemar Aveiro, 3º livro de uma trilogia sobre a epopeia da pesca do bacalhau, que chegou a ser alternativa à guerra colonial (Prefácio de José António Paradela, arq) (Parte II)



1. Continuação da publicação do prefácio do José António Paradela ao livro de Valdemar Aveiro, "Murmúrios do vento: recordações da pesca do bacalhau" [ Lisboa: Editorial Futura, 2012, 223 pp + fotos; capa: Sofia Ferreira de Lima, Âncora Editora; reproduzida à direita, com a devida vénia].


Prefácio, por José António Paradela, Arquiteto

[por cortesia do prefaciador e do autor da obra, meus amigos de Ílhavo]

(...)

Tive oportunidade de apresentar o segundo livro com um texto até hoje inédito e que me parece fazer todo o sentido deixá-lo aqui, porque este livro é apenas a cúpula do edifício que o autor agora deu por acabado.  Não vai pois a História ficar roubada da sua versão relatada na primeira pessoa. Daí a importância destes livros.

“Caro Valdemar:

Passados quase 50 anos, talvez, como muitos de nós, eu tivesse matéria para contar algumas histórias, mas falta-me o engenho e sobretudo a tua aguda memória, capaz de gravar imagens a fogo no leito do tempo.

Leio novamente as tuas histórias e gosto sempre mais.  Isto só me acontece com certos livros, mas nem sempre pelos mesmos motivos.  Estou a lê-las e a recordar-me de Alain Gerbault ( À la Porsuite du Soleil ), e de Hemingway (O Velho e o Mar), mas sobretudo de Melville de(Moby Dick).


O barco de que falas, o teu Coimbra, já não é de madeira, nem os cabos são de cânhamo, e a baleia tem agora a dimensão dos labirínticos campos de gelo flutuante.  Mas o alento que te atravessa a alma é da mesma natureza, agora consubstanciado na caça ao cardume viscoso e fugaz sob o gelo.

Estas circunstâncias são para ti um apelo, um desafio à aventura, à vitória da descoberta, granjeada num segundo fôlego, ou mesmo num terceiro, quando os outros já ficavam abaixo da linha do horizonte, confundidos com a névoa.




Um das fotos que ilustra o livro: o navio "Coimbra", arrastão da Empresa de Pesca de S. Jacinto. Foi o último navio que o Valdemar Aveiro comandou, antes de se reformar da vida do mar. Continua, contudo ligado a esta empresa armadora, agora como administrador. Nasceu em Ílhavo, e vai fazer 80 anos no próximo mês de dezembro. (Reproduzido do livro, com a devida vénia...).

Descobriste e ensaiaste os mapas do comportamento da manta gelada, para evitares o seu abraço fatal. Mobilizaste os marinheiros – os rapazes, como lhe chamas, para o festim opulento corporizado na sacada de peixe de braço dado com o navio, esse saco-prenúncio do pão para os que em terra esperavam.

Não foste, e ainda bem, o capitão Ahab de Melville, ou o Santiago do Hemingway, mas a associação é inevitável.  Trata-se de vontade em estado puro, de maratonas diariamente repetidas, no afã de levares à terra a mensagem da vitória: Ganhámos! Como há 2500 anos na Grécia. Os homens mudam pouco!

Estamos perante um livro de prodigioso apelo à memória.

À memória do tempo vivido por entre aventuras e histórias, que por vezes assume um tom narrativo confessional, para reconstituir um passado feito de retratos minuciosos de seres que existiram (muitos existem ainda felizmente) e que marcaram o teu trajeto, quase sempre sobre as águas, que do planeta são ainda a parte incógnita.

Não falo dos peixes e da sua geografia, mas dos homens que as habitaram, estes de quem tu falas e que agora convocas a sair do esquecimento.  São histórias assumidas conscientemente como um ajuste de contas contigo mesmo e com aqueles que contigo andaram ou te cruzaram a rota.

O que afirmas, na singularidade e sinceridade da tua escrita, é o tempo em que viveste outro tempo, marcado pelos amigos, ou mesmo por aqueles que contigo se confrontaram. E também a falta que isso agora te faz. 


Outra das fotos que ilustra o livro: (Reproduzida aqui com a devida vénia...).



Paciência, meu amigo, isso é a vida, que faz de cada um de nós uma narrativa única, marcada pela força dos companheiros de aventura e que dentro de nós se arvoram ainda como cínicos que ficaram para nos invectivar e evocar esse tempo de esperanças, amores e desilusões.


Cap Valdemar Aveiro

Um tempo de outrora, mas também de hoje, porque está dentro de nós.

Este livro é o livro que faltava…  

Falo do assunto que coloquei como frontispício deste texto: O esquecimento.  A História com agá grande tem sempre os seus sacerdotes, que vasculham bibliotecas e alinham factos inventando elos de ligação quando necessário. É útil mas insuficiente.

Walter Benjamim, filósofo maldito agora recuperado, desconfiado da historiografia oficial, incitava a “escovar a história a contra pelo”. Para ele o perigo estava no esquecimento, no silenciamento da memória.  Dizia ele: “Toda a imagem do passado… corre o risco de desaparecer com cada instante presente que nela não se reconheceu”.

O teu livro, os teus livros melhor dizendo, porque para mim podiam ser juntos num único, escovam a história a contra pelo.  Haverá quem faça a “história oficial” da Faina Maior, mas é necessário buscarmos o que nela foi esquecido ou abafado, isto é, o que não existe nos arquivos. Os vestígios que o tempo sufocou, as personagens e os episódios que foram ou não chegaram a ser mesmo, colocados nas notas de rodapé dos historiadores oficiais.

O teu livro tem também esse mérito: não deixa silenciar, e regista de modo vivíssimo e rigoroso as ligações orgânicas dos homens – com nome e tudo como tu fazes questão de escrever – aos seus instrumentos e às suas palavras, essas que te obrigaram a fazer um glossário. (Podes acrescentar nesse glossário: “camisolinha interior = copo de bagaço”).

A compreensão histórica de determinados contextos sociais passa obrigatoriamente por aqui:

Pelas ligações estabelecidas entre os homens e os seus instrumentos (em que a linguagem é seguramente o mais importante), e até pelos copos, naturalmente… Lembro-me de Pessoa, e sobretudo de Mussorsky, ardido no álcool, a legar-nos música imortal.

Hoje, que a Internet comporta e transporta milhões de histórias, podemos ser levados a pensar que o problema já não existe, esquecendo que alguém terá de as contar.  Só que não basta contá-las.  E é neste ato de contar, que acompanha os humanos desde os primórdios, neste incontornável filtro da inteligência e do “coração”, que reside a pedra filosofal capaz de transformar uma narrativa banal numa obra de arte viva e perene como tu fizeste para nosso encanto.

Não relataste apenas histórias de uma vida, não personalizaste o navio como já vi, fazendo-o arfar como um animal no esforço da corrida. Ou, como em Hemingway, plasmando no peixe a ansiedade do homem.  Contextualizaste um mundo de relações humanas entre o povo flutuante e errático da pesca do Atlântico Norte, cuja aventura cairia minorada se a não contasses.  E o modo como o fizeste entra pelos domínios da grande arte de narrar.

Para terminar, porque o importante mesmo é ler os teus livros, dir-te-ei que – ainda que esta seja apenas a tua versão dos factos – ela não deixa de ser menos verdadeira.  E é uma parte fundamental da História, doa a quem doer...

Como dizia um combatente da guerra civil espanhola ao relatar a sua experiência:  “… no sé yo cuanto le puede importar a usted ésto que le estou diciendo, no sé si esto le puede importar a alguièn, porque estas cosas no las cuentan los libros, esto no sale nunca en la historia, pero sabe lo que lo digo? Esta es mi verdad”.


Esta é a tua verdade, e através dela resgataste do esquecimento, todos os que convocaste, e através deles todos os outros.

Muitos recuarão ao centro de onde partia o tempo, onde os minutos eram iguais à eternidade, ali, onde os teus livros, de páginas já amareladas continuarão a ensinar aos homens o que foi aquela vida!“

Julho de 2012

José António Paradela, arquiteto

[, natural de Ílhavo; foto à direita; Costa Nova,
agosto de 2007; foto de L.G.]






Dedicatória ao autor, antigo comandante do navio Coimbra aos pescadores e marinheiros que com ele trabalharam ao longo de uma vida

________________

Guiné 63/74 - P12729: Parabéns a você (693): António Carvalho, ex-Fur Mil Enf da CART 6250 (Guiné, 1972/74) e Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 1426 (Guiné, 1965/67)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 16 de Fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12724: Parabéns a você (692): António Eduardo Carvalho, ex-Cap Mil da CCAÇ 3 e CCAÇ 19 (Guiné, 1974)

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12728: Convívios (560): VIII Almoço de confraternização de ex-Combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos, dia 1 de Março de 2014, em Leça da Palmeira



VAI-SE LEVAR A EFEITO NO PRÓXIMO DIA 1 DE MARÇO DE 2014, EM LEÇA DA PALMEIRA, O VIII ALMOÇO/CONVÍVIO DOS EX-COMBATENTES DA GUINÉ DO CONCELHO DE MATOSINHOS

Como vai sendo hábito, as inscrições estão abertas também aos nossos camaradas ex-combatentes da Guiné dos concelhos limítrofes.
De salientar que este ano, para que se inicie uma aproximação entre todos os ex-combatentes do nosso Concelho, as inscrições são abertas aos três teatros de operações: Angola, Guiné e Moçambique.
Assim, receberemos com prazer todos os nossos conterrâneos que combateram em África na Guerra do Ultramar que queiram confraternizar connosco.

O programa terá este alinhamento:

11h30 - Concentração do pessoal junto à marginal da Praia de Leça, onde se fará a foto de família.

12h00 - Missa de sufrágio na Capela do Sagrado Coração de Jesus, mais conhecida por Capela do Ruas, sita na Rua António Nobre, pelos camaradas caídos em campanha e pelos que, regressados vivos e sãos, ao longo da vida nos foram deixando.

13h00 - Almoço no Restaurante Luso-Brasileiro, sito na Trav da Agra.
Custo do almoço - 19 €uros.

Passa palavra e inscreve-te

Os organizadores do Encontro
Ribeiro Agostinho
José Oliveira
António Maria
Abel Santos
Carlos Vinhal
____________

Nota do editor

Último poste da série de 7 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12691: Convivios (559): Tabanca do Centro, Leiria, Monte Real, 31 de janeiro de 2014: 4º aniversário, 33º encontro, 80 convivas: um caso de sucesso, um futuro "case study" a ser seguido pelas academias militares de todo o mundo (Miguel Pessoa / Luís Graça)

Guiné 63/74 - P12727: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (81): António Medina, natural da ilha de Santo Antão, Cabo Verde, foi fur mil da CART 527 (Teixeira Pinto, 1963/65) e vive hoje nos EUA, onde descobriu o nosso blogue




Foto (e legenda): © Augusto Silva Santos (2012). Todos os direitos reservados


1. Mensagem de hoje, do novo membro da Tabanca Grande, António Medina, que vive nos EUA, e que foi fur mil da CART 527 (Teixeira Pinto, 1963/65):

Amigo e camarada Graça:

Tive o interesse de ler o que a meu respeito foi colocado no Blogue mas deparei com um pequeno erro que, provavelmente, será facil de se corrigir. É que não nasci na Ilha do Fogo mas sim a minha esposa, sou natural da Ilha de Santo Antão, na antiga Vila da Ribeira Grande, tendo nascido a 26 de Setembro de 1939. Se ainda chego a tempo gostaria de ter a correcção feita.

Tenho muitas histórias que oportunamente irei contar, dessa guerra inútil e não só, da minha vida civil com a continuidade em Bissau, na Guiné como bancário.

Gostei da vossa composição do Blogue e é louvável a vossa paciência e eficiência em nos assistir para que o nosso sacrificio fique para a eternidade.

 Muito obrigado, camaradas.

A todos um grande abraço deste vosso


António Medina

_____________

Nota do editor:

Guiné 63/74 - P12726: Tabanca Grande (428): Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Os Lacraus (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70), grã-tabanqueiro nº 648



Guiné > Zona leste > Contuboel > Centro de Instrução Militar > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > O fur mil Valdemar Queiroz



O Valdemar Queirioz, foto atual



T/T Timor > 1969 > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > "Da esquerda para a direita, o Pechincha, o Queiroz e Duarte"



Guiné > Zona leste > Contuboel > Centro de Instrução Militar > CART 2479 / CART 11 (1969/70)  > O fur mil Queiroz, com os jovens recrutas Cherno, Sori e Umaru.


Fotos (e legendas): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complemenetar: L.G.]


1. Mensagem de Valdemar Queiroz, com data de 9 do corrente:


Ora viva, caro Luís Graça!

Eu sou o ex-Furriel Mil Valdemar Queiroz, da CART 2479 / CART 11, "Os Lacraus" (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá,Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70).

Tenho acompanhado a Tabanca Grande desde que o Abílio Duarte entrou nela,  o que me deixou cheio de querer, também, ser um Tabanqueiro,

O que será feito do Cândido Cunha ?  Wntramos prá tropa em Santarém (10/07/67) e na EPC onde  até os ilhós das botas por onde passavam os atacadores tinham que ser areados!

Faz este mês 45 anos, em 18/02/69, da partida da rapaziada prá Guiné.
Em anexo um texto, despretensioso e como eu vi aquele tempo.

Noutro e-mail que, depois vou enviar, vão umas fotos daqueles tempos.



2. Comentário de L.G. [, ex-fur mil ap armas pes inf, CCAÇ 2590, Contuboel, jun/jul 1969, na foto,  à esquerda, com o Renato Monteiro, passeando de piroga no Rio Geba]:

Caro Queiroz, estivemos juntos em Contuboel, desde 2 de junho a 18 de julho de 1969 (e não erro), Eu fazia parte da CCAÇ 2590, futura CCAÇ 12 (colocada depois no setor L1, Bambadinca, onde fizemos a comissão, como unidade de intervenção.

Não me levas a mal se eu te disser que, pelo teu nome, já não ia lá... Com as fotos de Contuboel, acende-se um luzinha ao fundo do túnel... Da foto que me envias com três jovens recrutas, o Umaro Baldé, o mais puto de todos, reconheço-o de imediato. Não devia ter mais do que 16 anos. Fumava cachimbo para passar por "homem grande"... Não sei como é que ele - e outros, que eram ainda crianças! - passaram pelo "crivo" da tropa... O Cherno e o Sori também, podem ter ido parar à minha CCAÇ 12, mas não tenho a certeza...

Tivemos, na 3ª secção (fur mil José Sousa Vieira), do  3º Gr Comb (alf mil Abel Maria Rodrigues), o soldado 82109669 Cherno Baldé, de etnia fula... Era municiador da  Metr Lig HK 21m e o Sold 82109269,  Sori Jau, também fula, apontador de Dilagrama.

Também tivemos, na 1ª secção (fur mil Joaquim Augusto Matos Fernandes), do 4º Gr Comb (alf mil José António G. Rodrigues, já falecido), o Sold 82115269 Cherno Baldé, fula, ap Metr Lig HK 21.

O Sold 82115869 Umarú Baldé (Ap Mort 60), fula (já falecido, depois de viver na Amadora), pertencia ao 4º Gr Comb, 2ª secção (fur mil António Fernando R. Marques),

Na 3ª secção do 4º Gr Comb, havia um outro Sori Baldé, fula, Sold 82111069...

De qualquer modo, querido camarada de Contuboel, deste a recruta aos nossos 100 soldados do recrutamento local, oriundo dos regulados de Badora e de Cossé, que passaram depois para a CCAÇ 2590/CCAÇ 12. Fomos nós que lhes demos a instrução de especialidade e a IAO.

É com enorme alegria que te recebo na Tabanca Grande,  tão grande que cabemos cá todos, os camaradas que passaram pela Guiné desde 1961 até 1974, e que estiveram no noete e no sul, no leste  e no oeste.  Da tua companhia cá temos, pelo menos, o Renato Monteiro e o Abílio Duarte, dois nomes que me vêm logo à memória... Mas também o António Baldé, 1º cabo, fula, que é capaz de ser ainda do teu tempo... e que é natural de Contuboel! (É é agora meu vizinho... e "compadre", já que somos "padrinhos" da sua filha, a Alicinha do Cantanhez)... E ainda outros que passaram pela CART 11, mais tarde CCAÇ 11...

Valdemar, conheces as "regras do jogo" do nosso blogue... Vamos de seguida publicar o texto e as fotos  que mandaste.  Passas a ser o grã-tabanqueiro nº 648, e a ter direito a sentares-te sob o nosso poilão, mágico, fraternal e protetor. Manda também, ao Carlos Vinhal, editor de serviço 24 horas por dia, o teu contacto telefónico (telemóvel ou telefone fixo, só para uso interno, não devendo ser divulgado no blogue, a menos que autorizes).
______________

Nota do editor:

Último poste da série > 15 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12723: Tabanca Grande (427): António Cândido da Silva Medina, ex-Fur Mil Inf da CART 527 (Teixeira Pinto e Pelundo, 1963/65)

Guiné 63/74 - P12725: Notas de leitura (563): "Murmúrios do vento", da autoria do cap Valdemar Aveiro, o 3º livro de um trilogia sobre a epopeia da pesca do bacalhau, que chegou a ser alternativa à guerra colonial (Prefácio de José António Paradela, arq) (Parte I)


Capa do livro de Valdemar Aveiro: "Murmúrios do vento: recordações da pesca do bacalhau" [ Lisboa: Editorial Futura, 2012, 223 pp + fotos; capa: Sofia Ferreira de Lima, Âncora Editora; reproduzida com a devida vénia].




Dedicatória autografada ao editor do blogue,  Luís Graça






Nota biográfica sobre o autor, o capitão Valdemar Aveiro, nascido em 1934, em Ílhavo.  Cortesia do autor e do editor.


Índice da obra



PREFÁCIO, por José António Paradela, Arquiteto [natural de Ílhavo, e meu grande amigo]

[por cortesia do prefaciador e do autor da obra, meus amigos de Ílhavo]


“…E dentro de uma geração quem é que se lembrará disto?  A menos que fique escrito, tudo se perderá no nada.”  (Valdemar Aveiro)


Esta reflexão, respigada do autor, confronta-nos por um lado com o risco de esquecimento da História, reagindo saudavelmente por outro, a essa entropia; à mudez que muitas vezes se segue às vivências cuja violência assume uma dimensão desmedida.

Não é por acaso que só agora, ao fim de mais de três décadas, haja na sociedade portuguesa coragem para contar as histórias que se passaram na segunda metade do século vinte, por aqueles que efetivamente as viveram.  Sejam as da guerra colonial, sejam as dessa outra guerra que foi a não menos violenta, porque psicologicamente castradora, da pesca do bacalhau que, ironicamente, chegou a ser alternativa legal à guerra de África. 

[Negritos e sublinhados de L.G. Vd. este tópico, a pesca do bacalhau como alternativa à guerra colonial, vd. aqui o respetivo marcador.]

Na verdade quando os acontecimentos superam a capacidade de assimilação do ser humano, este têm de se proteger criando mecanismos de defesa contra o excesso de estímulos de sinal negativo, gerados pelas condições adversas que obrigatoriamente têm de enfrentar.  No caso de alguns acontecimentos traumáticos, esse escudo de proteção é porém insuficiente, e deixa marcas profundas que impossibilitam qualquer verbalização.

Tive em casa um exemplo disso: Gostando de escrever histórias nos últimos anos da sua vida, o meu pai nunca relatou, salvo um ou outro episódio da juventude, os mais amargos momentos que passou ao longo de uma vida de 50 anos no mar, embarcado em navios por vezes decrépitos, onde esteve em risco de naufragar várias vezes.

Mas felizmente, não é esse o caso do Capitão Valdemar Aveiro, que publica agora o seu terceiro livro (*), o último de um tríptico magistral, contado quase sempre na primeira pessoa, composto de tábuas pintadas de saborosa e colorida literatura.  Essas tábuas são narrativas que formam, sem dúvida, o mais completo políptico sobre a gesta incomensurável da pesca do bacalhau escrita até hoje por quem, na verdade, a viveu. 

Outros o têm feito, mas quase sempre como espectadores privilegiados, como Bernardo Santareno, ou Alan Villiers, por exemplo.

Os narradores gostam de começar as histórias com uma descrição das circunstâncias em que foram informados dos factos, a menos que essas histórias se refiram a experiências autobiográficas.  É isso que acontece nestes livros de Valdemar Aveiro, permitindo-lhe imprimir a sua marca nas narrativas, como o oleiro na argila do vaso, recheando-as com um cunho de verdade, de saudade, de solidariedade... falando em tons sempre adequados à natureza de cada estória.

Este, é o seu Terceiro Livro, como diz o autor, mas é nele que se encontra o alfa e o ómega desta soberba trilogia:  No começo, o retrato do autor enquanto jovem, abrindo as pétalas da vida no despontar da manhã que o traria até estas estórias.  No final, a homenagem serena e plena de gratidão àqueles em cujos ombros soube apoiar-se, e que o ajudaram a crescer nos princípios da verticalidade que lhe permitiram estar naquela vida, maior entre os maiores, enfrentando temporais de inveja e mesquinhez, mais traiçoeiros que a ventania no oceano, notavelmente relatadas neste último episódio.

Neste livro, e no espaço intermédio entre a primeira e a última narrativas, outros episódios se vêm somar ao acervo contido nos livros anteriores, pejados da mesma graça, e aguçada escrita, abundante de termos por vezes estranhos, apelando à consulta do glossário.

(Continua) (**)

____________

Guiné 63/74 - P12724: Parabéns a você (692): António Eduardo Carvalho, ex-Cap Mil da CCAÇ 3 e CCAÇ 19 (Guiné, 1974)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 14 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12715: Parabéns a você (691): Senhora Dona Clara Schwarz, Grã-Tabanqueira, mãe do nosso amigo Pepito, que a partir de hoje fica a um pequeno passo do seu centenário

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12723: Tabanca Grande (427): António Cândido da Silva Medina, ex-Fur Mil Inf da CART 527 (Teixeira Pinto e Pelundo, 1963/65)

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano António Cândido da Silva Medina, ex-Fur Mil Inf da CART 527, Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65, com data de 6 de Fevereiro de 2014:

Olá camarada
Navegando pela Net deparei com o teu blogue que me chamou a atenção visto ter sido Furriel Miliciano pertencente à Companhia de Artilharia 527, sediada em Teixeira Pinto / Guiné, de 1963 a 1965.
Estive também nos destacamentos de Caió, Cacheu, Pelundo e Jolmete.
Pertencíamos ao Batalhão de Bula sob o comando do TCor. Hélio Felgas e participámos em diversas operações em Binar, Bissorã, etc.

Será que me poderei inscrever no teu blogue?
António C. Medina


2. No mesmo dia foi enviada esta mensagem ao António Medina:

Caro camarada Medina:

Muito obrigado pelo teu contacto.
Desculpa o tratamento por tu, mas é uma boa norma que seguimos na tertúlia para que não haja distinção entre idades, antigos postos militares, habilitações literárias, profissão, etc.

Receber-te-emos com todo o prazer na tertúlia. Para tal, além do posto que já sabemos, queríamos a tua especialidade e receber as duas fotos da praxe, uma do teu tempo de Guiné e outra actual, se possível tipo passe, se não umas que possamos transformar.

Poderás em jeito de apresentação, falar de ti ou contar uma pequena história. Posteriormente poderás colaborar no Blogue enviando fotos (com legendas) e contando as tuas memórias do início da guerra na Guiné, na qual foste protagonista.

Qualquer dúvida que tenhas é só perguntar que nós aqui estamos para ajudar.

Ao teu dispor os editores:
Luís Graça - luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com
Carlos Vinhal - carlos.vinhal@gmail.com
Eduardo Magalhães - magalhaesribeiro04@gmail.com

Ficamos à espera das tuas próximas notícias.
Abraço
Carlos Vinhal


3. Ainda no mesmo dia recebemos esta mensagem:

Olá Vinhal:

Para já os meus agradecimentos em me aceitarem na tertúlia.
Seguirei as instruções para que de facto possa ser admitido.

Sou de Infantaria com a especialidade de Atirador, tendo frequentado em 1961 a Escola Prática de Infantaria em Mafra e o Centro de Instrução de Sargentos Milicianos em Tavira.
Dei instrução no Regimento de Infantaria 10 em Aveiro, seguindo em 1962 para Cabo Verde, donde sou natural, para mais tarde (1963) ser mobilizado.

Regressei a Portugal para o Centro de Operações Especiais em Lamego para depois seguir para a Guiné fazendo parte da Companhia de Intervenção - Artilharia 527.

O meu batismo de fogo foi em Fajonquito quando estávamos estacionados no Olossato.
Convém mencionar que depois de terminada a comissão regressei à Guine onde fui admitido como empregado bancário em Bissau.
Dez anos depois, e com a Independência, segui para Lisboa como bancário.

Hoje sou imigrante nos USA desde 1980, residindo no Estado de Massachusetts.
[...]
Um abraço a todos
António Medina


OBS: Há mais troca de mensagens que não têm interesse pois são acertos técnicos quanto a fotos, etc.
Aqui ficam as que recebemos via mail:




António Medina em Caió

António Medina no Pelundo

António Medina na Mata de Coboiana


3. Comentário do editor:

Caro camarada e amigo António Medina.

Renovo os nossos agradecimentos por te juntares a esta família de ex-combatentes da Guiné.

Com poucas palavras contaste-nos já muito.

Estiveste na Guiné mesmo no início da guerra, mas novidade para ti era mesmo só a guerra já que África te corria no sangue, como ilhéu de Cabo Verde.

Foste também mais um dos camaradas que terminada a sua comissão de serviço resolveu ficar a trabalhar naquele país, embora no teu caso só até à sua independência. O outro nosso camarada Mário Serra de Oliveira ficou até bastante mais tarde. Provavelmente hás-de conhecê-lo já que era um industrial da área da hotelaria, era o dono do Pelicano. Curiosamente, como tu, vive aí nos States.

Tanto na condição de ex-combatente, como depois na de residente, poderás fazer-nos o retrato do que viveste na Guiné. Hás-de ter muitas histórias para nos contar.

Para poderes acederes ao Blogue, guarda nos teus favoritos esta ligação: http.//blogueforanadaevaotres.blogspot.pt

Para enviares fotos ou textos para publicação tens estes endereços:
luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com
carlos.vinhal@gmail.com
e
magalhaesribeiro04@gmail.com

Para te tirar qualquer dúvida, já sabes "onde moro".

Recebe um abraço de boas-vindas dos editores e da tertúlia.
O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
____________

Nota do editor:

Último poste da série de 13 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12712: Tabanca Grande (426): Carlos Gomes Ricardo Cor Inf DFA (ex-Alferes da CCAÇ 1496/BCAÇ 1876, Bula e Bissum Naga, 1967/68; ex-Capitão, CCS/QG/Bissau e CMDT da CCAÇ 3, Guidaje, 1970/72)

Guiné 63/74 - P12722: Efemérides (148): 9 de Fevereiro de 1974, chegada da CCAÇ 4152/73 ao inferno de Gadamael (Carlos Milheirão)

Vista aérea de Gadamael
Foto: © Cor Art Ref António Carlos Morais da Silva


1. Mensagem de Carlos Milheirão (ex-Alf Mil da CCAÇ 4152/73, Gadamael e Cufar, 1974), com data de 7 de Fevereiro de 2014:

Bom dia
Em primeiro lugar, um abraço a todos os camaradas.

Na passagem 40º aniversário da chegada da CCAÇ 4152 ao "inferno de Gadamael", lembrei-me de actualizar as minhas fotografias da época e actual.

Do mesmo passo e porque comemorei o meu 22º aniversário nas matas de Bolama, durante o IAO, na semana de campo, juntamente com o Comandante da Companhia, Capitão Rodrigo Bello de Serpa Pimentel, vou contar a história da "festa" que oferecemos ao pessoal da Companhia.

Tendo "adquirido" duas cabras que andavam a pastar à beira da picada que ligava o local do acampamento à aldeia vizinha, esfolámo-las e à beira de um pequeno riacho que existia no local, fizemos uma valente fogueira.

Como não havia ingredientes para temperar, demos a volta às rações de combate para juntar o que se pudesse para dar gosto à coisa. As cabras untadas/temperadas com o que havia, lá engendrámos a maneira de as pôr a rodar sobre o brazido. Uma vara a servir de espeto e outras duas, com forcada, a servir de suporte.
Em breve começámos a ficar inebriados com aquele cheirinho da carne assada. Ficaram os ossos limpos.

Que festança!

Nesta foto, como é evidente, aquele "Velhice" de 72, não me diz respeito porque só cheguei em Fevereiro de 74.

Sobre a CCAÇ 4152/73:

Digitalização da pág. 423 do 7.º Volume das Fichas das Unidades, Tomo II, Guiné, da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1774)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 16 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12305: Efemérides (147): Dia 9 de Novembro de 2013, data em que se assinalaram os seguintes aniversários: 95 Anos do Dia do Armistício da Grande Guerra, 90 Anos do Dia da Liga dos Combatentes e 39 Anos do Fim da Guerra do Ultramar (José Marcelino Martins)

Guiné 63/74 - P12721: Agenda cultural (301): Tertúlia Fim do Império, dias 18 de Fevereiro, 18 de Março, 1 de Abril e 20 de Maio de 2014, às 15h00, na Livraria-Galeria Municipal Verney/Colecção Neves e Sousa, em Oeiras (Manuel Barão da Cunha)

1. Mensagem do Coronel Cav Ref Manuel Barão da Cunha que foi CMDT da CCAV 704/BCAV 705, Guiné, 1964/66:

Caríssimos camaradas e amigos,
Anexo convite para 11.º ciclo da tertúlia "Fim do Império, Olhares sobre a Pátria e consequências do Fim do Império", a realizar na Livraria-Galeria Municipal Verney/Colecção Neves e Sousa, em Oeiras, nos dias 18 de Fevereiro, 18 de Março, 1 de Abril e 20 de Maio de 2014, às 15h00.

Fiquem bem,
MBC


____________

Nota do editor

Último poste da série de 1 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12663: Agenda cultural (301): Tertúlia Fim do Império, dias 13 de Fevereiro, 13 de Março, 10 de Abril e 8 de Maio de 2014, às 15h00, na Messe de Oficiais, Praça da Batalha, Porto

Guiné 63/74 - P12720: Os nossos seres, saberes e lazeres (67): Passagens da sua vida - 7000 milhas através dos Estados Unidos da América (10) (Tony Borié)

1. Em mensagem do dia 9 de Fevereiro de 2014, o nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), enviou-nos o 10.º e último episódio da sua viagem/aventura de férias, num percurso de 7000 milhas (sensivelmente 11.265 quilómetros) através dos Estados Unidos da América, na companhia de sua esposa.



Companheiros, esta é a parte final da viajem.
A intenção foi que viajassem comigo, que desfrutassem os momentos, que esquecessem a guerra que vivemos lá na Guiné, quando éramos jovens e andávamos naqueles Unimog’s, GMS’s, Berliete's, ou na avioneta do Honório, sem falar no “carro dos doentes”, que vinha todas as semanas para o Hospital, na capital, onde quase todos vinham com dores. E não quero ir mais longe lembrando aquelas viagens “acagaçadas”, nas auto-metralhadoras que iam na frente das colunas de Mansoa para Bissorã ou Mansabá, e algumas até eram improvisadas! “Puta de vida”.

Vamos esquecer os tiros e tentar tirar algum benefício do tempo que nos sobra.
Portanto...



A manhã ia alta, não havia aquela humidade e os malditos mosquitos, como lá na Guiné, (lá estou outra vez lembrar a guerra, porra, não tenho emenda, agora é de vez, cá vai), tomámos o café da manhã em família, no principal compartimento da habitação, envidraçada, com o sol entrando por toda a casa. Abrimos a porta que dava para o terraço, e desfrutámos a bela paisagem sobre o lago Sacandaga, com o sol a despertar, do lado de lá das montanhas, a obrigar-nos a colocar a mão sobre os olhos para que melhor desfrutássemos da paisagem de sonho que aquele local privilegiado nos proporcionava.

Despedidas, abraços, algumas lágrimas e vieram guiar-nos até à estrada principal, já um pouco distante da aldeia de Northville, pois o GPS não tinha sinal naquela zona remota, rumámos em direcção ao sul, tomando de novo a estrada número 90, que nos haveria de levar à estrada, número 87, depois à estrada número 84, onde seguimos até à fronteira de novo com o estado de Pennsylvania, que inicialmente foi colonizada por suecos e neerlandeses, que foram posteriormente excluídos da região pelos britânicos.


Foi na Pennsylvania, que a declaração de independência e a constituição americana foram criadas, tento-se tornado no segundo estado americano, após ter sido rectificada a Constituição Americana em 1787. Foi também a Pennsylvania o palco da batalha mais sangrenta da Guerra Civil Americana, a “Batalha de Gettysburg”.


Continuando na nossa rota, seguimos na estrada número 209, que acompanha o rio Delaware na direcção de norte para sul, passando por campos de milho, áreas com frondosas árvores, devidamente assinaladas, com retiros para piqueniques com mesas e bancos, alguns “trails”, também assinalados, que nos podiam levar até às montanhas de “Poconos”, estrada esta que nos havia de largar na cidade de Stroudsburg, no estado de Pennsylvania, para lá da ponte, sobre este mesmo rio Delaware, que nesta área se alarga, formando alguns lagos, pelo menos na época do verão, na região a que chamam, “Delaware Gap”, que fica entre duas grandes montanhas, que divide o estado de Pennsylvania com o estado de Nova Jersey.

Nas montanhas de Poconos, em companhia do nosso filho, sua amável esposa e nossos netos, permanecemos por 4 maravilhosos dias, brincando e passeando com os netos, uns dias com alguma chuva de montanha, outros dias com “sol de rachar”, visitámos algumas lojas utilitárias, comprando coisas do dia a dia, mudámos de novo o óleo do jeep, e andámos por lugares, alguns nossos conhecidos, outros que eram surpresa.
Num desses dias deslocámo-nos ao vizinho estado de Nova Jersey, para ver e confraternizar com a família amiga do coração, o Jorge e a “Tesse”, (o Jorge, é o “Zarco”, o tal paraquedista que foi nosso companheiro na Guiné, de quem já falámos por diversas vezes), que também têm residência na Flórida, do lado de lá, no Golfo do México, onde se deslocam periodicamente, e sempre que o fazem, nos dão a honra da sua visita, fazendo sempre uma paragem obrigatória em Palm Coast, no estado da Flórida, claro, onde sempre revivemos alguns momentos da guerra da Guiné.

Estando em New Jersey, tínhamos que visitar a “Ferry Street”, no bairro do Ironbound, naquele Newark, que já foi mais “Português”. Aí fizemos algumas compras de géneros alimentícios, importados de Portugal, pois aquela área é muito habitada por pessoas, que em outros tempos emigraram do nosso Portugal.


Uns dias depois, houve uma festa de anos de um nosso neto, num parque infantil, nas montanhas de Pennsylvania, assistimos a essa festa, e já ia tarde, quando iniciámos a viagem de regresso à Flórida, seguindo na estrada número 476, que atravessa o estado de Pennsylvannia de norte para sul, onde chegando ao estado de Delaware, seguimos na estrada número 95, aquela que nós portugueses quando nela viajamos, dizemos na nossa linguagem, à nossa maneira sempre improvisada de nos fazermos compreender, naquele inglês/americano/português, vindo ou indo para a Flórida, conforme a direcção que tomamos:
- Não tem nada que enganar, é, “Nainiefivenorte”!

Ou se viajam na direcção do sul, dizem:
- Sempre em frente, é, “nainiefivesul”!

E quando lhe perguntam onde se encontram neste trajecto, dizem:
- Passámos no “Pedro”, às tantas horas.

Ou:
- Ainda não chegámos ao “Pedro”!


Para quem não sabe, no final do estado da Carolina do Sul e logo no início do estado da Carolina do Norte, existe uma pequena povoação a que dão o nome “South of the Border”, foi fundada em 1914, mas em 1949, durante a lei seca, como estava situada a sul do estado de Norte Carolina, abriu lá uma pequena taberna que vendia cerveja e alguns outros licores que eram proibidos a norte, claro todos passavam fronteira, e iam a sul comprar cerveja e outros licores, em pouco tempo tornou-se uma povoação famosa, e hoje é ponto de paragem e de referência tanto para as pessoas que viajam para norte, como para sul, onde existe uma enorme povoação com áreas de descanso, estações de serviço, restaurantes, hotéis, parque de diversões, grandes supermercados e outros tipos de comércio próprio de quem viaja.
A mais de 150 milhas de distância já se vêm anúncios na estrada, dizendo que no “South of the Border” está o “Pedro”, que é um típico “bandido mexicano”, que era um “fora da lei”, tal como quando nasceu a povoação, também fora da lei, vendia cerveja e outros licores às pessoas do norte.
 

Continuando, depois do estado de Delaware, atravessámos o estado de Maryland, entrando no estado de Virginia, passando sobre a ponte, “Woodrow Wilson Bridge”, de onde se avista um pouco de Washington D.C., onde comemos e pernoitámos.
Seguindo viagem ao amanhecer, sempre rumo ao sul, passando pelos estados de Carolina do Norte, a tal povoação a que chamamos “Pedro”, entrando no estado da Carolina do Sul, onde parámos antes de entrar no estado da Geórgia, para retemperar forças, e caminhar um pouco, finalmente atravessámos o estado da Geórgia, onde na berma da estrada existem cartazes anunciando a venda de “pêssegos frescos da quinta”, que no nosso entender, não são lá muito frescos, entrando finalmente no estado da Flórida, com alguma alegria, onde o termómetro do jeep marcava 102 graus de temperatura. (Cerca de 39º Celsius).

Que maravilha, é esta a nossa Flórida, (calor como na Guiné, mas por enquanto sem guerra, peixe da bolanha com arroz, arame farpado, humidade e os inseparáveis mosquitos), pois para frio, chegou mais de trinta anos limpando neve no norte.

Aqui chegámos ao fim da tarde, com algumas saudades da nossa casa.

Este é o final da nossa viagem de férias de 2013, agora vamos cortar a relva, arrumar as ideias, ir à pesca, pensar no que há-de vir no futuro, como só nós portugueses sabemos dizer, pois na nossa idade, não existe nenhum futuro, a palavra futuro é agora, já, neste momento, portanto vamos bebendo uns copos, não água da bolanha, tal como lá na Guiné, talvez cerveja, vinho ou “Vat-69”, lembram-se, só que agora é nos intervalos da medicina.

Até qualquer dia, de novo em férias!
____________

Nota do editor

(*) Poste anterior de 1 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12661: Os nossos seres, saberes e lazeres (65): Passagens da sua vida - 7000 milhas através dos Estados Unidos da América (9) (Tony Borié)

Último poste da série de 6 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12685: Os nossos seres, saberes e lazeres (66): O fim dos lobos em Brunhoso (Francisco Baptista)

Guiné 63/74 - P12719: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (17): Já, em 1970, eu fiz o meu levantamento do património histórico da cidade de Tavira e, à falta de máquina fotográfica, tomei uns apontamentos a tinta da china, de que é exemplo paradigmático o da fachada do nosso querido Quartel da Atalaia (Mário Miguéis, ex-fur mil rec inf, Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72)


Tavira, 1 de fevereiro de 2014 > Antigo Convento de Nossa Senhora da Graça, agora pousada (Monumento de Interesse Público).  Localização: Largo Dr. Jorge Correia, Tavira. No meu tempo,era o quartel da Graça... que servia de apoio ao Quartel da Atalaia: enfermaria militar, campo de instrução física, pista de obstáculos... Foi esactivado em 1974. Diz-me o César Dias, que esteve 6 meses em Tavira (no 2º semestre de 1968, no 1º e 2º ciclos do CMS):

"Luís Graça, na Graça deves ter subido aquela corda que nunca mais terminava, quanto a esse das messes [de sragentos e oficiais, no quartel das Olarias,] também nunca la fui."


Foto: © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados


(...) O Convento de Nossa Senhora da Graça, de Tavira é um dos edifícios mais importantes do centro histórico da cidade, pela sua implantação na colina genética, mas também pelo enorme impacto visual na paisagem, destacando-se bem acima da muralha. O edifício religioso veio ocupar uma zona relativamente periférica do primitivo recinto muralhado, onde até ao século XV se localizou a judiaria, precisamente a área oposta à Alcáçova e à principal porta da cidade.

Em 1497, no processo de expulsão dos Judeus que levou à fuga de uns e à conversão de outros, D. Manuel I ordenou a extinção das sinagogas e sua conversão em igrejas ou em edifícios para outros fins. Daqui resultou a desocupação do espaço onde mais tarde Frei Pedro de Vila Viçosa veio a fundar o convento, em 1542, o qual resulta da trasladação de um outro convento que teve vida efémera na praça africana de Azamor.

As obras, todavia, não se iniciaram antes de 1569, dado que os primeiros anos de vida da instituição foram fortemente marcados pela figura de Fr. Valentim da Luz, intelectual que assumia algumas posições protestantes, tendo acabado por ser acusado pela Inquisição e morto num auto de fé em Lisboa.

Dessa primeira construção pouco resta à exceção do claustro, que mantém a estrutura original, de planta quadrangular e realizado a partir de uma conceção renascentista algo erudita, pelo cuidado estilístico colocado na feitura de bases, colunas e capitéis toscanos. Também a igreja, edificada segundo princípios chãos, deve a sua estrutura atual ao primitivo templo da segunda metade do século XVI, embora tenha sido adulterada ao longo dos séculos.

As obras de construção do edifício conventual foram lentas, prolongando-se até ao século XVII. No século seguinte, temos muito poucas notícias acerca da sua história, mas parece certo que o convento entrou precocemente em decadência, uma vez que logo pelos meados do século XVIII é referido em estado ruinoso, muito particularmente o seu claustro.

A campanha barroca do edifício conventual iniciou-se em 1749, precisamente no claustro. Esta intervenção, contudo, respeitou a anterior traça renascentista do espaço, resumindo-se a copiar o modelo de suporte definido pela construção quinhentista.
Diferente foi o caso das alas conventuais, integralmente remodeladas numa grandiosa campanha realizada entre 1758 e 1778. Da responsabilidade do arquiteto algarvio Diogo Tavares, figura marcante da arquitetura do tempo barroco na província, e de Mestre Bento Correia, esta campanha encarregou-se de atualizar as dependências, destacando-se a escadaria monumental e a porta de acesso à hospedaria, com o seu tímpano interrompido por frontão triangular. A qualidade e amplitude desta obra encontram-se bem patentes na grandiosa fachada principal do convento, virada a Sul e organizada simetricamente. Definida a dois registos, possui duas poderosas torres retangulares nos limites, sendo os panos intermédios compostos por grandes janelões de molduração barroca.

A partir de 1839, com a extinção das ordens religiosas, o edifício ficou afeto ao Ministério da Guerra, que aqui instalou sucessivas unidades militares.

Em 2003 o conjunto foi adquirido pela Câmara Municipal de Tavira, e posteriormente cedido à ENATUR, que aí instalou uma Pousada. Esta obra possibilitou a intervenção arqueológica no espaço, processo que permitiu já a identificação de um bairro islâmico material do século XIII. (...)


Fonte: IGESPAR.Reproduzido, com da devida vénia, do sítio da Câmara Municipal de Tavira.


1. Comentário, ao poste P12716, da do Mário Miguéis [ex-Fur Mil Rec Inf, Bissau,Bambadinca e Saltinho, 1970/72; bancário reformado; talentoso cartoonista e artista gráfico; vive em Esposende) [, foto à direita,]:


Caro Luís:

Serve a presente para apresentar enérgicos protestos em relação à peregrina ideia que tiveste de desafiar o Vinhal a falar e a promover um "passatempo literário" sobre as cidades e vilas que mais amadas ou odiadas foram pela malta durante o nosso percurso militar anterior à Guiné, protestos estes igualmente extensivos a esta espécie de crónica ilustrada que dá pelo título de "Gostei de voltar a Tavira", que até já vai na sua "Parte IV". Ora, toda esta acção concertada e insensata está a contribuir para o descalabro do honesto e difícil trabalho em que estou envolvido: chama-se a isto, no mínimo, concorrência desleal.

Para ser mais directo, que é como quem diz,para maus entendedores, informo que estou, de há uns meses a esta parte, a dedicar as minhas horas de maior tranquilidade à reconstituição do percurso militar atrás referido - no que a mim diz respeito, claro está! - que, naturalmente, abarca esta passagem pelas Caldas e por Tavira. Ora, com esta vossa intromissão no tema em causa, sinto-me, com a razão que, por certo, me darás, , prejudicado com este plagiar por antecipação, já que, para além de apresentardes fotografias que há muito tenho gravadas nas minhas "pen-drive" de estimação, chegais ao cúmulo de utilizar adjectivos idênticos aos utilizados por mim mesmo nas legendas e na própria narrativa, de que destaco a palavra "ronceiro", para caracterizar o pobre comboio que, coitadito, tinha que percorrer aquelas linhas de ferro do Oeste, Alentejo e quejandas.

Pois, meu caro, olha que, quanto a vistas de Tavira, já, em 1970, eu fiz o meu levantamento do património histórico da cidade, e, à falta de máquina fotográfica, tomei uns apontamentos a tinta da china, de que é exemplo paradigmático o da fachada do nosso querido Quartel da Atalaia, ao qual me liga um episódio com uma certa graça, que me dispenso de contar, por não ser este o espaço mais adequado,nem eu estar interessado em pôr em causa o interesse futuro dos meus potenciais leitores.

E, pronto, meu caro Luís, depois deste comentário brincalhão, resta-me, agora a sério, agradecer-te a ideia que, em boa hora, te iluminou, e ao Vinhal a pronta sequência que, com o seu próprio contributo e com o contributo de vários dos nossos tabanqueiros - comentadores incluídos - muito tem contribuído para um recordar e esclarecer de pormenores que a minha débil memória já não comporta (refira-se que, tempos atrás, sugeri a inclusão de um consultório no nosso blogue, tipo consultório sentimental da "crónica feminina", onde, periodicamente (publicação quinzenal ou mensal), se pudessem colocar questões de ordem técnica e outras ("quantos recrutas estiveram presentes no 4º turno de 69?!...; a que horas era o toque de alvorada?!..."). Enfim, perguntas singelas às quais não faltariam prestáveis camarigos a dar pronta e correcta resposta - admito que a vaga não era,na altura (e aqui altura tem duplo sentido), a mais favorável.

Daqui a nada, com tanta conversa da treta, aproveito para transcrever este comentário para o meu livrinho em embrião - sempre enche mais uma paginazita!...
Como - não sei porquê - me sinto algo generoso nesta noite de gripe e muita chuva, vou remeter ao Vinhal um dos desenhos que ilustram a minha passagem pelas Caldas, pode ser que ele goste. A ti, não ofereço nada, mas felicito-te pelas belíssimas fotografias que tens vindo a publicar.

Um grande abraço,

Mário Miguéis

____________

Nota do editor:

Último poste da série > 9 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12699: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (16): Não gostaria de regressar ao passado e muito menos em Tavira (Manuel Luís Lomba, ex-fur mil, CCAV 703 / BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66)