sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13652: Notas de leitura (635): “Vamos", por Jacinto Lucas Pires (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Março de 2014:

Queridos amigos,
Este livro é uma apologia da resiliência, da tolerância, da vitória da vontade sobre a adversidade. Todos estes jovens conheceram o processo do desenraizamento, conheceram a pobreza e a exclusão.
A Gulbenkian, que já apostou no projeto das Orquestra Geração, fez opção estratégica com a Academia Ubuntu, com o alvo de formar líderes africanos de primeiríssima qualidade. Vieram de vários PALOP, alguns dos guineenses dão aqui testemunho.
O texto de Jacinto Lucas Pires é imaginativo, estes jovens cruzam-se nos labirintos dos bairros suburbanos, como não se conhecessem, isto quanto todos os seus sonhos se tocam. E a vertente fotográfica é esplendorosa.
Se tiver precisão de uma prenda para alguém que precise de uma injeção de otimismo e confiança na força de vontade, lembre-se de oferecer “Vamos”.

Um abraço no
Mário


Chegar ao começo e sonhar com o céu (2)

Beja Santos

A Academia Ubuntu, dinamizada pelo Instituto Padre António Vieira, e que recebe o apoiou da Fundação Calouste Gulbenkian, deu vida em 2010 a um projeto experimental de capacitação de jovens líderes descendentes de imigrantes, tendo como patronos Mandela, Tutu e Luther King. Subjacente a este projeto, estava o desenho de um inovador programa que procurava desenvolver competências e uma liderança ao serviço de outros. O escritor Jacinto Lucas Pires foi convidado para retratar as histórias por dentro das vidas dos que frequentaram a Academia Ubuntu, jovens que caminharam à beira do abismo mas que souberam ultrapassar a diversidade de obstáculos e até a desmotivação. Jacinto Lucas Pires montou histórias, jovens em atmosfera suburbana, por vezes em alta voltagem emocional, provenientes do rescaldo da descolonização ou de guerras subsequentes, ou vindos por anseio dos pais, à procura da concretização de sonhos. O que aqui se regista, como se compreenderá, são depoimentos de jovens guineenses.

“Os pais de Natália vieram da Guiné, de Bassarel. O pai veio nos finais da década de 80. Esteve em Algés a trabalhar. A mãe e três irmãos de Natália ficaram na Guiné. Vieram mais tarde, em 1991. O pai já a casa construída no Prior Velho, no Bairro da Quinta da Serra.
Natália nasceu logo a seguir, em 1992. O pai trabalhava na construção civil, a mãe numa empresa de limpezas. Os irmãos de Natália fizeram cá a escola. Na Guiné, o pai de Natália era professor. Natália tem três irmãos mais velhos e dois mais novos.
Para as irmãs, foi difícil, que chegaram cá com 15 e 13 anos e tiveram de ir para a primária. Mas o irmão, que só tinha dois anos quando veio, fez o percurso normal, da creche à faculdade; está agora a acabar o curso de Ortoprotesia, a fazer um estágio em Madrid. Gosta daquilo lá, mas tem passado algumas dificuldades. Quando estava à procura de casa, dizia que era português e as pessoas ficavam a pensar que ele era branco. Depois aparecia e – bem, tem passado algumas dificuldades.
Ele é mesmo grande, diz a Natália. Talvez isso assuste também”.

“Gerónimo nasceu no Senegal. A mãe, foi grávida, da Guiné para Dakar, e Gerónimo nasceu lá. São de etnia Manjaca – à letra manjaco significa digo-te”.

Quando saiu do Senegal, Gerónimo tinha o 5.º ano feito; foi para a Guiné continuar os estudos. Não conhecia o pai, que, entretanto, emigrara para Portugal. Durante muito tempo nem sabia que ele existia.
Na Guiné, em Canchungo, voltou atrás nos estudos, perdeu dois anos por causa da língua. No Senegal a escola era em francês, na Guiné era em Português. Em casa, com a mãe, Gerónimo falava Manjaco. E, no Senegal, na rua, fala-se principalmente uolofe.
Um dia Gerónimo fez uma asneira, a irmã vira-se para ele e diz-lhe: “Hás de ver, quando fores a casa do teu pai”…

Aí é que ele começa a pensar: “Afinal, este senhor que me está a educar não é o meu pai?”.

“Na escola Rui teve de repetir o 4.º ano. Depois a empresa do pai faliu, o contabilista matou-se e começaram os problemas de dinheiro. A família teve de se mudar da vivenda onde morava para um andar num prédio em Bolonha, na Póvoa de Santa Iria.
Por essa altura o pai do Rui começou a trabalhar com um amigo numa empresa de reciclagens e obras. Na Guiné a mãe de Rui era professora primária, em Portugal é cozinheira. Já esteve no Chimarrão, agora está na Santa Casa. O pai agora está no fundo. Quer dizer, está desempregado. Tem um projeto sobre o clima da Guiné, no Instituto de Meteorologia, mas não tem dinheiro para o montar”.

“Na Guiné os familiares de Gerónimo fizeram uma cerimónia para que ele voltasse para junto do pai. É um mito. É assim que eles chamam àquilo, o mito. Sacrificam um animal, nesse caso foi um porco. A família da mãe e a família do pai juntam-se comem juntos dizem algumas palavras, desejando que o filho vá para junto do pai e pedindo felicidade para toda a gente. Não há palavras obrigatórias, cada um expressa o seu desejo.
Passadas umas semanas, Gerónimo foi para casa do pai, em Canchungo, numa tabanca Beniche. Mas o pai não estava lá. Só lá estava um tio e os seus seis filhos. Gerónimo fica aí a viver, faz aí o 3.º e o 4.º anos. No 5.º ano, vai para liceu no centro de Canchungo; onde estuda até ao 8.º. Quando passa para o 9.º, em 2005, o pai, que entretanto conseguira a nacionalidade portuguesa, trá-lo para Portugal.
Agora Gerónimo vive nas barracas, no Bairro da Quinta da Serra. Vive com o tio e cinco primos. O pai está no Luxemburgo desde 2007. Ficou desempregado e foi para lá à procura de trabalho. Tem trabalhado na construção civil, é pintor.
Como se tudo já não fosse suficientemente difícil, a câmara agora quer despejá-los da casa onde vivem na Quinta da Serra. Dizem que o pai de Gerónimo perdeu o direito de realojamento por não estar cá. Eles recorreram, explicando que ele não está cá mas aquela continua a ser a residência familiar. A ver qual será a resposta.
A mãe de Gerónimo vive no Senegal. Gerónimo veio para Portugal em 2005 e nunca mais voltou lá. Tem saudades. Da família, dos amigos de infância, coisa imperdível, inesquecível. E, claro, de Juvêncio, o filho que teve aos 17 anos e que agora está à guarda da mãe.
Não conhece alguns dos irmãos. Nasceram depois de ele ter nascido do Senegal. Falam ao telefone, eles perguntam-lhe quando é que o Gerónimo vai ter com eles.
Mas mantém um contacto muito forte com a mãe. Falam sempre, muito. Ela é analfabeta, falam só pelo telefone.
O Manjaco é uma língua oral (Uma vez Gerónimo viu o tio escrever Manjaco para falar com um amigo pela internet. Escrevia com as regras do português, a partir do som das palavras em Manjaco. Talvez funcione assim”.

"Gerónimo pensa em Manjaco e sonha em Manjaco. Um Manjaco é a língua dos seus sonhos.
Na Guiné, martelam o português. Aprendem só nas aulas, não praticam cá fora, e a triste verdade é que a maior parte dos professores não tem formação. Alguns acabam o secundário e começam a dar aulas. Há quem ensine português sem saber falar bem português (…) Na Guiné os professores faziam desafios entre os alunos. Chamavam um aluno ao quadro e depois esse aluno chamava outro para o desafio. Colocavam questões um ao outro e quem não respondia levava palmadas. Uma vez Gerónimo chamou uma prima e ela não sabia a resposta. Quando foi para dar a palmada, ele deu-lhe um toque muito mansinho. O professor percebeu, tirou o chicote e bateu nele com força para mostrar como é que se dava. Gerónimo conta isso com o sorriso mais aberto que se possa imaginar”.

As histórias multiplicam-se: quando veio para Portugal, Braima pensava em crioulo, só conheceu o pai aos 12 anos, as grandes figuras de Braima são mulheres; o pai de Edson está na Guiné, é professor na Universidade Lusófona, está separado da mãe de Edson desde os dois anos do filho, Edson jogou futsal no Clube Académico de Odivelas, depois passou para o futebol de onze…

Estes heróis do quotidiano sabem que têm que imaginar o seu céu, começam e recomeçam, têm várias identidades, este curso de liderança parte de valores africanos. Primeiro que tudo, aprende-se com Nelson Mandela a perdoar. Há quem se prepare para voltar. Será o caso de Braima, não se vê como um estrangeirado mas sente que tem mais a dar indo para a Guiné do que ficando em Portugal. Tem muitas saudades, pensa no seu lugar, na sua casa, pensa em Bolama. E de acordo com a sua cultura, desabafa para quem o ouve: “Nós somos onde o nosso umbigo foi enterrado”.

“Vamos” com texto de Jacinto Lucas Pires e fotografia de Tiago da Cunha Ferreira, Edições Gulbenkian, 2011, é a história de um projeto inspirador onde jovens desenrizados, vivendo por vezes em território de conflito, aprendem liderança, fazem-se dinamizadores, empreendedores, técnicos de gabarito. Para quem olha África como um continente à deriva, este livro é uma enorme promessa.


Os afetos e a identidade são para respeitar e cultivar
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Nota do editor

Último poste da série de 22 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13635: Notas de leitura (634): “Vamos", por Jacinto Lucas Pires (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P13651: Parabéns a você (791): António Medina, ex-Fur Mil da CART 527 (Guiné, 1963/65)

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Nota do editor

Último poste da série de 23 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13640: Parabéns a você (790): Tony Borié, ex-1.º Cabo Op Cripto do CMD AGR 16 (Guiné, 1964/66)

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Guiné 53/74 - P13650: In Memoriam (195): Cap art Manuel Carlos da Conceição Guimarães (1938-1967), morto na estrada Geba-Banjara, região de Bafatá... As suas irmãs, Teresa e Ana descobrem agora, emocionadas, as referências sobre ele no nosso blogue e encontraram-se há dias, em Lisboa, com o A. Marques Lopes, seu amigo e companheiro de infortúnio



Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 > 1967 > O Cap Art Manuel Carlos da Conceição Guimarães, então com 29 anos. Foi um dos 24 capitães mortos no TO da Guiné (*)



Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 > 1967 > O Alf Mil A. Marques Lopes e o Cap Art Manuel Carlos da Conceição Guimarães.

Fotos: © A. Marques Lopes (2007). Todos os direitos reservados. [Edução: LG]

1. Texto do amigo e camarada, grã-tabanqueiro da primeira hora, A. Marques Lopes, coronel inf  (DFA) na situação de reforma, ex-alferes miliciano da CART 1690 (Geba, 1967) e da CCAÇ 3 (Barro, 1968) :


Saber tudo sobre a morte que fora apenas comunicada

por A. Marques Lopes

Creio que foi o marido da Teresa quem lhe disse, um dia, que até podia ser fácil saber referências sobre alguém. Bastava escrever o nome num motor de busca e, se ele estivesse na rede, era mais que certo aparecer o que lá houvesse sobre essa pessoa.

Ai é?... Então, deixa ver. Lembrou-se de escrever o nome do irmão, morto na Guiné: Manuel Carlos da Conceição Guimarães (**). Saltou-lhe o coração de espanto e emoção. Viu a fotografia dele num blogue chamado “Luís Graça & Camaradas da Guiné" (**). Depois de 47 anos estava ali, tal como se lembrava dele:


E o bom do Luís Graça escreveu-me:

«Vê este mail da irmã do teu antigo comandante e, se assim o entenderes, responde-lhe. Dá-nos depois "feedback". Um abração., Luis»

Tá bem. Entrei em contacto com a Teresa e disse-lhe que teria de ir a Lisboa e logo lhe diria quando, para nos encontrarmos. Trocámos alguns mails, entretanto.

Disse-me ela num deles:

«As marcas para todos os que estiveram nessa maldita guerra são com certeza imensas. A flor da nossa juventude despedaçada pela loucura de um velho fascista…. São factos que devem pesar diariamente na memória e nos pesadelos de quem por lá andou. A mim fez-me perder um irmão que eu adorava, que era o meu ídolo e que me deixou como que desamparada. Eu tinha 12 anos, não consegui ir ao funeral dele. Tenho na memória muita coisa que foi dita entre dentes, pois os meus pais tentaram preservar “as meninas” de pormenores que não eram para os nossos ouvidos. A minha mãe ficou de cama quase um ano, numa apatia que só quem passa por elas consegue perceber. Nunca mais a vi usar uma roupa colorida… Carrego na minha memória esses dias que ficaram marcados para sempre.»

E eu num dos meus:

«Durante vários anos, após aquilo, vinha-me à ideia, às vezes, que devia falar com as irmãs do capitão Guimarães. Era a necessidade subconsciente de estar com alguém muito próximo do amigo perdido. Mas acabava por esquecer, porque não tinha contactos. Era a desculpa para o receio de não saber contar o que não queria contar. Uma vez, até, tentei o contacto que sabia que podia ter: fui ao Hotel Tivoli e pedi para falar com a vossa tia Beatriz Costa. Não disse quem era nem para que era (as dúvidas do passo dado) e responderam-me pouco depois que ela estava indisponível, sem me dizerem porquê. Confesso que fiquei aliviado e não tentei mais. E também pensei neste nosso encontro agora programado. Já uma filha de um soldado lá morto me procurou, via internet. Também lhe mandei fotografias que tinha do pai e até lhe contei resumidamente por mail como ele tinha morrido. E ficámos por aí. Mas agora, com vocês, não ia ser assim. Para um encontro tão directo vieram-me novamente as dúvidas e os receios de entrar em pormenores, de dizer coisas que muita gente não entende ou não aceita, de criar inimizades em vez de aproximação. Interroguei-me se seria bom ir ao Hotel Real.»

Mas fui. No dia 22 à tarde, segunda-feira passada, e apesar das inundações, estive em Lisboa com a Teresa e a Ana, irmãs do capitão Guimarães, no Hotel Real, onde combináramos encontrar-nos.

Contei-lhes tudo em pormenor: como ele morreu, a estúpida quadrícula de 1.600 km2 na mata do Oio, também culpada pela morte dele. Contaram-me das boas lembranças e amor que mantinham pelo irmão: a Ana, que tinha 9 anos, lembrava-se de ele a enxotar quando ele estava ao telefone com uma namorada e ela encostada às pernas dele; a Teresa, com 12 anos, ficava encantada quando a levava no carro dele para passear; quando ele metia as mãos nos bolsos e lhes distribuía as moedas que lá tinha ficavam maravilhadas. Mais velho, oficial com um carreira, um carro, e amigo de ambas, era mesmo o seu ídolo.

Foi uma longa e boa conversa. Ficámos amigos.

A. Marques Lopes

2. Comentário de L.G.

Obrigado, António, pelo teu "feedback"... É um texto muito bonito, que só podia ter a tua assinatura... Fico feliz pelo teu encontro com a Teresa e a Ana, irmãs do nosso malogrado camarada. Tu e o nosso blogue acabamos por cumprir uma missão importante, a de relembrar os nossos mortos, dignificar a sua memória e ajudar a fazer os lutos (em muitos casos ainda "patológicos")... Daí este a razão de ser deste "In memoriam" (***)  e a constação da utilidade (social) do nosso blogue que tu ajudaste a nascer e a desenvolver...

È bom lembrar aos recém chegados à Tabanca Grande (e somos já 668!) que o A.Marques foi um dos mais ativos e produtivos camaradas na I Série do nosso blogue (de 23 de abril de 2004 a31 de maio de 2006). Por ordem de publicação de psotes, é ele, se não erro, o tertuliano nº 4, depois de mim, do Sousa de Castro, do Humberto Reis, seguido em nº 5 pelo David Guimarães.

Publico a seguir a mensagem que a Teresa me mandou e a que tu respondeste de maneira magnânina e solidária. As nossas melhores saudações para a família do  infortunado cap art Manuel Guimarães, que foi teu comandante operacional, amigo e camarada. Fico feliz, por te reencontrar, também, nas nossas lides bloguísticas, já que nos últimos tempos tens arrededado, avalliar até pelo teu próprio blogue, Coisas da Guiné. Um abraço fraterno. (LG).

3. Mensagem de Teresa Guimarães, com data de 2 do corrente:

Muito boa tarde

Percorrendo a internet vim parar ao seu blogue onde me apareceu um artigo escrito por A.Marques Lopes, sobre o meu irmão Capitão Manuel Carlos Guimarães.

Gostaria de entrar em contacto com esse senhor pois ele presenciou a morte do meu irmão na Guiné, mas o e-mail que ele indica no blog está desativado.

Será que me podia fornecer um contacto, pois como pode calcular gostaria muito de falar com ele, se fosse possível.

Obrigada e mais uma vez as minhas desculpas pelo incómodo

Teresa Guimarães


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Notas do editor:


(...) Terão morrido 24 capitães no TO da Guiné durante a guerra colonial (1963/74). Excluindo um capitão de 2ª linha e um outro, de quem faltam elementos de identificação, sabemos que desses 22, dezassete eram comandantes de companhias operacionais - 11 do quadro e 6 milicianos. Dez, todos comandantes de companhias operacionais, morreram em combate, sendo 9 do quadro e 1 miliciano. (LG) (...)

(...) Eles morreram mesmo e ficaram longe do convívio dos seus familiares e amigos. Mas ficou a lembrança e, como este caso que vos trago, a pena do estúpida situação da sua morte (...).

O capitão Manuel Carlos da Conceição Guimarães era do quadro de Artilharia. Nas circunstâncias do regime, tinha estado como tenente na esquadra da PSP do Calvário, em Lisboa, depois de ter feito parte da Companhia de Polícia Móvel que esteve em Bissau.

Nesses contextos da juventude formou a sua mentalidade. Rigidez ideológica, fidelidade cega aos desígnios dos mandantes da guerra, alheamento total dos problemas, sentimentos e ambições das populações no terreno. Completa incompreensão das razões da guerra, nem desejo algum de as tentar compreender. Muitos houve assim naquela fase (1967). Ao longo do tempo de guerra muitos foram dando, e penso que ele também teria mudado.

Mas eu fui amigo dele e acompanhei-o desde o princípio, fui o seu braço direito. Tive a incompreensão dos outros alferes, meus amigos de coração actualmente (..:).

O Guimarães foi promovido a capitão e mobilizado para a Guiné. Conhecêmo-lo em 4 de Dezembro de 1966, no RAL1, aquando da formação da companhia (CART 1690) e durante a instrução da especialidae no GACA2, em Torres Novas (de 6 de Dezembro de 1966 a 23 de Fevereiro de 1967).

Lembro-me bem que partíamos os dois, aos fins-de-semana, no Alfa Romeo Sprint Special dele até Lisboa. Loucuras, sem auto-estrada! Grandes noites na Cave, D. Quixote, Comodoro... A experiência dele na polícia abria todas as portas (as raparigas abraçavam efusivamente o Carlinhos).

Nas vésperas de embarcarmos no Ana Mafalda  (...) , fomos todos ao Comodoro. Um homem, já velho, que conhecíamos por ser frequentador, administrador de um banco qualquer (não me lembro), e que costumava jogar ao par ou ímpar com as raparigas (mostrava uma nota de mil e perguntava qual era o número - par ou ímpar? -, se uma dela adivinhava entregava-lhe a nota... e muitos jogos fazia), disse-nos assim: - Vocês vão para a guerra, para se portarem bem peguem lá - deu-nos várias notas de mil - e vão com estas cinco. - E fomos (alferes e capitão) e foi uma noitada. Era assim, a guerra estava paga.

Era bom homem, o Cap Guimarães. Filho de um Sargento-Ajudante, sobrinho da Beatriz Costa (estive com ele, depois, e chorou a sua morte), morreu aos 29 anos na estrada de Geba para Banjara, a 21 de Agosto de 1967 (3). Lamentou-se-me o pai, que me visitou, estava eu ferido no hospital, que o filho (solteiro) era o sustento de duas irmãs (...)  que andavam a estudar, e que a vida dele estava complicada. (...)

Vd. também  I Série > 5 de junho de 2005 > Guiné 69/71 - XLVI: Em memória dos bravos de Geba... Texto de A. Marques Lopes, ex-alferes miliciano da CART 1690 (Geba, 1967)...

(...) Era uma zona muito propícia a azares (...) . Também me calhou a mim (não era mais que os outros, claro, apesar de ter estado 24 horas no campo do inimigo... "teve de ser assim", como disse o Comandante Gazela). Um dia, quando ia no caminho de Geba para Banjara, fui ferido (e sortudo, mais uma vez), assim como o soldado Lamine Turé, do meu grupo de combate ; na mesma altura morreu o comandante da CART 1690, que quis ir comigo nessa viagem, o capitão Manuel C.C. Guimarães (tinha 29 anos, era filho de um sargento-ajudante e sobrinho da Beatriz Costa), e morreu o soldado Domingos Gomes, também do meu grupo de combate.

Levei o corpo do capitão, porque me pareceu que estava ainda vivo, e o Lamine, directamente para Bafatá... porque em Geba não havia médico, vejam lá! Não levei o do Domingos Gomes, porque ficou aos bocados, não deu tempo nem tive condições para os recuperar. De Bafatá fui evacuado para o HM241 [em Bissau], primeiro, e para o Hospital Militar Principal,[em Lisboa], passada uma semana.  (...)


(***) Último poste da série > 19 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13626: In Memoriam (194): João Dias Garcia (1950-2014), ex-1.º Cabo Mec Auto da CCAÇ 19, falecido no passado dia 11 de Setembro de 2014, no Hospital de Leiria (José Manuel Pechorro)

Guiné 63/74 - P13649: Os nossos seres, saberes e lazeres (74): Viagem à China, num programa da Fundação Oriente: o "bando dos guatro", eu, o António Graça de Abreu, o António Pimentel e o Egídio Lopes, o "Brutus"... E onde se comprovou, mais uma vez, que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (Fernando Gouveia)



Egídio Lopes, António Graça de Abreu, António Pimentel e eu próprio antes do primeiro almoço em terras do dragão.



1. Relembrando a mensagem do nosso camarada Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec Inf, Bafatá, 1968/70) com data de 21 de Setembro de 2014:

Carlos:


Com vista a satisfazer a voragem do blogue, qual dragão chinês, aí mando este duplo trabalho, da apresentação de um novo tabanqueiro, o Egídio Lopes, e duma viagem à China a qual está interligada com a apresentação do Egídio.

Dado o seu grande tamanho, em termos de fotos, faz a publicação como entenderes.

Com um grande abraço.
Fernando Gouveia


VIAGEM À CHINA

Vai daí, logo no início do “périplo”, em Hong kong, nós três, já conhecidos da Tabanca Grande, demos de caras com o Egídio Lopes(*) quando estávamos a caminho do primeiro almoço em terras do dragão.

Almoço que se ia realizar num grande e típico barco fundeado entre a parte continental e a ilha de Hong Kong. Logo aí tiramos a primeira “foto de família”, com o dragão como protecção.

Este encontro não foi bem por acaso. Deveu-se em grande medida ao facto de o António Graça de Abreu ser o “guia cultural” da viagem promovida pela Fundação Oriente. Era sabido à partida que havia a garantia de estarmos, por ventura, ao lado do português com maior conhecimento de toda a China ou, não tivesse vivido na China largos anos e fosse autor, entre outros, do livro “Toda a China” em dois volumes.


Muito de passagem, direi que Hong Kong constituiu, para mim, uma grande surpresa. Não é só aquele aglomerado de arranha-céus bem conhecido. Ao contrário de Macau, segunda etapa da nossa viagem, que se restringe à cidade, Hong Kong tem bastante território continental o que torna possível observar a cidade de cima de vários morros, não deixando de fazer lembrar a “cidade maravilhosa” do Rio de Janeiro.


Hong Kong vista de um dos morros … e o Pimentel.

Com Macau passou-se o mesmo. Embora mais densamente urbanizada dada a sua pequenez territorial, também a achei uma cidade mais interessante do que imaginava. Com vista ao aumento do território, as ilhas de Taipa e Coloane foram unidas formando uma só, pois aterraram o canal entre as duas ilhas. Aí se situa o maior casino do mundo, o Venetian. Do complexo desse casino fazem parte, o maior hotel de suites do mundo e também um grande centro comercial recriando os canais de Veneza. Será de realçar que nas amplas e aparentes zonas ao ar livre, o céu observável é artificial, tendo-se uma certa dificuldade em distinguir a diferença.

Quanto à presença portuguesa apenas foram observadas algumas pedras: As de algumas ruas com “calçada portuguesa”, o Leal Senado e as ruínas de S. Paulo, onde tiramos a segunda fotografia de família.


Os quatro nas ruínas de S. Paulo.

A terceira etapa começou com a ida de autocarro para o aeroporto de Guangzhou (Cantão) para tomarmos o avião com destino a Guilin.

A zona de Guilin, nas margens do rio Li é, em termos paisagísticos, das mais interessantes da china. Morros fantasmagóricos aparecem por centenas de quilómetros em redor e que tivemos o privilégio de os observar durante um cruzeiro que fizemos ao longo do rio Li. As zonas planas e alagadiças nos intervalos dos morros são na sua maioria para o cultivo do arroz.

Resultado das recentes políticas de liberalização da economia, este cultivo foi de tal modo incrementado que esta região de Guilin abastece de arroz toda a China e grande parte dos países de todo o mundo.


Durante o cruzeiro no rio Li.

Se na “nossa” Guiné havia, ou há, cerca de trinta etnias, na China há cerca de cem. Se na Guiné, como é sabido, cada etnia, ou pelo menos grupos de etnias têm línguas diferentes e as que têm escrita será também diferente, na China essas quase cem etnias a falar não se entendem, porém, salvo as devidas excepções, a escrita é comum a todas elas. Um tanto ou quanto por força dos dirigentes houve uma uniformização dos ideogramas acontecendo que cada carácter chinês significa o mesmo para a maior parte dessas etnias.
Também eu, depois de muito treinar como se dizia em mandarim “olá”, em nenhuma loja de chineses, cá em Portugal, me entenderam, quando os saudava com o correspondente “niau”, “ni au”ou “nihau”.

Acabavam por dizer à maneira deles um “niau” que para mim era o que eu tinha dito… Seria, ou porque não falavam mandarim e provavelmente cantonês ou qualquer outra língua de uma diversa etnia. As diferentes palavras, escritas da mesma forma, ditas, têm várias nuances, ininteligíveis de etnia para etnia.

Positivamente deixei de tentar dizer fosse o que fosse pois nunca me entenderiam. Tive porém o prazer, uma certa felicidade, de entender um chinês que à saída de um restaurante respondendo à sua mulher disse: “Usse”. Tinha estado a chover e a sua mulher ter-lhe-ia perguntado se ainda chovia e como tinha parado de chover ele, olhando para o céu, respondeu “não”.

Toda esta dificuldade de entendimento não terá razões gramaticais. Do pouco que estudei sobre a língua chinesa achei a sua gramática muito simples. Tal como na Guiné, e puxando a brasa à minha sardinha, para se escrever, em crioulo, “Encontros e Desencontros”, utiliza-se uma mesma palavra, Kontra precedida, primeiro, da partícula Na (de afirmação), e depois da partícula Ka (de negação), portanto, “Na Kontra Ka Kontra”.

Para não ir muito longe direi que no chinês os verbos só têm a forma do infinito e duas partículas, uma para indicar passado e outra para indicar futuro. Quer pela dificuldade de pronúncia e da escrita considero o chinês intragável. Coitadas das criancinhas que, pelo menos terão que decorar cerca de dois mil caracteres dos mais de oito mil que existem.


O “bando dos quatro” no átrio do hotel de Guilin com uma “bajuda” da etnia minuritária “miao”.


De Guilin seguimos de avião para Hangzhou a cerca de 250km de Xangai, uma cidade com cerca de oito milhões de habitantes com imensos parques e um lago, o Lago Oeste que, com as suas margens, foi declarado Património Mundial. As suas margens, ao longo de muitos quilómetros, têm os mais diversos motivos de interesse, principalmente pela manhã, vendo-se grupos a dançar, a tocar, a passear os “filhos únicos” de que falarei mais à frente a jogar variadíssimos jogos.

Cabe aqui e desde já referir que, quer aqui e em todos os locais onde estivemos, é impensável ver qualquer “lixinho” no chão. Da mesma forma as bermas das estradas estão rigorosamente limpas. Sob esse aspecto a China mais uma vez me surpreendeu.

De Hangzhou fomos de autocarro para Xangai, parando em Zhujiajiao, povoação lacustre, com vários canais e pequenas pontes com mais de mil e setecentos anos de história e com certas semelhanças a Veneza.


Numa “gôndola” local, o “Brutus” já rendido ao proletariado.

Chegados a Xangai e instalados no hotel ainda percorremos ao lusco-fusco uma rua pedonal larguíssima, com cerca de quilómetro e meio, coalhada de gente, para ir ver a zona de arranha-céus, Pudong, que caracteriza a cidade e que fica na margem direita do “pequeno” rio afluente do Yangtze, aliás onde existe uma das pontes maiores do mundo.


A rua pedonal.


Pudong, do outro lado do rio Huangpu, visto de Puxi. À direita o segundo edifício mais alto do mundo.

No outro dia fomos mesmo a Pudong ver de perto todos aqueles arranha-céus, mas nessa altura o que me prendeu a atenção foi a problemática do “filho único”, tirando imensas fotografias.

Como é sabido aqui há uns anos, na China, foi imposta a lei do “filho único”. Recentemente o governo arrepiou caminho e liberalizou a questão permitindo que cada casal possa ter dois filhos e parece que até um terceiro se o segundo for menina dada a sua “escassez”.

A história da alta natalidade dos muçulmanos e os problemas que estes lhes têm causado também deve ter contribuído para essa tomada de posição.

Acrescentarei duas coisas: Primeiro, neste momento os casais chineses nem um filho querem ter; Segundo, os filhos únicos aparentemente têm todos eles um ar altamente mimado, ao ponto de na TV local passar um anúncio sobre um qualquer produto em que um “filho único” fazia mil e uma condenáveis tropelias numa habitação. Já se imaginou que os filhos dos “filhos únicos” não vão ter primos? E o possível agravamento do narcisismo quando adolescentes e adultos?






Alguns “filhos únicos”. Apesar de lindos, a situação não deixa de ser constrangedora.

Em Xangai visitamos o essencial, o seu museu, considerado o melhor da China e a parte antiga onde, entre muitos outros edifícios do século XIX, apreciamos o edifício mais alto, com quatro pisos, dos fins desse século. Aqui o entusiasmo era grande e não evitamos tirar outra foto de família. Visitámos vários templos budistas e taoistas sempre com edifícios profusamente decorados.


Novamente o “bando dos quatro” na Xangai antiga.

A última etapa desta maravilhosa viagem seria Pequim. A Grande Muralha esperava por nós, bem como a Cidade Proibida.

A Grande Muralha, pelo facto de só ter acesso ao público pequenos troços, constituiu, pelo menos para mim uma decepção, pois contava percorrer uma maior extensão. O que muita gente desconhecerá é que pela mesma altura foi feita uma obra que em grandeza e importância não fica atrás da Grande Muralha. Trata-se de um canal, com cerca de 1800 km, entre Pequim e perto de Hangzhou a sul de Xangai, mandado construir no ano de 605. Uma autêntica auto-estrada fluvial para transporte de todas as mercadorias.

A emoção que não senti na Muralha, viria a senti-la na Praça Tiananmen. Talvez não fosse pela sua grandiosidade mas tão só pelas conotações políticas: O retrato do Mao pendurado por cima da porta principal da Cidade Proibida, a grande avenida, com mais de 40km, que passa entre a grande praça e a entrada da Cidade Proibida onde foi protagonizada a cena dum chinês a enfrentar um tanque, muito contribuíram para esse sentimento.


O “bando dos quatro” já dentro da Cidade Proibida, notando-se uma certa “paz celestial”.

A Cidade Proibida, de dimensões a condizer com o tamanho da própria China, é constituída por uma enorme quantidade de pátios que separam as diversas dependências da Cidade Proibida que por si constituem autênticos palácios. O principal para o imperador, outros para os príncipes, para as concubinas, para os eunucos, diversos servidores, guardas e por aí fora.

Ao longo das estradas que percorremos pudemos apreciar a preservação das florestas de bambus e outras sem esquecer, no entanto, que a China é o maior importador mundial de madeira e como é sabido a Guiné-Bissau tem sido espoliada, pelos chineses, desse recurso natural.

Em todos os pontos turísticos observavam-se autênticas multidões. Eram turistas, porém chineses e na maioria da província. Vinham como nós acompanhados com guias. Muitos olhavam para nós como se nunca tivessem visto um ocidental. Um miúdo chegou a chamar a atenção dos pais apontando para os seus olhos querendo dizer que eram diferentes dos nossos. Várias vezes, principalmente os miúdos, nos pediram para tirar fotografias com eles, sendo o Pimentel o mais pretendido…

Em conclusão direi que a China, em todos os aspectos se revelou uma surpresa. Do comunismo nada se viu, antes pelo contrário. Neste momento, dada a abertura da economia, qualquer chinês pode criar uma empresa, ganhando o que quiser. Além de inúmeros prédios de arquitectura vanguardista, viram-se mansões de gente endinheirada como é difícil ver noutros países. Também qualquer estrangeiro pode montar qualquer negócio desde que associado a um chinês maioritário. A ideia com que se ficou foi de um país muito desenvolvido, amante da natureza e da limpeza, porém cumpridor das leis em excesso.

Como já referi nas avenidas processava-se um trânsito infernal de carros de alta cilindrada a par de algumas bicicletas a pedal e milhares, ou milhões, de motorizadas porém todas, mas mesmo todas, eléctricas. Ruído zero.


A natureza no nosso hotel em Pequim.




Exemplos de prédios vanguardistas em Pequim. O Cubo de água e o ninho de pássaro (dos Jogos Olímpicos), o edifício da televisão do Arq. Rem Koolhaas e outro da Arqa. iraquiana Zaha Hadid.

Fotos, texto e legendas ©: Fernando Gouveia (2014).  Todos os direitos reservados

Um grande abraço a todos.

Fernando Gouveia
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Nota do editor

Último poste da série de 28 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13540: Os nossos seres, saberes e lazeres (73): Há festa na Tabanca de Candoz, com o grupo de bombos de Santa Eulália, Ariz, Marco de Canaveses...

Guiné 63/74 - P13648: Convívios (631): Rescaldo do Encontro comemorativo dos 43 anos após o regresso da Guiné, do pessoal da CCAÇ 2615, realizado no passado dia 20 de Setembro de 2014, em Leiria (Manuel Amaro)



1. Em mensagem do dia 23 de Setembro de 2014, o nosso camarada Manuel Amaro (ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 2615/BCAÇ 2892, Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala, 1969 a 1971) enviou-nos o rescaldo do convívio da sua Unidade, levado a efeito no passado dia 20.


CONVÍVIO CCAÇ 2615 

A CCAÇ 2615 / BCAÇ 2892 (Guiné, 1969/71), realizou no dia 20 de Setembro mais um convívio para comemorar os 43 anos do regresso da Guiné.
O local escolhido foi o Restaurante Fonte do Corvo, na Aldeia da Boavista (Leiria).

Como é natural o número de presenças vai diminuindo com o passar dos anos e apenas 35 ex-combatentes responderam presente, embora acompanhados por cerca de 50 familiares.

Nota positiva foi a presença do Major General Pedro Pezarat Correia que foi Oficial de Operações do BCAÇ 2892, com a patente de Major.

Antes do almoço, o Capitão António Ramalho Pisco congratulou-se com a presença de todos e evocou aqueles camaradas que entretanto nos deixaram, (três durante a guerra e 35 depois do regresso), tendo sido guardado um minuto de silêncio.

O Major General Pezarat Correia fez também uma intervenção, brilhante como sempre, sobre a guerra, (uma guerra sem sentido), sobre os seus efeitos e sobre o que hoje move os ex-combatentes nestes convívios: uma procura da juventude, mas cimentada em amizades fortes e duradoiras.

No final, creio que pela primeira vez nos nossos convívios, cantou-se o Hino Nacional, o que provocou alguma emoção na sala.

Em 2015 lá estaremos outra vez. Pelo menos estarão os que forem resistindo às marcas do tempo.

Um Abraço
Manuel Amaro

O Major Gen Pezarat Correia na sua intervenção

Aspecto da sala
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Nota do editor

Último poste da série de 2 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13636: Convívios (630): Almoço de confraternização e comemoração do 40.º aniversário do regresso da CCAÇ 4544/73, levado a efeito no dia 14 de Setembro de 2014, no Marco de Canaveses (António Agreira)

uiné 63/74 - P13647: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (2): "Párti um peso" e "Canção de Mamã Negra", de Albano de Matos, pp. 6/7







Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Bambadinca > CCS/BART (1979/72) > Fotos do álbum do fur mil op esp. Pel Rec Info, Bemjamin Durães: tributo à beleza das crianças. bajudas, muheres e  mães fulas.

Fotos: © Benjamim Durães (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]



Elementos da capa do documento policopiado do Caderno de Poesias Poilão", editada em dezembro de 1973 pelo Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino (O GDC dos Empregados do BNU foi criado em 1924).











1. O nosso camarada Albano Mendes de Matos [, ten cor art ref, que esteve no GA 7 e QG/CTIG, Bissau, 1972/74, e foi o "último soldado do império"; é natural de Castelo Branco, vive no Fundão; é poeta, romancista e antropólogo], mandou-nos uma cópia, em pdf, do Caderno de Poesias "Poilão"...

Temos a sua autorização para reproduzir aqui, para conhecimento de um público lusófono mais vasto, este livrinho, de que se fizeram apenas 700 exemplares, policopiados, distribuídos em fevereiro de 1974, em Bissau. A iniciativa foi do Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, cuja origem remonta a 1924.

Reproduzimos hoje mais dois dos três dos poema de Albano de Matos (pp. 5/7), que abrem o pequeno livro, de 35 pp. O Albano de Matos, editor literário, juntou nesta primeira antologia da poesia guineense, 24 poemas, de 11 poetas lusófonos (4 da Guiné, 3 de Cabo Verde e 4 de Portugal). Dos poetas guineenses o destaque vai para Pascoal D’Artagnan Aurigema (1938-1991), com três poemas que apresentaremos no próximo poste. (LG)

PS - Para os nossos leitores mais jovens, e os demais que não conheceram o território da Guiné no tempo dos portugueses: "parte peso" (crioulo) = dar dinheiro ("patacão)", dar um tostão... O peso era a unidade da moeda local. o escudo guineense (no tempo colonial). Esta cena aqui evocada no poema "parti un peso, patrão" era frequente, num país em guerra,  nomeadamente em Bissau, pejada de soldados, nas ruas e nas esplanadas, geralmente em trânsito (uns a partir, outros a chegar)...Muitos miúdos mascaravam a mendicidade, vendendo "mancarra" (amendoim)... Já o termo "patrão", como sinónimo de branco, seria mais usado em Angola (, território por onde também passou o Albano de Matos, camarada de grande sensibilidade sociocultural)...

Quantao ao poema "Canção de Mamã Negra" tem evidentes ressonâncias angolanas...Vem-me à memória poetas angolanos como: (i) o Viriato da Cruz (Porto Amboim, 1928- Pequim, China, 1973), autor do magistral poema "Mamã negra: canto de esperança"; ou como  (oo) Alda Lara (Benguela, 1930-Cambambe, 1962) e o seu poema "Prelúdio"  (que é datado de Lisboa, 1951) e onde se encontram as famosas estrofes da Mãe Negra, cantadas por angolanos e portugueses (com destaque para o Paulo de Carvalho). 

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13646: Agenda cultural (338): III Jornadas sobre Valorização do Património Abaluartado da Raia Transfronteiriça, dias 26 e 27 de Setembro de 2014 na Biblioteca da Câmara Municipal de Castro Marim (António J. Pereira da Costa)

1. Mensagem do nosso camarada António José Pereira da Costa (Coronel de Art.ª Ref, ex-Alferes de Art.ª na CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; ex-Capitão de Art.ª e CMDT das CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74), com data de 22 de Setembro de 2014:

Vou participar na iniciativa supra que decorre na biblioteca da Câmara Municipal de Castro Marim.
A minha intervenção terá lugar pelas 15H45 de 26 de Setembro (sexta-feira).
Estão todos convidados para assistir.
Um Abraço do
António Costa


C O N V I T E

III JORNADAS SOBRE VALORIZAÇÃO DO PATRIMÓNIO ABALUARTADO DA RAIA TRANSFRONTEIRIÇA



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Nota do editor

Último poste da série de 19 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13627: Agenda cultural (337): Jornadas Europeias do Património - 26 a 28 de Setembro de 2014 no Museu da Marinha

Guiné 63/74 - P13645: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte XI: dezembro de 1972: (i) talvez a primeira quadra festiva do Natal e Ano Novo passada, no setor L1, sem ataques nem flagelações do IN; (ii) por outro lado, o comandante 'Nino' Vieira vem pessoalmente à frente Bafatá-Xitole para censurar e punir maus tratos infligidos às populações locais pelos seus guerrilheiros


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) / CCAÇ 12 (1969/71)  > 1969 > A capela de Bambadinca (onde havia uma pequena comunidade cristã).. Também servia de "capela mortuária"...


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) / CCAÇ 12 (1969/71)  > O fur mil at inf Arlando  Roda,  fotografado no presépio montado em Bambadinca, possivelmente no Natal de 1969, no primeiro ano da CCAÇ 12 (que esteve ao serviço, no meu tempo, de dois batalhões, o BCAÇ 2852 e o BART 2917 (1970/72). Este último foi rendido pelo BART 3873 (1972/74).

Fotos: © Arlindo Roda (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]


1. Continuação da publicação da história do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74), a partir de cópia digitalizada da história da unidade, em formato pdf, gentilmente disponibilizada pelo António Duarte.

[António Duarte, ex-fur mil da CART 3493, companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972/74; foi voluntário para a CCAÇ 12 (em 1973/74); economista, bancário reformado, foto atual à esquerda].


Dois destaques, no mês de dezembro de 1972 (com o BART 3873 a fazer um ano de comissão no TO da Guiné: a partida em Lisboa, no T/T NIassa foi em 22/12/1971):

(i)  o Natal e o Ano Novo  foram tranquilos, no setor L1 (que inclui os subsetores de Bambadinca, Xime, Mansambo e Xitole); contrariamente à tradição, o PAIGC deixou a rapaziada comer as rabanadas, beber o vinho finho e contar as janeiras na santa paz do senhor: não houve, nesta época festiva, nem ataques nem flagelações aos numerosos aquartelamentos e destacamentos guarnecidos por forças o BART 3873;

(ii)  há indícios de que o IN, na região (a frente Bafatá-Xitole), anda desorientado e nervoso, a dar tiros nos pés, a maltratar a população tradicionalmente sob o seu controlo ou onde, sob duplo controlo, em tabancas, "dosso nosso lado", onde  há simpatizantes (, muitas vezes por razões de parentesco): é o caso por exemplo das populações (balantas) de Mero e de Bissaque; numa visita de inspeção (sic) à "frente Bafatá-Xitole", é o próprio 'Nino', o então mítico  comandante João Bernardo Vieira 'Nino, quem vem em pessoa censurar e reprimir abusos dos guerrilheiros locais contra a população... (´É o que se pode ler na história da unidade - BART 3873, Bambadinca, 1972/74).

Por outro lado, Spínola está de novo em Bambdinca, em 19 de dezembro, para presidir às cerimónias de encerramentop do 4º turno de milícias...Um dos pelotões, o Pel MIl 358, composto por gente de Mero, vai defender a sua própria tabanca... É um revés muito sério para o partido de Amílcar Cabral. Algo impensável no meu tempo, em 1969, em que éramos (a CCAÇ 12) recebidos com hostilidade passiva, em Mero...

Por outro lado, na sua alocução, Spínola utiliza um fraseologia política que é nova, conceitos como "participação" ou "Guiné mais justa e mais rica"...

É feita ainda uma referência ao jornalista francês Dominique le Roux, que uns meses antes visitara o CTIG e o setor L1,  e que é  apresentrado como um simpatizante dos movimentos nacionalistas africanos, mas ao mesmo tempo capaz de protestar junto da histórica e influente revista  "Jeune Afrique" pela publicação de uma reportagem tendenciosa em relação ao PAIGC e à Guiné portuguesa.  (LG)

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Dezembro de 1972: talvez  a primeira quadra festiva do Natal e Ano Novo passada, no setor L1, sem ataques nem flagelações do IN