terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P14071: Fotos à procura de... uma legenda (49): a escolinha do nosso tempo e a Carta de Portugal Insular e Ultramarino (Luís Graça)


Foto nº 1 > A famosa Carta de Portugal Insular  e Ultramarino (autor: Gaspar de Almeida; editor: Manuel Pereira)



Foto nº 2 > Carta de Portugal Insular e Ultramarino > Detalhe: carta da Guiné  





Foto nº 3 > Reconstituição  de um recanto da sala de aula de uma escola primária da década de 1960




Lourinhã > Centro Cultural Dr. Afonso Rodrigues Pereira > 14 de dezembro de 2014 > ADL - Associação para o Desenvolvimento da Lourinhã >  Exposião de fotografias antigas


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados


1.  Segundo o portal TV Ciência, esta carta seria de 1958. Foi através dela que nos começamos a famililiarziar com os topónimos guineenses como Cacine. Mansoa, Bambadinca, Bedanda, Pitche... Notas:

Autor: Gaspar de Almeida, Desenhador do Ministério do Ultramar - Lisboa
Editor: Manuel Pereira - Livraria Escolar Progredior Porto
Açores - Escala 1:2.000.000
Planisfério
Distrito de Dio - Escala 1:200.000
Distrito de Damão - Escala 1:400.000
Madeira - Escala 1:600.000
Cabo Verde - Escala 1:1.500.000
Angola - Escala 1:5.000.000
Moçambique - Escala 1:5.000.000
Distrito de Goa - 1:600.000
Macau - Escala 1:150.000
Guiné - Escala 1:2.000.000
S. Tomé Príncipe - Escala 1:1.200.000
Timor - Escala 1:2.000.000
Coordenada e desenhada pelo autor
5.000 Exp. Julho-1962
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Nota do editor:

Último poste da série > 13 de dezembro de  2014 > Guiné 63/74 - P14020: Fotos à procura de ... uma legenda (48): O fim das hostilidades entre as NT e o PAIGC em Mansoa (Mário Vasconcelos, ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, COT 9 e CCS/BCAÇ 4612/72, Mansoa, e Cumeré, 1973/74)

Guiné 63/74 - P14070: Parabéns a você (834): Albano Costa, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 4150/73 (Guiné, 1973/74); Felismina Costa, Amiga Grã-Tabanqueira e Carlos Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS do STM/QG/CTIG (Guiné, 1968/70)



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Nota do editor

Último poste da série de 22 de Dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14063: Parabéns a você (833): Miguel Vareta, ex-Fut Mil CMD da 38.ª CCMDS (Guiné, 1972/74)

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P14069: Blogoterapia (264): Infelizmente para mim e para quem me é mais próximo, este Natal não será como dantes (Joaquim Cardoso)

1. Mensagem do nosso camarada Joaquim Cardoso (ex-Soldado de TRMS do Pel Mort 4574, Nova Lamego, 1972/74), com data de 22 de Dezembro de 2014:

Caros amigos:
Luís Graça, Carlos Vinhal, restantes editores e camaradas em geral.
Vivendo-se já tempos de advento e, faltando apenas quatro dias para o Natal, é pois altura de, através deste meio, enderessar meu desejo de que todos tenhais um Natal cheio de amor e alegria na companhia de quem vos é mais querido.

Infelizmente para mim e para quem me é mais próximo, este Natal não será como dantes, porque notar-se-á um lugar à mesa por preencher. 
Sinto e, sentirei mais nesse dia, a ausência da minha esposa, Maria Teresa, que durante 38 anos me fez companhia.
Quis o destino ou a lei da natureza o ordenou, que no dia 11 do passado mês de outubro nos deixasse partindo para outro mundo. Faltaram apenas 9 dias para o seu quinquagésimo nono aniversário.
Lá, onde estiver, que tenha eterno descanso.

À parte, envio estes versos que são fruto das minhas angustiadas memórias da Guiné, ano de 1972/74.
É o primeiro poema, (se assim se pode chamar), que escrevo, pedindo desde já desculpa aos poetas pela minha ousadia, pois reconheço que não o sou nem pretendo obter tal título, apenas é uma forma de ocupação de tempos livres.


O Pilão e Grão

Tum tom, tum tom
De parte incerta chega o som
Longe ou perto, estou certo,
É o bate que bate do pilão

Bem aprumado
Por mãos agarrado
Sobe e desce e sem paixão
Com sua forte batida
Vai moendo e remoendo
O doirado grão

E o grão coitado
Tão mal tratado
Relado, esmagado
perde seu nome
De milho passa a farinha
E desta ao pão que se come

Da desfeita não se queixa
É grande a sua nobreza
Tudo aceita nada enjeita
Desde o campo até à mesa

Ei-lo chegado aqui
Acabado de cozer
Tem gosto e dará gosto
A quem o puder comer

E ao grãozinho doirado
Só uma coisa o consome
Ver tanto pão estragar-se
E haver crianças com fome

Joaquim Cardoso
Ex-Soldado TRMS
Nova Lamego
Guiné, 1972/74

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Comentário do Editor:

Obrigado caro amigo Joaquim Cardoso, por, apesar de estares a sofrer pela recente perda da tua esposa, vires até nós para, generosamente, desejares a todos nós aquilo que tu não vais ter, uma noite de Natal com alegria.

Embora com atraso, aqui deixamos a nossa solidariedade e a certeza de que na noite do dia 24, muitos de nós irão dedicar uns momentos de introspecção em memória da tua esposa.

Recebe um abraço amigo
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 20 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13920: Blogoterapia (263): O Homem entre o Amor e a Guerra (Francisco Baptista, ex-Alf Mil da CCAÇ 2616 e CART 2732)

Guiné 63/74 - P14068: Estórias e memórias de Silvério Dias, radialista, PFA, 1969/74 (4): "É Natal, / De todos diferente, / Mais quente / Que os outros Natais. / Hoje, só tenho ais, / Quando no passado / Ria feliz, / Contigo a meu lado. / Natal de tristeza, / O Destino assim quis, / Natal que defino / Com uma só certeza: / - Nasceu o Menino" (Silvério Dias, 2º srgt art, CART 1802, Farim, dezembro de 1967)







Foto: © Silvério Dias (2014). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. Mensagem de hoje, do Silvério Dias [ ex-2º srft art,
CART 1802, Nova Sintra, 1967/69; 1º Srg Art, locutor do PFA, Bissau QG/CTIG, 1969/74: civil, delegado de propaganda médica, 1974/76; 1º srgt art ref):


Caro "Homem Grande da Tabanca", manda tocar o clarim a reunir para que todos vejam o pragmático aerograma (para nós, bate-estradas), na emissão especial de Natal, este datado de Dezembro de 1967, altura em que eu, "periquito", passei as "festas" em Farim, local de "pouso" após desembarque no Cais de Pidjiguiti.

Silvério Dias
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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P14067: Sob o poilão sagrado e fraterno da nossa Tabanca Grande: boas festas 2014/15 (8): José Eduardo Oliveira, Luís Fonseca, José Carlos Mussá Biai, Joaquim Nunes Sequeira, José Teixeira, António M. Sucena Rodrigues, José R. Firmino, António Tavares, Ernestino Caniço, Júlio C. Abreu e Abel M. Santos

Sob o poilão sagrado e fraterno da nossa Tabanca Grande: Boas Festas 2014/15


1. Mensagem do nosso camarada José Eduardo Oliveira (JERO), ex- Fur Mil Enf.º da CCAÇ 675, (QuinhamelBinta e Farim, 1964/66), com data de 17 de Dezembro de 2014:

Boa noite
As minhas primeiras palavras vão para o amigo especial, e que muito prezo, que é o fundador, administrador e editor da primeira hora, que responde pelo nome de Luís Graça Seguem-se nos meus agradecimentos os co-editores e os colaboradores permanentes.
Tomo a liberdade de distinguir a "trave-mestra" do Tabanca Grande, Carlos Vinhal. Que bem merece uma estátua pelo seu trabalho e dedicação. Que acontece já há tantos anos. Muito obrigada a todos.

Abraço fraterno e cisterciense de Alcobaça.
JERO

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2. Mensagem do nosso camarada Luís Fonseca, ex-Fur Mil Trms da CCAV 3366/BCAV 3846, Suzana e Varela, 1971/73, com o seu postal natalício:






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3. Mensagem do nosso amigo guineense José Carlos Mussá Biai, com data de 19 de Dezembro de 2014

Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio
no prédio que amanhã for demolido...
entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.
Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...
entremos, despojados, mas entremos.
De mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.

David Mourão-Ferreira - Cancioneiro de Natal. 
Lisboa: Edições Rolim, 1986.

Votos de um Feliz Natal e um Bom Ano Novo!
José C. Mussá Biai

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4. Mensagem do nosso camarada Joaquim Nunes Sequeira, ex-1.º Cabo Canalizador do BENG 447, Guiné, 1965/67, com data de 19 de Dezembro de 2014:

Camarada Luís Graça e companhia.
Segue Boas-Festas e ao mesmo tempo vão umas fotos de Farim de 1966 para tentar dar mais um toque do que era Farim naquele tempo.
Há dias vi as fotos do companheiro Patrício Ribeiro e fui ao baú tirar as que seguem dá para marcar mais uns pontos no nosso blogue.

Um Abraço a todos os Camarigos do
Sempre “Sintra” da Guiné.
Camarigo n.º 608

Nota do editor:
As fotos alusivas a Farim, porque são muitas, serão publicadas oportunamente na série A memória dos lugares

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5. Mensagem do nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux. Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), com data de 19 de Dezembro de 2014:

Bom amigo.
Todos os anos, pelo Natal, somos convidados:
A parar um pouco no tempo e olharmo-nos com outros olhos.
A distribuir amor à nossa volta com sorrisinhos e votos de Boas Festas.
A dar oportunidade à Família.
A olhar os mais frágeis (coitadinhos) com outros olhos.

e depois...


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6. Mensagem do nosso camarada António Manuel Sucena Rodrigues (ex-Fur Mil da CCAÇ 12, Bambadinca e Xime, 1972/74), com data de 20 de Dezembro de 2014:

A todos os camaradas desejo Boas Festas



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7. Do nosso camarada José Rodrigues Firmino, ex-Soldado Atirador da Companhia de Caçadores 2585/BCAÇ 2884 Jolmete, 1969/1971:





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8. Do nosso camarada António Tavares, ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72:






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9. Do nosso camarada Ernestino Caniço, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Rec Daimler 2208, MansabáMansoa e Bissau, 1970/72:






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10. Mensagem do nosso camarada Júlio da Costa Abreu, ex-1.º Cabo Comando, Chefe da 2.ª Equipa do Grupo de Comandos "Centuriões" (Brá, 1964/66); a viver na Holanda:

Caros Amigos Luís e Vinhal,
Por este meio e desta fria Hollanda, venho juntar os meus votos sinceros de UM NATAL MUITO FELIZ e UM ANO 2015 muito próspero para todos os colegas (e famílias) não só da Guiné, mas também de Angola e Moçambique, onde perderam parte da juventude e se formaram verdadeiros Homens e Mulheres, comendo o pão que infelizmente o diabo amassou.

Júlio Abreu
Grupo de Comandos  Centuriões
Ex-Guiné Portuguesa

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11. Mensagem do nosso camarada Abel Santos (ex-Soldado Atirador da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), com data de 14 de Dezembro de 2014:

Para os meus camaradas ex. combatentes e toda a tertúlia, assim como seus familiares um Santo e Feliz Natal.

Abel Santos

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Nota do editor

Último poste da série de 22 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14066: Sob o poilão sagrado e fraterno da nossa Tabanca Grande: boas festas 2014/15 (7): Continuo a ter razões para acreditar na existência do Menino Jesus (José da Câmara)

Guiné 63/74 - P14066: Sob o poilão sagrado e fraterno da nossa Tabanca Grande: boas festas 2014/15 (7): Continuo a ter razões para acreditar na existência do Menino Jesus (José da Câmara)

1. Mensagem do nosso camarada José da Câmara (ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73), com data de 18 de Dezembro de 2014:

Caros camaradas, amigos
Quase todos nós vivemos as celebrações do Natal em Portugal. Nos Açores, em particular na Ilha das Flores, o Natal era o Dia do Menino Jesus, símbolo da Vida e da Esperança que todos os anos se renovam.

Para nós, pequenada daqueles tempos nas aldeias portuguesas, amanhecíamos, alguns, porque em muitas casas o Menino Jesus era extremamente pobre, com um pequeno embrulho de figos passados, uma buzina de azul celestial com o Galo de Barcelos, um carrinho puxado a bois de sabugos. As meninas acordavam com lindas bonecas feitas com trapos ou de fiado de lã nos seus braços. Inocentemente, quando recebíamos algum presente corríamos a vizinhança a mostrar aos nossos amigos e amigas os lindos presentes que o Menino Jesus nos trouxera.

Um dia, de várias maneiras, a nossa inocência foi sacudida e acordámos para a realidade. Quase sem darmos por isso éramos crianças feitas homens e mulheres capazes de lavrar, de ordenhar, de cavar e sachar, tomar conta de um bebé, cozinhar, cozer pão, remendar umas calças. Aos poucos os nossos pais foram depositando as suas esperanças em nós e com elas caíam em cima dos nossos ombros a responsabilidade da renovação da vida.

O cumprimento do serviço militar obrigatório, a guerra do Ultramar, qual fasquia de vida e morte, deixou-nos recordações que a neblina da memória não conseguiu apagar. É por isso que aqui, na Tabanca Grande, nos encontramos dia após dia, ano após ano. Para recordar a nossa meninice, os nossos tempos de tropa, aqueles que deram o melhor de si mesmos a esta grande Nação Portuguesa, os que nos deixaram, os que vão chegando. Aqui tentamos passar o nosso testemunho sócio militar aos nossos filhos e netos. Para que a história da nossa juventude passada em terras do Ultramar nunca seja desventrada.

O Natal, mais que outra época qualquer, passado na Guiné tem histórias mil. Algumas são dolorosas, hilariantes outras, a amizade está em todas elas. Que os anos apenas serviram para a solidificar. Nada mais verídico do que aquilo que aconteceu entre os militares das açorianíssimas CCaç 3326, 3327 e 3328. No primeiro Natal passado naquela Província Ultramarina, foram trocadas mensagens de esperança entre os militares daquelas Companhias. Por nessa altura já me encontrar no Pel Caç Nat 56, sediado no Destacamento de São João, não fiz parte da troca daquelas mensagens… Isto é, até recentemente, 43 anos passados que foram sobre esse longínquo Natal de 1971, quando recebi a mensagem que os furriéis da CCaç 3328 endereçaram aos furriéis da CCaç 3327.


Sem dúvida alguma, uma mensagem que não chegou tarde, apenas me fez regressar às Bolanhas da Guiné, ao meu Natal de Criança. Sim, eu continuo a ter razões para acreditar na existência do Menino Jesus.

Para todos vós Festas Felizes e Bons anos.
José Câmara
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de Dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14060: Sob o poilão sagrado e fraterno da nossa Tabanca Grande: boas festas 2014/15 (6): Carlos Rios, Manuel Lema Santos, Vasco Santos, Armando Teixeira da Silva, Mário Gaspar, Vasco Pires, José Lima da Silva, Sivério Dias, Benito Neves, Sousa de Castro, José Martins, João Coelho e Manuel Alheira

Guiné 63/74 - P14065: (Ex)citações (256): Eu gostava de saber um pouco mais sobre esse missionário italiano, o padre António Grillo (1925-2014), que tinha um especial carinho pelos balantas de Samba Silate (e era respeitado por eles) (A. M. Sucena Rodrigues, ex-fur mil, CCAÇ 12, Bambadinca e Xime, 1972-74)


1. Mensagem do António Manuel Sucena Rpdrigues [, foto à esquerda, em Ortigosa, Monte Real, no 3º Encontro Nacional da Tabanca Grande, em 17/5/2008]

Data: 21 de dezembro de 2014 às 19:37

Assunto: Obrigado, Luís


Obrigado, Luís Graça pela importantíssima ajuda que deste no texto que enviei e que foi já publicado (*). Nunca, antes nem depois, tinha ouvido falar do tal missionário Padre António [Grillo].

Fico agora com um peso de consciência, por não ter descrito este episódio ainda em vida desse missionário. Gostava que ele soubesse do respeito que me pareceu merecer, por parte desse guerrilheiro. Agora compreendo por que razão, passados 11 anos de guerra, ele se lembrou do padre António.

Também gostaria de saber um pouco mais sobre este guerrilheiro. Se pelas fotos fosse possível algum camarada identificá-lo... Fico na expectativa.

Obrigado, Luís.

Um abraço e Boas Festas.

A.M. Sucena Rodrigues
Ex-Fur Mil da CCaç 12 (72-74)

2. Comentário de L.G.:

Meu caro camarada Sucena Rodrigues;  Eis o que eu sei do tal padre missionário António Grillo, recentemente falecido, e sobre o qual já temos alguns postes. (Quanto ao guerrilheiro com quem foste a Samba Silate, será por certo mais difícil identificá-lo, no caso de ainda ser vivo; mas pode ser que alguém, na Guiné-Bissau, o reconheça... Afinal, o Mundo é Pqueno e a nossa Tabanca... é Grande!).





O missionário António Grillho de visita à sua querida Bambadinca, em 22/2/2008. (Fonte: blogue "Igreja Católica na Guiné-Bissau > 19 de junho de 2014 > Faleceu Pe. António Grillo, com a devida vénia)


Acerenza, comuna italiana da região da Basilicata, 
província de Potenza (Fonte: Wikipedia


António Grillo (1925-2014):

(i) Faleceu no passado 18 de junho de 2014, em Acerenza, Itália, com a idade de 89 anos;

(ii) tinha nascido no dia 10 de junho de 1925,  naquela cidadezinha, do sul de Itália (c. de 2500  habitantes em 2011);

(iii) foi ordenado sacerdote no dia 25 de junho de 1950;

(iv) partiu para a missão da Guiné-Bissau, então território sob administração portuguesa, aonde chegou em 16 de Novembro de 1951, como missionário do PIME ((Pontifício Instituto para as Missões Exteriores);

(v) esteve sempre muito ligado à Missão Católica de Bambandinca, que hoje faz parte do  território da Diocese de Bafatá;

(vi) foi detido pela então polícia política portuguesa, a PIDE,  a 23 fevereiro de 1963, sob a acusação de atividades subversivas;

(vii) esteve preso em Bissau e depois em Lisboa;

(viii) acabou por ser libertado em 4 de julho de 1963 em homenagem de Portugal, ao novo pontífice, o Papa Paulo VI (1898-1978), que em 21 de junho de 1963 tinha sucedido a João XXIII, na cátedra de São Pedro;

(x) voltou, entretatanto,  à Itália;

(xi) doze anos, com a  independência da Guiné-Bissau,  volta a Bambadinca,  onde trabalha, de 1975 a 1986, associado ao PIME;



Guiné-Bissau > Bambadinca > 22 de fevereiro de 2008 > Na inauguração do Liceu ( Fonte: blogue "Igreja Católica na Guiné-Bissau > 19 de junho de 2014 > Faleceu Pe. António Grillo, com a devida vénia)


(xii) no dia 22 de Fevereiro de 2008, foi inaugurado, em Bambadinca, o Liceu em autogestão Pe. António Grillo; a cerimónia contou com a presença de vinte amigos da Arquidiocese de Acerenza, entre os quais o Pe. António Grillo bem como o Arcebispo Dom Giovanni Ricchiuti; a diocese de Acerenza, que fez uma geminação com Bambadinca e por extensão com a diocese de Bafatá, colaborou na construção deste liceu, ajudando na conclusão de um pavilhão de 3 salas de aulas;




Visita a Bambadinca em 2010 (Fonte: blogue "Igreja Católica na Guiné-Bissau > 19 de junho de 2014 > Faleceu Pe. António Grillo, com a devida vénia)


(xiii) o Pe. Antonio Grillo visita,  pela  uma última vez,  a Guiné.Bissau e, mais propriamente, a sua querida Bambadinca, de 21 a 28 de Janeiro de 2010 em companhia de  Dom Giovanni Ricchiuti, familiares e amigos de Acerenza; a sua preocupação de sempre foi a cristianização dos balantas

(xiv) está sepultado em Acerenza.





Visita a Bambadinca; Pe. Antonio com o tradicional barrete balanta, em 23 de fevereiro de 2008 (Fonte: blogue "Igreja Católica na Guiné-Bissau > 19 de junho de 2014 > Faleceu Pe. António Grillo, com a devida vénia)


3. Mais informações sobre o Padre António Grillo


3.1. Recorro aqui ao sítio de Paolo Grappasonni que, em finais de 1988, fez uma visita às missões italianas na Guiné-Bissau e evoca a figura do padre Anmtónio Grillo. Reproduzem-se excertos do texto "Notas de viagem à Guiné-Bissau", a partir de tradução minha do italino para português:

(...) "O Padre Antonio Grillo,  de Acerenza, viveu durante vários anos e em diferentes períodos entre os Balantas de Bambadinca. Publicou um opúsculo em Maio de 1988 intitulada: "Os Meus Balantas" de que retiro algumas das suas experiências mais significativas.

Tinha 26 anos quando a 12 de setembro de 1951, partiu do PIME de Milão, com três missionários num jipe americano,  a caminho de Portugal e depois da Guiné, em África.  Fazia parte da segunda expedição missionário do PIME à Guiné. Bambadinca é a região missionária para a qual o padre Grillo é enviado juntamente com o  padre Biasutti, em 31 de Janeiro de 1952. Depois um ano de espera para obter visto do Governo Português, e depois de uma viagem aventurosa por terra e mar, finalmente podiam começar.

 "Infelizmente - escreve o padre Grillo - nós tivemos que aceitar estabelecer a nossa residência em Bambadinca, a povoação onde estavam também as autoridades administrativas portuguesas, porque eles queriam manter-nos sob o seu controle constante. Já naquele tempo não nos permitiam com facilidade, mesmo a nós, missionários,  que entrássemos na floresta para contactar  as várias tribos. Teríamos preferido uma grande aglomerado populacional de Balantas como Samba Silate porque estes eram animistas, enquanto quase todos os habitantes de Bambadinca eram muçulmanos. "

Em língua madinga, "Bamba" significa "crocodilo", "Dinga" significa "cova": e na verdade, nos anos 50 o vizinho rio Geba estava cheio de crocodilos.

 A aldeia de Samba Silate, em 1955, já tinha 1750 habitantes, na sua maioria do grupo étnico Balanta, com poucos Papéis e alguns muçulmanos. Samba Silate, que significa "campo de arroz", foi a primeira estação missionária na zona de Bambadinca. O motivo que levou o padre Grillo a optar por esta aldeia, foi apenas o número dos seus habitantes que, se se convertessem, poderiam atrair as outras aldeias mais aldeias. (...)



3.2. De um outro site, italiano, sobre os 150 anos do PIME (Pierio Gheddo - PIME 1850-2000: 150 Anni dei Missione)  retirei, em tempos, a seguinte informação sobre o conflito do Padre Grilo com as autoridades portugueses, em 1963, bem sobre as crescentes dificuldades dos missionários italianos na sequência da escalada do conflito político-militar naquele território.

[Curiosamente, o meu atual programa de segurança não me deixa lá voltar, a este "site",  devido ao seu "conteúdo potencialmente perigoso"]...

(...) O PIME debaixo de fogo: a prisão do padre Grillo (1963)

O Superior Geral, padre Augusto Lombardi visita a Guiné (10 de Dezembro de 1959 -26 fevereiro 1960), e incita os missionários a empenharem-se mais para ajudar o povo da Guiné, mas evitando cuidadosamente qualquer gesto ou opinião política: o imperativo é permanecer no local sem se fazerem expular: os missionários estrangeiros podiam desempenhar um papel importante na defesa do homem.

 No início dos anos sessenta,  a Guiné entra significativamente em  clima de guerra. A primeira vítima é a padre Antonio Grillo, o apóstolo dos Balantas em Bambadinca, sob a acusação, que se soube mais tarde ser completamente falsa, de ser amigo de um líder da guerrilha.

 Detido pela polícia política portuguesa (Pide), a 23 fevereiro de 1963, encarcerado primeiro em Bissau e depois em Lisboa, acabou por ser libertado em 4 de julho em homenagem de Portugal, ao novo pontífice, o Papa Paulo VI.

 As missões do PIME nas regiões mais remotas, estão na primeira linha da frente. A de Suzana ], no chão felupe, região do Cacheu]  é ocupada pelo exército Português, os missionários têm que retirar-se para evitar ficar comprometidos aos olhos da população local (os cristãos passam a ser  visitados todos os meses a partir de Bafatá).


Catió [, no sul, na região de Tombali,], por sua vez, está no centro da guerrilha por causa de sua proximidade com a Guiné-Conacri, de onde vêm as armas e os guerrilheiros: os padres já não podem visitar as aldeias sem a permissão da polícia e na cidade estão sujeitos a controlos rigorosos.

Farim, por seu lado, permanece isolada durante longos meses, as estradas estão cortadas e só se pode viajar em colunas militares; ataques noturnos dos guerrilheiros e represálias do Exército, com incêndios de aldeias, tortura, massacres.

Em 10 de junho de 1963 um novo Prefeito Apostólico: Monsenhor João Ferreira, jovem, entusiasta e com bons projetos, mas infelizmente resistiu apenas dois anos e meio ao clima da Guiné: Regressa a Portugal em Agosto de 1965. O seu sucessor, Mons. Amândio Neto, também está numa linha moderadamente inovadora: deixar trabalhar os missionários, defendendo-os sempre a suspeita dos militares e da Pide. (...)


3.3.   De 21 a 28 de Janeiro de 2010, o octagenário  Padre António Griillo (vd. foto à direita, com a devida vénia ao citado blogue ) voltou a Bambadinca, com uma delegação da sua diocese de Acerenza para inaugurar uma escola a que foi dado o nosso nome... Voltou a Samba Silate, aos seus balantas. Foi recebido com grande entusiasmo, alegria e espírito ecuménico.

É doloroso para a nossa memória, mas não podemos ignorar, esquecer, branquear, desculpar o que se terá passado em Samba Silate (e noutros locais do CTIG) em  1961, 1962, 1963, "anos de chumbo" que abntecederam a guerra...

Não sabemos exactamente qual foi o envolvimento dos militares portuguesesi, antes da guerra, envolvidos em ações que eram mais de polícia  do que propriamente de natureza militar... A PIDE costuma ficar com o odioso destas ações (bem como a polícia administrativa local que fazia o "trabalho sujo")... Era importante ter acesso aos arquivos da PIDE para se poder saber, mais em detalhe, as acusações ou suspeitas que recaíam sobre o missionário italiano... Sabe-se que as relações entre os missionários italianos e as autoridades portuguesas não eram das melhores, nomeadamente an Guiné e em Moçambique.

Sobre o que se passou em Samba Silate (e noutros sítios do setor de Bambadinca como o Poindon) não posso quem quero generalizar, prefiro que apareçam outros testemunhos e relatos, documentados, circunstanciados, com datas e factos, sobre violência exercida tanto pelas NT como pelo PAIGC (ou a FLING, em 1961) sob as populações indefesas, ou sob prisioneiros...  É importante haver várias fontes, idóneas.

No Arquivo de Amílcar Cabral / Casa Comum, apenas encontrei uma única referência a Samba Silate onde, em 15 de maio de 1962,  teria sido morto, pelas NT, "o chefe da tabanca de Samba Silate".

Em 1969, seis anos depois, os meus soldados da CCAÇ 12 falavam-me destes acontecimentos, com "naturalidade" e sem qualquer "pejo"... E eles eram insuspeitos, eram fulas, nossos aliados (**)...   LG




Guiné > Zona letse > Região de Bafatá > Bambadicna > Carta de Bambadinca >  Escala 1/50 mil ) (1955) > Posição relativa de Samba Silate e de Nhabijões, os dois grandes núcleos balantas....

Infografia: Blogue Luís Grça & Camaradas da Guiné (2014)

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Notas do editor:

(*) 20 de dezembro de 2014 >  Guiné 63/74 - P14055: Memória dos lugares (278): Samba Silate, no pós 25 de abril de 1974: As saudades que a guerra não conseguiu apagar mesmo nos guerrilheiros do PAIGC (António Manuel Sucena Rodrigues, ex-fur mil, CCAÇ 12, Bambdaionca e Xime, 1972/74)

(**) Último poste da série > 20 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14057: (Ex)citações (255): O Marcelino, que foi um militar valoroso, não precisa que se inventem, e lhe atribuam episódios desse género (Domingos Gonçalves)

Guiné 63/74 - P14064: Notas de leitura (659): “Cabo Verde e Guiné-Bissau: Da democracia revolucionária à democracia liberal”, por Fafali Koudawo, INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, 2001 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Abril de 2014:

Queridos amigos,
É sempre bom saborear um exercício de grande aplicação e de análise talentosa.
O doutor Fafali Koudawo é nome sonante na investigação guineense e devemos-lhe esta primorosa análise comparativa das primeiras eleições legislativas pluralistas em Cabo Verde, em 1991, e as que ocorreram em 1994, na Guiné. Nas primeiras, o PAICV perdeu-as, nas segundas, o PAIGC saiu vitorioso, obteve uma maioria absoluta no Parlamento.
Este minucioso estudo reflete dois percursos de liberalização política com dois desfechos radicalmente diferentes. E ponto curioso, podemos ver as raízes do mal que então, como hoje, a Guiné-Bissau enferma.

Um abraço do
Mário


Cabo Verde e Guiné-Bissau: Da democracia revolucionária à democracia liberal

Beja Santos

“Cabo Verde e Guiné-Bissau: Da democracia revolucionária à democracia liberal”, por Fafali Koudawo, INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, 2001, é um ensaio de leitura obrigatória para entender o que distinguiu as eleições ocorridas em 1991 em Cabo Verde das eleições guineenses de 1994. Fafali Koudawo, doutor em ciências políticas e diretor de pesquisa no INEP, dá-nos uma rigorosa e bem desenhada análise de dois percursos de liberalização política que tiveram desfechos radicalmente diferentes.

Primeiro, Cabo Verde e a abertura que pôs termo ao monolitismo. O PAICV começou muito cedo a mostrar os seus limites no contexto cabo-verdiano. Logo em 1979, a chamada “crise dos ministro trotskistas”, no ano seguinte, em Bissau, deu-se a rutura dos partidos chamados irmãos, e com ele o fim do projeto do Estado binacional. O PAICV nunca descurou a diáspora, foi-se adaptando aos diferentes contextos que enfrentava o país: a reforma agrária, a reforma da administração pública, a reforma do sistema económico, abrindo-se ao setor privado. Em janeiro de 1990, o primeiro-ministro Pedro Pires reconhece que havia uma evolução das mentalidades e vinha denunciar os aspetos, a seu ver negativos, de tais evoluções, sobretudo o egocentrismo. Extrai ensinamentos dos acontecimentos políticos da Europa de Leste, o PAICV decidira a abertura ao pluralismo político, curiosamente a posição mais conservadora veio dos jovens do partido, julgavam-se guardiães do templo da democracia nacional revolucionária. Tratava-se de um partido único que agia com realismo, não queria escapar a uma transição pacífica para o multipartidarismo, ao longo do ano foram aprovados os textos jurídicos que deram moldura à mudança de regime. Em janeiro de 1991, o Movimento para a Democracia, único partido da oposição legalizado, saiu vitorioso. Que explicação Fafali Koudawo veio a encontrar para esta evolução? A vontade de adaptação foi apoiada do topo, começou em Aristides Pereira. O PAICV confiava na liberalização para uma nova relação de forças sociais e confiava na fidelidade popular. Pedro Pires fazia o seguinte balanço: “Fizemos um percurso de pelo menos quinze anos. Desse percurso de quinze anos estão à vista os resultados. Resultados políticos, económicos e sociais. Nós pensamos que em Cabo Verde construímos coisas novas. Temos muito que perder se não fizermos as coisas de acordo com a lei e no quadro das instituições existentes no país”.
Um analista conceituado, José Vicente Lopes, escrevia ao tempo: “Quando se analisa, em última instância, o processo de construção, reformulação e por vezes destruição do Estado nos nossos cinco PALOP, conclui-se que Cabo Verde era, no início dos anos 90, o que não só conseguira preservar o que herdara, mas também fora capaz de acrescentar uma importante mais-valia ao património recebido da situação anterior, em termos de administração do Estado”. O PAICV não admitia o desgaste do poder, parecia insensível às manifestações da degradação do clima social durante a segunda metade dos anos 1980. Se bem que monolítico e paternalista, o PAICV possuía diálogo interno e capacidade para sanar esses mesmos conflitos. Para Fafali Koudawo havia uma causa mais longínqua para esta derrota, o facto do PAIGC se ter apoderado de Cabo Verde com um comportamento hegemónico, desconhecendo então as realidades de Cabo Verde, confrontando-se com a Igreja Católica, enfim, ingenuidades que deixaram sequelas e que levaram à fatura de 1991.

Segundo, a transição política na Guiné-Bissau é um enredo de equívocos ou pouco esclarecidos ou que deixaram rastos de rancor. Por detrás do Movimento Reajustador do 14 de novembro de 1980 estão lutas fratricidas entre a ala militar e a direção política do PAIGC; contradições entre guineenses e cabo-verdianos em relação ao projeto de Estado binacional; dificuldades nascidas da passagem da teoria do Estado revolucionária à prática administrativa num contexto mal preparado para tal experiência. Depois do 14 de novembro deu-se uma desagregação da herança do período de libertação, tornou-se claro que o PAIGC não se adaptava ao credo fundador: um Estado com dois países; uma economia estatizada eficiente; e uma democracia nacional revolucionária imbuída no sentimento das massas. Aos poucos tudo foi caindo no abandono. A viragem na política económica, timidamente, deu-se a partir de 1983, era só o reconhecimento de que o país estava numa crise económica profunda. Ademais, com o 14 de novembro, acendeu-se o poder pessoal a que alguém chamou o bonapartismo presidencial. O PAIGC fez tudo reactivamente para não perder o controlo de monolitismo mas o adensar da crise económica falou mais alto. E por etapas ziguezagueantes, ocorreu a transição. A carta dos 121, publicada em junho de 1991, para a pedir a democratização interna do PAIGC, acabou por exacerbar contradições no seio do partido, apareceu uma Comissão Multipartidária de Transição no ano seguinte e foi criada depois uma Comissão Nacional de Eleições. Mas surgiu areia na engrenagem, em 17 de março de 1993, morre o major Robalo de Pina, homem de confiança do presidente Nino Vieira, anos mais tarde, o antigo presidente Luís Cabral declarou numa entrevista à rádio Renascença que teria sido Nino Vieira quem abatera o major no gabinete presidencial, que dali saiu embrulhado num tapete. E teceram-se vários rumores acerca das razões desta execução. O acontecimento deu origem à prisão de dirigentes da oposição.

As primeiras eleições pluralistas tiveram lugar em julho e agosto de 1994. O PAIGC ganhou. O candidato presidencial Kumba Yala bem protestou: “No interior do país, o PAIGC aproveitou a miséria para distribuir géneros alimentares e materiais de construção, aliada a uma forte pressão dos militares e paramilitares”. Resultados ambíguos, tudo ficou na mesma até que soltou a tampa um conflito aparentemente anódino ou pouco relevante: o tráfico de armas no Casamansa e a destituição de Ansumane Mané. Levavam-se anos de uma questão mal resolvida dos antigos combatentes da guerra da libertação; tornara-se escandaloso o fosso entre uma categoria de antigos combatentes privilegiados próximos dos círculos do poder político e a grande maioria dos antigos combatentes proletarizados; anos perdidos numa contínua má governação, uma ineficiência crónica na utilização dos recursos, uma permanente opacidade na gestão dos bens públicos, etc., etc.

A guerra civil veio demonstrar o elevado sentido de respeito pela soberania, os guineenses pegaram em armas e puseram em fuga senegaleses e guineenses de Conacri. Mas a legitimidade do poder ficou profundamente abalada, Ansumane Mane parecia um novo candidato bonopartista e Kumba Yala revelou-se um populista que em pouco tempo descontentou tudo e todos.

Em jeito de síntese, o autor esmiuça com rigor e apuro as diferenças nestes dois processos de liberalização, deixa bem claro que houve dois contextos de transição com resultados dispares, faz uma leitura atenta do papel dos emigrantes, dos emergentes partidos oposicionistas e como houve um choque entre duas lógicas de poder e mesmo dois tipos de legitimidade: a legitimidade das armas e a legitimidade das urnas.

O ensaio incontornável que nenhum historiador poderá ignorar para o estudo daquele tempo… onde radicam os mesmos padecimentos de que continua a sofrer a Guiné-Bissau.
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14050: Notas de leitura (658): “A Enfermeira Chinesa”, de Rui Coelho e Campos, Sítio do Livro, 2014 (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P14063: Parabéns a você (833): Miguel Vareta, ex-Fut Mil CMD da 38.ª CCMDS (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 20 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14054: Parabéns a você (832): José Casimiro Carvalho, ex-Fur Mil Op Esp da CCAV 8350 e CCAÇ 11 (Guiné, 1972/74)

domingo, 21 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P14062: Bom ou mau tempo na bolanha (80): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (20) (Tony Borié)

Septuagésimo nono episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.




Dia 12 de Julho de 2014

Resumo do dia vigésimo segundo dia

Contentes pelo dia anterior bem passado, seguimos na estrada número 26, que em algumas distâncias se chama 89 ou mesmo 191, rumo ao sul, por pouco tempo, pois desviámo-nos para oeste e, quando se entra no estado de Idaho, esta estrada, se chama somente 26.

Estávamos no estado de Idaho, que há muitos anos fazia parte do “Oregon Country”, um território disputado entre os Estados Unidos e o Reino Unido, mas através de um tratado assinado em 1846, os Estados Unidos assumiram posse da região, que inicialmente fez parte do Território de Oregon, mas que em 1853 se tornou parte do Território de Washington. O Território de Idaho foi formado em 1863, e elevado à categoria de Estado em Julho de 1890, altura em que se tornou o 43.º Estado americano a entrar na União.

Para não “perder o fio à meada”, como é costume dizer-se, seguíamos na estrada número 26, que nos levou por entre grandes plantações de batata, beterraba, ervilhas e grão de bico, até à cidade de Idaho Falls, que dizem recebeu o seu primeiro nome de “Eagle Rock”, devido a existir uma ilha coberta de pedras no meio do Snake River, que passa mais ou menos a 7 milhas da cidade, e que, naquela altura era habitada por mais de 20 águias.


Por volta do ano de 1874, aqui se foram estabelecendo pessoas que criavam vacas e ovelhas, construíram represas, abrindo canais para regar as suas terras, mais tarde, o Union Pacific Railroad, construiu uma ponte em madeira sobre o Snack River, para escoar o produto das minas de cobre que existiam na cidade de Bute, no estado de Montana. Com a construção da ponte e da linha do caminho de ferro, aquela área depressa se tornou num campo/aldeia de tendas, com “sallons”, dançarinas, casas de jogo e hotéis. Por volta do ano de 1891, as pessoas importantes da já pequena cidade, votaram para se trocar o nome para Idaho Falls, em referência às “cataratas” que existiam por baixo da ponte.


Aqui parámos por algum tempo, comprando gasolina, água e fruta, continuando rumo ao oeste pela estrada número 20, entrando algum tempo depois pelo deserto onde em tempos existiu o “National Reactor Testing Station”, onde estava instalado um reactor nuclear, que produziu electricidade pela primeira vez na história, e que neste momento está desactivado.

Viajando pela estrada, com longas rectas, sempre plana, vendo-se ao longe uma enorme montanha, que em outros tempos serviu de marco de sinalização para os pioneiros, que a caminho do oeste usavam a “Oregon Trail”, que em português podemos designar, como a Rota do Oregon ou o Trilho do Oregon, um itinerário histórico com cerca de 3200 km de comprimento que segue a direção leste-oeste, ligando o rio Missouri aos vales do do Oregon.

Para não nos alongarmos muito com a sua história, a “Oregon Trail” é uma das três “Emigrant Trails”, que em conjunto com a “California Trail” e a “Mormon Trail”, usados em meados do século XIX pelos que buscavam terras a oeste das planícies interiores e das montanhas rochosas, cuja parte oriental do itinerário percorria parte do futuro estado do Kansas e, quase todo o território do que são hoje os estados do Nebraska e Wyoming, mas a parte ocidental, passava por aqui, cobrindo grande parte dos futuros estados do Idaho e Oregon, pois quando nos aproximávamos, embora passando a uma certa distância, verificámos que nessa montanha não havia árvores ou qualquer outra vegetação. Era “pelada”, com enormes proporções, que de facto, não era mais que um “marco” que foi usado como instrumento de navegação por muitos milhares de pessoas, incluindo colonizadores, rancheiros, agricultores, mineiros, homens de negócios e suas famílias, que seguiam esta rota, onde se incluíam militares, caçadores e comerciantes de peles, viajando por estas terras, que eram apenas atravessáveis a pé ou a cavalo, tudo isto, talvez num período que podia ser de 1810 a 1870, pois o uso da “Oregon Trail” decaiu quando o primeiro caminho de ferro transcontinental ficou terminado em 1869, tornando a viagem para oeste muito mais rápida, barata e segura. Hoje, as estradas rápidas modernas, seguem o mesmo percurso e passam pelas localidades fundadas para servir a “Oregon Trail”.



Já chega de história. Uns quilómetros mais para oeste, havia um Centro de Informação com umas agradáveis instalações, onde se podia beber água, usar os quartos de banho, tirar folhetos de informação das estantes, mas não havia ninguém a atender e, no parque de estacionamento, algumas pessoas dormiam dentro das viaturas, com as janelas abertas.

Era deserto, a temperatura no Jeep marcava 114º Fahrenheit. Seguindo a rota do oeste, encontrámos de novo a estrada número 26, seguia um pouco para norte, até se encontrar com a estrada número 93, que seguia para sul, onde entrámos no “Craters of the Moon National Monument and Preserve”, que é um “campo de lava”, com mais de 1000Km2, onde existem restos da lava de vulcões, onde podemos presenciar crateras de vulcões adormecidos que formavam vales e pequenas montanhas, onde só existia pedra negra, agreste, com a formação de pequenas ondas, que em alguns lugares estavam a detiriorar-se, porque estavam ali, a sofrer a erosão, recebendo calor, frio ou chuva, por milhões de anos.



Havia, no meio deste deserto, também um Centro de Informação, este sim, com pessoas a atender, que explicavam o fenómeno, mostrando um pequeno filme. Com a temperatura alta, que era a nossa maior preocupação, seguimos rumo ao sul, onde, umas horas depois encontrámos um agradável parque de campismo, com árvores, água e electricidade, onde depois de cozinhar uma ligeira refeição, dormimos, com o ar condicionado da caravana trabalhando, já próximo da estrada rápida número 84, que ao outro dia nos havia de levar rumo a leste/sul, para outras paragens.


Neste dia percorremos 668 milhas, com o preço da gasolina a variar entre $3.68 e $3.70 o galão, que são aproximadamente 4 litros.

Tony Borie, Agosto de 2014
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14025: Bom ou mau tempo na bolanha (78): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (19) (Tony Borié)