quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16918: O nosso querido mês de Natal de 2016 e Ano Novo de 2017 (25): Em 2017, um Mundo melhor para todos os camaradas e respectivas famílias (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor Auto do BCAÇ 3872)



1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), autor do livro "A Tropa Vai Fazer de ti um Homem", com data de 3 de Janeiro de 2017:

Há 66 anos que assisto ao fim de um e ao nascimento do outro ano.
Nos primeiros anos da minha vida o assunto passava-me completamente ao lado. O Natal era sim o momento máximo, pois era altura de receber presentes, pese nada ter a haver com as carradas de brinquedos que recebem agora as nossas crianças.
Mas a partir dos 14/15 anos em que já começava a participar nos bailes de fim de ano, a festa ganhou outro encanto e, também, chegaram os votos acompanhando as passas e o espumante. Secretamente desejava que fulana ou sicrana gostasse de mim, e à mediada que avançavam os anos, passei a desejar muitas coisas mais sujeitas às circunstâncias, como as que todos passámos em África. Acredito que o desejo de regresso tenha sido o que mais calou no fundo do nosso peito. Regressámos e continuamos a desejar outras coisas.
Na altura não nos apercebíamos de quantos dos nossos desejos ficavam por cumprir. Com o avançar da idade, assistimos aos votos e palavras de intenção, quando não de ocasião, de dirigentes, políticos, instituições, em favor da Paz, das crianças e dos mais desfavorecidos.
Na maioria serão lágrimas de crocodilo, e o cortejo de horrores cresce perante a nossa impotência. Este ano acabei também a desejar estar vivo no próximo, tendo em conta que o Mundo está cada vez mais perigoso e as confrontações de interesses fazem perigar ainda mais a Paz Mundial.
Ao participarmos naquela guerra, não ganhámos o direito à Paz, infelizmente para nós e para os nossos.

Assim sendo um Bom Ano para todos camaradas e respectivas famílias.
JA

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2017

Mundo sem suspeições
Sem exigentes determinações
Economia sem contracções
Com livres emigrações
Com sustentadas imigrações
Sem explorações
Sem convecções
Sem execuções
Notícias sem manipulações
Com livres opiniões
Sem espiões
Sem fleumáticos intrujões
Sem falsas justificações
Sem contradições
Com evoluções
Nas mentes revoluções
Um Mundo sem contracepções
Com aspirações
Com sustentadas exalações
Em que a verdade não sofra de omissões
Nem de exaustões
Com muitas excitações
Porque só assim, haverá reproduções
Entrei em 2017 e fazer suposições.

Um abraço
JA
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de Janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16901: O nosso querido mês de Natal de 2016 e Ano Novo de 2017 (24). um ano de saúde, 31 milhões e meio de segundos de felicidade (Mário Vitorino Gaspar)

Guiné 61/74 - P16917: Inquérito 'on line' (97): Nas primeiras 50 respostas, metade dos respondentes considera que "sim, poderá vir a ser amigo do inimigo de ontem"... O prazo termina na 2ª feira, dia 9, às 18h36...


Guiné-Bissau >Região do Oio > Mansoa > O nosso coeditor, o "ranger" Eduardo Magalhães Ribeiro com um comandante do bigrupo na região de Mansoa, de nome Antero Sá (a viver em Portugal desde 1975, segundo informação do nosso amigo Nelson Herbert; era filho de uma conhecida família de comerciantes mestiços, a família Sá, de Mansoa).

Trata-se de um indivíduo mestiço, natural de Mansoa, que pertenceu às NT, e que terá desertado para o PAIGC, na sequência de um alegado e grave conflito com um superior hierárquico. O Eduardo conviveu com ele "ainda umas semanas"... Tornaram-se amigos: ambos eram "rangers", um do lado, outro do outro...(*)

O Eduardo, quando substituiu temporariamente o furriel vaguemestre da CCS do BCAÇ 4612/7, chegou a arranjar alguma comida e cigarros para os homens do bigrupo do comandante Sá.

Foto do próprio, reproduzida no Correio da Manha, revista "Domingo", série "A minha guerra", edição de  25 de Janeiro de 2009... Eduardo José Magalhães Ribeiro, nessa edição do CM, teve direito a título de caixa alta... Fur Mil Op Esp, CCS, BCAÇ 4612/74, teve o seu "momento de glória" no dia 9 de Setembro de 1974, em Mansoa, onde arriou, com emoção e dignidade, a bandeira verde rubra, perante as autoridades portuguesas e os novos senhores do território, o PAIGC, culminando assim o processo de transferência dos nossos aquartelamentos para o inimigo de ontem... A recolha do depoimento foi da autoria do jornalista Carlos Ferreira.

O Eduardo tem mais umas dezenas de fotos deste período de convívio com o inimigo de ontem, em Mansoa.


I. INQUÉRITO DE OPINIÃO:


"O MEU INIMIGO DE ONTEM

NUNCA PODERÁ VIR A SER MEU AMIGO" (**)


Resultados provisórios (50 respostas) até às 14h de hoje:


1. Não, nunca poderá vir a ser meu amigo  > 7 (14%)




2. Sim, poderá vir a ser meu amigo  > 25 (50%)





3. Talvez, depende das circunstâncias  > 15 (30%)


4. Não sei responder > 3 (6%)


Total de respondentes > 50 (100%)

Prazo de resposta termina dia 9, 2ª feira, às 18h36


II. Comentários (***):


(i) Torcato Mendonça

Vi o "inquérito" e respondi : - Talvez...  Hoje certamente penso de outro modo. Se estivesse em 74 lá cumprimentava os militares, exclusivamente com o cumprimento militar. Estaria sempre armado e, como fazia quando havia guerra, com a bala na câmara. Tal qual como o fazia, eu e os militares do meu Grupo.


(ii) Belarmino Sardinha

(...) Tal como alguns comentários que vi, desejo as melhores e maiores felicidades a toda a gente, onde incluo os antigos guerrilheiros do PAIGC, não beneficio nada com o mal dos outros, mas daí a chamar-lhes amigos existe uma grande diferença. Desejo a todo o povo da Guiné o melhor para o seu futuro, mas não confundo povo com os guerrilheiros que depois da independência assassinaram barbaramente muitos dos guineenses que lutaram ao nosso lado.
Este é um dos temas que merece, em meu entender, muita reflexão antes de uma tomada de decisão por uma ou outra opção. É o meu ponto de vista. Não participarei com nenhuma resposta ao inquérito. (...)


(iii)  António Rosinha

(...) Luís Cabral apertou-me a mão e popularmente em Bissau dizia-se que aquela mão era de um criminoso do próprio povo e de companheiros do PAIGC.

Nino Vieira apertou-me a mão  (mais que uma vez) e em Bissau sabia-se comprovadamente, que aquela mão era de um criminoso.

Manuel Saturnino apertou-me a mão e dizia-se que era um abusador de bajudas e que fazia desaparecer os namorados destas.

Muitos portugueses, com o 25 de Abril, e já neste blog, idolatramos esta gente horrível que o próprio povo apenas suporta porque não tem alternativa, e menosprezámos aqueles africanos, régulos e tropas que estiveram ao nosso lado, em Angola, Guiné e Moçambique, porque tinham consciência absoluta do que os esperava. (...)


(iv) Cândido Cunha (**)

(...) Como o Casimiro escreve "abraçá-los, sim, porque eles lutaram para defenderem o que por direito lhes pertencia, um chão deles, bravos soldados como nós." (...).

Eu por mim, sou e continuo a ser amigo de quem nos combateu, e não daqueles que em nome do "Império" nunca ouviram as suas justas pretensões. Nem sequer tinham quem os representasse na velha e bolorenta Assembleia Nacional. A esses bafientos salazaristas é que eu atribuo a perca de quase três mil nossos queridos camaradas na Guiné. (...).

(v) Carlos Vinhal (**)

(...) Houve apenas uma pequena minoria (o reforço é propositado) que teve oportunidade de contactar e abraçar o inimigo depois de terminada a guerra. O que cada um fez, se abraçou, ignorou ou evitou o ex-IN é com cada qual. Nós os mais velhos, que entramos e saímos em estado de guerra, só podemos falar de nós próprios e da nossa eventual reacção.

Como refere o Torcato Mendonça noutro local, provavelmente eu cumprimentava cordialmente o meu antagonista, se possível, ambos desarmados, e até com continência se essa pessoa tivesse no seu exército um posto superior ao meu. A isto chama-se respeito e não amizade. Abraçar o ex-IN, acho que: "nunca, jamais, em tempo algum". (...)

Guiné 61/74 - P16916: Os nossos seres, saberes e lazeres (193): Pedrógão Pequeno e o Cabril do Zêzere (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 2 de Agosto de 2016:

Queridos amigos,
Aconteceu-me na vida enamorar-me por este local gracioso, disponho de vistas soberbas sobre uma vila que já foi sede de concelho e cuja importância também era devida a uma ponte filipina que ligava a Beira Litoral à Beira Interior.
Tem santuário, um centro social para desfavorecidos, uma sociedade filarmónica, a Aurora Pedroguense, e um rancho folclórico que atuam cheios de vitalidade.
A vila beija o famoso Cabril do Zêzere, que parece intimidar e noutros casos assombrar pela monumentalidade das fragas e penedias. Digo sem rebuço que disponho de uma casa onde me sinto muitíssimo bem num local que gostaria que todos conhecessem, ofereço-me para cicerone.

Um abraço do
Mário


Pedrógão Pequeno e o Cabril do Zêzere (1)

Beja Santos

No passado, chamava-se bairro da EDP, aqui viviam técnicos, operadores e administrativos da barragem do Cabril, inaugurada em 1951. De acordo com o Atlas do Património Arquitetónico, este projeto de Jorge Segurado é obra notabilíssima, um bairro em rede, a capilaridade perfeita, todos podem comunicar. Hoje não é assim, a EDP vendeu esta preciosa infraestrutura, a barragem está praticamente automatizada. Os novos proprietários procuram entaipar-se, a simular que vivem em condomínio fechado. Passei por aqui um dia e enamorei-me do local, a vivenda estava num escombro, só se aproveitou a carcaça e as toneladas de granito adossadas. É um fascínio viver aqui, tenho um panorama de dezenas de quilómetros, espreito o Zêzere e todo o agreste do seu vale que enamorou artistas como Alfredo Keil e Luigi Manini, e com justa causa.



Temos a Freguesia de Pedrógão Pequeno propriamente dita, que pertenceu à Ordem do Templo e depois ao Priorado do Crato (antiga Ordem do Hospital), foi sede de concelho até 1836, hoje é freguesia do concelho da Sertã, do outro lado do vale do Zêzere está Pedrógão Grande. Possui locais de interesse turístico de que destaco a ponte filipina que foi a estrada principal de ligação entre a Beira Baixa e a Beira Litoral antes da construção da barragem do Cabril. Tem atrações para quem gosta de canoagem, passeios pedestres e comida típica. Assombrou artistas pela espetacularidade das suas fragas e penedos, mostramos a seguir um livro sobre Pedrógão Pequeno, um dos autores é o meu amigo Aires Henriques, a capa é o cenário da Ópera Irene, de Alfredo Keil, desenho e pintura de Luigi Manini. Keil concebeu uma obra baseada em histórias locais que versejou, sendo autor de desenhos excecionais que aqui se reproduzem, ambos têm como tema o vale do Zêzere e o segundo poderá ser o “Cabril do Granada”, por aí se ter inspirado e vivido o místico espanhol Frei Luís de Granada, Provincial da Ordem dos Dominicanos em Portugal (século XVI).




Endividei-me prudentemente para comprar e restaurar a vivenda, julguei até que com esta panorâmica, a majestade da situação, o badalar dos sinos de quatro igrejas entre Pedrógão Pequeno e Pedrógão Grande, não seria difícil um dia revender a preciosidade. Virá a acontecer, até lá quero usufruir do conforto e desfrute da paisagem envolvente. Vejo o Penedo do Granada, a foz da Ribeira de Pera no Zêzere, avisto uma boa parte de Pedrógão Grande e Pedrógão Pequeno. Dentro das regras da sustentabilidade, fui comprando tarecos, recebendo ofertas, dando identidade à morança. É uma casa fresca, o seu ponto fraco são os meses de invernia, é gelada, a habitabilidade só é possível com a lareira, os fogões e a botija na cama. Nesses dias, que alguns consideram desoladores, mesmo a tiritar de frio, venho para a varanda ver a neblina dos vales a subir lentamente, é uma autêntica paisagem chinesa. Nunca me arrependi deste investimento e da satisfação que ele traz a quem habita e visita esta casa.




Interrompo o discurso para falar dos arrabaldes. Em dias estivais tenho uma praia fluvial onde me sinto bem, chama-se Mosteiro e mostro-vos uma panorâmica das suas três pontes sobre a Ribeira de Pera. É verdadeiramente um local aprazível, a água fria é por vezes intimidante, então lembro-me dos duches da Guiné e acabaram-se as hesitações, a satisfação maior vem depois a enxugar-me para sentir as articulações melhor temperadas. A outra imagem, um tanto inócua, tem a ver com a minha incontrolável bisbilhotice por tudo quanto é feira de velharias e coisas que me podem ser úteis para ler, ouvir ou decorar. Trata-se do mercado dominical de Vila Facaia, já em Pedrógão Grande, de onde tantas vezes saio felizardo com cd’s, livros e certos trastes.



(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 28 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16890: Os nossos seres, saberes e lazeres (192): De novo em Bruxelas e a pensar nas Ardenas (5) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P16915: Agenda cultural (535): antestreia, em Portugal, do documentário “Portugueses em Macau – O outro lado da história”, Museu do Oriente, Lisboa, 7 de janeiro, sábado, 17h00... Entrada gratuita (mediante levantamento prévio de bilhete no próprio dia)




1. 
Convite do Observatório da China, com data de 27 de dezembro último:


Exmo.(a) Senhor(a)

É com enorme prazer que o Observatório da China se associa à divulgação da antestreia, em Portugal, do documentário “Portugueses em Macau – O outro lado da história” terá lugar no próximo dia 07 de Janeiro de 2017, pelas 17h00, no Auditório do Museu do Oriente.

Este é o 2.º filme da série intitulada “Macau, 20 anos depois” em produção para as comemorações, em 2019, dos 20 anos do Estabelecimento da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM). A iniciativa de índole gratuita (mediante levantamento prévio de bilhete no próprio dia) será seguida de um debate com Jorge Arrimar, Filipa Queiroz e Carlos Fraga, moderado por Carlos Piteira.

Muito obrigada pela sua atenção.

Cordialmente,

Raquel Carvalho
Assessora da Direção

Observatório da China
Rua de Xabregas Lote E 13, D
1900-440 Lisboa, Portugal
Phone: +351 218 171 617/ 218 172 944

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Nota do editor:

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16914: Estórias do Zé Teixeira (44): A “puta” passa o seu tempo à sombra do cajueiro, junto à porta do Comando (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf)

Guiné > Região de Quínara > Buba > Maio de 1969 > Entrada principal da povoação e do aquartelamento
Foto: © José Teixeira (2005). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), enviando-nos mais uma das suas estórias,  esta dedicada a uma "amiga muito especial".

Fiquem descansados que o nosso Zé Teixeira não se passou

Meus amigos. 
Depois de umas “entradas” em beleza, espero eu, há que continuar a dar luz ao nosso blogue. 

Junto um texto simples para recordar coisas boas das nossas guerras. 

Votos de continuação de um bom ano 

Abraços do 
Zé Teixeira


Estórias do Zé Teixeira

44 - A “puta”

Passa o seu tempo, debaixo da sombra do cajueiro, junto à porta do Comando. Cobiçada por todos, a todos serve com carinho e enlevo. Lembram-se dela, quando se ouve ao longe o rrrrrroooommmmm da avioneta que traz noticias frescas à sexta, por vezes à segunda-feira. Correm para ela. Deixa-se montar. Suporta com o mesmo carinho; um, dois. Dez de uma assentada. Outros correm atrás dela.

Seguem-na com a esperança estampada no rosto. Regressa ao seu posto, trazendo as notícias frescas que todos ambicionam e por ali fica, atenta e disponível: A chuva pode cair a cântaros, ou ser apenas uma suave penugem húmida, o sol pode queimar a sua pele, liberta da pigmentação acastanhada que a fazia confundir-se com a selva, por onde se passeava nos seus belos tempos. Dia e noite, não arreda pé.

Consta que o “Sistema” a foi buscar à Alemanha no fim da guerra e a enviou para a Guiné. Aqui se deixou montar por muita gente. Preferia os mais graduados, de preferência de galões dourados e largos ou com estrelas. Parece que na Alemanha já era escolhida por esse tipo de gente. Com o fim da guerra na Europa, corria o risco de se perder, mas foi resgatada a tempo e viajou para o novel continente, ainda antes de este entrar em convulsão. Passeou pacificamente pelas picadas da Guiné durante anos. Envelheceu com o tempo e com o uso, perdeu a garra. Agora vai com todos. Geme dolorida quando a montam. Geme dolorida quando desata a correr pela estrada de terra batida. Há muito que foi dispensada de pisar as picadas e ainda bem. As minas que o inimigo gosta de colocar no terreno atirá-la iam pelo ar. A guerra nem a meio vai e ela sabe-o bem. Fala a experiência.

Está irreconhecível, mas continua firme no posto, preocupada em estar sempre disponível. Só não gosta do furriel mecânico. Talvez seja porque este andar sempre à sua volta. Aperta aqui, apalpa acolá. Quando ela amua, o que acontece muitas vezes, dá-lhe marteladas, por vezes pontapés.

Não sabe porque a apelidaram de “puta”. Já foi "Mercedes", nome que gostava muito. Perdeu-o quando chegou a Buba, já muito cansada de devorar quilómetros e ficou ao serviço do Comandante, sem sair do perímetro da Tabanca, devido à sua velhice. Habitou-se a ser de todos, sobretudo quando se ouve o rrrrroooommmm da avioneta do correio, ou outra que apareça, sobretudo se vier buscar feridos. Por gentileza e missão de serviço pode ser que traga uma enfermeira, que lembre as mulheres da mãe pátria.

O velhinho “jeep” que corre para a pista e transporta todas as semanas os nossos sonhos, talvez mereça a ternura de ser a “puta” de serviço permanente.

Buba, Maio de 1969
José Teixeira
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16841: Estórias do Zé Teixeira (43): O meu Natal perdeu todo o encanto no dia em que o Menino deu lugar a um velho de barbas brancas que trazia um saco às costas, a quem chamavam o Pai Natal mas não era o pai do Menino

Guiné 61/74 - P16913: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (52): à semelhança da França (em relação aos seus "tirailleurs sénégalais"), quando é que Portugal reconhece aos seus antigos soldados guineenses a nacionalidade portuguesa?


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Imagem da progressão de um força da CCAÇ 12 (três mais grupos de combate, 1º, 2º e 3º), no subsetor do Xitole, na época das chuvas. As praças da CCAÇ 12 em meados de 1969 (uma centena) eram do recrutamento local. Só os graduados e especialistas (cerca de meia centena) é que eram de origem metropolitana (, pertencentes à CCAÇ 2590). A recruta, o juramento de bandeira, a instrução de especialidade e a IAO  (instrução de aperfeiçoamento operacional) foi foram feitos no Centro de Instrução Militar de Contuboel. Todos temos uma dívida de gratidão para com estes homens. alguns dos quais eram ainda adolescentes, com 16 anos...Portugal tem uma dívida de gratidão e reconhecimento a estes guineenses, 80 % dos quais já não estarão vivos. 
Esta é uma das muitas imagens de diapositivos digitalizados, do valioso e magnífico álbum fotográfico do ex-fur mil at inf Arlindo Roda, da CCAÇ 12 (1969/71), posto generosa e solidariamente à nossa disposição. Natural de Leiria, o Roda é professor do ensino secundário, reformado, é uma apaixonado jogador de damas e de xadrez, e vive em Setúbal.

Foto: © Arlindo Roda (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Comentário ao poste P16908 (*), assinado por Cherno Baldé:

[ Foto à esquerda, Cherno Baldé,com a sua mãe em Cambaju, em maio de 1977; é  o nosso "agente" em Bissau (na realidade, este "menino" de Fajonquito, hoje homem grande, pai de 4 filhos, crente, bom muçulmano, casado com um bonita nalu, quadro superior com formação universitária na ex-URSS e em Portugal, representa todos os nossos amigos guineenses que não têm forma de comunicar connosco, e que mantêm, com os portugueses, antigos combatentes, fortes laços afetivos, baseados numa experiência e num respeito comuns); é além disso, o nosso assessor para as questões étnico-linguísticas e religiosas da Guiné-Bissau; é autor da série "Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé)"](**)

Caro amigo Carlos Vinhal,

Bem vistas as coisas, nada impede que antigos adversários, "inimigos", sejam depois amigos se as condições reais que tinham motivado a guerra mudarem.

Devo dizer que, ainda criança, assisti, atónito, à recepção que os metropolitanos reservaram aos guerrilheiros do PAIGC em 1974, na minha aldeia. Notem bem, eu disse "os metropolitanos", porque o caso dos soldados nativos era diferente, porque estes sabiam, de certeza, que aqueles, lobos com pele de ovelha,  não poderiam ser, em caso algum, seus amigos após uma guerra de mais de 12 anos em condições de ódio e de violência extrema. E, ao contrário dos metropolitanos, este era o seu país que, tudo indicava, não pretendiam deixar, ignorando as consequências que daí poderiam advir.

Um soldado é um soldado, um pequeno pião num complexo jogo de interesses e, na minha opinião, não é a este nível que interessa analisar a questão da guerra na Guiné e as suas consequências, pois as falhas na resolução final aconteceram ao nível superior das forças armadas portuguesas ou do que restava delas, militares de carreira que tinham frequentado academias e colégios militares para saber interpretar em todos os momentos a situação real do conflito, as possibilidades e impossibilidades a ter em conta e preparar o terreno para o avanço ou o recuo, conforme os casos.

Hoje só temos que constatar que houve um falhanço de repercussões negativas de extrema gravidade, com consequências no presente e futuro dos nossos países. Para mim é isto que é importante e quem não o percebeu, então ainda não percebeu nada.

Na semana passada a França reconheceu, finalmente, aos antigos combatentes africanos [, cuja origem remonta a 1857],  chamados “tirailleurs sénégalais”  [, atiradores senegaleses,] o direito a cidadania francesa. É tarde?!! Sim, mas como se costuma dizer, sempre vale mais tarde que nunca

E Portugal, para quando o reconhecimento dos seus antigos combatentes da guerra colonial no seu ex-império em África, muitos dos quais se encontram em território português???

Um abraço amigo,
Cherno Baldé
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 2 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16908: (In)citações (104): Inimigos de ontem, amigos de hoje? (Carlos Vinhal, ex-Fur Mil da CART 2732)

(**) Último poste da série > 20 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16321: é que Os portugueses tiveram tendência para menosprezar o PAIGC, antes e depois da guerra... Recordando uma cilada dos "homens do mato" aos homens grandes de Sancorlã/Cambaju, ao tempo da CCAÇ 412, Bafatá, 1963/65

Guiné 61/74 - P16912: Inquérito 'on line' (96): "O meu inimigo de ontem nunca poderá ser meu amigo"... Resposta até ao dia 9, segunda-feira, às 18h36...



Guiné > Região de Gabu < Paunca > CCAÇ 11 (1969/74) > c. junho / julho / agosto de 1974 > A paz, depois da guerra, ou a guerra e a paz, como duas faces da mesma moeda... > O fur mil op esp J. Casimiro Carvalho, "herói de Gadamael", no meio dos inimigos de ontem... Fotos do seu álbum fotográfico, sem legendas... (*)

Agradecemos-lhe a coragem e a frontalidade com que, dezenas de anos depois, ele nos deixou ver, digitalizar e publicar essas fotos de inegável interesse documental. Este nosso camarada que vemos aqui a abraçar os inimigos de ontem, foi o mesmo que tinha escrito à mãe, em 6 de junho de 1974 a seguinte missiva:

"(...) Ficou, nesse encontro, determinado que amanhã o inimigo vinha a um quartel nosso visitar-nos, conhecer-nos, nós que nos matavámos [uns aos outros] sem nos vermos. Enfim, agora como está previsto, conhecer-nos-emos, se não houver imprevistos, e eu, que tanto os odiei, com o ódio que ganhei com a guerra, devido ao sangue que vi derramar, irei... talvez - quem sabe ? - ABRAÇÁ-LOS. Sim, porque eles lutaram para defenderem o que por direito lhes pertencia, um chão deles, bravos soldados como nós." (...).

É o mesmo J. Casimiro Carvalho que na batalha de Gadamael pôs a vida em risco para salvar outros camaradas (e nomeadamente o seu capitão) e que chegou a ser ferido.

Fotos: © José Casimiro Carvalho (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



I. INQUÉRITO DE OPINIÃO:

"O MEU INIMIGO DE ONTEM
NUNCA PODERÁ VIR A SER MEU AMIGO"


1. Não, nunca poderá vir a ser meu amigo


2. Sim, poderá vir a ser meu amigo


3. Talvez, depende das circunstâncias


4. Não sei responder


Este é o primeiro inquérito de opinião do ano de 2017... Vá lá, façam, o favor de responder... no canto superior esquerdo do blogue... 

Precisamos de 100 respostas, que é um número redondo... Até ao dia 9, próxima segunda-feira. O encerramento das "urnas" é às 18h36...(**)

O tema foi suscitado pelos postes do José Teixeira (P16905) (***) e do Carlos Vinhal (P16908) (****).


II. Comentário de Carlos Vinhal (****):
(...) E agora chegamos ao que aqui me traz, o inimigo de ontem, amigo de hoje.
Os movimentos de libertação foram criados e dirigidos por africanos portugueses que adquiriram formação académica universitária na capital do império, onde nas barbas do poder se organizaram. Apoiados por potências com ambições estratégicas em África, e acompanhando os ventos e marés que se faziam sentir, não foi difícil começarem a guerra que iria desgastar uns e outros quase até à exaustão. Portugal mobilizou metropolitanos e locais, e os grupos de libertação tentaram localmente arranjar simpatizantes para a sua causa. Os seus quadros tiveram formação de luta de guerrilha principalmente nos países do leste da Europa, acabando por terem no terreno a colaboração activa de especialistas cubanos e o apoio material desses mesmos países e outros.

Dizia Cabral que não lutava contra os portugueses mas contra o colonialismo, logo os quase 9000 mortos do nosso lado foram vítimas dos chamados efeitos colaterais. Alguns dos guineenses, amigos de portugueses e de Portugal, ao passarem-se legitimamente para o lado do PAIGC, movimento pelo qual lutaram, tornaram-se naturalmente nossos inimigos. Pergunto eu: e agora, acabada a guerra, voltaram a ser nossos amigos? Maneira muito romântica de ver a coisa.
Aquele guerrilheiro, que no calor da luta não me matou por caso, é agora meu amigo, também por acaso, digo eu. Se me tivesse acertado, lá se tinha ido a nossa amizade do pós-guerra. (...)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 29 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9826: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (9): Cartas de Paunca, SPM 5668, Parte II (J. Casimiro Carvalho, Fur Mil Op Esp., CCAÇ 11, mai-ago 1974)

(**) Último poste da série > 6 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16805: Inquérito 'on line' (95): Texto e contexto: batota, balda, ronha, cobardia, indisciplina, traição?... Ou às vezes, também bom senso, experiência, velhice, sensatez ? (Hélder Sousa, ex-fur mil trms TSF, Piche e Bissau, 1970/72)

(***) Vd. poste de 1 de janeiro de  2017 > Guiné 61/74 - P16905: Fotos à procura de... uma legenda (80): Inimigos de ontem, amigos de hoje... (José Teixeira)
(...) O que estarão estes dois combatentes a planear?

Um, português, alferes miliciano, comandante em exercício da Companhia algures na Guiné. Outro, combatente do PAIGC. Reencontraram-se em 2013. Localizaram pontos comuns de convivência em barricadas opostas e toca a desenhar no terreno as suas posições estratégicas no passado ano de 1970 em que se enfrentaram em Jumbembem... Conversa amena que solidificou feridas e terminou num abraço.

Infelizmente o africano, funcionário da AD em Iemberém, já faleceu. Quem reconhece o nosso camarada, membro da nossa Tabanca Grande ? (...)


(****) Vd. poste de 2 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16908: (In)citações (104): Inimigos de ontem, amigos de hoje? (Carlos Vinhal, ex-Fur Mil da CART 2732)

Guiné 61/74 - P16911: Agenda cultural (534): Um grande álbum do cante alentejano (agora, do mundo), "Rancho de Cantadores de Aldeia Nova de São Bento" (2016), com a participação especial de António Zambujo, Luísa Sobral, Pedro Mestre e outros...


"Rancho de Cantadores de Aldeia Nova de São Bento" 

CD Álbum 
Lançamento em  25 de novembro de 2016


Sinopse

Passados dois anos desde que o Alentejo e Portugal se ergueram de orgulho por o Cante ser considerado pela UNESCO Património Mundial e Imaterial da Humanidade (*), é editado o álbum de um dos mais tradicionais e antigos ranchos de cante alentejano: Rancho de Cantadores de Aldeia Nova de São Bento, que conta com vários convidados especiais, nomeadamente Luísa Sobral, António Zambujo, Miguel Araújo, Jorge Benvinda e Pedro Mestre.

Ficha Artistica

Rancho de Cantadores de Aldeia Nova de S. Bento
Ensaiador: Pedro Mestre

01 - A Moda Do Meu Chapéu
02 - Fui Ao Jardim Passear
Viola campaniça: Pedro Mestre
03 - Romaria De Santa Eufémia
Voz e guitarras: Miguel Araújo
04 - Eu Ia Pela Rua
05 – Oh Francisca Oh Francisca
Harpa: Ana Dias
06 - Ao Romper da Madrugada
07 - Vai De Centro Ao Centro
Percussão: Marcos Alves
08 - Quinta-Feira Da Ascensão
09 - Varejo
10 - Trago O Alentejo Na Voz
Voz e guitarra: António Zambujo
11 - Fui-te Ver Estavas Lavando
12 – Oh Que Linda Pomba Branca
13 - Cantar Até Cair
Voz: Jorge Benvinda
14 - Viva A Quem Vive Tão Longe
15 - A Rosa
Voz e guitarra: Luísa Sobral
16 - Vai Colher A Silva
17 – O Triste Do Mocho
18 - Manjerico Da Janela
19 - Aldeia Nova

Vd. aqui o magnífico e entusiástico trabalho radiofónico de Edgar Canelas, da Antena 1, fazendo a cobertura do lançamento deste belíssimo álbum, em novembro passado, em Vila Nova de São Bento, concelho de Serpa, onde tem a sede o Rancho de Cantadores de Aldeia Nova de São Bento.

Já ouvi algumas faixas do disco, e recomendo vivamente. É uma boa prenda para oferecer mesta quadra festiva ( está à venda, por exemplo, nas lojas da  FNAC. por menos de 13 euros). É um álbum obrigatório para quem gosta do cante alentejano, o que não dispensa obviamente o prazer único de ver e escutar ao vivo este grupo, superiormente dirigido por Pedro Mestre. o homem que "salvou" a viola campaniça, em risco de desaparecer.

Sobre este grupo coral, lê-se na Antena 1 o seguinte (...com a devida vénia):

(...) "Criado há 30 anos, o Rancho dos Cantadores de Aldeia Nova de São Bento, é herdeiro de uma longa tradição da arte de bem cantar as belas modas do cancioneiro alentejano.

Orgulhosos por seguirem dois princípios orientadores, que apesar de opostos se complementam: o da tradição e o da inovação.  António Zambujo teve a ideia de gravar um disco ‘com estes homens’, cujas idades vão dos 19 aos 91 anos, e chamou Ricardo Cruz para produzir este trabalho.

Aliás, Zambujo tem convidado este Rancho, para concertos seus, reconhecendo suas raízes. Daí cantar aqui “Trago O Alentejo na Voz”. De um processo também natural vêm os outros convidados, todos eles amigos e visitantes fiéis da (agora) Vila Nova de São Bento: Jorge Benvinda, Miguel Araújo, Luísa Sobral e Pedro Mestre.

Editado a 25 de novembro, o disco do Rancho dos Cantadores de Aldeia Nova de São Bento é o documento vivo de uma tradição que se canta à volta de uma garrafa de vinho e celebra, com um arrepio na pele, as modas da nossa terra que, a partir de agora, já serão modas do Mundo e da Humanidade" (...).

Vd. também o sítio, na Net, do Rancho de Cantadores de Aldeia Nova de São Bento e, obrigatoriamente, a Casa do Cante, com sede em Serpa. Porque o Cante Alentejano está vivo, mas é preciso saber fazer a sua gestão sustentada, incluindo a sua produção e divulgação... Este e outros grupos têm atuado generosamente no país e no estrangeiro, sem "cachet",  dando os seus elementos o melhor de si. do seu tempo e da sua "alma"...

Já agora acrescente-se que em 34 mortos na guerra do ultramar / guerra colonial, naturais do concelho de Serpa, 10 eram oriundos da freguesia de Vila Nova de São Bento (, na altura Aldeia Nova de São Bento, tendo passado a vila em 1988).... Refira-se ainda  que esta terra tem vindo a perder população como todas as terras do interior do país: 8842 habitantes em 1950; 7678 (em 1960); 5406 (em 1970); e... 3072 (em 2011) (Fonte: Wikipédia

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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


27 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13948: Manuscrito(s) (Luís Graça) (52): O Mundo é Pequeno e o Alentejo... é Grande: pois que viva o Cante, Património Cultural Imaterial da Humanidade

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16910: In memoriam (274): José Augusto Machado (1949-2017), ex-fur mil at, CART 2715 (Xime, 1970/72); vivia em Caneças, Odivelas. O velório é hoje na igreja de Casal de Cambra, Sintra, e o funeral é amanhã às 15h00 (Benjamim Durães)


José Augusto Machado (1949-2017)



O José Augusto Machgado, masis a esposa, Maria Elisabete Machado, no 5º Encontro-Convívio da CCS/BART 2917 em Montemor-o-Velho, em 2011


O José Augusto Machado, o segundo de azul, no 18º Encontro da CART 2715 em Fátima, em 2015.


Fotos (e legendas): © Benjamim Durães (2017). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Benjamim Durães, ex-fur mil op esp, CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), organizador de muitos dos convívios do seu batalhão:



Data: 2 jan 23017, 18:59
 Assunto - Faleceu o fur mil at CART 2715 (Xime, 1970/72) José Augusto Machado


Boas noites,  ex- Camaradas:

Acabo de receber a notícia triste que o nosso ex-camarada da CART 2715, o Furriel Miliciano José Augusto Machado, faleceu hoje com 67 anos de idade.

O velório é hoje na igreja de Casal de Cambra [, Sintra].

O funeral será amanhã, 3 do corrente,  pelas 15,00 horas.

O Zé Machado residia em Caneças,  no concelho de Odivelas.

Nasceu em 16 de Setembro de 1949, era casado com D. Maria Elisabete Machado.

Apresentou-se na CART 2715 em fevereiro de 1971 como recomplemento.

Acima publicam-se 3 fotografias: (i) uma individual; (ii) outra  tirada no 5º Encontro-Convívio da CCS/BART 2917 em Montemor-o-Velho: e (iii) a última tirada no 18º Encontro da CART 2715 em Fátima,  em 2015.

2. Comentário do editor:

A famílía do BART 2917 (e em especial da CART 2715) está de luto. Mais um camarada que nos deixa, e logo no início do novo ano. E deixa-nos precocemente, quando a esperança média de vida do homem, português, aos 65 anos, é já de mais 17 anos.... ´

Agradeço ao Benjamim Durães o rápido reporte da triste notícia. Não conhecia o camarada José Augusto Machado, mas ainda era do meu tempo. Integrou, em rendição, individual,  a valorosa CART 2715, em fevereiro de 1971, tinha já eu 21 meses de comissão. Seguramente que ele terá feito operações conjuntas com a minha CCAÇ 12, em 1971 e 1972,  no subsetor do Xime, já depois de eu ter regressado  a casa (em 17 de março de 1971).

À família, e em especial à viúva, Maria Elisabete Machado, apresento em nome de toda a Tabanca Grande as nossas sentidas condolências e a manifestação da nossa solidariedade na dor e no luto. (LG)

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Guiné 61/74 - P16909: A construção de Mansambo, em imagens (Carlos Marques dos Santos, ex-fur mil at art, CART 2339, 1968/69) - Parte VI: Anexos: A água: o(s) suplício(s), de Sísifo e de Tântalo (2)












Fotos (e legendas): © Carlos Marques dos Santos (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


História da “feitoria” de Mansambo, com foral a partir de 21 de abril de 1968





1. Sexta  parte do trabalho sobre a "construção de Mansambo em imagens" (*), realizado pelo Carlos Marques dos Santos, nosso grã-tabanqueiro da primeira hora, ex-furriel miliciano da CART 2339 (Mansambo, 1968/69), subunidade adida ao BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70). (*)

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Guiné 61/74 - P16908: (In)citações (105): Inimigos de ontem, amigos de hoje? (Carlos Vinhal, ex-Fur Mil da CART 2732)

Nhala, Junho de 1974 - Guerrilheiros do PAIGC
©: Com a devida vénia a António Murta


A propósito do poste Guiné 61/74 – P16905: Fotos à procura de… uma legenda (80): Inimigos de ontem, amigos de hoje… (José Teixeira), dei comigo a pensar em quantos de nós, os que passámos pela guerra do ultramar, tinham na altura alguma actividade política e consequentemente consciência formada sobre a justeza daquela guerra. Sabíamos que estávamos num sítio praticamente desconhecido e hostil, mas que era Portugal segundo os ensinamentos da geografia e da história.

Era inegável que não éramos o único país que ainda possuía colónias em África ou noutros pontos do planeta, embora houvesse já uns quantos países africanos independentes, e Portugal queria manter intacto, tanto tempo quanto pudesse, o seu império. Tivemos sérios problemas na ONU, fomentados principalmente pelas grandes potências, que estando em plena guerra fria, tinham todo o interesse em ter amigos em África. Naturalmente os países emergentes eram seus naturais aliados.

Lembremo-nos do assédio às nossas antigas colónias de Angola e Moçambique pelos alemães durante a I Grande Guerra, originando já na altura uma mobilização em força para esses territórios. Entre 1914 e 1918 perdemos ali cerca de 4800 homens, além dos mais de 5000 desaparecidos.

Um dos meus tios foi expedicionário em Moçambique nos anos 40 do séc XX, julgo que numa altura coincidente com a II Grande Guerra. Havia que manter a ocupação dos territórios africanos.

O nosso esforço em África entre 1961 e 1974 mais não foi que, à luz da política vigente, a continuação da defesa dos territórios que tanto sangue já tinham custado.
E agora chegamos ao que aqui me traz, o inimigo de ontem, amigo de hoje.

Os movimentos de libertação foram criados e dirigidos por africanos portugueses que adquiriram formação académica universitária na capital do império, onde nas barbas do poder se organizaram. Apoiados por potências com ambições estratégicas em África, e acompanhando os ventos e marés que se faziam sentir, não foi difícil começarem a guerra que iria desgastar uns e outros quase até à exaustão. Portugal mobilizou metropolitanos e locais, e os grupos de libertação tentaram localmente arranjar simpatizantes para a sua causa. Os seus quadros tiveram formação de luta de guerrilha principalmente nos países do leste da Europa, acabando por terem no terreno a colaboração activa de especialistas cubanos e o apoio material desses mesmos países e outros.

Dizia Cabral que não lutava contra os portugueses mas contra o colonialismo, logo os quase 9000 mortos do nosso lado foram vítimas dos chamados efeitos colaterais. Alguns dos guineenses, amigos de portugueses e de Portugal, ao passarem-se legitimamente para o lado do PAIGC, movimento pelo qual lutaram, tornaram-se naturalmente nossos inimigos. Pergunto eu: e agora, acabada a guerra, voltaram a ser nossos amigos? Maneira muito romântica de ver a coisa.
Aquele guerrilheiro, que no calor da luta não me matou por caso, é agora meu amigo, também por acaso, digo eu. Se me tivesse acertado, lá se tinha ido a nossa amizade do pós-guerra.

Carlos Vinhal
Ex-Fur Mil Art MA
CART 2732
Mansabá
1970/72
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Nota do editor

Último poste da série de 17 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16729: (In)citações (103): Um texto elucidativo... Onde se fala do Restaurante Bar Pelicano, de Momo Turé, do Tarrafal, da PIDE/DGS, do PAIGC... (Mário Serra de Oliveira)

Guiné 61/74 - P16907: Notas de leitura (916): “Guiné, Crónicas de Guerra e Amor”, da autoria de Paulo Salgado, Lema d’Origem Editora, 2016 (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Dezembro de 2016:

Queridos amigos,
Estas crónicas do confrade Paulo Salgado desobedecem às narrativas convencionais de um barco a partir, de um contingente a chegar, o choque das culturas, os desatinos da guerra, até à hora em que se dá a missão por cumprida. O autor pretende pôr ao espelho, de forma sincopada, a presença portuguesa até aos alvores da luta pela independência, umas vezes é um alferes combatente no Olossato, outras vezes cooperante, e neste caso a narrativa tem dois tempos e dois olhares ao espelho. Dir-se-á que uma guerra nunca acaba, são sulcos profundos e as memórias desaguam quando, no mesmo palco, e num outro quadro político, se dá um doloroso confronto: fez-se tanta guerra, usou-se de tanto heroísmo para que quem venceu ficasse tão apoucado?

Um abraço do
Mário


Guiné, crónicas de guerra e amor, por Paulo Salgado (2)

Beja Santos

“Guiné, Crónicas de Guerra e Amor”, Lema d’Origem Editora, 2016, de Paulo Salgado, faz parte da literatura de regressos, tem trama imaginativa: um alferes que combateu no Olossato e que regressa 20 anos depois; um entremeado de enredos com arco histórico amplo, desde a chegada à Senegâmbia até uma quase atualidade.

Vimos, em trecho anterior, que o alferes Alberto combate na região do Morés, Ponte de Maqué e Olossato são aquartelamentos que conhece na perfeição, as narrativas desdobram-se sob emboscadas, patrulhamentos, homens de carne e osso, brancos e pretos, há desejos de mulheres e há mulheres prisioneiras que depois voltam para o Morés.

Intui-se que o autor pretende dar-nos uma grande angular desses Descobrimentos, das relações interétnicas e cruzar a história de Portugal com a da Guiné, antes e depois da luta armada. Nesta literatura de regressos é bem possível, e não há que contestar, que se socorra da retórica e de uma verbosidade que supere distâncias e cronologias. Assim, se deve entender a filípica de Meireles, um subordinado de Alberto, quando diz:

“Apercebi-me em Santa Margarida que poderia resistir. A vacina era coletiva, envolvia todos, tomava todos pela mesma medida. Mas apercebi-me, ainda lá, que seria possível resistir sem quebrar todos os sentimentos de decência e de humanidade que cada um tem à sua medida; apercebi-me que alguns companheiros de sorte, ou de má sorte, contribuiriam para passarmos este cabo de tormentas. Mas tanto vilipêndio, tanta degradação, nunca imaginei!”.

Alberto interroga-o:

“Vais dizer-me o que efetivamente tens calado bem no fundo do teu ser, vais contar-me o que verdadeiramente te preocupa”. E Meireles soluça: “Meu alferes, o meu maior amigo, que brincou comigo na escola, na minha rua e o no meu bairro; que namorou as mesmas garotas; e com quem, já crescido, percorri as praias e as montanhas de Sintra nas nossas motas; aquele que considerava um irmão morreu numa emboscada em Guileje…”.

E termina o trecho, interrogativamente: “Os homens, os militares, também choram?”. Nesta literatura de regressos pode haver uma retórica que ajude a relevar as dores inultrapassáveis, as perdas afetivas irremissíveis.

É uma história de Portugal onde se fala da epopeia da construção da fortaleza de S. José ou de Amura, também da epopeia da missionação, e daí Frei Cipriano que andou por Caió, e dá-se toda a ênfase à visita ao Morés, 20 anos depois de por ali, nas fímbrias, se ter combatido. Descreve-se o modelo daquela base que nunca se conquistou a despeito de bombardeamentos contínuos, do uso maciço das forças especiais, de por ali terem tentado entrar vários batalhões. Um ancião combatente descreve a Alberto a vida no Morés, o seu hospital, a mudança permanente das casas de mato. Aquele ancião é um homem de convicções, mas não esconde o seu desalento:

“Estou velho, cansado, com mil dificuldades. O Partido prometeu; mas agora o governo não cumpre; não temos nada de nada. Os olhos entristeciam-se-lhe”.

A narrativa move-se numa corrediça entre o passado e o presente: fala-se das urnas que estavam em Bissorã e que os do Olossato recusaram; numa atualidade que nos é próxima, o cooperante Alberto encontrou um caçador que vive há décadas na Guiné, um autêntico “lançado”; o mesmo cooperante Alberto ouve desabafos do médico no Hospital Simão Mendes, um médico que não tem recursos para mitigar sofrimentos e salvar vidas… E dentro deste arco histórico, o autor destaca páginas onde é patente a frágil presença colonial portuguesa é o caso da carta enviada pelo governador de Cabo Verde, Maldonado de Eça, ao ministro da Fazenda, Marquês de Ponte Lima, estamos nos fins do século XVIII, diz cabalmente:

“A Praça de S. José está em estado de desgraça, pois as construções estão em ruínas, a guarnição de 190 soldados sem pagamentos e sem vestuário, andando os homens trajando como os nativos, e a população católica sem serviço religioso. A Praça de Cacheu está quase abandonada, a artilharia sem reparos, os soldados como os de Bissau, o serviço religioso nesta dita Praça e na de Ziguinchor não é celebrado, pois o padre se refugiou na povoação, em concubinato, os soldados e os poucos particulares são obrigados a vender escravos para comprar mantimentos”.

E há os medos, sempre enleantes, no crescendo de ansiedade antes das operações, apresentam-se pretextos para não participar, ter medo não é desumano. Fala-se de um lançado célebre, Ganagoga, de nome João Ferreira, perdido de amores por Kali. E depois aquele cooperante na área da saúde, que já foi Alberto, o combatente do Olossato, sobe à Pensão Central, que descreve e vê-se que tem uma memória intacta:

“Subiu as escadas íngremes exteriores, em ferro forjado, antiquíssimas, talvez dos anos 30 do século passado, e acedeu, já no patamar, a um amplo piso, onde, à maneira colonial, uma larga varanda circunda todo o prédio. Ao cimo das escadas, numa sala de jantar mais reservada a clientes especiais, um grupo de comensais vai no fim da refeição”. E aparece D.ª Berta: “Depara com a proprietária, sentada diante da mesa comprida e larga, coberta por uma toalha asseada, aguardando, de forma amistosa, convivial, simpática, maternal, os seus clientes”.

Vai ser o tempo da guerra civil, e daí se salta para um episódio das campanhas da pacificação, recorda-se que a cólera se reacende décadas depois da independência e por fim, quando a guerra praticamente acabou para Alberto, prova uma dura flagelação em Mansabá, onde permanece na atividade de realização de exames de quarta classe a soldados e milícias.

Vivera-se o nervosíssimo da espera do embarque, houvera patrulhamentos, emboscadas, um golpe de mão falhado algures em Amina Dala ou em Iracunda ou em Consonco ou Bissancage ou Ionfarim ou em Changue Bedeta, houvera muita coisa, e agora este imprevisto em Mansabá. Assim se põe termo a estas crónicas de guerra e amor e não será por acaso que se evoca o poema Liberdade por Sophia de Mello Breyner Andresen, que assim culmina: Aqui o tempo apaixonadamente/Encontra a própria liberdade.
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Nota do editor

Poste anterior de 30 de Dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16894: Notas de leitura (915): “Guiné, Crónicas de Guerra e Amor”, da autoria de Paulo Salgado, Lema d’Origem Editora, 2016 (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P16906: Parabéns a você (1187): Carlos Marques Santos, ex-Fur Mil da CART 2339 (Guiné, 1968/69)

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Nota do editor

Último poste da série de 1 de Janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16900: Parabéns a você (1186): Margarida Peixoto, Amiga Grã-Tabanqueira