quinta-feira, 9 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17120: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte III: Gilbraltar, Santa Cruz de Tenerife, oceano Atântico, a caminho das Caraíbas, no navio cruzeiro "Costa Luminosa" (17 pisos, 93 mil toneladas, 2800 passageiros, 950 tripulantes)...












Parte II (pp. 7 a 10)



Texto, fotos e legendas: © António Graça de Abreu (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação das crónicas da "viagem à volta ao mundo" do nosso camarada António Graça de Abreu, escritor, poeta, sinólogo, ex-alf mil, CAOP 1 [Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74], membro sénior da nossa Tabanca Grande, e ativo colaborador do nosso blogue com mais de 175 referências. É casado com a médica chinesa Haiyuan e tem dois filhos, João e Pedro. Vive no concelho de Cascais.

Partida do porto de Barcelona em 1 de setembro de 2016. 




Guiné 61/74 - P17119: (De) Caras (60): Buruntuma, 1961: o enfermeiro Cirilo e o professor primário Timóteo Costa... (Jorge Ferreira / Mário Magalhães)


Guiné- Bissau > Bissau > 2000 > O Hospital Nacional Simão Mendes (, antigo enfermeiro da época colonial, militante do PAIGC, morto em combate no Morés, e sobre o qual se sabe muito pouco).


Foto: © Albano Costa (2000). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Jorge Ferreira (ex-alf mil da 3ª CCAÇ,  Bolama, Nova Lamego,  Buruntuma e Bolama, 1961/63), autor do livro "Buruntuma: algum dia serás grande!... Guiné. Gabu, 1961-63" (ed. autor, Oeiras, 2016).

Data: 8 de março de 2017 às 17:04
Assunto: Buruntuma


Caro Luís:


Estou neste momento reunido com Mário Magalhães,  puxando pelos "neurónios", uma vez que a questão que levantas nos obriga a recuar mais de 50 anos. (*)

Quanto ao enfermeiro  Cirilo (???) o único facto a relatar é que (anteriormente à minha deslocação para Buruntuma), estando à frente do destacamento o Furriel Mário Magalhães [MM]. houve um acidente com arma de fogo casual e,  ao ser requisitado os serviços do Cirilo,  o seu comportamento
foi verdadeiramente exemplar (MM dixit).

O poderoso régulo de Canquelifá, que morava
 em Buruntuma, Sene: c. 1961/62.
 Cortesia de Jorge Ferreira (2016)
Não se deve ignorar que os enfermeiros [civis] tinham uma actividade extremamente nómada pois
diariamente visitavam as nabancas com enfermarias onde permaneciam os doentes com "doença do sono" ou "lepra". Convirá referir que a Missão do Sono da Guiné era uma estrutura sanitária altamente prestigiada cuja acção era relevada pela OMS [Organização Mundial de Saúde]..

Não há registo de qualquer acção "suspeita" do enfermeiro. quer durante a permanência em Buruntuma do MM ou de mim próprio.

Quanto ao dito professor Timóteo [Costa]  (???) não se pode ignorar que as nossas instalações eram frontais à escola, junto a ela funcionavam as nossas instalações sanitárias, e existia uma morança habitada por um português que tinha sido deportado por "razões políticas" e que se tinha "cafrealizado", vivendo com uma mulher nativa e vários filhos.

Por outro lado, não se deve ignorar que a Escola era frequentada diariamente pelos militares que não estavam envolvidos em "operações de nomadização" ou "escalas de serviço",  na sua função de apoio escolar.

Por tudo isto parece-nos que o professor  não tinha condições para se dedicar a actividades subversivas. Não se deve ignorar que o próprio Corpo de Guardas do Régulo  [Sene Sané] exercia uma importante acção de vigilância que muitas vezes pôs em causa a "lealdade" dos informadores do
responsável pelo posto da PIDE.

Já após o regresso do MM a Portugal, talvez por volta de 1966 (???), este foi abordado em
Lisboa pelo professor de modo muito cordial ...

E é tudo quanto se nos oferece dizer (MM / JF) sobre as questões que levantas no teu / nosso Blogue.

Saudações-

JF / MM


ET -  O MM manifestou todo o interesse em aderir à Tabanca Grande !!!


2. Comentário do editor LG:

Caros Jorge Ferreira e Mário Magalhães:

Como eu já tinha dito em comentário ao poste P17108 (*),  o resumo do teor do documento em causa, feito pelos técnicos da Fundação Mário Soares,  parece-me "ambíguo" ou "confuso": (...) "Assunto: Transmite um recado do enfermeiro Cirilo, que se encontra em Buruntuma como professor, sobre o trabalho em prol da luta de libertação."

Timóteo Costa, que é o remetente, transmite a Marcelo Ramos de Almeida ("Marcel", para a família e amigos mais íntimos...), representante do PAIGC em Koundara, Guiné-Conacri, um recado do Cirilo, enfermeiro, que está em Buruntuma, a fazer trabalho político para o PAIGC, ao mesmo
tempo que é enfermeiro pago pela administração portuguesa...

Sem dúvida que, e à falta de médicos, os enfermeiros da administração colonial tiveram um papel importantíssimo na luta contra a doença do sono, a lepra e outras doenças tropicais, bem como no apoio sanitário às populações, antes da guerra. Também é verdade que houve, de resto, vários enfermeiros aliciados pelo PAIGC (ou melhor, PAI) nesta época (1961)... O Simão Mendes é um deles. (Morreu em combate, e deu o nome ao antigo hospital central da época colonial, em Bissau)

Conclui-se, do vosso depoimento que o tal Cirilo, enfermeiro, era conhecido das NT e fez inclusive tratamentos a um militar ferido, num acidente com arma de fogo, da CCAV 252,  quando o  fur mil cav Mário Magalhães comandava o destacamento de Buruntuma, ainda antes da chegada do Jorge Ferreira (em outubro de 1961).

O Timóteo Costa é que é o professor que acaba de chegar a Buruntuma (em 1961, não sabemos em que dia e mês)... O Mário Magalhães tê-lo-á conhecido em Buruntuma, em 1961, e reconhecido em Lisboa, por volta de meados dos anos 60. Devia ser cabo-verdiano, (**)

Ficamos gratos a ambos pelo vosso depoimento e felizes pelo facto de o veterano Mário Magalhães (mais antigo que o Jorge Ferreira em Buruntuma, talvez dois ou três meses!...) aceitar o convite para integrar a nossa Tabanca Grande...

De facto, é uma "preciosidade" encontrar camaradas de 1961 (!) com "cabeças ainda frescas" como vocês, Jorge Ferreira e o Mário Magalhães!.. E mais do que isso: prontos a partilhar com os seus camaradas as memórias (boas e más) de há 50 e tal anos atrás!

Recorde-se que a CCAV 252 foi a primeira companhia de cavalaria a ser mobilizada para a Guiné (agosto de 1961 / outubro de 1963), tendo como unidade mobilizadora o RC 3. O Jorge Ferreira, por sua vez, foi mobilizado para o TO da Guiné em maio de 1961, estebve a dar instrução no CIM de Bolama, foi para Nocva Lamega, para a 3ª CCAÇ, e ao fim de 3 meses, é colocado no destacamento de Buruntuma, onde esteve 11 meses.  Antes de acabaer a comissão, em junho de 1963, ainda voltou ao CIM de Bolama.

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 5 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17108: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral e outros / Casa Comum (21): O professor primário e o enfermeiro de Buruntuma, em 1961... Trabalhavam para o PAICG na cara da PIDE ?!...

quarta-feira, 8 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17118: Os nossos seres, saberes e lazeres (202): Central London, em viagem low-cost (4) (Mário Beja Santos)

Igreja da Santíssima Trindade - Long Melford


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 25 de Outubro de 2016:

Queridos amigos,
Deambular por Londres traz surpresas. Como se vivia um programa low-cost, escolheu-se um museu gratuito, uma casa portentosa, The Wallace Collection, antes visitou-se o Exército de Salvação, gente amável que ofereceu café e biscoitos, o feitiço dos livros superou a disciplina da carga, saiu-se dali com mais três quilos a abraçar até regressar a casa. Tinha visto o visitante no Museu Berardo obras de Bruce Nauman, foi curioso vê-lo do outro lado da montra, em fato de macaco a montar uma instalação, acenou-se-lhe, o artista veio à porta, confessou-se admiração e teve-se direito a visita guiada a uma imensa traquitana em fase de montagem, o que se reteve foram luzes feéricas sob um teto azul, um género de paraíso da sociedade de consumo. Seguiu-se para Suffolk, o pretexto é visitar uma vila medieval. E viagem prosseguirá, com grande expetativa, até Cambridge, em circunstância alguma o viandante esqueceu essa suprema maravilha da arquitetura que é King's College Chapel.

Um abraço do
Mário


Central London, em viagem low-cost (4)

Beja Santos

O turista vai passar a manhã em Londres, tem agenda completa, à tarde ruma-se para a região de Suffolk, a primeira etapa é pernoitar em Long Melford e daqui para Lavenham, uma cidade medieval que enriqueceu nos tempos prósperos nos negócios da lã. Primeiro, assiste-se a um concerto pela banda do Exército de Salvação, música religiosa. Sempre afáveis, convidaram a assistência a ir tomar café e ir comer uns biscoitos nas suas instalações. O turista cometeu a asneira de andar a ver livros vendidos ao preço da chuva, doravante andará com uns quilos de cultura às costas.



Há edifícios em Londres que têm esculturas preciosas, no caminhar desatento nem damos por elas. Foi exatamente a esperar o sinal verde que o viandante se apercebeu que aquela escultura não era o melhor conjunto de ferros, disse mesmo para si: "Não me digas que é uma escultura da Barbara Hepworth, a minha deusa da escultura contemporânea". E era mesmo.


Ferro forjado em Londres há às toneladas. Na II Guerra Mundial muito deste ferro foi requisitado para fazer navios e aviões, talvez canhões e outras coisas. Houve que refazer, e no refazer encontraram-se soluções engenhosas, com aditamentos requintados. O turista especou-se a ver, custou muito, não se importaria de viver assim.


The Wallace Collection é uma belíssima coleção que se pode visitar gratuitamente, resulta de doações em cinco gerações sucessivas dos marqueses de Hertford e Sir Richard Wallace. Há para aqui muita armaria, mobiliário francês e holandês, até ali se encontrou um baú Namban que meteu negócios portugueses. Na pintura, prima o classicismo, o turista pode deambular a ver relógios, porcelanas, bustos, majólicas, não falta Rubens e Boucher, este está aqui representado a pintar Madame de Pompadour. O viandante deu-se sempre muito bem com a pintura de Frans Hals, estava um pouco cansado e compartilhou dos luxuriantes detalhes da indumentária e da figura. O quadro chama-se “O cavaleiro a rir”, mas é pura ilusão de ótica dada pelo olhar amarotado e pelos bigodes retorcidos. Seja o que for, ninguém nega a obra-prima.


É dia de sol, os londrinos, o viandante já parou, reverenciado, a ver a esplêndida sala de espetáculos que é Wigmore Hall, teve até a esperança que houvesse um concerto com a Maria João Pires, agora vai-se até ao parque através de Wigmore Street, ali bem perto, e come-se o almoço, os londrinos estão felizes também tiveram sorte com as amenidades do Outono. Curioso este parque em Cavendish Square, com imenso bulício à volta, estamos praticamente no coração de Londres. Prossegue agora o passeio para ir buscar a bagagem e partir para Suffolk, no caminho a bela surpresa de ver a montagem de uma instalação de Bruce Nauman, artista contemporâneo que o viandante aprecia, foi convidado a vir à tarde, infelizmente não pode ser.


The Black Bull é uma reconstrução de albergaria que vem dos tempos dos Tudor, o viandante abre uma exceção low-cost, desta feita tive direito a pequeno-almoço com ovos e bacon e algo mais. Chegou-se a Long Melford, vila que tem a caraterística, bem rara em terras inglesas, de se estender pelas bermas da estrada. Foi o que de mais perto se encontrou para chegar ao objetivo, Lavenham uma cidade medieval construída entre 1450 e 1500 e escrupulosamente tratada. Ali se passará o dia, não haverá meios para se satisfazer um dos sonhos do viandante, ir a casa de Gainsborough, um dos mais importantes pintores do romantismo, não é fácil superar o problema dos transportes.



Long Melford estava radiosa para receber o turista, um céu claríssimo, aves a esvoaçar, o turista consulta o mapa, sabe que há duas casas senhoriais visitáveis, daquelas que custam 16 libras cada, e uma portentosa igreja, a da Santíssima Trindade. Uma das descobertas do viajante é que anda perplexo com a fronteira ténue entre o catolicismo e a igreja anglicana, vê santos nas igrejas, rituais semelhantes, alguém lhe explica que a Alta Igreja está cada vez mais próxima do catolicismo, não será por acaso que Roma e Cantuária se reúnem tão amiudadas vezes. Mais uma questão de estudo. O mais importante é registar a beleza do templo, mais por fora do que por dentro, pena que a câmara do viandante não consinta em dar um plano integral de tão bela construção. Fim do passeio, toma-se autocarro para Lavenham, tudo o resto do dia será para passar aqui, mas tarde novo transporte para a penúltima etapa, Cambridge.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 3 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17101: Os nossos seres, saberes e lazeres (201): Central London, em viagem low-cost (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17117: Blogpoesia (497): Neste dia da Mulher, um poema de Juvenal Amado, dedicado à sua companheira de sempre



1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), autor do livro "A Tropa Vai Fazer de ti um Homem", com data de 3 de Março de 2017, trazendo-nos um poema dedicado à sua companheira de vida:

Está a chegar o dia da mulher, por isso vai alguma coisa para uma mulher lutadora, abnegada e presente
JA


O DIA DA MULHER

Um sonho simples é
Aspirar o teu perfume
Percorrer com dedos a tua pele
Andar de mãos dadas,
pôr-do-sol a projectar
as nossas sombras juntas

Beber água fresca das tuas mãos,
adormecer nos teus braços
Sentir o teu corpo ao nascer do dia
Ver o mar pelos teus olhos
Embriagar-me no azul do nosso céu.

Sentir no rosto o teu alento
O amor que de nada precisa
Porque está completo
Extravasa e jorra por montes e vales
Acalma tormentas e tempestades

Existe porque nos encontrámos um dia
Sem exigências vivemos um de cada vez
Porque nunca nos fartamos
Ansiamos sempre pelos reencontros
Mulher és minha como sou teu
E as palavras serão para sempre inúteis
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17107: Blogpoesia (496): "Sol envergonhado..."; "Chave à porta..." e "Tentativas falhadas...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P17116: Convívios (781): 30º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha: 16 de março de 2017, 5ª feira, restaurante "O Nosso Cantinho", rua das Tojas, nº 192 A, Carrascal de Alvide, Cascais. Inscrições até dia 13... (Manuel Resende)




Caros “Magníficos”, vai-se realizar no próximo dia 16 de março de 2017, terceira quinta-feira do mês de Março, o 30.º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha, no Restaurante "O NOSSO CANTINHO", já conhecido de convívios anteriores, e cuja morada, para os que não sabem, aparecerá no fim desta mensagem.

INSCRIÇÕES ATÉ 13-03-2017 – (segunda-feira)

Como de costume, as inscrições são feitas da mesma forma, ou seja:

- No Facebook da Tabanca da Linha, clicando em "VOU" (não esquecer de indicar o número de pessoas).

- Por e-mail ou telefone:

jorge.v.rosales@gmail.com  
 914 421 882





manuel.resende8@gmail.com  
919 458 210




E M E N T A

(i) Entradas: - Pão, azeitonas, paio, queijo fresco, salgados, manteiga

(ii) Sopa: - de legumes

(iii)  Prato: -Bacalhau à lagareiro com batatinhas e grelos

(iv) Sobremesas: -Frutas e doces à escolha

(v) Cafés

(vi) Bebidas: - vinho branco e tinto do Douro, cerveja, sumos, águas

Nota: Quem não quiser este prato pode pedir outro em alternativa, dos que houver disponíveis. Deverá fazer o pedido à chegada, para que tudo saia ao mesmo tempo.

Preço: 20 €

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Como chegar até lá:

Restaurante "O Nosso Cantinho"
2755-010 Cascais

Este restaurante fica situado em Alvide - Cascais, junto à A5, na saída para Alvide, frente às antigas instalações da Mercedes.

Quem vem de Lisboa pela A5 sai para Alvide, e entra na Terceira Circular de Cascais (que vem do Hospital). Existem aí uns semáforos. Sair para a esquerda e logo a seguir outra vez à esquerda.

Rua ou Estrada das Tojas, nº 192-A.

Apareçam. 
Um abraço a todos
Manuel Resende
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Nota do editor:

Último poste da 28 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17092: Convívios (780): Encontro do 50º aniversário do regresso da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67) : Caldas da Rainha, 29 de abril de 2017... Missa de ação de graças, concelebrada pelo padre Vitor Melícias e pelo capelão da Escola de Sargentos do Exército (ESE)

Guiné 61/74 - P17115: "Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp) - Parte V: o grupo cénico-musical que atou nas ilhas de São Viicente, Sal e Santo Antão...

[25]




"Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp. inumeradas, il.)


Parte IV (pp. 21-25)




Continuação da publicação da brochura "Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do Capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp. inumeradas, il.) [, imagem da capa, à esquerda].(*)

O autor é José Rebelo, Capitão SGE que foi em 1941/43 um dos jovens expedicionários do RI I1, então com o posto de furriel. Não sabemos se ainda hoje é vivo, mas oxalá que sim, tendo então a bonita idade de 96 ou 97 anos. Em qualquer dos casos, este nosso velho camarada é credor de toda a nossa simpatia, apreço e gratidão.

O nosso camarada Manuel Amaro diz-nos que o conheceu pessoalmente: (...) "Por volta de 1960, fez a Escola de Sargentos, em Águeda e após promoção a alferes, comandou a Guarda Nacional Republicana em Tavira, até 1968. Como homem de cultura, colaborava semanalmente, no jornal "Povo Algarvio", onde o conheci, pessoalmente. Em 1969, já capitão, era o Comandante da Companhia da Formação no Hospital Militar da Estrela, em Lisboa." (...)

A brochura que estamos a reproduzir é uma cópia, digitalizada, em formato pdf, de um exemplar que fazia parte do espólio do Feliciano Delfim Santos (1922-1989), que foi 1.º cabo da 1.ª companhia do 1.º batalhão expedicionário do RI 11, pai do nosso camarada e grã-tabanqueiro Augusto Silva dos Santos (que reside em Almada e foi fur mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73).

O então furriel José Rebelo,
expedicionário do 1º batalhão
do RI 11
Trata-se de um conjunto de crónicas publicadas originalmente no jornal "O Distrito de Setúbal", e depois editadas em livro, por iniciativa da Assembleia Distrital de Setúbal, em 1983, ao tempo do Governador Civil Victor Manuel Quintão Caldeira. A brochura, ilustrada com diversas fotos, tem 76 páginas, inumeradas.


O batalhão expedicionário do Onze [RI 11, Setúbal] partiu de Lisboa em 16 de junho de 1941 e desembarcou na Praia, ilha de Santigao, no dia 23. Esteve em missão de soberania na ilha do Sal cerca de 20 meses (até 15 de março de 1943), cumprindo o resto da comissão de serviço (até dezembro de 1943) na ilha de Santo Antão. A

Sabemos, por este cronista, que os "expedicionários do Onze" tinham um grupo cénico-musical que fez espectáculos nas ilhas por onde passou (São Vicente, Sal e Santo Antão), Na  ilha de São Vicente, atuaram uns dias depois da hegada, logo nos dias 6, 7,  9 e 10 de julho de 1941 (domingo, segunda-feira, quarta-feira e quinta-feira, respetivamente). No Mindelo, fizeram récitas, muito ao gosto da época, no Teatro "Eden-Park". O encenador era o tenente Manuel Bertrand Vila Nova, e o maestro da orquestra (15 elementos) era Jaime Gouveia, ele próprio compositor, O próprio José Rebelo era um dos atores do grupo.

As receitas destes espetáculos tinham fins de beneficiência.




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(Continua)
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Guiné 61/74 - P17114: Parabéns a você (1218): António Marques Lopes (DFA), Cor Art Ref, ex-Alf Mil Art da CART 1690 (Guiné, 1967/69)

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Nota do editor

Último poste da série de 1 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17093: Parabéns a você (1217): Vilma Kracun, esposa do nosso camarada da diáspora João Crisóstomo (Nova Iorque): Congratulations, happy birthday / Félicitations, joyeux anniversaire / Čestitke, vse najboljše

terça-feira, 7 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17113: O nosso blogue em números (41): O Jorge Araújo registou ontem, dia 6, às 11h11, o nº 7777777 no nosso contador de visualizações: uma capicua perfeita e irrepetível... Na próxima (77777777), daqui a 7 décadas já estaremos todos/as a dormir o sono dos justos... Os heróis, poucos, esses terão um lugar especial no Olimpo...


Imagem do contador do nosso blogue, com a situaçãpo de ontem, às 11h11. 
Fonte: Jorge Araújo (2017)



I. Mensagem, com data de ontem, às 11h42, Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART  3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974), nosso grã-tabanqueiro e colaborador permanente:

Caro Luís,
Bom dia.

Acaso possa interessar, como elemento histórico e estatístico de visitas ao nosso blogue, anexo o registo obtido às 11h11 de hoje:

7777777.

Boa semana.
Um abraço,
Jorge Araújo.


II. Resposta do nosso editor:

Jorge, tens de jogar no Euromilhões!...

Essa, vou publicar... É uma capicua perfeita e absolutamente irrepetível... A próxima seria 77 milhões 777 mil e 777 visualizações... Ou seja, admitindo, na melhor das hipóteses que o número de visualizações cresce um milhão por ano, daqui a 7 décadas, lá para o final do séc. XXI... Nessa altura estaremos  todos a dormir o sono dos justos... e nalguns casos debaixo de água...

Agora a acrescenta mais 1,7 milhões, relativos ao período de 23/4/2004, início do blogue, a maio de 2010 (e não de 2014!, como por lapso  vinha indicado, uma "maldita gralha"  que "resistiu" ao nosso olho clínico)...  Temos assim 9,5 milhões de visualizações  no total... a caminho dos 10 milhões a atingir ainda este ano...

Como vais tu?... Eu há um mês como "jubiliado", mas a continuar a trabalhar para a Escola e a pensar que tenho todo o tempo do mundo... Uma treta, é uma ilusão... Continua a ser um bem precioso, único, o tempo!

Ab. fraterno.
Luis

PS - Passas, a partir de hoje, a ter o estatuto de colaborador permanente do nosso blogue....


Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné: evolução do número de visualizações de página de 6/2/2017 a 7/3/2017, às 14h00. 

Fonte: Blogger (2017)


Resumo do mês:

Visualizações de páginas de hoje (até às 14h00) > 693

Visualizações de página de ontem  > 1851

Visualizações de páginas no último mês  (de 6/2/2017 a 6/3/2017/ > 57 128

Histórico total de visualizações de páginas  (desde maio de 2010) > 7 779 729

Seguidores  > 560



 III. Definição de "capicua"

ca·pi·cu·a
(catalão capicua, de cap, cabeça + i, e + cua, cauda)

substantivo feminino

1. Número que se lê igualmente da direita para a esquerda ou vice-versa e ao qual se atribui boa sorte (ex.: 1467641 é uma capicua).

2. [Jogos] Pedra que, no jogo do dominó, pode fazer dominó ou ganhar a partida, deslocando-a para um e outro lado.

"capicua", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/capicua [consultado em 07-03-2017].
_________________

Nota do editor:

Vd. últimos postes da série:

9 de janeiro de  2017 > Guiné 61/74 - P16934: O nosso blogue em números (41): No final de 2016, atingíamos um total de 66 600 comentários (mais 5200 do que em 2015)... O número médio de comentários por poste é ligeiramente inferior a 4... Os nossos leitores continuam a vir ao blogue, a ler-nos e comentar-nos, não obstante o sistema, nada amigável, do Blogger, que filtra o SPAM

7 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16928: O nosso blogue em números (40): No final de 2016, atingimos um total de 9,3 milhões de visualizações... Quem nos visita, vem sobretudo de Portugal (41,9 %), EUA (24,9 %), Brasil (6,8 %), Alemanha (4,6 %) e França (4,3%)

5 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16922: O nosso blogue em números (39): Em 13 anos, de 23/4/2004 até ao final de 2016, publicámos 16890 postes, e a Tabanca Grande tem hoje 731 membros (51 dos quais falecidos)

Guiné 61/74 - P17112: XII Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 29 de Abril de 2017 (2): Abertura das inscrições que terminam: (i) a 23 de abril; ou (ii) ou quando se atingir a lotação da sala (200 lugares)



Palace Hotel Monte Real (Termas de Monte Real) > 16 de Abril de 2016 > XI Encontro Nacional da Tabanca Grande

Foto de família © Miguel Pessoa


XII ENCONTRO DA TERTÚLIA DA TABANCA GRANDE

DIA 29 DE ABRIL DE 2017

PALACE HOTEL DE MONTE REAL

ABERTURA DE INSCRIÇÕES


Caros amigos e camaradas:

Estamos hoje a abrir as 'hostilidades' para a Grande Operação a Monte Real, o XII Convívio da Tertúlia do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, a levar a efeito no dia 29 de Abril próximo.

Como devem estar lembrados, a sala comporta 200 lugares, pelo que os retardatários poderão perder a oportunidade de participar nesta salutar manifestação de amizade e camaradagem (que se realiza todos os anos desde 2006). 

Inscrevam-se, logo que tenham a certeza de que poderão estar presentes, preferencialmente para o email carlos.vinhal@gmail.com.  

Os pedidos de reserva de quartos devem ser encaminhados exclusivamente para o Carlos Vinhal e/ou para o Joaquim Mexia Alves.

Considerem, a partir de agora,  abertas as inscrições que são extensivas a todos os combatentes da Guiné, tertulianos ou não, seus familiares e amigos convidados; e ainda pessoas de algum modo ligados à Guiné-Bissau, naturais, cooperantes, etc.

As inscrições fecharão no dia 23 de Abril, domingo, ou quando se atingirem as 200.

Os camaradas e amigos que se inscreverem pela primeira vez irão receber um crachá, em formato Power Point, enviado atempadamente pelo nosso camarada Miguel Pessoa, que deverão imprimir e exibir durante o Convívio.

Aqueles que, sendo repetentes, extraviaram os crachás do ano passado, deverão solicitar uma segunda via.

Vamos então relembrar o essencial:


Preços


Aperitivos + almoço + lanche - 35,00€ (adultos)

Crianças até aos 12 anos - 18,00€


single - 50,00€

duplo - 60,00€


Ementa: Aperitivos + Almoço +  Lanche Ajantarado


Aperitivos – Terraço Sala D. Diniz - 13h00


(em caso de mau tempo será no Hall D. Diniz)



Saladinha de Polvo 
Salada de Bacalhau 
Salada de Atum 
Salada de feijão-frade com orelha grelhada 
Salada de Ovas 
Meia desfeita de bacalhau 
Salgadinhos variados 
Presunto fatiado 
Meia concha de mexilhão com vinagreta 
Tortilha de camarão 
Pezinhos de coentrada 
Choquinhos fritos à Algarvia 
Joaquinzinhos de escabeche 
Sonhos de bacalhau 
Coxas de frango fritas à nossa moda 
Cogumelos salteados c/ bacon 
Guisado de dobrada 

Almoço 
Sala D. Diniz
Menu Servido - 14H00


Sopa Rica de Carne 
Lombo Recheado com alheira 
 com batata no forno e legumes 
Pudim de Pão e maçã collis 
de caramelo e refresco de baunilha


Lanche Ajantarado
– Sala D. Diniz – Buffet – 17H30/19H00 

Roast Beef 
Carnes frias com molho tártaro 
Enchidos da região grelhados 
Queijos variados 
Charcutaria variada 
Azeitonas com laranja e orégãos 
Franguinho assado
Batata Chips 
Salada de tomate
Salada de alface Salada de cenoura
Salada de Pepino 
Mesa de sobremesas 


Bebidas nas refeições


Vinho branco e tinto 
‘Fontanário de Pegões’
Vinho Verde 
(Branco e Tinto) 
Água minera, 
sumos de laranja 
e cerveja 
Café e digestivo nacional


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Os organizadores do Convívio

Luís Graça

Joaquim Mexia Alves
Miguel Pessoa
Carlos Vinhal
(Inscrições: carlos.vinhal@gmail.com)
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Nota do editor

Estas e outras informações podem ser consultadas no poste de 16 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16959: XII Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 29 de Abril de 2017 (1): Primeiras informações

Guiné 61/74 - P17111: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (11): Enxalé, a outra margem do Geba


José Nascimento, um olhar sobre o Geba


1. Mensagem do nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art, CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) com data de 27 de Fevereiro de 2017:


ENXALÉ, A OUTRA MARGEM DO GEBA


O Enxalé começou a fazer parte da zona operacional do Xime e da CART 2520 em outubro de 1969. O rio Geba separava estes dois aquartelamentos, assim como uma bolanha intransponível na época das chuvas, portanto com um elevado grau de dificuldade para se estabelecer a ligação entre as duas unidades.

A travessia do Geba era uma completa aventura e dependia sempre da maré cheia, podia-se fazer esta cambança a bordo do  Sintex ou pelas pirogas manobradas por um indígena, cujo remo situado na sua popa servia de força propulsora e simultaneamente de leme.

Ao 3.º pelotão da CART 2520 também  coube a missão de permanência no Enxalé. No segundo dia após a nossa chegada, o alferes Lapa que foi em substituição do comandante de pelotão, o alferes Marques, regressou ao Xime, ficando o pelotão apenas com dois graduados, os furriéis Nascimento e  [Rentao] Monteiro, passando o comando para o mais "velho" destes elementos, que era eu.

Este destacamento era constituído por um aglomerado de antigas casas, pertença de um fazendeiro que se refugiou em Bissau com o eclodir da guerra. Este fazendeiro era possuidor de uma destilaria de cana de açúcar, que foi totalmente destruída, restando apenas alguma sucata [, o Pereira do Enxalé, pai da nossa amiga, grã-tabanqueira Maria Helena Carvalho]. Havia uma tabanca com seis centenas de moradores, composto maioritariamente por balantas e mandingas, cabendo a nós,   militares,  fazer a sua protecção de possíveis ataques do PAIGC, o que chegou a acontecer no dia 10 de Fevereiro de 1970, dia de Carnaval.

Quando se ouviram os primeiros disparos, já a noite havia caído, também eu disparo numa corrida a sete pés para o abrigo mais próximo, só que assim que saio dos meus aposentos ouço o rebentamento de uma granada de RPG7, num mergulho à peixe atiro-me ao chão entre uns bidões cheios de terra, que eventualmente nos protegiam dos projécteis do IN. Um dos estilhaços ainda em brasa, caprichosamente veio estacionar a um palmo do meu nariz. Enceto nova corrida até ao abrigo da Breda, penso ter batido o recorde mundial dos 30 metros. Já agarrado à Breda, chega o "Espanhol" e berra:
- Deixe isso comigo,  meu furriel, fazendo de seguida umas rajadas que ajudaram o IN a ir jogar ao Carnaval para um outro lado.

Resultou deste ataque: ferimentos com alguma gravidade na perna de uma habitante, outro elemento da população perdeu uma mão e um rapaz sofreu ferimentos ligeiros. Todos foram evacuados de héli para Bissau no dia seguinte. Arderam também várias tabancas.



Enxalé após o ataque


No dia anterior a este ataque, decorreu na outra margem do Geba, a operação Boga Destemida [, em 9 de fevereiro de 1970,] na qual as nossas tropas sofreram uma brutal emboscada na zona de Gandagué Beafada por parte do inimigo, sendo perfeitamente audível à distância em que nos encontrávamos, o matraquear das armas de fogo e o rebentamento de granadas.

Sabendo via rádio da gravidade da situação, solicito para ser transportado para a margem esquerda do rio, a fim de poder dar a minha ajuda no que fosse possível. Na enfermaria presto a minha colaboração ao furriel enfermeiro Augusto Costa, o ferido que mais me impressionou e que seria evacuado para Bissau, juntamente com outros elementos, foi o furriel Pestana, as suas costas estavam rasgadas por estilhaços de granada, numa das feridas cabia perfeitamente um dos meus punhos fechados. Este camarada jamais regressaria para a CART 2520, recuperou, mas as mazelas ficaram para sempre a marcar o seu corpo e o seu espírito.

Quando passava uma guia de livre trânsito para um dos habitantes da tabanca se deslocar a Bissau, o chefe de tabanca dos mandingas falou em francês, fiquei surpreendido e perante a minha pergunta porque falava naquela língua respondeu-me que tinha estudado no Senegal antes da guerra começar, mais perplexo ainda fiquei.

Com uma frequência quase diária, um puto da tabanca com cerca de 10 anos, de uma tez muito clara, vinha conversar connosco e fazer-nos alguma companhia, nós em troca demos-lhe a nossa amizade. Para ti,   Dingue, se ainda pertenceres ao número dos vivos, aqui vai um fraterno abraço.


Com o amigo Dingue


Era normal os nossos militares darem uns tirinhos à caça das rolas, quando o faziam na zona frontal ao destacamento virada para bolanha, não havia qualquer problema,  mas nas traseiras da tabanca isso representava algum perigo e foi o que aconteceu com o nosso apontador de metralhadora, de caçador ia sendo caçado. Valeu-lhe o seu sangue frio e coragem, que ao aperceber-se de que alguns guerrilheiros se preparavam para lhe deitar a luva, sacou de uma granada de mão e lá vai disto, escapando-se de imediato para o quartel e desta maneira o Martins deixou de ser um possível prisioneiro de guerra nas mãos do PAIGC e de fazer um passeio turístico até Conakri.

De vez em quando chegavam mensagens codificadas vindas do Xime, que eu decifrava através do Codoper, com ordens para montar uma emboscada ou fazer um patrulhamento a determinado local. Eu falava baixinho com os meus botões, capitão Maltez cá tem cabeça. Temos que assegurar a protecção do destacamento e da população, como é que vamos montar uma emboscada com meia dúzia de gatos pingados? Na volta do correio eu respondia: "montada" emboscada ou  patrulhamento "efectuado".

E assim se passaram dois meses com relativa tranquilidade, mas com muitas dificuldades. Matar a fome às nossas barriguinhas não foi tarefa fácil. Receber e enviar correspondência por vezes demorava mais de uma semana. O isolamento era enorme, os nossos contactos com o mundo exterior só eram possíveis através do Xime e com o Xime foi muito difícil e arriscado devido à travessia do rio. Cada vez que passava de uma margem para outra, pensava sempre que algum dia poderia servir de pequeno almoço a um qualquer jacaré se na eventualidade acontecesse algum incidente e a nossa embarcação nos mandasse a banhos.  Neste espaço de tempo só eu e mais dois ou três elementos do pelotão é que saímos do Enxalé até à sede da Companhia.



Enxalé

Fotos: © José Nascimento (2017). Todos os direitos reservados

Para todos os nossos camaradas de armas um grande abraço.
José Nascimento
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16737: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (10): A música das nossas vidas: "Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle, mon amour"... ou o braço de ferro entre o fur mil Renato Monteiro e o nosso primeiro Vaz, cuja amada esposa se chamava Isabel e vivia a 5 mil km de distância, em Vila Real, Portugal...