Camaradas e Amigos Luís e Carlos
Pedia-lhes um grande favor. A minha neta Raquel, faz 15 anos no dia 28 de Março. A maior prenda de um avô, igual a qualquer outro avô, para o aniversário de um neto, mais que uma prenda, é uma carta escrita com carinho e amor.
Como digo na carta, sei que todos os avós do mundo desejam para os seus netos, no meu caso uma neta, razão muito forte porque não tive uma filha, e a Raquel é o fruto que mais desejava. É verdade que também tenho um neto.
Escrevo esta carta em nome de todos os Ex Combatentes que têm netos e netas, e que são babosos ou babados, e é normal pretenderem para os seus tudo aquilo que nunca tiveram.
Depois das poesias, pensei no assunto, e julguei importante enviar este modesto texto, já escrito há algum tempo.
Como também é uma mulherzinha, e a mulher foi tão esquecida na Guerra: a Mãe; a Noiva; a Namorada; a Madrinha de Guerra, e até a enfermeira que aguardávamos pacientemente nas evacuações. Sempre a mulher.
Um grande abraço do Ex Furriel Miliciano N.º 03163264 Mário Vitorino Gaspar, também Homem Grande da Tabanca Grande, aos Camaradas e Amigos Luís, Carlos e para todos os outros Camaradas e Amigos da Tabanca Grande.
Um grande abraço do Ex Furriel Miliciano N.º 03163264 Mário Vitorino Gaspar, também Homem Grande da Tabanca Grande, aos Camaradas e Amigos Luís, Carlos e para todos os outros Camaradas e Amigos da Tabanca Grande.
2. Comentário de LG.:
É um gesto lindo, da tua parte, camarada.
Lamentavelmente, não consegui satisfazer, no dia 28 de março, o teu pedido, por razões que se prenderam com a minha pessoal e a gestão do meu tempo. Passou a data, mas não o pretexto. E todos os dias são bons para se homenagear os netos e os filhos... Como costumamos dizer, os filhos e os netos dos nossos camaradas nossos filhos e netos são. E hoje, em que o muito que nos preocupa, em relação a eles, é a esperança e o futuro, temos que saber dar-lhes ao menos esperança no futuro.
Um beijinho de felicidade para a tua Raquel, a pensar também em todos os netos e netas dos camaradas da Tabanca Grande que são, como tu dizes, avós babosos e babados.
Um alfabravo do Luís Graça que ainda não chegou a esse patamar de felicidade. Espero poder abraçar-te, a ti e aos demais avós babosos e babados, no IX Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real, em 14 de junho de 2014.
“(…) onde era possível inventar outra infância que não lhe ferisse o coração”.
Al Berto, in “Medo”
A minha neta Raquel nasceu a 28 de Março de 1999, no Hospital da Cruz Vermelha, na freguesia de São Domingos em Benfica – Lisboa.
Quando veio a este mundo, era muito desejada, não tendo viajado, como nos tempos antigos, carregada no bico de uma cegonha.
Tenho dois filhos – nascidos após a Guerra Colonial – seu pai, o meu filho mais velho. Aguardava, como todos nós, ex Combatentes, o primeiro neto. Ansioso e aguardando a oportunidade para vê-la. E, curiosamente – tal como tinha sucedido com o nascimento do pai – reconheci logo a minha novíssima descendente, antes inclusive de ler no berço o seu nome.
A minha neta Raquel nasceu a 28 de Março de 1999, no Hospital da Cruz Vermelha, na freguesia de São Domingos em Benfica – Lisboa.
Quando veio a este mundo, era muito desejada, não tendo viajado, como nos tempos antigos, carregada no bico de uma cegonha.
Tenho dois filhos – nascidos após a Guerra Colonial – seu pai, o meu filho mais velho. Aguardava, como todos nós, ex Combatentes, o primeiro neto. Ansioso e aguardando a oportunidade para vê-la. E, curiosamente – tal como tinha sucedido com o nascimento do pai – reconheci logo a minha novíssima descendente, antes inclusive de ler no berço o seu nome.
Foi uma manhã maravilhosa, tocaram os trompetes e os sinos de todas as igrejas. Como estávamos junto do Jardim Zoológico, muitos pássaros lindos e de colorido pintado, esvoaçavam e cantavam aos céus o acontecimento.
Havia guardado religiosamente, em 1968, uma garrafa de cognac francês Rémy Martin, comprada depois de terminar o serviço militar na Guiné para abrir no dia que fosse avô. Esperava fazer uma festinha, um cálice por pessoa, para bebermos nós e os amigos. À tarde, do dia seguinte pedimos uns copos no bar e festejámos no terraço do Hospital.
Senti necessidade de lhe escrever uma carta no seu 15.º aniversário, dando-lhe de novo as boas vindas a este mundo.
“Amar a Deus sobre todas as coisas; Não tomar o seu Santo Nome em vão; Guardar domingos e festas de guarda; Honrar pai e mãe; Não matar; Não pecar contra a castidade; Não roubar; Não levantar falso testemunho; Não desejar a mulher do próximo e Não cobiçar as coisas alheias.” São os Mandamentos da Lei de Deus, mas bem se podiam resumir a um: “O Amor”. Palavra que tudo engloba.
Eis a carta:
“Querida netinha.
O mundo que encontras à tua frente é uma selva. E, por vezes torna-se num labirinto sem saídas. Mas tu és capaz de encontrar os melhores locais para caminhar em segurança. És boa moça e igualmente uma excelente aluna. Vai em frente mesmo quando as vias que percorres, se tornem enigmáveis e perigosas. Após resolveres as situações que vais encontrando, outras de altíssimos riscos, mais que evidentes, resolves porque és capaz. Não pares! Só quando necessitares de meditar. Continua.
Encontrarás também as faustosas e maravilhosas florestas; arbustos; cataratas e cascatas lançando repuxos de águas correntes, fortes e suaves que morrem no rio; nascentes de águas puríssimas; lagos e lagoas (casos até artificiais); ervas rastejantes e outras subindo pelos penhascos; lindos jardins floridos, de grande variedade de cores; rios correntes e outras ofertas da natureza.
Verás lindos pássaros, de lindas, infinitas e nunca vistas cores; borboletas navegando nos ares em bailes por entre jardins e matas, e pintado a natureza de multicores e até dóceis macacos, saltitando.
E os lindos peixes, de enorme variedade, também salpicados com o mais belo colorido? Algumas cores que nem o arco íris conhece.
E os sorridentes, inteligentes e brincalhões golfinhos, com quem o avô brincou no rio Tejo? Sabias que neste rio existiram noutros tempos golfinhos? Falavam comigo, e eu respondia-lhes. Sabes que me beijavam o corpo? Na primeira vez tive medo, mas depois fiquei muito amigo deles.
Sabes que o avô esteve na guerra. Cuidado com as ervas daninhas e parasitas (que se alimentam à custa dos outros); com os trilhos armadilhados; lamaçais escorregadios; pântanos e outras perigosidades que vão surgindo pelo caminho.
Acautela-te, com os animais bravios, que nos habituámos a ver nos zoos; colmeias de abelhas perigosas; formigas de asas que concebem aquelas grandes habitações, mais parecendo construídas com cimento armado com formatos apalacetados; animais rastejantes e não rastejantes, mas perigosos que vivem nas selvas, nos rios, e outras variedades.
Continua caminhando e vais-te cruzar com a beleza que Deus concebeu. Ultrapassarás a maldade. Vencerás!
Raquel, és uma mulherzinha, não te esqueças. O mundo espera por ti, e neste ano vais ter de optar, para a escolha do teu futuro profissional. Tenho a certeza que o vais fazer bem. Constou-me que pretendes seguir Medicina, com a Especialidade de Cardiologia.
E não te desviarás do trilho traçado no terreno – mesmo com todos os perigos que se aproximam – percorrerás o teu caminho, e ultrapassarás os percursos irregulares, desta selva. Um mundo sem guerras e repleto de AMOR.
O avô Mário
Nota: O meu outro neto, o Pedro Guilherme, nasceu a 3 de abril de 2005, também no Hospital da Cruz Vermelha, fez agora nove anos.
Dedico esta minha simples carta aos ex Combatentes avôs e babosos e babados. Esta seria também a Carta enviada à sua neta ou ao seu neto no dia do seu aniversário.
Havia guardado religiosamente, em 1968, uma garrafa de cognac francês Rémy Martin, comprada depois de terminar o serviço militar na Guiné para abrir no dia que fosse avô. Esperava fazer uma festinha, um cálice por pessoa, para bebermos nós e os amigos. À tarde, do dia seguinte pedimos uns copos no bar e festejámos no terraço do Hospital.
Senti necessidade de lhe escrever uma carta no seu 15.º aniversário, dando-lhe de novo as boas vindas a este mundo.
“Amar a Deus sobre todas as coisas; Não tomar o seu Santo Nome em vão; Guardar domingos e festas de guarda; Honrar pai e mãe; Não matar; Não pecar contra a castidade; Não roubar; Não levantar falso testemunho; Não desejar a mulher do próximo e Não cobiçar as coisas alheias.” São os Mandamentos da Lei de Deus, mas bem se podiam resumir a um: “O Amor”. Palavra que tudo engloba.
Eis a carta:
“Querida netinha.
O mundo que encontras à tua frente é uma selva. E, por vezes torna-se num labirinto sem saídas. Mas tu és capaz de encontrar os melhores locais para caminhar em segurança. És boa moça e igualmente uma excelente aluna. Vai em frente mesmo quando as vias que percorres, se tornem enigmáveis e perigosas. Após resolveres as situações que vais encontrando, outras de altíssimos riscos, mais que evidentes, resolves porque és capaz. Não pares! Só quando necessitares de meditar. Continua.
Encontrarás também as faustosas e maravilhosas florestas; arbustos; cataratas e cascatas lançando repuxos de águas correntes, fortes e suaves que morrem no rio; nascentes de águas puríssimas; lagos e lagoas (casos até artificiais); ervas rastejantes e outras subindo pelos penhascos; lindos jardins floridos, de grande variedade de cores; rios correntes e outras ofertas da natureza.
Verás lindos pássaros, de lindas, infinitas e nunca vistas cores; borboletas navegando nos ares em bailes por entre jardins e matas, e pintado a natureza de multicores e até dóceis macacos, saltitando.
E os lindos peixes, de enorme variedade, também salpicados com o mais belo colorido? Algumas cores que nem o arco íris conhece.
E os sorridentes, inteligentes e brincalhões golfinhos, com quem o avô brincou no rio Tejo? Sabias que neste rio existiram noutros tempos golfinhos? Falavam comigo, e eu respondia-lhes. Sabes que me beijavam o corpo? Na primeira vez tive medo, mas depois fiquei muito amigo deles.
Sabes que o avô esteve na guerra. Cuidado com as ervas daninhas e parasitas (que se alimentam à custa dos outros); com os trilhos armadilhados; lamaçais escorregadios; pântanos e outras perigosidades que vão surgindo pelo caminho.
Acautela-te, com os animais bravios, que nos habituámos a ver nos zoos; colmeias de abelhas perigosas; formigas de asas que concebem aquelas grandes habitações, mais parecendo construídas com cimento armado com formatos apalacetados; animais rastejantes e não rastejantes, mas perigosos que vivem nas selvas, nos rios, e outras variedades.
Continua caminhando e vais-te cruzar com a beleza que Deus concebeu. Ultrapassarás a maldade. Vencerás!
Raquel, és uma mulherzinha, não te esqueças. O mundo espera por ti, e neste ano vais ter de optar, para a escolha do teu futuro profissional. Tenho a certeza que o vais fazer bem. Constou-me que pretendes seguir Medicina, com a Especialidade de Cardiologia.
E não te desviarás do trilho traçado no terreno – mesmo com todos os perigos que se aproximam – percorrerás o teu caminho, e ultrapassarás os percursos irregulares, desta selva. Um mundo sem guerras e repleto de AMOR.
O avô Mário
Nota: O meu outro neto, o Pedro Guilherme, nasceu a 3 de abril de 2005, também no Hospital da Cruz Vermelha, fez agora nove anos.
Dedico esta minha simples carta aos ex Combatentes avôs e babosos e babados. Esta seria também a Carta enviada à sua neta ou ao seu neto no dia do seu aniversário.